Buscar

DIREITO FINANCEIRO - RESUMO DO LIVRO (PARTE 02)

Prévia do material em texto

DIREITO FINANCEIRO 
RECEITAS PÚBLICAS
P.295
2 - CONCEITO
É a entrada que, integrando-se ao patrimônio público sem quaisquer reservas, condições ou correspondência no passivo, vem acrescer o seu vulto, como elemento novo e positivo1 Portanto receita pública é o ingresso de numerário aos cofres públicos, que servirá como fonte para fazer face às despesas públicas.
Enquanto a receita pública integra o patrimônio sem reserva, não havendo qualquer necessidade de devolvê-lo em espécie; o ingresso público é aquele recurso que, para além do anterior, poderá ser devolvido ao particular, visto que a sua entrada pode se dar condicionada a um posterior levantamento.
Logo, todos os valores carreados aos cofres públicos, independentemente de sua natureza, são ingressos públicos, mas apenas aqueles que podem ser convertidos em bens e serviços são receitas públicas.
Receita pública em sentido amplo: é todo e qualquer valor que entrou nos cofres públicos.
Receita pública em sentido estrito: as receitas que entram, se incorporam ao patrimônio estatal e pode ser usadas pelo Governo para exercer as suas atividades.
No aspecto orçamentário: só vale a receita pública em sentido estrito.
Segundo a doutrina: as receitas que entram mas não são do governo, são meros movimentos de fundo. Entram e saem, pois não se incorporam ao patrimônio estatal. Está dentro do conceito de sentido amplo.
Enfoque orçamentário: Receita, pelo enfoque orçamentário, são todos os ingressos disponível...
3 – CLASSIFICAÇÃO
3.1. Quanto à periodicidade ou regularidade
3.1.1. Ordinária: E a receita constante do orçamento. Ou seja, aquela que normalmente ocorre, de forma periódica, e serve para atender às despesas também nele previstas. São as de caráter constante, que se renovam ano a ano na peça orçamentária.
3.1.2. Extraordinária: É a receita inconstante, esporádica e excepcional. Consiste na receita que o governo pode decretar e arrecadar do povo em circunstâncias especiais, como guerra, comoção interna ou calamidade publica
3.2. Quanto ao sentido
3.2.1. Amplo. Receita em sentido amplo: é sinônimo de ingresso público. Ou seja, é toda entrada de recursos nos cofres públicos, independentemente de haver lançamento no passivo ou não.
3.2.2. Restrito. Em sentido restrito: consiste na receita que não deverá ser devolvida ou entregue a qualquer pessoa posteriormente, visto que o Estado a converte em bens ou serviços. Logo, é a que tem caráter de definitividade, como se dá com a receita dos impostos, por exemplo, ou da alienação de bens. Para a doutrina, apenas os ingressos definitivos é que devem ser considerados receita, logo, apenas a receita em sentido restrito. No entanto, conforme se verá, o conceito legal de receita pública, previsto no art. 11, da Lei n. 4.320/64, é o conceito amplo, pois inclui até mesmo os empréstimos, que são receita de capital.
3.3. Quanto à competência do ente da Federação
3.3.1. Federal: São as receitas pertencentes à União, muito embora ela arrecade diversas receitas que são repartidas com os Estados, Municípios e Distrito Federal.
3.3.2. Estadual (Distrital): São as receitas pertencentes aos Estados e ao Distrito Federal.
3.3.3. Municipal: São as receitas pertencentes aos Municípios.
Aparentemente pueril, aludida classificação tem importância extrema quando está em debate a competência para fiscalizar os recursos pertencentes a cada ente. É dizer, como a receita dos Estados é composta por valores repassados pela União e por valores arrecadados pelos Estados, dando-se o mesmo com o Distrito Federal e com os Municípios
3.4. Quanto às fontes, origem ou coercitividade
As receitas podem ter origem tanto na exploração do patrimônio do Estado — como ocorre com os países árabes, por exemplo, que possuem fontes naturais de petróleo, consistindo essa receita a mais importante para a manutenção do Estado -, quanto na coerção do Estado que, através de lei, impõe aos particulares o pagamento de tributos, como ocorre com a imensa maioria dos países.
Com base no entendimento de que as receitas podem ser originárias do próprio patrimônio do Estado, de suas próprias fontes de riquezas, ou derivadas da imposição ou coerção da lei é que surge aludida classificação. Decorrente da escola alemã? consiste na classificação mais importante e constantemente cobrada, de valor acentuadamente acadêmico, por não ser normatizada.
3.4.1. Originárias: Conforme mencionado, são aquelas receitas cuja produção está na exploração do patrimônio do Estado. Sua formação se assemelha à relação jurídica privada, portanto, presente a bilateralidade. O Estado presta serviços, mercancia e pratica atividades como às dos particulares, e, como resultado econômico, obtém receitas. Há bilateralidade na relação. No caso do Brasil, a receita originária é ínfima, quando comparada à derivada. Tem-se como exemplo as receitas advindas de alienações, fianças, indenizações, doações.
3.4.2. Derivadas: São as que o Estado obtém através do seu poder de império, arrecadando-as coercitivamente dos particulares, com observância da legalidade. Não há bilateralidade, mas, antes, o comando unilateral da vontade do Estado.
Para o direito financeiro os tributos são apenas três: (i) impostos; (ii) taxas e (iii) contribuição de melhoria.
3.5. Quanto à natureza ou previsão orçamentária
3.5.1. Orçamentária: Como o próprio nome permite concluir, receita orçamentária é a receita que, via de regra, consta no orçamento e o gestor pode contar com ela para fazer face às despesas públicas e demandas da sociedade. São as receitas não restituídas no futuro em espécie, pois pertencem ao Estado, fazem parte do seu patrimônio e estão disponíveis para a sua conversão em bens e serviços. Assim, de modo simples, receita orçamentária é a receita que ingressa durante o exercício orçamentário, tal com a receita advinda da cobrança de tributos, da exploração do patrimônio do Estado, dentre outras. Registre-se que, no seu conceito, constam as operações de crédito autorizadas em lei, ainda que não previstas no orçamento, com exceção das operações de crédito por antecipação de receita que, conforme se verá, são receitas extraorçamentárias, por não constituir em renda do Estado.
3.5.2. Extraorçamentária: É a receita que não faz parte do orçamento, tampouco nele está prevista. Pela regra, o Executivo não pode contar com essa receita para fazer face às despesas públicas. É contabilizada como receita porque deve ser lançada nos cofres públicos, já que toda entrada de recursos carece do lançamento, ainda que esse recurso não se incorpore ao patrimônio público. No entanto não é uma receita que, em regra, poderá ser convertida em bens ou serviços pelo ente. São exemplos os valores recebidos a título de caução, fiança, depósito para garantia, consignações em folha de pagamento, retenções na fonte salários não reclamados, operações de crédito por antecipação de receita (ARO) e outras operações assemelhadas. A sua arrecadação não depende de autorização legislativa, com exceção da ARO, e sua realização não se vincula à execução do orçamento. São também conhecidos como “recursos de terceiros”, pois compõem a classe geral daqueles valores pertencentes a terceiros, arrecadados pelo ente público exclusivamente para fazer face às exigências contratuais pactuadas para posterior devolução, como ocorre com as retenções de empréstimos consignados, de contribuições sindicais, dentre outras. Têm caráter provisório. Aludidas receitas têm, em contrapartida, um passivo exigível que será resgatado quando da realização da correspondente despesa extraorçamentária.
3.6. Quanto à categoria econômica (classificação legal)
Essa classificação, embora vetusta, é utilizada por todos os entes federativos, por imposição da Lei n. 4.320/64, que, no seu art. 11, separa as receitas em duas categorias econômicas.
3.6.1. Receitas Correntes
Consiste na receita que aumenta a disponibilidade financeira do Estado, no geral, sendo importante instrumento de financiamento dos objetivos definidos nos programas e ações voltados às políticas públicas. De acordo como art. 11, da Lei n. 4.320/64, classificam-se como correntes as receitas provenientes de tributos; de contribuições; da exploração do patrimônio estatal (Patrimonial); da exploração de atividades econômicas (Agropecuária, Industrial e de Serviços); de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes (Transferências Correntes) e demais receitas que não se enquadram nos itens anteriores (Outras Receitas Correntes).
A) Receita Tributária: São as receitas advindas da arrecadação dos impostos, taxas e contribuições de melhoria. Nessa classificação não entram os empréstimos compulsórios e as contribuições.
B) Receitas de Contribuições: Aqui se incluem as receitas das chamadas “contribuições especiais”, que, no âmbito federal, superam as receitas dos impostos.
C) Receita Patrimonial: E a receita resultante da exploração do patrimônio do Estado, como se dá com o recebimento dos aluguéis, rendimentos oriundos de renda de ativos permanentes, como foro.
D) Receita Agropecuária: E o ingresso proveniente da atividade da exploração agropecuária de origem animal ou vegetal, como agricultura, pecuária, extração de produtos vegetais, dentre outros.
E) Receita Industrial: Igualmente, tem-se aqui o resultado das atividades industriais do Estado, quando ele diretamente as pratica.
F) Receita de Serviços: Assim como o Estado comercia, ele também presta serviços, e, na maioria das vezes, recebe a sua remuneração pela cobrança de tarifas. Incluem-se aqui os mais variados, como os serviços de transporte, portuários, de comunicação, correios, juros de empréstimos concedidos, pois, afinal, é um serviço.
G) Transferências Correntes: Entender o sentido de receita corrente é importante para a distinção em foco. Assim, se um ente federativo transfere a outro ente alguma receita e esta tem a natureza de receita corrente para quem a recebe, uma vez que fará face às despesas correntes, essa transferência terá a natureza de transferência corrente. Logo, consistem nos recursos recebidos de outras pessoas jurídicas, independente de contraprestação em bens ou serviços, destinados a atender às despesas correntes. Exemplo clássico são as receitas recebidas pelos Estados e Municípios a título de Fundo de Participação dos Estados (FPE) e Fundo de Participação dos Municípios (FPM), além de alguns convênios e doações.
3.6.2. Receitas de Capital
O próprio alcance da palavra “capital” leva a uma noção consistente das receitas aqui classificáveis. Entendendo-se como “capital” o poder ou a capacidade de algo ser transformado em um bem ou serviço, pode-se dizer, de modo simples, que receita de capital é aquela advinda de uma operação em que patrimônio gera patrimônio. Sendo assim, não há aumento no patrimônio líquido do Estado.
A) Operações de Crédito: São os recursos obtidos quando o Estado é tomador de recursos. Aqui o Estado coloca títulos públicos à disposição dos particulares, de modo a cobrir déficits orçamentários. Além dos títulos da dívida pública, incluem-se também os empréstimos compulsórios.
B) Alienação de Bens: São os recursos provenientes da venda de bens públicos, sejam eles móveis ou imóveis, tal como se dá com as privatizações ou com a venda de ações e outros títulos. Preservando o entendimento de que receita de capital deve ser aplicada em despesa de capital, com atenção à “regra de ouro”. Pelo verbete, fica vedada a aplicação da receita de capital decorrente da alienação de bens e direitos que integrem o patrimônio público para financiar despesas correntes.
C) Amortização de Empréstimos: Nessa hipótese, diferentemente da exposta no item A, o Estado age como cedente de recursos, para o que obtém o valor do principal do empréstimo realizado. Quadra advertir que embora a amortização do empréstimo seja origem da categoria econômica Receitas de Capital, os juros recebidos associados ao empréstimo são classificados em Receitas Correntes de Serviços, pois os juros representam a remuneração do capital.
D) Transferências de Capital: Quando o Estado recebe algum recurso para realizar investimento, esse recurso é tido como uma transferência de capital. Logo, enquadram-se aqui aquelas transferências recebidas de outros entes, independentemente da contraprestação direta de bens e serviços, que são destinados a atender as despesas de capital. Tem-se como exemplo um recurso recebido para construir uma praça, um hospital ou uma escola. São os típicos recursos transferidos através de convênios ou contratos de repasse entre os entes federativos.
4. REGIME CONTÁBIL DA RECEITA (ART. 35, DA LEI 4.320/64)
Toda receita que ingressa nos cofres públicos necessita ser lançada ou contabilizada. Ocorre que, em tese, haveria duas formas para esse lançamento ser realizado: (i) quando fosse prevista a sua realização; e (ii) quando, de fato, houvesse o ingresso do recurso. O legislador preferiu a segunda hipótese. Assim, o regime contábil de lançamento da receita é o chamado regime de caixa. 
A título de exemplo, se determinado Município previu arrecadar de IPTU, no mês de março, o valor de R$ 100.000,00, mas só arrecadou metade desse valor, considerar-se-á como receita de março apenas R$ 50.000,00, e o restante será receita do respectivo mês de arrecadação. Quando o critério de análise é o exercício financeiro, tem-se que as receitas lançadas, embora não arrecadadas, pertencem ao exercício, figurando, quando não recebidas, como dívida ativa.
5. DÍVIDA ATIVA (ART. 39, DA LEI N. 4.320/64) – P.319
· Conceito: são os créditos da Fazenda Pública, de natureza tributária e não tributaria, exigíveis em virtude do transcurso do prazo para pagamento. 
· Divida ativa Tributaria – é o crédito da Fazenda Pública proveniente de obrigação legal relativa a tributos e respectivos adicionais, atualização monetária, encargos e multas tributárias. 
· Divida ativa Não-Tributária – é constituída pelos demais créditos da Fazenda Pública, ex.: multas de qualquer origem ou natureza, exceto as tributárias, foros, laudêmios, aluguéis ou taxas de ocupação, etc.
· Titulo executivo extrajudicial - art. 585, do CPC.
· Presunção júris tantun - que admite prova em contrario.
· Lei 6.830/80 – Execução fiscal 
6. FASES DA RECEITA 
Assim como ocorrem com as despesas, a realização da receita passa por fases ou estágios:
6.1. Previsão 
Extraído do conceito de orçamento, percebe que as receitas são sempre previstas ou estimadas, enquanto as despesas são fixadas. Assim é que toda receita é prevista numa lei orçamentária. A não previsão não significa impossibilidade de sua arrecadação, pois, como visto pela Súmula 66, do STF, uma receita não prevista no orçamento não está impossibilitada de ser cobrada.
Logo, no ato de prever receitas, deve-se utilizar como parâmetros os efeitos da legislação tributária, por conta da possível renúncia de receita; a variação do índice de preços, em virtude do impacto dos contratos de serviços, compras e obras, além de uma correta metodologia, a fim de que haja parâmetros seguros para uma estimativa correta. 
6.2. Lançamento
Após a previsão no orçamento, a receita é lançada. É dizer, toda arrecadação precede uma fase em que se indivídua o montante a ser arrecadado, fase essa mais nítida quando se trata da receita tributária. O art. 53, da Lei n. 4.320/64, define lançamento como o ato da repartição competente, que verifica a procedência do crédito fiscal e a pessoa que lhe é devedora e inscreve o débito desta.
O CTN previu três tipos de lançamento: • Lançamento de ofício ou direto (art. 149, do CTN). • Lançamento por declaração ou misto (art. 147, do CTN). • Lançamento por homologação ou autolançamento (art. 150, do CTN)
6.3. Arrecadação 
Consiste na fase que, antecedendo o recolhimento do tributo, o contribuinte ou o devedor liquida suas obrigações para com o Estado junto aos agentes arrecadadores, como os bancos e demais entidades autorizadas, tesourarias, coletorias ou postos fiscais. Com esse ato, os devedores quitam os seus débitos junto ao Tesouro, pagandoa dívida aos agentes arrecadadores. Os agentes arrecadadores podem ser públicos (tesouraria, postos fiscais) ou privados (bancos). Eles arrecadam as receitas e as transferem para a conta única do Tesouro.
6.4. Recolhimento 
E a fase de entrega dos valores arrecadados aos cofres do Governo. Assim, todos os recursos recolhidos são depositados numa conta única do Tesouro Público pelos agentes arrecadadores, observando o princípio da unidade de caixa (art. 56, da Lei n. 4320/64), conforme mencionado, o que permite um controle centralizado nos recursos arrecadados. 
O recolhimento é realizado pelos próprios agentes ou bancos arrecadadores. Assim, enquanto a arrecadação consiste na entrega do recurso ao agente ou banco arrecadador, o recolhimento consiste no depósito desse recurso em conta do Tesouro. Em suma, consiste na entrega do numerário, arrecadado pelos agentes autorizados, às repartições oficiais
AULA 16 RECEITAS PÚBLICAS E A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL (word salvo sobre esse conteúdo)
CAPÍTULO 4 DESPESAS PÚBLICAS – p. 396
2. CONCEITO 
Consiste no conjunto de gastos realizados pelo Poder Público para a consecução de suas atividades principais, com o objetivo de financiar as ações do governo, sempre com foco na satisfação das necessidades públicas. É, assim, o desembolso realizado pelo Estado para atender os serviços públicos e os encargos assumidos no interesse geral da sociedade.
REQUISITOS 
· Utilidade (atender a um número significativo de pessoas);
· Legitimidade (deve atender uma necessidade pública real);
· Discussão pública (deve ser discutida e aprovada pelo Poder Legislativo);
· Deve ser estipulada em lei.
3. CLASSIFICAÇÃO
3.1. Quanto à Origem do Recurso 
As despesas podem ser orçamentárias ou extraorçamentárias. Orçamentárias quando constam na lei do orçamento e nos seus créditos adicionais. Decorre do princípio da legalidade, visto que toda despesa pública carece de autorização legislativa para a sua execução. 
A despesa extraorçamentária é aquela que não consta do orçamento ou em seus créditos adicionais. São valores com os quais o gestor não pode contar para fazer face aos gastos públicos no seu exercício financeiro. Decorrem do levantamento de depósitos, cauções ou quaisquer valores que se revistam de características de simples transitoriedade.
A antecipação de receita orçamentária (ARO), empréstimo que se toma para pagar dentro do mesmo exercício financeiro, é um exemplo clássico de receita extraorçamentária, e o seu pagamento, por óbvio, é despesa extraorçamentária.
Cumpre registrar que, enquanto a amortização da dívida principal do ARO é uma despesa extraorçamentária, o pagamento dos seus juros é uma despesa orçamentária, visto que deve estar incluído dentro do orçamento.
3.2. Quanto à competência do ente 
As despesas podem ser:
3.2.1. Federal: Visa a atender a fins e serviços da União Federal, em cujo orçamento está consignada; 
3.2.2. Estadual: Objetiva atender a fins e serviços do Estado, estando fixada em seu orçamento; 
3.2.3. Municipal: Tem por finalidade atender a fins e serviços do Município, sendo consignada no orçamento municipal.
3.3. Quanto à regularidade 
Nesse ponto, as despesas podem ser ordinárias ou extraordinárias. No primeiro caso estão aquelas despesas que comumente ocorrem, voltadas às necessidades públicas estáveis, permanentes e periódicas, como as despesas de manutenção da máquina, aí incluídas as despesas de pessoal, materiais de consumo, dentre outras. São as despesas de rotina do serviço público. 
Extraordinárias são as despesas que objetivam satisfazer necessidades públicas acidentais, realizadas em situações imprevisíveis, o que demanda, em contrapartida, uma receita extraordinária.
3.4. Quanto à natureza legal 
Dentre as classificações existentes, a que sobressalta em importância é aquela dada pela Lei n. 4.320/1964. Por esta lei, as despesas podem ser correntes ou de capital. 
3.4.1. Despesas Correntes 
São as despesas contínuas, que, a depender da realidade financeira do ente, não representam ganho de patrimônio e se referem a serviços realizados pela Administração Direta, Indireta ou àqueles que recebem recursos públicos para atender a despesas desta natureza. Dito de outro modo, são as despesas destinadas à manutenção da máquina, como pagamento de pessoal, despesas de consumo, pagamento de juros, dentre outras. São classificadas em despesas de custeio e transferências correntes.
A) As despesas de custeio, conforme redação do § Io, do art. 12, da Lei n. 4.320/64, são as “dotações para manutenção de serviços anteriormente criados, inclusive as destinadas a atender a obras de conservação e adaptação de bens imóveis”. Compreendem as despesas em que há uma contraprestação ao pagamento que o Estado realiza periodicamente, tais como as relacionadas à remuneração dos servidores, pagamento a fornecedores, dentre outros.
B) As transferências correntes, na redação do § 2o, do art. 12, da Lei n. 4.320/64, são as “dotações para despesas as quais não corresponda contraprestação direta em bens ou serviços, inclusive para contribuições e subvenções destinadas a atender à manifestação de outras entidades de direito público ou privado”.
Ainda sobre as transferências correntes, importante realçar o tema das subvenções, já que são transferências, nos termos do § 3o, do art. 12, da Lei n. 4.320/64, “destinadas a cobrir despesas de custeio das entidades beneficiadas, distinguindo-se como: I -subvenções sociais, as que se destinem a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial ou cultural, sem finalidade lucrativa; II - subvenções econômicas, as que se destinem a empresas públicas ou privadas de caráter industrial, comercial, agrícola ou pastoril”.
E através das subvenções que os Estados ajudam as instituições assistenciais, sem fins lucrativos, quando secundam o Estado naquilo que lhe é essencial. Segundo a própria previsão legal, seu cabimento é devido sempre que a suplementação de recursos de origem privada aplicados a esses objetivos revelar-se mais econômica.
A Lei n. 13.019, de 31 de julho de 2014, alterada pela Lei n. 13.204, de 2015, trouxe importantes normas para padronizar o regime jurídico das parcerias voluntárias entre Estado e entes privados, em que estão, envolvidas ou não, transferências de recursos financeiros, conforme melhor explicado no Item 12 deste capítulo.
3.4.2. Despesas de Capital 
São despesas eventuais marcadas por uma operação financeira relativa a uma aquisição patrimonial (obras, bens móveis ou imóveis etc.) ou a uma redução da dívida pública. O art. 12, da Lei 4.320/64, classifica essas despesas em três espécies: 
A) Investimento - para o § 4o, do artigo 12, da Lei n. 4.320/64, são consideradas despesas de investimento “as dotações para o planejamento e a execução de obras, inclusive as destinadas à aquisição de imóveis considerados necessários à realização destas últimas, bem como para os programas especiais de trabalho, aquisição de instalações, equipamentos e material permanente e constituição ou aumento do capital de empresas que não sejam de caráter comercial ou financeiro”
B) Inversões Financeiras — estas vêm classificadas no § 5o, do mesmo artigo, e são as dotações destinadas (i) à aquisição de imóveis, ou de bens de capital já em utilização; (ii) à aquisição de títulos representativos do capital de empresas ou entidades de qualquer espécie, já constituídas, quando a operação não importe aumento do capital; e (iii) constituição ou aumento do capital de entidades ou empresas que visem a objetivos comerciais ou financeiros, inclusive operações bancárias ou de seguros. 
C) Transferências de capital — Estas despesas vêm descritas no § 6o do mesmo artigo: “São Transferências de Capital as dotações para investimentos ou inversões financeiras que outras pessoas de direito público ou privado devam realizar, independentemente de contraprestação direta em bens ou serviços, constituindo essas transferências auxílios ou contribuições, segundo derivem diretamente da Lei de Orçamento ou de lei especialmente anterior, bem comoas dotações para amortização da dívida pública”.
Classificação da Portaria Interministerial 163/2001 (OLHAR CADERNO-IMPORTANTE)
· Categorias Econômicas 
· Grupos de Natureza de Despesa 
· Modalidades de Aplicação
· Elementos de Despesa 
4. FASES DA DESPESA PÚBLICA 
Se há rigorosidade para o ingresso de recursos públicos, a fim de que ele observe a estrita legalidade, maior rigorosidade ocorre quando o tema é o gasto público.
Antes, porém, cumpre registrar que, para realizar qualquer gasto, o Governo precisa de autorização orçamentária, seja ela prevista na LOA, seja prevista em créditos adicionais. Após a fixação, a despesa será efetuada de acordo com a programação realizada. Com a programação, compatibilizam-se as prioridades das aplicações com as disponibilidades financeiras, para manter o equilíbrio durante a execução orçamentária. 
Após esta etapa, surge a fase administrativa do gasto, com observância dos procedimentos previstos em lei para a contratação. Só assim, aparece o campo para o estudo das três etapas abaixo explicitadas.
não raro afirmar que, antes das três etapas clássicas das despesas (empenho, liquidação e pagamento), há a etapa da fixação da despesa, que é aquela constante na LOA. Optamos pela classificação clássica, constante da logicidade sequencial da lei, apoiada pela maioria da doutrina e da jurisprudência.
4.1. Empenho 
Possui definição legal muito clara, no art. 58 da Lei n. 4.320/64: “O empenho de despesa é o ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendente ou não de implemento de condição”. Consiste na reserva a ser feita no orçamento que não poderá mais ser mais gasta a não ser pelo motivo que a justificou. 
Tal se dá porque toda despesa demanda prévio empenho (art. 60 da Lei n. 4.320). Logo, para que uma despesa seja realizada; deve-se, primeiro, verificar se há dotação orçamentária, e, se houver, separar parte dessa dotação para o gasto que se deseja realizar. Essa reserva de recursos para o posterior pagamento é o que se chama de empenho.
Daí, lógico afirmar que o empenho da despesa não poderá exceder o limite dos créditos concedidos, visto que o empenho nunca poderá ser superior ao montante do crédito orçamentário. 
Por isso que geralmente se exige, após o empenho, um documento que comprove a sua ocorrência, chamado de nota de empenho, que deverá conter uma série de informações como (i) o nome do credor; (ii) a dotação orçamentária; (iii) o tipo de empenho; (iv) o valor empenhado; (v) o saldo da dotação; (vi) a individualização da despesa; (vii) a assinatura da autoridade pública, dentre outros (art. 61 da Lei n. 4.320/64).
ressalta-se a importância do empenho, seja para o planejamento do Estado, a fim de não efetuar qualquer comprometimento ou gasto sem o prévio registro e comprovação da existência de crédito orçamentário para a despesa, seja para garantia do contratado, que tem no empenho um documento hábil a comprovar a higidez orçamentária do ente público e, na hipótese de não pagamento, torna célere a sua cobrança, por se tratar de título executivo extrajudicial, desde que, por óbvio, o quanto avençado no contrato tenha sido devidamente cumprido pela parte exequente. A parte disso, executar o empenho sem a prova da prestação do serviço ou da entrega da mercadoria é tentativa de lesar o Estado com nítida característica de má-fé. 
De outro lado, havendo a prestação de serviço, e sendo o caso de contratação com alguma irregularidade ou ausência de emissão de nota de emprenho, o particular não pode ser prejudicado quanto ao recebimento dos seus créditos, desde que prove o adimplemento do quanto pactuado. O poder público deve honrar com suas obrigações, em homenagem aos princípios da boa-fé, legitima expectativa e vedação do enriquecimento ilícito.
4.1.1. Tipos de Empenho 
O empenho é classificado em três espécies: ordinário, estimativa e global. 
A) Empenho ordinário - como se deduz da sua nomenclatura, o empenho ordinário é aquele realizado para as despesas normais, cujo montante é previamente conhecido e o pagamento deva ocorrer de uma só vez. Exemplo: quando há licitação para aquisição de um veículo, o empenho aí realizado é ordinário, pois se destina à aquisição de um bem, que será pago de uma única vez. 
B) Empenho por estimativa — é devido naquelas hipóteses em que não é possível determinar com precisão o valor da despesa. No entanto, pelo que comumente ocorre, tem-se uma noção aproximada do seu valor. Nesse caso, faz-se uma estimativa do gasto ao longo do exercício financeiro para que haja o empenho. Dá-se geralmente com as contas de consumo, diárias, gratificações, em que se estima um montante que normalmente acontece, podendo ocorrer para mais ou para menos. Em suma, ocorre quando não se conhece o montante da despesa. Sua previsão está no art. 60, § 2o’ da Lei n. 4.320/64: “Art. 60. § 2o Será feito por estimativa o empenho da despesa cujo montante não se possa determinar”. 
C) Empenho global - assemelha-se ao empenho ordinário, uma vez que atende a despesas com montante definido. No entanto, em virtude do objeto contratado, o seu pagamento é geralmente feito em parcelas, pois se espera a conclusão de etapas de obras ou entrega de bens para que a quitação ocorra.
Cumpre lembrar que, para os contratos cuja duração ultrapasse o exercício financeiro, o empenho global ficará restrito aos créditos orçamentários referentes a um único exercício financeiro. Deste modo, em cada ano se faz um empenho global referente ao valor do contrato.
4.7.2. Pode um empenho ser cancelado ou anulado?
Ocorre que, embora empenhado, se o credor não cumprir o compromisso acertado, não haverá para o Estado a obrigação de pagamento, podendo, em algumas hipóteses, dito empenho ser cancelado. Assim, seja porque foi emitido incorretamente ou porque o objeto do contrato não foi cumprido, não há qualquer erro em se cancelar o empenho.
Há hipóteses também de anulação do empenho. A Lei n. 4.320/64 traz algumas situações de vedação à realização de empenhos de modo que, se inobservadas, deverão ser anulados.
Por outro lado, se o empenho for insuficiente para atender ao compromisso firmado, poderá ser reforçado, passando o seu novo valor a ser o valor inicial mais o do reforço, ou, quando o mesmo exceder o montante da despesa realizada, poderá ser anulado apenas parcialmente. 
Com a anulação do empenho, emite-se um documento denominado Nota de Anulação de Empenho, que tem por objetivo devolver a importância anulada ao saldo orçamentário. 
No entanto, se o empenho foi devidamente liquidado, conforme se verá, sendo atestado pelo ente o cumprimento do objeto contratual, de forma regular, vedado fica o seu cancelamento, tornando-se ilegal tal prática, dado que o negócio jurídico se operou regularmente.
4.2. Liquidação 
Quando a Administração contrata um serviço ou uma pessoa, ela só poderá efetivar o pagamento ao interessado se ficar comprovado que o mesmo cumpriu o quanto pactuado nos seus exatos termos. Esse ato de verificação é chamado de liquidação. 
Segundo sua definição legal (art. 63 da Lei n. 4.320/64), a liquidação consiste “na verificação do direito adquirido pelo credor tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito”. Com essa definição, conclui-se que, antes de ser paga, toda despesa precisa passar pelo processo de verificação do direito adquirido do credor, que é a liquidação.
Em suma, liquidação é a fiscalização que o poder público exerce quando do recebimento dos bens ou dos serviços que contratou. E etapa das mais importantes no setor público, pois, a depender da lisura, evita-se a burla na execução de contratos, que muitas vezes são pactuados de uma forma e cumpridos de modo distinto. Aqui o ponto em que o poder público deve dar maior atenção, e indicar liquidantes entendedores em cada área, a fim de checar, com precisão, a correção dos bens e serviços contratados.
4.3. Pagamento 
Essa etapa não demanda maiores digressões. O pagamento é o ato pelo qual a Administração, percebendo que o credor faz jus ao recebimentodo numerário, o entrega, recebendo a devida quitação.
Pelo art. 62, da Lei n. 4.320/64, “o pagamento da despesa só será efetuado quando ordenado após sua regular liquidação.” Verificado que o serviço foi prestado ou a mercadoria entregue, a autoridade competente dá ordem de pagamento, determinando que a despesa seja paga (art. 64, da Lei n. 4.320/64). 
Aqui surge a figura do ordenador de despesas, sugerindo-se uma etapa antecedente ao pagamento que é o ordenamento8. Compreende ao despacho da autoridade competente para determinar o pagamento dos valores correspondentes à despesa (art. 64, da Lei n. 4.320/64). 
Ordenador de despesas é “toda e qualquer autoridade de cujos atos resultarem emissão de empenho, autorização de pagamento, suprimento ou dispêndio de recursos da União ou pela qual esta responda (art. 80, § Io, do Decreto-Lei n. 200/67).
4.3.2. Pagamento antecipado 
O pagamento ocorre quando o serviço é prestado ou a mercadoria é entregue. Portanto, é sempre a última etapa do processo de realização da despesa pública. Assim, quando há a contratação de uma obra ou um serviço de engenharia, por exemplo, o cronograma físico- -financeiro deve ser seguido e os pagamentos realizados dentro de uma sequência lógica, a fim de não se pagar uma etapa sem que a mesma esteja concluída.
A peculiaridade de alguns contratos, no entanto, chama a reflexão para a possibilidade de seu pagamento antecipado. Quando o Estado contrata uma banda de música, por exemplo, é comum a avença de pagamento parcialmente antecipado, seja para cobrir os custos de passagens e deslocamento, seja para assegurar que a contratação se manterá efetiva. No entanto, aludido pagamento se esbarra com as fases da despesa, que determina a sua ocorrência apenas ao final, após a liquidação.
Deste modo, nada impede a antecipação de parte do pagamento, desde que, prevista no ato convocatório e/ou no contrato, seja imperativo para a contratação e haja garantias que redundem em segurança ao ente contratante. O Tribunal de Contas da União tem entendimento no sentido não se efetuar “pagamento antecipado por serviços contratados, sem a exigência de garantias para o cumprimento das obrigações, de forma a dar cumprimento ao art. 62 da Lei n. 4.320/1964” (Acórdão n. 769/2013-Plenário, TC 032.966/2012-1, relator Ministro-Substituto Marcos Bemquerer Costa, 3.4.2013). 
Consiste em possibilidade excepcional, concebível apenas mediante o preenchimento dos seguintes requisitos: previsão no edital de licitação ou nos instrumentos formais de adjudicação direta, interesse público devidamente demonstrado e apresentação de cautelas e garantias.
ADIANTAMENTOS
“Art. 68. O regime de adiantamento é aplicável aos casos de despesas expressamente definidos em lei e consiste na entrega de numerário a servidor, sempre precedida de empenho na dotação própria para o fim de realizar despesas, que não possam subordinar-se ao processo normal de aplicação.”
· Ex.: despesas realizadas com urgência, realizadas em lugares distantes, despesas miúdas de pronto pagamento, etc. 
	“Art. 69. Não se fará adiantamento a servidor em alcance nem a responsável por dois adiantamento.” 
5. REGIME CONTÁBIL DA DESPESA 
Regime contábil é um procedimento ou técnica adotado para a realização dos registros dos fatos aplicados à ciência contábil. Podem ser classificados em três tipos: regime de caixa, de competência e regime misto. 
No regime de competência, as receitas e as despesas devem ser incluídas na apuração do resultado do período em que ocorrerem, independentemente de recebimento ou pagamento. Já no regime de caixa, são consideradas receitas e despesas do exercício tudo o que for recebido ou pago durante o ano financeiro, mesmo que se trate de receitas e despesas referentes a exercícios anteriores. Por fim, no regime misto, adota-se ao mesmo tempo o de caixa e o de competência, sendo esse o regime adotado pela contabilidade pública no Brasil. 
Segundo a redação do art. 35, da Lei n. 4.320/64, pertencem ao exercício financeiro as receitas nele arrecadadas e as despesas nele legalmente empenhadas. Com essa redação, a Lei 4.320/64 instituiu o regime contábil de caixa para as receitas e o regime de competência para as despesas.
Pelo regime de caixa, consideram-se como receitas do exercício as efetivamente recebidas, independentemente do seu fator gerador ou de quando o seu ingresso estava previsto para ocorrer. Assim, uma receita, embora prevista para o mês de janeiro, caso tenha ingressado nos cofres públicos no mês de março, será considerada como receita do mês de março. 
O regime de competência, como visto, considera o exercício em que a despesa foi empenhada e não o que foi efetivamente paga. Assim, se a despesa foi empenhada em um ano e paga no ano seguinte, será contabilizada como despesa do ano em que foi empenhada. Dessa forma não se onera o novo exercício financeiro com despesas de exercícios anteriores.
5.1. Exceções aos regimes contábeis 
O regime de caixa para as receitas e o regime de competência para as despesas não é aplicável na totalidade. Há exceções.
Do lado das despesas, dois exemplos clarificam as exceções: 
Ex. 01: Uma despesa do exercício de 2008, que não foi paga naquele ano, deverá ser inscrita em restos a pagar em 31/12/08 para ser paga em 2009. Se até 31/12/09 essa despesa não tiver sido paga, será cancelada, permanecendo, ainda, o direito do credor. 
A partir de 01/01/2010, se essa despesa for reclamada pelo credor, a administração pública irá pagá-lo com a rubrica “despesas de exercícios anteriores”. Esse pagamento será considerado uma despesa normal do orçamento vigente (2010). Essa é mais uma das exceções ao princípio da competência. Ou seja, deveria ser despesa de 2008 e não do orçamento de 2010. 
Ex.: 02: Pagamento antecipado de uma despesa. Pode acontecer, em situações excepcionais, a necessidade de um pagamento antecipado como forma de garantia de um contrato ou fornecimento de produto exclusivo. Assim, uma despesa referente ao exercício de 2010 poderá ser empenhada, liquidada e paga em 2009, e será incluída como despesa do exercício financeiro de 2009 e não 2010. 
Do lado das receitas, apenas um exemplo será trazido. 
Ex.: As receitas previstas e não arrecadadas são incluídas na dívida ativa e o recebimento geralmente só acontecerá no ano subsequente, mas, mesmo assim, no momento de sua inscrição na dívida ativa já é considerada receita. Logo, tem-se como receita um recurso que ainda não foi recolhido aos cofres públicos. Como não houve o efetivo recebimento do numerário, tem-se uma receita meramente econômica, mas nem por isso deixa de ser contabilizada como receita.
5.2. Regime de Competência e o período adicional
 Há hipóteses em que o orçamento “avança” sobre o ano seguinte, período esse chamado de “adicional”.
6. RESTOS A PAGAR 
Entendido o regime de pagamento eleito para as despesas, bem como que o princípio da anualidade define os limites do exercício financeiro para a utilização dos créditos orçamentários, a lei tratou de estabelecer alguns critérios para o encerramento do exercício financeiro em relação às despesas empenhadas e não pagas. 
Assim, via de regra, após o empenho, deve-se verificar se assiste ao credor direito ao recebimento do valor acordado, com base nos títulos e documentos comprobatórios do seu suposto crédito. No entanto, se por algum motivo a despesa não for paga até o término do exercício financeiro, dia 31 de dezembro, o crédito poderá ser inscrito em “restos a pagar”, a fim de que o pagamento se realize no exercício subsequente. 
Nesses temos é a definição de restos a pagar constante do art. 36, da Lei n. 4.320/64: são as “despesas empenhadas mas não pagas até o dia 31 de dezembro distinguindo-se as processadas das não processadas”.
Aqui volta à tona o entendimento dos estágios da despesa, visto que o art. 36, da Lei n. 4.320/64 distingue as despesas processadas das não processadas, sendo a liquidação o critério de diferenciação entre elas. 
Despesas processadas são aquelas cujo empenho é executado e liquidado, estando prontaspara pagamento. As despesas não processadas, por sua vez, são aquelas em que os empenhos dos contratos e/ou dos convênios estão em plena execução, mas, por não estarem liquidadas, ainda não existe direito líquido e certo do credor.
Havendo despesas empenhadas e não pagas dentro do exercício, a legislação criou como solução de pagamento essa dotação orçamentária, para alcançar os gastos que não foram pagos dentro da competência em que foram criados.
O Decreto n. 93.872/86 previa que os restos a pagar deveriam ser pagos durante o exercício financeiro subsequente, ou seja, até 31 de dezembro do ano seguinte à realização do empenho. Se não fossem pagos, os saldos remanescentes deveriam ser automaticamente cancelados, por ser vedada a reinscrição de empenhos em restos a pagar. Era o que se depreendia da leitura do seu art. 68.
Pela redação, sua validade seria de um ano, sem distinção entre os processados e os não processados. 
Em 2008, no entanto, o Decreto n. 6.708 alterou a redação do art. 68 e deu tratamento diferenciado entre restos a pagar processados e não processados:
Com essa redação, apenas os restos a pagar não processados deveriam ser cancelados se, depois de um ano, as despesas ainda tivessem sido liquidadas. Como não há norma geral tratando da matéria, a União a trata por decreto de maneira diferente em cada ocasião que a necessidade fática justificar. Para esse ente, os restos a pagar processados são prorrogados automaticamente e os não processados oscilam de acordo com decreto presidencial.
Na ausência de norma específica, vale a redação do art. 68, § 2o- do Decreto n. 93.872/86, que prevê a validade dos restos a pagar não processados até 30 de junho do segundo ano subsequente ao da sua inscrição. Após essa data, os mesmos podem ser cancelados. 
De lembrar que o cancelamento de restos a pagar não processados constituem-se em fonte de recursos para a abertura de créditos adicionais. Esse é o entendimento do Tribunal de Contas do Estado do Mato Grosso:
Na hipótese de cancelamento dos restos a pagar, o direito do credor não é desconstituído, pois o Judiciário poderá lhe garantir o recebimento, tendo em vista a inocorrência da prescrição.
Enquanto as despesas permanecem inscritas em restos a pagar, corre a prescrição a partir da sua inscrição. No entanto, efetuado o cancelamento, ocorre a interrupção da prescrição, ocasião em que começa a contar novamente o prazo prescricional.
Os restos a pagar cancelados são chamados de restos a pagar com prescrição interrompida. São aqueles em que permanece vigente o direito do credor e que poderão ser pagos, como se verá, à conta da dotação nominada “despesas de exercícios anteriores”, respeitada a categoria própria. 
Nesse caso, quando se cancela uma dívida da conta “restos a pagar”, ele na verdade ganha um novo fôlego, pois a partir de então a despesa pode ser paga por outra dotação orçamentária chamada de despesas de exercícios anteriores. Conclusão retirada da redação do art. 69, do Decreto n. 93.872/86:
6.1. Restos a pagar em final de mandato (p.435)
Preocupação comum dos órgãos de fiscalização e controle tem sido o elevado número de restos a pagar que os governantes inscrevem ao final de exercício, mormente aqueles chamados de restos a pagar não processados.
7. ADIANTAMENTO OU SUPRIMENTO DE FUNDOS 
A realização da despesa pública é extremamente burocrática e tal se dá por razões de todos sabido. Ocorre que, no dia a dia da Administração, o gestor se vê diante de situações que demandam gastos imediatos e eventuais, atrelados a pequenas montas, que, por considerações de razoabilidade, justificam a sua ocorrência apartada do rigor formal acima descrito, mas nem por isso alheio à fiscalização. 
São despesas especiais, que não se sujeitam ao processo normal de sua execução, e ocorre quando a Administração, através do ordenador de despesas, disponibiliza a um servidor designado determinada monta, para que este faça o devido pagamento, quando surgirem as necessidades sujeitas a esse regime especial de pagamento. 
Trata-se do suprimento de fundos ou adiantamento que, nem por isso, desvincula-se das fases comuns de toda despesa pública, quais sejam, empenho, liquidação e pagamento. Por esta razão se classifica como despesa orçamentária. Chama-se de adiantamento porque os valores são antecipados ao servidor que realizará a despesa, tudo em conformidade com a lei.
Pela redação, somente pode ser concedido suprimento de fundos a servidor público, nunca a terceirizado ou estagiário. Aquele que não cumpriu ainda o prazo do estágio probatório não está impedido de efetuar esse tipo de despesa. E mais, pelo art. 69 da mesma lei, cada servidor pode ter até dois suprimentos de fundos, nos termos dos limites definidos na respectiva autorização, e não poderá receber novo adiantamento enquanto não prestar contas do numerário anterior.
Logo, é proibida a concessão de três adiantamentos concomitantes a cargo do mesmo agente público, tendo em vista a necessidade de prestação de contas dos valores recebidos para a continuidade do procedimento de suprimento de fundos, bem como não haverá novo suprimento de fundos àquele servidor em alcance, ou seja, ao servidor que não cumpriu sua atribuição de prestar contas dos valores recebidos. Alcance “é justamente a ausência de correspondência entre as contas prestadas e as despesas realizadas em regime de adiantamento, sendo imperativa a responsabilização do agente que deu causa à antecipação de um gasto público ao arrepio das exigências legais
8. DESPESAS PÚBLICAS DE ORIGEM ADMINISTRATIVA: DESPESAS DE EXERCÍCIOS ANTERIORES (DEA) 
Há despesas que, por algum motivo, não foram pagas no seu exercício, mas poderão ser pagas em exercícios posteriores. Porém, quando tal se der, se referirão a dívidas de exercícios financeiros anteriores, visto que, como as despesas seguem o regime de competência, não importa quando elas foram pagas, e sim, a que competência (exercício) elas se referem. Essas despesas são chamadas de despesas de exercícios anteriores - DEA. Em suma, são as despesas resultantes de compromissos assumidos em exercícios anteriores àquele em que ocorrer o pagamento, para os quais não existe empenho.
Como as despesas seguem o regime de competência, se uma delas tiver origem, por exemplo, em 2014, e só for reconhecida, empenhada e paga em 2016, a sua contabilização deverá ser feita à conta de dotação de DEA para evidenciar que a despesa em questão pertence a exercícios passados.
Pela sua redação, percebe-se que há três categorias de despesas que podem ser lançadas na dotação “despesas de exercícios anteriores” (DEA): 
a) As despesas de exercícios encerrados, para as quais o orçamento respectivo consignava crédito próprio, com saldo suficiente para atendê-las, que não se tenham processado na época própria.
Neste caso, têm-se as situações em que o empenho foi considerado insubsistente ou foi anulado no encerramento do exercício correspondente, mas dentro do prazo estipulado o credor cumpriu a sua obrigação. 
Portanto, na hipótese de persistir o interesse do poder público ou o direito do credor, a despesa será regularmente orçada e empenhada no exercício subsequente à conta da rubrica “Despesas de Exercícios Anteriores”. Aqui entram também as despesas urgentes que não puderam aguardar o procedimento às vezes demorado para a realização do empenho. 
b) Restos a Pagar com prescrição interrompida 
Como dito, os “restos a pagar” não pagos até o final do exercício devem ser cancelados e os recursos destinados ao seu pagamento passam a ser considerados “outras receitas”, passando a compor o orçamento do ano seguinte. 
No entanto, muito embora tenha havido o cancelamento dos restos a pagar, se dentro do prazo prescricional o credor comprova o seu direito, a Administração poderá fazer o seu pagamento à conta da dotação DEA.
De lembrar que os restos a pagar processados são também cancelados, mas por hipótese distinta. Nesse caso, o credor cumpriu com suas obrigações, isto é, entregou o material ou prestou os serviços, e faltava apenas o pagamentopara ser efetivado no exercício seguinte. Efetuando-se o pagamento, cancela-se os restos a pagar. 
c) Compromissos reconhecidos após o encerramento do exercício correspondente 
A Administração poderá realizar pagamentos, ainda que não tenha sido prevista a dotação orçamentária própria, ou não tenha esta deixado saldo no exercício respectivo, desde que possam ser atendidos em face da legislação vigente.
Sua definição está no art. 22, § 2o, “c”, do Decreto n. 93.872/86: “obrigação de pagamento criada em virtude de lei, mas somente reconhecido o direito do reclamante após o encerramento do exercício correspondente. 
É bom registrar que as dívidas de exercícios anteriores que dependam de requerimento do favorecido prescrevem em cinco anos, contados da data do ato ou do fato que tiver dado origem ao respectivo direito. 
O pagamento de DEA, após a LRF, depende não só de saldo de dotação orçamentária, mas também de comprovação que, no final do exercício em que a despesa ocorreu, o órgão ou entidade tinha disponibilidade financeira suficiente para sua cobertura.
9. DESPESAS PÚBLICAS DE ORIGEM JUDICIAL: PRECATÓRIO 
Quando o particular possui alguma dívida reconhecida judicialmente e não a paga, poderá sofrer processo de execução e ter os seus bens penhorados. Uma vez penhorado, o bem pode ser levado à praça para que, com sua venda, seja satisfeito o crédito. O mesmo não se dá com a Fazenda Pública, visto que os seus bens são inalienáveis e impenhoráveis, além dos serviços públicos não sofrerem solução de continuidade. Logo, contra a Fazenda Pública há necessidade de um sistema próprio de execução e pagamento. 
Esse sistema especial de pagamento, ao mesmo tempo em que é um privilégio ao Estado, consiste numa garantia ao credor.
9.1. Conceito e finalidade 
Consiste numa requisição formal de pagamento em que o Poder Público é condenado judicialmente a realizar. Dito de outro modo, o precatório é um ato do Judiciário, de cunho mandamental, decorrente de decisão judicial transitada em julgado contra a Fazenda Pública, por intermédio do qual o Estado-Poder Judiciário comunica-se com o Estado-Poder Executivo, dando-lhe notícia da condenação, a fim de que, ao elaborar o orçamento para o próximo exercício, aludido valor seja incluído na fixação da despesa. Seu montante se constitui em dívida consolidada do Poder Público correspondente.
Sua finalidade, como se denota, e satisfazer o credor de dívida pública decorrente de decisões judiciais transitadas em julgado, uma vez que no Brasil é proibida a penhora de bens públicos. 
9.2. Alcance do regime 
Pela redação do art. 100, percebe-se que o constituinte refere-se expressamente aos “pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais”, no sentido de que somente os entes da Administração Direta gozam do benefício do pagamento privilegiado de suas dívidas. Entretanto as autarquias e as fundações públicas também possuem o privilégio:
9.3. Procedimento (p.449)
CREDITOS PÚBLICOS – AULA 20 (OLHAR)

Continue navegando

Outros materiais