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M A Y 1 2 , 2 0 2 0 | 1 - 5 P M D H A M A Z A U D I T O R I U M PROCESSO PENAL PARA A PCDF Disposições Preliminares do CPP elaboradas pelo Professor e Delegado Rilmo Braga E - B O O K E X C L U S I V O E C O M P L E T O ! Todos os direitos reservados. Aprovado em 9 concursos públicos! INTRODUÇÃO Antes de adentrar no estudo do direito processual penal, à guisa de in- trodução, é importante destacar a diferença entre direito penal e direito pro- cessual penal. O direito penal pode ser dividido em direito penal objetivo e di- reito penal subjetivo. O direito penal objetivo são as normas penais, tais como o código penal, estatuto do desarmamento, lei de drogas, lei das contravenções penais e etc. Ou seja, é o conjunto de normas penais. Por outro lado, temos o direito penal subjetivo, que se materializa no direito de punir, que em regra, é monopoliza- do pelo Estado. De forma sintética, o direito penal é responsável por definir quais condu- tas serão consideradas infrações penais. Por exemplo, o crime de estupro está definido no código penal, o tráfico de drogas está definido em uma lei penal material (Lei nº 11.343/2006). Já o direito processual penal mostra como e- xercer o direito penal subjetivo, ou seja: Como prender? Como investigar? ADENTRAMENTO TÁTICO: O MONOPÓLIO DO DIREITO DE PUNIR DO ESTADO ADMITE UMA EXCEÇÃO, QUE ESTÁ PREVISTA NO ESTATUTO DO ÍNDIO (LEI Nº 6.001/73). NA HI- PÓTESE DE UM ÍNDIO PRATICAR UMA INFRAÇÃO À LUZ DA CULTURA TRI- BAL, QUE TAMBÉM CONFIGURA UM CRIME PREVISTO NA LEGISLAÇÃO PE- NAL, E ELE CHEGAR A SER PUNIDO PELO CACIQUE DESSA TRIBO, POR E- XEMPLO, É POSSÍVEL QUE A SANÇÃO PENAL SE TORNE DESNECESSÁRIA. (PROC. Nº 0090.10.000302-0 – TJPR) 2 Como processar? Como interrogar? Como realizar uma reprodução simulada dos fatos? Como realizar um reconhecimento pessoal? DIREITO PENAL DIREITO PROCESSUAL PENAL Define o que é e o que não é um ilícito penal. Define o modo pelo qual os órgãos aplicarão o direito de punir/jus puniendi “O que” “Como” Ex: estupro. Ex: como se investiga. SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS Os três consagrados sistemas processuais penais são o inquisitivo, o acusatório e o misto. Os dois primeiros são os de maior relevância para fins de concursos públicos, por isso, tome cuidado. O sistema acusatório é marcado pela materialização de direitos e garantias fundamentais constantes de importantes princípios tais como a ampla defesa, o contraditório, o direito ao silêncio, o direito de não produzir provas contra si mesmo, também chamado de “nemo tenetur se detegere”, dentre outros. Já o sistema inquisitivo é marcado pela ausência ou relativização dos direitos constitucionais supracitados. Em síntese e pontuando o que há de mais relevante para provas de concursos, o sistema acusatório permite a ampla defesa e o contraditório, o que não se repete no sistema inquisitivo. O sistema inquisitivo é muito mais 3 agressivo, ofensivo e tolera uma invasão frontal aos direitos e garantias fundamentais. Para facilitar a memorização, basta lembrar do Tribunal da Inquisição, em que autores de determinados crimes eram queimados como forma de punição, sem sequer direito de defesa. Situações desta natureza não são toleradas no sistema acusatório, pois este consagra de forma mais completa os direitos e garantias fundamentais do cidadão, especialmente o investigado ou processado pelo Estado Persecutor. O Inquérito Policial adota o sistema inquisitivo ou acusatório? Embora se verifique o direito de o indivíduo ser acompanhado por advogado e alguns outros resquícios de um sistema acusatório, a fase de Inquérito é eminentemente inquisitiva. A doutrina mais moderna, a exemplo do Delegado de Polícia do Estado de Goiás Adriano Sousa Costa e o Delegado de Polícia do Estado do Paraná Henrique Hoffmann1, defendem a presença do contraditório e ampla defesa no inquérito, quando possíveis e compatíveis com o procedimento ou diligência. Em que pese a respeitável posição doutrinária, para fins de prova objetiva, é recomendável adotar a posição majoritária, no sentido de que o inquérito adota o sistema inquisitivo. O terceiro sistema citado pela doutrina é o misto, que se caracteriza por possuir em âmbito judicial, duas fases: A primeira fase é marcada por elementos do sistema inquisitivo e a segunda fase é eminentemente acusatória, porém, ambas presididas pelio Juiz de Direito, o que não é admitido no atual panorama legislativo no Brasil. Cuidado, pois a nossa persecução penal é marcada por duas fases, uma primeira fase de investigações que é inquisitiva e uma segunda fase que é a ação penal acusatória, porém, não podemos confundir a persecução penal com 4 o sistema processual adotado. A primeira fase da nossa persecução penal é presidida por um Delegado de Polícia e não por um Juiz. Já no Sistema Misto, as duas fases são presididas por um Juiz. Portanto, definitivamente, a persecução penal pátria não adota o sistema misto e sim o sistema inquisitivo no Inquérito e acusatório na Ação Penal. Vamos analisar as características principais de cada um desses sistemas: 1- Sistema Inquisitivo: a) Reunião das funções: o juiz julga, defende e acusa: O juiz canaliza e centraliza todas as fases da persecução penal. Note que não parece muito justo para um processo penal hígido e garantidor de direitos fundamentais. b) Não existem partes - o réu é mero objeto do processo penal: O réu não é parte, mas somente um objeto do processo penal, podendo inclusive ser submetido à tortura, tratamento desumano ou degradante, situação que não é permitida nem mesmo em nosso inquérito policial, mas que já ocorreu em determinados períodos históricos. c) O processo é sigiloso, sem acesso às partes e ao povo: Atualmente não podemos vislumbrar essa característica de forma absoluta nem mesmo no nosso inquérito policial e no processo penal, pois as partes tem direito de acesso, especialmente para o advogado de defesa. d) Inexiste garantias constitucionais. e) A confissão é a rainha das provas (prova legal e tarifação das provas): 5 O sistema de apreciação das provas adotado atualmente é o da persuasão racional do juiz, não podendo se confundir com o sistema da prova tarifada, pois se o indivíduo confessasse ele era automaticamente condenado, confissão que era normalmente obtida através de tortura. f) Existe presunção de culpa, o réu é culpado até que se prove o contrário: Não há presunção de inocência, o réu tem o ônus de provar que não cometeu o ilícito. g) Busca-se a verdade real: A verdade real está atrelada à permissão para a tortura, pois essa verdade deveria ser alcançada a qualquer custo, mesmo com a restrição de direitos fundamentais. Os fins justificam os meios. O sistema inquisitivo, por óbvio, não é o adotado em nosso país. Embora o inquérito policial seja inquisitivo em razão da parcial ausência de ampla defesa e contraditório, definitivamente não se trata um inquisitivo puro. Fosse assim a tortura seria admitida como meio de prova. Por outro lado, inegavelmente existem alguns resquícios desse sistema em nosso ordenamento jurídico, a exemplo da delação premiada, que é um instituo originado do sistema inquisitivo, o que faz com que parte da doutrina, inegavelmente minoritária, considere tal diligência como imoral e de eticidade duvidosa. 2- Sistema Acusatório: a) As partes são gestoras da prova; b) Divisão das partes para julgar, acusar e defender: 6 PEGADINHA: A CONSTITUIÇÃO FEDERAL TRAZ DE FORMA EXPRESSA E GRAMATICAL O PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DA NÃO CULPABILIDADE E NÃO O PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. PARA A DOUTRINA MAJORITÁRIA, CAPTANEA- DA POR GUSTAVO BARDARÓ2, A PRESUNÇÃO DAINOCÊNCIA E NÃO CULPA- BILIDADE SÃO SINÔNIMOS. POR OUTRO LADO, NO SENTIDO DIAMETRAL- MENTE OPOSTO, AQUELES QUE ADVOGAM A TESE DE QUE HÁ DIFERENÇA ENTRE TAIS PRINCÍPIOS, O QUE MUDA É TRATAMENTO DISPENSADO AO ÔNUS DA PROVA. Temos um Juiz para julgar, o Ministério Público para acusar e o Advogado ou Defensor Público para defender. c) O processo em regra é público; d) O réu é sujeito de direitos e não objeto de investigação: Os principais direitos garantidos para diferenciar do sistema inquisitivo são: ampla defesa, contraditório, direito ao silêncio e etc. e) Ampla defesa e contraditório; f) Provas não taxativas e não valoradas pela lei: O juiz é quem define o valor das provas. Basta imaginar um exemplo de um juiz diante de um caso de violência doméstica contra a mulher, em que se há 10 testemunhas a favor do réu e apenas um vizinho que ouviu os gritos em favor da mulher. O juiz poderá desprezar o valor das 10 testemunhas do réu e valorar o testemunho apenas do vizinho e da vítima, de acordo com o seu livre convencimento motivado e condenar o agressor. Esse é o sistema da persuasão racional, não há tarifas tabeladas ou provas que valham mais do que as outras. Resumindo e vidando sua memorização, atualmente, não há “provona” e nem “provinha”, todas as provas têm o mesmo valor. Presume-se a não culpabilidade: 7 PEGADINHA: PARA A CORRENTE QUE ADOTA A DISTINÇÃO E NÃO É DEMAIS REPETIR QUE SE AFIGURA MINORITÁRIA, À LUZ DO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA, CABE AO ESTADO PERSECUTOR PROVAR O FATO TÍPICO, ILÍ- CITO E CULPÁVEL. DE OUTRA SORTE, À LUZ DO PRINCÍPIO DA NÃO CUL- PABILDIADE, O CABE AO MINISTÉRIO PÚBLICO PROVAR APENAS O FATO TÍPICO, FICANDO A CARGO DA DEFESA PROVAR EVENTUAL EXCLUDENTE DE ILICITUDE E CULPABILIDADE. É O ENTENDIMENTO, À GUISA DE EXEM- PLO DE RENATO BRASILEIRO3. APESAR DE A DISTINÇÃO SE CONFIGURAR ENTENDIMENTIO MINORITÁRIO EM TERMOS DE DOUTRINA, É MAJORITÁ- RIO NA JURISPRUDÊNCIA DO STJ4, O QUE FEZ COM QUE O CESPE5 ADO- TASSE COMO GABARITO A CORRENTE DOUTRINÁRIA MINORITÁIA. NA LINGUAGEM DO “BUTEQUÊS”, RECOMENDA-SE PARA FINS DE PROVA OBJETIVA A POSIÇÃO QUE CONSIDERA A PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA CO- MO SINÔNIMO DE NÃO CULPABILIDADE, PORÉM, COM ÔNUS DA PROVA ACERCA DAS EXCLUDENTES RECAINDO SOBRE A DEFESA, ESPECIALMENTE EM HOMENAGEM AO ART. 156 DO CPP, SEGUNDO O QUAL, A PROVA DA ALEGAÇÃO INCUMBIRÁ A QUEM A FIZER. 3- Sistema Misto: a) Origem no código napoleônico em 1808; b) Duas fases: a investigativa e a judicial, ambas presididas pelo juiz: O fato de o juiz presidir a fase investigativa prejudica a imparcialidade no momento de julgar. c) Prejuízo à imparcialidade do julgador; d) Inquérito policial judicialiforme. Afastado pela CF/88. O instituto existia na antiga lei de falências que foi revogada em 2005. 8 JURISPRUDÊNCIA: (...) A FASE DE INQUÉRITO POLICIAL É UM PROCEDIMENTO INFORMATIVO DE NATUREZA INQUISITORIAL (...) A ALTERAÇÃO NO ESTATUTO DA OAB REPRESENTAM UM REFORÇO DAS PRERROGATIVAS DE DEFESA TÉCNICA NO CURSO DO INQUÉRITO POLICIAL, MAS NÃO COMPROMETEM O CARÁ- TER INQUISITÓRIO DA FASE INVESTIGATIVA PRELIMINAR (...) STF PET 7612/DF/2019 MINISTRO EDSON FACHIN. e) É aquele em que temos uma primeira fase investigativa inquisitiva presidida pelo juiz e uma segunda fase de ação penal, também presidida pelo juiz. Foi abolido do nosso ordenamento jurídico, pois o juiz não pode se imiscuir de forma exacerbada na fase investigativa. Portanto, não há falar, no Brasil, em inquérito judicialiforme e nem em sistema misto. O que a doutrina faz, capitaneada por Denílson Feitosa6 e Guilherme Nucci7, é falar de uma relativização do sistema acusatório e do sistema inquisitivo. f) Doutrina minoritária apontava o sistema misto como sendo o adotado pelo CPP, antes do pacote anticrime. g) Posição majoritária (gabarito na sua prova): o Brasil não adota o sistema misto, mas sim o sistema inquisitivo no IP e acusatório na ação penal. TRADUZINDO: Nem a fase do inquérito é inquisitivo puro, por admitir a presença do advogado durante o interrogatório policial, mitigando assim a proibição de ampla defesa e contraditório, dentre outros exemplos; e nem o processo penal é acusatório puro, pois existe, por exemplo, a possiblidade de o juiz indicar uma testemunha que não foi arrolada pelas partes, mas que o juiz considera pertinente para a causa (testemunha do juízo), característica inquisitiva no processo penal acusatório, já que o juiz deveria permanecer inerte. Todas as vezes que a legislação permite que o juiz proceda de ofício durante o processo, trata-se de uma mitigação ao sistema acusatório. 9 Observe, de forma resumida, as principais características e distinções entre os dois principais sistemas processuais penais: CARACTERÍSTICAS/SISTEMAS SISTEMA INQUISI- TÓRIO SISTEMA ACUSA- TÓRIO Princípio unificador O juiz é o gestor das provas As partes é que são gestoras da prova Funções acusar, defender e julgar Reunidas nas mãos do juiz separadas atos do processo sigilosos A regra é a publicidade dos atos do processo, salvo exceções. Réu Objeto de investigação Sujeito de direitos Garantias Não há contraditório, ampla defesa e nem devido processo legal Todas as garantias constitucionais no processo Provas Taxativas, onde a confissão é a rainha das provas Livre convencimento do juiz e devidamente motivado presunção De culpabilidade, utilizando meios crueis para obter a confissão De não culpabilidade ou presunção de inocência Julgador parcial Imparcial, equidistante às partes 10 SISTEMAS ATUAIS E O PACOTE ANTICRIME Conforme já salientado, o Inquérito Policial é inquisitivo, porém, relativizado. E o processo penal adota o sistema acusatório, que também é relativizado. Feitas as rememorações, passa-se à atualização trazida pelo pacote anticrime que introduziu o artigo 3º-A no CPP, deixando expresso o sistema processual adotado pelo Brasil. Atenção, pois, por se tratar de inovação legislativa materializada pelo Pacote Anticrime, é um artigo que certamente será cobrado nas provas: “Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação”. Note como o artigo 3º-A, fala da investigação que fica a cargo do delegado de polícia e eventualmente do MP. Fala também da acusação que é responsabilidade do MP, e o juiz fica proibido de interferir na investigação e na acusação, materializando-se assim, o sistema acusatório. Tem-se também outras atualizações trazidas pelo pacote anticrime com a inegável intenção de confirmar a estrutura acusatória do Processo Penal, veja: a) Juiz das garantias - Art. 3º-C, criado com a finalidade de que o juiz que acompanha as investigações e todos os atos feitos durante essa fase, não seja o mesmo juiz que irá participar da fase processual, garantindo assim, a imparcialidade do julgador. b) Teoria da descontaminação das provas - art. 3º-D e art. 156, parágrafo 5º: Observe a dicção do art. 156 parágrafo 5º do CPP: 11 “Art. 156, § 5º - O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão”. Essa inovação tem o objetivo de impedir que o juiz que teve contato com a prova ilícita, seja responsável pelo julgamento. Exemplo: um juiz que durante as investigações assistiu a um vídeo em que o investigado confessa o crime sem o seu consentimento e sem ser cientificado do direito de permanecer em silêncio. Por óbvio, trata-se de uma prova ilícita e também serão ilícitastodas as provas derivadas desta, na medida em que o CPP adota a teoria dos frutos da árvore envenenada e mesmo que seja desentranhada do processo, a imparcialidade desse juiz estará prejudicada. c) Adoção expressa do sistema acusatório: art. 3º-A. d) Vedação de decretação de medida cautelar de ofício pelo juiz: art. 282, parágrafo 2º: “§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público”. e) Vedação da prisão preventiva de ofício: art. 311 do CPP. Art. 311. “Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial”. 12 JURISPRUDÊNCIA: (...) NA CONDIÇÃO DE RELATOR DAS ADIS 6.298, 6.299, 6.300 E 6305, COM AS VÊNIAS DE PRAXE E PELOS MOTIVOS EXPOSTOS: (A) REVOGO A DECISÃO MONOCRÁTICA CONSTANTE DAS ADIS 6.298, 6.299, 6.300 E SUS- PENDO SINE DIE A EFICÁCIA, AD REFERENDUM DO PLENÁRIO, (A1) DA IM- PLANTAÇÃO DO JUIZ DAS GARANTIAS E SEUS CONSECTÁRIOS (ARTIGOS 3º-A, 3º-B, 3º-C, 3º-D, 3ª-E, 3º-F, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL); E (A2) DA ALTERAÇÃO DO JUIZ SENTENCIANTE QUE CONHECEU DE PROVA DECLA- RADA INADMISSÍVEL (156, §5º, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL); (...). Essas duas últimas atualizações que proíbem respectivamente, a decretação de medida cautelar de ofício e de prisão preventiva de ofício pelo juiz, somadas à vedação já existente de decretação de prisão temporária de ofício, são materializações evidentes de um sistema processual penal acusatório, pois o juiz deverá ser provocado para praticar tais ações. PACOTE ANTICRIME: SUSPENSÕES. À luz do princípio da reserva do possível, o Ministro do STF, Luiz Fux, suspendeu diversas alterações trazidas pelo pacote anticrime, nas ADI’S:6298,6299, 6300 e 6305. Diante do exposto, o Min. Fux suspendeu: 1- Juiz das garantias: por falta de estrutura do poder judiciário, pautado pelo princípio da reserva do possível, já que a obrigatoriedade de um juiz das garantias e outro juiz para o processo sai muito caro aos cofres públicos. Apesar de o argumento supracitado ter sido o decisivo para a 13 suspensão em testilha, outro argumento debatido pelos ministros foi quanto ao suposto vício formal na edição da lei, já que a titularidade para iniciativa de lei que altere o Poder Judiciário é do próprio Judiciário. 2- Arquivamento direto do inquérito policial pelo MP: por falta de estrutura física e de pessoal do órgão ministerial para lidar com essa quantidade de inquéritos. Na sistemática anterior ao pacote anticrime, o MP requeria o arquivamento ao juiz, para que o juiz o arquivasse. ATENÇÃO: NA NOVA SISTEMÁTICA TRAZIDA PELO PACOTE ANTICRIME, O INQUÉRITO DEVERÁ SER ARQUIVADO PELO PRÓPRIO MP, PORÉM ESSE DISPOSITIVO ENCONTRA-SE SUSPENSO. 3- Teoria da descontaminação das provas ilícitas: art. 156, § 5º, suspenso pelos mesmos argumentos apresentados para a suspenção do juiz das garantias. 4- Ilegalidade da prisão por ausência de audiência de custódia: suspenso também por falta de estrutura do judiciário de se realizar as audiências de custódia, especialmente em pequenas comarcas. Isso não significa que as audiências de custódia não serão realizadas, mas que, caso não sejam realizadas no prazo exigido pela lei, o controle jurisdicional acerca da legalidade da prisão, será realizado a posteriori, garantindo-se assim o controle jurisdicional sobre as prisões, ainda que seja exercido de forma postergada. 14 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO PENAL PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA O acusado é presumido inocente, até a declaração de culpa por sentença condenatória transitada em julgado. Relembrando a pegadinha de prova exposta alhures, a CF/88 não consagra de forma expressa a presunção de inocência, mas sim a não culpabilidade, embora, em termos práticos, essa diferença seja irrelevante. Observe a dicção do artigo 5º, inciso LVII, da CF: “LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”; O constituinte previu a ausência de culpa, e não a inocência de forma expressa, diferentemente do que faz o Pacto de São José da Costa Rica, em seu artigo 8.2, o qual garante de forma expressa a presunção de inocência: “Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa”. Essa diferença entre não culpabilidade e inocência, importa no que tange à distribuição do ônus da prova. No princípio da presunção de inocência, o ônus da prova é integralmente do MP. Já no princípio da presunção de não culpa, o ônus da prova é do MP, somente no que tange ao fato típico e as causas excludentes de ilicitude e de culpabilidade seriam ônus da defesa. Lembrando que apenas a doutrina minoritária é que faz essa diferença. Inclusive a banca CESPE formulou questão em que a alternativa correta era que cabe à defesa provar as excludentes de ilicitude e de culpabilidade, o que já restou detalhado acima. Portanto, fique atento na hora prova, pois o que prevalece na Doutrina é que 15 JURISPRUDÊNCIA: (...) APÓS O VOTO DO MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR), QUE JULGAVA PROCEDENTES OS PEDIDOS FORMULADOS NAS AÇÕES DECLARATÓRIAS DE CONSTITUCIONALIDADE Nº 43, 44 E 54 PARA ASSENTAR A CONSTITUCIONA- LIDADE DO ARTIGO 283 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E, COMO CONSE- QUÊNCIA, DETERMINAVA A SUSPENSÃO DE EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE PENA CUJA DECISÃO A ENCERRÁ-LA AINDA NÃO HAJA TRANSITADO EM JULGADO, BEM ASSIM A LIBERTAÇÃO DAQUELES QUE TENHAM SIDO PRESOS, ANTE E- XAME DE APELAÇÃO, RESERVANDO-SE O RECOLHIMENTO AOS CASOS VER- DADEIRAMENTE ENQUADRÁVEIS NO ART. 312 DO MENCIONADO DIPLOMA PROCESSUAL. (ADC 44 APENSADA À ADC 43 STF, RELATOR MINISTRO MARCO AURÉLIO). cabe à acusação provar tudo: fato típico, ilícito e culpável. Porém, o CESPE acabou gabaritando em sentido contrário em homenagem às decisões do STJ no HC 366.639/SP/2017 E no HC 388.640/SP /2017. Execução provisória da pena: Trata-se de hipótese que o Estado Penal estaria autorizado a executar a pena provisoriamente, ou seja, antes do trânsito em julgado definitivo. Imagine que um indivíduo condenado em primeira e segunda instâncias interpôs recursos perante o STF ou STJ, será que esse indivíduo já poderá ser preso para começar a cumprir sua pena? É bem verdade, que o STF, por muitos anos admitiu a execução provisória da pena, PORÉM, ISSO NÃO É ADMITIDO ATUALMENTE, especialmente após o julgamento das ADC´S: 43, 44 e 54: 16 PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO Pela ampla defesa fica concedido ao réu o direito de se valer de amplos e extensos métodos para se defender da imputação acusatória. Pode ser autodefesa no caso de réus ou investigados que sejam advogados. Art. 5º, inciso LV, da CF/88: “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”; O princípio do contraditório materializa o direito do indivíduo: 1- Saber da acusação; 2- Tem o direito de participar da produção probatória; 3- Direito de paridade de armas, ou seja, a defesa tem os mesmos direitos, as mesmas armas que possui a acusação. Art. 261 do CPP: “Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor. Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defensor público ou dativo, será sempre exercida através de manifestaçãofundamentada” 17 JURISPRUDÊNCIA: AO TOMAR CONHECIMENTO DAS QUESTÕES LEVANTADAS PELA DEFESA, O MAGISTRADO ABRIU NOVAMENTE O CONTRADITÓRIO, DANDO OPOR- TUNIDADE ÀS PARTES DE SE MANIFESTAREM SOBRE O ASSUNTO. ASSIM, NÃO HÁ FALAR EM VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA (STJ HC 410.942/2019). ADENTRAMENTO TÁTICO: O QUE É PLENITUDE DE DEFESA? PLENITUDE DE DEFESA É SINÔNIMO DE AMPLA DEFESA? FALSO, A PLENITUDE DEFESA É MAIS ABRANGENTE E VAI MUITO ALÉM DA AMPLA DEFESA. NO TRIBUNAL DO JÚRI É QUE SE VERIFICA A PLENA DEFESA, ONDE PODE-SE UTILIZAR DE PROVAS MEIOS DE PROVA NÃO PREVISTOS EM LEI. EXEMPLO INTRIGANTE FOI A EXIBIÇÃO DE CARTA PSICOGRAFADA NO PLENÁRIO DO JÚRI, O QUE JÁ FOI RETRATADO NO FILME “CHICO XAVIER”. ADENTRAMENTO TÁTICO: EXISTE POSSIBILIDADE DE CONTRADITÓRIO NO INQUÉRITO POLI- CIAL? PARA FINS DE GABARITO DE PROVA, NÃO EXISTE CONTRADITÓRIO NO IN- QUÉRITO, EXCETO O INQUÉRITO PARA EXPULSÃO DE ESTRANGEIRO. A DOUTRINA MODERNA CITADA ALHURES DEFENDE O CONTRADITÓRIO A AMPLA DEFESA NO BOJO DO INQUÉRITO. 18 PEGADINHA: O PRINCÍPIO DO NEMO TENETUR SE DETEGERE ENCONTRA-SE PRE- VISTO EXPRESSAMENTE NA CF/88? FALSO, POIS TRATA-SE DE UM PRINCÍPIO IMPLÍCITO, EXTRAÍDO DO DIREI- TO AO SILÊNCIO E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. EXEMPLO DE APLICAÇÃO DESSE PRINCÍPIO É A NÃO OBRIGATORIEDADE DE ASSOPRAR O BAFÔME- TRO VISANDO A MATERIALIDADE DO CRIME PREVISTO NO ART. 306 DO CTB. PRINCÍPIO DA IGUALDADE DAS PARTES Caminha junto com os princípios da ampla defesa e do contraditório, significa que as partes devem ser tratadas de forma isonômica pelo juiz imparcial. Já foi decidido pelo STF que a designação de defensor dativo não viola o princípio da igualdade das partes. PRINCÍPIO DO “NEMO TENETUR SE DETEGERE” É o direito de não produzir provas contra sim mesmo e não se confunde com o direito ao silêncio. A nova lei de abuso de autoridade incriminou a conduta de delegados e juízes que insistem na realização de perguntas aos interrogados que reclamem o seu direito ao silêncio. Tanto o pacote anticrime quanto a nova lei de abuso de autoridade, vieram para assegurar ainda mais os direitos fundamentais dos investigados e réus, respeitando o chamado “efeito clicket” dos direitos fundamentais, que veda o retrocesso no tratamento do ser humano. 19 PEGADINHA: O SUSPEITO É OBRIGADO A FORNECER O PADRÃO VOCAL? O INDIVÍDUO NÃO TEM A OBRIGAÇÃO DE FORNECER SEU PADRÃO VOCAL PARA SER COMPARADA COM A VOZ CAPTADA EM UMA INTERCEPTAÇÃO TE- LEFÔNICA, POR EXEMPLO. NÃO SE PODE OBRIGAR O INVESTIGADO A FA- LAR, PARA QUE SUA VOZ SEJA COMPARADA COM UMA INTERCEPTAÇÃO RE- ALIZADA, MAS PODE-SE UTILIZAR OUTRAS FONTES DE VOZ DO SUSPEITO PARA A COMPARAÇÃO, TAIS COMO UM VÍDEO DO SUSPEITO, OU OUTRA GRAVAÇÃO QUALQUER QUE CONTENHA SUA VOZ. JURISPRUDÊNCIA: (...) O PRIVILÉGIO CONTRA A AUTOINCRIMINAÇÃO, GARANTIA CONSTITU- CIONAL, PERMITE AO PACIENTE O EXERCÍCIO DO DIREITO AO SILÊNCIO, NÃO ESTANDO, POR ESSA RAZÃO, OBRIGADO A FORNECER OS PADRÕES VOCAIS NECESSÁRIOS A SUBSIDIAR QUE ENTENDE LHE SER DESFAVORÁ- VEL (STF HC 83096/RJ). Muito se questiona sobre a possibilidade de obrigar o investigado a passar pelo raio-x no intuito de se descobrir algo de ilícito escondido em seu corpo ou vestes. Ocorre que, embora o investigado não ser obrigado a produzir provas contra si mesmo, a passagem pelo raio-x não exige nenhuma ação do investigado e, definitivamente, não é um meio invasivo, portanto, é plenamente possível que alguém seja obrigado a passar pelo raio-x quando houver fundadas suspeitas de que ela tenha ingerido objetos ilícitos, tais como drogas. 20 JURISPRUDÊNCIA: (...) NÃO HÁ, NOS AUTOS, QUALQUER COMPROVAÇÃO DE QUE TENHA HA- VIDO ABUSO POR PARTE DOS POLICIAIS NA OBTENÇÃO DA PROVA QUE ORA SE IMPUGNA. AO CONTRÁRIO, VERIFICA-SE QUE OS PACIENTES AS- SUMIRAM A INGESTÃO DA DROGA, NARRANDO, INCLUSIVE, DETALHES DA AÇÃO QUE CULMINARIA NO TRÁFICO INTERNACIONAL DA COCAÍNA APRE- ENDIDA PARA A ANGOLA, O QUE DENOTA COOPERAÇÃO COM A ATIVIDADE POLICIAL, REFUTANDO QUALQUER ALEGAÇÃO DE COAÇÃO NA COLHEITA DA PROVA. 3. ADEMAIS, É SABIDO QUE A INGESTÃO DE CÁPSULAS DE COCAÍNA CAU- SA RISCO DE MORTE, MOTIVO PELO QUAL A CONSTATAÇÃO DO TRANS- PORTE DA DROGA NO ORGANISMO HUMANO, COM O POSTERIOR PROCE- DIMENTO APTO A EXPELI-LA, TRADUZ EM VERDADEIRA INTERVENÇÃO ES- TATAL EM FAVOR DA INTEGRIDADE FÍSICA E, MAIS AINDA, DA VIDA, BENS JURÍDICOS ESTES LARGAMENTE TUTELADOS PELO ORDENAMENTO. 4. MESMO NÃO FOSSEM REALIZADAS AS RADIOGRAFIAS ABDOMINAIS, O PRÓPRIO ORGANISMO, SE O PIOR NÃO OCORRESSE, EXPELIRIA NATU- RALMENTE AS CÁPSULAS INGERIDAS. (STJ HC 149.146/SP) JURISPRUDÊNCIA: (...)HABEAS CORPUS. 2. ALEGAÇÃO DE ILICITUDE DA PROVA, CONSIS- TENTE EM ENTREVISTA CONCEDIDA PELO PACIENTE AO JORNAL “A TRI- BUNA”, NA QUAL NARRA O MODUS OPERANDI DE DOIS HOMICÍDIOS PER- PETRADOS NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, NA MEDIDA EM QUE NÃO TERIA SIDO ADVERTIDO DO DIREITO DE PERMANECER CALADO. 3. EN- TREVISTA CONCEDIDA DE FORMA ESPONTÂNEA. 5. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CARACTERIZADO (STF HC 99558/ES). Outro ponto a ser ressaltado é sobre a possibilidade de uma entrevista jornalística com o investigado ser utilizada como prova lícita no processo penal, mesmo que o indivíduo não tenha sido alertado pelo jornalista sobre o seu direito de permanecer calado. Prevalece na jurisprudência, a orientação de que esse meio de prova é lícito, podendo ser utilizado no processo. O mesmo não se verifica, quando essa conversa ou gravação for feita por policiais de forma ardilosa, de maneira informal e sem o alerta do direito ao silêncio. 21 JURISPRUDÊNCIA: O STF ao julgar procedente a possibilidade de se utilizar uma matéria jornalística como meio de prova, adotou a teoria da horizontalização dos direitos fundamentais? Não, pois o direito do “nemo tenetur se detegere” não é oponível aos particulares. Quem tem o dever de alertar sobre o direito de permanecer calado são os agentes estatais encarregados da persecução penal. Descontraindo, o marido não pode opor o “nemo tenetur se detegere” para se proteger de questionamentos da esposa ciumenta. Questionamento curioso gira em torno da possibilidade que o investigado/acusado tem de poder mentir durante o interrogatório sobre os fatos, situação que não se repete quando o indivíduo for questionado a respeito de sua qualificação pessoal. No que tange os fatos, exceto cometer crimes contra a administração da justiça, o interrogado tem o livre alvedrio de se utilizar de mentiras, o que não se repete com relação aos questionamentos que gravitam em torno de sua qualificação. SÚMULA 522 STJ - “A CONDUTA DE ATRIBUIR-SE FALSA IDENTIDADE PE- RANTE AUTORIDADE POLICIAL É TÍPICA, AINDA QUE EM SITUAÇÃO DE ALE- GADA AUTODEFESA” A mentira na qualificação pode configurar: 1) Contravenção Penal prevista no art. 68 em caso de omissão de dados qualificadores; 2) Falsa identidade se mentir os dados qualificadores/; 22 JURISPRUDÊNCIA: STF HC 69026: RECONSTITUIÇÃO DO CRIME - CERCEAMENTO DE DEFESA - NÃO INTIMAÇÃO DO DEFENSOR PARA A RECONSTITUIÇÃO DO DELITO - PACIENTE QUE SE RECUSA A PARTICIPAR DA REPRODUÇÃO SIMULADA DOS FATOS - VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO - INOCOR-RÊNCIA. 3) Uso de documento falso se exibir identidade falsa; 4) Falsificação de documento público se foi ele mesmo o falsificador que apresentou o documento. Em razão do princípio do “nemo tenetur se detegere”, o suspeito não é obrigado a participar da reprodução simulada dos fatos. Há uma corrente minoritária advogando no sentido de que o suspeito deveria comparecer à reprodução simulada, mas jamais ser obrigado a participar de forma ativa. Mas muito cuidado, é gabarito recorrente nas provas de concursos que o suspeito sequer é obrigado a comparecer. Já para o reconhecimento pessoal, o indivíduo deverá comparecer, visto que nestes casos quem produz a prova é a vítima ou testemunhas e não o suspeito reconhecido. Eventual não comparecimento do suspeito para tal diligência, desde que devidamente e formalmente intimado, pode culminar com a prisão temporária do recalcitrante, desde que fique demonstrado que o ato é imprescindível para as investigações. A autoridade policial poderá insistir em perguntas quando o investigado já demonstrou o desejo de permanecer calado? São as famosas “reperguntas”, com o intuito de forçar o indivíduo a falar. A nova lei de abuso de autoridade incriminou essa conduta, com o escopo de proteger o direito ao silêncio. 23 JURISPRUDÊNCIA: COLETA DE MATERIAL BIOLÓGICO DA PLACENTA, COM PROPÓSITO DE SE FAZER EXAME DE DNA, PARA AVERIGUAÇÃO DE PATERNIDADE DO NAS- CITURO, (...) AUTORIZANDO A COLETA E ENTREGA DE PLACENTA PARA FINS DE EXAME DE DNA (...) MANTIDA A DETERMINAÇÃO AO DIRETOR DO HOSPITAL REGIONAL DA ASA NORTE, QUANTO À REALIZAÇÃO DA CO- LETA DA PLACENTA DO FILHO DA EXTRADITANDA. 7. BENS JURÍDICOS CONSTITUCIONAIS COMO "MORALIDADE ADMINISTRATIVA", "PERSECU- ÇÃO PENAL PÚBLICA" E "SEGURANÇA PÚBLICA" (STF - RCL-QO: 2040 DF 2016) “Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o interrogatório: I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio;” Coleta de material abandonado como bituca de cigarro, placenta no momento do parto e outros, é lícita? Sim. Outro exemplo prático é o caso “Pedrinho”, sequestrado pela falsa mãe “Vilma”, que ocorreu no Estado de Goiás, onde o delegado de polícia recolheu uma bituca de cigarro e com a saliva encontrada produziu material genético para provar o sequestro de uma das supostas filhas da sequestradora Vilma Martins8. Princípio do favor rei (in dubio pro reo) É conexo ao princípio da presunção de inocência. Apesar de sua imensa importância processual, esse princípio não vigora em todas as fases da persecução penal, a exemplo do momento do recebimento da denúncia pelo 24 juiz, no inquérito policial e na ação penal em suas fases iniciais, em que vigora o princípio do in dubio pro societate, portanto, o in dubio pro reo é um princípio a ser observado no momento do julgamento. Art. 5º inciso LVII da CF/88: LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; Art. 386 do CPP: O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: ... VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; E no momento da revisão criminal? Vigora o princípio do in dubio pro reo? A revisão criminal é um procedimento que pode ocorrer após o trânsito em julgado quando existam provas irrefutáveis da inocência do réu. É um procedimento exclusivo da defesa. Neste momento, vigora o princípio do in dubio pro societate e não o do in dubio pro reo. A quem pertence o dever de provar? Em regra esse dever pertence à acusação, mas encontramos na legislação, algumas mitigações a esse respeito, como esse exemplo em que o próprio juiz poderá ordenar a produção de provas, que aparentemente vai de encontro ao sistema acusatório, mas como já salientado, admite mitigações: Art. 156 do CPP “A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: 25 I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante”. O art. 91-A do CP, introduzido pelo pacote anticrime, trouxe a hipótese do chamado confisco alargado, onde o indivíduo investigado possui um patrimônio totalmente incompatível com a sua renda. Por isso, seu patrimônio será confiscado pelo estado a menos que ele consiga provar a origem lícita desses bens. Art. 91-A CP “Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito. § 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do condenado todos os bens: I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou indireto, na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do início da atividade criminal. § 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita do patrimônio. § 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público, por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada. 26 § 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e especificar os bens cuja perda for decretada. § 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes”. Na lei de crimes ambientais também é possível encontrar mitigações à obrigatoriedade de provar por parte da acusação, ou seja, caberia a parte demonstrar sua inocência, especialmente em se tratando de crimes ambientais praticados por pessoas jurídicas. Por fim, há casos pontuais em que ocorre uma presunções indiciária. Bom exemplo é o crime de receptação (art. 180 CP) e artigos 12 e 14 do Estatuto do Desarmamento. A jurisprudência vem militando no sentido de que alguns crimes, tais como os supracitados, ocorreu uma relativa inversão do ônus da prova para a defesa. Ex.: um indivíduo dirigindo um carro produto de roubo, deverá provar que comprou o veículo por um preço razoável para que não seja condenado por crime de receptação. Princípio do Juiz Natural O réu deve ser julgado por um juiz previamente determinado pela lei e por normas constitucionais (art. 5º inciso LIII da CF/88). Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,nos termos seguintes: (...) LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; 27 JURISPRUDÊNCIA: (...) XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; A simples especialização de competência não configura juízo de exceção, a exemplo da criação de varas especializadas em determinados crimes. Assim sento, a criação de uma vara de crimes organizados, por exemplo, não ofende a constituição ou o princípio em testilha. Vigora no Brasil o princípio do Promotor Natural no Brasil? Embora não esteja previsto de forma gramatical na CF/88, é consenso que vigora em nosso ordenamento jurídico tal princípio, já que o código de processo penal admite o uso da analogia. E o princípio do delegado natural? Em que pese haver doutrina minoritária defendendo sua existência, tal princípio NÃO vigora no país, pelo simples fato de que as regras de suspeição e impedimento não são oponíveis ao delegado de polícia. Porém, é bom lembrar, que a Lei nº 12.830/13 consagra algumas possibilidades de avocação e redistribuição dos inquéritos presididos pelo delegados, se houver motivo fundamentado. Em importante julgamento na Colômbia (caso Rodriguez Vera vs Colômbia/2014) a corte interamericana ponderou a efetividade da investigação e condenou o país a reiniciar as investigações falhas. Esse é um precedente internacional reconhecendo o princípio do investigador natural, porém, para fins de prova, não adotamos o princípio do delegado natural, inclusive há gabarito de prova nesse sentido pela banca UEG, para concurso de delegado em 2013. (...) A JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ESTABELECEU QUE A SUSPEIÇÃO DA AUTORIDADE POLICIAL NÃO É MOTIVO DE NULIDADE DO 28 PROCESSO, POIS O INQUÉRITO É MERA PEÇA INFORMATIVA (...) STF HC 131450/DF. Princípio da imparcialidade do juiz Para assegurar a validade do juiz natural é preciso que o julgamento se dê com total isenção do julgador. É por esse motivo que existem causas de impedimento e suspeição do juiz (artigos 252 e 254 do CPP) que podem gerar nulidade do processo. As causas de impedimento gravitam em torno de circunstâncias objetivas, ou seja, o juiz já se manifestou no processo, já deu entrevistas sobre o processo. É por esse motivo que juízes muitas vezes se negam a conceder entrevistas para que não se tornem impedidos de atuar naquela causa. Art. 252 do CPP. De outro lado, as causas de suspeição, são de natureza subjetiva. Ex.: um juiz não poderá julgar sua ex-namorada ou o estuprador de sua filha. Art. 254 CPP. O pacote anticrime também veio buscar maior imparcialidade do juiz, com 5 medidas: 1- Criação do juiz de garantias; 2- Teoria da descontaminação das provas, art. 156, § 5º: um juiz que teve acesso a uma prova, mesmo que ilícita, tem sua imparcialidade prejudicada; 3- Adoção expressa do sistema acusatório no art. 3º-A CPP; 4- Vedação de cautelar de ofício pelo juiz. Art. 282 § 2º; 5- Vedação da prisão preventiva de oficio. 29 Princípio da publicidade A regra geral é a de que processo penal seja público, significando que as pessoas em geral poderão participar de audiências e etc. porém existem 2 exceções em que essa publicidade será restringida: 1- Necessidade de preservar a intimidade da vítima, em especial nos crimes contra a dignidade sexual para se evitar a chamada vitimização secundária, que é o sofrimento adicional provocado pelo escândalo no processo por parte do Estado e a vitimização terciária por parte da população em geral. Nessas hipóteses o processo será sigiloso. 2- Para preservar a ordem pública, nas hipóteses em que o crime teve muita repercussão e incidentes graves possam ocorrer. É óbvio que essa restrição à publicidade não poderá causar prejuízo ao direito público à informação. Portanto, em algumas hipóteses excepcionais o direito à intimidade e a ordem pública cedem espaço a outro direito que é o direito público à informação de que goza a sociedade. Como exemplo podemos citar os julgamentos de grande repercussão como o mensalão, lava-jato e etc. O segredo de justiça pode ser determinado tanto pela lei, especialmente nos crimes sexuais envolvendo crianças ou adolescentes, mas também poderá ser determinado judicialmente pelo juiz da causa quando entender ser imprescindível a decretação do sigilo. PEGADINHA: QUANDO HÁ INTERESSE PÚBLICO NA INFORMAÇÃO ELE DEVE PREVALECER SOBRE O DIREITO À INTIMIDADE. 30 JURISPRUDÊNCIA: SÚMULA VINCULANTE 14 STF : É DIREITO DO DEFENSOR, NO INTERESSE DO REPRESENTADO, TER ACESSO AMPLO AOS ELEMENTOS DE PROVA QUE, JÁ DOCUMENTADOS EM PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO REALIZADO POR ÓRGÃO COM COMPETÊNCIA DE POLÍCIA JUDICIÁRIA, DIGAM RESPEITO AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA. PEGADINHA: ATENÇÃO QUANTO A ESSA SÚMULA, POIS O DEFENSOR SÓ TERÁ ACESSO AOS DOCUMENTOS E DILIGÊNCIAS QUE JÁ FORAM DOCUMENTADOS, OU SEJA, JÁ ENCERRADOS. AS DILIGÊNCIAS AINDA EM ANDAMENTO, TAIS COMO INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS OU PEDIDOS DE PRISÃO CAUTE- LAR, NÃO PODERÃO SER ACESSADAS PELO DEFENSOR. PEGADINHA: INCOMUNICABILIDADE DO PRESO O PRESO PODERÁ FICAR INCOMUNICÁVEL DURANTE AS INVESTIGAÇÕES? CUIDADO, POIS, EMBORA O CPP AINDA TENHA DISPOSITIVO LEGAL AU- TORIZANDO A INCOMUNICABILIDADE DO PRESO (ART. 21 CPP), ESSE DISPOSITIVO NÃO É MAIS APLICÁVEL POR NÃO TER SIDO RECEPCIONADO PELA CF/88. PEGADINHA: SE O DELEGADO NEGAR AO DEFENSOR O ACESSO AOS AUTOS DO INQUÉ- RITO, COMETERÁ CRIME? SIM, ESTÁ PREVISTO NO ART. 32 DA NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE. ART. 32. NEGAR AO INTERESSADO, SEU DEFENSOR OU ADVOGADO A- CESSO AOS AUTOS DE INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR, AO TERMO CIRCUNS- TANCIADO, AO INQUÉRITO OU A QUALQUER OUTRO PROCEDIMENTO IN- VESTIGATÓRIO DE INFRAÇÃO PENAL, CIVIL OU ADMINISTRATIVA, ASSIM COMO IMPEDIR A OBTENÇÃO DE CÓPIAS, RESSALVADO O ACESSO A PE- ÇAS RELATIVAS A DILIGÊNCIAS EM CURSO, OU QUE INDIQUEM A REALI- ZAÇÃO DE DILIGÊNCIAS FUTURAS, CUJO SIGILO SEJA IMPRESCINDÍVEL: PENA - DETENÇÃO, DE 6 (SEIS) MESES A 2 (DOIS) ANOS, E MULTA. 31 Referências: 1- COSTA, Adriano Souza; HOFFMANN, Henrique. O Advogado é importante no Inquérito, mas não obrigatório. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2016-jan- 14/advogado-importante-inquerito-policial-nao-obrigatorio. Consulta em 20/06/2020; 2- BARDARÓ, Gustavo; Ônus da prova no Processo Penal. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 283; 3- BRASILEIRO, Renato; Manual de Processo Penal. Salvador: Juspodvm, 2020, p. 679. 4- STJ HC 366.639/SP/2017 E STJ HC 388.640/SP /2017; 5- CESPE – TJPA – JUIZ DE DIREITO – 2019; 6- FEITOZA, Denilson. Reforma Processual Penal. Niterói, Rio de Janeiro: Impetus, 2008, p. 33. 7- NUCCI, Guilherme de Souza. Provas no Processo Penal. São Paulo: RT, 2009, p. 25. 8- https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1302200310.htm https://www.conjur.com.br/2016-jan-14/advogado-importante-inquerito-policial-nao-obrigatorio https://www.conjur.com.br/2016-jan-14/advogado-importante-inquerito-policial-nao-obrigatorio
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