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LEI DE COTAS mini-guia 1. APRESENTAÇÃO/ INTRODUÇÃO...............................................................02 2. CONHECENDO ALGUNS CONCEITOS.......................................................03 3. AÇÕES AFIRMATIVAS: LEI DE COTAS NO BRASIL.................................06 4. COTAS QUE NÃO ESTÃO PREVISTAS NA LEI FEDERAL 12.711............12 5. COMO AS COTAS SÃO FISCALIZADAS?..................................................14 6. RESULTADO DA IMPLEMENTAÇÃO DA LEI DE COTAS..........................18 7. APENAS A LEI DE COTAS É SUFICIENTE?...............................................21 8. REFERÊNCIAS..............................................................................................25 SUMÁRIO Conheça a LEI DE COTAS e lute pelo o que é justo! 01 Oi oi gente!! Somos um grupo de estudantes de medicina da UFMA Campus Pinheiro que participa do Comitê Local da IFMSA Brazil UFMA Pinheiro, o qual é filiado á IFMSA Brazil, uma Federação que possui diversas escolas médicas filiadas pelo Brasil todo. O objetivo do nosso grupo é abordar questões sociais diversas e intervir, de alguma maneira, sobre as questões discutidas. Dessa forma, elaboramos este material como forma de intervenção às discussões feitas sobre o sistema de cotas e a declaração de ações afirmativas para o ingresso em universidades públicas no Brasil. Olá, esse mini-guia foi criado pensando em você, estudante do ensino médio, vestibulando, universitário , ou apenas um cidadão curioso sobre o que são as cotas. O propósito deste manual é atingir, principalmente, você que quer ingressar em uma universidade pública e não tem ideia de por onde começar quando as cotas são o assunto. Nosso objetivo é te situar sobre como elas funcionam, quem tem direito de usar e porquê elas são importantes para a construção de uma sociedade mais justa e uma universidade mais diversificada, acessível e inclusiva. Esperamos que você aproveite muito bem as informações aqui contidas e que compartilhe com os amigos. Objetivo do mini-guia "LEI DE COTAS". O que é o grupo de discussões IFMSA Brazil UFMA Pinheiro? 1. APRESENTAÇÃO/ INTRODUÇÃO IFMSA Brazil UFMA Pinheiro 02 MERITOCRACIA A meritocracia significa conseguir seus objetivos a partir dos seus próprios esforços, de forma natural, sem ajuda de terceiros. Se baseia na premissa de que tudo é possível se houver esforço pessoal. No entanto, na realidade brasileira esse conceito foi construido socialmente pela classe dominante no decorrer da história e não se aplica, por ignorar as desigualdades sociais e econômicas, uma vez que nem todos partem da mesma realidade ou saem do mesmo ponto de partida. MINORIAS Minorias são grupos sociais que estão em menor quantidade em representação e poder na sociedade. Muitas vezes estão também em posição de vulnerabilidade, e sofrem com mais frequência situações de exclusão social e discriminação nas oportunidades. REPRESENTATIVIDADE “Uma pessoa representativa é como se fosse a voz e a imagem de um segmento, setor ou grupo social.” 2. CONHECENDO ALGUNS CONCEITOS Agora vamos apresentar alguns conceitos que te ajudarão a compreender mais sobre a importância desse sistema de cotas e seu embasamento. “A representatividade é construção de identidade!” – Larissa Sá 03 COTAS RACIAIS X SOCIAIS Cotas são formas de ações afirmativas que atuam na reparação de alguma desigualdade histórica ou social de algumas populações. No caso das cotas raciais, estas são direcionadas para minorias historicamente / tradicionalmente reprimidas: pretos, pardos e indígenas. Por acontecimentos como a escravidão e a colonização. JAs cotas sociais também são políticas públicas, no sentido de reparar desigualdades e promover equidade no acesso à universidade, elas podem ser destinadas para pessoas de baixa renda, deficientes, estudantes de escola pública e transexuais, por exemplo. Elas buscam principalmente a inclusão social dessas pessoas e quebrar/destruir barreiras que impedem a equidade de oportunidades. AUTODECLARAÇÃO X HETEROIDENTIFICAÇÃO Autodeclaração é o ato de declarar a si próprio algo. Em uma autodeclaração racial, você pode se declarar como preto, pardo ou indígena. No outro lado, a heteroidentificação é um procedimento, realizado por uma comissão, para efetivar a veracidade da autodeclaração. A verificação da comissão de heteroidentificação é, na maioria das vezes, baseada no fenotípico das pessoas e geralmente é um processo NÃO linear. É considerada muito importante para diminuir a incidência de fraude no sistema de cotas. As cotas buscam trazer mais equidade social! 04 IGUALDADE FORMAL X REAL A igualdade formal é aquela baseada na lei, ou seja, na Constituição Federal de 1988. Ela trata e vê todos os indivíduos como iguais do ponto de vista jurídico, sem nenhum tipo de distinção. Já a igualdade real, é aquela que é vivenciada na prática. Ela se aproxima mais das pessoas em sua individualidade, com suas diferenças. Ficando mais próxima da isonomia e do princípio de “tratar desigualmente os desiguais”. RACISMO INSTITUCIONAL O que chamamos de racismo institucional é aquele que, de forma direta ou indireta, é praticado pelas instituições e organizações, perpetuando o racismo na desigualdade de oportunidades, atitudes estereotipadas e preconceituosas. 05 3. AÇÕES AFIRMATIVAS: LEI DE COTAS NO BRASIL São políticas públicas (e privadas) que visam a garantia de direitos historicamente negados aos grupos minoritários, como negros, mulheres e pessoas com deficiência. o que são ações afirmativas? Após o Governo lançar o 2º Programa Nacional de Direitos Humanos, emitiu um decreto executivo, em 2002, criando o Programa Nacional de Ação Afirmativa. LINHA DO TEMPO DA LEGISLAÇÃO DO SISTEMA DE COTAS 2002 2003 2004-2005 2012 2016 2017 Decreto nº 4.228, em 13/05/2002, que criou um Programa Nacional de Ações Afirmativas. Medida Provisória nº 111, convertida na Lei nº 10.678 de 23/05/2003 que criou o SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial). ProUni foi criado pelo Governo Federal em 2004 e institucionalizado pela Lei nº 11.096, em 13/01/2005. . LEI DAS COTAS: Nº 12.711, de 29/08/2012. . Decreto nº 7.824, de 11/10/2012. . Portaria Normativa MEC nº 18, de 11/10/2012. .Portaria Normativa MEC nº 21, de 5/11/2012. Lei Nº 13.409, de 28/12/2016: altera a Lei nº 12.711, de 29/08/2012, sobre a reserva de vagas para pessoas com deficiência nos cursos técnico de nível médio e superior das instituições federais de ensino. Portaria Normativa Nº 9, de 05/05/2017. 06 Minorias englobadas Descrição São minorias étnicas, discriminadas por conta de sua cor de pele e cultura, amplamente afetadas durante o período de escravidão e colonização. Estudantes que cursaram integralmente o ensino médio em escolas públicas, estudantes com renda familiar abaixo de 1,5 salário mínimo e pessoas com deficiência (PcD). Criado a fim de amparar estudantes que foram prejudicados devido à falta de acesso a uma educação de qualidade durante o ensino médio cursado em escolas públicas. DIVISÃO BÁSICA DO SISTEMA DE COTAS MAS, ENTÃO O QUE DIZ A LEI DE COTAS? Ela dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio. COTAS RACIAIS COTAS SOCIAIS Pretos, Pardos e Indígenas. 07 “Eu defendo as cotas, pois elas são extremamente essenciais para garantir equidade para aqueles que não tiveram as mesmas oportunidades ou ferramentas de estudo.” – Stefhany Beatriz 08 Negros e pardos representam 53,6% de toda a população brasileira e apesar disso: Apenas 12% da população preta e 13% da parda têm ensino superior, contrastando com 31% da população branca. Visto isso, a desigualdade de escolaridade é refletida na renda, com o salário da população preta e parda equivalendo a 59,2% ao da população branca. No prazo de dez anos, a contar da data de publicação desta Lei, será promovida a revisão doprograma especial para o acesso às instituições de educação superior de estudantes pretos, pardos e indígenas e de pessoas com deficiência, bem como daqueles que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas. (BRASIL, 2012, n. p.) "As condições não são as mesmas, não existe meritocracia na educação brasileira." Andressa Bianca ALÉM DOS TÓPICOS JÁ DISCUTIDOS, O QUE PREVIA A LEI PUBLICADA EM 2012? IMPORTÂNCIA DA IMPLEMENTAÇÃO DA LEI DE COTAS 09 50% Vagas Estudantes que cursaram integralmente ensino médio ou fundamental em escola pública, conforme o caso. Entenda como funciona a distribuição de vagas 100% Vagas para cursos de graduação ou ensino técnico 50% vagas Ampla Concorrência 50% para estudantes com renda familiar bruta = ou < 1,5 salários mínimos 50% para estudantes com renda familiar bruta > 1,5 salários mínimos Percentual mínimo igual à da soma de autodeclarados pretos, pardos, indígenas e de pessoas com deficiência Desde a sua implementação, a lei de cotas já estava condicionada a uma avaliação e revisão programada, prevista para quando completasse dez anos. 10 Do total de vagas, metade são para estudantes que cursaram o ensino médio (no caso de curso superior) ou fundamental (no caso de curso técnico) integralmente em escolas públicas; Essas vagas serão distribuídas em duas categorias: vagas para estudantes com renda familiar bruta inferior ou igual a 1,5 salários mínimos e a outra metade dessas vagas para estudantes com renda familiar bruta superior a 1,5 salários mínimos. Para cada faixa de renda, entre as vagas para candidatos cotistas anteriormente reservadas, são separadas vagas para autodeclarados pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência (PcD), proporcionalmente ao censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do estado da instituição de ensino a que vai concorrer. De forma mais clara... COTAS SOCIAIS COTAS RACIAIS E PARA PcD 100 TOTAL DE VAGAS NO CURSO 50 ALUNOS DE ESCOLA PÚBLICA 50 AMPLA CONCORRÊNCIA 25 RENDA < OU IGUAL A 1,5 SALÁRIO PER CAPITA INDEPENDENTEMENTE DA RENDA 25 Para ilustrar essa distribuição de vagas da Lei de Cotas SEM DEFICIÊNCIA PRETOS, PARDOS E INDÍGENAS DEMAIS VAGAS COM DEFICIÊNCIA 13 1 SEM DEFICIÊNCIA COM DEFICIÊNCIA 110 SEM DEFICIÊNCIA PRETOS, PARDOS E INDÍGENAS DEMAIS VAGAS COM DEFICIÊNCIA 13 1 SEM DEFICIÊNCIA COM DEFICIÊNCIA 110 11 A Lei nº 12.711/2012 estabelece que universidades federais e institutos federais reservem pelo menos metade de suas vagas destinadas a candidatos que cursaram o ensino médio em escola pública, os quais são distribuídos nas modalidades já citadas. Mas vale ressaltar que as instituições podem aumentar este número e as modalidades de cotas oferecidas. Além disso, as instituições de ensino superior estaduais, por não serem de cunho federal, não se enquadram no que é citado na Lei, logo, cabe a cada uma das instituições o oferecimento independente de vagas destinadas às cotas, o que permite que outras modalidades sejam estabelecidas. Dessa forma, algumas instituições acrescentam outras modalidades na constituição do seu sistema de cotas, oferecendo, por exemplo, vagas exclusivamente destinadas a: CIGANOS QUILOMBOLAS PORTADORES DE TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 4. COTAS QUE NÃO ESTÃO PREVISTAS EM LEI TRANSEXUAIS E TRAVESTIS 12 Modalidades adicionais como essa fazem com que aumente a representatividade desses grupos que são marginalizados pela sociedade e não têm muitos de seus direitos garantidos. Ademais, o motivo de enxergar que esses grupos precisam adentrar em universidades é, ainda que ínfima, uma reparação do destino cruel que a sociedade os impõe. Por exemplo, o fato das pessoas transexuais e travestis sofrerem homofobia ao extremo a ponto de serem forçadas a enveredar pelos caminhos da prostituição (fato que contribui para estatísticas como 90% da população transexual e travesti ter a prostituição como fonte de renda). Outro exemplo é encontrado nas pessoas que residem em comunidades remanescentes de Quilombos. Essas comunidades, historicamente, são marcadas por tentativas de fugir do regime escravista, o que fez com que morassem em locais muito afastado dos centros urbanos e com que sofram até hoje com isso (não tendo garantia de direitos como educação e saúde em plenitude). Além da UNEB, a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e a Fundação Universidade Federal do ABC também oferecem vagas destinadas a pessoas transexuais e travestis. A UNEB - Universidade do Estado da Bahia, a partir do ano de 2019, passou a oferecer um acréscimo de 5% das vagas já existentes para atender transexuais e travestis, ciganos, quilombolas e portadores de transtorno do espectro autista, de forma que cada uma dessas modalidades individualmente passou a receber vagas que, por obrigatoriedade, só podem ser ocupadas por essas pessoas. 13 É feito um cálculo a partir da renda per capita do candidato, a qual, para que seja aprovada, deve ser inferior a um salário mínimo e meio por pessoa. As divisões das classes são feitas da seguinte forma: autônomos, profissionais liberais, assalariados, agricultores, inscritos no cadastro único, aposentados e pensionistas e pessoas que vivem de rendimento de aluguel. Em alguns casos, é pedido o extrato bancário dos últimos 3 meses para conferência da veracidade de informações prestadas, em outros, apenas a apresentação da declaração de imposto de renda é suficiente. Fonte: Edital PROEN Nº 105/2020 UFMA Pinheiro COTA PCD As deficiências são classificadas em categorias: física, auditiva, visual, e intelectual. Para efeito de fiscalização, é necessário que o candidato esteja com o laudo médico atualizado, com emissão de no máximo 3 meses, atestando espécie, grau, causa e comprometimento das funções. Além da documentação, o candidato é submetido à uma perícia médica, que verifica se a deficiência está inclusa no estatuto da pessoa com deficiência, e se possível, repete os exames já feitos pelo médico. Em algumas universidades, também é feito uma análise biopsicossocial, para averiguar se o candidato está apto ou não a assumir a vaga. Nota: Transtornos como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno de discalculia e alergias em geral, não são caracterizados como deficiência. Fonte: Edital PROEN Nº 105/2020 UFMA Pinheiro COTA DE BAIXA RENDA 5. COMO AS COTAS SÃO FISCALIZADAS 14 NEGROS Como apresentado anteriormente, as cotas para negros envolvem tanto aqueles autodeclarados pretos, quanto os autodeclarados pardos. As fiscalizações de cota racial variam de acordo com a dita instituição, visto que a Lei das Cotas (Lei n°12.711 de 29 de Agosto de 2012) não dispõe sobre as formas de fiscalização. Nesse contexto, algumas faculdades e universidades se contentam apenas com a autodeclaração (documento anexo ao Edital que deve ser assinado pelo aluno), enquanto outras exigem, também, a realização de entrevista frente a uma Comissão de Heteroidentificação Racial. Em caso de matrículas indeferidas, o aluno pode entrar com pedido de recurso, sendo avaliado por uma segunda comissão, diferente da primeira. Além disso, podemos encontrar exemplos de universidades que instituíram Comissões de Validação da Declaração Étnico-Racial, para averiguar casos antigos de possível fraude. Tais Comissões citadas acima se apresentam como órgão de fiscalização das cotas raciais e buscam, em geral, privilegiar aspectos fenotípicos (conjunto de características físicas do indivíduo, predominantemente a cor da pele, a textura do cabelo e aspectos faciais). Fontes: Lei n° 12.711 de 29 de Agosto de 2012 e Edital PROEN n° 105/2020 UFMA Pinheiro 15 Considera-se Escola Pública qualquer entidade criada ou incorporada, mantida e administrada pelo Poder Público (Lei n° 9.394 de Dezembro de 1996, Art 19°). Sendo assim, para comprovação de pertencimento à cota, exige-se original e cópia do Histórico Escolar de todas as séries do Ensino Médio (o qual deve ter sido concluído integralmente em instituiçõespúblicas) e uma Declaração do aluno afirmando não ter cursado nenhuma série do Ensino Médio na rede privada (geralmente apresentada entre os anexos dos editas). ESCOLA PÚBLICA Nota: algumas instituições exigem mais do que apenas o Ensino Médio prestado em escola pública, se estendendo até o Ensino Fundamental. Fontes: Lei n° 9.394 de Dezembro de 1996 e Edital PROEN n°105/2020 UFMA Pinheiro 16 O aluno pode ser submetido a uma Comissão, e dele pode ainda ser exigido o documento original de sua respectiva comunidade assinado por, pelo menos, duas lideranças, reconhecendo o pertencimento étnico-indígena, RANI (Registro Administrativo de Nascimento de Indígena) ou cadastro em instituição/associação indígena. Fontes: https://vestibular.mundoeducacao.uol.com.br/cotas/cotas-para-indios.htm , Lei n° 12.711 de 29 de Agosto de 2012 e Edital PROEN n° 105/2020 UFMA Pinheiro Algumas instituições separam cotas para indígenas e para negros, contudo isso não é obrigatório. Para se candidatar a essa cota, o aluno deve apresentar declaração assinada (presente entre os anexos do edital) informando sua autodeclaração. “Entrar na universidade por cota é motivo de orgulho para mim, pois me sinto representando meu povo indígena”– Karla Miranda 17 INDÍGENAS Esse é o relato do cientista político Derson Maia, que ingressou na Universidade de Brasília por meio do sistema de cotas raciais, em 2008. Antes da lei de cotas, algumas universidades adotaram o sistema de cotas raciais, destinando uma porcentagem de vagas para os alunos pretos e pardos. Contudo, essa oferta de vagas não abrangia todas as universidades e nem se tinha um controle para deixar o sistema de cotas mais uniforme. Em 2012, a lei de cotas trouxe o melhor estabelecimento de como deveriam ser ofertadas essas vagas e, por meio do Sisu, possibilitou a adesão de todas as universidades e institutos federais do Brasil. Consequentemente, o número de pessoas de baixa renda, pretos, pardos e indígenas ingressando em universidades aumentou, e antes o âmbito acadêmico que era quase que exclusivamente branco e classe média/alta passou a ser mais diversificado. Mesmo com cotas, você via pouquíssimos negros na universidade. Na minha turma de ciência política era eu e uma outra menina. Quando eu estava me formando, em 2014, eu comecei a notar que a universidade realmente estava ficando bem mais negra, com pessoas de outras classes sociais mais baixas, porque antes era muito difícil. O negro que eu convivia ao longo do curso era estrangeiro. 6. RESULTADO DA IMPLEMENTAÇÃO DA LEI DE COTAS 18 Um estudo publicado em 2019 sobre o perfil discente das universidades federais pós-lei de cotas, fazendo uma avaliação de 2012 a 2016, mostrou resultados positivos nos 4 primeiros anos de implementação da lei. 19 Sobre PcD, como a reserva de vagas foi mais recente (2018), é muito difícil encontrar números exatos sobre o percentual de mudança que a lei gerou e seus impactos. Além disso, tendo em vista a falta de acessibilidade, muitas vezes é insustentável para o aluno conseguir acompanhar o curso, o que acaba gerando evasão. Isso, consequentemente, diminui o número de PcD que estão atualmente no nível superior por meio da Lei de Cotas, se forem comparados com a quantidade de vagas ofertadas e matrículas realizadas. Apesar de tudo, é inquestionável a importância que foi a Lei de Cotas abranger pessoas com deficiência, pois resulta na inclusão e representatividade de quem enfrenta inúmeros obstáculos na sociedade diariamente. Para avaliar os resultados da lei em sua totalidade, que terá duração de 10 anos, se faz necessário um estudo profundo pelo Ministério da Educação. Até o momento, passados 8 anos da sua criação, percebe-se a escassez de pesquisas no que diz respeito aos resultados da implementação da lei de cotas. Mas uma coisa é unânime: essa lei possibilitou a maior inclusão de pessoas que antes pouco tinham oportunidades de adentrar em uma universidade, tornando-a menos elitizada e mais acessível. 20 Podemos perceber que a Política de Cotas, segundo os resultados divulgados pelo Portal do MEC, foi e continua sendo responsável por uma inclusão significativa da população negra, indígena e com deficiência nas instituições de ensino. Entretanto, essa política não deve ser abordada como a solução da marginalização social sofrida por essas minorias. É impossível, por exemplo, anular as consequências de 300 anos de escravidão ou 520 anos de etnocídio indígena, com apenas uma lei. A Política só será eficaz se houver um esforço por parte das instituições (professores, funcionários e alunos) em manter aquele aluno. 7. APENAS A LEI É SUFICIENTE? 21 O que é a violência simbólica, o racismo institucional e como esses conceitos ultrapassam os limites da inclusão e representatividade adquiridos com as ações afirmativas? A violência simbólica e o racismo institucional são dois conceitos interligados presentes dentro das instituições de ensino (escola e universidade) e em outros eixos da sociedade (como saúde), estando inteiramente ligados à concepção da sociedade. Ambos trazem consigo a definição de um dano não físico, mas sim moral e psicológico. Essa violência aparece como uma discriminação velada (encoberta), constante e segregadora, que cria nessas pessoas o sentimento de não pertencimento e é uma das principais causas desses estudantes abandonarem as instituições de ensino. Atitudes e falas racistas, por parte de funcionários, alunos e professores, torna o ambiente insuportável para o estudante negro/indígena. O fato de haverem falas que anulem essa violência, espalhando a falsa ideia de igualdade ou o mito da democracia racial, reforça ainda mais a invisibilidade social destes alunos. "Dentro da Universidade, como em outros ambientes, já presenciei e fui citado em comentários que distribuem a estupidez do racismo.” - Wilson Coelho 22 É importante lembrar que o combate ao racismo pode começar na linguagem. O debate constante dessas temáticas, evidenciando e criticando esse racismo e etnocentrismo velados no ambiente de ensino (e fora dele), pode ser a porta para que práticas antirracistas ganhem ainda mais força e o negro (e índio) ganhe e permaneça no espaço que conquistou com a política de ações afirmativas. Existem programas, bolsas e auxílios, que tem o objetivo de auxiliar os estudantes de baixa renda com os gastos referentes à permanência na faculdade, oferecendo valores que variam de acordo com o tipo de bolsa. Os auxílios podem ser ofertados tanto pelas faculdades, quanto pelo MEC. Fale, critique, debata, pergunte! E quanto às cotas de renda? O que é feito para manter o aluno em condição de vulnerabilidade econômica na Universidade? Acesse: https://portais.ufma.br/PortalProReitoria/proae s/paginas/pagina_estatica.jsf?id=451 para mais informações sobre os programas existentes na UFMA. 23 Pessoas com deficiência, ao entrarem em uma instituição pública de ensino, logo se deparam com um ambiente totalmente despreparado para recebê-las. Muitas universidades públicas ainda não contam com estratégias de acessibilidade, tais quais: rampas em todos os prédios, mural de avisos e documentos institucionais disponíveis em braile, funcionários fluentes em LIBRAS, entre outros. Os próprios professores são, geralmente, incapacitados para atender essa demanda, principalmente quando se trata de alunos autistas e outros espectros intelectuais. Às vezes, até o uso de slides e vídeos de forma desatenciosa pode dificultar o aprendizado de alunos com dificuldades visuais e auditivas leves. Toda essa inacessibilidade pode causar a evasão desses alunos cotistas. E como se dá a acessibilidade de estudantes com deficiência? Como é o ambiente acadêmico? “Falta empatia dos outros alunos e membros da Universidade, tal como adequada qualificação dos professores no ensino para estudantes deficientes.” - Stefhany Beatriz 24 “Afinal, o queé representatividade?” https://www.mensagenscomamor.com/afinal-o-que- e-representatividade. Acessado 5 de agosto de 2020. News, Campo Grande. “Instituições oferecem vagas para pessoas trans por meio do Sisu”. Campo Grande News, https://www.campograndenews.com.br/educacao-e- tecnologia/instituicoes-oferecem-vagas-para-pessoas-trans-por-meio-do-sisu. Acessado 8 de julho de 2020. “Entenda o sistema de cotas da Uneb para trans, ciganos e portadores de transtorno do espectro autista e deficiência”. G1, https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2018/07/27/entenda-o-sistema-de-cotas-da-uneb- para-trans-ciganos-e-portadores-de-transtorno-do-espectro-autista-e-deficiencia.ghtml. Acessado 8 de julho de 2020. Senkevics, Adriano Souza e Ursula Mattioli Mello. “O PERFIL DISCENTE DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS MUDOU PÓS-LEI DE COTAS?” Cadernos de Pesquisa, vol. 49, n. 172, junho de 2019, pp. 184–208. DOI.org (Crossref), doi: 10.1590 / 198053145980. Costa, Vanderlei Balbino da e Renata Magalhães Naves. “A Implementação da Lei de Cotas 13.409 / 2016 Para as Pessoas Com Deficiência Na Universidade.” Revista Ibero- Americana de Estudos em Educação, vol. 15, n. esp. 1, março de 2020, pp. 966– 82. DOI.org (Crossref), doi: 10.21723 / riaee.v15iesp.1.13511. “Cotas foram revolução silenciosa no Brasil, afirma especialista”. Agência Brasil, 27 de maio de 2018, https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2018-05/cotas-foram- revolucao-silenciosa-no-brasil-afirma-especialista. “Cotas para índios – cotas para indígenas no vestibular”. Super Vestibular, https://vestibular.mundoeducacao.uol.com.br/cotas/cotas-para-indios.htm. Acessado 5 de agosto de 2020. LEI Nº 12.711 DE 29 DE AGOSTO DE 2012 http://portal.mec.gov.br/cotas/docs/lei_12711_29_08_2012.pdf. Acessado 5 de agosto de 2020. REFERÊNCIAS 25 Edital No 105/2020 - PROEN. https://portais.ufma.br/PortalUfma/paginas/editais/edital.jsf?id=15041. Acessado 5 de agosto de 2020. SILVA, Tarcia R., DIAS, Adelaide A. O RACISMO SOB A FORMA DE VIOLÊNCIA SILENCIOSA E AS CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA INSTITUCIONAL NO SEU ENFRENTAMENTO. Revista Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v.21, n.1, p.72-92, jan./jun.2013. Barboza, Gabriela C. et al. RACISMO E NEGAÇÃO DO CORPO NEGRO: VIOLÊNCIA SIMBÓLICA E O AMBIENTE ESCOLAR. Cadernos da Pedagogia. São Carlos, Ano 11 v. 11 n. 22 jan-jun 2018. SILVA. Marcos Antonio B. Racismo institucional: pontos para reflexão. Laplage em Revista (Sorocaba), vol.3, n.1, jan.-abr. 2017, p.127-136. “Sistema de cotas no Brasil: deu certo?” Politize!, 15 de abril de 2018, https://www.politize.com.br/sistema-de-cotas-no-brasil/. http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/212-educacao-superior-1690610854/30301-em- tres-anos-lei-de-cotas-tem-metas-atingidas-antes-do-prazo. Acessado 5 de agosto de 2020. “Emprego formal ainda é exceção entre pessoas trans”. Folha de S.Paulo, 29 de janeiro de 2020, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/01/emprego-formal-ainda-e- excecao-entre-pessoas-trans.shtml. REFERÊNCIAS 26 "Um aluno cotista tem tanto direito a frequentar uma universidade pública quanto qualquer outro e deve levantar a cabeça e sentir orgulho justamente por causa disso, por conta do direito conquistado" – Andressa Bianca
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