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Resumo: Anemia Megaloblástica Anemias É um grupo de alterações caracterizadas por defeito de síntese de DNA - núcleo da célula (ciclo das pirimidinas, purinas e inibição de polimerase de DNA) e, em menor grau de RNA - citoplasma da célula, que originam assincronismo de maturação e de divisão celular, caracterizadas por células megaloblásticas. Sendo assim, o que ocorre é a maturação do citoplasma, porém ocorre um atraso na divisão do núcleo e a célula começa a crescer muito. A AM causa alterações tanto nos glóbulos vermelhos como em glóbulos brancos (plaquetas). Os precursores eritróides são maiores que o normal e apresentam grande maturidade de citoplasma (RNA) em relação ao do núcleo (DNA). À medida que a célula se diferencia há a condensação da cromatina, mais lentamente formando agregados escuros dando uma aparência fenestrada ao núcleo (núcleo em forma de carroça). Com o amadurecimento do citoplasma, adquire hemoglobina, o núcleo torna-se mais imaturo, caracterizando assincronismo núcleo-citoplasma. Classificação morfológica É baseada no volume corpuscular médio (VCM), sendo um parâmetro imediatamente disponível e de grande utilidade grande. Anamnese Hemograma Contagem de reticulócitos Impacto clínico Ocorre a redução na capacidade de transporte de O2 aos tecidos, basicamente todas as anemias apresentam isso (anemia Hb baixa menor transporte de oxigênio). Dessa forma, o paciente apresenta sintomas relacionados a anemia: astenia, palidez, tonturas, intolerância progressiva aos esforços, taquicardia aos esforços/repouso e insuficiência cardíaca. Isso vai depender muito da velocidade de instalação (capacidade de adaptação do organismo ao grau de anemia - lento). Sempre lembrar que a anemia vai apresentar mecanismos compensatórios (taquicardia, intolerância, insuficiência cardíaca - casos graves). Sempre analisar se o paciente apresenta hemólise (sinal clínico mais comum icterícia), isso é fundamental, para diferenciação entre anemia megaloblástica e hemolítica, pois a AH também vai apresentar VCM 100. Já que o que está aumentado na AH são os reticulócitos (células grandes) e como o VCM é uma média das células esse aumento dos reticulócitos vai puxar o VCM lá pra cima e isso pode ser confundido com a deficiência de B12. Fonte de vitamina B12 e ácido fólico Pessoas vegetarianas não têm fonte de vitamina B12 (exclusivamente animal), então vão apresentar deficiência de vitamina B12, sendo necessária a suplementação. A deficiência de ácido fólico ocorre de forma mais rápida, pois não há armazenamento (estoque dura pouco). Anemias Macrocíticas A maioria das macrocitose são leves (VCM 110 fL) e ocorrem sem explicações. Existem dois grupos principais relacionados ao VCM alto: · Megaloblásticas: anemia perniciosa (deficiência de folato/ deficiência de B12) · Não megaloblásticas: anemia hemolítica Entre as causa de macrocitose, temos: Definições de Anemia Megaloblástica É o termo usado ao ver blastos gigantes na MO de pacientes com “anemia perniciosa”. Núcleo de salame (cromatina) Megaloblastos: eritroblastos grandes com assincronia entre núcleo (imaturo) e citoplasma (maduro, com muita Hb). Anemia Megaloblástica Uma das coisas que diferenciam a deficiência de vitamina B12 da de ácido fólico são os sintomas neurológicos (parestesia, alteração da sensibilidade e marcha). Isso ocorre porque a vitamina B12 funciona como um cofator para transformar a homocisteína em metionina (neurotransmissor do cordão medular), que é um precursor da acetilcolina. Em relação ao exame físico é muito importante a análise da língua do paciente com a presença de língua careca (sem a presença de papilas). Dentro do hemograma é impossível diferenciar os dois tipos. Patogenia Causada por defeitos na síntese do ADN (ciclo das pirimidinas, purinas e inibição da polimerase). A destruição intramedular dos precursores eritróides (eritropoese ineficaz) é característica, ou seja, uma produção celular mal feita. Também ocorre hemólise extramedular: a meia vida eritrocitária é reduzida em até 50%. Alterações nas demais séries também ocorrem. A anemia se instala pela falta de vitamina B 12 ou ácido fólico não há síntese de timina, os cromossomos não se duplicam e portanto não há divisão celular. À medida que as células vermelhas vão sendo retiradas da circulação por ultrapassarem o tempo de vida média, não ocorre reposição de hemácias. A anemia se torna proporcional ao déficit de vitamina B12 e ácido fólico. Deficiência de Vitamina B12 A maioria das causas relacionadas a deficiência de B12 é um defeito na absorção, ou seja, a gastrite atrófica que está muito relacionada a doenças autoimunes (artrite atrófica, hipotireoidismo, artrite reumatóide e vitiligo). É importante lembrar que a B12 vai ser absorvida no íleo. Entre as causas temos: · Déficit na dieta (veganos, crianças/idosos) · Fator intrínseco (FI) disfuncional: células parietais produzem o fator intrínseco · Cirurgia bariátrica: isolamento da região onde estão as células parietais · Ingestão de cáusticos: necessidade de ácido no estômago para que a B12 seja separada e ligada no fator intrínseco (antiácido/omeprazol) · Doenças/Cirurgias do íleo/intestino: a ligação entre B12 e fator intrínseco vão percorrer todo o intestino até o íleo, onde se liga a cobalamina e assim vai para o sistema sanguíneo. A B12 é uma vitamina hidrossolúvel presente naturalmente nas carnes, principalmente no fígado. Há várias formas de B12, sendo que todas recebem o nome geral de cobalaminas. Formas ativas no metabolismo humano: a 5- desoxiadenosilcobalamina e a Metilcobalamina. B12 é necessária para a síntese proteica (ADN), hematopoese e função neurológica. Ela funciona como cofator para a metionina sintase e para a L-metilmalonil-CoA mutase. A primeira catalisa a conversão de homocisteína a metionina, para formar a S-adenosilmetionina, que é fundamental para a metilação de >100 substratos diferentes, inclusive ADN, ARN, proteínas, gorduras e hormônios. Já a L-metilmalonil-CoA mutase converte L'Metilmalonil-CoA a succinil-CoA na degradação do propionato, reação essencial para o metabolismo de gorduras e proteínas, inclusive síntese de Hb. B12, ligada à proteína alimentar, é liberada no estômago pela ação do HCl e de proteases. A B12 livre se combina com o fator intrínseco (FI) secretado pelas células parietais gástricas. O complexo B12-FI é absorvido no íleo distal por receptores específicos. Deficiência de Ácido Fólico (B9) · Falta na dieta (infância, idosos; etilismo) · Má absorção congênita/adquirida · Cirurgias intestinais grandes, ressecção jejunal · Maior consumo (infância, gravidez, hemólise, dermatopatias esfoliativas etc.) · Induzida por Drogas/Toxinas: MTX, Cy, Ara-C, AZT, TMP, Óx. Nitroso etc. O ácido fólico (B9) existe em várias formas e tem um metabolismo “semelhante” ao da B12. As reações mais importantes dependentes de B9, necessárias para a síntese e divisão celulares. Apresentação clínica Clinicamente há sintomas/sinais de anemia: cansaço, fraqueza, fadiga, dispnéia aos esforços, palpitações, tontura; palidez cutânea mucosa, glossite atrófica, fâneros frágeis etc. Atentar para neuropatia, queixas GI (possível etiologia) e sinais de hemólise (icterícia leve). Alterações neuropsiquiátricas ou neuropatia periférica (parestesias acrais): pensar em “B12”. No hemograma: · Anemia macrocítica (VCM >110fL) · Anisopoiquilocitose (RDW aumentado); macroovalócitos; pontilhado basofílico, corpúsculos de Howell-Jolly e anéis de Cabot · Trombocitopenia · Microplaquetas; PDW aumentado · Leucopenia · Neutrófilos hipersegmentados (precocemente) O exame do sangue periférico (SP) é “divisor de águas”, com achados característicos da “megaloblastose”: · Macroovalócitos · Eritrócitos grandes e ovais · VCM entre 110-130fL (até 160) · Neutrófilos hipersegmentados · >5 lobos nucleares (>5% dos neutrófilos) · Sinal + específico/característico (basta “1”) Outros exames: · Reticulocitopenia · Aumento sérico discreto da BI: eritropoese ineficaz · DHL sérica muito elevada (B12): lise celular· Ferro e Ferritina sérica elevados · Ferropenia coexistente pode mascarar a macrocitose/ovalocitose, mas não a segmentação nuclear dos neutrófilos Exames específicos · Dosagem de B12 e Folato (sérico/eritrocitário) · B12 sérica “estável” · Folato (B9) sérico + lábil; preferir eritrocitário · Outros exames: · Metilmalonato sérico ou urinário (B12) · Homocisteína sérica (B9) · Estudos de absorção (Teste de Schilling etc.) Diagnóstico/ Tratamento Confirme o diagnóstico: · B12 sérica: · < 350 pg/mL → Carência Leve · 150-350 pg/mL → Carência Moderada · <150 pg/mL → Carência Grave · Trate: · Vitamina B12: 1 mg/dia, IM ou VO (início) · Transfundir hemácias SN · Acompanhe: · Reticulócitos em 7-10 dias · Hemograma em 15, 30 e 60 dias · Retorno a cada 3-6 meses · Duração do tratamento depende da causa · Espace/Reduza doses conforme resposta · Encaminhe para especialistas adequados (hematol., gastroenterol., neurologista etc.) · Na dúvida, “faça” o exame da medula óssea · Peça socorro se preciso (Hematologista) · Nos casos graves, inicie o tratamento empiricamente com ambas as vitaminas (não espere pelos exames confirmatórios) · Transfundir hemácias se necessário (sempre tente colher os exames antes)
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