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Classificação biológica e o estudo de alguns reinosUN I D A D E 1 Th in k s To c k /G eT Ty im a G es As coleções biológicas são ferramentas de preservação que atestam sobre a diversidade e a riqueza das espécies de um determinado ambiente. Elas são importantes fontes de referência para que pesquisadores possam procurar informações e obter a identificação de espécies. Na foto, coleção de insetos. 9 01_UN1_CAP01_BIOLOGIA2-CSC_009a020.indd 9 4/29/16 3:54 PM A classificação dos seres vivos1CAPÍT U L O JArdins botânicos Os jardins botânicos são instituições que visam à pesquisa, à conservação vegetal e à educação. Considerados museus vivos, suas coleções permitem que a sociedade conheça a biodiversidade e a importância das plantas para a vida no planeta. Hoje existem cerca de 33 mil espécies de plantas ameaçadas de extinção ou de empobrecimento genético, enquanto há mais de 2 500 jardins botânicos e arboretos1 no mundo. Em vista disso, os jardins botânicos foram chamados a implementar a Estratégia Mundial para a Conservação de Plantas e a elaborar planos, no sentido de defender a conservação das plantas e atrair a atenção do público, por intermédio de programas educacionais apropriados, com abordagem que privilegiasse a preservação da diversidade genética e o desenvolvimento sus- tentável. [...] As coleções do Jardim Botânico do Rio de Janeiro se desenvolvem em diversas ações. Os pesquisadores da instituição viajam ao ambiente natural para coletar amostras de plantas. Os ramos com flores são dessecados na prensa para formar as “exsicatas”2, itens componentes do herbário. Também se coletam frutos, sementes e pedaços de folhas que, colocadas em saquinhos contendo sílica, são processadas pela equipe do Laboratório de DNA. Quando possível, são trazidas ainda amostras de madeira para a Xiloteca3. No Laboratório de Sementes, processam-se e estudam-se as sementes que são armazenadas em câmaras de refrigeração; as excedentes são encaminhadas ao Horto Florestal para produção de mudas. [...] Jardim Botânico do rio de Janeiro. Introdução a Coleções Biológicas. disponível em: <http://jbrj.gov.br/colecoes/biologicas>. acesso em: nov. 2015. Com mais de dois séculos de existência, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro é reconhecido em todo o mundo por sua importância cultural, científica e paisagística. Rio de Janeiro (RJ), 2013. 1. Arboreto: local onde se cultivam plantas de diversos tipos (árvores, arbustos e herbáceas) com o objetivo de estudá-las ou usá-las em práticas do ensino. 2. Exsicata: amostra de planta prensada e seca. as excicatas passam por esse processo para que as estruturas da planta sejam preservadas, possibilitando o armazenamento para o registro e a troca de exemplares da espécie. 3. Xiloteca: do grego xylon = “madeira” e theke = “coleção”. coleções botânicas compostas exclusivamente por amostras de madeira. G u st av o m a G n u ss o n /F o to a re n a • em sua opinião, qual é a importância, para a sociedade, de locais como o Jardim Botânico do Rio de Janeiro? existe algum jardim botânico em sua cidade? EXPLORANDO AS IDEIAS DO TEXTO NãO EScREvA NO LIvRO 10 as respostas das questões dissertativas estão nas orientações Didáticas, ao final deste volume. 01_UN1_CAP01_BIOLOGIA2-CSC_009a020.indd 10 4/29/16 3:54 PM Por que clAssificAr? o ser humano vem tentando há muito ordenar o mundo natural, visando entender o ambiente que o cerca. da mesma forma, com o intuito de facilitar o estudo dos organismos, os estudiosos da natureza passaram a descrever, nomear e classificar os diferentes seres vivos, ordenando-os em grupos de acordo com certos critérios. esse trabalho é a taxonomia. em 1735, o botânico sueco Lineu (Karl von Linné, ou carolus Linnaeus) publicou um trabalho intitulado Systema Naturae, no qual propôs a classificação dos seres vivos em grupos (ou táxons) de maior ou menor abrangência; tais grupos se distri- buem em uma hierarquia. nesse sistema de classificação, o táxon mais abrangente é o de reino, que, por sua vez, compreende táxons sucessivamente menores até o nível de espécie, a unidade de classificação. o critério básico da classificação de Lineu era a semelhança anatômica entre os organismos; as espécies eram consideradas tipos padrões e imutáveis, conceito este chamado de fixismo. até então, não se aventava a hipótese de que teria ocorrido um processo de evolução biológica. a partir do século XiX, Lamarck (1809), darwin (1859) e outros pensadores publi- caram ideias sobre as espécies se modificarem ao longo do tempo, pressuposto básico do que, com o tempo, veio a consolidar a teoria da evolução Biológica. essa teoria se tornou, a partir da segunda metade do século XX, a base dos sistemas de classificação atuais. em vez de tipos imutáveis, caracterizados apenas pela estrutura (anatomia), hoje as espécies são classificadas com base em diversos critérios (fisio- lógicos, embriológicos, bioquímicos, genéticos, ecológicos, entre outros) que buscam desvendar as relações de parentesco evolutivo entre os seres vivos. um exemplo de classificação o esquema ao lado mostra a clas- sificação de um animal da espécie Canis familiaris, o cão, nas diversas categorias taxonômicas, os táxons4. o gênero Canis reúne várias espécies semelhantes à do cão, como a do lobo e a do coiote. a família dos caní- deos abrange outros gêneros, como o das raposas. a ordem dos carnívoros agrupa várias famílias, como a dos canídeos, a dos felídeos e a dos ursí- deos. a classe dos mamíferos tem várias ordens, como a dos carnívoros, a dos primatas, a dos cetáceos, a dos roedores e a dos quirópteros. o subfi- lo dos vetebrados inclui outras clas- ses além da dos mamíferos: a dos répteis, a dos anfíbios, a dos peixes e a das aves. o filo dos cordados, por sua vez, reúne os subfilos urochordata e cephalochordata, além dos verte- brados, exemplificados no esquema. Finalmente, o reino animalia engloba muitos filos, como o dos cordados, artrópodes, moluscos e anelídeos. Classificação da espécie Canis familiaris, o cão doméstico. (Representação fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) 4. Táxons: categorias de classificação, grupos taxonômicos. o termo vale para espécie, gênero, família etc. Reino animalia FiLo chordata sUBFiLo Vertebrata cLasse mammalia oRDem carnivora FamÍLia canidae GÊneRo Canis esPÉcie Canis familiaris estrela- -do-mar ser humano aveserpente anfioxo cavalo Raposa cão Urso Peixe minhoca coioteTigre Lobo c o n c e it o G r a F A classificação dos seres vivos • CAPÍTULO 1 11 Tem-se aqui uma opor tunidade de contextualização do conhecimento com o cotidiano dos estudantes, que poderão identificar em sua vivência várias situações em que se faz necessária a adoção de sistemas de classificação: na ordenação dos talheres dentro de uma gaveta, na arrumação das roupas e outros objetos pessoais dentro de armários e na colocação de livros numa estante, por exemplo. 01_UN1_CAP01_BIOLOGIA2-CSC_009a020.indd 11 4/29/16 3:54 PM Os elementos químicos assim como a Biologia, a Química tem um sistema de classificação e nomenclatura que organiza o seu estudo. os elementos químicos, por exemplo, têm nomenclatura e símbolos padronizados e são distribuídos numa tabela, de acordo com algumas de suas propriedades. em Química, a tabela periódica proposta pelo russo mendeleev (1871) tem os elementos indicados por seus símbolos e ordenados em sequência de seus números atômicos (Z). em colunas verticais da tabela ficam as famílias. os símbolos dos elementos químicos foram propostos pelo sueco Berzelius, em 1811. 1. Localize na tabela periódica as famílias: metais alcalinos, alcalino-terrosos, halogênios e gases nobres. Pesquise em que tipo de composto, natu- ral, alguns desses elementos podem ser encontra- dos. 2. Pesquise a presença do flúor e do cloro,que são halogênios (latim: halo = “sal” + grego: genesis = “origem”), no ambiente e no corpo humano e descre- va o papel desses elementos. 3. os símbolos dos elementos químicos são represen- tados por abreviaturas de seu nome em latim. Por que o latim é o idioma escolhido para a nomenclatu- ra? Faça uma pesquisa e responda. 4. em Biologia, há diferentes sistemas de classificação. discuta com seus colegas a importância de classificar. 5. em grupos, criem um sistema de classificação que possa ser exposto em forma de tabela. Pode ser de objetos, seres vivos, músicas, entre outros. 6. ao final, juntem as informações coletadas e os sistemas de classificação produzidos por toda a turma e elabo- rem um artigo único de divulgação para sua comunida- de escolar, que com linguagem adequada, clara e acessível, para reportar os resultados que vocês encon- traram. divulguem o artigo para as outras turmas. ( ) Ununtrium Uut Ununpentiu Uup Ununséptio Uus Ununóctio Uuo Tabela periódica dos elementos Fleróvio (289) Livermório (293) Número de massa do elemento mais comum. Os elementos nesta fronteira, com exceção do alumínio, apresentam características de metais e de não metais. Atualizada em 2013. LvFI Copernício (284) (288) (294) (294) NãO EScREvA NO LIvRO Fonte: iuPac. disponível em: <www.iupac.org>. acesso em: fev. 2016. B is LEITURA E LETRAMENTO Lembrem-se de que o artigo deve conter página de abertura com título, nome dos autores e resumo do trabalho; depois, há a introdução do tema, o desenvolvimento e as conclusões a que vocês chegaram. Não se esqueçam de incluir a bibliografia que vocês consultaram. UNIDADE 1 • ClassifiCação BiológiCa e o estudo de alguns reinos12212 comentários e sugestões para esta atividade estão nas orientações Didáticas, ao final deste volume. 01_UN1_CAP01_BIOLOGIA2-CSC_009a020.indd 12 4/29/16 3:54 PM As homologiAs o conceito de homologia é importante para fundamentar a classificação biológica que se baseia nas relações evolutivas entre os organismos. Homologia significa semelhança. em Biologia, esse conceito refere-se a semelhanças em relação a um mesmo plano básico de organização, indicando, assim, que semelhanças entre dois ou mais organismos se devem a uma mesma origem evolutiva. um exemplo clássico é o dos membros dos vertebrados, que apresentam o mesmo número de ossos na fase embrionária, dispostos da mesma forma. entretanto, durante o desenvolvimento, os membros se modificam, mostrando-se adaptados para funções diversificadas. o morcego, por exemplo, usa as asas para o voo, a baleia usa suas nadadeiras para a natação, o macaco usa seus braços para a braquiação5 em árvores, o cavalo corre com suas pernas e o tatu usa as suas para escavar. além das homologias anatômicas, são também importantes outras homo- logias, como as bioquímicas. o simples acaso não poderia explicar, por exem- plo, a presença de certas proteínas (como as hemoglobinas e certas enzi- mas) e outras substâncias semelhantes — às vezes até idênticas — em animais bem diferentes. como mencionado anteriormente, as semelhanças (ou homologias) suge- rem uma mesma origem evolutiva. os estudos sobre homologias fornecem bases para as propostas de filogenias, ou seja, para o estabelecimento de diagramas que relacionem os organis- mos entre si quanto ao parentesco evolutivo e às origens comuns entre os diversos grupos. outro conceito bastante usado em Biologia é o da analogia, que não deve ser confundida com a homologia. a analogia refere-se apenas a semelhanças funcio- nais. as asas dos insetos e as das aves, por exemplo, embora tenham função e forma semelhantes, não têm qualquer semelhança em termos de origem embrioná- ria e estrutura anatômica básica. são, assim, chamadas de órgãos análogos, pois, embora exerçam função semelhante, não têm relação evolutiva próxima entre si e, portanto, não são levadas em conta para uma classificação que se baseie no paren- tesco evolutivo entre as espécies. o conceito de esPécie como já vimos, segundo Lineu, as espécies eram consideradas tipos imutáveis, usados como padrão de comparação. com o advento das ideias sobre a evolução biológica e muitas discussões sobre os critérios mais adequados para proceder às classificações, o conceito de espécie mudou bastante. Por enquanto, podemos adiantar que cada espécie é caracterizada por indiví- duos muito semelhantes entre si quanto a aspectos morfológicos, genéticos, bioquí- micos etc., e que são capazes de cruzamento em condições naturais, gerando des- cendência fértil. 5. Braquiação: modo de locomoção de primatas que vivem em árvores, balançando-se de galho em galho, com a utilização de braços e pernas. Esquema comparando os conceitos de homologia e analogia. (Representações fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) r 2 e d it o r ia L Homologiaasa de morcego asa de ave asa de inseto Braço humano AnalogiaAnalogia Homologia Homologia HomologiA AnAlogiA A classificação dos seres vivos � CAPÍTULO 1 13 a discussão sobre o conceito de espécie será detalhada no volume 3 desta coleção. 01_UN1_CAP01_BIOLOGIA2-CSC_009a020.indd 13 4/29/16 3:54 PM nas palavras de ernst mayr (1904-2005), um estudio- so da evolução: “defino espécies biológicas como ‘gru- pos de populações naturais capazes de entrecruza- mento que são reprodutivamente (geneticamente) isolados de outros grupos similares’. o status de espécie é propriedade de populações, não de indivíduos”. Geralmente, organismos de espécies diferentes não trocam genes, isto é, não se reproduzem. Às vezes, porém, pode acontecer de espécies claramente distin- tas, como a do cavalo e a do jumento, cruzarem. no entanto, seus descendentes, as mulas, não são férteis, sendo chamados de híbridos estéreis. embora essa definição de espécie seja satisfatória, é fácil perceber que nem sempre o critério de compatibilidade sexual pode ser empregado. no caso de fósseis de espécies extintas, ou de certos microrganismos que se reprodu- zem assexuadamente, esse conceito não se aplica. A nomenclAturA biológicA em seu sistema de classificação, Lineu usou a chamada nomenclatura binomial ou binária, que designa a espécie com duas palavras latinas, escritas em itálico ou gri- fadas separadamente. a primeira palavra indica o gênero e deve ter a inicial maiúscula; a segunda tem inicial minúscula e só indica a espécie quando precedida da palavra indicativa do gênero. assim, por exemplo, Homo sapiens é o nome científico da espécie humana; Coffea arabica é o nome científico da espécie café, e este último, “café”, é o nome comum ou vulgar. se após o nome da espécie aparecer uma terceira palavra, também com inicial minúscula e em itálico ou grifada, está sendo indicada a subespé- cie, grupo inferior à espécie. Passer domesticus domesticus Lineu, 1758, por exemplo, indica o gênero, a espécie e a subespécie do passarinho cujo nome vulgar é pardal, além do nome do pesquisador que a descreveu e a da data da publicação do trabalho. se em um texto o nome científico da espécie já foi mencionado, ao ser citado novamente poderá ser abreviado, como em P. domesticus. se usarmos a designação Passer sp., apenas o gênero está determinado, e não a espécie. observe que nenhum dos nomes científicos recebe acentuação. no exemplo do pardal foi citado o termo subespécie; da mesma forma podem ser empregados os prefixos sub e super para os demais grupos, como em subfilo, super- classe e superordem. os táxons família e subfamília recebem, respectivamente, os sufixos -idae e -inae. exemplos de famílias de carnívoros: canidae, felidae, ursidae. A sistemáticA filogenéticA os seres vivos mostram uma grande diversidade, o que levou o ser humano a estabe- lecer sistemas de classificação para ordená-los em grupos de acordo com suas seme- lhanças. nos sistemas mais antigos, os critérios adotados para essa ordenação eram geralmente estruturais ou anatômicos. com os estudos sobreevolução e genética, as classificações começaram a incorporar as possíveis relações evolutivas entre os grupos. a sistemática é, então, o ramo da Biologia que se dedica ao estudo da história evolu- tiva dos grupos, das suas relações de origem e descendência. na sistemática filogené- tica ou cladística (do grego kládos = ramo) são considerados caracteres morfológicos, paleontológicos, moleculares, comportamentais, fisiológicos, genéticos para a formação dos grupos. em resumo, a filogenética parte do pressuposto de que novos grupos (que não compreendem apenas as espécies, mas também outras categorias taxonômicas, como filos e classes) surgem de modificações evolutivas de um grupo ancestral. Mula (cerca de 1,6 m de altura), híbrido estéril resultante do cruzamento entre uma égua (Equus caballus) e um jumento (Equus asinus). m a u ri ci o s im o n et ti /P u Ls a r im a G en s UNIDADE 1 � CLASSIFICAÇÃO BIOLÓGICA E O ESTUDO DE ALGUNS REINOS14414 01_UN1_CAP01_BIOLOGIA2-CSC_009a020.indd 14 4/29/16 3:54 PM musgos Pteridófitas Gimnospermas Flores e frutos sementes Tecido vascular embrião angiospermas 3o nó 2o nó 1o nó os cladogramas as relações filogenéticas (ou hipóteses de parentesco) são representadas graficamente por cladogramas. na cons- trução de um cladograma, um caráter é condição primitiva, que ocorre em um determinado ancestral. a condição deri- vada é a que se origina da primitiva. os cladogramas mos- tram a origem evolutiva dos grupos por dicotomias (bifurca- ções). isso indica a separação física e reprodutiva de um grupo ancestral em dois grupos derivados, em dado momen- to do processo evolutivo, fenômeno chamado de cladogê- nese. veja na ilustração que a partir de um nó, surgem ramos (os clados) distintos. o nó representa a cladogênese, a separação em dois ramos a partir de um ancestral. este é o ancestral comum a todos os grupos acima dele. no exemplo, há uma representação da relação de parentesco das plantas. a partir de um ancestral comum hipotético (1º nó) desenvolveram-se ramos distintos. a presença de embrião é uma característica compartilhada pelos seres representados no diagrama. o 1º nó marca a separação entre as plantas avasculares (briófitas) e as plantas vasculares. o grupo das plantas vasculares compartilha entre si a presença de “tecido vascular exten- so”. o 2º nó marca a separação entre as plantas vasculares sem sementes (pteridófitas) e as plantas “com sementes” (gimnospermas e angiospermas). e o 3º nó marca a sepa- ração entre as plantas com sementes (gimnospermas) e as que têm, além de sementes, flores e frutos (angiospermas). É comum, em um cladograma, a indicação das características primitivas e derivadas existentes naquela filogenia em particular. entendem-se por características primiti- vas aquelas que já estavam presentes no ancestral; e por características derivadas, as novidades evolutivas apresentadas em relação ao seu ancestral. repare que todos os organismos que partem de um mesmo nó, ao longo de determinado ramo, apresen- tarão característica(s) derivada(s) em comum. Finalizando, perceba que dois clados (grupos) que partem de um mesmo nó são mais semelhantes entre si, isto é, compartilham mais homologias do que grupos que estão separados por mais de um nó. Por exemplo, há mais semelhanças entre angios- permas e gimnospermas do que entre qualquer uma delas e um musgo. domínios e reinos na época de Lineu eram considerados apenas dois reinos para os seres vivos: o vegetal e o animal. devemos nos lembrar que Lineu baseou sua classificação apenas nas estruturas visíveis dos organismos vivos. em 1866, o zoólogo alemão e. Haeckel criou o termo “protista” para designar um conjunto de organismos simples, eucarion- tes, que não eram caracterizados nem como vegetais nem como animais. mais tarde, o novo reino Protista incluiria as bactérias, os protozoários, os fungos e as algas. Modelo de cladograma representando a relação de parentesco entre alguns grupos de plantas. (Elementos fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) Nas fotografias acima, vemos diferentes formas de bactérias, organismos do Reino Monera, vistas ao microscópio eletrônico de varredura. Da esquerda para direita: bacilos (Bacillus cereus), estafilococos (Staphylococcus aureus) e vibrões (Vibrio cholerae). (Cores artificiais.) PH o to ta Ke r m /d r. G a ry d . G a u G Le r/ d io m ed ia d av id m cc a rt H y/ sP L/ La ti n st o cK d en n is K u n Ke L m ic ro sc o Py , i n c. /P H o to ta Ke /e a sy Pi X Aumento de 4 210 vezes. Aumento de 3 600 vezes. Aumento de 3 844 vezes. Lu is m o u ra A classificação dos seres vivos � CAPÍTULO 1 15 01_UN1_CAP01_BIOLOGIA2-CSC_009a020.indd 15 4/29/16 3:54 PM Em 1956, o biólogo estadunidense H. F. Copeland propôs a criação de um novo reino, Monera, que abrigaria os seres de natureza celular mais simples — as bactérias, que diferem de todos os demais por serem organismos procariontes. Estabelecia-se, dessa forma, um sistema de quatro reinos: Monera, Protista, Vegetal e Animal. Logo depois, em 1969, o zoólogo estadunidense R. Whittaker sugeriu que os fungos fos- sem elevados à categoria de um novo reino. Surgia, assim, o sistema de cinco reinos (Monera, Protista, Fungi, Animalia e Plantae). O progresso no conhecimento científico levou, no final do século passado, a uma nova reformulação na classificação dos seres vivos. Além da assimilação da noção de descendência com modificação — que explica o surgimento e a diversificação de novas espécies —, temos importantes avanços, particularmente no que diz respeito à composição genética das diferentes espécies, na Biologia do Desenvolvimento e na Bioquímica, trazendo maior embasamento para os estudos de filogenia. O reconhecimento de que os organismos procariontes são profundamente dife- rentes dos demais, em termos genéticos, levou alguns cientistas a propor novas classificações. Uma delas, sugerida por L. Margulis e K. V. Schwartz em 1982, indica a existência de dois super-reinos: Prokarya, que abriga os seres procariontes (Reino Monera), e Eukarya, no qual estão reunidos os demais organismos celulares (Reinos Protoctista, Fungi, Animalia e Plantae). O Reino Protista, que reunia apenas seres unicelulares (as algas unicelulares e protozoários), foi substituído pelo Reino Protoctista. Este reúne organismos eucariontes, autótrofos e heterótrofos, uni e pluri- celulares, o que inclui algas macroscópicas anteriormente classificadas no reino das plantas. Essa é a classificação que adotaremos aqui. Em 1977, C. Woese propôs que a diversidade de seres vivos poderia ser distribuída em três grandes grupos, ou domínios. São eles: Bacteria, Archaea e Eukarya. O domí- nio Bacteria (eubactérias) inclui diversos grupos de microrganismos procariontes (células sem membrana nuclear). O domínio Archeae (arqueas ou arqueobactérias) inclui espécies de microrganismos procariontes adaptados a ambientes extremos, de condições aparentemente incompatíveis com a vida. São exemplos as que suportam altas temperaturas de fontes termais (termófilas), alta acidez (acidófilas), alta salini- dade (halófilas) e as metanogênicas, que liberam o gás metano (CH 4 ). Estas últimas ocorrem inclusive no intestino de ruminantes, como as vacas. As arqueas são mais próximas evolutivamente dos eucariontes do que das bactérias. O domínio Eukarya, por sua vez, incluiria todos os organismos eucariontes (células com membrana nucle- ar), separados entre si em diversos grupos, entre eles fungos, plantas, animais e grupos independentes que são usualmente reunidos como protistas. A proposta dos reinos No super-reino Prokarya há apenas o Reino Monera, que inclui: a) bactérias e cianobactérias, antes classificadas como algas azuis (cianofíceas); b) arqueas. O super-reino Eukarya agrupa os reinos Protoctista, Fungi, Animalia e Plantae. Os seres do ReinoProtoctista são os que têm a organização mais simples entre os eucariontes e apresentam, com frequência, flagelos6 para locomoção. Os represen- tantes desse reino são as algas pardas, as algas verdes, as algas vermelhas, as algas unicelulares (como as diatomáceas e os dinoflagelados autótrofos), os protozoários (como os ciliados, os flagelados e as amebas) e muitos filos bem diversificados. O Reino Fungi agrupa eucariontes, unicelulares ou pluricelulares, heterótrofos que se nutrem por absorção dos alimentos. Suas paredes celulares são de quitina, a mesma substância do exoesqueleto dos insetos, e não apresentam flagelos. A meio- se ocorre para a formação de gametas na reprodução sexuada de alguns grupos de fungos. São exemplos de representantes desse reino os lêvedos, os cogumelos, os bolores e as orelhas-de-pau. 6. Atualmente, alguns cientistas defendem o uso do termo “flagelo” para indicar a estrutura presente apenas nas células procarióticas, como as bactérias, por exemplo. Para todos os organismos com células eucarióticas tem sido proposto o termo undulipódios (anteriormente cílios e flagelos), que são organelas com estrutura de microtúbulos e que formam um longo cilindro. Um protozoário (Paramecium caudatum) que faz parte do Reino Protoctista. (Cores artificiais.) Aumento de 100 vezes. E R IC G R A V E /P H O TO TA K E /E A S Y P IX UNIDADE 1 ¥ CLASSIFICA‚ÌO BIOLîGICA E O ESTUDO DE ALGUNS REINOS161616 01_UN1_CAP01_BIOLOGIA2-CSC_009a020.indd 16 7/10/17 11:15 AM Cogumelos (3 cm de altura) são representantes do Reino Fungi. Os cavalos fazem parte do Reino Animalia.As plantas pertencem ao Reino Plantae. o Reino Plantae (ou Metaphyta) reúne eucariontes pluricelulares e autótrofos fotossintetizantes. suas células têm paredes de celulose, um polissacarídeo, e cloro- plastos com as clorofilas a e b. a meiose sempre ocorre na formação dos esporos (meiose espórica). alguns representantes desse reino são os musgos, as samam- baias, os pinheiros e as plantas com flores e frutos. o Reino Animalia (ou Metazoa) agrupa eucariontes heterótrofos que se nutrem por ingestão dos alimentos. a formação dos gametas envolve meiose (meiose gamé- tica). após a fecundação, o zigoto passa por mitoses sucessivas, atingindo o estágio de blástula, uma pequena massa de células indiferenciadas. Para simplificar o estudo, separaremos os animais em dois grupos, o dos vertebrados e o dos invertebrados. estes últimos distribuem-se em muitos filos. o que são os vírus? os vírus não entram na classificação dos reinos explicada anteriormente. são organismos acelulares, ou seja, sua estrutura não corresponde à de uma célula. Basicamente, os vírus são formados por um ácido nucleico (dna ou rna) envolto por uma cápsula proteica (capsídeo). não há, em seu interior, toda a “maquinaria” necessária para o desempenho de um metabolismo pleno. dessa forma, os vírus só podem se reproduzir usando os recursos de uma célula. dizemos, assim, que os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios; eles podem infectar células dos demais organismos, como bactérias, plantas e animais, por exemplo. Quando não estão infectando uma célula, os vírus são metabolicamente inertes, podendo até mesmo se cristalizar e permanecer nessa forma por um tempo indefinidamente longo. o material genético de um vírus pode ser o dna ou o rna. em ambos os casos, a molécula pode ser de fita simples ou dupla. a sequência de nucleotídeos dessa molé- cula tem informações necessárias para o estabelecimento de parte da estrutura de proteínas componentes do capsídeo e também das proteínas necessárias à reprodu- ção do vírus, como enzimas, por exemplo. o capsídeo dos vírus é formado por um número variável de subunidades protei- cas e apresenta formas muito diversificadas. Há vírus que são cilíndricos e alongados, como o vírus do mosaico do tabaco; outros são poliédricos; outros, ainda, de formas arredondadas. os vírus que infectam bactérias, conhecidos como bacteriófagos (ou simplesmente fagos), apresentam uma “cabeça” e uma “cauda” características. bacteriófago: um dnA-vírus os bacteriófagos são vírus parasitas de bactérias. o fago t2, por exemplo, que parasita a Escherichia coli (bactéria comum no intestino humano), tem uma região semelhante a uma “cabeça”, equivalente ao seu capsídeo, no interior da qual exis- te uma molécula de dna. da “cauda” saem fibras que permitem ao vírus ligar-se à parede da bactéria; é também a “cauda” que irá injetar o dna viral na bactéria. Esquema representando a estrutura de um bacteriófago (fago T2). (Cores fantasia.) tH in K s to c K /G e tt y im a G e s Fa B io c o Lo m B in i a Lm ir c a n d id o o s n i d e o Li v e ir a “cabeça” Dna cápsula “cauda” Fibras da “cauda” A classificação dos seres vivos � CAPÍTULO 1 17 01_UN1_CAP01_BIOLOGIA2-CSC_009a020.indd 17 4/29/16 3:54 PM ao se instalar em uma bactéria, o bacteriófago inicia um ciclo vital que pode seguir dois caminhos: um é o ciclo lítico, e o outro é o ciclo lisogênico. no primeiro, o vírus é ativo, multiplica-se, havendo a duplicação do dna viral e a síntese das proteínas do capsí- deo. vários exemplares de bacteriófagos são, assim, produzidos no interior da bactéria, que acaba sofrendo rompi- mento (lise) e soltando os vírus para o ambiente. o ciclo lítico corresponde a uma ação virulenta do microrganismo. no ciclo lisogênico, ao contrário, o vírus permanece dormente (ou temperado), sendo chamado profago ou provírus, uma vez que não se multiplica e não destrói a bactéria. no entanto, seu dna fica ligado ao dna do cro- mossomo bacteriano e ambos se duplicam a cada divisão da bactéria, podendo permanecer nessa situação por várias gerações. enquanto ligado ao cromossomo bacteriano, o dna entra no processo de produção de proteínas. sob cer- tas condições, no entanto, o provírus pode entrar no ciclo lítico, retornando, assim, à fase virulenta, com a destruição da bactéria e a liberação de novas cópias do vírus. Fotografia ao microscópio eletrônico de bacteriófagos T atacando uma bactéria Escherichia coli. Observe a molécula de DNA sendo injetada na célula bacteriana (fio azul abaixo dos fagos). (Cores artificiais.) Esquema representando os ciclos lítico e lisogênico de um bacteriófago. (Elementos fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) material genético injetado na bactéria Bacteriófago ey e o F sc ie n ce /s PL /L at in st o cK st ú d io c a Pa rr o Z • Dando nomes aos bois... e a todos os animais e plantas disponível em: <http://chc.cienciahoje.uol.com.br/dando-nomes-aos-bois-e-a-todos-os-animais-e-plantas/>. • A diversidade de formas de vida e a sua classificação disponível em: <http://naturlink.sapo.pt/natureza-e-ambiente/Fauna-e-Flora/content/a-diversidade-de-formas- de-vida-e-a-sua-classificacao?bl=1>. acessos em: fev. 2016. REcURSOS NA WEB Às vezes, um profago se solta do cromossomo bacteriano, iniciando um ciclo lítico. a bactéria se reproduz, copiando o profago e transmitindo-o às descendentes. Dna do profago o Dna do bacteriófago (profago) liga-se ao cromossomo bacteriano. o Dna viral se duplica. há produção de proteínas virais, que, reunidas ao Dna, constituem novos bacteriófagos. o bacteriófago injeta Dna na bactéria. cromossomo bacterianoa bactéria se rompe (lise), liberando novos vírus. Dna viral Ciclo lisogênico Ciclo lítico Dna ou ciclos de um vírus bAcTeriófAgo Aumento de 72 000 vezes. Bactéria UNIDADE 1 � CLASSIFICAÇÃO BIOLÓGICA E O ESTUDO DE ALGUNS REINOS18818 01_UN1_CAP01_BIOLOGIA2-CSC_009a020.indd 18 4/29/16 3:54 PM
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