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1 Gestão da Tecnologia e da Inovação Aula 1 Prof. Marcelo Alessandro Fernandes Introdução Fundamentos Nesta aula: princípios da Gestão da Tecnologia e da Inovação o que é criatividade? a relação entre criatividade e inventividade é possível gerir a inovação? A inovação envolve um ambiente de novas experiências Crédito: Shutterstock Definições de Inovação e Tecnologia É possível gerir a inovação? Criando o ambiente: permissão − autogestão e desenvolvimento Técnicas de exploração 2 Indicadores e gestão de iniciativas Integração com outras áreas de negócio Gestão do aprendizado Curva S de aprendizagem O Dilema da Inovação − Clayton Christensen Tipos de inovação Produto Processo Serviço Modelo de negócio Importância da Gestão da Tecnologia e da Inovação Papel relevante nas organizações 1. Estratégia e mudança 2. Proposta de valor 3. Interação com os clientes 4. Enchantment Natureza da inovação Incremental Substancial Transformacional 3 Administração da Produção e das Operações Inovação disruptiva WhatsApp Netflix Drones Crédito: Shutterstock Política Tecnológica Porque precisamos inovar? Crédito: Shutterstock Do ponto de vista dos clientes, os produtos são muito similares entre si Crédito: Shutterstock Destruição criativa Conceito econômico pelo qual produtos e serviços inovadores substituem os obsoletos criando mais riqueza e diversidade para a sociedade Crédito: Pexels Países que inovam mais possuem maior nível de liberdade econômica e de mobilidade aos indivíduos Cingapura Vale do Silício Crédito: Shutterstock 4 Empreendedor No centro estão os indivíduos empreendedores com sua capacidade visionária de imaginar novos mundos “Não deixe o barulho da opinião dos outros abafar sua voz interior. Tenha a coragem de seguir seu coração e sua intuição.” Crédito: Pexels Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação Ciência e Inovação integram-se na medida que a primeira traz conhecimento aplicável e válido sobre os fenômenos naturais Paradigma A recriação das noções centrais que temos sobre a realidade Afeta a forma como percebemos e julgamos o mundo Inteligência Tecnológica Esforço sistemático de buscar ciência de ponta para inovar em produtos e serviços 5 Síntese Inovação e Criatividade A inovação requer: criatividade originalidade novas respostas a situações corriqueiras inventividade Inovação e Mercado O cliente no centro: a invenção se transforma em inovação quando o cliente enxerga valor no novo produto, serviço, processo ou modelo de negócio Administração da Produção e das Operações Aprendizado de circuito duplo: relação entre aprendizado e inovação a importância do empreendedor como agente criador 1 Gestão da Tecnologia e da Inovação Aula 2 Prof. Marcelo Alessandro Fernandes Introdução Papel da Empresa Atribuições Criar uma visão audaciosa e inspiradora para si Criar a estrutura funcional adequada Dar espaço para a experimentação Gerir ganhos de aprendizado A empresa como espaço de descoberta e realização dos indivíduos Crédito: Shutterstock A Empresa como Espaço Inovador Vocação para a criação e a descoberta As relações dão-se por meio de sonhos compartilhados Engajamento criativo 2 As ideias surgem como consequência natural Crédito: Pixar Definições de Inovação e Tecnologia Tipos de inovação Cultivar a identidade das pessoas Dar vazão a novos inventos Criar ambiente acolhedor e humano A Inovação Radical e Disruptiva Inovação de valor São inovações que modificam radicalmente o valor percebido pelos clientes Mudanças culturais Trazem profundas modificações nos hábitos dos consumidores Envolve embate direto com a cultura de status quo Inovação de valor Inovação Tecnológica Inovação de valor Redesenho da proposta de valor “A estratégia do oceano azul”, Chan Kim e Renée Mauborgne 3 Exemplo de Inovação Tecnológica Câmera fotográfica Crédito: Shutterstock Exemplo de inovação de valor Instagram Crédito: Shutterstock Indicadores Política Tecnológica Por que precisamos mensurar o esforço de inovação? Crédito: Shutterstock Indicadores Tipos de indicadores de resultado Receitas criadas por novos produtos Participação em novos mercados Novos negócios Clientes com perfil diverso do atual Tipos de indicadores de esforço Investimento em P&D Tempo de inserção de novos produtos e serviços em novos mercados Percentual de pessoas engajadas Percentual de iniciativas abandonadas 4 Estratégias de Inovação Foresight Elaborar a estratégia por meio da antevisão do futuro Pensar o futuro Pensar o futuro Debater o futuro Debater o futuro Modelar o futuro Modelar o futuro Inteligência competitiva Buscar informações estratégicas no mercado para apoio na tomada de decisão Gestão do conhecimento Gerir a organização tendo em vista as habilidades, as competências e o conhecimento dos indivíduos Espiral do conhecimento 5 Síntese Inovação e Criatividade Papel da organização Prover um espaço para experimentação e criatividade Trabalhar adequadamente as barreiras culturais Gestão organizacional Lida com o aprendizado e o compartilhamento do conhecimento do novo 1 Gestão da Tecnologia e da Inovação Aula 3 Prof. Marcelo Alessandro Fernandes Introdução Relação da Gestão da Inovação e demais Áreas Intersecção com as demais áreas Estratégia de negócios Marketing Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) Inovação nas demais Áreas Marketing: interação com o cliente novos canais formas inovadoras de comercialização RH: busca o desenvolvimento de talentos P&D: mais interação com os clientes Interseçção com as demais Áreas Por que é importante? Compartilhar destinos comuns Sinergia Esforço coletivo na recriação dos processos 2 Funil da Inovação Fonte: <http://docplayer.com.br/ 6525929-Conceitos-e-contexto-indicadores-e- legislacao-vantagens-e-beneficios.html> Interseçção com as demais Áreas Ideação Desenvolvimento de novas ideias e novos conceitos Admite-se alto grau de caos e incerteza no processo Pesquisa e Desenvolvimento Desenvolvimento das soluções de forma concreta e programada Busca e aquisição de tecnologias Comercialização Lançamento da solução no mercado Crédito: Shutterstock Ferramentas Aplicadas 3 Design Thinking Processo de desenho de soluções baseado nos princípios do design Pesquisa e investigação da vida dos clientes Cocriação com stakeholders Criação de soluções com a participação de clientes e demais stakeholders Ênfase no diálogo e na troca de experiências Crédito: Shutterstock Trend Hunter Busca tendências e mudanças que possam impactar o estilo de vida dos clientes Elabora cenários identificando oportunidades de negócio Crédito: Shutterstock 4 Processo de Alavancagem Alavancagem Estratégias de crescimento Formas de catalisar a inovação de maneira menos dispendiosa, acelerando o ciclo de entrada no mercado Open innovation Desenvolvimento de um projeto multidisciplinar que busca expertises e competências fora dos limites da organização Crédito: Shutterstock Fusão e aquisição Complementar o portfólio Ter acesso a fontes de conhecimento Acesso a novos mercados Investimento em startups Aquisição de startups que complementem ou possam vir a inovar o portfólio de produtos e serviços Crédito: Shutterstock Spin-off A empresa desenvolve um novo negócio provendo os recursos e processos necessários para o ingresso no mercado 5 Difusão do Conhecimento e da Tecnologia Atividades de P&D Investigação ou pesquisa básica Pesquisa aplicada Desenvolvimento experimental Tipos de P&D Centralizado Disperso Unidade de negócio Inovação e Criatividade Papel da organização Prover um espaço para experimentação e criatividade Trabalhar adequadamenteas barreiras culturais Gestão organizacional Lida com o aprendizado e o compartilhamento do conhecimento do novo Crédito: Shutterstock Síntese 6 Esforço Catalisador Intersecção com as demais áreas Processos compartilhados Alinhamento e gestão de mudança Ferramentas aplicadas Forma de investigar a vida dos clientes trazendo-os para o centro do processo de inovação 1 Gestão da Tecnologia e da Inovação Aula 4 Prof. Marcelo Alessandro Fernandes Introdução Estratégias de Inovação Existem quatro tipos de estratégias de inovação: breakthrough sustentável novos mercados disruptiva Breakthrough Combinação de várias funcionalidades em um novo produto ou serviço Grande salto em termos de performance, tecnologia e valor Descontinuidade do produto Iphone 3Palm Treo Crédito: Shutterstock e Flickr/CC BY 2.0 Sustentabilidade Desenvolvimento sustentável de linhas de produtos com lançamento de versões em sequência 2 Novos mercados Inserção dos produtos e serviços atuais por meio de novas formas ou novos segmentos Disruptiva Simplificação da experiência do consumidor reduzindo custo e número de funções do produto Inovação e Competitividade Objetivo estratégico Projeto a Projeto b Projeto c Incremento na proposta de valor atual Como é Novos objetivos estratégicos Projeto α Projeto β Projeto γ Redesenhar a proposta de valor Como será Relação entre Conhecimento e Inovação 3 Principais conceitos Dado Informação Conhecimento Processo criativo A nossa mente não só interpreta informações, mas também as cria Difusão da Inovação Espiral do conhecimento Ilustração: Thyago Macson Espiral do conhecimento Fonte: Nonaka e Takeuchi. Criação de conhecimento organizacional Condições para a Difusão 4 Intenção Orientar e promover o compromisso coletivo Crédito: Shutterstock Autonomia Dar autonomia para os indivíduos descobrirem por si mesmos Ilustração: Thyago Macson Flutuação e caos criativo Aceitar as incertezas e ambiguidades do processo criativo Crédito: Shutterstock Redundância e variedade de requisitos A organização ter uma base comum de conhecimento ao mesmo tempo que possui diversas especializações Síntese Difusão da Inovação Contexto do ambiente Relacionada a forma como o ambiente lida com o processo de aprendizado diante de novas situações Gestão da Tecnologia e da Inovação Aula 5 Prof. Marcelo Alessandro Fernandes Introdução Gestão da Inovação e do Conhecimento Relação entre conhecimento e inovação A criação de conhecimento é o caminho para a inovação Conhecimento tácito O mais importante é o conhecimento tácito, que é inerente aos indivíduos e à forma de realizar as atividades Crédito: Shutterstock Principal barreira dos novos concorrentes Crédito: Pexels Inovação e Ativos Intangíveis Capital intelectual Propriedade intelectual das invenções e inovações Marketing das inovações Estágio da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico Gestão de competências Engajamento criativo Concretizar ideias “Hands On” Empreendedorismo Colaboração Aprendizagem organizacional Responsabilidade em aprender e ensinar Gerir novos ciclos de aprendizado Sensemaking Construção de sentido Aproximar-se dos problemas reais, buscando criar significado e sentido para aquilo que será realizado Realização Dar condições para que as pessoas se realizem naquilo que buscam para si Etapas de um Processo de Criação Condições para Difusão Compartilhamento do conhecimento tácito Relacionamento e proximidade dos participantes na medida que mergulham em um problema Criação de conceitos Criação de ideias e conceitos buscando trazer à tona as percepções dos participantes Justificação Buscar validar as ideias e os conceitos criados junto aos públicos-alvo e dentro da própria organização Prototipação Criação de protótipos ou modelos concretos que permitam a visualização da solução proposta Difusão do conhecimento Apresentar os resultados e os ganhos do processo criativo para a organização Valor do Conhecimento para a Organização Transferibilidade Capacidade de difundir competências, expertises e know-how Crédito: Shutterstock Agregação Internalização daquilo que se aprendeu Crédito: Shutterstock Apropriabilidade Ter ciência do que se aprendeu, podendo inclusive modificar essencialmente o aprendizado Especialização Conhecer em profundidade determinado assunto Relevância O conhecimento necessita ser relevante para a realização de coisas futuras Crédito: Shutterstock Síntese Conhecimento e Competividade Relevância do tácito A maior fonte de vantagem competitiva das organizações é seu caldo cultural, composto por conhecimento tácito Sensemaking As organizações devem criar espaços para a realização das pessoas e de seus sonhos Gestão da Tecnologia e da Inovação Aula 6 Prof. Marcelo Alessandro Fernandes Introdução Gestão da Inovação e Conhecimento na Prática Projetos de inovação e conhecimento Criação de uma cultura orientada ao conhecimento e à inovação Apoio da alta gerência O papel da alta gerência é inspirar a organização e apoiar diretamente as iniciativas de inovação Infraestrutura A organização moderna é aquela que trabalha em células, de forma a compor equipes de alta performance e conexões em rede Resultados econômicos As barreiras organizacionais devem ser trabalhadas à medida que os grupos tragam resultados práticos positivos no mercado Motivando as Equipes Aspectos Motivacionais Clareza de visão e linguagem Linguagem atualizada em gestão de negócios e que mobilize a criação Elementos não triviais Trazer incentivos financeiros compatíveis com as atividades e o esforço dos grupos Canais de compartilhamento As equipes de inovação devem interagir com pessoas que detenham pontos de vista diferentes da visão dominante Alicerces da Inovação Soluções Criação de soluções ricas em conhecimento e de difícil imitação Crédito: Shutterstock Inovação contínua Mais importante do que o domínio de uma solução específica é o aprendizado do processo de criação Investir e proteger o capital intelectual Tão importante quanto investir em conhecimento é se resguardar da propriedade intelectual Estímulos para o Compartilhamento Relações de confiança Propiciam maior estímulo à criatividade e ao crescimento mútuo Autodesenvolvimento Buscar o autodesenvolvimento por meio da aprendizagem relacionada aos problemas relevantes e ao estímulo criativo Qualidade de vida A criatividade está diretamente relacionada ao saber viver e ao crescimento interior Armazenamento do Conhecimento Banco de conhecimento Armazenamento de grandes quantidades de conteúdo relevantes para a organização Banco de competências Necessário para identificar indivíduos com competências necessárias a projetos de impacto Banco de projetos Possui o conhecimento colocado em prática das soluções desenvolvidas a partir de problemas reais Especialização Conhecer em profundidade determinado assunto Crédito: Shutterstock Relevância O conhecimento necessita ser relevante para a realização de coisas futuras Crédito: Shutterstock Síntese da Aula Gestão da Inovação e do Conhecimento Aspectos centrais Gerir a organização considerando os aspectos de ambiência para a criação e o compartilhamento do conhecimento Assim como a infraestrutura necessária para armazenar informações e conhecimento relevante para o futuro GESTÃO DA TECNOLOGIA E DA INOVAÇÃO AULA 1 Prof. Marcelo Alessandro Fernandes2 CONVERSA INICIAL O objetivo de estudarmos a gestão da tecnologia e da inovação é entender a fundo a natureza da dimensão criativa humana, da sua manifestação no desenvolvimento de inventos, soluções e projetos de alto impacto, na expansão e criação de novos mercados – criando impactos na sociedade e no progresso humano. É não só uma dimensão a ser cultivada nos mercados. A criatividade é uma resposta bastante humana para os dilemas e para os problemas que vivenciamos ao longo de toda nossa vida. É também uma forma de imprimir nossa presença no mundo segundo nossos valores, inclinações e sonhos. Em suma, a inovação, nada mais é do que criar novas possibilidades de realização humana, que tragam consigo progresso e crescimento econômico, ao sermos protagonistas que influenciam decididamente mudanças de caráter social e no modo de vida das pessoas, fazendo nascer o melhor nos indivíduos, ao se convencerem que novas soluções trazem valor genuíno para suas vidas. Junto a um primeiro movimento inovador, temos também a possibilidade, em um segundo momento, de criar um conjunto de mudanças que se configuram e se integram como novo panorama no mundo. CONTEXTUALIZANDO Quando utilizamos a palavra “gestão”, precedendo as mais conhecidas áreas da administração, como gestão de custos, gestão de recursos humanos ou gestão de processos, queremos dizer que iremos utilizar processos, métodos ou ferramentas para manter sob controle diferentes tipos de parâmetros, que, se estivessem governados ao seu próprio sabor, jamais gerariam os resultados que almejamos. Assim, quando falamos gestão financeira ou gestão operacional, por exemplo, queremos dizer que devemos ter sob rígido controle as principais variáveis que impactam nossos problemas. Fazer uma boa uma gestão financeira quer dizer que devemos monitorar sistematicamente indicadores com o retorno sobre o investimento, sobre os custos ou os diferentes aspectos que possam vir a impactar o balanço financeiro de uma empresa. De forma similar, o mesmo vale para a estratégia, processos e projetos. Ausência de controle, nesse sentido, é ausência de gestão. 3 Assim, quando um comportamento esperado sai de nosso controle, deveríamos tomar medidas corretivas imediatamente após algo constatado fora dos parâmetros praticados, para que retornemos em direção aos rumos pretendidos e traçados anteriormente. Toda uma escola foi formada em torno desse pensamento. Mais controle, mais resultados. Quanto mais sistemático e “organizado” for nossos processos, quanto mais efetivo seus resultados, tanto maior será nossa curva de aprendizado diante dos problemas. Mais sistematização, mais efetividade na gestão! É justamente isso que os gestores do mundo todo têm difundido quando falam sobre gestão da inovação. Na inovação, necessitamos de experiências genuínas de abertura, criatividade e originalidade para chegarmos em soluções realmente à frente daquilo que é tido como certo por todo um setor de atuação. Assim, buscamos efetivamente a quebra de paradigma1 ao recriarmos nossa realidade segundo padrões mais próximos daquilo que nosso cliente secretamente ou inconscientemente deseja. Nem sempre a transição entre o velho e o novo é segura, e as barreiras para tudo aquilo de novo que imaginamos e aquilo que efetivamos conseguimos realizar não são nitidamente estabelecidas para quem está à frente de qualquer iniciativa de inovação. Essa transição entre uma realidade e outra, foi alvo de estudos de muitos estudiosos. O que se sabe até o presente momento é que não existe forma para sistematizarmos processos de descoberta. A descoberta surge justamente quando temos um novo insight, ou seja, quando temos uma nova ideia produzida na nossa mente que nos faz caminhar para colocarmos em prática aquilo que nós apenas vislumbramos ou intuímos como sendo um terreno fértil de novas possibilidades. Cabe salientar, entretanto, que a atividade criativa confronta diretamente nossa capacidade de trabalharmos inventivamente diante dos problemas, ou 1 Paradigma é um conceito geral utilizado nas ciências, criado por Thomas Kuhn no livro Estrutura das Revoluções Científicas, que quer dizer “... realizações cientificas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornece problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (Kuhn, 1991, p.13) 4 seja, conseguirmos irmos para além de uma ideia e chegarmos em novos inventos. A criatividade é o ponto de origem da inovação e, na medida em que aprendemos, vamos gradualmente tornando concreto nossas ideias ao darmos formas a elas em soluções práticas e criativas. O trajeto entre a ideia (ou as várias ideias) criada em um primeiro momento e a transformação da mesma em negócios rentáveis é o que chamamos de caminho para a inovação. Esse caminho é cheio de descobertas a serem feitas. Não temos como nos colocarmos à frente desse caminho com ferramentas de “controle”, como se estivéssemos diante de um processo com movimentos claros, pois esse caminho é repleto de novidades e aspectos totalmente desconhecidos por nós mesmos. Por ainda não serem conhecidos, não podemos prever seu comportamento antecipadamente, por isso, medidas de controle e de antecipação são absolutamente inócuas ou irrelevantes, porque tentam antecipar algo que não sabemos como se comportará nos termos dos movimentos criativos. Não sabemos, porque justamente ainda não temos nada em mãos. Querer “gerir” a inovação como se quiséssemos otimizar uma trajetória é justamente matar o processo já na sua origem, pois colocaríamos métodos, métricas e aspectos de sistematização à frente do que realmente importa, que são as pessoas e sua capacidade imaginativa. Isso porque, ao longo de uma jornada para a inovação, são os indivíduos que farão a diferença, ao trazerem propostas aparentemente infundadas e passíveis de crítica para uma evolução que se dará gradualmente até se tornarem projetos promissores e de alta relevância estratégica. A inovação assemelha mais a uma plantinha que, se não for devidamente cuidada com as condições necessárias para sua nutrição e crescimento, pode facilmente morrer diante de um ambiente cheio de intempéries. Assim, inovar é dar condições para que as ideias floresçam e ganhem estrutura própria. Para isso, elas não podem ser guiadas, mas devem ser deixadas para que nos guiem em um processo de crescimento, por assim dizer, direcionando nossos pensamentos e ações consequentes. 5 Se pudéssemos falar em gestão da inovação, deveríamos pensar em como criar um ambiente propício para o surgimento de novas ideias, ainda que, a princípio, elas pareçam um pouco deslocadas de nossa realidade. Mas elas devem ser deslocadas da realidade, justamente por ter o potencial de nos jogar para uma nova realidade em surgimento. Um novo paradigma. Cada ideia é um potencial de renovação da realidade e importa mais para quem vem a desenvolver uma solução inovadora a forma como ela pode “ampliar e enriquecer” nossos horizontes. Inovar é criar formas para dinamizarmos nossa capacidade criativa e inventiva. É ter ideias que são potencialmente capazes de nos colocar num contexto de descobrir o novo, ou seja, a própria ideia nos leva a imaginar uma realidade totalmente diferente da que estamos vivendo e, com isso, temos condições de romper formas padronizadas de resolver problemas. TEMA 1: AUTO-ORIENTAÇÃO E AUTODESENVOLVIMENTO Conforme salientamos, segundo o senso comum, gerir é inserir parâmetros para controlar o desempenho das ações segundo uma direção estabelecida, mas isso só é possível quando está muito claro para onde iremos e por que iremos de determinada maneira. A questão é que, na inovação, o caminho que seguiremos tentará justamente romper com uma percepçãodominante sobre como resolvemos um problema ou uma situação. Ao tentarmos trabalhar com indicadores atrelados à forma como costumeiramente resolvemos algo, iremos criar amarrar mentais que irão inibir a evolução em sentido contrário ao de uma ideia dominante. Queremos dizer com isso que a inovação é avessa à mensuração, pelo menos, quando considerada a maneira habitual como produzimos as coisas. Assim, é necessária grande liberdade e autonomia por parte dos envolvidos, que, pouco a pouco, vão criar um caminho próprio, testando a viabilidade desse caminho. Necessitamos então trabalhar com dois princípios fundamentais que atravessam qualquer processo inovativo: auto-orientação e autodesenvolvimento. Auto-orientação: as pessoas envolvidas em experimentos inovadores devem ter autonomia para decidirem quais caminhos tomar de acordo com os 6 fatos que são descobertos, com as convicções que vão se estabelecendo e até mesmo com a intuição. O próprio caminhar em direção a algo novo gera um novo aprendizado sobre as coisas. Quem está de fora não tem condições de avaliar tão bem o progresso – que ainda não chegou no seu fim – e, por isso, quem avalia, somente avaliará as situações à luz de convicções existentes. É comum, nos processos de inovação, as pessoas se surpreenderem com as conclusões a que chegam, por elas saírem do senso-comum e das conclusões típicas sobre a “melhor” maneira de atuar diante de um problema. Autodesenvolvimento: Toda inovação leva a um novo caminho de aprendizado. Evoluiremos nossas convicções segundo um novo aprendizado que é bastante influenciado por experimentos. Essa evolução se dá, sobretudo, frente à forma como reagimos aos “erros” e aos “equívocos”. Aquilo que acreditamos funcionar como ideia, sofre muitas alterações quando testado em condições práticas. O exercício de inovação é sobretudo um exercício de abertura junto ao universo dos clientes e, principalmente, das possibilidades aplicadas a este universo. Assim é quase impossível querer antecipar tudo que irá suceder concretamente durante a utilização prática de nossos inventos, quando forem colocados nas mãos dos clientes. Necessitamos, para isso, testes e mais testes. Longas horas de discussão e ponderamento sobre os riscos das possibilidades que se revelam diante de nós. A forma como reagimos diante desses experimentos, com maior ou menor abertura para o aprendizado, dará o tom de todo o processo, permitindo com que a equipe responsável pelo projeto possa ou não promover seu autodesenvolvimento. Aprendizado e capacidade de execução caminham juntos e, ao final, um grande desenvolvimento é gerado junto às equipes. Técnicas de exploração Ao dizermos que não existe processo sistematizador para a inovação não queremos dizer que não podemos induzir ou mesmo promover a processos de descoberta dentro das organizações. As organizações têm estado em apuros ao ter que dar autonomia compatível aos desafios que as suas equipes de inovação têm pela frente. É bastante comum a empresa querer controlar os pormenores da atividade 7 humana. Assim, há bem pouco tempo, ainda tínhamos ferramentas de desempenho atrelado ao desempenho do indivíduo como as melhores formas de melhorar a performance global da instituição. Havia pouco espaço para a experimentação dos indivíduos e cada passo em falso era reprimido com um conjunto de medidas de controle e punição exemplar. A inovação traz consigo uma quantidade considerável de ferramentas inovadoras para a descoberta e para a criação. Quando bem utilizadas, elas nos levam a criar uma maior abertura junto aos grupos, ajudando-os a pensar e sentir diferentemente as situações, ajudando-os a criar mais livremente e sem amarras. A criação vem, sobretudo, por uma crença em nossa imaginação criadora. Ainda assim, podemos usar um tanto livremente ferramentas para a criatividade, pois no fundo o que queremos fazer é criar impressões únicas na mente do grupo que cria. Essas impressões podem vier de muitas e diferentes formas. Não existe um passo-a-passo para sabermos ao certo o que fazer no final das contas. Podemos “visitar” outras realidades alternativas a que estamos nos ocupando em entender e reinventar. Podemos criar metáforas e mundos imaginativos que nos colocam além da percepção atual, tal como fez Steve Jobs quando comunicou sua equipe que o primeiro computador pessoal deveria ser tão simples e fácil de operar como usar uma torradeira elétrica. Criar é movimentar-se diante do real para produzir uma visão renovada sobre as coisas. Experiências novas podem criar uma percepção de movimento junto ao grupo, induzindo-o a sair de sua zona de conforto. A base que fundamenta essas técnicas, normalmente, está amparada em novas vivências ou no contato com novas realidades. Houve oportunidades em que tivemos, em projetos de inovação reais, de fazer com que as pessoas adentrassem mais na realidade do cliente para ter um ponto de partida diferenciado e verdadeiro em suas propostas. Assumir a perspectiva de nossos clientes é um bom ponto de partida, assim, técnicas de design thinking vêm sendo cada vez mais utilizadas por parte daqueles que querem colher uma impressão diferenciada junto ao universo deles como elemento iniciador para a criação. Isso é válido desde que as pessoas consigam empenhar-se em, momentaneamente, abrir mão de suas crenças desenvolvidas ao longo do 8 tempo para, através de novos insights, virem a desenvolver outras convicções. Essas convicções surgem na medida que as pessoas permitem-se deixar levar por novos pontos de vistas, substituindo e renovando sua visão sobre as coisas. Segundo nossa experiência, uma postura libertadora diante dos fatos é que promove o surgimento de novas ideias. Além disso, o ato criativo não deixa de ser um exercício de humildade por parte dos indivíduos diante de um novo mundo sem respostas prontas. Para conhecer mais sobre a aplicação do design thinking aos problemas de negócios, acesse: https://endeavor.org.br/design-thinking-inovacao/ Integração com outras áreas de negócio Em determinado sentido, inovar é colocar-se à parte num novo mundo. Considerando isso, podemos dizer que a inovação é uma fonte de tensão relativamente grande entre aqueles que estão “vivenciando” diariamente um caminho pleno de descobertas e encantamento e aqueles que estão vivendo um mundo de certezas e repetições. No fundo, o futuro das organizações é tentar romper ao máximo com a realidade enquanto produto de padronização permanente. Não queremos dizer que a gestão das operações, da qualidade e dos produtos e serviços tenham que ser deixadas de lado. Queremos dizer que as organizações colocam erroneamente em primeiro plano a repetitibilidade dos processos como uma meta final a ser perseguida e que tudo o mais deve relacionar-se a isso como uma segunda ou terceira prioridade. Continuidade ainda é o mantra organizacional repetido aos quatro cantos do mundo, mas deveríamos considerar a capacidade de oxigenação e a renovação das organizações como um modelo mais adequado e atualizado pelo qual os executivos deveriam empenhar seus esforços. TEMA 2: TIPOS DE INOVAÇÃO A inovação é recriação de realidade, renovação de aspectos ligados à maneira como interagimos e entregamos valor aos nossos clientes. Pode-se dar de muitas maneiras e, no fundo, objetiva mais parcela de mercado e mais https://endeavor.org.br/design-thinking-inovacao/ 9 reconhecimento por parte do cliente a ponto que esse decida pagar pelas nossas novas ofertas. Produtos, serviços, processos e modelos devem se integrar de forma a fazer com que o custo de viabilização de uma ideia compense o desembolso dispendido pelo cliente, como contrapartida a uma oferta de valor sem precedentes no mercado. Tendo isso como base, podemos dizer que a inovação assume determinadoscontornos que servem para a caracterização concreta de nossos esforços. O Caráter Efêmero de uma Ideia Fonte: https://www.pexels.com/photo/idea-bulb-paper-sketch-8704/ Produto: A inovação como produto normalmente envolve investimentos em pesquisa e desenvolvimento continuado. Novos produtos normalmente estão associados à nova tecnologia e à aplicação dessa tecnologia de maneira inédita no mercado. A tecnologia pela tecnologia não nos diz muita coisa e precisamos, de fato, transformar as possibilidades de aplicação tecnológica em conceitos inovadores. Produtos revolucionários como o iphone, o ipad e o iwatch trouxeram consigo todo um novo conjunto de possibilidades, funcionando como uma plataforma em que indivíduos têm condições de realizar possibilidades apenas imaginadas em filmes de ficção. https://www.pexels.com/photo/idea-bulb-paper-sketch-8704/ 10 Serviços: Boa parte da economia atual é baseada em serviços. Isso porque os serviços transcendem o concreto e podem dar um contorno sutil a tudo aquilo que o ser humano deseja para si. Inovação em serviço é sobretudo criar conveniências, experiências e valor percebido em tempo real. Um serviço é tanto mais inovador quanto mais consegue gerir um conjunto grande de processos que interagem e se integram à vida dos clientes, produzindo informações pertinentes e de fácil acesso. A Google é uma empresa que vem se notabilizando pela prestação de serviço na medida em que consegue criar interações de valor junto aos seus clientes a custo muito baixo, alcançado qualquer pessoa que tenha acesso a internet em qualquer parte do globo. Além de permitir a interação em tempo real, permite mais conectividade entre as pessoas, que juntas conseguem resolver seus próprios problemas a uma velocidade jamais conseguida por empresas de grande porte, presas próprio paradigma de funcionamento. Hoje, temos pessoas que livremente se dispõem a ajudar pessoas com roteiros de viagens, dicas sobre o cotidiano e o compartilhamento livre de informações simplesmente pelo fato de que a colaboração é um valor que não precisa ser justificado. Processo: Inovação em processo é inovar na maneira pelo qual fazemos as coisas. Assim, podemos repensar a forma como construímos prédios, transportamos mercadorias ou nos comunicamos com o cliente, integrando novos métodos às metodologias de ponta. A internet traz a tendência de integrar as coisas ao nosso redor em um fluxo ininterrupto de troca de informações e de interação em tempo real. Haverá o dia em que os próprios produtos se comunicarão entre si a partir da inteligência artificial. Assim, teremos comunicação inteligente e a distância entre automóveis, residências e relógios. Modelo de Negócio: Inovação no modelo de negócio é inovar na forma como o negócio funciona econômica e financeiramente. Por exemplo, podemos mudar a forma como geramos receita em um determinado mercado, a exemplo da Netflix, que cobra por usuário o acesso aos seus filmes e séries, criando uma forte concorrência com as locadoras de filmes e a própria televisão. Normalmente, a inovação no modelo de negócio busca baixar consideravelmente os valores cobrados junto ao cliente final de forma a 11 promover e abocanhar fatias de mercados já existentes. A Blockbuster, empresa de locação de vídeos, não conseguiu concorrer com a Netflix, empresa entrante, por não gerar economia de escala no funcionamento do próprio negócio, com instalações físicas caras e dispendiosas. Criou-se uma ruptura na forma de funcionamento do próprio mercado: as receitas existentes foram reorientadas para a empresa inovadora (paramos de locar filme e passamos a assinar pacotes pela internet), que soube aproveitar todo um universo de clientes pagantes e ativos. A Netflix percebeu, antes de todos, a oportunidade nascente de um mercado baseado em novas opções e comodidade. TEMA 3: ASPECTOS RELEVANTES DA GESTÃO DA INOVAÇÃO DOS NEGÓCIOS A gestão da inovação vem se destacando no cenário de negócios como uma força central para renovação. Vincula-se diretamente à estratégia e à forma de atuação das empresas nos seus respectivos mercados e também em novos. Sem inovação, não temos novidade e não temos como nos diferenciar junto aos nossos clientes num contexto de hipercompetição, como o que vivemos nos dias atuais. Restringir a estratégia organizacional ao mais do mesmo é criar pontos de vulnerabilidade organizacional. Os mercados são inclementes, pois, a cada novidade apresentada pela concorrência, os consumidores – ávidos por novas experiências – movem-se em uma velocidade surpreendente para a satisfação de suas necessidades e desejos. O permanente movimento tem sido a regra e não mais retrocederemos a um patamar onde a estabilidade e a certeza eram passíveis de serem atingidas por meio de técnicas de previsão e controle central. Era uma época de pouca inovação! Quem tem duvidado dessas novas premissas tem pago caro, pois coloca- se, enquanto empresa, enquanto profissional, numa posição coadjuvante que espera que as coisas permaneçam mais ou menos as mesmas, acreditando que conseguirá se antecipar às armadilhas criadas pelos inovadores. 12 Assim, as empresas devem mover-se de forma a buscar oportunidades para além de suas capacidades e negócios. Devem criar, a cada dia, alternativas que venham a entregar mais valor, não só resolvendo aquilo que é percebido por todos os competidores dentro de um determinado mercado, mas também criando patamares inéditos que venham a encantar as pessoas de maneiras surpreendentes. Nesse sentido, relacionar-se com os clientes é aprender aquilo tudo que possa vir a deslumbrá-los diante de propostas inequivocadamente singulares, pois aquilo que se faz novo hoje não será mais assim reconhecido com o passar de poucos meses. Natureza da Inovação Falamos acima dos tipos de inovação e a característica específica de cada uma e acordo com seus ganhos de conformação na realidade. Devemos caminhar um pouco mais e ir diretamente ao cerne da inovação, considerando seu impacto direto de transformação do mercado. Assim, temos, considerando os diferentes graus de mudança objetiva nos mercados: Inovação Incremental São modificações mínimas, mas existentes na forma como criamos valor junto aos nossos clientes. Inovar incrementalmente significa que adicionamos algum tipo de mudança nos produtos, com alguma funcionalidade ou aspecto estético, tal como vemos no desenvolvimento de novos carros que trazem cada vez mais plataformas de tecnologia de informação a bordo, mas não é, necessariamente, uma grande novidade a ponto de gerar grande quantidade de vendas. Uma inovação incremental é uma inovação facilmente copiável, pois, assim que reduz o risco para a própria empresa, permite que os concorrentes façam o mesmo em curto espaço de tempo. Portanto uma inovação incremental não garante vantagens competitivas consideráveis, pois não ataca de frente a necessidade de renovação de produtos e serviços conhecidos. Inovação Substancial 13 São inovações que modificam consideravelmente a plataforma pelas quais entregamos valor aos nossos clientes. Assim, uma mudança significativa no modus operandi dos sistemas, canais de distribuição e nas formas como interagimos com nossos clientes leva a um novo patamar de valor, a exemplo da utilização de novas plataformas de interação continuada, como o ensino a distância. Essas plataformas são consideradas inovações substanciais, pois deslocam a barreira de tempo e espaço necessárias para adquirirmos um bem ou um serviço. Como mudamos consideravelmente nosso modo de atuação frente aos concorrentes tradicionais, criamos barreiras tecnológicas de difícil imitação e que operam deslocados das formas habituais como normalmente trabalhamos. Inovação Transformacional Também consideradas poralguns autores como inovações disruptivas, são aquelas que modificam plenamente o paradigma de atuação das empresas, ou seja, a forma como interagimos diretamente com a realidade. Isso quer dizer que, na maioria das vezes, os empreendedores criam uma inovação do tipo transformacional, trazem à luz vibrantes e improváveis cenários de realidade em que os padrões de atuação das empresas tradicionais são recriados de uma hora para outra. Empresas como a Airbnb (que loca espaço nas residências comuns, substituindo hotéis) trabalham para muito além do costumeiro e do viável. São empreendimentos que desafiam a lógica tradicional ao virarem os mercados de ponta-cabeça, pois em nada se parecem com as iniciativas mercadológicas consideradas como sendo de alto impacto. Na verdade, esses novos empreendedores, a frente de inovações transformacionais, operam dentro de uma lógica nascente que lhes são próprias, descontinuando mercados inteiros, não por lhes confrontar diretamente, mas por ir além dos limites conhecidos. TEMA 4: A DESTRUIÇÃO CRIATIVA SCHUMPTERIANA Em 1908, o economista Joseph Alois Schumpeter antecipou as condições pelas quais as empresas trabalham hoje, criando a teoria do empreendedor como agente da criação de riquezas. Segundo sua teoria, os empreendedores 14 de mentalidade inovadora operariam segundo uma lógica própria, criando modificações irreversíveis no mercado – as chamadas destruições criativas. Destruições criativas são maneiras pelas quais um mercado cria valor real para seus consumidores, substituindo velhas estruturas por novas, mais capazes de gerar valor. Trata-se da continua substituição de processos e tecnologias por novas, cada vez mais atuais e afinadas aos novos tempos, como a substituição da máquina de escrever pelo computador, das câmeras de filmes fotossensíveis por câmeras digitais. Destruir criativamente um mercado é, portanto, solapar velhas estruturas por novas e mais eficientes, criando um ganho de produtividade de tal monta que a sociedade não volta mais ao ponto inicial. Isso faz com que esse tipo de movimento crie mudanças também de ordem cultural, uma vez que impossibilidades tidas como intransponíveis seriam agora a onda do momento, renovando todo um conjunto de crenças, criando mais liberdade e autonomia para os indivíduos. Segundo a teoria Schumpeteriana, o empreendedor e sua ação criativa ocupam papel fundamental na criação de riquezas. Países e regiões com mais liberdade econômica, tais como EUA, norte da Europa, Coréia do Sul, Hong Kong, Austrália e Nova Zelândia, tendem a ter mais liberdade para a ação dos indivíduos, oferecendo condições para que novos negócios possam ser testados e viabilizados, segundo inclinações individuas e visões particulares de mundo. Regiões com menos liberdade de “trânsito” para os indivíduos tendem a ser regiões menos empreendedoras e, por conta disso, mais pobres, caso do Brasil e da América Latina. A necessidade de criar condições para a concretizações de novos empreendimentos requer o livre fluxo de capitais e conhecimentos. Nações avessas ao capitalismo tendem a operar à margem de novas realizações, porque justamente não possuem o ambiente para que empreendedores e investidores possam vir a se encontrar. Veja o vídeo que fala sobre a destruição criativa atualmente: https://www.youtube.com/watch?v=7czXtg6pNIs https://www.youtube.com/watch?v=7czXtg6pNIs 15 Leia o artigo sobre as teorias de Schumpeter e o impacto no entendimento da economia atual: http://sinop.unemat.br/site_antigo/prof/foto_p_downloads/fot_7471schumpeteb_ pob_costa_pdf TEMA 5: AS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS O físico norte-americano Thomas Kuhn imprimiu um novo significado na ciência para as revoluções científicas. Sem desenvolvimento científico, não temos como criar apoio concreto às inovações. Paradigma é sua expressão preferida e nos diz que para, irmos à frente em qualquer setor da vida humana, necessitamos quebrar os pressupostos pelos quais assentávamos a compreensão de nossa realidade. Um paradigma nos restringe à descoberta, pois nos coloca em uma realidade que pouco se altera nas suas condições primordiais. A quebra de paradigma é, portanto, quebra de padrões de apreensão de nossa realidade primeira e conduz ao desenvolvimento de novas áreas de atuação científica. Assim, amparados em novas áreas de conhecimento, podemos evoluir com as descobertas científicas, pois, no fundo, precisamos entender cada vez mais os fenômenos da natureza e suas consequências. A interação entre ciência e inovação, tem sido chamada de inteligência tecnológica: esforço sistemático em encontrar respostas de cunho científico para aquilo nossa imaginação nos aponta. http://sinop.unemat.br/site_antigo/prof/foto_p_downloads/fot_7471schumpeteb_pob_costa_pdf http://sinop.unemat.br/site_antigo/prof/foto_p_downloads/fot_7471schumpeteb_pob_costa_pdf https://www.youtube.com/watch?v=MfjkVGJxYu4 16 TROCANDO IDEIAS Responda a questão, trazendo sua opinião no nosso fórum: As empresas estão preparadas para a inovação atualmente? Comente as principais barreiras e o que deveria ser mudado na sua opinião. NA PRÁTICA Veja o estudo de caso do hospital Moinhos de Vento e reflita sobre os princípios por trás do design thinking e da inovação: http://www.crars.org.br/arquivos/artigo_thomas-troian.pdf FINALIZANDO Inovar é criar. É desenvolver a capacidade nos indivíduos para que a manifestação criativa venha à luz e também para que possamos progredir na criação de novos inventos e novas soluções para o mundo. Com a criatividade, temos, em maior ou menor grau, a originalidade que se manifesta pela atuação individual, que pode transformar o mundo, pelo seu potencial criativo e imaginativo. A inovação é um processo continuado de aprendizado, em novas situações que confere ao agente significativo e intransferível saber. Toda jornada de inovação confere significativa transformação na identidade dos indivíduos e na forma como percebem e interagem com seus mundos. Regendo essas condições, está a notável capacidade dos empreendedores junto aos novos empreendimentos. Os empreendimentos inovadores trazem consigo renovação e capacidade de geração de riquezas sem precedentes. Operam, segundo Schumpeter, destruições criativas no mercado, onde uma velha tecnologia é substituída sempre por novas. Cada empreendedor se vale de uma nova noção paradigmática e atua como porta-voz de novas realidades. http://www.crars.org.br/arquivos/artigo_thomas-troian.pdf 17 REFERÊNCIAS KUHN, Thomas Samuel. A estrutura das revoluções científicas. Tradução de Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. 3ª ed. CHRISTENSEN, Clayton M. O dilema da inovação: quando novas tecnologias levam empresas ao fracasso. São Paulo: Makron Books, 2001. SCHUMPETER, J. Capitalismo, socialismo, democracia. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961. FOSTER, Richard; KAPLAN, Sarah; Destruição Criativa. Campos, 2001. BROWN, Tim. Design thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. ADLER, Mortimer. Como pensar sobre as grandes ideias. São Paulo: É Realizações, 2013. GESTÃO DA TECNOLOGIA E DA INOVAÇÃO AULA 2 Prof. Marcelo Alessandro Fernandes 2 CONVERSA INICIAL Na aula anterior, demos um panorama geral sobre a gestão da inovação e o significado mais profundo do que o termo “gestão” significa nesse contexto de aplicação. Agora, iremos aprofundar sobre o papel da organização enquanto provedora do ambiente e do contexto adequados para que iniciativas inovadoras possam ser bem-sucedidas. Isso porque a dimensão cultural e psicológica dos indivíduos envolvidos nesse trabalho trará forte influência para o sucesso e o insucesso nesse tipode empreitada. Muitos executivos dizem que as organizações não são espaços adequados para a inovação, pois a agenda operacional e a mentalidade de “mais do mesmo” impactam diretamente as aspirações de executivos com mentalidade mais inovadora, criando barreiras fortes e, muitas vezes, intransponíveis para que as pessoas não sejam marcadas negativamente quando do insucesso e da descontinuidade desse tipo de projeto. Muito disso é verdadeiro. É comum ver a figura de um visionário destacado à frente dos negócios, mostrando que a inércia das organizações não possui a velocidade e a mentalidade necessárias para encampar as idas e vindas de um projeto de inovação. Mas, definitivamente, isso não significa que as organizações são incapazes de lidar com o empreendimento. Em projetos inovadores, é necessário comprometimento por parte dos líderes desde o princípio. Mas acreditamos que os líderes não são os únicos responsáveis pelo insucesso, pelo não aproveitamento dos profissionais de perfil criativo ou pela falta de efetividade das propostas. Nem tampouco podemos justificar isso por algo tão amplo e genérico chamado cultura organizacional. A parte mais considerável pela não aceitação dos chamados projetos inovadores cabe ao indivíduo e a sua dificuldade de lidar com as ambivalências, autopermissões e a necessária abertura para que a mente chegue a respostas criativas, diante de quaisquer obstáculos que surjam pelo caminho. O empreendedor é alguém que cresce diante das adversidades. Isso significa que as barreiras, sempre presentes, servirão como anteparo para o crescimento do grupo. Sem que surjam dificuldades, não teríamos porquê pensar diferente, bastando seguir uma sequência de passos de aprimoramento rumo aos resultados conhecidos. 3 O mercado se apresenta em condições dinâmicas, e dinâmico também é o comportamento dos nossos clientes, que possuem cada vez mais formas de buscar conhecimento por si mesmos na internet. Ou seja, as respostas criativas que os indivíduos criam ao longo de um processo não cabem apenas a transformação dos produtos ou serviços, mas também na forma que lidamos e contornamos as adversidades. Profissionais que conseguem lidar com esse tipo de tensão constante, acumulam, com o passar do tempo, conhecimentos e habilidades que o colocam em posição de destaque em relação aos demais. São aquelas pessoas que crescem frente ao desafio. Hoje, não existe desafio maior colocado junto aos profissionais que a instigante e agora permanente necessidade de inovação. CONTEXTUALIZANDO Criar uma visão inspiradora para si A primeira e importante tarefa para a instituição é criar uma ambiciosa e inspiradora visão de inovação para si mesma. Vemos regularmente que as organizações buscam inserir, na sua visão de negócio, um tipo de busca de futuro que enfatiza um caminho baseado nas suas condições presentes de atuação. Por exemplo, um hospital enfatiza um caminho de melhoria dos processos de atendimento do paciente, da adoção de procedimentos clínicos de ponta e mesmo o atingimento de algum resultado financeiro específico. Não coloca como desafio máximo a total recriação de sua proposta de valor junto aos clientes, como fizeram muitas empresas de tecnologia. Isso acaba informando para o resto da instituição que a prioridade do negócio é realizar sempre mais do mesmo, só que bem feito. A organização busca a concretização de algum caminho que já foi experimentado e pode ser de alguma forma inferido. Isso acaba por enfatizar reiteradamente competências existentes, destacando os executivos que já atuam dentro de uma performance consagrada de desempenho. O foco da organização deveria ser criar competências, novos aprendizados, profissionais que se destaquem e cresçam dentro de iniciativas inusitadas. 4 Dar espaço para o novo é colher o resultado da inovação no amanhã. Pessoas que não se entusiasmam e não se surpreendem com o próprio trabalho não ocuparão novas posições de destaque no futuro. A energia e o entusiasmo que colhemos sobre coisas novas que fazemos no presente são a fonte para que o esforço mantenha-se continuado ao longo dos anos – tempo necessário para que muitas inovações sejam bem-sucedidas. Peguemos o exemplo dos filmes da série Star Wars criados na década de 1970 pelo visionário cineasta George Lucas. Foram necessários anos de investimento pessoal, algo que ele já se propôs a fazer no final da década de 1960, para que seu sonho só pudesse ser realizado muitos anos depois, em 1976. Mais que do que tempo de trabalho dedicado na confecção de muitos roteiros e histórias sobre o universo Star Wars, antes mesmo da produção dos filmes, o cineasta era impulsionado por uma crença verdadeira de que o cinema necessitava ser renovado através de histórias de ficção científicas leves e imaginativas. A partir do seu pioneirismo, todo um setor emergente de fantasia foi criado e, hoje em dia, é bastante comum o lançamento de filmes de super- heróis e novelas espaciais. A aposta pessoal e a crença verdadeira de um empreendedor em seu sonho foram os pré-requisitos necessários para que uma intenção verdadeira perdurasse por tanto tempo, servindo como o verdadeiro “chão” que o cineasta conseguiu trilhar. Antes dele, quase ninguém acreditava na viabilidade de seus sonhos na indústria cinematográfica. Indicadores de performance e processos oriundos da sistematização parecem não caber muito bem nesse tipo de busca criativa. No livro Como Star Wars Conquistou o Universo, ficamos sabendo que 80% da equipe nos estúdios não acreditavam no sucesso do filme. Quão sozinho pode estar um criador com seu projeto! No mundo das corporações, as coisas ainda não funcionam assim, talvez com a exceção de algumas poucas organizações que vivem com a proposta fundamental de criar encantamento junto ao cliente, caso da Pixar e das empresas ligadas ao visionário empreendedor Elon Musk. Assim sendo, uma empresa necessita ter uma visão suficientemente ousada para comunicar aos seus executivos sua busca incessante e ativa da inovação, criando condições 5 para que seus funcionários busquem seus sonhos e criem encantamento através de seus produtos e serviços. Nada menos que isso seria admitido de um empreendedor que quer trabalhar a inovação desde sua fonte, ou seja, na capacidade de trazer seus próprios funcionários junto a um novo mundo em surgimento. Ferramentas de incentivo financeiro e engajamento não são suficientes, pois um ingrediente que foge da dimensão concreta dos negócios pode vir a transformar a vida de muitas pessoas, entre funcionários e clientes entusiasmado. Vida essa que gera uma promessa de futuro compartilhado para muito além do lugar comum. Quando a segunda série de filmes de Star Wars foi criada, muitos atores se candidataram a participar do filme pelo simples motivo de quererem fazer parte de alguma coisa maior, um sonho que pudesse vir a impactar uma década, ainda que, no fim das contas, o filme pudesse não alcançar os resultados pretendidos. Enquanto executivos que trabalham frente às iniciativas inovadoras, podemos nos fazer as seguintes perguntas: Minha visão de negócio atrai pessoas com perfil de inovação? Os projetos possuem propostas que realmente inspiram as pessoas a trazer o melhor de si quanto à realização pessoal e profissional? Quais são as dimensões de cunho artístico e poético que se encontram na proposta de valor e na visão de minha empresa? A organização pede para que as pessoas deixem de lado seus sonhos e suas emoções uma vez que entram na organização? Nossos negócios possuem espaço para que os indivíduos consigam criar ou desenvolver uma interpretação própria de melhor caminho? São questões que, no geral, movem as pessoas para novos caminhos, ainda não tentados e que em sua maioria trazem uma dimensão leve e de encantamentopara os negócios. Pense o quanto os clientes, no geral, estão dispostos a pagar mais por entrar em contanto com alguma dimensão mais vibrante e inovadora contidas nos produtos e serviços que lançamos. 6 Foi assim que a Lucas Film, a Pixar e os inventos trazidos por Elon Musk conseguiram fazer com que suas instituições passassem de milionárias ao patamar de bilionárias. TEMA 1: CRIAR A ESTRUTURA FUNCIONAL ADEQUADA Toda inovação requer grandes investimentos em termos de tempo e dinheiro. Criar a estrutura funcional adequada é trabalhar com times de alta performance, voltados às iniciativas para que as pessoas possam se dedicar intensamente. Isso significa menor desperdício de energia com burocracias desnecessárias e típicas reuniões executivas, focadas exclusivamente na análise de desempenho das ações em curso, que impactem a continuidade dos negócios e que não devem ocupar o espaço para a especulação e a criação. A dificuldade é entendermos que a execução em torno de ações concretas, objetivas e conhecidas pode ser rapidamente colocada em prática em contraste com iniciativas inovadoras, que exigem mais tempo e convívio com incertezas. Ao trocarmos ações de curta duração e de impactos previsíveis com ações que envolvem alta especulação e grande capacidade imaginativa, temos que ter em mente que aquilo que pode resolvido no curto prazo deixará de resolver questões importantes e de alto impacto estratégico. Para criar efetivamente uma estrutura de inovação, é necessário mudar a mentalidade. Aquilo que é rapidamente diagnosticado e solucionado, na sua grande maioria das vezes, não permite o tipo de experiência inovativa necessária para a organização, pois essa envolve lidar com incertezas, ler respostas ambíguas do mercado e apostar em um tempo de maturação dos projetos. Para que a tecnologia e os novos conhecimentos gerados criem as bases sólidas para os novos projetos temos que sustentar os alicerces da inovação por determinado período de tempo. Vale citar algumas práticas recomendáveis na estrutura organizacional: Formação de equipes com autonomia para criação. 7 Criar equipes com autonomia criativa que possuam interlocutores com capacidade de traduzir a linguagem dos novos inventos junto à cúpula gestora para que possam evoluir dentro de um ritmo necessário de modo que as ideias e os inventos sejam transformados em soluções viáveis. Na prática, a grande dificuldade é ter as equipes trabalhando muito sozinhas, sem nenhuma comunicação com os líderes. Nesse caso, o risco é termos, de uma hora para outra, decisões realizadas em um nível acima, impactando negativamente as ações necessárias para efetivar as mudanças pretendidas Ter executivos “mediadores”. Ao longo de um projeto de inovação, grande capacidade de diálogo deve ser criada no coração da organização. Isso porque o diálogo resolverá os impasses e as maneiras adequadas para lidarmos com a incertezas e dúvidas relacionadas ao processo, bem como permitirá o envolvimento de pessoas- chave para a aceleração ou a execução de determinadas iniciativas. Mediar significa trabalhar, dialogando sempre. O intercâmbio de como as diferentes partes interagem diante de um problema complexo é fundamental. Mediar a evolução de um grupo tendo em visto um processo criativo é muito diferente de negociar. Quando se media pela interação construtiva, busca- se sempre a criação de uma solução não visualizada em um primeiro momento, uma alternativa ainda não criada. Diferentemente, quando se negocia, via de regra, busca-se colocar numa posição contrária aos nossos opositores, onde uma parte ganha e a outra perde. Assim a inovação baseia-se em diálogos de criação de alternativas, chamado também de diálogo generativo, no qual as partes se empenham em encontrar uma resposta nova, fora do campo de visão de todos, mas que gera ganhos mútuos a todos os participantes. Estrutura orientada a projetos. A organização precisa estruturar sua atuação estratégica, ou seja, ter embutido em sua estratégia um grande foco na inovação. Isso significa equipes, áreas e investimentos orientados não só para a viabilização desses projetos, mas para seu sucesso. Os ganhos a partir de projetos inovadores de sucesso tendem a ser exponenciais quando bem-sucedidos nos mercados. Para tanto, 8 necessitamos ter orçamento dedicado a esses projetos, que não sofram as consequências diretas das rotinas e orçamentos dedicados à operação da empresa. É estranhamente comum uma organização colocar em sua estratégia objetivos relacionados à inovação, mas estabelecer prioridades de alocação orçamentária a partir de projetos ou atividades de sobrevivência. É comum escutarmos que precisamos apagar incêndios, como se, observando a mesma metáfora, nos tornarmos bombeiros criasse as condições e aptidões necessárias para construirmos catedrais. TEMA 2: DAR ESPAÇO PARA A EXPERIMENTAÇÃO Como já mencionamos, iniciativas de inovação criam alto grau de aprendizado para a organização. É necessário trilhar um caminho que chamamos de aprendizado de circuito duplo. Aprendizado em circuito duplo é aquele que envolve aprendizado ao mesmo tempo em que estamos criando, simultaneamente, um caminho ainda não trilhado por ninguém. Ou seja, aprendemos algo na medida que testamos o desempenho desse algo em novas condições. Uma atividade humana que envolve aprendizado de circuito duplo rompe aspectos lógicos que só podem ser exercitados quando passamos por uma fase de intensa criação e experimentação. Dar livre trânsito para que os indivíduos experimentem soluções por meio de protótipos práticos é o caminho para descoberta de diferentes meios para a viabilização de soluções criativas. Assim, cria-se mais livremente, possibilitando chegar a um mesmo objetivo de formas diferentes e inusitadas. Criar o ambiente para ver novas ideias se manifestando concretamente é um dos objetivos de uma empresa que queira encontrar formas singulares e originais de atuação. A prototipação, ou seja, dar vida às soluções imaginadas através de maquetes, desenhos ou simulações em 3D, é o caminho rápido e barato para que a mente se entregue em um processo de “concretização” do possível, na realidade dos fatos. Lidar com experimentos é a grande competência a ser infundida e incentivada no ambiente das empresas. Experimentar é uma atitude 9 interessante, pois não gera comprometimento definitivo com algo. Podemos facilmente abrir mãos dos experimentos em prol da percepção de validade ou invalidade do que foi proposto. Na verdade, o termo correto para avaliar um experimento não é “validar uma ideia”. O termo mais apropriado – criado pelo pesquisador organizacional Roger Martin – é “validez” (termo que pode nos soar estranho na primeira vez que o ouvimos). Assim, em vez de validar uma ideia, ou seja, criticar a viabilidade dela em um momento prematuro, quando testes e experimentos ainda não deram as condições plenas para enxergarmos totalmente a sua viabilidade em um mercado ainda incipiente, devemos considerar se algo que foi realizado é válido enquanto esforço na trajetória de crescimento e desenvolvimento de nossas equipes. É importante fazer coisas que nos leve a novas reflexões e insights sobre os caminhos que estamos tomando e avaliar a qualidade do movimento inovador, não a totalidade do que conseguimos criar frente ao que almejamos ser um dia. Isso não é pouco, pois objetivamos criar as condições e os perfis inovativos que cada funcionário carrega consigo. Só assim podemos, aos poucos, sem a radicalidade que afugenta as pessoas em um ambiente que incita temor, trabalhar a libertação necessária e espontânea para que as pessoas entreguem o melhor de si em uma ideia revolucionária. 10 GERIR GANHOS DE APRENDIZADO Como consequência do tópico anterior, temos queacompanhar os ganhos de aprendizado ao longo do processo. Isso porque, no início, temos forte campo de indeterminação ao redor das pessoas com suas propostas e protótipos inventivos. Na medida em que a curva de aprendizado se acentua, gradualmente, vamos ganhando níveis de concretização e efetividade do que pode ser feito em termos de desempenho e desenvolvimento tecnológico. Evolução da curva S e indicadores em cada uma das fases: No gráfico acima, temos a curva de aprendizagem que envolve qualquer evolução do nosso conhecimento frente a uma nova situação. Esse gráfico é concebido considerando o tempo despendido ao longo de um novo problema e o desempenho real e prático que vamos colhendo como contrapartida. O gráfico nos indica que, no início, até termos pleno domínio sobre a nova situação, colhemos baixos patamares de desempenho nos testes e experimentos de nossas novas propostas. Isso porque estamos iniciando um sem número de perguntas e indagações frente à manifestação de algo completamente novo e começamos a realizar desdobramento lógicos que fazemos sobre nossas descobertas, permitindo com que nos aprimoremos apenas depois de certo tempo. Se pudéssemos dividir a curva de aprendizagem em três estágios fundamentais, teríamos o início, a aceleração e o esgotamentos. Início (Fase 1): A curva evolui lentamente, muitas vezes trazendo até mesmo valores negativos de desempenho. Aqui, enquanto participantes do processo de inovação, devemos gerir fundamentalmente a qualidade dos experimentos, as questões que surgem, a proximidade dos participantes junto a um sonho comum e também a qualidade de interação junto às pessoais reais (clientes) que sofrem as consequências diretas das ideias propostas. É comum termos um grande período de diálogo e pesquisa junto aos clientes, considerando, sobretudo, a ida ao local onde as coisas “acontecem” na realidade de uma aplicação prática. 11 Nessa fase, pode-se utilizar indicadores de desempenho relacionados ao número de ideias criadas, número e diversidade de protótipos, qualidade da experiência dos clientes em meio a soluções apresentadas, número de novas funcionalidades, impacto na experiência do cliente, melhoria de desempenho, etc. Aceleração (Fase 2): Nessa fase, a ideia já foi lançada no mercado e há um grande crescimento em termos de adoção das soluções por parte dos clientes, grande fluxo de reinvestimento oriundos de receitas dos novos mercados e aprimoramento e refinamento da tecnologia proposta. É o momento de vários lançamentos sequenciais, de versões seguidas, quando a tecnologia inovadora gera a receita necessária para impulsionar a adoção da tecnologia por parte dos clientes. Trata-se do momento de aproveitar o melhor potencial da tecnologia criada e de utilizar a rede de clientes em nosso favor, criando toda uma onda favorável à adoção de nossas ideias. Nesse momento, conseguimos propiciar ganhos de escala que são proporcionalmente acelerados na medida em que um grande investimento inicial é rapidamente pago. Os clientes se encarregam de divulgar os benefícios da utilização da nova tecnologia e o mercado aprende a lidar com suas situações por meio dela. Esgotamento (Fase 3): Aqui a curva de aprendizado começa a mostrar sinais de esgotamento. As tecnologias começam a encontrar o esgotamento natural das suas condições materiais e o grau de inovação é baixo. Os executivos tendem a querer extrair o máximo da solução antiga, acreditando que, de alguma forma, existem falhas na promoção, divulgação e comunicação de sua oferta atual para o mercado. São tentadas novas soluções dentro da mesma estrutura inicial, como “inovando com baixo custo”. São sinais de que o paradigma pelo qual a empresa cresceu está se esgotando. Esse momento também é a situação ideal para novos concorrentes se lançarem por meio de tecnologias inovadoras, ocupando o espaço da já 12 ineficiente tecnologia. Aqui, o mercado é impiedoso, e uma antiga realidade é substituída por uma outra mais eficaz. Assim, existe grande possibilidade que os atuais clientes sejam levados para um novo mercado, como vimos acontecer na troca de celulares quando Steve Jobs lançou o Iphone. Isso só se deu porque quem era consumidor de tecnologia estava ávido por novas soluções, mais afinadas ao que a internet estava trazendo. Trabalhar a gestão da inovação, considerando a curva S de aprendizado organizacional, nos permite entender as seguintes questões: Existe uma primeira fase de investimentos em experimentos e novas proposições, concretizadas na forma de protótipos. É uma fase que traz para os executivos e gestores a maestria da liderança em contextos de mudança. Os projetos necessitam ser impulsionados por sonhos e trazer resultados fora do comum no mercado. Grande ímpeto é gerado para que a organização consiga lidar com o caos criativo, a ambiguidade e as descobertas trazidas pelo talento dos indivíduos. O que buscamos aqui é trazer o tom de originalidade a tudo que é criado. Cabe também aos grupos saberem em que momento a ênfase da criação deve ser substituída pela ênfase na implementação das ideias. A ida para o mercado necessita ser planejada em seus pormenores para que se consiga extrair o máximo de retorno sobre a adoção da tecnologia. É necessário pensarmos sobre canais de distribuição, as plataformas para interagirmos com os atuais clientes e como prepararmos a empresa para dialogar com os novos perfis de clientes que ela criará em seu caminho. Passo de grande dificuldade e complexidade é abrir-se a novos inventos uma vez que a organização colheu o máximo de retorno sobre as inovações que a impulsionou lá atrás. Na média, existe grande apego às soluções criadas no passado de sucesso da organização e isso pode jogar sombras sobre novos talentos, ideias e propostas que querem emergir no presente. 13 TEMA 3: A QUESTÃO DA ORIGINALIDADE NOS INVENTOS Em um processo de inovação, uma questão recorrente está ligada aos resultados do processo, em termos da novidade apresentada, do grau de originalidade das propostas e do grau de diferenciação real contido nos novos produtos e serviços. Uma ideia original surge da capacidade de originação no indivíduo: capacidade de pensar em sua própria perspectiva e forma de ser, sem a influência de modelos externos de referência. A originalidade dos produtos está diretamente relacionada à capacidade de originar novas formas de pensar. É sempre um movimento de pertencimento que ocorre no nascimento da ideia, ao considerarmos o sentimento predominante de que aquela ideia surgiu ali, naquele grupo, pela contribuição genuína e autêntica de todos. “Autêntica” no sentido de que é verdadeiro e pertencente àqueles indivíduos. Se não fossem os indivíduos, não teríamos como criar insights capazes de conduzir todo um movimento de inovação que surge como imediata consequência. Assim, ao querermos originalidade nos produtos e serviços, devemos ter em mente que é preciso ajudar os indivíduos a se reconhecerem como agentes capazes de manifestar livremente seu senso de identidade, trazendo ideias e pontos de vista próprios. Aquilo que chamamos de original vive, porque acessamos de maneira verdadeira e inequívoca a fonte criativa que existe em cada pessoa, que observa uma forma de ser e viver única, pertencente a ela própria. Ao colhermos traços individuais pertencentes a maneira como cada um é e se comporta, estaremos contribuindo para que as pessoas aceitem mais umas às outras no ambiente de trabalho, tornando mais fácil o surgimento de ideias originais bem como a aceitação dessas ideias. Inovação disruptiva ou inovação como valor. Uma das ideias mais originais trazidas nesse início de milênio é a da inovação como somatório dos efeitos gerados pelos produtos, serviços e 14 processos ofertados.Essa somatória, que é uma experiência marcante, cria um reconhecimento bastante peculiar por parte do cliente e o predispõe a mudar hábitos e características típicas de consumo em favor da inovação. Trata-se da inovação do valor (value innovation, em inglês), que determina que inovar não é só criar valor perceptível para o cliente, mas mudar consideravelmente aquilo que eu valorizo hoje em troca de algo que seja substancialmente diferente e que venha a tomar seu lugar. Um caso bastante elucidativo é a mudança de hábito na frequência com que as pessoas passaram a se comunicar pelo aplicativo Whatsapp, substituindo as caras ligações telefônicas. Algo que era já realizado nas redes sociais passa a ser adotado em larga escala, modificando a necessidade de gerarmos chamadas telefônicas. As pessoas interagem amplamente trocando mensagens de celular. Depois, claro, veio a possibilidade de mandarmos áudio de voz, o que também trouxe mudança significativa do comportamento anterior. Hoje, temos a possibilidade de fazer ligações em que a interação se dá em tempo real como quando falávamos através de uma operadora. O que queremos chamar a atenção com esse exemplo é como um comportamento tido como relacionado apenas a uma parcela do mercado acaba por conduzir a toda uma mudança de impacto, modificando fortemente hábitos arraigados. No exemplo citado, o aplicativo Whatsapp gerou grande impacto negativo na receita das operadoras de telefonia. 15 Assim conforme a teoria de W. Chan Kim e Renee Mauborgne no livro estratégia do Oceano Azul. Inovar no valor e modificar desejos e hábitos dos consumidores requer que produtos e serviços sejam redesenhados para a recriação de hábitos de consumo. Os hábitos são circundados de fortes crenças e valores e necessitam de grande incentivo para que se modificarem. Isso significa que a inovação tecnológica, focada apenas nos termos de funcionalidades e de aspectos concretos, podem não atingir o apelo emocional e de experiência necessário para modificar a vida dos clientes. Uma vez que a organização consiga trazer mudanças de perspectiva no próprio mercado, ela deixa de se posicionar como reflexo de sua própria concorrência e passa a influenciar como agente impulsionador de todo um novo movimento de renovação do mercado. Deixa de ser seguidor e passa a ser desbravador. TEMA 4: INDICADORES PARA INOVAÇÃO Anteriormente, falamos da necessidade de termos a mensuração de todo o processo de inovação, pois esse processo não é algo totalmente solto e livre de acompanhamento. Deve-se respeitar a natureza de cada fase, colocando indicadores que venham realmente a acelerar um fluxo que é natural. É importante ter mensuração que ajudem a nos guiar pelo processo, sem nos confundir. Alguns indicadores para inovação devem também ser utilizados como indicadores estratégicos fundamentais, possibilitando acompanhar o quão efetivamente uma estratégia cabe dentro de uma dimensão inovadora, ou seja, será que nosso caminho enquanto organização é impulsionado pelas inovações que criamos? Os indicadores mais utilizados como instrumentos de gestão da estratégia são: Receitas criadas por novos produtos. Faturamento que se origina exclusivamente de produtos, serviços, processos e modelos de negócio inovadores. Serve para mensurar se os esforços globais de inovação estão trazendo resultados financeiros. 16 Participação em novos mercados. Esse indicador que nos diz o quanto de receita é gerado em mercados diferentes daqueles tradicionalmente ocupados pela empresa. Busca-se mensurar o grau de empreendedorismo, da ação efetiva em mercados diferentes daqueles que dominamos e o quão bem-sucedida é em temos do que começamos a trilhar. Novos negócios. Indica a capacidade de criar novos negócios (não só produtos e serviços) que venham a se estabelecer com sucesso no mercado. Clientes com perfil diversificado. Mensura a capacidade de atrairmos clientes com novos perfis, diferentes dos atuais. Investimento em P&D. Indicador que acompanha o total de investimento realizado em iniciativas de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). Trata-se, sobretudo, de uma medida de esforço que deve ser contrabalanceada com os resultados. Assim, o tanto de investimento em dinheiro para desenvolver um novo produto deve ser considerado junto aos resultados obtidos pela empresa no mercado. Tempo de inserção de novos produtos e serviços em novos mercados. É o tempo médio que uma empresa leva para lançar um novo produto que tenha similaridade com empresas do mesmo setor. Percentual de pessoas engajadas. Número de pessoas engajadas em projetos de inovação, ou seja, uma percepção obtida por meio de pesquisas de reação que indicam que pessoas de fato estão empenhadas em fazer as propostas virarem. Percentual de Projetos Abandonados. Número de ideias ou projetos inovadores promissores que são abandonados antes do lançamento no mercado. 17 TEMA 5: ESTRUTURAS PARA APOIO NA INOVAÇÃO Como deixamos claro, um processo de inovação é, por natureza, assistemático: há modificações imprevisíveis e que fogem a toda tentativa de sistematização no fluxo entre ideias novas e a interação com a realidade. Assim a mente humana nunca seguirá um processo que guia a inovação, pois ela mesma é a iniciadora de novos caminhos. Podemos sempre imaginar diferentemente nosso mundo ao criar mundos paralelos por assim dizer, com mais novidade, os modificando dentro de um impulso originador. Podemos nos utilizar ferramentas ou processos que visam a trazer novos insights como forma de gerar um contraponto com a realidade, ou seja, uma forma de tentarmos nos colocar para além de padrões de pensamento, porém isso, por si só, não garante a originalidade dos processos criativos. Como falamos, a originalidade pertence única e exclusivamente à capacidade dos indivíduos de entrarem em contato com sua parcela mais livre e autônoma. Futurismo São estratégias para criar insights por meio da construção de futuros que consideramos factíveis de se realizarem. Serve como apoio para extrapolar os limites do que conhecemos e também para realizar aprendizado por contraste. Assim, podemos inferir como será nosso mercado daqui a 10, 15 ou 20 anos e se o que estamos fazendo hoje trará algum tipo de resultado nos mercados do amanhã e que tipo de soluções podem ser criadas a meio caminho, entre o agora e o futuro. Inteligência competitiva Esforço sistemático de monitoramento do espaço de competição da empresa em busca de sinais de mudança no comportamento dos consumidores, na forma como nossos concorrentes se posicionam e no alerta que identificam novos entrantes, normalmente startups com novas propostas de valor. O intuito do processo é trazer informações relevantes para a tomada de decisão num ambiente de rápidas transformações. Gestão do Conhecimento 18 Gerir a organização tendo como objetivo criar e compartilhar novos conhecimentos é cerne de toda a nova tecnologia. No fundo, os produtos e serviços são o desenvolvimento de nosso aprendizado e refletem o quanto aprendemos. A gestão de conhecimento visa a trazer para o cerne do negócio a preocupação de como trabalhar a junção entre tecnologia, crescimento profissional e organizacional. Curiosidade A teoria de inovação baseada na curva S não é recente e parte dos estudos de um desbravador na área do conhecimento e cognição humana chamado Hermann Ebbinghaus, que viveu entre 1850 e 1909. Leia mais em: https://en.wikipedia.org/wiki/Hermann_Ebbinghaus FINALIZANDO O esforço organizacional para inovação envolve novas e instigantes dimensões na gestão organizacional. Vimos que a organização precisa ser um misto de espaço para a viabilização de sonhos e experimentação. A organização também precisa viabilizar a utilização de ferramentas
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