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Futebol e futsal

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Prévia do material em texto

ESPORTES COLETIVOS: 
FUTSAL E FUTEBOL
PROFESSORES
Dr. Osmar Moreira de Souza Júnior
Me. Bruno Martins Ferreira
ESPORTES COLETIVOS: FUTSAL E FUTEBOL 
2 
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração 
Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente 
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Direção Executiva de Ensino Janes Fidélis Tomelin, Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho, 
Direção de Operações Chrystiano Mincoff, Direção de Polos Próprios James Prestes, Direção de 
Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção de Relacionamento Alessandra Baron, Head de Produção 
de Conteúdos Celso L. Filho, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo R. Garcia, Gerência de pro-
jetos especiais Daniel F. Hey, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida 
Toledo, Coordenador(a) de Contéudo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, 
Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Barbara Neves, Qualidade Textual 
Hellyery Agda, Revisão Textual Cíntia Prezoto Ferreira , Ilustração Marcelo Goto, Fotos Shutterstock.
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; 
SOUZA JÚNIOR, Osmar Moreira de; FERREIRA, Bruno Martins.
 Esportes Coletivos: Futsal e Futebol. Osmar Moreira de Souza Júnior; 
Bruno Martins Ferreira.
 Maringá - PR.:UniCesumar, 2018.
 228 p.
 “Graduação em Educação Física - EaD”.
 1. Futebol. 2. Futsal. 3. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-1144-9
CDD - 22ª Ed. 701.1 
CIP - NBR 12899 - AACR/2
NEAD 
Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 
Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
Impresso por:
Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos 
com princípios éticos e profissionalismo, não 
somente para oferecer uma educação de qualidade, 
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão 
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional 
e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de 
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil 
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro 
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa 
e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, 
com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. 
Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais 
de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos 
pelo MEC como uma instituição de excelência, com 
IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 
maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educadores 
soluções inteligentes para as necessidades de todos. 
Para continuar relevante, a instituição de educação 
precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, 
coragem e compromisso com a qualidade. Por 
isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, 
metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor 
do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é 
promover a educação de qualidade nas diferentes áreas 
do conhecimento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
boas-vindas
Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à 
Comunidade do Conhecimento. 
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar 
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores 
e pela nossa sociedade. Porém, é importante 
destacar aqui que não estamos falando mais daquele 
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas 
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, 
atemporal, global, democratizado, transformado pelas 
tecnologias digitais e virtuais.
De fato, as tecnologias de informação e comunicação 
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, 
informações, da educação por meio da conectividade 
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares 
e da mobilidade dos celulares. 
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram 
a informação e a produção do conhecimento, que não 
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em 
segundos.
A apropriação dessa nova forma de conhecer 
transformou-se hoje em um dos principais fatores de 
agregação de valor, de superação das desigualdades, 
propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. 
Logo, como agente social, convido você a saber cada 
vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a 
tecnologia que temos e que está disponível. 
Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg 
modificou toda uma cultura e forma de conhecer, 
as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, 
equipamentos e aplicações estão mudando a nossa 
cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o 
conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância 
(EAD), significa possibilitar o contato com ambientes 
cativantes, ricos em informações e interatividade. É 
um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá 
as portas para melhores oportunidades. Como já disse 
Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. 
É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. 
Willian V. K. de Matos Silva
Pró-Reitor da Unicesumar EaD
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
profissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando 
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes 
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível 
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem 
dialógica e encontram-se integrados à proposta 
pedagógica, contribuindo no processo educacional, 
complementando sua formação profissional, 
desenvolvendo competências e habilidades, e 
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, 
de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, 
estes materiais têm como principal objetivo “provocar 
uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta 
forma possibilita o desenvolvimento da autonomia 
em busca dos conhecimentos necessários para a sua 
formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento 
e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos 
fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe 
das discussões. Além disso, lembre-se que existe 
uma equipe de professores e tutores que se encontra 
disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em 
seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe 
trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória 
acadêmica.
boas-vindas
Janes Fidélis Tomelin
Diretoria Executiva de Ensino
Kátia Solange Coelho
Diretoria Operacional de Ensino
6 
autores
Professor Doutor
Osmar Moreira de Souza Júnior
Doutor em Educação Física pela FEF-Unicamp, em 2013 (título da tese: Futebol como projeto profis-
sional de mulheres: interpretação da busca pela legitimidade); Mestre em Ciências da Motricidade 
pela Unesp, em 2003 (título da dissertação: Co-educação, futebol e Educação Física escolar); Gra-
duado em Licenciatura em Educação Física pela Unesp-Rio Claro, em 1992. Professor Adjunto no 
Departamento de Educação Física e Motricidade Humana (DEFMH) da Universidade Federal de São 
Carlos (UFSCar). Co-autor do livro Para ensinar Educação Física: possibilidades de intervenção na escola. 
Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas dos Aspectos Pedagógicose Sociais do Futebol (ProFut-U-
FSCar); membro do Grupo de Estudos e Pesquisas de Futebol (GEF-Unicamp) e do Laboratório de 
Estudos e Trabalhos Pedagógicos em Educação Física (LETPEF-Unesp de Rio Claro). Experiência na 
área de Educação Física escolar, tendo atuado como professor e coordenador de Educação Física 
no Ensino Fundamental e Médio de 1997 a 2008. 
Link para o currículo lattes: <http://lattes.cnpq.br/9176123942671062>.
Professor Mestre
Bruno Martins Ferreira
Graduado em Educação Física pela UFSCar e Universitat de València (UV - Espanha). Mestre em 
Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), na linha de Práticas Sociais e Processos 
Educativos. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas dos Aspectos Pedagógicos e Sociais do Fu-
tebol (ProFut). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Processos Educativos de Crianças. 
Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Educação Física Infantil. Premiado por pesquisas 
sobre futebol em Congressos Acadêmicos: II Congreso Mundial de Entrenadores de Fútbol - Se-
vilha, Espanha; Congresso Internacional de Pedagogia do Esporte (CONIPE) - Campinas, Brasil; V 
Congresso Estadual de Educação Física Escolar/II Congresso Nacional de Educação Física Escolar; X 
Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade Humana (CIEFMH)/ XVI Simpósio Paulista 
de Educação Física. Experiência nas áreas de Educação Física Escolar e da Pedagogia do Futebol, 
tendo atuado em clubes do Brasil e Espanha de 2013 até os dias atuais. 
Link para currículo Lattes: <http://lattes.cnpq.br/0398347132356776>.
apresentação
Esportes Coletivos: Futsal e Futebol
Prezado(a) aluno(a), convidamos você para uma viagem pelas trilhas do fantástico 
universo do futebol e do futsal. Neste livro, você aprenderá que o futebol e o futsal 
são muito mais que um jogo com 22 ou 10 pessoas correndo atrás de uma bola. 
Parafraseando o título do saboroso livro de José Miguel Wisnik, “Veneno remédio: 
o futebol e o Brasil”, é possível admitir que o futebol está presente em nosso dia a 
dia para o bem e para o mal, quer você queira ou não dar atenção a ele. 
É justamente por este motivo que o futebol tem um apelo todo peculiar, que 
não pode deixar de ser tratado pedagogicamente no campo da educação, afinal de 
contas, como bem falou Franklin Foer no título de seu livro Como o futebol explica 
o mundo, o futebol pode se constituir em um poderoso fenômeno que nos ajuda 
a melhor compreender o mundo em que vivemos.
Para isso, no entanto, não devemos nos restringir a ensinar nossos(as) alu-
nos(as) a simplesmente jogar futebol. Pensar uma pedagogia para o ensino do 
futebol requer pensar em mecanismos que permitam que os(as) aprendizes se 
apropriem desse esporte tanto do ponto de vista do praticante como do consumidor 
e do espectador. Isto é, além de aprender a jogar, é preciso aprender a conhecer o 
futebol por dentro e por fora.
Você já deve estar se perguntando onde fica o futsal nessa história toda, visto 
que a modalidade também dá nome a esta disciplina. No decorrer dos capítulos 
do livro, essa escolha deverá ficar mais clara. Por ora, é importante adiantar apenas 
que reconhecemos o futebol como um fenômeno maior, que de alguma maneira, 
enquanto linguagem, abriga em seu âmbito outras modalidades, como o futsal. 
Tal compreensão não pretende diminuir o espaço do futsal ou indicar que este não 
possui uma identidade própria. Na verdade, o futsal é uma modalidade distinta 
do futebol, com suas regras e identidade próprias, contudo, do ponto de vista do 
ensino, em especial na iniciação, assumimos que não seja necessário fazer grandes 
distinções entre as duas modalidades. 
Este material está dividido em cinco unidades:
Unidade I - “Sociogênese do futebol ao futsal”: aborda o processo de espor-
tivização das práticas corporais até a consolidação do esporte moderno, com 
destaque para o futebol nesse processo, e a forma como o futebol de salão, que 
posteriormente dá origem ao futsal, encontra-se neste processo.
Unidade II - “Futebol como objeto de estudo”: desvendando as lógicas interna 
e externa”: caracteriza o futebol como conhecimento dotado de expressivo poten-
cial educacional e conceitua e discute as possibilidades de tratamento didático do 
futebol a partir de suas lógicas interna e externa.
Unidade III - “O ensino do futebol para aprender a jogar: ênfase na lógica 
interna”: discute o ensino do futebol na perspectiva do ensinar a jogar, ou seja, 
a partir de sua lógica interna, dando relevo à natureza tática do jogo como eixo 
orientador do processo de ensino e aprendizagem.
Unidade IV - “O ensino do futebol para aprender a apreciar e consumir”: dis-
cute o ensino do futebol na perspectiva da lógica externa, colocando em relevo os 
aspectos sociais, culturais, históricos, políticos etc., que atravessam a modalidade.
Unidade V - “Um outro futebol é possível”: aborda alternativas à monocultura 
do futebol espetáculo gerido pelo sistema FIFA/afiliadas, apresentando propostas 
como o futebol praticado por mulheres, o fútbol callejero e o futebol com classi-
ficação funcional.
Este livro tem por objetivo contribuir para a formação de professores e pro-
fissionais de Educação Física comprometidos com um ensino do futebol que não 
seja centrado nos aspectos técnicos da modalidade, e sim no sujeito que aprende, 
assumindo a metodologia proposto por João Batista Freire que, em seu livro Peda-
gogia do futebol, reivindica que ensinemos o futebol a partir de quatro princípios 
pedagógicos: ensinar futebol a todos(as), ensinar bem futebol a todos(as), ensinar 
mais do que futebol a todos(as) e ensinar a gostar do esporte.
Caro(a) aluno(a), como última mensagem desta breve apresentação, lembramos 
o grande educador Rubem Alves que afirma que o professor e a escola em geral 
dão a faca e o queijo para os alunos aprenderem, mas muitas vezes se esquecem 
que é preciso despertar a fome nestes alunos. Esperamos que você saboreie este 
livro com esta fome e no futuro saiba despertar a fome do conhecimento em seus 
alunos e suas alunas. Abraços fraternos e um bom curso!
Prof. Dr. Osmar Moreira de Souza Júnior
Prof. Me. Bruno Martins Ferreira
sumário
UNIDADE I
SOCIOGÊNESE DO FUTEBOL AO FUTSAL
14 Sociogênese do Futebol
20 Esporte e Futebol como Reservas Historica-
mente Masculinas
28 Do Futebol ao Futsal
36 Reinventando a História do Futebol
40 Considerações finais
47 Referências
50 Gabarito
UNIDADE II
FUTEBOL COMO OBJETO DE ESTUDO: 
DESVENDANDO AS LÓGICAS INTERNA E EXTERNA
56 A Importância de se Estudar o Futebol
60 Princípios Pedagógicos no Ensino do Futebol
64 Futebol, Educação Física e Proposta de Ensino
68 Praxiologia Motriz: Lógica Interna, Lógica Externa
71 Considerações finais
77 Referências
79 Gabarito
UNIDADE III
O ENSINO DO FUTEBOL PARA APRENDER A JOGAR: 
ÊNFASE NA LÓGICA INTERNA
84 Lógica Interna no Futebol: Foco nas Tomadas 
de Decisão E Ações no Jogo
88 Os Aspectos Tático-Técnicos: Motivações e 
Apresentação dos Princípios Operacionais 
em Diálogo com os Indicadores de Jogo na 
Lógica Interna
94 Aprender a Jogar Pelo Jogo: Atividades Pensa-
das a Partir da Relação com a Bola
104 Aprender a Jogar Pelo Jogo: Atividades Pensa-
das a Partir da Relação com a Estruturação do 
Espaço
114 Aprender a Jogar Pelo Jogo: Atividades 
Pensadas a Partir da Relação com a Comuni-
cação na Ação
124 Considerações finais
130 Referências
132 Gabarito
UNIDADE IV
O ENSINO DO FUTEBOL PARA APRENDER A 
APRECIAR E CONSUMIR: ÊNFASE NA LÓGICA EXTERNA
138 Lógica Externa no Futebol: como o Futebol 
Explica o Mundo
140 O Dom de Jogar Bola: Mitos e Verdades 
148 Futebol e Política
164 Futebol e Gênero
172 O Futebol Espetacularizado: Mídia, Torcidas, 
Violência
183 Considerações finais
191 Referências
194 Gabarito
UNIDADE V
UM OUTRO FUTEBOL É POSSÍVEL
200 Futebóis para Pessoas com Deficiências
206 Futebol de Botão
212 Fútbol Callejero
218 Considerações finais
225 Referências
227 Gabarito
228 Conclusão Geral
Professor Dr. Osmar Moreira de Souza JúniorProfessor Me. Bruno Martins Ferreira
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta 
unidade:
• Sociogênese do futebol
• Esporte e futebol como reservas historicamente 
masculinas
• Do futebol ao futsal
• Reinventando a história do futebol
Objetivos de Aprendizagem
• Entender o processo de consolidação do futebol como 
esporte.
• Identificar e criticar a construção generificada do campo 
esportivo e do futebol em especial.
• Reconhecer o futsal como modalidade esportiva 
autônoma, mas derivada do futebol.
• Refletir sobre estratégias didáticas para o ensino dos 
processos históricos do futebol.
SOCIOGÊNESE DO 
FUTEBOL AO FUTSAL
I
unidade
INTRODUÇÃO
O
lá caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à primeira unidade da 
disciplina “Esportes coletivos: futsal e futebol”. Para iniciar-
mos nossas reflexões sobre a temática sociogênese do futebol, 
propomos algumas questões iniciais. Quem inventou o fute-
bol? Aliás, será que o futebol foi inventado por alguém? 
Nesta unidade, você irá compreender que o futebol não é uma prática 
que surgiu de alguma invenção pessoal de algum ser humano, mas sim 
fruto de um processo de amadurecimento de uma série de jogos com 
bola que, desde a antiguidade, influenciaram para a consolidação do fu-
tebol da forma como o conhecemos hoje.
Para tal fim, adotamos como categoria de análise o esporte moderno, 
que se diferencia das práticas corporais com motivações ritualísticas, re-
ligiosas, bélicas etc., assumindo um sentido próprio.
Compreender esse processo de construção social, que aqui chamaremos 
de sociogênese do futebol, é importante para o reconhecimento da conso-
lidação da modalidade como patrimônio imaterial da humanidade, bem 
como para a identificação das causas e efeitos do processo de esportivização 
das práticas corporais - processo este, que não pode ser analisado de manei-
ra descolada do processo civilizatório da humanidade de uma forma geral.
A unidade discute o processo de esportivização do futebol, bem como 
a discriminação de gênero presente no campo esportivo e no futebol em 
especial, que faz com que as mulheres enfrentem uma série de barreiras 
para transitarem por esses campos.
O surgimento do futebol de salão, que dá origem ao futsal, também 
merece destaque na unidade, evidenciando que embora tenha sua ori-
gem intimamente vinculada ao futebol, o futsal se consolida como uma 
modalidade esportiva à parte. 
Por fim, o último tópico discute possibilidades didáticas para o ensino 
da história do futebol e apresenta uma estratégia nesse sentido, denominada 
“reinventando a história do futebol”. Bons estudos!
ESPORTES COLETIVOS: FUTSAL E FUTEBOL 
14 
Estimado(a) aluno(a), partiremos da premissa de 
que o esporte moderno surgiu na Grã-Bretanha, en-
tre os séculos XVIII e XIX. Partindo dessa perspecti-
va, compreendemos que o futebol, enquanto esporte 
moderno, só pode existir graças a um conjunto de 
circunstâncias que estiveram presentes apenas na 
sociedade britânica da transição entre estes séculos. 
Isto é, qualquer outra tentativa de reivindicar a 
paternidade do futebol por outra nação, em outro 
Sociogênese 
do Futebol
Fonte: Blog do Ale’Italia (2012, on-line)1.
momento histórico, não passa de um mal-enten-
dido que confunde esporte com práticas corporais 
pré-modernas. Falamos isso por concordar com 
Dunning (2003), quando o autor assegura que foi 
no contexto de uma sociedade cada vez mais pací-
fica e submetida a formas mais eficazes de legisla-
ção parlamentar, que começaram a surgir formas 
modernas e reconhecíveis de esporte baseadas em 
regras escritas.
 15
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
procurando arremessar uma bola de borracha maciça 
– pesando cerca de três quilos – no campo adversário 
com o objetivo de fazê-la tocar o chão. Cada toque da 
bola no chão contava um ponto negativo para a equi-
pe, sendo que esses débitos podiam ser anulados caso 
conseguisse-se introduzi-la em um dos dois aros de 
pedra fixados nos muros laterais do campo. Em sua 
origem, o tlachtli ocorria em um pátio que separava 
dois templos, consistindo em um rito cosmológico e, 
ao menos no princípio, suspeita-se que o capitão da 
equipe perdedora era sacrificado por decapitação.
OS JOGOS ANTECESSORES DO FUTEBOL
O historiador Hilário Franco Júnior (2007) dá início 
a seu livro A Dança dos Deuses: futebol, sociedade, 
cultura alertando para as problemáticas envolvendo 
as questões históricas a propósito de possíveis ori-
gens longínquas do futebol. Segundo o autor, diz 
uma lenda que, na China, entre 2000 e 1500 a.C., 
guerreiros inventaram uma macabra diversão para 
relaxar logo após as sangrentas batalhas que tra-
vavam: chutar o crânio de um inimigo com o ob-
jetivo de fazê-lo ultrapassar uma meta simbolizada 
por duas estacas de bambu fincadas no chão. Dessa 
comemoração hedionda surgiu, no século III a.C. o 
tsu chu, um exercício para treinamento militar, que 
consistia também em colocar a cabeça – neste caso, 
simbolizada por uma bola de couro de cerca de 22 
cm recheada com crina – em uma meta de varas 
de bambu. Além do treinamento militar, a disputa 
adquiria simbolismo cosmológico, sendo praticada 
por 12 jogadores representando os signos do zodía-
co, o formato quadrilátero do campo representando 
o céu e a bola representando o sol.
No século III, o jogo foi importado pelos japone-
ses tendo seu nome traduzido para kemari, que tinha o 
mesmo significado: “chutar a bola”. Contudo, no Japão, 
o jogo perdeu seu caráter militar, adquirindo uma co-
notação cerimonial, cuja dinâmica consistia em con-
trolar a bola sem que ela tocasse o solo, circulando en-
tre oito jogadores (FRANCO JÚNIOR, 2007).
O tlachtli, jogado na América Central desde, 
aproximadamente, 900 a.C., é considerado outro pro-
vável antepassado do futebol. De acordo com Fran-
co Júnior (2007), esse jogo consistia em uma disputa 
na qual dois grupos, geralmente de sete jogadores, 
enfrentavam-se em um campo retangular (25 a 63 
metros de comprimento por seis a doze de largura), 
O epyskiros surgiu na Grécia clássica a partir do sé-
culo IV a.C. e o seu derivado, harpastum, na Roma 
antiga do século III a.C. Foram jogos que simula-
vam batalhas. O harpastum destinava-se inicialmen-
te a aprimorar as capacidades físicas e a inteligência 
tática dos soldados romanos. Uma hipótese muito 
difundida por alguns estudiosos do assunto é que o 
harpastum teria sido introduzido pelas tropas roma-
nas nas ilhas britânicas, sendo um legítimo anteces-
Figura 1 - Pintura com representação do jogo de tlachtli 
Fonte: Guerra Fria: Política e Futebol (2014, on-line)2.
ESPORTES COLETIVOS: FUTSAL E FUTEBOL 
16 
sor do futebol moderno naquelas terras, porém, tal 
tese não tem documentação que confira a necessária 
credibilidade científica (FRANCO JÚNIOR, 2007).
Na Florença renascentista do século XIV, prati-
cava-se o calcio (nome que os italianos atribuem ao 
futebol ainda hoje), provavelmente um descendente 
do harpastum, que para muitos estudiosos pode ser 
considerado o primeiro jogo antecessor do futebol 
com uma codificação de regras mais rígidas e orga-
nização tática sofisticada. 
Segundo Franco Júnior (2007), o calcio fioren-
tino realizava-se no principal espaço público da ci-
dade de Florença, a piazza Santa Croce. O jogo era 
disputado por duas equipes de 27 jogadores cada, 
uniformizados (um grupo verde e outro branco) 
e distribuídos de forma rígida pelo espaço de jogo 
(três primeiros defensores, quatro outros defenso-
res, cinco intermediários e quinze atacantes). Para 
controlar as ações desses jogadores, criou-se a figura 
do árbitro, sendo que dez árbitros faziam a media-
ção de uma partida que realizava-se no período de 
Carnaval, com uma hora de duração, em um espaço 
retangular de cem por 48 metros e uma bola com 
dimensões semelhantes às das bolas modernas. 
No norte da França, desde, pelo menos, meados da 
Idade Média, praticava-se um jogo ou um conjunto 
de jogos denominados de soule. Wisnik (2007) re-
vela que tal jogocaracterizava-se como uma espécie 
de vale tudo da bola, empreendido por grupos que 
compreendiam centenas de pessoas que, usando os 
pés e as mãos, entravam em choques agressivos na 
disputa pela bola. O objetivo dessa batalha entre po-
pulações de aldeias vizinhas consistiria em conduzir 
a bola para dentro do território do adversário ou de 
resgatar a bola do grupo adversário e trazê-la para 
seus domínios, entronizando-a em sua própria igre-
ja ou outro ponto acordado.
Cronistas registram desde os séculos XI e XII 
a ocorrência dessas duas modalidades de dis-
puta, certamente complementares mas indi-
cativas, também, de uma alternância prática 
entre o modelo guerreiro e o religioso. Porque, 
num caso, trata-se de atacar, conduzindo a bola 
agressivamente em direção ao território a ser 
conquistado; no outro, trata-se de resgatar o 
trunfo, entre escaramuças e emboscadas, re-
conduzindo-o para o território de origem como 
a restituição sacral de um bem (à maneira da 
demanda do Graal) (WISNIK, 2007, p. 78).
Na Inglaterra propriamente dita, desde 1174, 
existem registros da prática de jogos com bola. 
Esses jogos aconteciam anualmente em come-
moração à expulsão dos dinamarqueses, na festa 
popular denominada Schrovetide (que coincidia 
com a Terça-feira Gorda do calendário cristão). 
A bola era considerada a representação da cabeça 
do comandante invasor dinamarquês. A difusão 
dos jogos com bola nas ilhas britânicas foi tão 
grande que, em 1365, o rei Eduardo III proibiu-o 
sob a alegação de que desviava a atenção de práti-
cas mais nobres e úteis.
Figura 2 - Gravura com representação de jogo do calcio fiorentino, na 
Piazza Santa Croce em Florença-ITA
Fonte: Wikimedia Commons (2016, on-line)3.
 17
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
Franco Júnior (2007) conclui que, apesar de 
pontos em comum entre as referidas práticas com 
bola, tais como: caráter ritual, campo de sentido cós-
mico, bola representando cabeça humana etc., não 
se pode traçar uma linha de continuidade entre elas. 
Mais do que as similitudes, o autor coloca em relevo 
as diferenças significativas entre as formas antigas e 
a atual de conceber o jogo de bola com os pés.
Hoje o jogo é coletivo, enquanto o soule e o 
footbal opunham grupos, mas tinham como 
vencedor um indivíduo, aquele que levasse a 
bola até determinada meta. O epyskiros grego, 
como outros jogos com bola, era visto apenas 
como diversão, sem o estatuto esportivo e cí-
vico da corrida, do salto, do arremesso de dis-
co, do arremesso de dardo, da luta, do boxe, do 
pancrácio. O individualismo daquela sociedade 
excluía os jogos coletivos dos grandes concur-
sos atléticos pan-helênicos, inclusive do mais 
importante deles, a Olimpíada. O harpastum 
romano possivelmente fosse jogado mais com 
as mãos do que com os pés [...]. O tlachtli me-
so-americano era jogado com diversas partes 
do corpo, exceto mãos e pés. Enquanto o jogo 
atual possui regramento escrito e estrito, o de 
séculos passados (com exceção do calcio fioren-
tino) baseava-se em tradições orais muito vagas 
e variadas de região para região [...] 
Enfim, cada uma das práticas precedentemente 
lembradas respondia a condições culturais es-
pecíficas, o que torna muito frágil tentar vê-las 
como antepassadas do futebol (FRANCO JÚ-
NIOR, 2007, p. 19-20).
O SURGIMENTO DO FUTEBOL MODERNO
Segundo Dunning (2003), em comparação com 
seus antecedentes populares, o rúgbi e o futebol 
são exemplos de esportes mais civilizados ao me-
nos em 6 sentidos: 
1. limitação do número de participantes; 
2. especialização da utilização de mãos ou pés; 
3. comitês que centralizam as regras; 
4. manuais de regras exigindo autocontrole so-
bre a força física; 
5. definição de sanções às infrações cometidas 
no jogo; 
6. institucionalização das regras do jogo legiti-
mando o papel do árbitro.
Diferentemente dos portadores de chicotes e porre-
tes que dirigiam os jogos na Grécia Antiga, o árbitro 
do esporte moderno não precisam recorrer à força 
física ou às ameaças para garantir o cumprimento 
de suas ordens. Apenas à sanções específicas do jogo 
que não implicam castigos físicos.
Dunning (2003) entende que como chineses, ja-
poneses, gregos, italianos, romanos, ingleses, fran-
ceses e celtas praticaram, em algum período de sua 
história, jogos que, com distintos graus de plausibi-
lidade, têm sido propostos como “a” forma ancestral 
do futebol, seria razoável adotar a hipótese de que os 
jogos similares ao futebol tiveram origens múltiplas, 
sendo praticados de distintas formas em todas ou 
quase todas as sociedades com capacidade tecnoló-
gica para fabricar bolas adequadas.
Considerando a delimitação entre os jogos pré-
-modernos e o esporte moderno futebol, concorda-
mos com Damo (2007), quando recorrendo a Mont-
serrat Guibernau, admite que:
[...] a relação que se pode estabelecer entre o 
football association e as formas de football não 
codificadas – por vezes tratadas como folk foo-
tball ou jogos pré-modernos – é análoga à ma-
neira como se processou a codificação das lín-
guas oficiais em certos Estados-nações que se 
caracterizavam pela diversidade de práticas em 
seus territórios (DAMO, 2007, p. 36).
ESPORTES COLETIVOS: FUTSAL E FUTEBOL 
18 
 Do mesmo modo, como Dunning (2003), acredita-
mos que o padrão básico do jogo, caracterizado pelo 
seu caráter popular em forma de lutas entre grupos, 
o prazer próprio que gera uma batalha, o caráter de-
sordenado e o grau relativamente alto de tolerância à 
violência física, mantêm-se muito similar em todos 
os lugares em que este jogo é praticado, levando-nos 
a crer que estes jogos procediam de um mesmo mol-
de que transcendia as diferenças em relação aos seus 
nomes e às tradições locais específicas.
As primeiras regras escritas sobre o futebol pro-
cedem da escola pública inglesa de “Rugby”, em 
1845. Mais tarde, outras escolas adotaram estas re-
gras. As escolas públicas inglesas surgem na Idade 
Média, e no século XVIII foram ocupadas por mem-
bros da aristocracia e da alta burguesia, adquirindo 
caráter elitista. Nesse contexto, essas escolas passam 
por uma onda de violência, em meio à qual o Rugby, 
sob a tutela do pedagogo Thomas Arnold, consegue 
recuperar a ordem e, junto com a regulação das re-
lações de autoridade, surgem ali formas regradas e 
civilizadas de jogar futebol. Em Rugby, os alunos 
mais velhos estiveram diretamente envolvidos na 
construção das regras (DUNNING, 2003). 
As escolas públicas de Eton e Rugby, rivais, es-
tão diretamente ligadas às razões da separação do 
futebol do rúgbi. Nas regras de Eton, a proibição ab-
soluta do uso das mãos é evidente. A bifurcação só 
se institucionalizou quando o futebol foi admitido 
como jogo para adultos, momento em que membros 
das classes alta e média fundaram clubes com pro-
pósito específico da prática do futebol e criaram-se 
associações com a intenção de dar corpo a uma le-
gislação a nível nacional.
Dunning (2003) afirma que a partir de uma sé-
rie de reuniões em Londres, em 1863, procurou-se 
criar um código de futebol unificado. A maioria 
defendia o jogo sem as mãos e com menos contato 
físico, criando a Footbal Association (FA), mas havia 
um grupo que era partidário da versão mais “rude”. 
Este grupo retirou-se das conversações e, em 1871, 
fundou a Rugby Footbal Union (RFU). Esses dados 
sugerem que as primeiras fases do desenvolvimento 
do esporte moderno implicaram um transformação 
para uma maior civilização. Esportes, como boxe, 
futebol e rúgbi, representaram a eliminação de cer-
tas formas de violência física e a exigência de que 
os participantes exercessem um controle mais estri-
to sobre o contato físico e os impulsos agressivos de 
origem social.
Dunning (2003) entende que, hoje, podemos 
dizer que o esporte passa por um processo desci-
vilizador, mediado pela comercialização, profissio-
nalização e internacionalização, que aumentam a 
importância da vitória, aumentando a pressão com-
petitiva e empreendendo uma regressão aos níveis 
de violência que caracterizavam oesporte na Anti-
guidade e Idade Média.
Futebol se joga no estádio? Futebol se joga 
na praia, futebol se joga na rua, futebol se 
joga na alma. 
(Carlos Drummond de Andrade)
REFLITA
 19
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
ESPORTES COLETIVOS: FUTSAL E FUTEBOL 
20 
Esporte e Futebol como Reservas 
Historicamente Masculinas
Figura 3 - Dick Kerr’s Ladies 1921
Fonte: A Raft of Apples (2012, on-line)4.
Caro(a) aluno(a), ao ler sobre a história da origem do futebol, você não sen-
tiu falta de alguma coisa? Pelo título deste tópico, você já deve ter entendido 
qual a provocação inicial. Pois é, as mulheres pouco aparecem nessa história 
e quando aparecem são tratadas como meras figurantes; mas qual seria o mo-
tivo dessa distinção entre o masculino e o feminino no processo de evolução 
histórica do futebol? É exatamente dessa inquietação que pretendemos tratar 
no tópico que, agora, será apresentado. Bons estudos!
 21
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
O ESPORTE COMO RESERVA MASCULINA
O esporte moderno, surgido na Inglaterra entre os 
séculos XVIII e XIX, esteve pautado na codificação 
e institucionalização de práticas corporais ou passa-
tempos que eram regidos por tradições locais e ad-
quiriam sentidos e significados associados às esferas 
religiosa e/ou militar. Uma característica que pode 
passar despercebida na descrição dessa história diz 
respeito à ausência (ou ao menos ao silenciamento 
da presença) das mulheres.
Dunning (2003) argumenta sobre essa ausência 
referindo-se ao esporte como uma das principais áre-
as de validação da masculinidade, na medida em que 
carrega uma série de sentidos que se tornaram ex-
pressão cultural dos valores masculinos tradicionais. 
O autor chama a atenção para o fato de mudan-
ças socioeconômicas e familiares corroerem as ba-
ses tradicionais da identidade e dos privilégios dos 
homens. A participação cada vez mais efetiva das 
mulheres nos cenários político, cultural, social, eco-
nômico e esportivo masculino repercutiu em uma 
reação machista no sentido de garantir a manuten-
ção de alguns desses privilégios e, deste modo, po-
de-se atestar que uma gama de esportes, em especial 
aqueles que assumem características de combate, 
como as lutas, o futebol, o rúgbi, o futebol ameri-
cano etc., estabeleceram-se como um dos últimos 
bastiões de um exercício tido como autêntico das 
expressões de masculinidade.
Jennifer Hargreaves (1993) afirma que o lazer 
em geral e o esporte em particular são expressões do 
poder cultural dos homens, na medida em que eles 
possuem acesso a um maior número de atividades 
dessa natureza e, ao mesmo tempo, dedicam uma 
quantidade de tempo consideravelmente superior às 
mulheres a estas atividades. No entanto, ainda que a 
construção social da maioria dos esportes esteja ba-
seada em uma clássica história de dominação mas-
culina e subordinação feminina, o poder masculino 
no esporte nunca foi exercido de forma absoluta.
A autora revela ainda que, ao final do século XIX 
e início do século XX, iniciou-se um desenvolvimen-
to gradual da prática esportiva pelas mulheres, que 
teve continuidade no período entre guerras e pós-Se-
gunda Guerra Mundial, e tem se intensificado cada 
vez mais nos últimos anos. Prova disso é o aumento 
considerável na quantidade de mulheres que hoje 
dedicam suas horas de lazer à prática esportiva e a 
variedade de esportes que essas mulheres praticam.
FUTEBOL DE MULHERES: ROMPENDO 
PARADIGMAS DE GÊNERO
Desde sua origem, tanto em sua fase elitizada como 
em seu período mais popular, tudo indica que o fute-
bol manteve-se como uma prática majoritariamente 
masculina. Talvez, diferentemente do período dos 
jogos pré-modernos, tendo em vista que, ao menos 
em algumas de suas manifestações, retratam a parti-
cipação de multidões que poderiam incluir crianças, 
mulheres e idosos (SOUZA JÚNIOR, 2013).
Entendemos que os fatores que contribuem para 
essa mudança podem estar ligados justamente aos 
ESPORTES COLETIVOS: FUTSAL E FUTEBOL 
22 
valores vinculados ao futebol, visando formar uma 
elite britânica com fibra moral para governar o país, 
tributários de sua gênese na transição do século 
XVIII para o XIX, nas public schools inglesas, nas 
quais o “embrião” daqueles que viriam a ser o futebol 
e o rúgbi teriam sido utilizados como ferramentas 
para a restituição da ordem que havia sido destituída 
por uma série de rebeliões e distúrbios causados pe-
los alunos (DUNNING, 2003). Sustentada por uma 
visão de mundo “modelada” pelo legado do patriar-
cado, essa elite governante não incluiria as mulheres 
que, desse modo, deveriam ser alijadas desta esfera 
política, restringindo-se ao espaço privado (SOUZA 
JÚNIOR, 2013). 
Uma lacuna para a participação da mulher no 
futebol é aberta com o advento da Primeira Guerra 
Mundial. Nesse período, Franco Júnior (2007) rela-
ta que- apesar de algumas experiências isoladas em 
fins do século XIX- até 1914, o futebol tinha sido 
exclusividade do público masculino. Com a guerra, 
mulheres da classe operária inglesa foram traba-
lhar nas fábricas de munição e, no bojo do proces-
so geral de emancipação feminina, apropriaram-se 
também do futebol. 
Newsham (1997) revela que, no período da 
Primeira Guerra Mundial, surgem inúmeras equi-
pes de futebol formadas por mulheres em toda 
Inglaterra, com o propósito principal de levantar 
fundos para caridade. Naquele período, com a en-
trada maciça das mulheres na indústria de arma-
mentos, o governo inglês adotou uma política de 
incentivo à prática de esportes para essas mulhe-
res, tendo em vista o bem-estar físico e o fomento 
ao trabalho em equipes. O futebol foi o esporte de 
maior interesse por parte das mulheres, refletindo 
no surgimento de diversas equipes de mulheres 
nas fábricas do Reino Unido.
Apesar do sucesso indiscutível dos jogos de fu-
tebol das mulheres, sempre houve algum tipo de 
resistência a esse fenômeno. O argumento da ina-
dequação do corpo feminino para a prática do fu-
tebol desde cedo mobilizou uma boa parcela da 
população. Em detrimento dessa oposição, os jogos 
de futebol de mulheres se desenvolveram de forma 
crescente entre os anos de 1917 e 1921, atraindo aos 
estádios públicos bastante expressivos. 
Um dos times de futebol de mulheres de maior 
expressão à época foi o Dick, Kerr Ladies, formado 
por trabalhadoras da fábrica do mesmo nome. A 
equipe teve uma trajetória de vitórias memoráveis 
no país e no exterior e costumava encher os estádios 
por onde passava. 
As coisas começaram a mudar para o promissor 
e crescente futebol de mulheres, quando a entida-
de máxima do futebol inglês e mundial à época, a 
Football Association (FA), passou a sentir-se in-
comodada com o sucesso das mulheres e decidiu 
criar barreiras para os seus jogos. Assim, o golpe 
fatal que determinou a mudança nos rumos dos jo-
gos de futebol de mulheres veio com a resolução 
da FA, em 5 de outubro de 1921, que requisitava 
aos clubes a ela filiados, para que não concedessem 
seus campos de futebol para jogos de mulheres 
(NEWSHAM, 1997).
De acordo com Souza Júnior (2013), a experi-
ência dos jogos de futebol de mulheres nos anos 
de 1920, na Inglaterra, e principalmente a trajetó-
ria de sucesso do Dick, Kerr Ladies desconstroem 
uma série de paradigmas que ainda hoje se per-
petuam quando se discute o “futebol feminino”. 
A suposta fragilidade das mulheres para jogar 
futebol já fora desmistificada desde aquela época; 
aliás, o histórico de jogos do Dick, Kerr Ladies ao 
longo de 1921 e o registro de que não há relatos 
 23
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
de contusões graves das atletas são provas desse 
fato. A multiplicação de equipes de norte a sul do 
Reino Unido e em países vizinhos, como a França, 
o interesse do público, manifestado pelas multi-
dões presentes nas partidas e as rendas expressivas 
obtidas sinalizam para uma possibilidade concre-
ta de que o futebol de mulheres seria o que hoje 
chamamos de esporte espetáculo.
Pensar que, em plena década de 20, mulhe-
res teriam protagonizado espetáculos de tamanha 
magnitude,com equipes se multiplicando e refor-
çando-se em busca de adversárias cada vez mais 
fortes, cruzando o país, as fronteiras com outros 
países e o oceano em busca desses desafios é algo 
de muito significativo para a história do futebol 
(SOUZA JÚNIOR, 2013).
Já no Brasil, a história do futebol seguiu por ou-
tros caminhos, pois a influência dos ingleses em sua 
sociogênese esteve mais ligada à apresentação da 
modalidade por um viés aristocrático permeado pe-
los laços econômico-industriais entre os dois países.
Tomando por base alguns estudos majoritaria-
mente circunscritos ao Rio de Janeiro, é possível vis-
lumbrar ao menos um recorte das primeiras aproxi-
mações das mulheres com o esporte no Brasil como 
espectadoras, ainda que de maneira tímida. Nesse 
sentido, Salles, Silva e Costa (1996) admitem que, 
antes do surgimento do futebol, os esportes da elite 
brasileira, particularmente, eram o remo e a equita-
ção (ou turfe), obtendo também a atenção das mu-
lheres, porém, na condição de espectadoras. 
Com a chegada do futebol, o turfe e o remo 
foram perdendo espaço como esportes preferidos 
pela sociedade, deixando também de ser o esporte 
predileto das mulheres, que passaram a ser vistas 
nos estádios trajadas como se estivessem em uma 
festa de gala.
Segundo Moura (2003), em 28 de junho de 1921, a 
imprensa de São Paulo divulgou que jogariam no 
campo do Tremembé F.C. as “Senhoritas Tremem-
benses” versus “Senhoritas Cantareirenses”. Para 
muitos, este teria sido o primeiro jogo de futebol 
entre mulheres realizado no país, mas a escassez 
de registros de tantas outras possibilidades de ex-
periências que não mereceram atenção de jornais à 
época, ou mesmo antes desse episódio, nos sugere 
um pouco mais de comedimento ao elegê-lo como 
marco inaugural da presença feminina nos grama-
dos brasileiros. 
Moura (2003) relata que, na década de 30, as prá-
ticas corporais realizadas pelas mulheres deixaram 
definitivamente de ter apenas como foco a ginástica 
e a dança, consolidando sua presença no campo es-
portivo, que iria incorporar, inclusive, o basquetebol 
e o futebol enquanto “esportes femininos”. 
Segundo Malaia (2011), no início do século 
XX, as mulheres frequentavam os estádios 
de futebol apresentando-se bem-vestidas, 
usando luvas, chapéus, longos vestidos e ti-
nham o hábito de assistir às partidas apertan-
do os objetos que tivessem em mãos, além 
de contorcerem-se, pularem, gesticularem e 
soltarem gritos para chamar o nome de seus 
atletas prediletos. Estes, atletas em sua maio-
ria também sócios dos clubes e considerados 
bons partidos. “Esse era o comportamento 
inusitado que tanto chamou a atenção da 
imprensa e da sociedade e que configurou 
um novo personagem do futebol do período: 
as ‘torcedoras’”. 
Fonte: adaptado de Malaia (2011). 
SAIBA MAIS
ESPORTES COLETIVOS: FUTSAL E FUTEBOL 
24 
De acordo com Moura (2003), no ano de 1940, 
o futebol de mulheres ganha destaque na imprensa 
carioca. Inicialmente, o interesse das mulheres dos 
subúrbios na prática do futebol despertou curio-
sidade da população de uma maneira geral, sendo 
amplamente explorado pela imprensa, que desti-
nou um espaço significativo para o assunto. Alguns 
médicos também se mostraram favoráveis à prática 
do futebol pelas mulheres, fazendo apenas ressalvas 
com relação à necessidade de maiores estudos so-
bre o assunto para a adoção de “normas racionais” e 
de um “método científico” que dispusessem sobre a 
dosagem e duração dessa prática no intuito de “pro-
teger” o “organismo feminino”.
O autor ainda reforça que não era consensual o 
apoio ao futebol de mulheres, que recebia severas 
críticas da comunidade social e científica da época, 
como revela a carta encaminhada pelo cidadão José 
Fuzeira ao presidente da República Getúlio Vargas, 
em 25 de abril de 1940. O teor da carta revelava a 
preocupação do cidadão com a popularização do 
futebol entre as mulheres, que segundo ele confi-
gurava-se em uma “calamidade prestes a desabar 
sobre a juventude feminina”. Fuzeira alertava o pre-
sidente para a crescente quantidade de “clubes fe-
mininos de futebol” que se formavam nas grandes 
capitais do país, que seriam “núcleos destroçadores 
da saúde de futuras mães”. Franzini (2005) acres-
centa que essa carta sensibilizou a comunidade 
científica, ganhando respaldo da Divisão de Edu-
cação Física do Ministério da Educação e Saúde, 
que a encaminhou para a Subdivisão de Medicina 
Especializada, na qual recebeu parecer favorável, 
iniciando, assim, uma cruzada em perseguição à 
prática do futebol por mulheres.
Castellani Filho (1988) lembra que o decreto-lei 
nº 3.199, de 14 de abril de 1941, estabelece as bases do 
esporte em todo o país, fundando o Conselho Nacio-
nal dos Desportos (CND) (BRASIL, 1941). Em seu 
artigo 54, o decreto compreende o seguinte texto: 
Às mulheres não se permitirá a prática de despor-
tos incompatíveis com as condições de sua natu-
reza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacio-
nal de Desportos baixar as necessárias instruções 
às entidades desportivas do país (Brasil, 1941).
Segundo Souza Júnior (2013), provavelmente, as 
restrições legais tenham contribuído de maneira de-
cisiva para o suposto desaparecimento da mídia de 
relatos da prática do futebol pelas mulheres durante 
este período, mas não é demais lembrar que não sig-
nifica que ela não existia por haver a proibição legal 
e a ausência de registros. Um episódio que ajuda a 
focalizar a possibilidade de que as mulheres conti-
nuavam a praticar o futebol, muitas vezes alheias e/
ou desinformadas em relação à proibição vigente, 
refere-se a uma iniciativa individual, que teve ori-
gem,. em 1958, na cidade de Araguari, no Triângulo 
Mineiro, indicando que o futebol de mulheres não 
esteve totalmente adormecido (CUNHA, 2016).
Reforçando a onda oposicionista à prática espor-
tiva pelas mulheres, em 1965, o CND baixou as se-
guintes instruções às entidades desportivas do país:
Deliberação – CND – Nº 7/65
Nº 1 – Às mulheres se permitirá a prática de des-
portos na forma, modalidades e condições esta-
belecidas pelas entidades internacionais dirigen-
tes de cada desporto, inclusive em competições, 
observado o disposto na presente deliberação.
Nº 2 – Não é permitida a prática de lutas de 
qualquer natureza, futebol, futebol de salão, fu-
tebol de praia, pólo aquático, pólo, rugby, hal-
terofilismo e baseball (CASTELLANI FILHO, 
1988, p. 62-63).
 25
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
Moura (2003) recorda que a proibição da prática do 
futebol pelas mulheres acaba tendo desdobramentos 
até mesmo nas aulas de educação física escolar. As-
sim, na escola, que seria o ambiente propício para as 
meninas terem contato com essa prática, as alunas 
não puderam ter contato com o futebol. 
Apenas no ano de 1979, a proibição da prática 
do futebol pelas mulheres foi revogada por meio da 
deliberação nº 10 do CND (BRASIL, 1979), permi-
tindo o reconhecimento de que era necessário esti-
mular as mulheres nas diversas modalidades (CAS-
TELLANI FILHO, 1988; REIS; ESCHER, 2006).
Não podemos, também, desconsiderar que, no 
panorama político, o país respirava novos ares em 
1979, com o processo de abertura política, a crise 
econômica e o recuo do governo militar que, preo-
cupado com a insatisfação generalizada da popula-
ção, passava a fazer concessões, como a anistia aos 
presos políticos cassados pelo Regime Militar e o 
restabelecimento do pluripartidarismo, ambos os 
episódios ocorridos no mesmo ano de 1979, evi-
denciando que a legalização da prática do futebol 
e de outras modalidades vetadas às mulheres pelos 
decretos anteriores fazia parte de um processo de 
redemocratização da sociedade brasileira (SOUZA 
JÚNIOR, 2013).
Segundo Souza Júnior (2013), é preciso des-
tacar, ainda na década de 80, a equipe de futebol 
feminino do Esporte Clube Radar, do Rio de Ja-
neiro, que construiu uma invejável trajetória de 
conquistas nacionais e internacionais. O clube 
angariou, naquele período, a fama de equipe in-
vencível no circuitodo futebol feminino, conta-
bilizando dois pentacampeonatos (carioca e bra-
sileiro), além de um currículo impressionante, 
contando com apenas quatro derrotas em trezen-
tas partidas disputadas.
Além do Radar, outras equipes, como o Guara-
ni de Campinas e o SAAD, merecem destaque no 
disputado cenário do futebol feminino brasileiro 
nos anos 1980. 
Com o encerramento da equipe do Radar, em 
1988, o futebol feminino no país sofre um profundo 
golpe, pois a equipe representava o país nas poucas 
competições ou partidas internacionais nas quais 
o Brasil figurou, no final dos anos de 1980. Darido 
(2002) afirma que, somente em janeiro de 1991, os 
dirigentes voltaram a procurar as jogadoras para 
formar uma seleção para o mundial na China. 
Tratando da década de 90, Souza Júnior (2013) 
lembra que entra em cena um movimento que busca 
a popularização do “futebol feminino” no Brasil, por 
meio de uma estratégia de marketing que se basea-
va no “embelezamento das atletas”, reforçando mais 
uma vez os equívocos de uma política de inclusão da 
mulher no esporte. Isto é, para ter direito à partici-
pação no futebol não bastava a ela jogar bem, tinha 
que ser bonita. Bonita para quê? 
À primeira vista, tal procedimento poderia ser 
julgado como uma maneira de se dar o pontapé ini-
cial para a popularização do futebol de mulheres, 
que, apesar da conotação preconceituosa e discrimi-
natória, poderia produzir alguns efeitos positivos, 
como o aumento do número de praticantes. No en-
tanto, as estratégias de vinculação de uma “estética 
feminina” com o futebol passaram a ser recorrentes. 
Prova disso foi a peneira (seletiva ou draft, como de-
nominaram os organizadores) realizada para a sele-
ção de atletas que disputariam o Campeonato Pau-
lista de 2001, organizado pela FPF e pela empresa 
Pelé Sports & Marketing. O projeto elaborado por 
essas entidades estabelecia que o embelezamento 
das atletas estaria entre os objetivos principais para 
o sucesso do torneio (ARRUDA, 2001).
ESPORTES COLETIVOS: FUTSAL E FUTEBOL 
26 
De acordo com o então presidente da FPF, Edu-
ardo José Farah, havia a “necessidade de se mos-
trar uma nova roupagem no futebol feminino, que 
se encontrava reprimido pelo machismo”. Assim, 
segundo o dirigente, seria preciso “tentar unir a 
imagem do futebol à feminilidade”. Para tanto, co-
locou-se no regulamento da competição um limite 
máximo de 23 anos de idade para as participantes, 
tendo em vista a maior possibilidade forjar uma 
representação erotizada valendo-se da juventude. 
Além disso, de acordo com Knijnik e Vasconcellos 
(2003), evidenciou-se uma preferência pelas can-
didatas de cabelos compridos, sendo barradas as 
jogadoras com as cabeças raspadas.
‘Aqui, com cabelo raspado não joga. Está no 
regulamento’, disse o vice-presidente da FPF, 
Renato Duprat, responsável pela organização 
do torneio paulista, o dirigente ainda comple-
menta dizendo que ‘se tivermos de escolher 
uma menina feia que jogue bem ou uma bonita 
que jogue mais ou menos, escolheremos a feia. 
Pode ter certeza’ (ARRUDA, 2001, p. D5).
A história do futebol de mulheres brasileiro e de 
outros países tem demonstrado a recorrente estraté-
gia de privilegiar a aparência das atletas e de impor 
padrões rígidos de feminilidade para essas mulhe-
res, no que discordamos que seja o melhor caminho 
para consolidar ou promover qualquer esporte.
[...] em 1996 a prática do futebol por mulheres 
passou a fazer parte da programação televi-
siva brasileira na telenovela infantojuvenil 
Malhação, que passou a desenvolver uma 
trama baseada nesse tema, contando com 
um elenco de atrizes jovens e alinhadas com 
os padrões de beleza socialmente vigentes, 
representando garotas que jogavam futebol. 
O Saad Esporte Clube, percebendo que o inte-
resse das moças pelo futebol crescia, fez um 
projeto de marketing cujo grupo de jogadoras 
obedeceria ao “novo perfil da modalidade”, de 
atletas jovens e sempre que possível atraen-
tes. E acrescentava: “não é que as feias não 
entram mais, a novidade é que as bonitas 
estão chegando, e são bem-vindas”.
Fonte: Souza Júnior (2013).
SAIBA MAIS
 27
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
Em se tratando do futebol praticado por mulhe-
res, podemos dizer que o Brasil ainda carece de 
condições e de infraestrutura necessárias para o 
mínimo de organização de clubes e competições 
oficiais, sendo praticamente inexistentes as polí-
ticas públicas e privadas direcionadas a elas, con-
forme atesta Goellner (2005).
De acordo com Souza Júnior (2013), apesar das 
recentes conquistas – como as medalhas de pra-
ta nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, e Pe-
quim, em 2008, do vice-campeonato mundial tam-
bém em Pequim, em 2007, da medalha de ouro nos 
Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007 
(com o Maracanã lotado) e das conquistas pessoais 
da jogadora Marta, eleita cinco vezes consecutivas 
(nas temporadas de 2006 a 2010) a melhor jogado-
ra do mundo –, os dirigentes dos clubes de futebol, 
das federações estaduais, da Confederação Brasi-
leira de Futebol (CBF), os secretários e ministros 
do Esporte que se sucedem no cargo e suas equi-
pes ainda não se sensibilizaram com as precárias 
condições vivenciadas por mulheres que idealizam 
viver com dignidade e sustentar-se como profissio-
nais do futebol.
Figura 4 - Brasil e Suécia se enfrentam na semifinal dos Jogos Olímpicos 
do Rio de Janeiro - 2016 (vitória da Suécia na disputa de pênaltis)
Fonte: Wikimedia Commons (2017, on-line)5.
Souza Júnior (2013) considera que a desestru-
turação de ideologias sexistas e a construção de 
novas oportunidades para mulheres em relação à 
participação esportiva poderiam ser mecanismos 
mais efetivos para o aumento da popularidade do 
futebol de mulheres, para a democratização da 
modalidade de fato ainda inconclusa no país e 
para o empoderamento dessas mulheres por meio 
do futebol.
ESPORTES COLETIVOS: FUTSAL E FUTEBOL 
28 
Prezado(a) aluno(a), cabe ressaltar que assumimos a 
perspectiva de tratar o futebol enquanto fenômeno so-
cial maior, que abrange outras práticas esportivas, tais 
como o futsal e o beach soccer, por exemplo. Contudo, 
tendo em vista o importante papel exercido pelo fut-
sal, e em virtude da arquitetura das escolas e centros 
de treinamento compreenderem como equipamentos 
esportivos, via de regra, as quadras e não os campos de 
futebol, abriremos um tópico para dar maior visibili-
dade ao futsal. Uma boa leitura!
A ORIGEM DO FUTSAL 
Conforme comentado anteriormente, o futebol de 
salão foi precursor do futsal. Tal fato, ainda nos dias 
atuais, acarreta em uma confusão entre essas duas 
Do Futebol 
ao Futsal
Figura 5 - Jogo entre Brasil e Argentina nos Jogos Panamericanos de 2007
Fonte: Wikimedia Commons (2014, on-line)6.
distintas modalidades tão comumente entendidas 
como sinônimas. Porém, antes de falarmos sobre 
essa transição e seus desdobramentos históricos, 
faz-se relevante compreender um pouco da repre-
sentatividade e origem de um dos esportes em maior 
ascensão em nosso país.
O futsal tem muita semelhança com o futebol, 
prova disso é que dificilmente alguém que tenha jo-
gado futsal não jogou futebol e vice-versa. Porém, 
é necessário que se faça as devidas distinções entre 
ambas as práticas, tendo em vista que são modali-
dades esportivas com suas respectivas particulari-
dades, o que as torna autônomas uma em relação 
à outra, embora estejam vinculadas a uma mesma 
instituição, a FIFA. 
 29
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
De maneira geral, tanto o futebol quanto o fut-
sal pertencem ao grupo das modalidades espor-
tivas de invasão que, segundo a literatura, pode 
ser definida como o grupo de esportes cujo obje-
tivo consiste em invadir o espaço defendido pelo 
oponente para colocar a bola na meta contrária à 
defendida, ao mesmo tempo em que se defende 
a própria meta (GONZÁLEZ; BRACHT, 2012). 
Entretanto, quando se trata do conjunto de regras 
específicas, essas duas modalidades possuem dife-
renças significativas.
As regras que melhor caracterizam e distinguemo futsal do futebol podem ser representadas confor-
me o Quadro 1.
Quadro 1 - Comparação entre regras do futebol e do futsal
Regras Futebol Futsal
Tempo de jogo Dois tempos de 45 minutos corridos. Dois tempos de 20 minutos cronometra-dos.
Espaço de jogo
Campo gramado, medindo entre 90 e 
120 metros de comprimento por 64 a 75 
metros de largura.
Quadra de cimento, madeira ou material 
sintético, medindo 40 metros de compri-
mento por 20 de largura.
Jogadores
A equipe titular é composta por um 
goleiro e dez jogadores de linha, poden-
do ser realizadas três substituições no 
decorrer da partida, sem o retorno dos 
jogadores substituídos.
A equipe titular é composta por um goleiro 
e quatro jogadores de linha, podendo ser 
feitas substituições ilimitadas, com possi-
bilidade de retorno dos jogadores substi-
tuídos. 
Cobrança de tiros/ 
arremessos laterais Realizados com as mãos. Realizados com os pés.
Punições individuais e 
coletivas por infrações
Apenas individuais, que são punidas com 
cartão amarelo (advertência) e vermelho 
(exclusão).
Além das punições individuais por cartões 
idênticas ao futebol, os jogadores são ex-
cluídos da partida (com direito à substitui-
ção) quando cometem cinco faltas. Quan-
do a equipe comete seis faltas coletivas em 
um período de jogo é punida com cobran-
ça de tiro livre direto sem barreira, de uma 
distância da meta contrária de dez metros.
Impedimento
A jogada ofensiva da equipe será pa-
ralisada sempre que atender a duas 
situações simultaneamente: um jogador 
que ataca estiver mais próximo da linha 
de meta contrária do que seu penúltimo 
defensor e interferir na jogada em curso, 
em beneficie de sua própria equipe.
Não existe a regra do impedimento.
Fonte: os autores.
ESPORTES COLETIVOS: FUTSAL E FUTEBOL 
30 
Vale destacar que, para além das regras, esse esporte 
tem peculiaridades pertinentes, que, acreditamos, 
devem estar contagiando nossa população, princi-
palmente pelo fato de poder ser jogado com poucas 
pessoas e por sua dinâmica de jogo. Necessitando de 
um espaço dimensional menor para ser realizado, 
exige, ao mesmo tempo, que os jogadores tenham 
maior contato com a bola, que intensifiquem o seu 
modo de atuar nas partidas devido à necessidade de 
rapidez em tomadas de decisão. 
O Diagnóstico Nacional do Esporte (Diespor-
te), no ano de 2013, por uma investigação vinculada 
ao Ministério do Esporte, entrevistou 8.902 pessoas 
entre 14 e 75 anos, em todas as regiões do Brasil, 
e trouxe dados que nos possibilitam compreender 
a dimensão e a representatividade do futsal na vida 
de nossa população. Segundo o Diesporte (BRASIL, 
2015), somadas as práticas por gênero, o futsal é 
considerado o 7º esporte mais praticado no Brasil, 
(6º entre os homens e 9º entre as mulheres), sen-
do para 3,3% dos entrevistados o primeiro esporte 
praticado na vida, representando, assim, a 4ª colo-
cada dentre as práticas esportivas indicadas como a 
primeira a ser praticada pelos sujeitos da pesquisa. 
Esses indicadores são demonstrativos da inegável 
crescente que o esporte teve nos últimos anos.
Muito se discute sobre o local de surgimento 
do futsal, existindo duas vertentes explicativas que 
buscam sua paternidade geográfica. A primeira, e 
mais adotada corrente, referencia que a prática ini-
ciou-se no Uruguai, mais precisamente em Monte-
vidéu, no ano de 1930, por jovens rapazes da Asso-
ciação Cristã de Moços (ACM), no contexto de um 
país que acabara de se tornar campeão da primeira 
Copa do Mundo de futebol, realizada no próprio 
Uruguai, em 1930, e seguindo os triunfos da então 
consagrada “celeste olímpica” (em alusão à cor azul 
celeste, do uniforme da equipe) bicampeã Olímpi-
ca – 1924 nos jogos de Paris, na França, e 1928 em 
Amsterdã, na Holanda.
Com o futebol em alta no país e sendo nossos 
vizinhos a referência futebolística da época, surge, 
na ACM uruguaia, a adaptação do futebol para um 
espaço menor, devido à falta de campos na cidade 
e pela possibilidade de ser praticado em condições 
meteorológicas desfavoráveis (BARBIERI, 2009). 
Lembrando muito mais um futebol com adequações 
e jogado em quadra do que propriamente o futsal, 
o jogo da quadra evidencia o forte vínculo com o 
esporte bretão.
A outra corrente, menos referenciada nas tenta-
tivas de interpretação do surgimento do futsal, traz 
que devido ao constante intercâmbio dentro das 
ACMs e seus membros, os brasileiros advindos da 
ACM da cidade de São Paulo levaram de lá o hábito 
de jogar em quadras de basquete (VOSER; GIUSTI, 
2015) e de hóquei, aproveitando as traves utilizadas 
na prática desse esporte.
Para além das controvérsias sobre a gênese do 
futsal, alguns eventos no trajeto histórico se apre-
sentam unânimes para as investigações do contínuo 
temporal da modalidade. Autores, como Fonseca 
(1997), Barbieri (2009), Voser e Giusti (2015), in-
dicam que por volta de 1933, o professor uruguaio 
Juan Carlos Ceriani redigiu algumas regras do hoje 
conhecido futsal, batizando, na época, como Indoor 
foot-ball ou futebol de salão. 
Fundamentado principalmente no futebol en-
quanto essência de jogo, o futebol de salão distin-
guia-se do futebol de campo em determinados as-
pectos, tais como o número de jogadores, o espaço 
e o terreno de jogo e o peso da bola, que era confec-
cionada, por vezes, a partir de enchimento de serra-
gem ou de crina vegetal e pesando cerca de 1 kg, ou 
 31
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
seja, mais de duas vezes o peso de uma bola de futsal 
atual, justificando o título de “esporte da bola pesa-
da” (FONSECA, 1997; COSTA, 2007). 
Inspirando-se em outros esportes com bola, 
Ceriani transferiu as regras do basquetebol, no 
que tange ao tamanho da quadra, ao tempo de 
jogo e às substituições. O handebol inspirou-o no 
que diz respeito à validação dos gols, às dimensões 
das traves e à área do goleiro e, por fim, no polo 
aquático, no tocante às regulamentações das ações 
do goleiro no jogo.
Ainda na década de 30, ocorreu, em Montevi-
déu, um curso organizado pelo Instituto Técnico 
da Federação Sul-Americana das ACMs, contando 
com representantes de toda América do Sul, inclu-
sive o Brasil, na qual foram entregues as cópias das 
regras, permitindo, assim, a difusão da ascendente 
modalidade praticada em pátios, quadras e salões 
de baile, por isso do advento da nomenclatura fu-
tebol de salão. 
Os brasileiros logo se identificaram com a prá-
tica, porém argumentaram, questionaram e propu-
seram alterações no jogo, visando uma maior dinâ-
mica, tomando, por exemplo, o fato de jogarem sete 
pessoas em cada equipe, ideia a qual não agradava 
aos praticantes. Atendendo a essas mudanças, Roger 
Grain, no ano de 1936, formulou e regulamentou a 
prática do futebol de salão no Brasil, registrando-a na 
Revista de Educação Física nº 6 (BARBIERI, 2009).
Outro fato convergente entre os pesquisadores 
que transitam pela história do futsal é que, embo-
ra exista a discussão sobre seu local de surgimento, 
não há como negar que foi no Brasil que o esporte 
se organizou e desenvolveu. Você, agora, deve estar 
se perguntado: mas afinal, o futsal é brasileiro ou 
uruguaio? Lamentamos decepcioná-lo, mas preferi-
mos deixar essa questão em aberto, tendo em vista 
que não existe um consenso, nem mesmo entre os 
historiadores e, neste sentido, qualquer tentativa de 
afirmar de forma categórica a paternidade do fute-
bol de salão não passaria de mera especulação e de 
nada nos acrescentaria em termos da compreensão 
da sociogênese dessa modalidade esportiva.
Na década de 40, o futebol de salão ganhou sig-
nificativa popularidade, tendo nos clubes recreativos 
e nas escolas regulares seus principais propulsores. 
Por uma lógica inerente da modalidade, a adesão e 
expansão do futebol de salão se davam nessas ins-
tituições por razões dimensionais em comparativo 
aos campos de futebol. Nessa lógica, destacam-se 
as possibilidades de realização de jogos em espaços 
menores, bem como pela necessidade de menos in-
tegrantes para compor equipes também em compa-rativo ao futebol.
Ao final da década seguinte, a prática se alastra-
va massivamente pelo Brasil. Nessa direção, havia a 
necessidade de uma maior e mais ampla unificação 
das regras por todo território nacional. Foi quando a 
Confederação Brasileira de Desportos, extinta CBD, 
em 1958, oficializou o Futebol de Salão, abrindo es-
paço para organização de competições em âmbito 
nacional, como o I Campeonato Brasileiro de Sele-
ções, ocorrido em São Paulo (FIGUEIREDO, 1996).
Nos anos 1960, o aumento de público nas com-
petições despertou o interesse de entidades sul-a-
mericanas, que viam no Brasil uma espécie de pro-
tagonismo no campo político (BARBIERI, 2009), 
legitimado pelos vários campeonatos ocorridos e 
em curso, que demonstravam expressivo contin-
gente de adeptos e interessados pela modalidade. 
Assim, ao final dessa década, 1969, surgia a Con-
federação Sul-Americana de Futebol de Salão, pro-
motora no mesmo ano do primeiro campeonato 
Sul-Americano de Clubes.
ESPORTES COLETIVOS: FUTSAL E FUTEBOL 
32 
A década de 70 apresenta dois marcos impor-
tantes no campo institucional do futebol de salão. 
Em 1971, foi criada a Federação Internacional de 
Futebol de Salão (FIFUSA), contando com 32 paí-
ses membros que praticavam o esporte nos moldes 
brasileiros (FERREIRA, 1998). Já em 1979, após a 
extinção da CBD, ocorre a criação da Confederação 
Brasileira de Futebol de Salão (CBFS).
É nos anos 1980, porém, que residem as mais 
consideráveis transformações que incidem na prá-
tica do futsal até os dias atuais. Foi nesse momento 
histórico, mais precisamente em 1989, que após vá-
rias investidas por parte da Fédération Internationale 
de Football Association (FIFA) ao longo da década, a 
FIFUSA aceita unificar o futebol de salão com o já 
praticado “futebol de 5” da própria FIFA, passando 
a chamar-se futsal, o que antes era chamado de fu-
tebol jogado em superfície reduzida segundo a pró-
pria FIFA (SANTANA, 2009).
Esse ponto merece destaque em nossa leitura, 
pois cabe chamar a atenção para o paradoxo ligado 
à questão do futsal ser submisso ao sistema FIFA. 
Nesse sentido, se por um lado o domínio do futsal 
ficou à mercê de uma das federações mais envol-
vidas e investigadas por escândalos de corrupção 
na história do esporte moderno – muito bem des-
critos em livros, como Jogo sujo: o mundo secreto 
da FIFA (JENNINGS, 2011) e Um jogo cada vez 
mais sujo: o padrão FIFA de fazer negócios e manter 
tudo em silêncio (JENNINGS, 2014) –, por outro 
lado é inegável que regendo a modalidade, por seu 
poder de mercado e influência política (SANTA-
NA, 2009), atribui-se à mesma FIFA a difusão do 
esporte que, ao final dos anos 2000, testemunhava 
mais de 130 países afiliados, contando agora com 
grandes e importantes confederações que não eram 
membros da FIFUSA.
Transcendendo a discussão paradoxal, se a FIFA 
foi veneno ou remédio para a modalidade, fato é que 
institucionalmente, em 1989, surge o futsal. Rele-
vante nesse episódio todo é atentarmos que a maior 
diferença entre o futebol de salão e o futsal se encon-
trou no âmbito político, relativo a quem organizava 
e quem hoje organiza as modalidades. Existem sim 
diferenças quanto às regras (peso da bola, punições), 
porém a história nos permite considerar que a tran-
sição do futebol de salão, precursor da “jovem” mo-
dalidade do futsal, emergiu pela necessidade de ade-
quação e internacionalização aguda do esporte em 
escala global, encontrando na Federação que hoje a 
rege (bem ou mal) o agenciador desse processo ao 
longo dos últimos quase 30 anos.
E o que aconteceu com o futebol de salão? A FI-
FUSA, em acordo comum com a FIFA, dissolveu-se 
no ano de 1989. Atualmente, a prática ainda existe, 
conservada em suas regras originais (distintas do 
futsal), tendo, desde 2002, na Associação Mundial 
de Futsal (AMF), a organização que regula a prática 
do futebol de salão em todo mundo.
Desde 1989, ano em que ocorreu a primeira 
Copa do Mundo de Futsal masculina, organiza-
da pela FIFA de quatro em quatro anos, o Brasil é 
considerado potência no esporte, ganhando cinco 
e estando presente nas sete edições dos mundiais. 
Logo em seguida vem a Espanha, com os outros 
dois títulos e sendo a maior vencedora europeia, 
bem como o país onde mais se pratica futsal, atrás, 
novamente, do Brasil.
 33
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
MULHERES NO FUTSAL
Infelizmente, assim como na maioria dos outros es-
portes, também no futsal as mulheres sofreram com 
o preconceito e as imposições de nossa sociedade 
machista. Dessa forma, como destacado no tópico 3 
desta unidade, as figuras masculinas historicamente 
quase sempre são apontadas e tidas como protago-
nistas das transformações e mudanças dos esportes 
ao longo dos tempos. Não diferente, ao tratar da his-
tória do futsal no Brasil, encontramos diversos mar-
cadores da discriminação e da omissão que afetaram 
a prática por parte das mulheres.
Segundo Santana e Reis (2003), até o ano de 
1983, as meninas eram proibidas de jogar futebol 
de salão, sendo legalizada somente 47 anos depois 
dos homens. A proibição de quase meio século não 
extinguiu o gosto, tampouco a competência das mu-
lheres ao praticar a modalidade. Isso pode ser in-
dicado pelo expansivo número de competições, tí-
tulos (BARBIERI, 2009) e pelo jovem público que 
aderiu ao jogo como prática esportiva. Embora seja 
uma história recente de pouco mais de 30 anos, o 
futsal feminino vem se expandindo, entre outros fa-
tores, pela organização e criação de competições, o 
que contribui para um melhor desempenho técnico 
e tático das participantes, bem como auxiliando na 
visibilidade do esporte em âmbito nacional e legiti-
mando a prática enquanto direito das mulheres.
Desde 1992, data em que ocorreu a 1ª edição 
da Taça Brasil organizada pela CBFS, a promoção 
dos eventos de futsal feminino vem aumentando e 
atraindo adeptas gradativamente. Exemplo disso 
está no contínuo da principal competição nacional, 
a Liga de Futsal Feminina, que ocorre desde o ano de 
2005, organizado pela mesma CBFS. Outro fator re-
levante na história do futsal feminino são os títulos 
O programa olímpico, segundo o Comitê Olím-
pico Internacional (COI), contempla um máxi-
mo de 28 esportes, em uma lógica segundo a 
qual para a inclusão de uma nova modalidade 
torna-se necessária a exclusão de alguma do 
programa. Nesse sentido, o futsal vem sen-
do utilizado como moeda de troca pelo COI 
para fazer barganha nas Olimpíadas. O fato 
é que o COI entende o poder de mercado do 
futebol e considera a valorização que esse 
esporte agrega em prestígio e receita em um 
evento como os Jogos Olímpicos. A FIFA, por 
sua vez, em tramitações políticas junto ao 
COI, acordou um limite em formato de regra 
para liberar apenas três jogadores acima de 
23 anos de idade para cada seleção nos Jogos. 
O que isso representa? Se a FIFA autorizasse 
todos os jogadores, teríamos uma Copa do 
Mundo a cada dois anos a grosso modo. O 
que não ocorre porque ela, FIFA, não quer 
em hipótese alguma que a Olimpíada roube 
o brilho da Copa do Mundo.
Fonte: Barbieri (2009)
SAIBA MAIS
Atualmente, pelas projeções e pelos estudos existe 
uma tendência de maior expansão do futsal, devido 
à criação de clubes e ao aumento da transmissão de 
jogos no Brasil e no mundo. Tal expectativa é refle-
xo dos últimos 30 anos, em que o mais jovem e 7º 
colocado dentre os 10 esportes mais praticados em 
nosso país. Segundo o Diesporte (BRASIL, 2015), 
cada vez mais agrega adeptos, gerando um mutua-
lismo ao encontrar, no Brasil, uma espécie de berço, 
identificando-se historicamente quanto esporte, e o 
brasileiro encontrando no futsal uma modalidade 
esportiva na qual se identifica e se reconhece. 
ESPORTES COLETIVOS: FUTSAL E FUTEBOL 
34 
que nossa seleção possui. Embora sem o reconhe-
cimento oficial da FIFA, a seleção feminina de fut-
sal é hexacampeã do designado “Torneio Mundial 
de Futsal Feminino”, postulando-se a maior e única 
vencedora das seis edições do torneio, que é análogo 
à Copado Mundo de Futsal Masculino, obtendo um 
título a mais do que a consagrada e mais conhecida 
seleção masculina de futsal, a brasileira.
Ainda que se tenha obtido avanços desde a re-
vogação da proibição de sua prática pelas mulheres, 
em 1983, a jovem modalidade sofre preconceitos 
semelhantes aos do futebol feminino, confrontan-
do rotineiramente com a falta de investimentos e de 
políticas públicas que assegurem de modo digno o 
direito à prática desse esporte que, embora minado 
pela discriminação e invisibilidade social, mostra-se 
promissor pela crescente aderência de jovens prati-
cantes (SANTANA; REIS, 2003), o que pode ser re-
presentado como a renovação, manutenção e adesão 
do futsal feminino por parte das mulheres.
 35
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
ESPORTES COLETIVOS: FUTSAL E FUTEBOL 
36 
Prezado(a) aluno(a), estamos chegando ao final de 
nossa primeira Unidade. Esperamos realmente que, 
até esse momento, o mesmo prazer que temos em 
apresentar e compartilhar com você alguns saberes 
pertinentes ao futebol, você o tenha ao poder signi-
ficar e incorporar tais conhecimentos para seu pro-
cesso formativo. Em outras palavras, esperamos que 
chegar até aqui conosco “tenha valido o ingresso”, 
dito popular que remete à satisfação após o fim de 
um bom espetáculo. Mas ainda não acabamos!
Nos acréscimos desta unidade, você irá notar 
que este tópico se apresenta um pouco diferente 
Reinventando a
História do 
Futebol
Figura 6 - Ilustração “Futebol na Pré-História: a origem do futebol” (Andrea Gatti, 1998)
Fonte: Ludopedio ([2017], on-line)7.
dos anteriores. As sugestões deste tópico passam 
por indicar encaminhamentos didáticos no trato 
da história do futebol e do futsal. As orientações 
que aqui se seguem não pretendem “engessar” sua 
prática como futuro docente, mas sim intenciona-
mos que você reflita sobre as estratégias e as otimi-
ze dentro de seus contextos.
Como em qualquer grande jogo, os últimos mi-
nutos sempre podem nos guardar as maiores emo-
ções e surpresas. Que tal, juntos, comemorarmos 
nossa participação e empenho nesse primeiro 1/5 de 
campo já percorrido?
 37
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
PRELEÇÃO
A curiosidade pelo saber deve sim partir do aluno, 
mas isso não isenta a responsabilidade do professor 
ou treinador em despertá-la. Sugerimos que você, em 
sua futura prática docente, desafie seus alunos com 
indagações, pois é a partir de desafios que instigamos 
a superação, a criatividade, o pensamento crítico e as 
conexões dos saberes de nossos interlocutores.
No contexto tratado até o momento, em espe-
cial referente à história do futebol, algumas boas 
questões podem ser disparadoras para diálogos en-
riquecedores nas aulas: “Como vocês acham que o 
futebol surgiu? Alguém o inventou ou ele sempre 
existiu? Porque alguém inventou a lâmpada, mas 
a luz sempre existiu, certo?” (SOUZA JUNIOR, 
2007). Após tais indagações, é pertinente que se 
explique aos alunos e às alunas, que o tema desta(s) 
aula(s) diz respeito justamente à origem do futebol, 
e que a partir dela tentaremos entender melhor de 
onde surgiu esta ideia de se fazer um jogo no qual 
se chuta bola com os pés.
Com este intuito, passamos, a partir deste mo-
mento, a descrever algumas estratégias de ensino 
que contribuem para tornar mais atraente a apren-
dizagem de conhecimentos relacionados à história 
do futebol e aos temas afins. Pedimos licença para 
conversar com você aluno(a), colocando-o(a) na 
perspectiva de professor(a), para que já se acostu-
me com a tarefa de assumir as rédeas do processo de 
ensino e aprendizagem que se tornará, em breve, a 
tônica de sua vida profissional. 
A apresentação seguirá o desenho de uma uni-
dade didática – um conjunto de aulas que se orien-
ta por um eixo temático comum – focada no ensino 
da história do futebol. A unidade não será apresen-
tada em formato de planos de aula, mas sim de um 
conjunto de momentos seguindo uma ordem cro-
nológica de acontecimentos, que poderá ser trans-
formada em um conjunto de aulas por você alu-
no(a)-professor(a).
VIVÊNCIA 1 – FUTEBOL PRÉ-HISTÓRICO
Uma possibilidade de vivência no contexto originá-
rio do futebol passa pela organização junto e com 
sua turma na escola, de um jogo com regras arcai-
cas, lembrando a pré-história do futebol (SOUZA 
JUNIOR, 2011). Essa vivência pode ser iniciada por 
uma roda de conversa com a turma, na qual seja 
apresentada a proposta de se recriar o processo de 
desenvolvimento do futebol, que surge a partir de 
um jogo rudimentar que se regulamentou por de-
mandas diversas. 
A partir desta problematização, o desafio é 
que os alunos proponham um jogo de bola que 
lembre vagamente o futebol, mas possua o míni-
mo possível de regramento. Caso a turma tenha 
dificuldade em pensar a desconstrução do futebol 
como eles(as) bem o conhecem, faça você mes-
mo uma primeira alteração na estrutura do jogo. 
Diga que somente será permitido a utilização das 
linhas de fundo e não das laterais, ignore as traves 
e faça com que somente ultrapassando a linha de 
fundo com a bola em domínio e sendo conduzida 
se valide o gol etc.
Algo que facilita tal atividade deve-se pelo fato 
de requerer a participação de muitas pessoas para 
que configure uma desordem em relação ao co-
nhecido número de jogadores de futebol ou futsal. 
Como sugestão, elabore junto e com seus futuros 
alunos(as) três ou quatro equipes, para que joguem 
ESPORTES COLETIVOS: FUTSAL E FUTEBOL 
38 
simultaneamente. Também não defina a questão da 
contagem de pontos e, além disso, as equipes não te-
rão goleiros, podendo a bola ser conduzida com os 
pés e com as mãos.
Após alguns minutos, o jogo deve ser inter-
rompido para que seja feita uma roda de conversa 
na qual os(as) alunos(as) e alunas definam algumas 
regras, que, na opinião deles, poderão facilitar a or-
ganização da partida. Após a definição das regras, o 
jogo é reiniciado (SOUZA JUNIOR, 2007).
Depois de um tempo pedagógico suficiente 
para o desenvolvimento desse jogo, é importan-
te que ele tenha desdobramentos. Para isso, po-
demos perguntar à turma sobre quais elementos 
diferenciam o esporte do jogo, bem como enca-
minhar um diálogo, salientando a importância da 
formatação de acordos em moldes de regras. Tais 
discussões devem ser encaminhadas no sentido de 
favorecer a percepção de alunos e alunas em re-
lação ao esporte, diferentemente do jogo possuir 
regras universais.
Você pode estar se perguntando, “mas qual a 
relação dessa vivência com o ensinar futebol?”. 
Vamos explicar. Quando pensamos nas ações do-
centes, sua intervenção, seu desdobramento e seus 
encaminhamentos, pensamos ser fundamental es-
tarmos conscientes do “por quê?” e “para quê?” 
desse ou daquele conhecimento ser ensinado. Pode 
parecer que estamos operando com um simples 
jogo de palavras, mas quando queremos saber o por 
quê de algo, estamos preocupados com os motivos 
e, quando nossa preocupação é com o para que, nos 
voltamos para as finalidades. Nesse sentido, as duas 
perguntas anteriores podem servir como referên-
cias na hora de pensarmos a prática.
Por que motivo jogar um jogo que não é o fute-
bol que conhecemos hoje em dia? Por que motivo 
modificar os acordos em moldes de regras, se ainda 
assim não será jogado o dito “verdadeiro” futebol 
jogado atualmente? A resposta não é tão complexa. 
Ao se vivenciar jogos “pré-futebol”, têm-se con-
tato com um tipo de prática corporal, talvez inédita 
na vida de muitas pessoas. Rica em valor simbóli-
co, permitirá aos alunos experienciar uma constru-
ção histórica da humanidade, remetendo-os a um 
passado nem tão longínquo e que pode muito bem 
auxiliar na reflexão em como chegamos ao esporte 
futebol tal como o conhecemos hoje. 
Quando pensamos um “jogo”, ele pode ter re-
gras diferentes, passíveis de mudanças, e ainda as-
sim pode ocorrer de um mesmo jogo ser conhecido 
por diferentes nomes, de acordo com a região em 
que está inserido. Exemplo disso é o jogo no qual 
duas equipes se enfrentam arremessando uma bola 
nos integrantes da

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