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Indaial – 2020 Fundamentos da PsicoPedagogia Prof.a Jacqueline Leire Roepke 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.a Jacqueline Leire Roepke Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: R716f Roepke, Jacqueline Leire Fundamentos da psicopedagogia. / Jacqueline Leire Roepke. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 253 p.; il. ISBN 978-65-5663-036-6 1. Psicopedagogia. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 370.15 III aPresentação Prezado acadêmico! Inicialmente, já queremos deixar registrada a alegria que estamos sentindo por fazer parte da sua formação acadêmica! Além disso, ficamos extremamente felizes por saber que mais pessoas estão ingressando no campo de estudos e de trabalho relacionado à psicopedagogia! Sinta-se afavelmente acolhido! Este livro didático apresenta algumas temáticas atinentes à psicopedagogia, sobretudo no que se refere aos fundamentos dela, os primórdios dos estudos e atuação. Os conteúdos que reunimos aqui têm por intuito subsidiar a construção do conhecimento sobre a psicopedagogia, por meio do seu contato com informações e suscitar constatações, descobertas, ponderações, reflexões acerca da aprendizagem humana. Esse livro didático está subdividido em três unidades. Na primeira, você encontra os alicerces da psicopedagogia, e terá oportunidade de conhecer partes da história que antecederam a criação da psicopedagogia. Inclusive, poderá acompanhar trechos da sua formulação e o início do seu desenvolvimento. Na segunda unidade, você encontrará conteúdos sobre a psicopedagogia no Brasil, as teorias e aspectos epistemológicos da psicopedagogia. Por fim, a Unidade 3 apresenta aspectos da atuação do psicopedagogo, tais como, questões metodológicas e abordagens para a prática desse profissional. Desejamos que a leitura deste material gere incontáveis reflexões e que seja contributiva ao seu processo de aprendizagem! Bons estudos! Prof.a Jacqueline Leire Roepke P.S.: Apesar desse material autoinstrucional ter sido organizado por uma única professora, ela optou por utilizar a primeira pessoa do plural (nós) porque até chegar nas suas mãos, acadêmico, esse material passou por várias outras (revisores de conteúdo, revisores de língua portuguesa, diagramadores, etc). Ele é fruto, portanto, de um trabalho em grupo, cooperativo. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE VII UNIDADE 1 – ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA ......................................................................1 TÓPICO 1 – PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA .........................................................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 O COMEÇO ............................................................................................................................................4 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................31 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................32 TÓPICO 2 – ESCOLAS, APRENDIZAGEM, PEDAGOGIA, PSICOLOGIA... EIS A PSICOPEDAGOGIA ...........................................................................................35 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................35 2 ESCOLAS, APRENDIZAGEM, PEDAGOGIA E PSICOLOGIA ................................................36 3 EIS QUE SE FEZ A PSICOPEDAGOGIA ........................................................................................41 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................46 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................47 TÓPICO 3 – INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS DA PSICOPEDAGOGIA ........................................49 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................49 2 CONCEPÇÕES E TEORIAS QUE FUNDAMENTA(RA)M A PSICOPEDAGOGIA........................ 49 3 A HERANÇA ARGENTINA ...............................................................................................................66 4 LIGANDO OS PONTOS À PSICOPEDAGOGIA .........................................................................70 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................72 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................79 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................80 UNIDADE 2 – PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL ...........................................................................81 TÓPICO 1 – A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL ............................................................................83 1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................83 2 A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL ................................................................................................84 3 DOCUMENTOS SOBRE A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO BRASIL .....................88 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................107 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................108 TÓPICO 2 – BASES TEÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA ....................... 111 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................111 2 OBJETOS DE ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA ......................................................................112 3 BASES TEÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA .................................113 4 O NÃO APRENDER SOB A PERSPECTIVA DE PIAGET .........................................................124 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................129 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................130 sumário VIII TÓPICO 3 – ENFOQUES RECENTES EM PSICOPEDAGOGIA ................................................132 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................132 2 APRENDER ..........................................................................................................................................133 3 ENSINAR .............................................................................................................................................141 4 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ......................................................................................143 5 REMATES REFLEXIVOS .................................................................................................................145 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................149 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................161 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................162 UNIDADE 3 – ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA ....................................................................165 TÓPICO 1 – ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO .........................................................................167 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................167 2 CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DO PSICOPEDAGOGO .......................................................168 3 LOCAL DE ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO .......................................................................172 4 PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA .......................................................................................................176 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................186 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................187 TÓPICO 2 – MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS EDUCACIONAIS ................................................................................189 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................189 2 A ATUAÇÃO DO PSICOPEDOGOGO EM AMBIENTES EDUCACIONAIS .......................190 3 AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA (DIAGNÓSTICA) INSTITUCIONAL EM AMBIENTES EDUCATIVOS ............................................................................................................194 4 UM OLHAR PARA AS FAMÍLIAS..................................................................................................195 5 UM OLHAR SOBRE/PARA A CRIANÇA......................................................................................196 6 UM OLHAR SOBRE/PARA ADOLESCENTES ............................................................................201 7 UM OLHAR SOBRE/PARA ADULTOS .........................................................................................204 8 REFLEXÕES SOBRE A PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL EM ÂMBITO EDUCACIONAL .................................................................................................................................206 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................208 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................209 TÓPICO 3 – MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS INSTITUCIONAIS ..............................................................................211 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................211 2 PSICOPEDAGOGIA ORGANIZACIONAL – EMPRESARIAL ..............................................212 3 PSICOPEDAGOGIA EM HOSPITAIS ...........................................................................................217 4 INSTITUIÇÕES ASILARES, CASAS DE REPOUSO, LAR PARA IDOSOS, GRUPOS DE IDOSOS .......................................................................................................................221 5 EPÍLOGO E REFLEXÕES .................................................................................................................223 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................226 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................238 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................239 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................242 1 UNIDADE 1 ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • relembrar alguns momentos da história da humanidade, com vistas aos processos educativos e de aprendizagem; • perceber como os processos de aprendizagem foram mudando ao passar da história; • identificar alguns fatos históricos que determinaram mudanças no processo educativo; • depreender do contexto que desencadeou a invenção das escolas; • entender os contextos das sociedades que antecederam e determinaram a formulação da Psicopedagogia; • conhecer o percurso histórico da psicopedagogia, que culmina na Revolução Científica; • compreender o processo de construção da psicopedagogia; • discutir a contribuição de outras áreas para o desenvolvimento da psicopedagogia e do psicopedagogo. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA TÓPICO 2 – ESCOLAS, APRENDIZAGEM, PEDAGOGIA, PSICOLOGIA... EIS A PSICOPEDAGOGIA TÓPICO 3 – INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS DA PSICOPEDAGOGIA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procureum ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA 1 INTRODUÇÃO Frequentemente, a psicopedagogia tem sido associada à aprendizagem. Você já se perguntou por que ela foi formulada? Por quem? Para quê? Onde? Em que período da história? Quais são as origens da psicopedagogia? Quais foram os fenômenos que demandaram a formulação desse campo do conhecimento e área de atuação? Como ela foi sendo constituída até atingir o patamar atual? A psicopedagogia foi formada em determinados contextos históricos, sociais, culturais, econômicos e políticos. As concepções e teorias nas quais a psicopedagogia foi se apoiando também expressam aspectos e formas de pensar daquele período. Se a psicopedagogia está relacionada à aprendizagem, pode-se supor que ela foi tecida no intuito de compreender como acontece o processo de aprendizagem. Ela foi estruturada a fim de identificar os fatores que contribuem e os que dificultam esse processo. Seria possível intervir no processo de aprendizagem, com o intuito de melhorá-lo? Desse modo, pode-se imaginar que foram inúmeros casos de dificuldades de aprendizagem que geraram as condições para que algumas pessoas começassem a se preocupar com essa onda de fracasso escolar, e que se propuseram a buscar compreender esse contexto, e a procurar oferecer auxílio tanto para os profissionais que lidam com a aprendizagem quanto para as pessoas que estavam com dificuldades de aprender. Nosso itinerário envolve algumas conjunturas históricas que contribuíram para a criação e elaboração da psicopedagogia. Entre elas, destaca-se o fracasso escolar. Aliás, será que o próprio fenômeno do fracasso escolar não seria resultado por determinadas conjunturas históricas? Então vamos iniciar nossa jornada por esse percurso histórico? UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA 4 2 O COMEÇO A aprendizagem faz parte do cotidiano dos seres humanos. Sejam eles de sociedades onde a escrita impera, ou nas sociedades ágrafas, onde não há escrita pois a aprendizagem não diz respeito, apenas, a conteúdos formais e escolares. Independente do período histórico ou da localização geográfica em que vivem os seres humanos, eles se deparam com situações que necessitam aprender, para preservar a sua vida e para se desenvolverem. A aprendizagem é inerente aos humanos, pois, até mesmo nossas necessidades mais básicas requerem aprendizado. Por exemplo, a ingestão de água e de alimento é essencial para a sobrevivência humana. As pessoas precisam, obrigatoriamente, aprender a encontrar água e comida. Durante os primeiros meses de vida, o bebê aprende como fazer para que alguém dê água ou comida para ele. Ou seja, para que determinadas aprendizagens ocorram, as pessoas precisam, também, umas das outras para que alguns conhecimentos sejam repassados de geração a geração, como a linguagem, por exemplo. Desde pequenos, nós precisamos aprender formas de chamar a atenção dos adultos para obter alimento. Em muitas espécies de animais, isso não acontece. Afinal, boa parte dos animais já nasce equipado com instintos e de condições para ir atrás da comida. Por exemplo, inúmeros animais já conseguem caminhar sozinho, assim que vêm ao mundo, e existem animais que não vivem em grupo, bandos, e passam boa parte da vida vivendo independentemente dos outros animais da mesma espécie. Desta maneira, já que nós – os humanos – não nascemos prontos para encarar a vida de modo autônomo, precisamos que alguém cuide de nós com significativa dedicação nos primeiros meses de vida. Mesmo na fase adulta, ou na velhice permanecemos dependentes uns dos outros. Certamente, você ouviu a permissa aristotélica de que o homem é um ser social. Um filme que pode ajudá-lo a perceber a dependência entre os humanos, é "O Cubo”, de 1997. Esse filme está sendo recomendado, pois retrata um período de convivência de um grupo de pessoas que se encontra dentro de um ambiente desconhecido – o cubo. As pessoas que integram esse grupo apresentam, históricos de vida singulares, diferentes profissões e distintas habilidades. O desafio é conseguir sair vivo desse cubo gigante. Assim, emergem discordâncias e concordâncias entre eles sobre a busca de soluções e explicações para a circunstância. Os conflitos levam a alguns a tentarem seguir a jornada sozinhos. O filme ainda incita reflexões sobre preconceito, pois um dos personagens é julgado por parte dos integrantes da trama, como inútil, já que aparenta ter alguma deficiência intelectual. Ao assistir ao filme, esteja atento aos processos de aprendizagem. Quem são as pessoas DICAS TÓPICO 1 | PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA 5 que ensinam ali? Quais são as pessoas que aprendem? Quais aprendizagens estão se processando, além de aprender a conviver? Mas antes de pressionar o botão ou ícone de play, atenção! Trata-se de um filme que mescla os gêneros fantasia, terror, horror, suspense e ficção científica, portanto, não é recomendado assistir na companhia de crianças. Esse filme foi dirigido por Vincenzo Natali. CAPA DO FILME “O CUBO” FONTE: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-9348/>. Acesso em: 23 out. 2019. O ser humano também é um ser que necessariamente precisa aprender. Voltando ao exemplo da alimentação, todas pessoas precisam aprender a achar líquidos e substâncias comestíveis, identificar quais pode ingerir ou não, que utensílios precisará para alcançá-las e degustá-las. Se ela quiser sofisticar o cardápio, precisará descobrir quais são os alimentos que podem ser combinados para criar novos sabores. Convém mencionar que no filme que acabou de ser sugerido, há uma cena em que os personagens tentam encontrar soluções para a sede. Supostamente, as aprendizagens sobre a alimentação eram as que mais preocupavam os primeiros agrupamentos de seres humanos. Eles também precisavam aprender a se defender dos animais predadores, dos animais venenosos, das intempéries do tempo (ventanias, trovoadas, raios, seca, frio etc.). Em algum momento desse período, provavelmente, os seres humanos passaram a refletir sobre os grupos e as sociedades em que viviam. A título de ilustração, pode-se recorrer a dois filmes. O primeiro deles se chama “O cubo”. Diz respeito a um grupo de pessoas que se encontra enclausurada em um local até então desconhecido para elas. Sem demora, os integrantes começam a levantar questionamentos sobre os motivos e finalidades pelos quais estavam no mesmo local, ao mesmo tempo. UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA 6 Durante a leitura que você vem fazendo até aqui, é possível que tenha se perguntado de que aprendizagem estamos falando, ou melhor, qual é a nossa concepção sobre o fenômeno da aprendizagem humana. Ao falar sobre psicopedagogia é indispensável falar também sobre aprendizagem. Na continuidade de suas leituras do livro desta disciplina, essa relação ficará mais evidente. Por enquanto, vale recordar que aprendizagem é um complexo processo que envolve a construção do conhecimento (NATEL; TARCIA; SIGULEM, 2013). Destarte, para aprender desenvolvemos e acionamos o sistema cognitivo que está vinculado com o pensamento, a inteligência, a percepção, a memória. Para acontecer a aprendizagem, precisamos obrigatoriamente de mediação – que alguém ou algo nos leve a pensar, refletir. Então, aprender é um processo cooperativo, coletivo. Mesmo quando achamos que aprendemos algo sozinhos, se analisarmos bem a situação, veremos que algum escrito, ou diálogo, ou modelo, ou no mínimo alguma situação instigadora fez parte do processo. Provavelmente, você já tenha se perguntando se a aprendizagem nasce conosco ou não. Nas próximas unidades voltaremos a refletir sobre isso. Por enquanto é suficiente que você esteja se perguntando se a aprendizagem é inata ou construída, se é um processo tão somente coletivo ou também individual,afinal, suposições, dúvidas e curiosidade fazem parte do aprender. Será que a sede e a fome são inatas? Será que a procura por bebida e comida é provocada por "instintos"? Será que a alimentação está mesmo relacionada com aprendizagens estimuladas no convívio com outros seres? Por que a escritora desse livro trouxe um exemplo tão primitivo – relacionado à fome? ATENCAO Estamos refletindo sobre aprendizagem e alimentação, porque isso faz parte da vida humana, desde os primórdios da humanidade. Ainda que os primeiros seres humanos precisassem aprender coisas que hoje caíram em desuso para nós, por conta da evolução da sociedade, e que nós estejamos aprendendo coisas que nem sequer passavam pela imaginação dos primeiros seres humanos, a alimentação corresponde a uma aprendizagem que vem se perpetuando, já que continua ligada à sobrevivência das pessoas e da espécie. A título de exemplo do que está sendo apresentado até aqui, é conveniente citar mais uma produção cinematográfica. Trata-se do filme intitulado “Os Croods”, lançado em 2013 e dirigido por Chris Sanders e Kirk De Micco. Conta a história de uma família que vive na fase pré-histórica e precisa aprender usar estratégias para sobreviver, tais como, se proteger dos animais predadores, caçar TÓPICO 1 | PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA 7 para se alimentar etc. Nas primeiras cenas do filme, encontra-se uma narração feita pela personagem chamada Eep, na qual ela expressa reflexões sobre o funcionamento de sua família, e de outras famílias que ela conheceu. Sugerimos a apreciação do filme para que você possa ter mais elementos para realizar suas ponderações e reflexões sobre o que temos apresentado até aqui. CAPA DO FILME “OS CROODS”. DICAS É evidente que por se tratar de uma produção cujo gênero é mescla animação, aventura e comédia, não se pode levar o filme como uma referência acadêmica tradicional para estudar fenômenos como a aprendizagem. Contudo, esse tipo de filmes podem ser úteis como um exercício de pensamento e correspondência com o conteúdo aqui estudado, no intuito de ajudá-lo a imaginar e a fazer suposições sobre os primeiros processos reflexivos que os grupos humanos foram desenvolvendo acerca de si próprios. Como mostra o filme "Os Croods", lá no começo da história da humanidade, os fenômenos sociais eram explicados por meio da imaginação, da fantasia, da especulação e por meio de mitos. FONTE: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-146916/>. Acesso em: 23 out. 2019. UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA 8 Deixamos como sugestão de leitura o livro “Sapiens: uma breve história da humanidade”, escrito por Yuval Noah Harari, considerado referência essencial para esta discussão. Em 2017 já existiam mais de vinte e duas edições desse livro aqui no Brasil. DICAS Vale lembrar que, ainda hoje, existem tribos e outros grupos que vivem em situações similares a estas. Ou seja, que permanecem sem a utilização da escrita, e com explicações sobre a natureza e sobre a vida, baseadas em mitos, lendas, ou de fontes imaginativas. Muitos grupos humanos, com ou sem o vasto emprego da escrita, permanecem cultivando e difundindo crenças, que podem ser diferentes das nossas. E mesmo para nós, tanto para aprender, quanto para compreendermos fenômenos sociais, são bem-vindos os mitos, a imaginação, a fantasia, e as metáforas em acréscimo às teorias ditas científicas. Diversas sociedades, como as mesopotâmicas, a egípcia, a indiana, a chinesa, a hebraica, a fenícia, a persa e, depois, a grega, a romana, a germânica etc, estruturaram suas crenças, seja em um conjunto de mitos que influenciavam diretamente a vida cotidiana, seja em religiões, estas igualmente influentes na prática diária. Também surgiram filosofias de vida, como o humanismo, o estoicismo, o materialismo histórico etc. Entre as religiões, atualmente se destacam, além do hinduísmo, as três religiões abraâmicas/monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo. Consequentemente, podemos refletir, assim, como cada sociedade e/ou tempo histórico há crenças arraigadas e como estas crenças ajudam na constituição e construção dos sujeitos de formas diversas. E mais do que isso: as crenças atingem a forma pela qual as pessoas interpretam e lidam com os fenômenos que percebem. Como exemplo, na sequência, você perceberá como as explicações e "tentativas de intervenção" para as dificuldades de aprendizagem, se davam mescladas aos mitos ou crenças em uma parte da história da humanidade. IMPORTANT E Na medida em que os seres humanos foram se desenvolvendo como um todo, inclusive no que tange as suas habilidades cognitivas, foram criando artefatos, objetos, novas formas de levar a vida. Deixaram o nomadismo para viver em moradias relativamente fixas. Quanto mais coisas eles foram inventando, mais coisas precisavam aprender, tanto para utilizá-las, quanto para melhorá- TÓPICO 1 | PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA 9 las. Assim, quanto mais informações as pessoas foram precisando apropriar, passaram a contar com novos e diversificados provedores dessas informações. O processo de aprendizagem foi se tornando mais complexo. O domínio de novas técnicas alterou a forma dos seres humanos construírem suas moradias, de cultivar a terra, plantar, colher, de buscar formas mais confortáveis ou duráveis de vestimenta. Em determinado momento passaram a estocar alimentos, em vez de se preocuparem com o alimento diário ou de consumo em curto tempo. Descobriram que não era todo o solo que produzia igualmente os mesmos cereais (arroz, trigo e cevada) vegetais, tubérculos etc. Ou que não eram todos os grupos que detinham as mesmas habilidades de agricultura. Assim, passaram a trocar alimentos e outras mercadorias. A “descoberta” da agricultura foi essencial para o início de uma forma de vida sedentária, do aumento populacional, de novas formas de organização social/de governo. EXEMPLO ILUSTRATIVO DE AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA FONTE: <https://alimentacaoemfoco.org.br/agricultura-familiar-e-essencial-para- seguranca-alimentar/>. Acesso em: 24 out. 2019. NOTA Essa fase pode caracterizar a Antiguidade, a Idade Média, e até mesmo, o início da Idade Moderna. Afinal, os habitantes do globo terrestre não foram todos seguindo a mesma trajetória de desenvolvimento ao mesmo tempo. Mas essas condições parecem caracterizar períodos em que religião e filosofia que dominavam a condução das reflexões sobre os fenômenos sociais. Ao longo de considerável parte da história da humanidade, existiu direta ligação entre Igreja e Estado em vários momentos. Religião e filosofia buscavam explicar a sociedade e procuravam melhorá-la por meio dos seus princípios. Alguns pensadores de destaque dessas épocas foram respectivamente: Platão, Aristóteles, São Tomás de Aquino e Santo Agostinho. UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA 10 Mais especificamente relacionado à religião, pode-se dizer que um marco inicial para a relação entre Igreja e Estado foi a coroação de Carlos Magno no Natal de 800 pelo papa Leão III. Inclusive, esta permanece sendo a principal data do calendário cristão. Até a Reforma de Lutero (simbolizada pela data 31 de outubro de 1517, quando as teses dele foram fixadas na porta da Igreja) e as subsequentes, em muitos países a Igreja católica era hegemônica. Por exemplo, por volta do ano 1500, as pessoas dos países europeus costumavam ser religiosas, e até mesmo autoridades nacionais consultavam líderes da esfera religiosa/espiritual na busca da compreensão de problemas que despontavam, para obter orientações sobre a conduta (pessoal ou vinculada ao posto de liderança) e na tomada de decisões que precisavam realizar por conta do posto que ocupavam. É interessante salientar que neste período era comum que os líderes fossem justamente pessoas da igreja. ATENCAO Fazendo um paralelo com os dias de hoje, a maioria das pessoas tem precisado aprender muitomais do que formas de se alimentar e de se proteger das condições climáticas. E uma parcela das pessoas da atualidade não busca mais orientações apenas em fontes atreladas à esfera religiosa/espiritual. Portanto, há uma infinidade de quantidades de informações, e infinitas fontes para se obtê- las. Mesmo alguns séculos antes do nascimento de Jesus, já dizia o sábio, "Não há limite para a produção de livros, e estudar demais deixa exausto o corpo" (ECLESIASTES 12:12). Para compreender o grau de importância da religião e da fé entre os séculos XV e XVII, na Europa, você pode assistir ao filme Elizabeth – A era de ouro (2008), dirigido por Shekhar Kapur. O filme destaca que tanto o rei da Espanha (Felipe II), quanto a rainha da Inglaterra (Elizabeth I) demonstravam devoção a Deus, e norteavam suas ações conforme suas crenças (ele católico, e ela protestante). DICAS TÓPICO 1 | PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA 11 FILME ELIZABETH – A ERA DE OURO Até então, as pessoas ficavam grande parte do tempo em casa, ou nas redondezas da casa, pois os processos de produção de alimentos e de outros produtos eram feitos pelas famílias, no ambiente familiar. Por muitas e muitas décadas as pessoas viveram com a agricultura de subsistência e com o trabalho dos artesãos que moravam nas comunidades. Os moradores iam trocando produtos e prestação de serviços. Além das transformações e aprendizagens em volta da alimentação, as pessoas também foram acumulando novas necessidades de saberes, de aprendizados, em outros aspectos, como, por exemplo, da esfera do trabalho e das relações estabelecidas em meio às negociações de trocas de produtos e serviços. FIGURA 1 – EXEMPLO ILUSTRATIVO DE OFICINA DE ARTESÃOS DA IDADE MÉDIA FONTE: <http://ri.ues.edu.sv/18652/1/TRABAJO-FINAL-30-7-2018%20ultimo1.pdf>. Acesso em 18 out. 2019. FONTE: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-57349/fotos/ detalhe/?cmediafile=19966206>. Acesso em: 13 set. 2019. UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA 12 As formas de produzir alimentos e objetos foram sendo aperfeiçoadas, até que começaram a inventar máquinas e equipamentos para que os produtos fossem mais primorosos, ou que se levasse menos tempo para confeccioná-los. Ou seja, as formas de produção foram se intensificando para que a qualidade e a quantidade de itens produzidos aumentassem. As mudanças na produção de objetos, parecia prometer o aumento da qualidade dos produtos. Mas, será que a qualidade aumentou? Quando os produtos eram realizados de forma mais artesanal, um sapato, por exemplo, durava quase a vida inteira! A maioria dos produtos continua sendo produzida em grande quantidade, cada vez com o uso de mais máquinas e equipamentos. E como anda a durabilidade dos produtos nos dias atuais? Ou será que hoje a durabilidade menor é interessante para o sistema econômico, e aliado a ela, ainda é estimulada a compra de mais unidades? Muitas gerações de pessoas possuíam um par de calçados para as ocasiões em que a pessoa saía do moradia. Hoje, nossos calçados parecem gastar bem mais rápido, e não precisamos que eles se danifiquem para comprar um novo par de sapatos. Por que nos ensinaram que um par de calçados não basta? Como nós aprendemos isso? ATENCAO Voltando à história da invenção das primeiras fábricas, vale prestar atenção em todas as adequações que elas demandaram, como, a criação de novos meios de transporte para levar a matéria-prima às fábricas, e também, para levar os produtos finalizados aos pontos de venda. Também foram se ampliando as vias, ruas, ferrovias (trilhos de trens) para que os trabalhadores se deslocassem de suas casas até as fábricas. Pode-se dizer que a própria relação com a terra se altera. Já que até então era vista como a principal fonte de alimentos e a principal propriedade. FIGURA 2 – EXEMPLO ILUSTRATIVO DE SISTEMA FERROVIÁRIO FONTE: <http://www.estacoesferroviarias.com.br/efsc/fotos/riodosul-sd.jpg >. Acesso em: 19 out. 2019. TÓPICO 1 | PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA 13 Esse período da história em que houve uma verdadeira explosão de abertura de fábricas ficou conhecido como Revolução Industrial, e ela não acarretou apenas mudanças econômicas, mas também de ordem cultural, social, e de organização subjetiva das pessoas (NICOLACI-DA-COSTA, 2002). A Revolução Industrial desencadeou o surgimento de novas formas de sociedade, de subjetividades, de Estado e de pensamento. Antes disso, na Idade Média, eles viviam em casa, e trabalhavam no próprio lar sendo donos dos próprios instrumentos de trabalho e dos meios de produção. Eles aprendiam o ofício desde crianças, observando os adultos trabalhando, e ajudando-os pouco a pouco, até terem idade suficiente para vrealizarem todas as atividades de trabalho. A unidade de produção, portanto, era familiar, integrada ao sistema corporativo. Geralmente, trabalhavam numa oficina, onde desenvolviam um trabalho artesanal, sem muita sofisticação no processo produtivo. Neste contexto, o que era vendido não era a força de trabalho, e sim o produto do trabalho. Lembre-se de que na Idade Média, foram comuns as corporações de ofício. Procure imaginar como acontecia a relação entre mestre e aprendiz. Se a curiosidade crescer, que tal fazer algumas buscas sobre o tema na internet? NOTA Será que nessa época algumas pessoas apresentavam "dificuldades para aprender"? Possivelmente sim. No entanto, hipoteticamente, as famílias se organizavam de outros modos para lidar com tais dificuldades. Talvez, deixavam atividades mais fáceis para aqueles que demonstravam embaraços ao "tentar aprender". É pertinente considerarmos que a quantidade de coisas para aprender, era, supostamente menor do que nos dias atuais. Os professores eram os próprios pais ou outros familiares – que conheciam muito bem cada aprendiz. Esses professores tinham poucos aprendizes de cada vez, e este já era familiarizado com o produto que produziam e com o processo de manufatura, pois passou a vida toda vendo a família mexendo com isso. Todos esses fatores formam circunstâncias menos propensa ao aparecimento de "dificuldades de aprendizagem". Na verdade, soa estranho falar de dificuldade de aprendizagem em períodos tão remotos da história da humanidade. É bem provável que sempre existiram pessoas que pareciam não alcançar certos entendimentos. Contudo, tudo indica que a noção de "dificuldade de aprendizagem" foi sendo erigida na Idade Moderna, após a invenção da escola. UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA 14 Prezado acadêmico, a expressão "invenção da escola" lhe causa algum estranhamento? Nesse texto, optamos por utilizar esse verbo – inventar – no que tange às primeiras escolas, pois defendemos que as escolas não nasceram, nem surgiram por si sós. Houve um processo intencional por parte dos seres humanos para que essas instituições começassem a ser construídas. Existem mais estudiosos que têm adotado essa terminologia, tais como, Fusinato e Kraemer (2013, p. 21023): "Desde a invenção da escola, a noção de sujeito que transita por ela é a de sujeito universal". O mesmo argumento se dá pela preferência do uso das palavras "formulação" e "criação" da psicopedagogia. Pensamos que essas palavras passem uma impressão de que a escola, ou a psicopedagogia tivessem nascido, desabrochado, como se fossem processos naturalizados. ATENCAO Ou seja, na Idade Média, ou nos períodos que a antecederam, não se falava amplamente sobre dificuldades de aprendizagem. Isso não significa que todos aprendiam. Por exemplo, aqueles que apresentavam muita dificuldade para aprender e para interagir com as pessoas, ficavam isolados da vida social, muitas vezes, vivendo num quartinho no fundo da casa, tendo acesso ao mínimo de condições para sobreviver (alimentação e higiene). Por exemplo, as pessoas que apresentavam quadros sintomatológicos semelhantes à deficiência intelectual, estavam entre a parcela da população que eraprivada do convívio social. Ocorre que as pessoas viviam em agrupamentos menores, e cada família ou comunidade lidava de um jeito com as crianças ou adultos que pareciam ter impedimentos no processo de construção do conhecimento. Com a Revolução Industrial ocorreu o desenvolvimento fabril que culminou com a passagem da oficina artesanal para a manufatura, e posteriormente para a fábrica. Chegou um momento da História em que boa parte dos homens da Europa estava trabalhando nas fábricas. Eles se depararam com maquinários e artefatos que nunca tinham visto, e com várias especificidades do trabalho que desconheciam até ali. Esses equipamentos do ambiente de trabalho e a própria dinâmica da atividade profissional começou a demandar que os homens aprendessem coisas que eram totalmente novas para eles. Os três sistemas de produção são: artesanato, manufatura e maquinofatura. A Primeira Revolução Industrial iniciou-se com base na manufatura. ATENCAO TÓPICO 1 | PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA 15 FIGURA 3 – EXEMPLO ILUSTRATIVO DE FÁBRICA DA FASE DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL FONTE: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_ pde/2013/2013_fafipa_hist_pdp_marinalva_aparecida_consoli.pdf>. Acesso em: 14 out. 2019. Precisavam aprender como manusear as máquinas e ferramentas de trabalho, como lidar com a matéria-prima e como produzir objetos. Muitos desses objetos que eles faziam, eles também nunca tinham visto. Precisavam aprender, também, a se relacionar com um número bem maior de colegas de trabalho, e com as lideranças nas esferas profissionais. Já não podiam mais acordar e trabalhar quando bem quisessem, pois agora havia horários a cumprir. A maneira de se relacionar com o tempo se altera. Isso reflete, por exemplo, na forma utilizada para se anunciar a passagem do tempo. Na fase da Revolução Industrial, os relógios de bolso eram raramente utilizados, pois não eram acessíveis a toda população. Os relógios de pulso estavam longe de serem inventados ainda, e os de bolso só tinham como donos pessoas de posses. Até a Revolução Industrial as pessoas costumavam se orientar no tempo com o badalar dos sinos da igreja. A partir de então, o principal marcador de tempo passou a ser as sirenes das fábricas. IMPORTANT E Antes de seguirmos nesse percurso histórico, vamos voltar no tempo, para entender como a Revolução Industrial foi se estabelecendo? Note que este texto não está preocupado em apresentar o desenrolar dos fatos em ordem cronológica. Optamos por quebrar a sequência temporal justamente para intensificar os contrastes dos períodos históricos, e para acentuar que o legado deixado pelos períodos antecedentes influenciou as transformações dos períodos que vieram depois deles. De mais a mais, certamente com essa leitura você está reprisando conteúdos que acessou ao longo da sua vida, sobretudo na trajetória escolar. Talvez eles estejam mais condensados do que você estava acostumado a visualizar na escola. De qualquer modo, lembre-se de que o objetivo de traçar esse percurso histórico é dar subsídios para compreender os bastidores da formulação da UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA 16 psicopedagogia, bem como, seus fundamentos históricos. Para aqueles que estão sentindo necessidade de um auxílio para se situar no diferentes períodos, em termos cronológicos, segue um auxílio visual: FIGURA 4 – SEQUÊNCIA DOS PERÍODOS E MOVIMENTOS HISTÓRICOS FONTE: A autora Na Renascença, as reflexões sobre a sociedade e os fenômenos sociais, começavam a se distanciar da perspectiva mítica e religiosa, para passar a se configurar de modo mais racional. Alguns dos pensadores de destaque do Renascimento são: Nicolau Maquiavel, Tomás Morus, Tomaso Campanella e Francis Bacon. O quadro a seguir aponta atributos do Renascimento: Classicismo (Grécia e Roma) Humanismo Individualismo Hedonismo Racionalismo Cientificismo QUADRO 1 – CARACTERÍSTICAS DO RENASCIMENTO FONTE: A autora O Renascimento foi um movimento que marcou a transição da Idade Média para a Idade Moderna, da transição do feudalismo para o capitalismo. Trata-se de um movimento intelectual e artístico que gerou mudanças várias mudanças na Europa. Antiguidade Idade Média Renascimento Revolução Fransesa Revolução Industríal TÓPICO 1 | PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA 17 O século XVII foi o palco do Renascimento, um dos maiores movimentos culturais da história da humanidade, que representou uma época de enriquecimento do pensamento, aliado a uma transformação profunda da atitude espiritual do homem. A ânsia da descoberta e a paixão pelo mundo clássico puseram à disposição do homem culto as doutrinas dos filósofos gregos e orientais (VELLOSO, 2008, p. 1960). Uma transição cultural que teve a influência na política, na economia e na sociedade (SELL, 2001). O quadro a seguir sintetiza alguns dos intuitos do Renascimento: QUADRO 2 – LEGADO DO RENASCIMENTO Humanismo Acabar com a descentralização política Cessar a economia de subsistência Encerrar o teocentrismo Contribuir para a substituição do feudalismo pelo capitalismo Centralização política Absolutismo monárquico Expansão do comércio Mercantilismo Antropocentrismo Individualismo FONTE: A autora Atrelada à Renascença (entre o Século XIV e o Século XVI) emergiu a Revolução Científica (iniciou no Século XVI e prolongou-se até o Século XVIII). A Revolução Científica diz respeito ao período em que a ciência se distancia da religião, dos sistemas de crenças e da fé para construção de um conhecimento pautado em critérios da racionalidade. Alguns dos representantes da Revolução Científica são: Leonardo da Vinci (1452-1519), Nicolau Copérnico (1473-1543), Galileu Galilei (1564-1642), Johannes Kepler (1571-1630), René Descartes (1596-1650), Francis Bacon (1561- 1626), Isaac Newton (1643-1727) e Andreas Vesalius (1514-1564). Dessa lista, vale mencionar que o filósofo Bacon é considerado o pai do Método Científico – que seria uma nova forma de examinar a natureza. Esse método está presente em boa parte das pesquisas da psicopedagogia até nos dias atuais. Desta lista ainda há mais um representante que requer uma apresentação, até porque seu nome não é muito conhecido, se comparado aos outros sobre os quais são mais frequentemente citados nas salas de aula desde o ensino fundamental. Trata-se do médico, neuroanatomista e inovador renascentista – Andreas Vesalius. Considerando que a psicopedagogia da atualidade continua se balizando em estudos vinculados à anatomia, é interessante você ficar sabendo que: UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA 18 Andreas Vesalius (1514-1564) é considerado o Pai da Anatomia Moderna e um autêntico representante da Renascença. Seus estudos, baseados na dissecação de corpos humanos, diferiam dos de Galeno, que baseava seu trabalho em dissecação de animais, constituiu-se em um notável avanço científico. Reunindo ciência e arte, Vesalius associou-se a artistas da Renascença e valorizou as imagens do corpo humano em seu soberbo trabalho De Humani Corporis Fabrica. [...] esse extraordinário médico e anatomista da Renascença europeia, que fez uso do apelo estético para coligar texto e ilustração, ciência e arte. Suas realizações são realçadas, com atenção especial na neuroanatomia (GOMES, 2015, p. 155). No próximo tópico, você terá acesso a mais informações sobre os fundamentos da psicopedagogia, mais voltados à área da saúde, como a Medicina. ESTUDOS FU TUROS Estamos atentando para a Revolução Científica, porque ela dá alguns fundamentos à psicopedagogia. Por exemplo, a visão de homem, isto é, o modo pelo qual a psicopedagogia concebe o ser humano. A psicopedagogia possui uma compreensão racional do ser humano. Como você pode supor, a Revolução Científica também ajudou a fertilizar o campo social e político para outras revoluções, entre as quais, a Revolução Francesa. Essa revolução, consisteem um movimento histórico imprescindível para a formação das ciências humanas (sendo a psicopedagogia uma delas) foi a Revolução Francesa, que aconteceu entre 1789 e 1799. Trata-se da revolta que contou com a participação de camponeses, artesãos e burgueses que estavam descontentes com as condições de vida, com a crise econômica e com as desigualdades sociais. Um dos motivos que gerou a insatisfação do povo, foi a cobrança de vários impostos: para o governo sustentar o regime absolutista monárquico e os luxos exuberantes da corte do rei Luís XVI, os privilégios do clero da Igreja Católica, para os nobres, e imposto sobre o sal (essa última taxa se chamava de gabela). Além desses impostos, havia outros. Existiam taxas pagas em trabalho, como a Corveia relacionada à conservação das estradas e ao conserto de carruagens dos nobres. Apenas o povo pagava impostos e ocorriam aumentos sucessivos. TÓPICO 1 | PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA 19 Você já ouviu algumas dessas palavras: banal, banido ou banalidade? Sabe qual era o significado delas durante o feudalismo? Essas palavras estavam associadas a um encargo que o servo precisava pagar ao senhor feudal para ter o direito de utilizar os equipamentos (como o moinho, por exemplo), que pertenciam ao senhor feudal, para assim, poderem desempenhar suas atividades atinentes ao trabalho. NOTA Nas vésperas da Revolução Francesa, a França era um país agrário, que apresentava aumento populacional e assistia ao início da industrialização. A França vivia no regime monárquico absolutista. O rei da França estava se mostrando um péssimo administrador da economia do país. Ele monopolizava a administração, controlava os tribunais, e a dívida externa excedia o dobro do valor circulante. O rei ainda esbanjava luxo e tinha o poder de condenar quem bem quisesse à prisão sem julgamento. Bastava que ele ordenasse e os presos iam para a fortaleza da Bastilha, sem a menor necessidade de que fosse averiguado se a pessoa realmente cometeu um ato ilegal ou não. A população se sentia oprimida com tantos tributos e tarifas, o poder aquisitivo era baixíssimo. Havia fome, condições precárias de higiene, e recorrentes infestações de ratos. Muitos adoeciam e apresentavam corpos magros, porque os alimentos tinham preços inacessíveis. Enquanto isso, a realeza francesa ostentava inúmeras festas pomposas, nas quais as madames usavam vestidos caríssimos. Isso deixaria a população ainda mais inconformada e irritada. UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA 20 Você já percebeu que boa parte dos integrantes das famílias reais desse período exibia corpos hoje considerados obesos? Naquele tempo estar "acima do peso" era algo que conferia status. Afinal, a maioria era magra por não ter condições de comprar comida. Então, aqueles que tinham poder aquisitivo para comer, gostavam de ter uma aparência mais avantajada, para sinalizar que eram ricos. Na atualidade, algo que confere status na sociedade, por exemplo, é possuir carros e/ou roupas e/ou equipamentos de grife. Algumas pessoas fazem isso para passarem a impressão de que têm poder aquisitivo considerável. INTERESSA NTE REI LUÍS XVI FONTE: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-biografia- luis-xvi-revolucao-francesa.phtml>. Acesso em: 12 set. 2019. A burguesia estava se fortalecendo e tomou conhecimento da situação econômica delicada do país. Assim, procurou conscientizar a massa da população. Os filósofos iluministas foram os responsáveis por denunciar a gravidade da situação econômica do país para o povo. O padre Jean Meslier, Rousseau, Montesquieu e Voltaire foram destacáveis iluministas. O rei Luís XVI manteve seu poder sobre a França no início da revolução francesa, até ser deposto em 1792. Foi guilhotinado no ano seguinte. Frequentemente as pessoas dizem que o povo não tem poder nenhum. A Revolução Francesa é um exemplo de que o povo não era insignificante. Além do mais, a Revolução Francesa também mostra os efeitos da atuação dos filósofos iluministas. Nas aulas de filosofia, às vezes, os jovens pensam que os filósofos não têm uma funcionalidade, porque "só filosofam" e não fazem nada de prático. A Revolução Francesa é um exemplo de que o produto da reflexão dos filósofos também é útil. Afinal, a união entre os atos dos filósofos e do povo foi determinante para acabar com o sistema de governo absolutista monárquico – no qual o rei detinha praticamente todo o poder. INTERESSA NTE TÓPICO 1 | PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA 21 Assim, o lema da Revolução se tornou "liberdade, igualdade e fraternidade". O lema, de inspiração iluminista, também fundamentou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (aprovada em 26 de agosto de 1789), que defendia o direito à liberdade, à igualdade perante a lei, à inviolabilidade da propriedade e o direito de resistir à opressão. QUADRO 3 – LEGADO DA REVOLUÇÃO FRANCESA Abalou o absolutismo monárquico em toda a Europa. Superação das instituições feudais do antigo regime. Tomada do poder pela burguesia. Muitas pessoas são executadas na guilhotina, entre elas o rei. Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Preparação para o despontar do capitalismo industrial. FONTE: A autora Seguem algumas sugestões de leitura sobre Revolução Francesa, para você aprofundar seus conhecimentos sobre essa época revolucionária da História: • ARRUDA, José Jobson de; PILETTI, Nelson. Toda a história: história geral e história do Brasil. 7. ed. São Paulo: Ática, 1997. • GRESPAN, Jorge. Revolução francesa e iluminismo. São Paulo: Contexto, 2003. • HILLS, Ken. A Revolução Francesa. Tradução e adaptação Jayme Brener. 4.ed. São Paulo: Ática, 1994. • MANFRED, A. Z. A concepção materialista da Revolução Francesa. Tradução: Maria Luisa Borges. 2. ed. São Paulo: Global, 1989. • VOVELLE, Michel. A Revolução Francesa explicada à minha neta. Tradução de Fernando Santos. São Paulo: UNESP, 2007. DICAS A Revolução Francesa gerou as conjecturas necessárias para que o capitalismo industrial eclodisse. Com a Revolução Industrial, as forças produtivas (indústria) provocam uma gigantesca transformação nas relações de produção. Despontam, assim, novas classes sociais: a burguesia e o proletariado. É bem verdade que inúmeras novas indústrias surgiram nessa fase, mas também, aconteceu a aplicação de novos métodos a velhas indústrias, além da descoberta e aplicação de novas técnicas. UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA 22 Se você prefere produções cinematográficas para incrementar seu processo de aprendizagem, seguem algumas sugestões para ampliar sua compreensão sobre a Revolução Francesa: DICAS SUGESTÕES DE FILMES SOBRE REVOLUÇÃO FRANCESA Título do Filme Ano Gênero Duração Direção Maria Antonieta 1938 Drama/Obra de Época 2 horas e 40 min W. S. Van Dyke, Julien Duvivier A Queda da Bastilha A Tale of Two Cities 1980 Drama 202 min Jim Goddard Danton – O Processo da Revolução 1983 Drama/Ficção his- tórica 2 horas e 16 min Andrzej Wajda La Revolution Française 1989 Drama/Thriller 6 horas Robert Enri- co, Richard T. Heffron Caindo no Ridículo – Ri- dicule 1996 Drama/Romance 1 hora e 43 min Patrice Leconte Maria Antonieta 2006 Drama/Romance 2 horas e 7 min Sofia Coppola Adeus, Minha Rainha 2012 Drama/Romance 1 hora e 40 min Benoît Jacquot A Revolução em Paris 2019 Drama, Histórico 2 horas e 2 min Pierre Schoeller FONTE: A autora Como você pôde observar, a Revolução Francesa teve significativo derramamento de sangue, e muitas pessoas foram degoladas, já que a guilhotina foi bastante utilizada na época. Talvez essa época tenha servido de inspiração para o escritor Lewis Carroll, que viveu entre 1832-1898 em sua obra "Alice no País das Maravilhas" utilizar repetidas vezes a expressão "Cortem as cabeças!", na voz da personagem Rainha Vermelha. TÓPICO 1 | PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA23 A Revolução Industrial, por sua vez, não teve guerras, batalhas, nem muito derramamento de sangue. A Revolução Industrial ficou conhecida como um fenômeno essencialmente comercial. Ela foi antecedida e acompanhada pela expansão do comércio de do crédito. A elevada expectativa de lucro ofereceu forte incentivo à Revolução Industrial. A expressão Revolução Industrial é usualmente empregada para assinalar mudanças sociais e econômicas que marcam a transição de um modo de vida centrado em atividades estáveis na agricultura e no comércio, para um outro centrado na velocidade das descobertas mecânicas e no emprego de máquinas complexas em amplas instalações fabris, submetendo o campo à cidade. Esse período está compreendido entre as metades dos Séculos XVIII e XIX (SOUZA; OLIVEIRA, 2006, p. 64). Assim, a Revolução Industrial é resultado de um lento processo. Trata- se de uma revolução que levou cerca de um século. A crise do sistema feudal favoreceu a consolidação do modo de produção capitalista. Isso levou à instauração de um sistema econômico-social, com sua forma peculiar de Estado e ideologia específica. A redistribuição da riqueza e do poder sucedeu inicialmente entre os países da Europa, como prova o declínio relativo da hegemonia da França, e depois entre outros países do mundo. O deslocamento da manufatura para as fábricas, gerados pela Revolução Industrial não foi uniforme em todas as regiões, na mesma época. Também não atingiu todos os setores de uma só vez. A Revolução Industrial não foi acompanhada de guerras, profundos conflitos ou tensões sociais sanguinolentas. Porém ela é considerada uma revolução, em virtude de equivaler a uma transformação de pensamentos, ideias e paradigmas. E também modificou radicalmente a estrutura social em que a maior parte da população, até então rural, foi pressionada a migrar para as cidades para garantir condições mínimas de subsistência e, com isto, inúmeros ‘problemas urbanos’, como o crescimento da violência, por exemplo. Ademais, com esta mudança também se modificam as formas de obter comida, conviver em sociedade e são requeridos outros tipos de aquisição de aprendizagem. Afinal, a ideia de um comércio mais ou menos determinado, dirigido pelo Estado foi sendo paulatinamente substituída pela ideia do progresso ilimitado numa economia livre e expansionista. O comércio com o estrangeiro ampliou os horizontes humanos e a ciência a sua concepção do universo. A riqueza das nações inspirou novas atitudes. UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA 24 FIGURA 5 – A REVOLUÇÃO NÃO SANGRENTA FONTE: A autora Porém, não é por conta da ausência de sangue sendo derramado em quantidade expressiva que essa Revolução foi isenta de tensões sociais. Vale lembrar que é justamente na Revolução Industrial que surgem duas classes sociais que se opõem, a burguesia e o proletariado. Para saber mais sobre a Revolução Industrial, sugere-se assistir à produção cinematográfica "Tempos Modernos", de Charlie Chaplin – 1936 – EUA. DICAS Transformações econômicas Transformações Sociais Tranformações nos transportes Transformações tecnológicas Ocorreram concomitantemente inter-relacionando-se ganhando, assim, aspecto revolucionario TÓPICO 1 | PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA 25 CARLITOS EM TEMPOS MODERNOS FONTE: <https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/e-preciso-transformar-os- carlitos/>. Acesso em: 24 out. 2019. O filme mostra como era a rotina dos operários nas indústrias, o que era algo totalmente novo à realidade deles. QUADRO 4 – CARACTERÍSTICAS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Urbanização rápida e intensa. Progresso das regiões industriais em relação às rurais. Incremento do comércio interno e internacional. Aperfeiçoamento de meios de transporte. Crescimento demográfico. FONTE: A autora Ao observar o quadro, é notório que a Revolução Industrial não mudou apenas a economia. De fato, mais produtos foram produzidos. Uma quantidade muito maior de produtos passou subitamente a circular entre os consumidores. Isso fez com que surgissem novas formas de trabalho, e o deslocamento da população para a área mais citadina, isto é, para as regiões que já tinham perdido boa parte das características da paisagem rural e do modo de vida que a envolvia. Entretanto, essa urbanização rápida e intensa deu lugar a uma infinidade de problemas até então desconhecidos, por exemplo, o contágio de doenças por quantidades representativas da população. Até então, as pessoas moravam a certa distância entre cada moradia, e os contatos com outras pessoas eram restritos. Com a urbanização e o êxodo rural, as pessoas vivem em agrupamentos com maior proximidade, o que favoreceu a transmissão de doenças. Até porque não havia saneamento básico, o acesso aos medicamentos era restrito, bem como à água potável. UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA 26 De mais a mais, já não havia terra disponível para que todas as famílias vivessem da agricultura de subsistência. Os alimentos começaram a ser comprados em vez de serem preparados nas próprias casas (com ingredientes que vinham da própria plantação, como acontecia antes do êxodo rural). A crise econômica gerou dificuldades de adquirir alimentos, e os famintos se multiplicavam. Além do mais, muitas mulheres começaram a trabalhar nas fábricas, pois, a industrialização se estendeu praticamente por todo o mundo ocidental. Então a sociedade se viu com inúmeras novas necessidades. Como ensinar as pessoas a se transformarem em operários? Como elas podem aprender a usar os equipamentos de trabalho? Como elas podem aprender a diminuir os desperdícios no processo de produção? Como elas podem ficar mais disciplinadas e colaborativas com as ordens dos líderes? E se tantos adultos passam a maior parte do tempo nas fábricas, quem cuidará das crianças? Onde as crianças ficarão enquanto os pais trabalham? Essas perguntas começaram a emergir por volta do Século XIX, na Europa. Mas, com o passar do tempo a revolução espalhou-se para o centro-oeste da Europa e também para os Estados Unidos. Em meio à Revolução Francesa e à Revolução Industrial, iniciam as reflexões de teor científico e a partir daí elas aumentaram progressivamente. Alguns pensadores que se destacaram no âmbito inicial da ciência foram Giambattista Vico, Jean-Jacques Rousseau, Augusto Comte, Herbert Spencer, Gabriel Tarde, Émile Durkheim, Max Weber, Karl Marx, entre outros. As premissas da ciência se pautavam na ideia de que a sociedade se sujeita a leis definidas, que podem ser identificadas pela observação objetiva. Paulatinamente, a investigação dos fenômenos sociais ganhou um caráter verdadeiramente científico. O capitalismo industrial estava se consolidando, o sistema feudal já tinha praticamente desaparecido. Com o desenvolvimento do capitalismo comercial, e início do capitalismo industrial multiplicaram-se os tratados de economia, que abordavam os problemas sociais. Os filósofos escreveram obras que exerceram influência em vários âmbitos. Entre eles, destacam-se: O Príncipe (Maquiavel), Leviatã (Hobbes) e Ensaios sobre o entendimento humano (Locke). Concomitantemente ao desenvolvimento das ciências, a escola parecia ser uma invenção que resolveria várias necessidades: • A razão se tornava indispensável, portanto, era pertinente existir um lugar para disseminá-la. • As crianças teriam um lugar para ficar, deixando os adultos disponíveis para o trabalho nas indústrias. TÓPICO 1 | PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA 27 • As crianças poderiam ser preparadas para se tornarem adultos trabalhadores, que cooperavam com os patrões, com os colegas de trabalho, e que produziam com boa qualidade e em grandes quantidades. • Já que a igualdade era um valor propagado pelos ideais iluministas, a escola não deveria receber apenas algumas crianças (as mais ricas, por exemplo). É necessário recordar que as crianças foram muito utilizadasnas revoluções industriais, principalmente pelos baixos salários a elas destinados e pelo tamanho adequado aos estreitos túneis usados na extração de carvão mineral. Por ser pioneira na industrialização, estes exemplos correspondem mais fielmente à Inglaterra. NOTA Contudo, apesar da nova concepção de homem (que pouco a pouco passou a ser denominado de ser humano no contexto acadêmico) e de mundo que passou a vigorar no Século XIX, na Europa, as desigualdades sociais só pareciam aumentar. Essa realidade semeava muitas dúvidas nas pessoas. Portanto, foram necessários avanços nas ciências, elaboração de novas teorias que fossem capazes de esclarecer as causas das desigualdades. É preciso esclarecer que nesta época o ensino e a aprendizagem estavam mais voltados para a razão do que para crenças religiosas. Então, vários campos do saber passam a ser desenvolvidos com ainda mais vigor. Entre eles, a sociologia. Essa palavra foi cunhada por Augusto Comte, que viveu entre 1798 e 1857. Émile Durkheim (1858 –1917) foi o responsável por dar à sociologia o status de ciência e também se debruça sobre temáticas da escola e da educação. A economia, a política e a antropologia estavam em franco desenvolvimento no Século XIX. UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA 28 FIGURA 6 – ÉMILE DURKHEIM FONTE: <http://www.culturabrasil.org/durkheim.htm>. Acesso em: 20 out. 2019. Todas elas procuram contribuir para um melhor entendimento da sociedade que ia se constituindo naquela fase. Procuravam compreender os fatos e processos sociais que rodeavam as pessoas. As ciências sociais precisaram ser subdivididas para facilitar a sistematização dos estudos. Todavia, muitas vezes elas se aliavam a fim de explicar os complexos fenômenos da vida em sociedade. Por exemplo, o desenvolvimento industrial acelerado, propulsionou o aumento da produção industrial, e consequentemente, da opressão ao trabalhador. Marx, Weber e Durkheim se debruçaram sobre a realidade social dessa fase histórica, com vistas a analisá-la e compreendê-la. Marx focalizou a opressão do trabalhador, ao passo que Durkheim se aprofundou sobre a necessidade da socialização para a ordem social. A teoria de Darwin foi uma das novas teorias científicas que emergiram naquela época. Ela veio a dar inspiração para a formulação de uma outra teoria. Trata-se do Evolucionismo Social, que partia do pressuposto, que assim como as espécies de animais, as sociedades também passavam por estágios evolutivos. Assim, as sociedades ágrafas e que desconheciam produtos industrializados, eram consideradas retrógradas, ao passo que, quanto mais industrializada fosse uma sociedade, mais evoluída ela seria considerada. É importante destacar, que a teoria do Evolucionismo Social vem sendo intensamente criticada nas últimas décadas. Entre os argumentos que a contestam está a utilização do homem ocidental, civilizado e letrado como o ponto ápice da "evolução". Já a teoria de Darwin não dá indicativos de qual é o ponto mais alto do "pódio" ao longo do processo evolutivo. Isto é, não é teleológica. TÓPICO 1 | PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA 29 As premissas do darwinismo social foram usadas como justificativa para os genocídios realizados no Século XX, que tirou a vida de inúmeros índios, negros e até mesmo dos brancos que não eram considerados tão evoluídos quanto o ponto de referência da época – o homem europeu. Por outro lado, é válido lembrar que o darwinismo social não foi utilizado tão somente no século XX. Essa teoria não ficou apenas no passado. Por isso, Bolsanello (1996, p. 164) fez um estudo sobre a repercussão dessa teoria, e de outras sobre a sociedade e mais especificamente sobre a educação brasileira. O estudo realizado por ela teve [...] por objetivo evidenciar a influência do darwinismo social, da eugenia e do racismo "científico" nas principais ideias de alguns intelectuais brasileiros, que no final do século XIX e meados do século XX foram responsáveis pela introdução da justificativa científica do preconceito racial e social no Brasil. Atualmente a maioria parte dos sociólogos, filósofos, antropólogos e psicólogos concorda que o desenvolvimento das culturas e sociedades não possui um padrão de percurso, não apresenta estágios de desenvolvimento padronizados. Em outras palavras, os modos de constituição do homem e da sociedade são construídos de formas diferentes dependendo da organização local. Não há um ponto de referência como máxima evolução. Até porque as coisas que os diferentes grupos humanos valorizam, priorizam, e rechaçam variam conforme os fatores sociais, históricos, culturais, que os perpassam. Para aprofundar seus conhecimentos sobre tal temática, sugere-se a leitura do seguinte livro: COSTA, Maria C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna. 1987. Capítulo 4 – Positivismo: uma primeira forma de pensamento social. DICAS Por conseguinte, a partir da metade do Século XX, com o fortalecimento do capitalismo, que se tornou também mais complexo, a Sociologia ganha nova importância, deparando-se com questões com que até então não havia se preocupado: • Ruptura de normas sociais. • Desagregação familiar. • Cidadania. • Minorias. • Violência. • Crimes. • Suicídios. UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA 30 Você sabia que o suicídio foi um dos fenômenos que chamou a atenção de Durkheim? Ele foi um dos primeiros estudiosos a investigar amplamente esse fenômeno. Inclusive, em 1897 ele publicou pela primeira vez o livro "O suicídio", considerado até hoje um dos alicerces do campo da sociologia. Em síntese, o mundo mudou muito depois da Revolução Francesa, e das Revoluções Industriais, passando a fazer cada vez mais uso de explicações lógicas, racionais e científicas, advindas da Revolução Científica. Nesta unidade estão sendo pouco a pouco apresentados os elementos que foram constituindo as necessidades da criação de uma teoria e prática como a psicopedagogia, além de fazer uma breve menção às teorias e acontecimentos que contribuíram para a formulação da teoria e prática da psicopedagogia. Até finalizar a leitura do livro, você reencontrará alguns nomes de teóricos e de teorias já citadas até aqui, sendo relacionados de modo mais direto à psicopedagogia. Também terá acesso aos esclarecimentos do que é a psicopedagogia e dos seus objetos de estudos. Nossa intenção até aqui foi oferecer um panorama geral, resumido, de caráter introdutório. Nos próximos tópicos, quando o enfoque estiver sobre a invenção das escolas, você poderá perceber que a Revolução Científica também foi determinante para a formulação da psicopedagogia por conta dos desafios que surgiram. Afinal, pouco depois da invenção e da difusão das escolas, a dificuldade de aprendizagem parecia se alastrar rapidamente, como se fosse uma epidemia. Assim, ela requeria explicações científicas e uma metodologia interventiva igualmente científica para resolver essa suposta proliferação. Prepare-se para adentrar no segundo tópico, daqui a alguns parágrafos! Lembre-se de que estaremos aqui com você durante toda a sua leitura. IMPORTANT E 31 Neste tópico, você aprendeu que: • Ao longo da História da Humanidade, questões vinculadas à educação foram modificadas, tais como: o que se aprende, quando se aprende, quem ensina, como ensina. • Por séculos a função de educar e ensinar crianças era de incumbência da família ou da comunidade a qual integravam. • Na Idade Média surgiram as primeiras instituições com fins educacionais. Porém eram acessadas por uma minoria da população, pois não eram acessíveis a todos. • Inicialmente, a finalidade do ensino era majoritariamente religiosa. Até porque muitas das instituições educacionais eram abertas e mantidas pela Igreja. • No decurso da História, existiram pelo menos três revoluções que contribuíram para a invenção e difusão das escolas: Revolução Industrial, Revolução Francesa e RevoluçãoCientífica. • A Revolução Francesa alterou a organização política da sociedade, que já não era mais determinada por conta da hereditariedade. • A Revolução Francesa propalou os princípios de igualdade, liberdade e fraternidade. • A Revolução Industrial deslocou a estrutura de produção que era do tipo artesanal, e parcialmente desenvolvida, para uma estrutura industrial altamente complexa e desenvolvida para a época. • A Revolução Industrial transformou radicalmente a história mundial. • A Revolução Científica mudou a forma de construir as explicações sobre o mundo. • Revolução Industrial, Revolução Francesa e Revolução Científica foram fundamentais para a formulação das Ciências Humanas e Sociais. • Os pensadores da Ciências Sociais se propõem a procurar respostas para os novos desafios que exigem uma análise científica de todos os aspectos da vida em sociedade, para entender o presente e projetar o futuro. RESUMO DO TÓPICO 1 32 1 (ENADE 2018) “A revolução industrial explodiu”. Essa frase do historiador Eric J. Hobsbawm, no livro A Era das Revoluções: Europa 1789-1848, demonstra que a Inglaterra, já no último quarto do século XVIII, apresentava as condições para o crescimento autossustentado. Estavam presentes características econômicas, sociais e tecnológicas, entre outras, que desencadearam o pioneirismo inglês no processo de industrialização. Considerando esse contexto, avalie as afirmações a seguir FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2018/ciencias_ economicas.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2020. I- As manufaturas já estavam disseminadas no interior do país, embora a região ainda estivesse em processo de consolidação do modo de produção capitalista. II- Dado o êxito da revolução agrícola, havia uma quantidade de produtos suficiente para abastecer tanto o mercado interno quanto o mercado externo. III- Havia dinheiro circulante em quantidade suficiente para custear os investimentos, concentrado na mão da aristocracia fundiária. IV- O volume de capital investido na frota mercante, em facilidades portuárias e nas estradas e vias navegáveis representava um capital social já presente no país, capaz de sustentar o início do processo de industrialização. É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) I e II. b) ( ) I e III. c) ( ) II e IV. d) ( ) I, III e IV. e) ( ) II, III e IV. 2 (ENADE, 2018) A autoridade máxima da Constituição, reconhecida pelo constitucionalismo, vem de uma força política capaz de estabelecer e manter o vigor normativo do texto. Essa magnitude que fundamenta a validez da Constituição, desde a Revolução Francesa, é conhecida com o nome de poder constituinte originário. Como o poder constituinte originário traça um novo sentido e um novo destino para a ação do poder político, ele será mais nitidamente percebido em momentos de viragem histórica. MENDES, G. F.; BRANCO, P. G. G. Curso de direito constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2018 (adaptado). A partir do excerto apresentado, avalie as afirmações a seguir. FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2018/direito.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2020. AUTOATIVIDADE 33 I- O poder constituinte originário existe para ordenar e limitar juridicamente os poderes do Estado. II- O poder constituinte originário é ilimitado, visto que o povo outorga liberdade irrestrita para que o legislador originário estabeleça uma nova Constituição, conferindo ao Estado a forma de direito que lhe aprouver. III- Um das características da natureza jurídica do poder constituinte originário é ser ele incondicionado, não se sujeitando a formas prefixadas para operar, bem como não estando vinculado às convenções anteriores que formavam a base da ordem jurídica revogada. É CORRETO o que se afirma em: a) ( ) I, apenas. b) ( ) II, apenas. c) ( ) I e III. d) ( ) II e III. e) ( ) I, II e III. 34 35 TÓPICO 2 ESCOLAS, APRENDIZAGEM, PEDAGOGIA, PSICOLOGIA... EIS A PSICOPEDAGOGIA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO No tópico anterior, você pôde acompanhar o desenrolar da história de sociedades que foram se organizando sem a presença da escola, enquanto instituição que nós conhecemos hoje. Quanto ao tópico presente, estão dispostas diversas informações sobre períodos históricos em que as escolas passaram a fazer parte do cotidiano. A partir de então, modificam-se as formas de se relacionar com a aprendizagem, e consequentemente, com a não aprendizagem. A escola passa ser responsabilizada pela sistematização de conhecimentos e sua difusão. Conforme já foi apontado no final do tópico anterior, nesse tópico serão retomados alguns teóricos e teorias que são relacionados com a criação da psicopedagogia. Preferimos optar pela repetição de alguns nomes, pois, decerto, agora você já tem maiores condições de ir compreendendo as relações mais diretas entre Psicopedagogia e cada uma dessas fontes de influência. Até porque um dos sentidos da palavra "fundamentos", que inclusive inaugura o título desse livro, está vinculado à construção: alicerce, fundação, sustentáculo, firmamento, estrutura, eixo. Então, do mesmo jeito que se faz ao construir um edifício, estamos apresentando os fundamentos da psicopedagogia em camadas. Não tivemos objetivo, de citar uma teoria e esgotar tudo o que diz respeito a ela, já no começo. Mas sim, resgatar as teorias, cada vez agregando novas informações sobre elas, para que você tenha subsídios para aprofundar seus conhecimentos sobre ela. Assim, surgem novas demandas entre as pessoas, novas dificuldades, novas dúvidas, novas curiosidades, novos interesses, além dos anteriores que foram se acumulando e que os saberes legítimos daquele tempo não respondiam a contento de boa parte das pessoas. Por conseguinte, são formuladas a Pedagogia, a Psicologia, e outras ciências e áreas do saber. Muitas delas forneceram ou fornecem os alicerces para a formulação da Psicopedagogia. UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA 36 Ninguém, a não ser quem já a experimentou, pode imaginar a sedução da ciência. Em outros estudos, você vai tanto longe quanto os outros foram antes de você, e não há nada mais para saber; mas na investigação científica há alimento contínuo para descobertas e maravilhas (SHELLEY, 2019, p. 51, grifos nossos). Sugerimos que antes de dar continuidade à leitura, você releia essa última citação direta e tente memorizar o sobrenome de quem a escreveu. Pense um pouco sobre ela. Qual é o seu palpite sobre o gênero discursivo do qual foi retirada? Um artigo científico? Um texto jornalístico? Um livro de terror? Um romance? No decorrer deste tópico, esse suspense será solucionado. E essa história da formulação da psicopedagogia, você pode acompanhar conosco ao longo deste tópico, de modo resumido. Vamos lá? FIGURA 7 – MARTINHO LUTERO 2 ESCOLAS, APRENDIZAGEM, PEDAGOGIA E PSICOLOGIA É difícil especificar precisamente quando as escolas foram inventadas. Na Idade Média já existiam instituições educacionais, mas, eram geralmente voltadas aos homens, para fins de formação do clero. Martinho Lutero foi uma das pessoas que difundiu a ideia de que as instituições educacionais não se restringissem aos homens, nem à finalidade de formar sacerdotes. FONTE: <https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2017/10/teses-de- martinho-lutero-nao-foram-fixadas-em-porta-de-igreja.html>. Acesso em: 13 set. 2019. TÓPICO 2 | ESCOLAS, APRENDIZAGEM, PEDAGOGIA, PSICOLOGIA... EIS A PSICOPEDAGOGIA 37 Em um século marcado por inúmeras indagações e mudanças, Lutero apresenta críticas em prol de uma Reforma na Igreja e também faz propostas para uma reforma da educação escolar de sua época, até então marcada pela formação exclusiva de religiosos e eclesiásticos. Ele propõe, em dois textos de sua autoria, uma educação escolar cristã que apresente uma nova organização em relação a: currículos, métodos, professores, formas de financiamento e manutenção das escolas. Também reflete
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