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SUMÁRIO NOTA DA AUTORA PRÓLOGO CAPÍTULO 01 CAPÍTULO 02 CAPÍTULO 03 CAPÍTULO 04 CAPÍTULO 05 CAPÍTULO 06 CAPÍTULO 07 CAPÍTULO 08 CAPÍTULO 09 CAPÍTULO 10 CAPÍTULO 11 CAPÍTULO 12 CAPÍTULO 13 CAPÍTULO 14 CAPÍTULO 15 CAPÍTULO 16 CAPÍTULO 17 CAPÍTULO 18 CAPÍTULO 19 CAPÍTULO 20 CAPÍTULO 21 CAPÍTULO 22 CAPÍTULO 23 CAPÍTULO 24 CAPÍTULO 25 CAPÍTULO 26 CAPÍTULO 27 CAPÍTULO 28 CAPÍTULO 29 CAPÍTULO 30 CAPÍTULO 31 CAPÍTULO 32 CAPÍTULO 33 CAPÍTULO 34 CAPÍTULO 35 CAPÍTULO 36 CAPÍTULO 37 CAPÍTULO 38 CAPÍTULO 39 CAPÍTULO 40 CAPÍTULO 41 CAPÍTULO 42 CAPÍTULO 43 CAPÍTULO 44 CAPÍTULO 45 CAPÍTULO 46 CAPÍTULO 47 CAPÍTULO 48 CAPÍTULO 49 CAPÍTULO 50 CAPÍTULO 51 CAPÍTULO 52 CAPÍTULO 53 CAPÍTULO 54 CAPÍTULO 55 CAPÍTULO 56 CAPÍTULO 57 CAPÍTULO 58 CAPÍTULO 59 CAPÍTULO 60 CAPÍTULO 61 CAPÍTULO 62 CAPÍTULO 63 CAPÍTULO 64 CAPÍTULO 65 CAPÍTULO 66 EPÍLOGO OUTRAS OBRAS DA AUTORA CONTATOS DA AUTORA SINOPSE Maly Albuja está prometida em casamento ao poderoso sheik do Qsaar. Ao longo dos anos, sua admiração e amor se aprofundaram, ao passo que ele tinha verdadeiro desprezo pelo compromisso firmado por seu pai. Faruk Yussef é conhecido pela beleza e ostentação, e seu título de sheik apenas o torna ainda mais cobiçado pelas mulheres de todo o mundo. Diante disso, ele vive como se Maly não existisse. A última lembrança que tem de sua noiva, é a de uma garota magricela e sem graça, o que o deixa ainda mais relutante em manter qualquer contato com ela. O que Faruk não sabe é que Maly cresceu e se tornou uma mulher linda e determinada, que está disposta a tudo para que o casamento que sempre desejou se torne realidade. Um homem decidido a seguir seu próprio destino. Uma mulher disposta a tudo para fazê-lo se apaixonar. Será que após conhecê-la, este lindo sheik dará uma chance aos dois? Eu te convido a embarcar em mais um delicioso romance. NOTA DA AUTORA Queridas luzinhas, Como muitas de vocês sabem, este livro é derivado do conto O Sheik dos meus sonhos, lançado em 2018. Naquela época, eu já sabia do que o livro trataria, quando o escrevesse, pois queria aprofundar um pouco o que havia acontecido com a Milena em A grande virada. Bom, embora o conto tenha sido diluído entre os primeiros capítulos, quem já leu vai conseguir distingui-lo facilmente. Em contrapartida, algumas mudanças foram feitas, motivo pelo qual peço que não pulem páginas ou vão perder diversos detalhes que foram incluídos no início da história. Entre estas mudanças está o emirado governado por Faruk. Depois de pensar bastante, resolvi criar um lugar do zero, para não haver conflitos entre as leis existentes na maior parte dos países árabes e o enredo que pensei para o livro. Para ficar mais fácil, vou citar algumas peculiaridades para que não fiquem dúvidas durante a leitura. O Qsaar é um país laico, onde as pessoas são livres para terem suas crenças e/ou religiões sem nenhuma perseguição. Por não ser regido pelo islamismo, bebidas alcoólicas são liberadas. As mulheres se vestem com quiserem, embora o decoro ainda seja exigido. Elas também têm muitos direitos que, ainda hoje, são proibidos em alguns países, como fazer faculdade, beber, dirigir, trabalhar e morar sozinhas. Casamentos arranjados ainda existem, mas tanto homens quanto mulheres têm o direito de dizer não, caso o arranjo não seja de sua vontade. Acho que estes são os principais pontos onde pode haver divergência com o que realmente acontece, mas vários outros serão abordados no decorrer da leitura. É isso. Mas antes de me despedir, gostaria de agradecer a todas as leitoras que pedem por este livro desde que leram o conto, quatro anos atrás. Demorou, mas chegou. Foram meses de dedicação, madrugadas em claro e acréscimos de última hora, porque esse casal tinha muito para falar. Mas o que importa é que Faruk está prontinho para ser devorado por vocês. Espero de coração que gostem da história e peço que, por favor, deixem uma avaliação ao final, vocês sabem o quanto isso é essencial para que outras pessoas conheçam o meu trabalho, além de ser importante para que eu saiba a opinião de vocês e, assim, poder entregar o que seja de seu agrado. Sem mais delongas, pois o livro ficou grande, espero que se divirtam. Boa leitura. MAPA DO QSAAR De onde eu estava, conseguia escutar as vozes que vinham da sala. O tom confidencial e sério apenas confirmava minhas suspeitas de que papai estava tratando do arranjo que fizera com Omar bin Hassan al Yussef para me casar com seu filho, o príncipe do Qsaar. Eu tinha sete anos, mas sabia como as coisas funcionavam no Oriente Médio e da minha obrigação como filha de uma família proeminente. Papai era o melhor amigo do sultão, que também era uma espécie de padrinho para mim e meu irmão, motivo pelo qual eles enxergavam esse casamento como uma forma de unir nossas famílias. — Seu futuro noivo não parece muito feliz com esse arranjo — meu irmão apontou, logo atrás de mim. Samir era três anos mais velho que eu e, como todo garoto, um provocador, mas também bastante companheiro e, na maior parte do tempo, nós nos dávamos muito bem. — Ele está de costas, não consigo ver seu rosto — falei, esgueirando- me por trás das cortinas para tentar enxergá-lo. A verdade era que havia uma curiosidade infantil de saber quem era, nada além disso. — Você logo será chamada e ficará frente a frente com ele. Engoli o nervosismo e continuei observando os adultos. Mesmo nossas famílias sendo amigas, as poucas visitas do sultão eram sempre direcionadas ao meu pai e dificilmente nos encontrávamos, uma vez que eles sempre estavam tratando de negócios e as mulheres eram proibidas de participar. Suas aparições eram raras e cheias de pompa, a rua toda era trancada e inspecionada antes que ele chegasse. Por todo esse transtorno, usualmente era papai quem ia até o palácio; no entanto, o sultão gostava muito dos doces de minha mãe e aparecia algumas vezes durante o ano. Nunca dei muita atenção a essas visitas, pois sempre me encontrava ocupada estudando ou brincando, mas comecei a ficar em alerta quando o escutei falando que estava na hora de arranjar um bom casamento para mim. Minha perspectiva de um bom casamento se resumia ao que meus pais tinham, sempre me baseei no comportamento das pessoas que me deram a vida. — Filha, deixe-me ver como você está — mamãe pediu, nos pegando de surpresa. Ela olhou para meu caftan cor-de-rosa, ajeitou-o desnecessariamente e depois me deu um beijo na testa. — Você está linda, seu futuro marido tem muita sorte — disse, orgulhosa, e me pegou pela mão. Aquilo não fez muito sentido para mim, aos sete anos eu só pensava em uma forma de meus pais me levarem a nossa loja, para que eu pudesse brincar entre as fileiras intermináveis de rolos de tecidos coloridos. Enquanto caminhava pela casa, olhei para uma cortina que dançava suavemente e meus olhos se fixaram em um ponto perto de um rodapé onde havia um desenho feito com lápis cor-de-rosa; era quase imperceptível, mas... Deveria ter escolhido outra cor, óbvio que eu seria acusada, pois Samir jamais desenharia nas paredes, primeiro porque odiava desenhar e depois porque não usaria cor-de-rosa. Quando mamãe descobrisse, eu estaria encrencada. — Aí está ela! — exclamou papai, animado. O sultão sorriu para mim e acenou com a cabeça. — Faruk, esta é a nossa Maly — disse mamãe e apenas nesta hora ele se virou para me encarar. Faruk bin Omar al Yussef era moreno, com bastos cabelos escuros e, de meus 1,30m de altura, ele parecia um gigante. Os olhos negros como a noite, emoldurados por grossas sobrancelhas, lhe davam um ar sério, quase perverso. E enquanto todos na sala me olharam e sorriram como se eu fosse algum tipo de joia rara, Faruk não demonstrou qualquer sentimento ao me encarar. Bom, talvez estivesse apenas irritado por estar sendo forçado a ficar noivo de uma pirralha. Fosse o que fosse, sua expressão fechada e arredia me deixou nervosa. Naquele momento, eu não poderia imaginar que aquilo era um sinal. Um mau sinal. Permaneci em silêncio e, após algumaspalavras ditas, confirmando o compromisso entre os dois chefes de família, Faruk e eu fomos, oficialmente, declarados noivos. DIAS ATUAIS... Do alto da torre mais imponente de Bari, eu admirava a suntuosidade das construções que se perdiam de vista. A capital do Qsaar era linda e poderia ser facilmente confundida com Dubai, tanto em engenharia quanto em ostentação. Os prédios eram modernos; as ruas, repletas de lojas cheias de clientes que iam de nativos a turistas. Tudo funcionava e prosperava do jeito que meu pai sonhou, mesmo antes de se tornar o sultão de nosso país. Omar Yussef era conhecido por sua diplomacia, pois, desde os anos 1980, Qsaar não se envolvia em nenhum conflito, nossas fronteiras foram definidas em tratados e tínhamos, de certa forma, a admiração de várias organizações. No entanto, o bom relacionamento que meu pai construiu ao longo dos anos com Irã, Iraque, Israel e Estados Unidos nos beneficiou bastante, meu povo estava acostumado a viver com a tecnologia do ocidente. Acreditava que muito disso se devesse ao fato de não entrarmos em embates religiosos. Quando meu bisavô instituiu um Estado laico, que aceitava que sua população professasse qualquer religião, houve uma grande comoção, mas o fato de sua esposa, que era cristã, ser adorada por todos, acabou diminuindo as animosidades e, com o passar do tempo, todos viram que a convivência entre pessoas de credos diferentes poderia ser totalmente harmoniosa. Especialmente porque nunca tiveram do que reclamar no que se referia aos seus governantes. Todos os sultões regeram de maneira justa, mas com força suficiente para não deixar que seu país fosse dominado por regras que ferissem os direitos de seus habitantes; por esse motivo, Qsaar estava se tornando uma referência em economia e turismo, atraindo pessoas e investimentos que estavam deixando nosso país cada vez mais rico, o que agradava a todos. Indiretamente, eu me sentia parte daquilo. Embora vivesse mais fora dali, fazendo meus próprios negócios, tinha orgulho de ter trilhado os passos do meu pai; ele me ensinou todos os valores que um governante deveria ter e eu os usava em meus negócios. Por ser filho único e, consequentemente, o herdeiro do trono de Qsaar, fui educado para assumir grandes responsabilidades, fiz os ensinos médio e superior no ocidente, tanto para que tivesse uma educação de altíssima qualidade quanto para aperfeiçoar o inglês que me era ensinado desde a infância. Mas isso acabou se tornando um problema. Apesar de nunca ter esquecido os costumes do meu país, o fato de conviver com pessoas que pensavam de maneira tão diferente de nós, me deu outras perspectivas. E por mais que ainda respeitasse meus pais, chegou um momento em que me senti dividido. Eu amava o Qsaar, mas também amava viajar, por isso passava grande parte da minha vida dentro de um jato que me levava a diversos lugares, o que me proporcionava grandes negócios e, também, o prazer de conhecer as mais belas mulheres. O título de Príncipe ou Sheik do Qsaar me garantia prestígio, fama e dinheiro, coisas que facilitavam bastante minha interação com mulheres que, em sua maioria, se deixavam seduzir pelo glamour que me cercava. Era justamente por causa de uma mulher, que conheci em uma dessas viagens, que me sentia inquieto nos últimos dias. Nunca imaginei que aquela minha ida a Chicago pudesse me deixar tão encantado. Milena Soares era incrivelmente linda, sexy e difícil. Nós já tínhamos nos encontrado algumas vezes e a mulher não permitia mais que alguns beijos. Era compreensível, uma vez que ela acabara de sair de um relacionamento e não se sentia pronta para entrar em outro. Eu, no entanto, estava acostumado a ter tudo e o fato de não poder tocá-la do jeito que desejava estava me deixando louco. Teria ficado mais tempo por lá, tentando seduzi-la de outras formas, mas o assessor de meu pai me ligou dizendo que ele havia passado mal e eu tive que voltar às pressas para Qsaar, já que, segundo me disse, o sultão queria falar comigo. Verifiquei as horas e decidi sair do escritório mais cedo e ir para o palácio, uma vez que não consegui conversar com Omar logo que cheguei, pois ele tinha ido fazer exames. Assim que apareci à porta, um de meus seguranças avisou aos outros que eu estava descendo e apertou o botão de chamada do elevador privado que me deixaria na garagem. A viagem foi curta e em poucos minutos eu me encontrava na antessala da suíte principal, aguardando que a enfermeira terminasse de administrar os remédios de meu pai para que eu pudesse entrar. Mesmo com sua teimosia em afirmar que estava bem, havia contratado uma equipe para ficar de prontidão a fim de atendê-lo em qualquer emergência. Enquanto esperava, fiquei imaginando que ele aproveitaria seu estado para tocar no assunto que mais me enervava e que se tornara o principal motivo de nossas brigas: meu casamento. E não um casamento qualquer. Para piorar, eu estava prometido à filha de um amigo dele, situação que aceitei aos dezessete anos por respeito ao meu pai, mas que me causava grande desgosto. Maly Albuja era dez anos mais nova do que eu, o que significava que tinha sete anos quando ficamos noivos. Isso, por si só, já me causava ojeriza e tornava a ideia de me casar por meio de um acordo ainda mais insuportável. Desde então, quinze anos se passaram e fora o dia do fatídico noivado, a única vez em que a vi foi no aniversário de 60 anos do meu pai, quando ela era uma pré-adolescente magricela e totalmente sem graça. Mesmo ciente do compromisso, nunca tive curiosidade de visitá-la, olhar fotos suas ou mesmo saber algo a seu respeito. Sentia raiva sempre que me lembrava que seria obrigado a dividir a vida com uma mulher que mal conhecia e guardava em meu âmago a esperança de que meu pai me liberasse dessa loucura, para que eu pudesse fazer minhas próprias escolhas. — Pode entrar, senhor — avisou a enfermeira deixando a porta aberta para mim. Do assento de uma cadeira, o sultão observava sua cidade através de uma das janelas existentes no luxuoso quarto, mas, ao sentir minha presença, virou-se e focou toda a sua atenção em mim. — Faruk — disse com a voz um pouco rouca. Meu pai já estava com a idade avançada e inúmeros cabelos brancos, mesmo assim emanava um olhar que impunha respeito e admiração de todos, inclusive de mim. Em todo o Oriente Médio, ele era muito respeitado por tudo que fez em Qsaar e, principalmente, por sua diplomacia e talento para lidar com conflitos, antes mesmo de eles se consolidarem. Aquelas terras estavam sempre à mercê de ameaças vindas de terroristas ou rebeldes e, por influência dele, desde muito novo fui tomando ciência de tudo, já que, para governar, precisava saber onde estava pisando. — Sente-se melhor? — Eu estou ótimo, esses médicos não sabem de nada. Dei um leve sorriso, nunca conheci um velho tão teimoso. — Queria falar comigo? — perguntei como se não soubesse do que se tratava. Ele assentiu e respirei fundo para aguentar aquela conversa, pois sabia que não seria agradável. — Estou ouvindo — insisti. — Quero saber quando pretende encontrar sua noiva para marcar a data do casamento. Analisei sua figura. Ele parecia cansado, porém, os olhos tinham a determinação de sempre. — Nós já conversamos sobre isso. Ele respirou profundamente, mostrando o quanto estava exausto das minhas esquivas. — Eu sei da sua profunda aversão a casamentos arranjados, mas essa é a cultura do nosso país. A verdade era que muitas famílias já não se baseavam nesse costume e tanto as mulheres quanto os homens, podiam aceitar ou não os casamentos propostos por seus pais, mas como fazíamos parte da mais alta casta, era normal que ele quisesse manter este e vários outros costumes vivos pelo máximo de tempo possível. — Isso não quer dizer que eu concorde. — Não preciso que você concorde. Tudo o que preciso é que marque a maldita data! Continuei em silêncio, sabia que ele não pararia por aí. — Você jamais deu uma chance ao casamento, nunca quis, sequer, conhecer sua noiva. Sim,porque Maly Albuja significava tudo que eu mais odiava. — Não vi razão para isso, se a visitasse, iria apenas iludir a família. Ele estreitou os olhos. — Eu sei o que está fazendo, Faruk. Você achou que, após todos esses anos, me venceria pelo cansaço, mas isso não vai acontecer. Dei a minha palavra e ela vale mais do que qualquer papel assinado. Cerrei os dentes, ciente de que estava certo. — E sei também que, por mais que relute, sua honra sempre falará mais alto — continuou. — Eu conheço o filho que criei e tenho certeza de que, mesmo se eu morresse hoje, você cumpriria esse e todos os compromissos que firmei. Como assim, esse e todos os compromissos? Que outros compromissos? — Do que está falando? — Quando assumir o meu lugar, terá que arcar com todas as pautas em andamento — disse e me lançou um olhar enigmático. — Espero que tenha ombros fortes como os meus, pois carregar o peso de um país nas costas não é para qualquer um. Afastei-me da cama e fui até a porta que dava acesso à sacada. Por mais que tentasse me manter a par de todos os compromissos de meu pai, sabia que muita coisa só seria confiada a mim, quando finalmente assumisse seu posto, no entanto, aquilo me deixou pensativo. — Sei que se diverte com as mulheres do ocidente e não vejo mal algum nisso, contanto que não se esqueça de quem deve ser sua primeira esposa — acrescentou em tom sério. — Não pretendo ter outras esposas. Mas não tinha certeza absoluta daquilo. Eu não conhecia minha futura esposa, de forma que não sabia se conseguiria permanecer fiel a esse princípio e isso me deixava ainda mais irado. — Como disse, contanto que a primeira seja Maly Albuja, como acordei com o pai dela, o que fará depois poderá ser conversado adiante. Após um suspiro resignado, voltei-me para meu pai. — Vou fazer o que está mandando — afirmei, amargurado. — Mas não imediatamente. Tenho algumas viagens de negócios nos próximos meses. Quanto mais tempo eu colocasse até esse encontro, mais chances eu tinha de pensar em alguma coisa para fazê-lo mudar de ideia. — Ótimo, vou avisar a eles, então. — É melhor não. Deixe para marcar qualquer coisa quando eu tiver resolvido tudo. Isso vai evitar que eles criem expectativas quanto a minha volta. — Onde serão seus compromissos? — Chicago, Nova York, Alemanha e Dubai — falei a verdade com a esperança de que ele desistisse de fazer esse encontro. — Muito bem. Quando chegar a Dubai me avise para que eu possa marcar a visita que fará à sua noiva. Respirei fundo, segurando-me para não extravasar a fúria que sentia, mas ele completou: — Isso não é um pedido, Faruk. Lancei um olhar gélido a ele. — Sim, senhor, vou pedir a Rahim que coloque esse compromisso em minha agenda. Papai assentiu, indicando que a conversa estava encerrada, e confirmando que, quando retornasse a Qsaar, teria que me encontrar com ela. Inferno! Saí cuspindo fogo, odiava ser contrariado e meu pai era a única pessoa que podia fazê-lo sem sofrer uma retaliação. — Senhor — meu secretário chamou quando virei o corredor, mas eu estava furioso demais para conversar. — Mande Safira para a sauna, Rahim, depois conversamos — exigi, referindo-me à concubina que vivia na Golden Tower e que ficava a minha disposição sempre que eu estava ali. Esperava que algumas horas de sexo ajudassem a melhorar meu humor. Por toda a minha vida, eu fui moldada e educada para ser a esposa perfeita do sheik Faruk Yussef. Desde o nosso noivado, quando eu tinha sete anos, se tornou automático para mim esperar pelo dia em que me tornaria sua esposa. Contudo, apenas quando estava com treze anos e o vi pela segunda vez, foi que comecei a fantasiar, de verdade, com o dia em que ele seria meu. Meus pais sempre foram muito amigos da família real, e foi por causa dessa amizade que surgiu a ideia de fazer um casamento entre seus filhos. Casamentos arranjados eram completamente antiquados e um verdadeiro tormento para mulheres cujos pais ainda viviam sob as leis arcaicas da maioria dos países árabes. Mas não para mim. Eu ansiava por esse dia, mais do que qualquer coisa na vida, e isso não se devia apenas ao fato de ser obediente, mas principalmente por causa do meu noivo. Faruk era o homem mais bonito e refinado que eu conhecia e não conseguia me imaginar casando com outra pessoa. Dormia e acordava pensando em como seria quando ele visse a mulher que me tornei. Claro que a distância que ele impunha entre nós era um grande sinal – um mau sinal. Faruk jamais demonstrou interesse em me ver e, segundo boatos, tinha pavor de casamentos arranjados. Porém, a promessa era de conhecimento geral e eu me apegava a ela para não entrar em desespero. Acreditava que ele não desonraria os pais quebrando o acordo. Mas a que custo? Minha família sempre foi muito tradicional e não dava ouvidos aos comentários que se espalhavam pela alta sociedade de nosso país. Meu pai estava financeiramente mal e se mantinha cego e surdo aos rumores de que Faruk tinha muitas mulheres pelo mundo. Eu, entretanto, sofria, porque não via nele uma forma de manter o padrão de vida que sempre tive, mas, sim, o grande amor de minha vida. Quão absurdo era amar um homem que eu só conhecia por fotos de revistas e recortes de jornais do ocidente? Talvez porque minha mente tenha sido moldada para não ver ou dar atenção a qualquer homem que não fosse ele. — Pensando no seu sheik traidor de novo? — Samir provocou. Meu irmão era um pouco mais velho e viajado do que eu, e sempre me atualizava sobre as coisas que descobria a respeito de Faruk. Diferente dos meus pais, ele tentava me manter de olhos abertos para tudo que acontecia na vida do meu noivo. — Abigail me mandou mais um e-mail com fotos do Faruk. Parece que ele está saindo com uma americana — confidenciei. Conheci Abby durante o intercâmbio que fiz nos Estados Unidos, desde então, nunca deixamos de manter contato. Era ela quem me deixava informada sobre os passos do meu noivo em solo americano. — Se você não gostasse tanto desse libertino, eu daria um jeito de convencer papai a romper esse acordo — disse, frustrado. Samir não suportava o descaso de Faruk com relação a mim. Ele já tinha cancelado diversos encontros com minha família, o que meu irmão considerava um total desrespeito. As desculpas dadas pelos assessores do sheik, eram que, devido a saúde debilitada do sultão, ele tinha assumido as responsabilidades relacionadas ao país e que, na hora certa, iríamos nos encontrar para tratar do casamento. Sabia que meu noivo estava me evitando, e ainda que isso doesse, eu conservava a esperança de que, quando nos conhecêssemos melhor, ele me daria uma chance. Durante algum tempo, até tentei me enganar com a ideia de que, em alguma das minhas viagens, eu pudesse me apaixonar por alguém do ocidente. Um homem que me amasse sem todo o esforço emocional que eu precisava fazer para ser aceita por Faruk, mas todos esses pensamentos caíam por terra quando a comparação entrava em jogo. Tudo nessa vida era perfeito até você poder comparar com algo melhor; foi de tanto compará-lo a outros homens, que me convenci de que não havia chance de eu me apaixonar por alguém que não tivesse seu porte, sua beleza ou toda mágica que criei entre nós. Lá no fundo, eu esperava que, quando me visse, ele se apaixonasse, como havia acontecido comigo. Eu sabia que era uma fantasia de menina, mas era o que desejava, por mais improvável que fosse, afinal, Faruk já estivera com algumas das mulheres mais lindas do mundo. E ainda que eu fosse bonita, não era nenhuma modelo. Suspirei, angustiada com o rumo dos meus pensamentos e resolvi mudar de assunto. — Como estão as coisas com Paige? Samir fez uma careta e se encostou na janela do meu quarto. — Tudo na mesma, nos encontramos quando viajo, mas ela sabe que estou comprometido. Meu irmão conheceu Paige Gilbert, uma amiga de Abigail, em uma de nossas viagens e, desde então, eles se encontravam com regularidade. Ela e Samir eram completamente apaixonados, mas eu sabia que ele jamais trairia a promessaque fez ao meu pai. Paige vinha de uma família rica e tradicional que também tinha seus planos para ela, no entanto, por serem americanos, seus pais eram um pouco mais liberais que os meus e, quem sabe, aceitassem o casamento dela com meu irmão, caso Faruk se casasse comigo, afinal, ele seria cunhado de um sheik, o que seria ótimo aos olhos de uma família de banqueiros. — Estamos no mesmo barco com a diferença de que eu quero me casar, já você, não. Samir assentiu. — Vou viajar com ela em duas semanas. Que tal ir junto comigo e fazer sua despedida de solteira? — brincou. O Qsaar, conquanto não fosse um país superliberal, era um dos que tinha as regras mais brandas entre os países árabes. Lá, se um homem fosse pego roubando ele era preso, diferente de outros lugares onde sua mão seria cortada. Isso porque nosso estado não era muçulmano e, diferente dos países pertencentes ao mundo islâmico, possuía regras que se alinhavam mais ao mundo ocidental. Contudo, estas regras eram seguidas à risca, não havia leniência na justiça do Qsaar. Nós preservávamos nossa história e cultura com muito orgulho, mas estávamos anos-luz à frente da maioria dos países que nos cercavam. Especialmente no que dizia respeito às mulheres, que já podiam trabalhar, estudar e, há alguns anos, conseguiram o direito de votar, dirigir e até morar sozinhas, caso pudessem se sustentar. A violência contra a mulher, em qualquer circunstância, era considerada crime, e elas podiam se divorciar caso seus maridos se mostrassem abusivos com qualquer membro da família, entre muitas outras coisas. Tudo isso me deixava orgulhosa do meu país. Isso não significava que não continuavam sendo superprotegidas por seus responsáveis. Mesmo um pouco receosos, meus pais sempre apoiaram que, assim como meu irmão, eu estudasse e viajasse, exatamente como Faruk, que estudou fora sua vida inteira. Com isso, aproveitei para fazer vários intercâmbios em países diferentes, o que me deu a oportunidade de aprimorar as línguas que comecei a aprender desde muito nova. Tinha a impressão de que isso se devia ao fato de eu ser noiva do nosso futuro regente. Eles queriam me preparar para ser a esposa de um dos homens mais poderosos do Oriente Médio e, ainda que a motivação tenha sido essa, eu não poderia ser mais grata. — Gostei da ideia, qual o destino? — perguntei ao meu irmão. — Chicago. Paige é Abby vão passar um tempo lá. Topa? Chicago... Engoli em seco ao ouvir aquilo. Faruk estava em Chicago. Senti o coração retumbar com as dezenas de possibilidades que se passaram por minha mente. — Vou pensar — disse apenas. Samir assentiu e mudamos de assunto. De certa forma, o casamento de Samir estava entrelaçado ao meu. Nossa situação financeira não estava favorável para um casamento vantajoso e o compromisso de meu querido irmão tinha sido fechado baseado na expectativa de que eu me casasse com Faruk, Os pais de Laila, sua noiva, estavam ansiosos para que a filha se tornasse cunhada da futura princesa do Qsaar e eu não duvidava que desfizessem tudo, caso isso não acontecesse logo. Suspirei, minha situação com Faruk estava se tornando insustentável e se ele não firmasse nosso compromisso pessoalmente, a reputação de toda a nossa família estaria arruinada. Assim que Samir saiu do meu quarto, fui para o computador. Abby havia me enviado uma mensagem pedindo para eu olhar meu e-mail e não tive tempo. Em anexo, estavam algumas matérias de revistas e jornais americanos falando do meu noivo em ocasiões diferentes. Em todas elas, ele estava acompanhado de uma linda mulher morena, com um corpo de deixar qualquer homem babando. Ela era lindíssima e ele parecia extremamente satisfeito e orgulhoso por tê-la ao seu lado. Tive vontade de chorar. Levando em conta a quantidade de mulheres às quais ele tinha acesso, todas elas disponíveis e livres para entregarem seus corpos sem nenhum pudor, era compreensível que meu noivo sentisse tanta aversão a compromisso, especialmente um casamento arranjado. Diferente do que acontecia em meu país, as mulheres do ocidente eram muito mais liberais no que se referia ao sexo, um prato cheio para um homem viril como o sheik de Qsaar. Talvez, se eu fosse homem, também não iria querer me comprometer com uma garota que eu sequer conhecia. Por tudo o que Faruk sabia, eu havia sido criada sob várias regras e poderia ser uma puritana desmiolada com quem ele sequer conseguiria ter uma conversa decente. Voltei a olhar para a foto. Mesmo sabendo que aquela moça não tinha culpa pela falta de caráter do meu noivo, senti raiva e ciúmes por vê-los de mãos atadas, enquanto ele levava uma vida de solteiro, ignorando minha existência. Às vezes, me sentia tão boba... Desde a adolescência, juntava recortes e fotos dele. Eu o adorava como uma fã ao seu ídolo e saber que parecia estar seriamente envolvido com uma americana, deixava-me completamente mortificada. Para minha sorte, ele tinha poder e influência para controlar tudo o que saía a seu respeito na mídia de nosso país, e nunca me senti exposta ou humilhada por causa de suas indiscrições. Mas o fato de não sair nada na TV não significava que muitas pessoas não soubessem, afinal, era só colocar o nome dele no Google para saber de tudo. Meu descontentamento não me impediu de passar o restante da semana como uma stalker, seguindo todos os passos do meu noivo pela internet. Estava decidida a fazer alguma coisa; queria, ao menos, me encontrar com ele. Do jeito que as coisas estavam indo, Faruk acabaria rompendo aquele noivado pelo telefone. Por meio das matérias que Abby enviou, descobri o nome da mulher que ele estava cortejando; ela se chamava Milena Soares e trabalhava na empresa de Ross Mayaf, avô de seu ex-namorado Zen Mayaf. Eles haviam rompido há poucas semanas e essa notícia estava disponível em diversos sites. Bisbilhotei o que pude a respeito, mas, além das fotos, não havia muitas informações que pudessem ser aproveitadas. Zen era um típico playboy americano que vivia para festas e mulheres; e Milena, uma brasileira que conheceu as pessoas certas e atualmente trabalhava em uma grande empresa. Ela e o ex-namorado formavam um belo casal e eu rezava para que reatassem, dessa forma, meu noivo ficaria frustrado e, quem sabe, voltaria para o Qsaar. Tinha esperanças de que, ali, eu conseguisse dar um jeito de encontrá-lo “por acaso”. Estava conformada com isso, inclusive já tinha pensado em algumas coisas, mas, então, Faruk ligou pessoalmente para o meu pai e perguntou se eles dois poderiam se encontrar dali a um mês. Ao saber disso, meu estômago revirou. Alguma coisa me dizia que iria desfazer nosso noivado. Pela forma como olhava para aquela mulher, ele deveria estar tão apaixonado, que não se importaria em quebrar a promessa de seu pai. O que essas brasileiras tinham para deixar os homens árabes tão obcecados? Grunhi em desgosto e lembrei das últimas conversas que tive com Abigail. Ela achava que seria muito mais fácil encontrar Faruk nos Estados Unidos do que em Qsaar e muito melhor do que ficar esperando que ele fosse até mim. O convite de Samir para acompanhá-lo em sua viagem me fez lembrar de sua sugestão. Seria loucura ir atrás do meu noivo do outro lado do mundo, mas, ao mesmo tempo, talvez fosse a única chance de nos encontrarmos, antes que ele rompesse de vez o nosso noivado e eu fosse obrigada a me casar com um homem a quem não amava. Se isso acontecesse, eu ficaria, irrevogavelmente, destroçada. Após aquele telefonema entre Faruk e meu pai, passei os dias triste e inquieta, tentando adivinhar o que aconteceria. Chateada, peguei o carro de Samir e fui me encontrar com minha amiga Luna, ela tinha acabado de chegar de uma viagem e queria me ver. Nós nos conhecemos por intermédio de Kayla e, mesmo sendo alguns anos mais nova do que eu, nos dávamos muito bem. Ela tinha viajado o mundo com sua mãe, que era arqueóloga, e por isso sempre tinha muita coisa para me contar. Luna achava uma grande besteira eu sofrer tanto por um casamento arranjado, mas concordavaque, por Faruk, ela também derramaria algumas lágrimas. Certamente que isso era uma grande brincadeira, mas que, de qualquer forma, me consolava, pois, às vezes, até eu ficava cansada da minha situação de noiva rejeitada. Sempre que esse sentimento me atingia, ficava pensando em como seria gostar de alguém que não fosse ele. Como seria minha vida se eu não tivesse um destino traçado por outras pessoas? Após o nosso encontro, eu rodei a cidade e só parei quando cheguei ao meu destino: o píer que o sultão Hassan fez em homenagem a sua falecida esposa. Já havia um tempo que aquele ponto turístico estava interditado para reforma, mas ele havia se tornado o meu lugar preferido, por isso, dava um jeito de passar pelas barreiras de segurança e ia lá todos os dias, no final da tarde. O rio onde o píer fora construído, ficava um pouco acima do nível urbano e eu adorava ver o sol sumindo por entre os imensos prédios que dominavam o centro administrativo da capital do Qsaar. De lá, eu também conseguia ter uma visão privilegiada da Golden Tower, o prédio mais lindo e imponente da cidade. Era lá que Faruk Yussef trabalhava e morava quando estava em seu país. Alguns diziam que ela era feita de um material dourado, nada mais que isso; outros, mais deslumbrados, falavam que era toda de ouro. Eu não acreditava nisso, na verdade, não me importava, apenas ansiava pelo dia em que, finalmente, poderia colocar meus pés lá dentro, uma vez que, no dia em que resolvi invadir o lugar, quase havia sido detida. Ainda me envergonhava daquilo. Eu tinha acabado de fazer 18 anos e me achei no direito de procurar por ele, pensando que, se dissesse quem eu era, teria total acesso. Ledo engano. A recepcionista entrou em contato, mas ele não permitiu minha entrada. Nunca me senti tão humilhada. Jamais esqueceria do olhar que ela me lançou, era pena misturada com irritação, por eu ter importunado seu lindo chefe. Para piorar, ainda recebi diversos olhares de desdém por parte de algumas outras funcionárias e também de alguns seguranças quando saía. No entanto, foi por causa de um deles que não fui presa acusada de invasão de propriedade. Ele conhecia meu pai e deve ter explicado minha situação para o seu chefe, pois logo depois ele me liberou, mas não me deixou subir, não podia ir de encontro às ordens superiores. Enquanto ia para casa, iludi a mim mesma dizendo que ele deveria estar em uma reunião e, por isso, não me deixou subir. Com aquilo em mente, esperei que Faruk aparecesse ou, pelo menos, ligasse no dia seguinte para pedir desculpas, mas isso nunca aconteceu. Chorei por dias seguidos, mas aquele balde de água fria serviu para esfriar um pouco a loucura que sentia por ele, mas isso só durou alguns meses. Após aquele dia, deixei que papai tratasse da situação como um negócio, não queria ter o desprazer de ser rejeitada. Mas isso não fez nenhuma diferença para o meu coração quebrado, que continuou batendo desenfreadamente por causa dele. Caminhei pela estrutura de madeira até chegar ao final e, depois de apreciar o pôr do sol por longos minutos, mudei minha posição para observar a Golden Tower. Enquanto eu pensava em nossa situação, o filme da minha vida rodou pela milésima vez em minha cabeça e, subitamente, eu me encontrei recordando do nosso primeiro encontro, quando era só uma criança e não tinha ideia de como seria nosso futuro. Depois disso vieram as imagens de uma segunda vez que nos encontramos, eu já era uma adolescente e me apaixonei perdidamente assim que o vi. Aos meus olhos românticos, ele era a encarnação dos príncipes árabes que eram descritos nos meus livros. Fiquei encantada com a beleza e a aura de poder que emanava dele e muito, muito, curiosa. Foi a partir desse dia que comecei a pesquisar a respeito do meu noivo e a idealizar nosso casamento. Em minha cabeça, não havia espaço para uma relação que fosse menos que um conto de fadas. No entanto, eu tinha Samir. Ele sempre se preocupou em colocar meus pés no chão e, aos poucos, foi desconstruindo algumas das fantasias que criei. Por conviver com papai, ele era muito mais prático. Segundo ele, quanto mais realista eu fosse, menos iria sofrer. Com essa ideia em mente, meu irmão falou sobre os casamentos arranjados, sobre as outras esposas que Faruk poderia ter e todo sofrimento que isso poderia me causar. Mesmo que em muitos países a poligamia tivesse sido abolida, em Qsaar ela ainda era válida. Mamãe havia me dito que o costume não havia sido extinto porque, mesmo apaixonado por sua esposa, o pai de Omar decidiu contrair um segundo casamento para firmar um acordo comercial que beneficiou seu país. O atual sultão também amava a mãe de Faruk e, mesmo assim, se casou novamente. Além disso, ele teve várias amantes e concubinas e isso me dava arrepios, pois temia que Faruk agisse da mesma forma. Deus! A ideia de dividi-lo com outras esposas era estarrecedora. Meus momentos de reflexão foram interrompidos por uma ligação. O número era desconhecido e eu quase não atendi. Do outro lado da linha estava a pessoa menos provável de todas: Zen Mayaf, o ex-namorado de Milena Soares. Ele estava entrando em contato para falar sobre a situação do meu noivo com sua ex-namorada. Em um relato emocionado, ele falou o quanto a amava e estava disposto a lutar para reconquistá-la. Que sorte, dois homens maravilhosos apaixonados por ela! Isso me deixou deprimida, mas, à medida que o escutava, sentia um fio de esperança se tornar perceptível dentro de mim. Quando perguntei como ele havia me encontrado, Zen me disse que um grande amigo dele havia contratado um detetive para descobrir mais sobre a vida de Faruk e acabaram chegando a mim. Nos poucos minutos em que conversamos, ele me garantiu que a ex- namorada ainda o amava, mas estava chateada. Também me garantiu que, se ela soubesse de mim, acabaria com aquele romance na mesma hora. Aquilo me animou; por outro lado, achei que demandaria muito tempo e trabalho. Nada disso seria necessário se ele me amasse e respeitasse. Suspirei, eu estava exausta de pensar tanto naquele homem, mas era impossível tirá-lo da cabeça e, quando voltei para casa, estava com o coração cheio de esperança. — E aí, já decidiu? — Samir perguntou. Eu estava no escritório de papai lendo uma matéria acerca do sumiço de diversas mulheres árabes e da suspeita de que estavam sendo traficadas. Fechei a tela do notebook, Samir não gostava que eu ficasse vendo essas coisas, e menos ainda da opinião que tinha sobre o que deveria ser feito em relação àquilo. — Eu vou. Seria uma tentativa de fazê-lo enxergar que eu existo, já que ele passava mais tempo em Dubai ou nos Estados Unidos do que no próprio país. Estava decidida a ficar de frente com meu noivo e, caso ele não gostasse de mim, teria que romper nosso compromisso olhando nos meus olhos. — Ótimo, vou providenciar tudo, papai já concordou com a viagem desde que eu não tire os olhos de você. Na verdade, Samir ficaria grudado em Paige, como acontecia sempre que viajávamos para a América. Contudo, sabia que podia contar com ele quando precisasse. Nossa vida sentimental estava lastimável e tudo por conta dos malditos casamentos arranjados. Toda vez que eu pensava nesse tipo de coisa, lembrava da sorte que tinha por sentir amor e simpatia pelo meu escolhido; não era assim para a maior parte das pessoas que precisavam se casar dessa forma. Durante aquela tarde, eu me preparei emocionalmente para tudo que pretendia fazer e até ensaiei algumas conversas em minha cabeça para quando encontrasse Milena Soares. Estava decidida a ter uma conversa sincera com ela. A bela mulher possuía um leque de opções à sua disposição; já eu, se perdesse Faruk, passaria pela humilhação de um noivado desfeito e o desgosto de me casar com alguém que não amava. Era a isso que eu me apegava para seguir em frente. No dia seguinte, comecei a separar as coisas que levaria na viagem. Peguei apenas as roupas que eu usava quando estava no ocidente, não que não gostasse do meu caftan ou dos meusvestidos longos, pelo contrário, achava-os muito elegantes, mas era libertador colocar uma calça jeans de vez em quando. Após preparar meu nécessaire, entrei no meu canal no YouTube e subi o vídeo que havia gravado no dia anterior avisando que ficaria alguns dias ausente. Obviamente que eu aparecia usando um niqab[1] que, junto com os outros tipos de véu, era totalmente facultativo em meu país. Se aparecesse ali mostrando meu rosto, seria um grande escândalo em nossa família, uma vez que eu criticava abertamente algumas das leis existentes em países árabes, especialmente as que ainda eram vigentes no Qsaar. O único que sabia dessa minha atividade clandestina era Samir, que vivia falando o quanto eu me arriscava em criticar o governo do próprio sogro e, consequentemente, do meu noivo. Eu amava Faruk, mas nem por isso tinha que concordar com algumas de suas ideias ultrapassadas. Fazia quase dois anos que havia criado meu canal no YouTube. Foi a forma que encontrei para lutar contra o tráfico de mulheres no Oriente Médio e alertar a respeito do que acontecia naquela região do mundo. Havia muitos países que ainda tratavam as mulheres com total descaso. E o fato de o Qsaar ser um país com leis mais brandas, fazia com que fosse um alvo, uma vez que as mulheres andavam com mais liberdade. Recebia muitas mensagens, tanto de garotas que, de alguma forma, haviam conseguido fugir de seus sequestradores quanto de parentes que alegavam ter mulheres desaparecidas na família e desconfiavam de exploração sexual. O fato é que toda a informação que eu recebia, em um e-mail que criei nos Estados Unidos para não ser rastreado, se tornava conteúdo para o canal, que já tinha milhares de inscritos no Qsaar e no resto do mundo. Ainda acreditava que a informação era uma das principais armas para combater o tráfico de mulheres, esse também era um dos motivos para me casar com Faruk o mais rápido possível. Após ler tantas histórias tristes, jurei a mim mesma que usaria meu título de princesa do Qsaar para ajudar outras mulheres, então, minha ida a Chicago não era apenas por mim. Era por todas que estavam aprisionadas com maridos violentos ou em clubes de sexo contra sua própria vontade. Essa luta só teria voz se eu conseguisse convencer o homem que, em breve, se tornaria sultão do Qsaar, a se casar comigo. Três dias depois, eu estava saindo do Qsaar com o coração cheio de esperança de que alguma coisa boa aconteceria naquela viagem. Nosso voo aconteceu recheado de conversas profundas; Samir, além de irmão, era um ótimo conselheiro e eu amava a relação de cumplicidade que construímos no decorrer dos anos. Quando chegamos a Chicago, fomos para o apartamento que Abgail tinha alugado. Após um bom banho, saímos para almoçar em nosso restaurante favorito, que era caríssimo. Enquanto aguardávamos, Samir fez graça dizendo que estávamos sendo péssimos filhos gastando os últimos tostões de papai. A verdade era que as lojas de tecido da nossa família já não vendiam tão bem quanto antigamente, mas ainda conseguíamos ter uma vida bem confortável, mas não sabíamos até quando isso iria durar. Quando criança, meus pais foram donos da maior rede de lojas de tecidos do Qsaar e ocupávamos uma posição social importante, no entanto, depois de anos de má administração, acabamos fechando várias filiais. As coisas só começaram a melhorar quando Samir assumiu, mas ainda estávamos longe de ter o mesmo lucro de anos atrás. Esperávamos que ele conseguisse rever isso. No dia seguinte, dormi até tarde e, depois de um banho relaxante, liguei para Zen Mayaf. Ele tinha dito que marcaria um encontro entre mim e Milena Soares no bar do hotel. E eu estava apavorada. Faltando poucos minutos para estar cara a cara com ela, percebi, com muito mais nitidez, o quanto aquilo era humilhante; mas toda vez que pensamentos como aquele me atingiam, eu dizia a mim mesma que aquela era a melhor chance que eu já tive de, quem sabe, conhecer Faruk e tentar dar um rumo à minha vida. Desci no horário combinado e, após quase meia hora de atraso, notei sua presença. Milena era alta, tinha um corpo escultural e os cabelos castanhos desciam lisos até a cintura. Não foi difícil entender por que ele estava interessado. Seus olhos passearam pelo local à procura de alguém e pararam em mim por alguns minutos. Logo depois, ela voltou a inspecionar o salão e se virou para ir embora. Levantei-me na mesma hora e a chamei. Ela se voltou e ainda hesitou um pouco, mas foi em minha direção. Meu estômago estava revirando por dentro e minha garganta se fechando a todo momento quando me apresentei: — Sou Maly Albuja. — Olá, Srta. Albuja, sou Milena Soares, é um prazer — apresentou-se, simpática, e apertamos as mãos. Enquanto a cumprimentava, foi impossível não a encarar dos pés à cabeça. Ela chamava muita atenção. — Eu sei quem você é — falei, um pouco ríspida e a vi franzir o cenho. — Bom, Zen não poderá vir e embora eu não esteja por dentro do que você iria tratar com ele, farei o possível para ajudá-la — ela começou. Milena devia estar perdida. Seu ex-namorado inventou essa “reunião de negócios” e depois lhe disse que não conseguiria comparecer, pedindo que o substituísse. Era por isso que ela estava ali. — Por favor, sente-se, temos muito o que conversar — falei, contrariada por ter que me ver naquela situação. Eu sabia que deveria estar fazendo o meu papel, mas não conseguia fingir, não conseguia sequer exibir um sorriso amigável para a mulher que estava com o meu noivo. Mas ela era a única pessoa que poderia me ajudar a ter acesso a ele e somente por isso, estava me submetendo àquilo. Mesmo estranhando, Milena se sentou à minha frente. — Muito bem, estou ouvindo. Quase sorri ao perceber sua leve irritação, certamente, impulsionada por meu tratamento. Mas eu estava nervosa demais, não sabia como começar aquela conversa, contudo, precisava tentar descobrir se ela já sabia da minha existência. — Você já ouviu falar de mim? Ela negou de imediato, com o cenho franzido, e soube que estava sendo sincera. Assenti e desviei o olhar. É claro que meu adorável noivo esconderia minha existência. — Desculpe, Srta. Albuja, mas não lembro mesmo, e olha que sou ótima com nomes. Respirei fundo e me voltei para ela novamente. — E Faruk Yussef, é um nome familiar? — questionei e vi seus olhos se arregalarem ligeiramente, enquanto sua expressão se tornava mais confusa. — Sim, eu conheço Faruk. Mas por que está me perguntando isso, o que ele tem a ver com esta conversa? Eu a encarei, cheia de ressentimento e mágoa. — Me diga uma coisa, Milena, qual tipo de satisfação uma mulher pode sentir ao roubar o noivo de outra? Era uma acusação sem cabimento, já que ela não sabia da minha existência, mas eu usaria todas as minhas armas para mostrar que estava disposta a tudo para não perdê-lo. — Do que você está falando? — Vai me dizer que não sabe que estou prometida a Faruk desde os sete anos de idade? Tenho esperado por aquele homem a minha vida toda. Então consegue imaginar a dor que senti ao saber que ele quer me deixar para ficar com você?! Milena ficou em silêncio por um longo tempo, dava para perceber que ela estava tentando digerir o que havia lhe falado. — Maly, eu vou te contar um pouco da minha história e depois que a ouvir, você poderá tirar suas próprias conclusões, certo? Assenti e ela começou a falar. Mais ou menos uma hora depois, eu já me sentia mal por ter pensado tantas coisas ruins a seu respeito. Milena também estava sofrendo por causa do ex-namorado e entendeu o meu desespero. Também deixou claro que não estava mais atendendo as ligações de Faruk, pois ainda amava Zen e não conseguia se entregar a outro homem. Só eu sabia o alívio que senti ao ter certeza de que o caminho estaria livre. Porém, ainda tinha que achar um jeito de falar com meu noivo. Deixando o meu orgulho de lado, contei a ela o que vinha acontecendo e lhe pedi que me ajudasse, de alguma forma, a me encontrar com Faruk. Percebi que ela ficou tentada, mas acabou dizendoque precisava pensar. Estava cheia de problemas pessoais para resolver e não queria se envolver em outras situações que poderiam complicar ainda mais sua vida. Eu assenti. E embora não me encontrasse nem um milímetro mais perto de estar cara a cara com meu noivo, aquela conversa me deixou um pouco mais aliviada e, quando nos despedimos, trocamos nossos telefones. Milena se foi sem fazer nenhuma promessa, mas eu tinha esperança de que ela iria me ajudar. Durante dois dias perambulei pela cidade e fui a alguns pontos turísticos com Samir, Paige e Abigail. Meu irmão vivia grudado na namorada, como se a companhia dela nunca fosse o suficiente; parecia tão feliz e apaixonado, que imaginei se Faruk sentiria aquilo por mim algum dia. Naquela tarde, quando cheguei em casa, resolvi vasculhar a internet em busca de alguma notícia dele. Entrei em vários sites de fofoca e olhei notícia por notícia com a esperança de que, em alguma nota, eu conseguisse informações sobre seu paradeiro. Já estava desistindo quando li seu nome em uma coluna social on-line, onde falava que ele havia reservado um restaurante inteiro para dar uma festa. Na matéria, eles exaltavam o gosto do meu sheik por restaurantes e chefs premiados, por isso, o Alínea havia sido escolhido. Segundo a nota, aquele restaurante era tão exclusivo que a fila de espera por uma reserva chegava a demorar meses, no entanto, pelo visto, isso não significou um grande problema para Faruk. A festa começaria por volta das 20 horas e imaginei se alguma mulher iria com ele. Essa ideia me deixou nauseada, humilhada, quase prestes a mandar nosso compromisso para o espaço. Toda vez que a Maly revoltada tentava assumir a situação, me dando doses de bom senso e amor-próprio, uma outra, submissa e apaixonada, entrava em ação e tentava mostrar tudo o que eu ganharia se Faruk também se apaixonasse por mim. Era a isso que eu me apegava com todas as forças, para não enlouquecer. Aproveitei que Samir estava com Paige e cogitei ir até esse restaurante para tentar falar com ele. Eu só precisava que ele me visse, que soubesse quem eu era. Cinco minutos não seriam suficientes para explicar toda uma vida de devoção, mas serviriam para que enxergasse que sua decisão de romper o noivado poderia arruinar a minha vida. Caminhei pelo pequeno apartamento de Abgail dividida entre ir atrás ou recuar. Será que Milena entraria em contato? Será que me ajudaria a me aproximar dele? A dúvida corroía meu cérebro feito soda cáustica em uma superfície de gelatina. Foi no ponto mais alto da minha ansiedade, que decidi me arriscar. Troquei de roupa, fiz uma maquiagem, joguei um sobretudo por cima do vestido e saí. Não havia nada de mais na minha produção, até porque aquilo não era um encontro romântico e sim a possível conversa que resolveria a minha vida. A noite estava fria, mesmo assim meus dedos estavam suados e gelados pelo nervosismo misturado com euforia. A meu pedido, o táxi parou um pouco antes do Alínea e, quando desci, percebi que havia uma boa quantidade de seguranças cuidando da entrada dos convidados e conferindo nomes em uma lista. Senti-me patética, óbvio que haveria conferência de nomes e documentos. Um homem como ele era cercado de todo o tipo de cuidados e em uma festa não seria diferente. Fiquei bem perto da entrada, fingindo que estava olhando uma vitrine, enquanto mexia no celular, mas a todo momento meus olhos observavam os carros que paravam na frente, de onde desciam mulheres deslumbrantes, vestidas com roupas maravilhosas, mas, a meu ver, um pouco curtas para a noite fria que fazia. Quase meia hora depois meus dedos estavam congelados e minha determinação tinha diminuído bastante, foi então que a movimentação em frente ao restaurante mudou e vários carros encostaram ao mesmo tempo. Um sedã preto parou, seguido por um Rolls-Royce e depois uma SUV, que deveria fazer a escolta do meu noivo. Meu coração acelerou quando aquele batalhão de seguranças se posicionou e, após algumas trocas de olhares e breves conversas, a porta do Rolls-Royce foi aberta para ele sair e tive o vislumbre de suas costas, dentro de um terno escuro. Uau, Faruk era realmente alto e elegante, e quando ele se virou e finalmente pude ver seu rosto, senti meu coração falhar. Era um sentimento estranho, confuso e cheio de emoção. Tive vontade de rir, chorar, expressar qualquer coisa, mas a importância daquele momento me congelou e aquilo não tinha nada a ver com o vento frio que castigava meus ossos. Os bastos cabelos escuros emolduravam o rosto sério que tanto admirei em fotos e recortes de jornais. O sheik de Qsaar era bastante fechado; ele sabia a importância do título que carregava e isso o fazia parecer e agir como um deus intocável. E sua beleza crua apenas corroborava com isso. Na emoção daquele momento senti vontade de correr até ele, gritar seu nome e dizer quem eu era. Minhas pernas quase se moveram em sua direção, mas então ele olhou para dentro do carro e estendeu a mão. Senti meu peito se apertar quando longas pernas surgiram do banco traseiro e sapatos pretos de solado vermelho tocaram o chão. E então eu a vi. Ela era alta, loira e tinha um corpo cheio de curvas. Deveria ser isso que Faruk procurava em uma mulher, pois todas seguiam o mesmo padrão. Ele sorriu para ela de um jeito doce, poderia dizer até íntimo, o tipo de sorriso que não era oferecido a alguém que você acabara de conhecer. Sabia disso porque tinha analisado todos os seus trejeitos e sorrisos milhares de vezes e, ok, poderia parecer loucura, mas eu sabia quando Faruk sorria por obrigação em um evento ou quando estava verdadeiramente feliz e descontraído. Minhas suspeitas de que eles se conheciam bem se confirmaram quando ela saiu por inteiro do carro e deu um selinho nos lábios dele. Virei as costas e tive vontade de morrer. Era muito ódio, ciúme e frustração. Vê-lo pessoalmente com outra mulher foi como um balde de água fria no fogo da paixão que queimava dentro de mim. Todo aquele desejo de chegar perto dele caiu por terra. Voltei-me para eles novamente como uma verdadeira masoquista. Será que Milena já era carta fora do baralho? Sua acompanhante usava um vestido preto de mangas compridas. Ele colocou um sobretudo lindíssimo por cima dos ombros dela e em seguida caminharam em direção a entrada. Pelo menos, aquela ali sentia frio, diferente das outras que chegaram antes dela. A loira aproximou a boca do ouvido de Faruk e seus lábios pintados de vermelho sussurraram alguma coisa que o fez sorrir. Esse sorriso é meu. Ele é meu, pensei em meio ao meu desespero. Após uma troca de olhares cúmplice, eles seguiram para dentro. Mesmo que eu conseguisse entrar naquela festa, minha presença não teria o mesmo efeito. Não havia o mesmo entusiasmo, todas as conversas prontas e ensaiadas em minha cabeça se misturaram em meu cérebro feito uma sopa de letrinhas. Seria impossível formular uma frase com o coração tão triste e machucado. Desolada, procurei abrigo dentro do meu sobretudo, caminhei até a calçada e acenei para o primeiro táxi que passou. Foi só sentar no banco traseiro para o choro dominar o ambiente. O taxista me encarou pelo retrovisor, mas balbuciei alguma coisa sobre ter brigado com meu namorado, então ele assentiu e voltou a atenção para o volante. Com os olhos embaçados e o nariz fungando, pela milésima vez me perguntei: Até onde eu iria por causa de Faruk Yussef? Aquela foi a pior noite que passei desde que cheguei a Chicago. Passei horas rolando na cama e revivendo a cena de Faruk descendo do carro e sorrindo para aquela mulher. Sorrindo de um jeito que jamais sorriu para mim. Faruk nunca quis me conhecer, nunca quis saber do nosso noivado. Poderia parecer um absurdo estar triste pelo que nunca tive, mas vê-lo interagindo com outra mulher ali, tão próximo de mim, teve um peso diferente. Eu poderia ter gritado, ter chamado a atenção dele ou de seus seguranças, mas não fiz nada. Por que não? Essa foi uma das perguntas que mais me consumiu, até chegarà conclusão de que esperei demais por Faruk, para que nosso primeiro encontro acontecesse de forma tão humilhante, ao menos para mim. Eu não queria parecer a noiva traída, nem ser aquela que atravessou o mundo para ir atrás dele, ao menos, não naquele momento. Quando a manhã chegou, eu estava de péssimo humor. Levantei-me, fiz café e levei uma xícara quase cheia para a sacada do apartamento. Enquanto a bebida quente acalentava meu corpo naquela manhã fria, fiquei observando a cidade. Ainda era cedo, mas já havia uma intensa movimentação de carros e corpos na rua lá embaixo. Ouvi meu celular vibrar em cima da mesinha da sala, mas decidi terminar o meu café antes de ver quem era. Quando a curiosidade me venceu, entrei e levei o aparelho comigo para a cozinha. Depois de colocar a xícara na pia, deslizei o dedo na tela e fiquei surpresa ao ver que era uma mensagem de Milena Soares: Maly, conversei com o Faruk e terminei tudo com ele. Não se preocupe, ele não sabe que nos encontramos, muito menos que sei da sua existência. Quanto ao que me pediu, não posso te ajudar diretamente, mas posso informar que ele alugou uma cobertura no centro de Chicago, no edifício Classic. O local é bem conhecido, procure se informar. Também tive uma ideia para aproximar vocês. Meu amigo, Ed, vai entrar em contato e te explicar tudo. Se vai dar certo ou não, vai depender do que você está disposta a fazer para encontrá-lo. Desculpe se te causei algum sofrimento. Não foi intencional. Se um dia precisar de qualquer coisa, não hesite em me chamar. Boa sorte! Fiquei admirada, tanto pela mensagem quanto por ela não ter falado sobre mim. Faruk certamente ficaria possesso de raiva se descobrisse que fui eu quem acabou com o caso deles. No entanto, depois de tudo que presenciei na noite anterior, não havia tanta euforia dentro de mim. Obviamente que estava feliz por saber que teria a chance de ficar frente a frente com ele, mas isso não apagava o que havia visto e como aquilo doeu. Quando Abby chegou, eu contei tudo que tinha acontecido e, prontamente, ela abriu um vinho e me ofereceu uma taça. Em sua opinião, não havia dor que não pudesse ser curada com uma boa dose de álcool. Admirei seus cabelos ruivos e os olhos verdes que me fitavam com certa pena, e fiquei escutando seus conselhos e piadas de mau gosto. Ali, sentadas na bancada de sua cozinha, ela tentava me animar minimizando a gravidade do que eu tinha visto. Em sua opinião, esse tipo de comportamento masculino era normal no ocidente, justamente por isso ela estava solteira. — Já passou por sua cabeça que ele pode ter mau hálito? Soltei uma risada e a encarei. — Se quer mesmo saber, já imaginei várias coisas para deixar de gostar dele, inclusive, que ele teria um pau do tamanho de um grão de ervilha. — E nem isso te desanimou? — questionou de um jeito engraçado. — Não, nem isso. Rimos juntas e continuamos falando sobre minha situação. — Eu sei que está chateada, mas, se não aceitar a ajuda da Milena, nada do que fez até agora fará sentido. Você precisa se encontrar com ele, nem que seja para terminar esse noivado e seguir sua vida. Já sabe que se a coisa ficar feia nas arábias, pode vir morar comigo. Sorri e a abracei apertado. Minhas amigas eram meu porto seguro; cada uma a seu jeito, sempre tentavam me ajudar a superar minhas incontáveis decepções com Faruk. O problema era que ele vivia como se eu não existisse, enquanto eu o tratava como o centro do universo. Ficamos vendo besteira na TV e, quando Abby foi para o seu quarto, meu celular tocou novamente e, dessa vez, era o amigo de Milena. Ed falava rápido e sua voz estava envolta em muito barulho, mesmo assim consegui entender que ele já estava por dentro da minha situação e que me ajudaria com Faruk. Seria mentira se eu falasse que aquilo não me deixou animada, já que eu esperei por aquele momento durante anos. Quando ele explicou o que eu teria que fazer, fiquei apreensiva. Mesmo que Faruk fosse meu noivo, tudo aquilo era loucura e ia totalmente contra os meus princípios. Contudo, estava me sentindo entre a cruz e a espada. A possibilidade de Faruk descumprir a promessa feita pelo pai era enorme, mas, se isso acontecesse sem eu ter feito nada para tentar conquistá-lo, eu me sentiria muito pior, por isso decidi arriscar. Sua última orientação foi para que eu estivesse no dia seguinte, em frente ao prédio, às 20h, pois meu encontro com Faruk já estava marcado. Escutei atentamente todas as suas recomendações e, quando ele finalizou a ligação, apertei o telefone contra o peito e senti algo vibrando dentro de mim. Eu tinha um encontro marcado com Faruk, tudo bem que ele não sabia que seria com sua noiva, mesmo assim eu não poderia diminuir a importância desse momento. Caminhei pelo quarto, sentindo-me nervosa, ansiosa e até um tanto desorientada, era adrenalina demais na minha corrente sanguínea. Já era bem tarde quando peguei no sono, mas acordei cedo e com o corpo pulsando de ansiedade. A primeira coisa que fiz foi contar para Abgail e Samir sobre os últimos acontecimentos. Meu irmão, como sempre, me alertou para tomar cuidado e até se ofereceu para ir junto comigo, no entanto, eu neguei. Aquele momento pertencia somente a mim, não queria plateia, muito menos alguém que pudesse interferir caso Faruk fosse grosseiro comigo. Queria viver cada segundo daquela experiência de um jeito cru, nem que fosse para sofrer e me lamentar pelo resto da vida. A manhã demorou para passar, nada do que eu fizesse preenchia as horas intermináveis daquele dia, que se arrastou fazendo minha agonia aumentar a níveis inimagináveis. Passei a tarde ensaiando conversas, sorrisos, olhares, coisas que provavelmente seriam esquecidas quando colocasse meus olhos nele. Como seria seu cheiro, seu toque, será que ele me acharia bonita? — Você está linda, Maly, cuide para não sair casada dessa cobertura — Abby brincou quando apareci na sala. Depois do banho, eu me produzi como as mulheres do ocidente. Fiz uma maquiagem bonita, mas sem exageros, deixei meus cabelos longos e pesados soltos, escolhi um vestido preto com decote discreto, mas que marcava todas as curvas do meu corpo e arrematei com uma sandália supersensual que eu havia levado. Esperei a vida toda por esse encontro e queria estar linda, nem que fosse para levar um pé na bunda, caso ele me reconhecesse e me expulsasse de lá. Minha amiga pediu um táxi e, assim que ele chegou, eu me apressei em descer, com o peito explodindo de ansiedade. Samir não estava, mas antes de sair me deu vários conselhos e ainda salientou que, se Faruk fosse babaca comigo, ele daria um jeito de quebrar a cara do meu sheik. Achei bonitinho ele dar uma de irmão mais velho e protetor, mas rezava para que tudo desse certo. Assim que o carro parou em frente ao edifício Classic, paguei a corrida e desci. A fachada era toda de vidro espelhado e alguns seguranças se movimentavam pelo local. Enchendo-me de coragem, andei até a portaria e parei em frente a eles. — Boa noite, o Ed me enviou. Os dois seguranças me olharam de cima a baixo. Um deles permaneceu sério, mas o outro não disfarçou o sorriso safado e seu olhar continuava em mim quando colocou o pulso em frente à boca e falou: — A acompanhante chegou, podemos subir com ela? Franzi o cenho em confusão e imediatamente arregalei os olhos quando me dei conta de que eles estavam me confundindo com uma acompanhante de luxo. Meu coração disparou e não ouvi mais nada. Ed havia me falado que tinha conseguido um encontro com ele, mas não especificou o tipo de encontro. — Senhorita! Despertei de minhas divagações e percebi que ele já havia me chamado antes. — O quê? — Pode subir, ele irá acompanhá-la. Enquanto o seguia através do luxuoso hall, tive que respirar fundo algumas vezes para tentar me acalmar e parar de imaginar dezenas de situações que poderiam acontecer quando revelasse a Faruk quem eu era. — Imagino que a agência deve ter lhe falado as regras, certo? Engoli em seco, mas já tinha percebido que, se não mepassasse por uma garota de programa, jamais conseguiria chegar até ele, então, concordei. — Sim. — Ok, precisamos revistá-la e depois a senhorita poderá subir. Assenti e, mesmo desconfortável, permiti que o brutamontes passasse as mãos pelas laterais do meu corpo enquanto outro revistava minha bolsa. — Tudo certo, me acompanhe. Fiquei imaginando o que Faruk diria se soubesse que a pessoa a quem seus homens estavam revistando era sua noiva virgem. Será que ele era do tipo ciumento? Um deles chamou o elevador. Mesmo nervosa, notei que me olhava com o canto dos olhos e não o culpei. Eu estava bonita, sentia-me atraente, e os olhares do segurança apenas confirmavam isso. Na medida em que subíamos para a cobertura, comecei a pensar nas implicações daquilo para o amigo de Milena. Quando eu contasse a verdade para Faruk, teria que ser convincente ao isentar Ed de culpa. Precisaria afirmar que ele não sabia quem eu era ou meu noivo o esmagaria. As portas do elevador se abriram dentro de um belíssimo hall. O segurança saiu e eu o acompanhei até uma sala com decoração moderna, em tons turquesa e cinza de diversas tonalidades. — Espere aqui, ele deve vir em alguns minutos. Assenti e fiquei parada onde o segurança me deixou. O único som vinha da música que preenchia todo o ambiente. Enquanto esperava, tive a impressão de que meu coração batia tão alto quanto aquela música. Eu estava prestes a realizar meu grande sonho e senti que todo meu corpo se preparava e ansiava por aquilo. Alguns minutos se passaram e, quando ninguém apareceu, eu me dirigi às janelas panorâmicas e fiquei apreciando a vista da cidade. Meus pensamentos voaram para o Qsaar, mais precisamente para o dia em que o vi pela primeira vez, aos sete anos, ainda uma criança. Naquele dia, só me preocupava com o desenho feito com lápis cor-de-rosa na parede e que castigo aquilo implicaria. Sorri dessa lembrança e, de repente, eu estava na festa de aniversário do sultão, toda magricela, desengonçada e louca para que Faruk notasse minha presença, ou que dançasse comigo. Para minha tristeza, não aconteceu nem uma coisa nem outra. Os anos se passaram, meu coração aprendeu a amá-lo e ali estava eu, no mesmo lugar que ele, tentando adivinhar que resultado viria daquele encontro. Estava prestes a surtar de tanta ansiedade quando um reflexo no vidro denunciou a presença de alguém. Era ele. Tentei recapitular tudo que havia ensaiado para aquele momento, mas era como se minhas ideias tivessem evaporado de dentro da cabeça. Virei-me devagar e nossos olhares se cruzaram pela primeira vez em muitos anos. O ar ficou escasso e achei que desmaiaria a qualquer momento. Eu vinha acompanhando Faruk pela internet por todos esses anos, mas vê-lo pessoalmente era totalmente diferente. Seu rosto continuava lindo, mas, naquele momento, eu conseguia ver todos os seus ângulos e côncavos. Podia notar com exatidão o quanto seu maxilar era marcado, forte, assim como as sobrancelhas que, mesmo sendo nitidamente masculinas, eram bem desenhadas. Embora tivesse quase 1,70m e estivesse de salto, ele era uns bons quinze centímetros mais alto do que eu e muito mais forte do que imaginei que seria pessoalmente. Também parecia perigoso e sua barba cheia apenas intensificava aquela percepção, além de o deixar sexy como um demônio. O fato de estar todo de preto, com uma calça social perfeitamente cortada e uma camisa de seda com os primeiros botões abertos e as mangas dobradas até os cotovelos, levava seu ar de sedução às alturas. Faruk não era apenas lindo, era de tirar o fôlego de qualquer mulher. Nossa troca de olhares foi demorada, pois, assim como eu, ele analisou todos os detalhes do meu corpo sem pressa, depois caminhou até mim e seu perfume me envolveu. Um cheiro tão marcante quanto sua presença. — Como você se chama? E agora? Se eu falasse quem era, seria bem provável que ele me mandasse embora sem nem me deixar falar e eu queria aproveitar um pouco mais da sua presença, queria que me conhecesse antes de fazer qualquer julgamento. — Hmm, Mel, meu nome é Mel. Os dedos do Faruk tocaram meu rosto e eu fechei os olhos em apreciação. Como esperei por aquele toque... — Você é linda, Mel, acho que é a garota mais bonita que já me enviaram. Senti uma emoção tão grande por ter escutado aquele elogio, mas depois lembrei que ele estava achando que eu era só mais uma garota de programa e que minha beleza não iria bastar para conquistá-lo. Era óbvio que ele não ficaria sozinho em Chicago, ainda mais depois que Milena terminou tudo com ele. Lembrei-me da loira da noite anterior e vacilei por milésimos de segundos, mas me recompus e falei: — Obrigada. Ele deu um leve sorriso e meu coração apertou. Queria entender como aquele homem conseguia causar tantas sensações em mim. — Quer beber alguma coisa? — Água — falei sem jeito. Ele deu mais um sorriso e aproximou a boca do meu ouvido, fechei os olhos mais uma vez e apreciei seu perfume. — Vai precisar de algo mais forte para aguentar tudo o que eu pretendo fazer com você. Meus olhos se arregalaram e ouvi uma risada suave vindo dele. Conte tudo, desfaça esse mal-entendido, ele gostou de você! Minha consciência alertava, mas eu estava gostando de ser seduzida. — Um vinho? — sugeri. Faruk se afastou, foi até o bar e pegou uma garrafa de vinho. Seus gestos eram elegantes e seus olhos estavam em mim o tempo todo. Ele serviu duas taças e voltou para a sala, apontou para o sofá e nos sentamos. — Fale-me um pouco de você, Mel. O que eu iria falar para ele? Que vim implorar para que ele não rompesse o nosso noivado? — Minha vida não tem muita graça, já a sua deve ser bem movimentada. — Tentei levar o assunto para o lado dele e bebi meu vinho em pequenos goles. O nervosismo estava me engolindo de dentro para fora, mas tentei manter o foco, deixaria para surtar quando fosse embora. — Monótona, sempre dividido entre viagens e negócios — ele foi sucinto na resposta e tive vontade de perguntar se ele era casado ou tinha namorada, só para saber o que falaria, mas isso não cairia bem. Não ainda. Quando terminei minha taça, ele a pegou da minha mão e a colocou sobre a mesa de centro junto com a dele. — Venha comigo. Levantei-me sentindo um nervoso se espalhar por todo o meu corpo. Faruk entrelaçou nossos dedos e me guiou até o final de um imenso corredor. Lá, abriu uma porta e me deu passagem. Era o quarto dele. — Fique à vontade — ele disse e se sentou na cama. Então, calmamente tirou os sapatos e começou a desabotoar a camisa. Já eu, fiquei parada no mesmo lugar, tentando controlar os meus nervos. Quando abriu o último botão e tirou completamente a peça, foi impossível não babar em seu peitoral definido com alguns pelos escuros expostos; eu achava aquilo tão viril. Ele se levantou e desabotoou a calça, desceu o zíper e foi se livrando da peça. O corpo dele era incrível, todo proporcional e com coxas musculosas. — Você parece tensa — disse, ante de se aproximar e deslizar as mãos pelas laterais do meu braço; sua pele era quente e eu gostava de ser tocada por ele. Meu Deus! Será que iríamos transar assim, à queima-roupa? É isso que garotas de programa fazem; você queria flores e chocolate?, uma voz debochada sussurrou em minha mente. Uma das suas mãos subiu para o meu rosto, levantei o olhar e o encarei. Ele parecia ansioso em me possuir, mesmo assim mantinha a calma dos seus movimentos, me envolvendo, seduzindo. — Você é o homem mais bonito que já vi na vida. — As palavras saíram de repente, sem que eu tivesse consciência. Ele abriu um sorriso charmoso e me senti uma tola. — As mulheres geralmente não me elogiam em um primeiro encontro. — Eu não tenho problema com isso — respondi, o coração acelerado. Faruk aproximou meu corpo do dele e me senti tão pequena. Ele era um homão daqueles. — Do que tem medo, por que está tão assustada? As mãos geladas e a expressão ansiosa em meu rosto deveriam estar muito aparentes. — É a primeira vez que faço isso — soltei logo de uma vez para que ele entendesse. —Sou seu primeiro cliente? Concordei com ele e desviei o olhar. O que eu estava fazendo ali? — Tem mais alguma coisa que eu precise saber? O ar ficou rarefeito de repente. Não tinha como eu me entregar a ele sem revelar a verdade. Faruk devia estar mais do que acostumado com garotas de programa e percebeu que meu nervosismo estava muito além do normal. — Será meu primeiro homem também. A boca dele se abriu e ele deu um passo para trás. — Você é virgem? Confirmei e me senti ridícula. Ele passou as mãos pelos cabelos num gesto nervoso. — A agência me mandou uma garota virgem? Inacreditável! Eu não sabia se isso era bom ou ruim, mas notei um brilho fugaz em seus olhos. — Quer dizer que nunca fez nada? — Não, nunca. — E por que diabos quer perder a virgindade dessa forma? Não seria mais fácil fazer isso com alguém por quem nutre algum sentimento? Achei incrível esse comentário, já que qualquer outro homem faria o serviço sem nem fazer questionamentos. — Eu tenho sentimentos por você. Ele pareceu ainda mais surpreso com aquela resposta. — Seja mais clara. — Sou uma espécie de fã — soltei a primeira coisa que me veio à cabeça e ele gargalhou. — Minha fã? Confirmei e já comecei a montar uma mentira daquelas. Pelo visto, as ideias que tinham evaporado estavam voltando magicamente. — Sou louca pelo mundo árabe, fiquei curiosa quando vi uma foto sua na internet e comecei a pesquisar mais sobre você. Faruk pareceu não acreditar na minha história. — E daí decidiu virar acompanhante de luxo para se aproximar de mim? Desculpe, mas essa história não está fazendo sentido. — Não. Eu já vi Ed arrumando mulheres para você em algumas festas, então, só tive o trabalho de convencer seu amigo de que eu era uma acompanhante. E agora estou aqui. Suas sobrancelhas subiram e ele fez um bico engraçado com a boca, como se estivesse assimilando tudo o que falei. — Quer dizer que você é uma fã, que usou o Ed para chegar perto de mim, se passando por uma acompanhante de luxo? — Sim, exatamente isso. — Mais uma vez, ele passou as mãos pelos cabelos e ficou me encarando. — Não me mande embora — pedi. — Garota, isso é loucura. Eu entendo que devo ter admiradoras por aí, mas não deveria ter se arriscado desse jeito. Você só me conhece por fotos, como poderia ter tanta certeza de que eu não te faria mal? E ele me conquistava a cada segundo um pouco mais. — Eu simplesmente sei. Uma batida na porta me assustou. Ele passou por mim e foi atender. — Senhor, desculpe incomodar, mas acho que a moça que está aí não é da agência. Faruk olhou para mim e implorei uma última vez com o olhar. — Por favor — sussurrei. Faruk ficou me encarando sem exibir nenhuma expressão que me desse uma pista do que iria fazer. — Está tudo bem, Rahim, pague a moça e pode se recolher, não quero ser incomodado. — Tudo bem, tenha uma boa-noite, senhor. Faruk trancou a porta e caminhou até mim. — Agora que acabei de dispensar a possibilidade de um sexo de verdade, o que sugere que façamos? Sorri aliviada com a brincadeira dele. — Banco imobiliário? Ele negou e agarrou minha cintura, colando meu corpo ao seu. — Já que conseguiu chegar até mim, algo quase impossível, vou te dar uma recompensa. Senti um calafrio atravessar meu corpo e imediatamente a razão me atingiu. Se eu me entregasse a ele realizaria um grande sonho, mas também correria o risco de ser rejeitada, ter o noivado desfeito e minha honra manchada. Que eu consiga fazer a escolha certa. Eu ainda estava decidindo o que fazer quando ele me pegou pela cintura e sua língua tocou meu lábio inferior. Fechei os olhos e me entreguei. Nossos lábios se encaixaram e quase desfaleci em seus braços quando ele afundou a língua na minha boca e esfregou uma ereção de respeito em mim. Eu nunca estivera em uma situação tão íntima, então era normal estar atordoada com todas as sensações que meu corpo estava sentindo. Faruk era o primeiro homem que me beijava e o único que tinha o direito de fazê-lo, mesmo assim eu temia que estivesse fazendo do jeito errado. Deixei que ele dominasse toda a situação, pois, sinceramente, não tinha a mínima ideia do que fazer. Sentia-me como um passageiro inexperiente tendo que dirigir um Boeing. Minhas mãos entrelaçaram seu pescoço e ele caminhou com o corpo colado ao meu até cairmos sobre a cama. Quando parou de me beijar, arrastou a boca pelo meu pescoço e desceu pelo meu decote. — Já esteve com outro homem fazendo outras coisas? Balancei a cabeça em negação. — Nunca deixei ninguém tocar em mim, você será o primeiro. Um brilho de pura satisfação masculina atravessou seu olhar. Era típico dos homens gostar de ser o primeiro de qualquer mulher, pelo menos os homens do meu país ainda davam muito valor a isso. Esse pensamento me fez lembrar que, caso Faruk tirasse minha virgindade e depois quebrasse o acordo feito pelos nossos pais, eu cairia em desgraça; mesmo assim, era difícil pensar com ele tão perto. — Nunca achei que encontraria uma virgem no ocidente, muito menos que ela batesse à minha porta querendo que eu a tomasse pela primeira vez... Mordeu o bico do meu seio por cima do vestido e gemi. Não existia um jeito de expressar o que estava sentindo e como meu corpo reagia a ele. E em meio a todas essas sensações, eu ainda tinha que decidir se estava disposta a me entregar. Rapidamente pensei em como foram os meus últimos anos e no quanto desejei conhecê-lo; seria tão errado assim me entregar ao homem que eu amava? — Vai doer? — questionei morrendo de medo e ele voltou a me fitar. — O prazer será maior que a dor. Não foi a resposta que eu esperava. Decida, Maly! Ele voltou a me beijar e esqueci de tudo, aquela boca sabia exatamente o que fazer e a cada vez que ele chupava minha língua eu sentia minha intimidade pulsar e doer ao mesmo tempo. Faruk subiu a mão por dentro do meu vestido e chegou à minha intimidade, mas permaneceu por cima da calcinha. Quase afastei sua mão, mas me contive. — Eu vou chupar essa boceta até ela ficar pronta pra mim. Fiquei ruborizada e vi no canto de sua boca um sorriso perverso. Foi o suficiente para o meu ventre contorcer. Com leveza, seu polegar passeou pela região onde ficava minha abertura, me deixando louca; essa sensação só foi superada pelo segundo toque, que foi direto em meu clitóris. O dedão foi gentil e circulava o nervo sensível com cuidado. Eu sabia que aquilo tudo era loucura e talvez eu me arrependesse, mas por aquela noite eu não pensaria em nada. Eu estava na cama com o homem que ocupou os meus pensamentos por anos e era com ele que eu queria virar uma mulher de verdade. Faruk foi me envolvendo com seus beijos e amassos, deslizando as alças do meu vestido, expondo os meus seios. — Cabem certinho na minha boca. Arfei quando ele abocanhou meu seio por inteiro e sugou demoradamente, enquanto sua língua passeava pelo bico duro e excitado. — Eu vou te lamber inteirinha e te comer muito; você jamais esquecerá de como foi sua primeira vez. Minhas pernas se abriram automaticamente ao senti-lo romper a barreira da minha calcinha. Arfei quando dois dedos me penetraram, mas logo o dedão voltou a trabalhar enquanto os dedos iam e vinham com extrema facilidade, sem ultrapassar o limite do meu hímen. — Você deve ser toda apertadinha — sussurrou contra a minha boca e foi descendo pelo meu corpo, levando meu vestido com ele. Faruk tirou minha calcinha, mas deixou as sandálias, depois, me puxou de modo que ficasse com a bunda quase fora da cama, e abriu minhas pernas. Ele se ajoelhou no chão à minha frente e ficou olhando para a minha intimidade. — Que boceta linda. Devo ter ruborizado e mordi os lábios quando senti que ele foi abrindo minha intimidade com os dedos e passando a língua sobre ela. Era o céu! Eu poderia morrer. As lambidas começaram leves e foram ficando ousadas, combinadas com chupadas direto no meu clitóris, a essa altura eu só grunhia e me contorcia na cama, enquanto ele me enlevava com sua destreza. A doce tortura demorou e, quando ele finalmente decidiu se afastar, eu estava
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