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Alice Bastos Módulo XVII – F, PDP & A Anemia Introdução É definida como diminuição da concentração de hemoglobina (Hb) do sangue abaixo dos valores de referência para a idade e o sexo; → Valor de referência (VR) em homens adultos: Hb abaixo de 13,5 g/dL; → VR em mulheres adultas: Hb abaixo de 11,5 g/dL; → VR dos 2 anos de idade até a puberdade: Hb abaixo de 11 g/dL; → VR em recém-nascidos: Hb abaixo de 14 g/dL; Alterações no volume total do plasma e da massa total de hemoglobina circulantes é que determinam a concentração de hemoglobina; → Diminuição do volume plasmático (como na desidratação) pode mascarar a anemia e até causar aparente poliglobulia, reciprocamente, o aumento do voluma plasmático (como na esplenomegalia e na gestação) pode provocar uma aparente anemia mesmo com massa eritroide/hemoglobínica circulante normal; Logo após uma grande perda de sangue, a anemia não é imediatamente aparente, uma vez que o volume total de sangue fica diminuído; → A reposição do volume plasmático pode levar até um dia, e só então o grau de anemia torna- se aparente; → Portanto, os aspectos clínicos iniciais de grande perda de sangue são resultantes mais da diminuição do volume sanguíneo do que da anemia. Etiopatogenia Os diferentes mecanismos que podem causar a anemia podem ser agrupados em três causas básicas: → Perdas sanguíneas agudas (hemorragia aguda); → Menor produção de eritrócitos; → Diminuição da sobrevida de eritrócitos. Hemorragia aguda As causas mais frequentes são: acidentes, cirurgias, hemorragias no tubo gastrointestinal e hemorragia genital. Anemias por menor produção de hemácias A maioria dos casos de anemia resulta da produção insuficiente de eritrócitos pela medula óssea; A menor produção de eritrócitos pode ser resultante de: → Distúrbio da diferenciação eritroide; → Distúrbio da proliferação dos eritroblastos na medula óssea; → Distúrbio da maturação. Anemias por maior destruição das hemácias Em condições normais, as hemácias são destruídas no interior de macrófagos, em órgãos como o fígado, o baço e a medula óssea; Nas anemias hemolíticas, a hemólise exacerbada pode ser intravascular ou, mais frequentemente, hemólise extravascular; Nas anemias hemolíticas a produção de hemácias pela medula óssea está aumentada, mas o aumento não é suficiente para compensar a acentuada redução de sua sobrevida; As anemias hemolíticas podem ser hereditárias ou adquiridas, crônicas ou de aparecimento abrupto; Têm expressão clínica muito variada, que depende da intensidade da hemólise, a rapidez com que se instalou o quadro, eficiência da compensação pela medula óssea, e causa da doença. Quadro clínico As principais adaptações à anemia ocorrem no sistema circulatório (com aumento do volume sistólico e taquicardia) e na curva de dissociação de O2 da hemoglobina; Alice Bastos Módulo XVII – F, PDP & A Alguns pacientes com anemia severa podem ser quase assintomáticos, enquanto outros, com anemia mais leve, podem sentir-se incapacitados; A presença ou ausência de sinais clínicos de anemia variam de acordo com quatro fatores principais: → Velocidade de instalação: anemia rapidamente progressiva causa mais sintomas que a anemia de instalação lenta, uma vez que há menos tempo para adaptação do sistema circulatório e da curva de dissociação de O2 da hemoglobina; → Severidade da anemia: uma anemia leve geralmente não causa sinais e sintomas, mas eles estão presentes quando a hemoglobina está abaixo de 9 g/dL; → Idade: o idoso tolera menos a anemia do que o jovem, pela progressiva diminuição da compensação cardiovascular normal com o avanço da idade; → Curva de dissociação de O2 da hemoglobina: em geral, a anemia é acompanhada de aumento de 2,3-DPG nos eritrócitos e de desvio para a direita da curva de dissociação de O2 da hemoglobina, de modo que o oxigênio é liberado de forma mais rápida para os tecidos. Sintomas Em geral, são: dispneia (principalmente durante o esforço), fraqueza, letargia, palpitações e cefaleia; Em idosos, podem surgir sintomas de insuficiência cardíaca, angina de peito, claudicação intermitente e confusão mental. Sinais Os sinais podem ser divididos em gerais e específicos; Sinais gerais: palidez das mucosas e dos leitos ungueais, que ocorrem se o nível de hemoglobina for menor do que 9 a 10 g/dL; → A cor da pele, ao contrário, não é um sinal confiável; Pode haver hipercinese circulatória com taquicardia, pulso amplo, cardiomegalia e sopro sistólico, mais audível no ápex; Sinais específicos: são os associados a tipos particulares de anemia; → Coiloníquia (“unhas em colher”): deficiência de ferro; → Icterícia: anemias hemolítica e megaloblástica; → Úlceras de perna: anemia de células falciformes e em outras anemias hemolíticas; → Deformidades ósseas: talessemia maior. Classificação e achados laboratoriais Índices hematimétricos Permitem dividir as anemias em microcíticas, normocíticas e macrocíticas; Além de sugerir a natureza do defeito primário, a observação dos índices pode indicar uma anomalia subjacente antes de o desenvolvimento da anemia decorrente se tornar significativo. Contagem de leucócitos e de plaquetas As contagens fazem a distinção entre “anemia pura” (comprometimento só da série vermelha) e “pancitopenia” (comprometimento das três séries, com diminuição de eritrócitos, granulócitos e plaquetas), que sugere defeito mais amplo da medula óssea ou destruição geral das células; Em anemias causadas por hemólise ou hemorragia, as contagens de neutrófilos e de plaquetas quase sempre estão racionalmente aumentadas; Alice Bastos Módulo XVII – F, PDP & A Em infecções e leucemias, a contagem de leucócitos muitas vezes também está alta e pode haver presença de leucócitos anormais e de precursores de neutrófilos. Contagem de reticulócitos Deve elevar-se na anemia devido ao aumento de eritropoietina, e o aumento costuma ser proporcional à severidade da anemia; A falta de elevação da contagem de reticulócitos em pacientes anêmicos sugere diminuição da função da medula óssea ou falta de estímulo eritropoetínico. Distensão de sangue É essencial o exame da distensão sanguínea em todos os casos de anemia; Morfologia anormal ou inclusões nos eritrócitos podem, por si sós, sugerir um diagnóstico. Exame da medula óssea É necessário quando a causa de anemia ou de outra anormalidade do sangue periférico não ficar esclarecida pelo hemograma, pela microscopia apropriada ou por outros exames de sangue; A coleta do material da medula pode ser feita por aspiração (mielograma) ou por biópsia com trefina, ou ambas, em procedimento único; Podem ser evidenciados detalhes das células em desenvolvimento, distinguindo eritroblastos normais (normoblastos) de megaloblastos; Avalia-se a proporção das diferentes linhagens celulares, determinando a relação mieloide:eritroide e pesquisa-se a presença de células estranhas à medula óssea; Rotineiramente, é feita uma coloração para ferro, de modo que a quantidade possa ser avaliada nos depósitos reticuloendoteliais (macrófagos) e, como Alice Bastos Módulo XVII – F, PDP & A grânulos finos (grânulos sideróticos), nos eritroblastos em desenvolvimento; Será feito um exame imuno-histológico se houver indicação pela suspeita diagnóstica. Avaliação da eritropoese A eritropoese total e a proporção da eritropoese eficaz na produção de eritrócitos circulantes podem ser avaliadas examinando-se a medula óssea, dosando a hemoglobina e contando os reticulócitos; A eritropoese total é avaliada a partir da celularidade da medula óssea e da relação mieloide:eritroide; → Essa relação cai e pode ser invertida quando a eritropoese total aumenta seletivamente; A eritropoese eficaz é avaliada pelacontagem de reticulócitos; → A contagem aumenta em proporção ao grau de anemia quando a eritropoese é eficaz, mas diminui quando a eritropoese é ineficaz ou quando há bloqueio da resposta normal da medula óssea.
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