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Aspectos culturais da família e da sociedade

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Ana Luiza Bittencourt 
HISTÓRIA DO DIREITO E ANTROPOLOGIA JURÍDICA 
Aspectos culturais da família e da sociedade 
- Para entender sobre família, e entender sua formação, é primeiro preciso entender sobre o ser 
humano. 
- Como já dito antes, didaticamente, há uma separação entre estado de natureza e estado social. 
Porém, é uma passagem muito difícil de se enxergar > o homem é, ao mesmo tempo, um ser 
biológico e um indivíduo social. 
- Talvez o homem nunca tenha vivido em estado de natureza, pois o homem só o é em sociedade 
> a depender do meio em que ele está inserido, criam-se diferentes indivíduos. 
- Analisar o homem por meio dessa dicotomia é uma FALSIFICAÇÃO DO SER HUMANO > o home 
sem cultura não seria um selvagem inteligente, seria uma monstruosidade incontrolável. 
- Essa divisão é didática/teórica. O ser humano em si não possui essa divisão. 
Família e parentesco // Direito e cultura 
- A relação familiar se dá dentro do direito, mas também é preciso analisar sob o ponto de vista 
antropológico, uma vez que o direito, em termos de família, é muito atrasado > ele tenta 
normatizar as relações e o faz de uma forma muito ruim. 
- COMPLEXIDADE do tema > o tema família, por si só, é um tema muito complexo, por mais que 
não existisse um problema do direito em tutelar sobre tal tema. 
- A família só se formava, para o direito, após feito um ato, denominado casamento (religioso 
ou civil) > era um ato que exigia muito (dinheiro, fé católica, dependência do Estado) > e se uma 
pessoa não estivesse disposta a isso tudo e mesmo assim quisesse constituir uma família? 
Observa-se que a família era pertencente ao Estado e isso não é verdadeiro. 
- Quando a família se desvincula do Estado, percebe-se que ela é um MOSAICO > é constituída 
de diversas formas, com histórias diferentes e características peculiares > família é união > é 
PLURALIDADE 
- INTERSECCIONALIDADE (é uma característica) = família não advém somente do sangue > 
família é economia, política, educação, união > é a junção de tantas coisas que qualquer um que 
tente definir “família” vai ser uma arbitrariedade > vai ser um recorte específico e teórico de 
análise que por consequência reduz o próprio objeto de análise) > esse recorte não é neutro. 
- “A superação da dicotomia entre aquilo que é o natural e o cultural permite, afinal, não apenas 
afastar a noção de parentesco calcada nas noções de gene e biológico, mas também ampliar 
nossos horizontes de uma concepção ocidental de família tradicional para outras formas de 
família” > família não é só sangue > uma cultura específica que definiu que família é baseada na 
consanguinidade. 
- “Família tradicional” > até o séc. XIX > família patriarcal = núcleo formado pelo chefe da família 
(provedor) > patriarca. Nesse núcleo ainda há a mulher e os filhos e demais parentes que ali 
vivem. Essa família é marcada pela relação impessoal (impede uma interação maior > 
impossibilita a vida privada). 
- Com a industrialização, há o “início do fim” dessa família patriarcal > inserção das mulheres no 
mercado de trabalho > a mulher é muito mais do que a que pare um filho. É nesse momento 
que há a mudança da família do campo para as cidades + desenvolvimento da aproximação entre 
os membros + não precisa unicamente do casamento para a formação de família (união estável) 
+ é a família em si que passa a cuidar dos filhos + a família não é formada apenas por homem e 
mulher + família não é formada unicamente por parentes relacionados ao sangue = 
PLURIFAMILIAR = desenvolvimento do AFETO 
Princípio constitucionais da família (Maria Berenice) 
- “MONOGAMIA não é um princípio do direito estatal de família, é regra restrita à proibição de 
múltiplas relações matrimonializadas, constituídas sob a chancela do Estado” > a monogamia é 
apenas um modo de organização da família > é uma regra que invade a autonomia privada das 
famílias. O Estado tem interesse em manter a estrutura familiar a ponto de dizer que a família é 
a base da sociedade e, por isso, a monogamia foi considerada função ordenadora da família > 
não foi algo instituído pelo amor ou algo do tipo, mas sim por uma mera CONVENÇÃO > sistema 
de regras morais. A infidelidade é um complemento da monogamia > proibições ao desejo > 
divórcio. Assim, o poliamor busca reconhecimento. 
- Dignidade humana = é o princípio mais universal de todos. Não representa só um limite ao 
poder do Estado, mas também um norte para ações positivas. O Estado deve promover essa 
dignidade por meio de condutas ativas, garantindo o mínimo existencial para todos. A dignidade 
da pessoa humana encontra na família o solo apropriado para florescer. O desenvolvimento das 
famílias faz desenvolver sentimentos como solidariedade, respeito, confiança, amor e outros, 
permitindo o pleno desenvolvimento pessoal e social. 
- Liberdade = a liberdade redimensionou o conteúdo da autoridade parental e a igualdade entre 
os cônjuges, visando o melhor para os filhos > liberdade de escolha > essa liberdade permite a 
reinvenção das famílias > princípio da não intervenção. 
- Igualdade e respeito à diferença = igualdade material e não formal > princípio da isonomia = 
tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual na medida em que se desigualam. 
Esse princípio envolve o planejamento familiar + mútua colaboração + deveres recíprocos. 
- Solidariedade e reciprocidade = solidariedade é o que cada um deve ao outro // reciprocidade 
é o que o outro deve a um > possuem origem a vínculos afetivos e têm conteúdo ético. 
- Pluralismo das entidades familiares = várias possibilidades de arranjos familiares > uniões 
extramatrimoniais + uniões simultâneas. 
- Proteção integral a crianças, adolescentes, jovens e idosos = os direitos destes grupos são 
fundamentais > vulnerabilidade e fragilidade + prioridade absoluta > relaciona-se com a adoção 
> famílias substitutas. 
- Proibição do retrocesso social = “A partir do momento em que o Estado, em sede 
constitucional, garante direitos sociais, a realização desses direitos não se constitui somente em 
uma obrigação positiva à sua satisfação. Há também uma obrigação negativa de não se abster 
de atuar de modo a assegurar sua realização.” 
- Afetividade = é o princípio que fundamenta o direito das famílias > estabilidade das relações 
socioafetivas e na comunhão de vida > não importa se a constituição não cita os termos afeto 
ou afetividade > esse princípio é uma essência de vários outros princípios. 
- Felicidade = não está consagrado constitucionalmente. “A própria finalidade do Estado é 
assegurar a todos o direito à felicidade, não só como um sonho individual, mas como meta social. 
E não dá para ser feliz quem não tem os mínimos direitos garantidos, como o direito à vida, à 
saúde, à educação, à alimentação, ao trabalho e à moradia. Talvez se possa dizer que a felicidade 
muito depende de o Estado cumprir com o seu dever de promover o bem de todos, assegurar o 
direito à liberdade, à igualdade e garantir o respeito à dignidade de cada um. “

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