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Responsabilidade socioambiental Unidade 1 Introdução Seção 3 de 6 Atualmente, a humanidade apresenta forte preocupação com as questões ambientais. No sentido restrito, utilizamos o termo “ambiente” para nos referirmos aos aspectos da natureza, como a água, as plantas, os “animais”; mas consideramos a “sociedade” como algo à parte, como se não houvesse um elo entre ambos. Qual motivo, porém, para inserimos aspas nos respectivos termos? Porque somos educados, ou doutrinados, a restringi-los em seus significados. Quando abordamos a palavra “animais”, em certo ponto, inferiorizamos as demais espécies por sermos seres pensantes – mas, nisso, fracassamos. Nós nos consideramos inteligentes; porém, não sabemos respeitar o meio em que vivemos. Somos definidos como sociais; todavia, negligenciamos o respeito à opinião, a escolha, ao status social do outro. Nessa direção, chegamos ao limite: da abundância de recursos naturais, mas também do preconceito, iniciando uma corrida contra o tempo para equilibrar a balança, e alcançarmos a harmonia. Podemos afirmar que a humanidade formou subgrupos. Diferentemente de outras espécies, na nossa, um subgrupo procura sobressair-se ao outro, fazendo com que se estruture uma pirâmide social (Figura 1), o que, em determinados momentos, acarreta discriminação. No entanto, por qual motivo falamos de ser humano e sociedade, se a temática é ambiente? Essa pergunta poderá ser respondida com outra: afinal, somos também ambiente? Se a resposta for positiva, o que nos levaria a pensar que questões sociais não são discutidas na temática ambiental? O primeiro exercício necessário é a reflexão de que não existe diferença entre sociedade e ambiente: ser humano e o seu meio constituem algo mútuo e unitário. A compreensão é aparentemente simples, mas torna-se complexa ao tentarmos colocá-la em prática. Figura 1. Modelo de pirâmide social brasileira, classificada pela renda. Fonte: IBGE (2015) apud Mussi, 2017, p. 20. Uma reflexão importante é sobre o que nos leva atualmente a abordar esse discurso socioambiental com afinco. Talvez seja a busca pela sensibilização social, não se restringindo à conscientização. Sensibilizar a população às questões socioambientais procura estimular seu engajamento e trabalho efetivo, com a finalidade de um ambiente de melhor convívio. Deve-se, por sinal, compreender que a palavra trabalho não está restrita às relações de emprego, mas a toda e qualquer atividade socioambiental realizada. Para melhor compreensão, pode-se afirmar que a produção do conhecimento e o desligamento histórico entre sociedade e ambiente são formas de trabalho. Dessa forma, o trabalho é o produto dos fenômenos e da relação entre sociedade e natureza, que procura atingir alguma meta ou objetivo. Essa finalidade é denominada teleologia. CONTEXTUALIZANDO A concepção de trabalho foi estudada pelo cientista Sergio Lessa para elaboração da sua tese de doutorado, que resultou no livro Mundo dos homens: trabalho e ser social. O enredo da obra baseia-se na concepção de trabalho como processo de complexidade do ser social e no trabalho abstrato (força produtiva). A abordagem da obra é de cunho filosófico e sociológico, e convida-nos a conhecer e ampliar a visão sobre o tema (LESSA, 2012). Nesse enredo filosófico, podemos pensar na relação de trabalho que temos com o nosso meio e em ambas as questões, físicas e sociais que o envolvem. Compreender esse relacionamento socioambiental exige conhecimento de diversas áreas – humanidades, sociais aplicadas, exatas e saúde. Cada qual traz uma forma de construção de conhecimento – nem sempre convergente –, e essa contradição, ou contraposição de ideias tem a capacidade de formar novos conhecimentos. É o que se denomina dialética. Esse debate de ideias é importante para a formação de conhecimento, pois o ambiente se constitui na interdisciplinaridade. Dessa maneira, a implementação do método cartesiano como forma de compreender melhor os fenômenos que nos rodeiam acarretou alguns problemas: com o formato de fragmentação do conhecimento, precisamos, agora, unir as diversas ciências, algo de suma importância para compreendermos o ambientalismo. CITANDO Leandro Konder tratou da dialética em sua obra O que é a dialética, publicada pela primeira vez em 1981. O livro, que faz uma abordagem estrutural histórica, filosófica e sociológica sobre o tema, traz a seguinte definição de dialética pelo autor: “O modo de pensarmos as contradições da realidade, o modo de compreendermos a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação” (KONDER, 2008, p. 8). OS PROBLEMAS AMBIENTAIS DA ATUALIDADE A crescente demanda por uma soberania econômica dos países implica sérios problemas ambientais. Para movimentar a “máquina” financeira e se tornarem concorrentes, as grandes empresas buscaram o lucro e se ausentaram das questões do ser humano e seu meio. É complexo afirmar que os governos são responsáveis pelo desenvolvimento regional, pois, durante o processo histórico, em especial após a Segunda Guerra Mundial, as grandes corporações, as multinacionais, iniciaram uma espécie de regência econômica global. Em geral, torna-se perceptível a necessidade das indústrias e do setor de serviços para a manutenção de empregos, geração de rendas e afins. Uma indústria multinacional, ao se instalar, por exemplo, em determinada cidade, ocasiona o surgimento de outras pequenas empresas que lhe darão suporte produtivo (peças, tecidos ou qualquer tipo de matéria-prima). Também ocorrerá a ampliação do comércio e outros meios de serviços, devido à chegada de novos moradores ou visitantes, ampliando a abertura de hotéis, restaurantes, entre outros. Além disso, os gestores regionais procuram melhorar os serviços básicos, principalmente aqueles relacionados ao transporte, o que facilita a locomoção. Isso demonstra a formação de uma cadeia que, com o passar dos anos, gera maior engajamento. Aparentemente, todo esse processo parece positivo; contudo, há, também, um lado obscuro. A falta de preocupação com o meio físico ocasionou a devastação de florestas, ameaçando a sobrevivência de espécies. Essa remoção de cobertura vegetal também ocasionou a degradação dos solos, bem essencial à manutenção da vida, assim como dos recursos hídricos, que foram poluídos – em ambos os casos, com consequências consideradas irreversíveis. A exploração de bens minerais tornou-se altamente crescente, mas a manutenção dos recursos não pôde acompanhar a demanda. Além disso, o fenômeno da urbanização ocasionou aumento demasiado na geração de resíduos sólidos e efluentes, bem como a constante emissão de particulados atmosféricos (orgânicos e inorgânicos), por meio dos gases emitidos por indústrias, transportes e pela realização de queimadas (Figura 2). Figura 2. Ilustração dos problemas ambientais da atualidade. Fonte: SOUZA, 2014. Não somente as questões relacionadas ao meio físico, porém, registraram impactos. A necessidade de mão de obra acarretou a busca por pessoas de outras regiões que aceitassem empregos exploratórios, sujeitando-se a uma elevada carga de trabalho e a baixos salários. Os resultados desse processo foram xenofobia e inferiorização do trabalho feminino, e o preconceito contra raça e gênero tornou-se crescente. O status social e profissional paira sobre o ambiente, dando margem à inferiorização. Mesmo assim, os subgrupos, comentados anteriormente, foram incorporados socialmente e ganharam força, mas sabemos que esses problemas ainda se encontram presentes, embora as legislações e os movimentos para mudanças se encontrem ativos e tenham obtido resultados positivos. Todavia, muito ainda precisa ser feito. CURIOSIDADE A história de Marie Curie é inspiradora. Nascida em 1867, na Polônia, desafiou todos os preconceitos existentes quanto à inferiorização social da mulher. Realizou um trabalho crucialsobre a radioatividade, sendo a primeira mulher, e a única pessoa no mundo, a ganhar o Prêmio Nobel duas vezes em categorias científicas distintas, química e física. Lutou contra toda forma de discriminação e preconceito, e seu legado científico é reconhecido e aplicado até os dias atuais, principalmente nas áreas de física, química e na medicina. É importante perceber que as atividades relacionadas à economia estarão sempre interligadas aos problemas socioambientais. A empregabilidade e a necessidade de circulação financeira elevam as relações no interior da sociedade e o meio físico. A educação é uma ferramenta “libertadora” para a erradicação dos problemas apresentados; entretanto, as falhas nesse processo são enormes. O esquecimento de que educar é a principal ferramenta para a formação de cidadãos é uma das principais delas. A realização de mudanças deve ser iniciada a qualquer momento, por mais simples que seja a atitude; porém, a educação será crucial e terá impactos na construção de um novo futuro. As questões relatadas implicam sérias consequências para um bom desenvolvimento socioambiental. A saúde humana é a principal impactada e motivo de estudos em diversos países. Um dos temas trabalhados em países desenvolvidos é a influência das questões socioambientais na população, pois é perceptível o crescimento do número de mortes por câncer devido à poluição, da procura por psicólogos e psiquiatras devido a problemas de relacionamento etc. – e isso influencia a qualidade de vida e bem-estar do ser humano. As melhorias surgirão primeiramente da sensibilização, e posteriormente no trabalho para modificação – formas de ação denominadas práxis. DICA A práxis é o processo da junção entre teoria e prática. A explanação desse conceito foi realizada no trabalho realizado por Pereira e colaboradores (2016), chamado: “O conceito de práxis e a formação docente como ciência da educação”. Mesmo com uma abordagem mais voltada à pedagogia, os autores procuram apresentar os princípios fundamentais do conceito. A INTERDISCIPLINARIDADE NAS QUESTÕES AMBIENTAIS Os meios de comunicação facilitaram nossa percepção sobre o sistema causa- efeito dos problemas ambientais. Todavia, é importante relembrá-los para fixá- los em nosso cotidiano. Podemos classificá-los em: • 1 1 Discriminação por questões de classe, gênero, razão e etnia; • 2 2 Exploração irregular de recursos naturais; • 3 3 Abuso de autoritarismo por status social, empregatício ou acadêmico; • 4 4 Despejo de rejeitos em locais e formas indevidas; • 5 5 Desmatamento e caça predatória; • 6 6 Exploração de mão de obra; • 7 7 Emissão constantes de poluentes atmosféricos; • 8 8 Ausência de aprendizado sobre deveres sociais éticos. As causas dessas questões acarretam uma conjuntura de reuniões, debates e movimentos sociais, para o despertar da sensibilização. A academia, como principal membro estrutural de discussão dos problemas socioambientais, tem o compromisso de trabalhar esses temas e propor soluções. Entretanto, uma única ciência não é capaz de ter a totalidade de conhecimentos necessários para essa finalidade. Um sociólogo, por exemplo, não tem competência, em sua formação, para implementar tecnologias industriais de recuperação de áreas degradadas – mas tem o conhecimento necessário para compreender as causas humanas que levaram à degradação do local. Um administrador não tem, em seu perfil profissional, qualificação para análises químicas de despejo de efluentes em rios – mas pode trabalhar em conjunto com um especialista na área ambiental para propor uma gestão sustentável de resíduos. Esses exemplos demonstram a importância do trabalho conjunto das diferentes áreas. No decorrer do processo de construção do conhecimento, podemos subdividir esse trabalho conjunto em três aspectos: Clique nos botões para saber mais 1. Multidisciplinar + 2. Interdisciplinar + 3. Transdisciplinar + Este último aspecto é considerado, por diversos cientistas, uma utopia, devido à complexidade de um único ser lidar com todo tipo de área existente. No caráter multidisciplinar, a falta da construção de novos pensamentos não apresentará eficácia quando em comparação com a interdisciplinaridade. Já a interdisciplinaridade recebe contribuições em diferentes áreas, e ocorre um engajamento, com a construção de novas formas de pensamentos aplicadas em diferentes contextos. Nesse caminho, o discurso socioambiental apresenta sua formação. Atualmente, praticamente todos os cursos de formação profissional e tecnológica (técnico, graduação ou pós-graduação) trazem alguma disciplina, ou assuntos dentro de sua ementa, que abordam a temática ambiental. Nesse sentido, os projetos ambientalistas, por abarcarem diferentes áreas do conhecimento, demonstram robustez de elaboração e execução, uma vez que sua construção exige diferentes pontos de vistas, que são interligados e contextualizados. No Brasil, os cursos de pós-graduações stricto sensu (mestrado e doutorado) inseridos na área de ciências ambientais da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) apresentam a interdisciplinaridade de áreas como obrigatoriedade no processo de construção de suas dissertações e teses. Caso o trabalho não tenha esse escopo, poderá ser penalizado com reprovação. As questões sociais, inclusive, devem ser contempladas na problemática da pesquisa, pois, em sua maioria, os programas têm o objetivo de formar recursos humanos capazes de compreender e solucionar problemas relacionados ao ambiente. UM CONVITE PARA REPENSAR O AMANHÃ Nossas formas de agir, sejam elas positivas, ou negativas, implicarão no futuro. Como forma de refletir sobre a exposição anteriormente realizada, percebe-se que o ambiental é algo mais abrangente do que os elementos físicos. Compreender a natureza e suas interligações é um processo complexo; contudo, em um primeiro momento, talvez seja primordial respeitarmos os elementos que nos rodeiam. Somos todos os dias convidados a refazer um novo amanhã, e repensá-lo significa transformar nossas atitudes e propor ações de melhoria. Procuremos deixar o pensamento focado no dinheiro, as atitudes de soberba, a ganância para passarmos a conviver em harmonia. A teoria ética que aprendemos no período escolar é sempre necessária de ser colocada em prática, sensibilizando-nos com o meio em que estamos e que vivenciamos. Diferentemente das demais espécies, somos seres pensantes – e, ao realizarmos escolhas e ponderarmos nossas atitudes, conhecemos as consequências das nossas ações. Portanto, ao prejudicarmos o meio em que vivemos, temos conhecimento dos impactos que causaremos a nós mesmos. As gerações futuras agradecerão as transformações positivas que nos propusermos fazer hoje, e deverão dar continuidade a elas, pois este é um trabalho constante, ininterrupto e inacabável: a manutenção do nosso meio é fundamental para melhorar exponencialmente a qualidade de vida e, consequentemente, nossa felicidade. Numa sociedade harmonizada, todos têm bons lucros em ambos os aspectos, financeiro e moral – pois passamos a refletir sobre o coletivo, e não somente sobre as questões individuais. Procuremos, portanto, sempre fazer esse exercício de pensar no próximo, sobre as coisas que nos rodeiam e sobre o amanhã. VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ AGORA? De acordo com o assunto abordado, a sensibilização ambiental é importante: Por incorporar a conscientização e despertar a ação humana para as causas ambientais. Correctly selected Por despertar exclusivamente o debate governamental. Correctly unselected Por apresentar os fundamentos que estimulam novas construções de ideias para as ciências ambientais. Correctly unselected ENVIAR Correta 👍 Muito bem, a resposta está correta! A sensibilização desperta o ato da conscientização do problema e a buscapor melhoria. Além disso, essa sensibilização pode atingir profissionais e pessoas de diversas áreas. Como discutimos, a questão ambiental é uma área interdisciplinar, que precisa ser pensada em diversas frentes de pensamento. Conceitos e definições Seção 4 de 6 Antes de iniciarmos este tópico, é importante pensarmos que o conhecimento é construtivo. A academia exige constantes reflexões sobre suas teorias, pois é dela a responsabilidade de formar novos conhecimentos. Como acadêmicos, devemos lembrar que o conhecimento deve ser por nós construído, e não simplesmente recebido e reproduzido. Algumas pessoas se perguntam por qual motivo existe a necessidade de constantes e diferentes formas de leituras – livros, notas, artigos, comunicações curtas –, e essas questões dúbias são erradicadas quando entendemos o verdadeiro sentido de sermos acadêmicos. Neste tópico, serão tratados alguns conceitos e definições utilizados frequentemente na temática socioambiental. Todavia, é importante lembrar que eles são passíveis de mudanças, uma vez que a academia é dinâmica e se encontra em constantes transformações. As práxis implementadas são responsáveis pelo surgimento de novas formas de visão, já que a prática é crucial na efetivação do pensamento teórico. // Socioambiental/ambiental Como abordado, compreende-se como socioambientais (ou ambientais) as relações existenciais entre sociedade e natureza. É algo inseparável, que tem como produto o trabalho. Não há, nessa relação, superioridade ou inferioridade entre as partes, mas um equilíbrio. Torna-se importante a fixação dessa “balança equilibrada”, pois durante séculos existiu uma discussão acerca de uma superioridade entre as partes: ora, a sociedade é responsável pela regência do seu meio; ora, a gerência ocorre no sentido inverso. Essa discussão de questões de meio físico e social foi fundamental para o surgimento de determinadas ciências, como a Geografia. A ideia de que o meio físico era superior ao homem fez com que surgisse o conceito de espaço vital, de que o homem necessitava explorar os recursos para que ocorresse um equilíbrio. Essa forma de pensamento, denominada determinista, foi elaborada por Friedrich Ratzel e largamente incorporada nas ideologias de Hitler para o nazismo, sendo esse um dos primeiros relatos escritos sobre a implementação das questões sociais sobre o ambiente. // Meio ambiente Termo usualmente empregado nos estudos voltados às ciências ambientais. Entretanto, há cientistas que iniciaram uma espécie de desuso, pois, ao inserirmos a palavra “meio”, estaríamos abordando a metade de algo, e, devido à interligação existente, não se deve realizar essa inferência. Por muitos anos, as questões ambientais foram abordadas nos seus aspectos físicos. Contudo, o papel social tem apresentado uma inserção gradativa e abrangente na discussão. Por termos sido acostumados (ou até mesmo doutrinados) a dividirmos o conhecimento para melhor compreensão, esse termo pode ser usualmente empregado para o estudo das questões físicas ambientais. // Áreas degradadas Umas das maiores problemáticas ambientais existentes atualmente é a degradação ambiental. O termo é empregado principalmente para estudos de solos e ecossistemas. As atividades humanas, principalmente de industrialização, agricultura, pecuária, e mineração, destacam-se no desmatamento e improdutividade do solo, por meio do lançamento de rejeitos, como elementos químicos tóxicos. Ao dizermos que uma área é degradada, ocorre uma referência àquelas que se encontram altamente poluídas e requerem regeneração, a partir de tecnologias sustentáveis para melhoramento de solos, afluentes e reflorestamento. No meio acadêmico, pesquisas voltadas à recuperação dessas áreas são constantes. O avanço nas ciências dos materiais possibilitou a aplicação de nanopartículas, hidrogéis e estruturas poliméricas que auxiliam, com sucesso, a recuperação de solos e rios. Atualmente, empresas propõem o financiamento de pesquisas ou compra de patentes para solucionar tais problemas, o que implica na inserção de uma série de profissionais, como engenheiros, físicos, químicos, administradores, biólogos e afins. // Desertificação A desertificação adentra os temas globais em discussão na Organizações das Nações Unidas (ONU). A utilização de recursos naturais de forma inapropriada, somada às mudanças climáticas e aspectos físicos naturais, ocasiona uma degradação de tal forma que torna impossível a regeneração dos locais explorados, fazendo surgir áreas áridas e semiáridas. Esse debate foi iniciado devido a problemas existentes no continente africano, alvo de grandes preocupações. Por envolver aspectos de auxílio financeiro, países como os Estados Unidos entraram na “corrida”, com o intuito de adquirir lucros, contestando a existência de áreas em processo de desertificação em seu território. No entanto, atualmente existe um mapeamento e acompanhamento dos países com tendências ao processo de desertificação, que podem ser encontrados nas Américas, África e Europa. No Brasil, as áreas susceptíveis à desertificação são encontradas na Região Nordeste. Um dos núcleos de estudos é o município de Cabrobó, Pernambuco, que se encontra em processo avançado (Figura 3). A utilização das técnicas de agricultura por inundação, associada à topografia do terreno e alta evapotranspiração devido às condições climáticas, ocasionou a formação de extensas camadas de sais no solo, tornando-o improdutivo e causando abandono das áreas. As pesquisas estão concentradas nos aspectos de impactos socioambientais, bem como na tentativa de mitigar o problema. Figura 3. Solo salinizado no município de Cabrobó, Pernambuco, um dos núcleos de desertificação brasileiro. Fonte: MAIA, 2015. As problemáticas não se restringem aos aspectos físicos, pois os fatores sociais são duramente afetados. Ao tornar o solo improdutivo, ocorre um impacto direto na produção de alimentos, bem como o abandono dos locais pelos moradores. Nesse processo, há uma queda na arrecadação econômica. Sendo a região responsável por produzir alimentos para outros municípios, estados e afins, o processo ocasionará desabastecimento e prejudicará milhares de famílias. Fatores como esses ressaltam a preocupação das entidades governamentais sobre o tema. // Efluentes Umas das temáticas mais trabalhadas pelas empresas no setor ambiental são os efluentes. A água é um bem precioso, utilizado corriqueiramente em nossas atividades do cotidiano. O processo de “chegada, recebimento” da água é denominado afluente; e a “saída”, denominada efluente. Devido à mistura com outros compostos, orgânicos e inorgânicos, como gorduras, pesticidas, metais e afins, os efluentes tornaram-se uma temática de grande discussão, pois o destino, em sua maioria, são os rios. Ao serem lançados em aquíferos, um dos principais problemas é a carga microbiana existente no material, que ocasiona sequestro de oxigênio e impede o desenvolvimento e manutenção da vida aquática. Os metais são outro exemplo de grandes preocupações, devido à capacidade de se acumular nos organismos. Os acúmulos podem acontecer em seres humanos, por meio da ingestão, acarretando sérios problemas de saúde. ASSISTA A série Aruanas, produzida pela Rede Globo, demonstra com clareza os problemas causados pelo não tratamento de efluentes. O enredo concentra-se nos impactos socioambientais causados pela mineração na região amazônica. O despejo irregular dos efluentes, com altas concentrações de metais como chumbo e mercúrio, ocasiona problemas de saúde nos moradores da região devido à ingestão por meio do consumo de peixes. Em algumas cenas, é demonstrada a morte gradativa dessas pessoas. Atualmente, há empreendimentos com estações de tratamento e monitoramento constante, por meio de análises químicas que atendem às legislações ambientais. Pesquisas nessa temáticaregistram grandes avanços, principalmente pela aplicação de carvões ativados como adsorventes. Outros buscam a utilização de organismos vivos, como plantas aquáticas, para realização de tratamentos. O propósito, porém, vai além do tratamento, e busca a reutilização para fins de serviços gerais ou alguma etapa de processo produtivo. No Brasil, a importância do tema reflete-se na construção de linhas de pesquisas em cursos de mestrado e doutorado, que se propõem a estudar o problema e buscar soluções. // Bioenergia As preocupações do petróleo e carvão mineral como bens finitos acarretaram mudanças energéticas globais. A busca por fontes alternativas de energia tornou-se crescente, a fim de evitar um colapso energético futuro. Não somente a falta, mas também a intenção dos países em melhorar suas condições ambientais proporcionaram o avanço de pesquisas e implementação de fontes limpas e renováveis. A bioenergia é compreendida como aquela que acarreta menores níveis de impactos ambientais, composta por fontes sustentáveis. Matérias-primas como biomassa, sol, vento, são consideradas formas de energia limpa (Figura 4). Figura 4. Principais fontes de energia limpa. Fonte: CreaJR-PR, 2010. É de suma importância saber que qualquer forma de energia trará algum nível de impacto: o que se diferencia é o grau implicado. Petróleo e carvão mineral, além de considerados bens finitos, emitem particulados e compostos orgânicos quando em combustão, como os hidrocarbonetos polissacarídeos aromáticos, altamente prejudiciais à saúde. Estudos apontam positividade em sua substituição por outras fontes, mais sustentáveis, com tendência mundialmente crescente; porém, são necessárias uma constante atenção e acompanhamento. A utilização de biomassa pode ocasionar uma competição entre produção de energia e alimentos. Entre as matérias-primas utilizadas, os óleos derivados da soja e do milho são os principais, mas são eles também fontes nutricionais importantes. Pesquisas que procuram avaliar os impactos ambientais da energia solar e eólica apontaram dois sérios problemas: elevação da morte de animais, principalmente de aves, e erosão. A devastação de áreas para implementação desses modais energéticos também é outra problemática. Compreender tais problemas é importante para entendermos que, mesmo em se tratando de uma energia sustentável, há alguma forma de impacto. // Economia verde Devido às preocupações com as questões ambientais, as empresas iniciaram um processo de mudança e implementaram tecnologias em seu processo de trabalho para proporcionar menos impactos ao ambiente. Seu propósito sustenta-se em menores emissões de poluentes, bem como na criação de produtos biodegradáveis. Esse novo formato produtivo é denominado de economia verde e tem demonstrado adesão crescente por parte de empreendimentos do setor público e privado. Essa adesão não se encontra restrita à diminuição de impactos ambientais, mas também abrange mais lucratividade, com diminuição de custos. Essa nova visão econômica encontra-se presente em grandes debates e participa da agenda da ONU. Os empreendimentos estão gradativamente reestruturando suas linhas produtivas e investindo em tecnologias sustentáveis. Já os setores públicos têm uma tendência em incentivar essa transição, principalmente para atingir as metas propostas em acordos de cooperação sobre diminuições da poluição ambiental. São mudanças que devem atingir de forma positiva a sociedade, possibilitando e garantindo seu bem-estar, sem ocorrência de danos. // Padrões de consumo Vivemos numa sociedade em que somos “forçados” ao constante consumo, e essa atividade é de suma importância para manutenção econômica. Por quaisquer produtos utilizados necessitar, em seu processo, de alguma matéria- prima originada do ambiente, preocupações ambientalistas foram iniciadas. O consumismo demasiado poderá ocasionar, em breve, a escassez de recursos naturais. Daí, o debate visando à mudança. Ao se mencionar sobre padrões de consumo, estamos nos referindo à forma como a sociedade adquire e descarta seus bens – roupas, eletrodomésticos, calçados e afins. O desafio atual encontra-se na sensibilização social para o consumo consciente, uma atividade de alto grau de dificuldade. Em um meio em que se aprendeu que o comprar pode ser uma ferramenta de felicidade, ocasionar uma mudança nessa forma de pensar é complexo. Contudo, não ocorre a existência de uma alternativa sem ser por meio de mudança de atitudes – e a realidade atual é a falta de recursos naturais no futuro, já que a demanda é superior se comparada à oferta. Como consequência, poderá ocorrer uma queda no bem-estar da população, assim como a falta de atendimento para questões básicas e essenciais de manutenção diária. // Mudanças climáticas Para compreensão desse tema, uma primeira definição precisa ser esclarecida, que é a diferença entre clima e tempo. O tempo é algo mutável – um dia poderá ser de sol, e o outro é de chuva. Já o clima é uma observação das modificações do tempo numa faixa mínima de 30 anos. Quando falamos de mudanças climáticas, a referência é uma grande modificação no clima em escala regional ou global. Essa mudança pode apresentar sérios riscos à qualidade de vida da população. Áreas de climas frios, por exemplo, podem apresentar constante aquecimento. As constantes emissões de poluentes são as principais causadoras da problemática, uma vez que podem provocar reações com o ozônio atmosférico e ocasionar aumento na destruição de filtragem dos raios ultravioletas. Esse processo é denominado aquecimento global. Ocorrem grandes discussões na comunidade acadêmica sobre essa temática. Alguns estudiosos afirmam que a Terra se encontra em um processo de aquecimento natural, com tendências futuras de ocorrer um resfriamento, já que, no contexto histórico de formação do planeta, existem evidências de processos de glaciação e deglaciação. Entretanto, a maior quantidade de pesquisas aponta que os impactos ocasionados ao ambiente, principalmente pela emissão de gases tóxicos no ar, são os principais responsáveis por esse processo atualmente. // Desenvolvimento sustentável Entende-se por desenvolvimento sustentável o emprego de tecnologias que ocasionem menores níveis de agressão ao ambiente, como a diminuição da emissão de poluentes na atmosfera. A terminologia tecnologias limpas também é usualmente empregada nessa temática. A substituição dos combustíveis fósseis (petróleo) por energia de biomassa é considerada uma forma de desenvolvimento sustentável. As inovações tecnológicas sustentáveis também devem ter um custo acessível, para beneficiar todas as classes sociais. A questão social também se encontra inclusa no discurso dessa temática, devido à necessidade de melhorar a qualidade de vida da população, em uma tentativa de diminuir as desigualdades. Os limites de recursos naturais devem ser respeitados, e são necessários altos investimentos em pesquisas que busquem fontes alternativas em substituição parcial, ou total. Atividades que contribuam para a extinção de espécies devem ser imediatamente interrompidas e reelaboradas, por poderem provocar um desequilíbrio no sistema ecológico. Essas novas visões e perspectivas estão sendo gradativamente postas em práticas, principalmente por países europeus; entretanto, muito ainda precisa ser realizado. // Preservação e conservação Esses termos, diferentemente do pensamento comum, têm significados totalmente opostos. A preservação é designada para áreas com proteção total, em que não pode ocorrer nenhuma forma de intervenção humana. Quando se trata de conservação, poderá ocorrer a exploração de forma racional, não fomentando indícios de qualquer tipo de impacto ao ambiente. O Brasil conta com legislações que garantem e delimitam áreas preservadas e conservadas, tendo como punição de descumprimento multas e/ou prisões. O desrespeitoa essas áreas, porém, é uma problemática existente e difícil de ser erradicada. As fraudes sobre as legislações ambientais, o descompromisso de empreendimentos, tentativas de subornos e trabalho exploratório e ilegal, são situações encontradas na exploração de bens naturais: em muitos casos, as áreas protegidas têm riquezas minerais, como ouro, ferro, grafeno, estanho e afins, cobiçadas por grandes empresas devido às diversas aplicações. Uma face esquecida é a riqueza da biodiversidade na fauna e flora existente nessas áreas, em alguns casos, pouco conhecidas e estudadas. Pesquisas constantes em áreas protegidas demonstram a descoberta de novas espécies, bem como melhor compreensão das dinâmicas ecológicas. Os estudos de base (aqueles que dão margem a outras pesquisas) apontam que há muito que ser descoberto. São fatores como esses que demonstram a importância de proteção das respectivas áreas, especialmente em um contexto em que, em muitos casos, ocorre negligência para atender anseios econômicos. // Ecologia, ecossistemas e biomas A procura pela compreensão dos aspectos de interrelação dos seres vivos com seu ambiente é denominado ecologia. Entre seus campos de pesquisa, busca-se o entendimento dos padrões e diversidades de espécies, modificações fisiológicas ou genéticas, ciclos biogeoquímicos e afins. São assuntos de extrema complexidade que envolvem, em determinados casos, anos de pesquisas para obtenção de resultados. O bioma é compreendido pela delimitação de uma região com características (climáticas, fisiológicas, geomorfológicas, entre outros aspectos) bem definidas. No território brasileiro há seis biomas: Mata Atlântica, Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampa. Denomina-se ecossistema a interação dos fatores bióticos e abióticos, e se propõe estudar suas respectivas influências. Esse é um conceito bastante utilizado e estudado pelos ecologistas. Contudo, os setores de tecnologia da informação também têm-se apropriado dessa terminologia. Recentemente, o termo ecossistemas de inovação tem ganhado espaço nos debates. Seu objetivo é uma parceria sólida entre entidades governamentais, empresas e instituições universitárias, visando à construção e implementação de parques tecnológicos. Os temas que têm foco são aqueles voltados ao campo das engenharias, informática e outros que envolvem a tecnologia da informação. // Equidade social A busca por uma sociedade mais justa é uma das lutas ambientais atuais. A questão de justiça não deve se restringir aos aspectos do ser humano em sua relação com o meio físico, mas abranger também a relação entre seres sociais. O termo igualdade adentra este século para realizar reparos, consertar e evitar erros relacionados à justiça social. Contudo, outro termo tem tido sua aplicação ampliada: a equidade. Diferentemente da igualdade, que busca realizar uma avaliação, julgamento e afins e é aplicada igualitariamente a todos, a equidade busca estudar o caso, ocasionando uma restruturação de regra, mas sem perda alguma da ética e da justiça (Figura 5). Figura 5. Exemplificação da diferença entre igualdade e equidade social. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 24/08/2020. // Segurança alimentar Esse tema pode ser definido como a capacidade de produção e distribuição de alimentos seguros para toda a população. As políticas voltadas a mecanismos produtivos e disponibilidade de alimentos, a serem elaboradas pelas entidades governamentais, é denominada soberania alimentar. A temática da segurança alimentar envolve diversos temas: todos aqueles voltados à disponibilidade de terra, água e fertilizantes. O contexto também está relacionado à aquisição de alimentos saudáveis para a população. Temáticas como obesidade e doenças causadas pelo consumo alimentício inadequado também são relacionadas à segurança alimentar. RESÍDUOS SÓLIDOS Esse tema é definido como qualquer tipo de material ou bem adquirido e descartado pela sociedade. Em sua maioria, os materiais podem ser reciclados e/ou reutilizados. Contudo, o descarte inadequado apresenta um dos principais problemas ambientais atuais. No Brasil, em 2010, instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n° 12.305/10): o Ministério do Meio Ambiente (2010) aborda políticas de gestão, responsabilidade sobre o ciclo de vida, viabilização de coleta seletiva e sistema de informações sobre o gerenciamento de resíduos. Contudo, falhas envolvendo aspectos financeiros inviabilizam um trabalho efetivo, especialmente as diversas falhas no gerenciamento de resíduos. Nossas atitudes como cidadãos são importantes, pois a separação dos resíduos ainda é algo pouco executado na sociedade. // Racismo estrutural Vivemos em uma sociedade diversificada. Contudo, as políticas étnicas e de respeito ao próximo, em alguns casos, não são implementadas. No histórico de desenvolvimento humano, a ascensão de um determinado grupo social e inferiorização de outro é algo ainda encontrado neste século. Essa trajetória histórica, que põe em prática uma cultura que atinge diferentes grupos sociais de forma negativa, sem respeito à ética civil, é denominada racismo estrutural. VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ AGORA? Entre os conceitos elaborados, relacione os respectivos significados: • • • • Aspectos humanos/sociais • Produção e distribuição de alimentos seguros • Desenvolvimento de tecnologias sustentáveis • Socioambiental • Segurança alimentar • Economia verde ENVIAR Correta 👍 Muito bem, a resposta está correta! A integração entre aspectos humanos e sociais pode ser denominada com o termo “socioambiental”. Por sua vez, o termo segurança alimentar se refere à distribuição de alimentos seguros. Por último, economia verde é um terno que designa o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis que assegurem a qualidade de vida. Movimentos mundiais Seção 6 de 6 // Primavera Silenciosa: um embate com a Revolução Verde A Segunda Guerra Mundial teve fim no ano de 1945 e deixou consequências graves para humanidade. O mundo precisava reestruturar-se fisicamente e economicamente. Além da morte de milhares de pessoas, outro grande grupo ficou sem acesso a alimentos e suprimentos de necessidades básicas. Fatores como esses impulsionaram o problema da fome existente em diversos países do mundo, mesmo anteriormente à guerra, e fizeram com que surgisse uma visão agrícola denominada Revolução Verde. Entre os períodos de 1960 e 1970, países como Estados Unidos e México procuraram implementar tecnologias que acelerassem a produção agrícola. Por outro lado, a utilização desenfreada de pesticidas trouxe problemas ambientais. O uso de produtos químicos como fertilizantes era algo corriqueiro. Todavia, estudos de monitoramento do meio físico e saúde humana, bem como avaliações de riscos, não eram realizados com frequência, e não existiam protocolos seguros de utilização e afins. Estudos que fossem contra e apresentassem divergências de pensamentos eram duramente criticados: um deles realizado por Rachel Carson em 1962, denominado Primavera silenciosa. A obra, que buscava explicar os impactos da utilização inadequada de pesticidas no desenvolvimento vegetal, biodiversidade de espécies e saúde humana, foi considerada livro célebre pelo movimento ambientalista moderno. Mesmo sendo duramente criticado na época, ele demonstrou com clareza os impactos desse modelo de produção e foi crucial para o processo de mudança, que, obviamente, não foi rápido. Atualmente, o avanço científico possibilita o desenvolvimento de novas perspectivas e tecnologias no campo agrícola, com níveis mais baixos de impactos ambientais. // Conferência de Estocolmo O fim da Segunda Guerra também ocasionou outras preocupações ambientais. O relatório produzido pelo Clube de Roma em 1972 apontou um problema de crescimento rápido da população e que os recursos naturais não conseguiriam suprir as necessidades.Naquele mesmo ano, a ONU decidiu realizar a primeira reunião com chefes de Estado que procurassem tratar dos problemas ambientais, denominada Conferência Mundial do Homem e do Meio Ambiente, popularmente conhecida como Conferência de Estocolmo (Figura 6). Figura 6. Notícia de jornal brasileiro sobre a Conferência de Estocolmo. Fonte: FEITOSA, 2018. Problemas como catástrofes naturais, mudanças climáticas, possível escassez de recursos naturais e modificações econômicas e sociais foram debatidas no encontro, que resultou na Declaração das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, também denominada Declaração de Estocolmo, que promovia ações ambientais. A importância dessa reunião é pautada por ser a primeira vez que as entidades governamentais se preocuparam, oficialmente, com os aspectos ambientais. // A criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) As mudanças globais do clima despertaram grande interesse das instituições governamentais e seus respectivos gestores, o que culminou na criação do IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change, em 1988. A intenção do Painel é voltada à junção e difusão de dados relacionados a mudanças climáticas, com a proposta de conhecimento sobre seus aspectos fundamentais, formas de solução e efeitos na sociedade (pessoas e questões econômicas). // Protocolo de Quioto Os relatórios de IPCC foram fundamentais para, em 1997, ser construído o Protocolo de Quioto. A entrada em vigor do Protocolo, porém, foi realizada apenas no ano de 2005. Sua finalidade tem um significado importante para a manutenção da vida no planeta, pois o intuito foi o estabelecimento do controle na emissão de gases do efeito estufa (GEE) pelas atividades industriais na atmosfera. Os países assinaram um compromisso para diminuição das emissões de CO2, e o protocolo também deu margem para o surgimento do termo créditos de carbono, em que uma tonelada de dióxido de carbono geraria um crédito em forma de certificado. Essas certificações poderiam ser negociadas no mercado internacional. // Eco 92 e Rio + 20 A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, popularmente conhecida como Eco 92, foi uma das principais reuniões mundiais a tratar dos temas ambientais, com um significativo envolvimento de diversos países (176) de todo o planeta. Realizada no Rio de Janeiro, em 1992, a conferência procurava definir um plano de ação para o desenvolvimento sustentável, e tornou-se o início da ascensão global das discussões sobre os problemas ambientais, tendo como foco a busca por alternativas de solução (Figura 7). Assim como o relatório do IPCC, a Eco 92 foi fundamental para elaboração do Protocolo de Quioto. Figura 7. Registro do encerramento da Eco 92. Fonte: ROZARIO, 1992. A Rio+20, por sua vez, foi realizada 20 anos depois e teve por objetivo a reafirmação dos compromissos adotados na Eco 92. A conferência também teve como foco a observação e discussão de problemas ainda existentes e buscou formas de soluções futuras. Um grande diferencial do encontro foi a intensificação dos debates voltados à implementação da economia verde. // Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável Esse importante evento ocorreu na cidade de Nova York, Estados Unidos, com o objetivo de direcionar o planejamento para o desenvolvimento sustentável até o ano de 2030. Foram traçados 17 objetivos, denominados ODS (Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável), como demonstra a Figura 8. No encontro, também foram discutidas as ações propostas durante a Rio +20. Figura 8. Os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável na Agenda 2030. Fonte: ONU Brasil, 2015. VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ AGORA? Sobre a confederação da ONU Eco 92, é importante afirmar que: Foi a primeira a ser realizada sobre a temática de preocupações ambientais. Correctly selected Teve a participação de chefes de Estado do mundo inteiro. Correctly unselected Demonstrou a importância e preocupação em relação às causas ambientalistas. Correctly unselected ENVIAR Correta 👍 Muito bem, a resposta está correta! A primeira alternativa está errada porque, na verdade, foi a Conferência de Estocolmo a primeira a debater a temática dos problemas ambientais. Posteriormente, a ONU Eco 92 reuniu diversos líderes mundiais e demonstrou a crescente preocupação com questões ambientais. TENTE NOVAMENTE Agora é a hora de sintetizar tudo o que aprendemos nessa unidade. Vamos lá?! SINTETIZANDO A industrialização e o desenvolvimento urbanos foram os principais causadores dos impactos ambientais, transformando radicalmente o modo de vida social. Esse processo também ocasionou o afastamento do ser humano em relação a seu meio, o que causou uma diferença entre sociedade e natureza. Além disso, o deslumbramento com os aspectos econômicos e ascensão do modo capitalista fizeram com que a sociedade se dividisse em subgrupos, dando margem à disseminação de diversas formas de discriminação. O consumo e a falta de sensibilização com a natureza ocasionaram uma série de consequências, como a poluição de aquíferos, do ar e do solo, que impactam seriamente a manutenção e qualidade de vida. Ademais, o surgimento e disseminação de doenças relacionadas a impactos ambientais é algo presente na sociedade atual, e tais fatores levam-nos a refletir sobre a necessidade de reestruturarmos nossas atitudes. As causas sociais, como preconceito racial, discriminação a grupos etc. são de cunho ambientalista, pois devemos lembrar sempre que ser humano e natureza são indissociáveis. A compreensão de todos os aspectos, humanos, físicos e afins, na óptica interdisciplinar, é fundamental, devido à robustez em receber e interligar diferentes formas de conhecimento. Nesta unidade, vimos um pouco dos debates ambientalistas, seus conceitos e fundamentos. A principal observação a ser feita é a atenção dos setores públicos para as causas ambientalistas. A percepção que este é um tema que influencia diretamente os aspectos sociais e econômicos fez com que a temática adentrasse as agendas globais. O fomento de pesquisas também demonstra a importância da discussão. Todos os eventos e conferências, diante disso, têm um único fim: proporcionar para sociedade uma vida sustentável. Devemos sempre lembrar que esta não é uma causa exclusiva dos órgãos governamentais e das grandes empresas, porém. Assim como a sociedade procurou lutar pelos diretos trabalhistas, deverá ater-se à sensibilização com o seu meio. O ambiente que nos rodeia é de todos, e somos responsáveis por sua melhoria. Pequenas atitudes hoje farão a diferença para termos um futuro melhor e proporcionar melhor qualidade de vida para as próximas gerações. Responsabilidade socioambiental Seção 2 de 6 Nos últimos séculos, o ser humano passou a interferir cada vez mais nos processos naturais. Ao longo do século XX, inúmeros avanços tecnológicos e crescimento econômico foram obtidos. Com o aprimoramento tecnológico e inúmeras descobertas em todas as áreas do conhecimento, passamos a controlar os elementos da natureza e a aumentar sua capacidade de produção. Muitos desses avanços visaram à produção e o consumo sem avaliar questões de risco ambiental e social. O crescimento populacional no pós-guerra (com consequente aumento pela demanda por combustíveis fósseis, alimentos e tecnologia) resultou em um fluxo enérgico desequilibrado ecossistemicamente. Há muitos anos estamos sendo alertados sobre a insustentabilidade dos hábitos de consumo resultantes da economia capitalista. Atualmente, as sociedades tornaram-se cada vez mais complexas e conectadas. Desenvolveu-se o modo globalizado de vida, sendo que padrões de consumo adotados em escala mundial resultam em perdas progressivas de características geográficas, regionais e culturais, bem como na contaminação ambiental, que resulta em perda de diversidadede fauna e flora. Nesse mesmo contexto, surge o termo responsabilidade socioambiental. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2020), a responsabilidade socioambiental está ligada a ações que respeitam o meio ambiente e políticas que tenham entre seus principais objetivos a sustentabilidade. Responsabilidade socioambiental também pode ser compreendida como um conjunto de práticas exercidas por cidadãos, governos e empresas públicas e privadas que têm por objetivo providenciarem a inclusão social (responsabilidade social) e o cuidado com o meio ambiente (responsabilidade ambiental). Se de um lado temos observado diversas atividades que causam degradação socioambiental e colocam em risco a qualidade de vida e a sobrevivência das futuras gerações, do outro há diversas organizações se mobilizando para nos conscientizar da necessidade de mudança para que o planeta Terra e a humanidade possam coexistir (Figura 1). Figura 1. Mobilização popular enfatizando a necessidade de mudança para um perfil responsável socioambientalmente. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 30/09/2020. ID: 1388894739. O NASCIMENTO DO MUNDO GLOBALIZADO E A QUESTÃO SOCIOAMBIENTAL Nos últimos 250 anos, os impactos causados pelas diversas mudanças decorrentes do desenvolvimento industrial ainda não estão totalmente desenhados e são debatidos por diversas organizações e meios de comunicação. Nos dias de hoje, podemos dizer que a máxima do desenvolvimento industrial é a globalização. Para chegarmos ao mundo como conhecemos hoje, o mundo globalizado, alguns momentos históricos foram cruciais. A Revolução Industrial intensificou o uso e a pressão sobre os recursos naturais renováveis e não renováveis para atender à intensificação da produção industrial em escala. Com a maior demanda por trabalhadores nas indústrias e em busca de “uma vida melhor” – aos moldes capitalistas –, muitas pessoas saíram do campo para morar nas cidades, processo que culminou na urbanização. A revolução verde levou ao campo das tecnologias nunca vistas, permitindo incrementos anuais na produtividade de vegetais e carnes, comercializados para atender a demanda interna e externa das redes de mercado global. EXPLICANDO Recursos naturais renováveis são aqueles que possuem maior capacidade de manutenção e não se esgotam facilmente, são exemplos: água, solo, matéria orgânica e vento. Os recursos naturais não renováveis são aqueles que se esgotam quando usados sem práticas sustentáveis e seu tempo de reposição não é comparado à cronologia de vida humana, são exemplos: petróleo, carvão mineral, gás natural, xisto betuminoso e energia nuclear. Com exceção à energia nuclear, todos os exemplos citados são de origem fóssil. Estas transformações foram e são acompanhadas pelos impactos negativos ao meio ambiente e à perda de características sociais: há aumento das áreas desmatadas, da poluição atmosférica, do solo e hídrica, perda de biodiversidade, os produtos consumidos não são corretamente descartados, há aumento da desigualdade social, entre outros (Figura 2). Figura 2. Poluição ambiental resultante da produção industrial. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 30/09/2020. Nos dias de hoje, uma vez que é indiscutível que diversas fronteiras ecológicas mundiais foram ultrapassadas, o mundo globalizado vem exigindo continuamente modelos de produção de bens e serviços obtidos por meio de tecnologias que repensem questões de competitividade e que considerem formas de mitigação do impacto social e ambiental. A importância da avaliação dos danos que a produção e os processos têm sobre o ambiente e a sociedade toma forma neste contexto. Além da avaliação, ações de gestão que contribuam para o desenvolvimento ambiental e para o despertar da responsabilidade socioambiental devem ser propostas por governos, empresas e cidadãos. A RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL COMO COMPROMISSO DE MODERNIDADE Assistimos em noticiários, nas redes sociais e vivemos diretamente as questões ambientais. Comumente, ouvimos falar sobre responsabilidade socioambiental. Isso vem acontecendo porque o mundo moderno se deu conta de que os impactos dos nossos hábitos de produção e consumo não estão alinhados com o poder de resiliência do planeta, uma vez que seus recursos são limitados. Por esse motivo, instituições públicas e privadas, organizações governamentais e não governamentais têm se dedicado cada vez mais a programas de implementação de práticas socioambientais e de conscientização da população. A ideia consiste em identificar, eliminar ou, ao menos, reduzir o impacto negativo que uma determinada atividade possa causar. EXPLICANDO Diversas organizações governamentais e não governamentais se dedicam à causa socioambiental. Veja alguns exemplos a seguir: • Plano nacional de juventude e meio ambiente (PNJMA); • Agenda ambiental na administração pública; • Instituto de pesquisas socioambientais (IPESA); • Instituto socioambiental (ISA); • Fundo casa socioambiental; • Verdejar socioambiental; • Instituto Ethos. Uma vez que elas já existem e não se mostraram totalmente efetivas, as práticas de responsabilidade socioambiental vão além de Leis. Atualmente, os programas devem fomentar e inserir a responsabilidade socioambiental como um compromisso diário a ser adotado pela sociedade, de forma a garantir a existência de um mundo melhor para as futuras gerações. Lembrando que se trata de uma vertente global, diversas ações podem ser adotadas a fim de inserir as práticas de responsabilidade socioambiental no dia a dia pessoal e profissional. Hoje, a sociedade sabe identificar cidadãos, instituições, organizações e empresas que investem em políticas e na cultura organizacional sustentável, posicionando-se de forma ética e responsável. A RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL GOVERNAMENTAL, CIDADÃ E EMPRESARIAL Todos são responsáveis pela elaboração, difusão e aplicação das práticas de responsabilidade socioambiental; entre seus agentes, estão os governos, as cidades e as empresas. O governo atua na pauta socioambiental, formulando leis e ações de conscientização que atingem a sociedade civil e empresarial. Para que os cidadãos se tornem cientes, possam exigir e exercer a responsabilidade socioambiental, o governo deve encontrar meios para que as políticas públicas estejam próximas dos cidadãos, divulgando-as nos meios de comunicação e redes sociais, adequando currículos escolares e financiando instituições de pesquisa. Além disso, a gestão socioambiental deve ouvir os cidadãos por meio de seus representantes municipais e estaduais, bem como a iniciativa privada e as organizações não governamentais. No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e suas esferas são responsáveis pelo desenvolvimento de políticas públicas que tenham como objetivo promover a produção e o consumo sustentáveis. Além disso, também é responsabilidade do governo promover o crescimento do País adotando práticas de desenvolvimento sustentável, ou seja, grandes obras de interesse social devem fazer uso de práticas sustentáveis e serem baseadas em estudos de impacto ambiental. As cidades e seus cidadãos têm o compromisso de exercer as práticas de responsabilidade socioambiental. Para isso, como mostra o Quadro 1, existem diversas ações que podem ser adotadas no nosso dia a dia. Devemos exigir dos governantes, políticas que fomentem tal temática e dar preferência ao consumo de produtos e serviços de empresas atuantes na causa socioambiental. Quando nos colocamos como agentes ativos das práticas de responsabilidade socioambiental, estamos indiretamente praticando assistencialismo, inclusão social, inclusão digital e educação ambiental! Envolver-se nessas ações nos torna cidadãos participativos e responsáveis, além disso, as questões socioambientais vêm se tornando cada vez mais importantes e moldando-se como um dever de todos. Quadro 1. Práticas de responsabilidadesocioambiental que podem ser adotadas nas cidades Os cidadãos exercem a responsabilidade socioambiental individual. Ela consiste em atitudes individuais reiteradas para uma maior preservação do ambiente a nossa volta. Devemos pensar que ela deve ser praticada individualmente, mas por todos nós, resultando em uma ação coletiva e de grande poder ambiental. São exemplos de responsabilidade socioambiental individual: • bullet Evitar usar sacolas e embalagens plásticas; • bullet Não desperdiçar alimentos; • bullet Separar e reciclar o lixo; • bullet Armazenar e destinar corretamente o óleo de cozinha; • bullet Economizar água e energia elétrica, usando de forma racional; • bullet Adquirir eletrodomésticos com baixo consumo de energia. As empresas que aderem à responsabilidade socioambiental buscam conhecer as características regionais, ouvir seus colaboradores e possuem processos e/ou serviços ambientalmente corretos. Elas reconhecem a sua responsabilidade socioambiental e assumem voluntariamente compromissos que vão para além dos requisitos reguladores convencionais, aos quais estão necessariamente vinculadas. Procuram elevar o grau de exigência das normas relacionadas com a proteção ambiental, com o desenvolvimento social e com o respeito aos direitos fundamentais, adotando uma cultura organizacional aberta em que interesses de todas as esferas se conciliam em direção a uma abordagem global da qualidade de vida e do desenvolvimento sustentável. Como podemos observar na Figura 3, adotando as práticas de responsabilidade socioambiental e estratégias de marketing, além dos benefícios sociais e ao meio ambiente, as empresas também melhoram sua imagem corporativa e aumentam seus lucros. Ocorre ainda a valorização da marca, maior fidelização dos clientes, redução dos custos, aprimoramento da comunicação externa e o melhor desempenho dos empregados. Figura 3. Ao adotar as práticas de responsabilidade socioambiental há geração de lucro. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 30/09/2020. Empresas podem adotar práticas de responsabilidade socioambiental por meio da adoção de programas e projetos de inclusão social ou digital, de direitos das mulheres e inserção no mercado do trabalho de maneira igualitária, por programas de alfabetização, reciclagem, reflorestamento e recuperação de áreas degradadas e destinação e/ou liberação correta de resíduos industriais (efluentes ou gasosos). Aspectos legais Seção 3 de 6 No que diz respeito às leis de responsabilidade socioambiental, pode-se dizer que o Brasil possui uma das legislações mais complexas e avançadas do mundo. O cumprimento das leis socioambientais nacionais é, em sua grande parte, de aspecto jurídico, mas também podem ser aplicáveis às pessoas físicas. A Constituição Federal de 1988 prevê que toda pessoa, física ou jurídica, que apresentar conduta ou atividade que cause dano ao meio ambiente estará passível de sanções penais administrativas, que serão aplicadas independentemente da obrigatoriedade de recuperar o dano causado. O poluidor é a pessoa jurídica ou física responsável, direta ou indiretamente, pelo dano causado. O sujeito se responsabilizará pelo dano ambiental real e potencial, que será estipulado por entidades da área. Uma vez que o meio ambiente é um direito da atualidade e das gerações futuras, os prejuízos e dimensões do dano são de interesse mundial, o que torna a ação jurídica de extrema relevância. Contudo, há grande dificuldade na comprovação da escala do dano causado, devido à complexidade de mensuração, assim, a responsabilidade deverá ser objetiva. O Estado, uma vez que é o responsável pela saúde pública, também pode ser responsabilizado pelo dano causado ao meio ambiente quando há omissão de sua responsabilidade legal. A Constituição Federal, alicerçada nos valores da solidariedade, dignidade humana e justiça social, instituiu o “estado social”, que deve orientar as relações sociais e econômicas. Para que cidadãos, governos e empresas exerçam práticas de responsabilidade socioambiental, devemos ter em mente que, antes de qualquer coisa, há necessidade da regulação das políticas e dos direitos sociais, entre eles, educação, saúde, habitação e assistência social. Uma vez que há uma forte tendência de mudança com relação à adoção de uma postura ambientalmente correta, a responsabilidade socioambiental associada às penalidades legais e exercida pelas leis, normas e infrações devem ser conhecidas e praticadas pela sociedade civil, governos e empresas. Nas empresas, há a responsabilidade socioambiental empresarial, que tem natureza de responsabilidade jurídica caracterizada como encargos sociais que, quando não cumpridos, resultam em multas e/ou penalidades. Os encargos sociais têm origem na Consolidação das Leis de Trabalho (CLT). Eles são os custos pagos pelo empregador sobre a folha de pagamento de salário dos colaboradores. LEIS SOCIOAMBIENTAIS BRASILEIRAS O Quadro 2 lista algumas das leis ambientais mais importantes no País. Existem também as leis estudais e municipais, bem como os órgãos que se certificam de que elas estão sendo cumpridas, como o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) Quadro 2. Exemplos de leis ambientais brasileiras Fonte: BRASIL. Acesso em: 01/10/2020. A Lei 5.452 é uma das principais leis sociais brasileiras; ela rege os direitos dos trabalhadores. Nela, são discutidas questões sobre registro em carteira de trabalho e rescisão contratual, vale-transporte, descanso semanal remunerado, pagamento de salário, férias, fundo de garantia do tempo de serviço (FGTS), décimo terceiro salário, hora extra, adicional noturno, aviso prévio, licença maternidade e paternidade. A responsabilidade social empresarial aborda questões que vão além das regulamentadas por lei. Ela trabalha a igualdade de oportunidades. Deve considerar os critérios de promoção dos funcionários, igualdade de gênero e pessoas com deficiência, acidentes de trabalho, capacitação continuada para o aprimoramento do nível do conhecimento do colaborador, além da relação ética entre os colaboradores. A RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL ALÉM DAS EXIGÊNCIAS LEGAIS Quando uma empresa ou organização segue leis de cunho socioambiental ou normas determinadas por lei, ela está exercendo seu papel como pessoa jurídica, ou seja, a empresa está somente seguindo os aspectos jurídicos inerentes ao seu setor. Ser uma empresa social e ambientalmente responsável vai além das obrigações legais e econômicas: significa que ela se posiciona e atua no combate aos problemas, buscando o desenvolvimento socioambiental sustentável. A série ISO (International Organization for Standardization – organização internacional para padronização) estabelece sistemas de gestão na cultura organizacional de empresas. As séries ISO são compostas por normas que vão além das exigências legais e algumas podem se tornar tão importantes que passam a ser exigidas em lei. As normas ISO no Brasil são controladas pela ABNT NBR (Associação Brasileira de Normas Técnicas). A série ISO 14001 possui normas de gestão ambiental que permitem que a empresa pratique ideias de mitigação dos possíveis danos ambientais decorrentes de sua atividade, objetivando tornar-se sustentável no curto e no longo prazo. A norma estabelece algumas práticas: • bullet Implementação de um sistema de gestão ambiental; • bullet Rotulagem ambiental; • bullet Análise de desempenho ambiental; • bullet Análise de ciclo de vida; • bullet Integração de aspectos ambientais no projeto e desenvolvimento de produtos; • bullet Comunicação ambiental; • bullet Mitigação das mudanças climáticas. A adoção das normas também pode trazer benefícios, como: • bullet Redução de custos devido ao uso de matéria-prima, água e energia de forma consciente; • bullet Captação de novos clientes, devido à inserçãono mercado ambiental; • bullet Melhoria dos processos inter e intra setoriais, bem como, da cultura organizacional; • bullet Menor risco de falência; • bullet Abertura a patrocínios e boa visão internacional; • bullet Possível diversificação setorial; • bullet Adesão de novos grupos de clientes; • bullet Maior qualidade e controle dos produtos, serviços e processos. A série ISO 9000 fornece meios para implementação e monitoramento contínuo de técnicas para otimização de processos pela implementação de um sistema de gestão da qualidade. As normas que compõem a série ISO 9000 estão sempre sendo atualizadas e são conhecidas e desejadas por empresas do mundo todo. Aderir às normas ISO 9000 traz uma série de benefícios: • bullet Aumento da produtividade; • bullet Redução de custos; • bullet Produtos e serviços de maior qualidade; • bullet Credibilidade e reconhecimento interno e externo; • bullet Visão mais ampla do fluxo de trabalho; • bullet Segurança nos procedimentos internos; • bullet Colaboradores engajados e integrados. A série ISO 45001 implementa um sistema de gestão de saúde e segurança ocupacional com foco na melhoria do desempenho das empresas em termos de saúde e segurança do trabalho. Segundo a própria norma, uma organização é responsável pela saúde e segurança ocupacional dos trabalhadores e outros que podem ser afetados por suas atividades. Esta responsabilidade inclui promover e proteger sua saúde física e mental. Podem ser citadas como benefícios da implementação da norma ISO 45001 em uma empresa: • bullet Gerenciamento de risco e acidentes de trabalho; • bullet Redução de afastamentos por acidente de trabalho; • bullet Maior qualidade de vida e melhor relacionamento empregador x empregado; • bullet Redução dos prejuízos financeiros devido a processos trabalhistas. A ISO 50001 tem objetivo de melhorar a eficiência enérgica das empresas. Implementando um sistema de gestão de energética, a empresa tem como benefícios: • bullet Uso de tecnologias modernas e eficientes; • bullet Redução dos custos com energia; • bullet Redução da emissão de gases de efeito estufa e das mudanças climáticas. A adoção das normas ISO atesta a responsabilidade no desenvolvimento das atividades de uma empresa. Para sua obtenção e manutenção, são realizadas auditorias periódicas por uma empresa certificadora, que deve ser credenciada e reconhecida por órgãos nacionais e internacionais. Organizações que aderem às normas ISO possuem sistema de manejo integrado e se colocam no mercado como responsáveis socioambientalmente. Desenvolvimento sustentável Seção 4 de 6 O crescimento econômico no século XX se desenvolveu nos moldes capitalistas, passando a depender do consumo cada vez maior de energia e recursos naturais (recursos renováveis e não renováveis). Atrelado a isto, da década de 1950 em diante, a preocupação com uma eminente explosão demográfica global resultante do crescimento dos países pobres causou um interesse global pelos temas populacionais. Iniciaram-se diversos movimentos para controlar a fecundidade dos países pobres. Na Conferência Mundial de População, realizada pela ONU em Bucareste, 1974, de um lado, os países desenvolvidos articulavam que, para reduzir a pobreza, deveriam haver programas de estímulo à redução do crescimento da população por meio de redução da taxa de natalidade, do outro, os países pobres e em desenvolvimento defendiam que políticas de desenvolvimento eram necessárias. Após longos períodos de debates, constatou-se que os moldes de desenvolvimento até então adotados poderiam ser insustentáveis, e novos meios de produção e consumo deveriam ser adotados uma vez que a disponibilidade dos recursos era finita. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a produção sustentável baseia-se na incorporação, ao longo do ciclo de vida de bens e serviços, de medidas que minimizem os custos ambientais e sociais resultantes da ação humana. Sobre consumo sustentável, entende-se como o uso de bens e serviços suficientes para atender às necessidades básicas, proporcionando melhor qualidade de vida, enquanto reduz o uso de recursos naturais e materiais tóxicos, a geração de resíduos e a emissão de poluentes. De acordo com o Relatório de Brundtland, os principais objetivos das políticas de desenvolvimento sustentável seriam os seguintes: • Retomar o crescimento; • Alterar a qualidade do desenvolvimento; • Atender às necessidades essenciais do emprego, educação, alimentação, saúde, energia, água e saneamento; • Manter um nível populacional sustentável; • Conservar e melhorar, por meio da tecnologia, as bases dos recursos; • Incluir o meio ambiente e a economia nas decisões que afetem a sociedade. Para atingir tais objetivos de produção e consumo, a modificação das organizações deveria ser contínua, contar com o apoio da ciência e manter- se dinamicamente equilibrada. Práticas produtivas exploratórias, predatórias e que visassem o lucro deveriam dar espaço para relações sociais justas e para bem-estar dos seres vivos. Em um primeiro momento, a busca pelo desenvolvimento sustentável das nações parece limitar seu potencial de desenvolvimento. Na realidade, deve- se entender o desenvolvimento sustentável como um conjunto de práticas que não limite o desenvolvimento econômico, mas que considere que os recursos naturais são finitos e devem ser usados sob um viés conservacionista. Assim, se estabelece um paradigma que consiste em diminuir o consumo e a exploração dos recursos renováveis e não renováveis pelos países desenvolvidos, garantindo que países industrializados – em desenvolvimento – possam se modernizar, proporcionando qualidade de vida às suas populações em sinergia com o meio ambiente. Muito se discute sobre desenvolvimento sustentável; às vezes, há consenso entre as atitudes a serem adotadas, às vezes, não há. De fato, diversas ações foram tomadas e cada vez fica mais evidente que ainda há muito a ser feito. ASSISTA A Organização das Nações Unidas vem se posicionando como uma grande difusora das ideias de desenvolvimento sustentável no mundo todo. Assista ao vídeo da Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, realizada em 2015. AÇÕES GLOBAIS RUMO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Chegamos a um ponto em que assuntos relacionados aos impactos da ação humana, bem como sobre a necessidade das práticas de responsabilidade social são vistos diariamente nos meios de comunicação. Cada dia mais é exigido que a sociedade adote uma postura de mudança diante de seus meios de produção e de suas opções de consumo. As consequências do desenvolvimento em condições de insustentabilidade fizeram com que diversos cientistas discutissem a transgressão das fronteiras planetárias. As fronteiras planetárias se referem ao poder de fornecimento de recursos e da resiliência do planeta diante dos hábitos e moldes de produção e consumo. O conceito pode ajudar a sociedade civil e o poder público na definição de modelos de produção seguros para a humanidade e a vida na Terra. As nove fronteiras planetárias, segundo Martine e Alves, são: [...] mudanças climáticas; mudança na integridade da biosfera (perda de biodiversidade e extinção de espécies); depleção da camada de ozônio estratosférico; acidificação dos oceanos; fluxos biogeoquímicos (ciclos de fósforo e nitrogênio); mudança no uso da terra; uso global de água doce; concentração de aerossóis atmosféricos; e introdução de poluentes orgânicos, materiais radioativos, nanomateriais e microplásticos. Das nove, quatro já foram ultrapassadas: mudanças climáticas, perda da integridade da biosfera, mudança no uso da terra e fluxos biogeoquímicos (MARTINE; ALVES, 2015, p. 445). Sobre o aquecimento global e mudanças climáticas, devemos considerar duas situações. A primeira trata do efeito estufa natural,que consiste na absorção, pelos gases do efeito estufa, dos raios infravermelhos emitidos pela superfície terrestre. Este processo permite que a superfície terrestre se mantenha em temperaturas ideais para os seres vivos. A segunda situação aborda o efeito estufa antrópico, no qual o aumento da concentração atmosférica dos gases do efeito estufa, causados pelo uso excessivo de recursos não renováveis – como os combustíveis fósseis –, resulta no aumento da temperatura da superfície terrestre, chamado de aquecimento global (Figura 4). Figura 4. À esquerda, efeito estufa natural e, à direita, efeito estufa causado pela atividade humana que resulta em aumento da concentração dos gases do efeito estufa na atmosfera, entre eles o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O). Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 30/09/2020. A sociedade vem discutindo ativamente as consequências do segundo caso, bem como as formas de mitigar as emissões reduzindo a velocidade das mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global. Os cientistas relatam que, caso nenhuma ação seja tomada, eventos extremos podem começar a acontecer, como: aumento da temperatura dos oceanos, ondas de calor, alteração dos regimes pluviométricos, desertificação, derretimento das calotas polares, redução da diversidade de fauna e flora, entre outros. O termo “pegada de carbono” refere-se ao consumo individual diante das práticas de responsabilidade ambiental, ou seja, o quanto os hábitos de uma pessoa podem impactar o desenvolvimento sustentável do planeta. A pegada de carbono pode ser calculada, tornando-se um índice, geralmente, expresso em emissão de dióxido de carbono – um dos principais gases do efeito estufa causado pelo homem – que quantifica o efeito da utilização dos recursos sobre a bioesfera. Estes dados individuais podem ser extrapolados para medir os efeitos da atividade humana, servindo como base para elaboração de políticas públicas e desenvolvimento de novos produtos. CURIOSIDADE Você pode calcular a sua pegada de carbono pessoal ou simplesmente saber mais sobre a pegada de carbono na sua região. Fornecendo informações sobre sua dieta, seus hábitos de transporte e consumo de energia, uma calculadora especializada fará os cálculos e você poderá comparar sua pegada com a de pessoas de outros países. Sem dúvida, não podemos conceber um mundo sem uso de fontes energéticas. Porém, existem diversas alternativas sendo disponibilizadas e aprimoradas pela ciência. Diante desse contexto, abordamos a ideia de energia limpa. Ela vem de fontes de energia renováveis (Figura 5), e quando optamos por utilizá-las, estamos reduzindo a emissão de gases do efeito estufa para a atmosfera. São exemplos de energia limpa aquelas provenientes de fontes solares, eólicas, geotérmicas, hidráulicas e maremotrizes. Figura 5. Energia derivada de recursos não renováveis e a energia limpa proveniente de fonte de energia renováveis. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/10/2020. Empresas que reduzem as emissões de gases do efeito estufa em seus processos produtivos podem comercializar créditos de carbono. Esse mercado internacional cresce anualmente. Os créditos baseiam-se na quantidade de gás não emitido para a atmosfera, sendo que cada crédito se refere a uma tonelada de dióxido de carbono equivalente (t CO2e). Não somente o dióxido de carbono é contabilizado, outros gases causadores do aquecimento global também, mas seus valores são calculados considerando sua equivalência em moléculas de dióxido de carbono. Os consumidores estão se tornando cada vez mais exigentes e conscientes em relação à produção e à origem dos alimentos. Nesse sentido, a agricultura intensiva vem avançando lentamente na busca de tecnologias e processos que minimizem problemas de poluição e degradação dos recursos naturais e que ofereçam produtos seguros ao consumidor final. Podemos citar o zoneamento econômico-ecológico, a agricultura de precisão, a fixação biológica de nitrogênio, as práticas de controle da erosão do solo, os sistemas de plantio direto e o manejo integrado de pragas. Além disso, a produção orgânica será decisiva como a agricultura do futuro, assim como os sistemas agroflorestais, a agricultura sintrópica e o consumo local. Cada vez mais, os consumidores buscam opções de produtos originários do modelo orgânico de produção. Tais sistemas resultam em sustentabilidade no curto e no longo prazo, uma vez que são baseados em práticas de responsabilidade socioambientais com abordagens integradas. Os processos produtivos nesses sistemas são baseados nos mecanismos e processos naturais que eliminam o uso dos agrotóxicos e fertilizantes sintéticos. AS TRÊS DIMENSÔES DA SUSTENTABILIDADE A responsabilidade socioambiental é alcançada por meio da adoção de práticas de desenvolvimento sustentável por empresas, por políticas governamentais e pela atuação do cidadão. Ela se concretiza sob o emprego das três dimensões da sustentabilidade, como mostrado na Figura 6. A esfera social, sob uma perspectiva sustentável de produção e consumo, deve considerar a qualidade de vida dos seres humanos tendo em vista a diversidade cultural, étnica, religiosa e de gênero, bem como questões regionais da comunidade. Do ponto de vista econômico, deve-se considerar o papel da sociedade na rentabilidade e a viabilidade empresarial por meio de ações ganha-ganha, de forma que haja retorno, na forma de lucro, ao investimento realizado pelo capital privado e qualidade de vida aos colaboradores. Figura 6. Tripé da sustentabilidade. Fonte: BERLATO; MERINO; FIGUEIREDO, 2018. (Adaptado). Na esfera ambiental da sustentabilidade, os processos de produção e consumo deverão considerar a adoção de práticas ambientalmente corretas. Termos como ecoeficiência, pegada de carbono, energia limpa e sete R’s proporcionarão uma cultura organizacional ambiental nas empresas, residências e espaços públicos, uma vez que conduzem ao desenvolvimento do perfil de responsabilidade socioambiental. Debates mundiais Seção 5 de 6 Em 1972, a ONU convoca a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em Estocolmo, e a pauta ambiental começa a ser debatida oficialmente, resultando no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Após alguns anos depois da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente de 1983, nasce um grande marco da pauta ambiental elaborado pela Comissão de Brundtland, o relatório nomeado como Nosso futuro comum. Após a Conferência, diversos outros eventos discutiram os ideais e os meios de conduzir o desenvolvimento mundial para os moldes do desenvolvimento sustentável. Em 1988, uma união entre a ONU Meio Ambiente e a Organização Meteorológica Mundial (OMM) resultou na criação do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC), sendo que os resultados de pesquisas sobre mudanças climáticas realizadas no mundo todo são reunidas e relatórios e planos de ação são publicados periodicamente. A famosa Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro em 1992, foi um marco de sua década, pois discutiu a importância de se agregar os componentes sociais, econômicos e ambientais nas buscas pelo desenvolvimento sustentável e finalizou a Agenda 21. O Protocolo de Kyoto, de 1997, estabeleceu metas obrigatórias de redução das emissões de gases de efeito estufa nos 37 países signatários. Em 2000, a Cúpula do Milênio das Nações Unidas definiu oito objetivos concretos e mensuráveis, que foram acompanhados em escala nacional, regional e global. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) foram resultado de uma série de cúpulas multilaterais realizadas na década de 90 sobre as condições do desenvolvimento humano. A formulação dos ODM contou com especialistas renomados de diversas áreas que estiveram focados na redução da pobreza extrema observada, principalmente, nos países pobres e em desenvolvimento.
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