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MANIPULACAO_HORMONAL_DO_CICLO_ESTRAL_EM

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Acta Scientiae Veterinariae 32(Suplemento), 2004
MANIPULAÇÃO HORMONAL DO CICLO ESTRAL EM DOADORAS E RECEPTORAS
DE EMBRIÃO BOVINO
G.A. Bó1; D. Moreno1; L. Cutaia1; P.S. Baruselli2; E.L. Reis2
1Instituto de Reproducción Animal Córdoba (IRAC), J.L. de Cabrera 106, X5000GVD Córdoba,
Argentina; 2Departamento de Reprodução Animal, FMVZ-USP, São Paulo, Brazil, 05508-000
RESUMO
Embora a transferência de embriões seja uma técnica amplamente empregada em todo o mundo, a variabilidade
da resposta ao tratamento superovulatório ainda é uma importante limitação. Essa variabilidade pode ser
controlada levando em consideração os conhecimentos da função ovariana. Em bovinos, recentes protocolos
para o controle da dinâmica folicular e luteínica permitem iniciar o tratamento superovulatório em momento
predeterminado. A aspiração folicular guiada por ultra-sonografia (início do tratamento superovulatório 1 a 2
dias após) e o tratamento com estrógeno e progesterona (início do tratamento superovulatório 4 dias após)
têm sido amplamente utilizados em protocolos de superovulação, com produção embrionária equivalente a
doadoras superovuladas com o sistema tradicional (início do tratamento superovulatório 8 a 12 dias após o
estro). Em receptoras, recentes protocolos foram elaborados para controlar o status luteínico e folicular,
possibilitando uma eficiente sincronização e permitindo a transferência de embriões sem a necessidade de
detecção de estro (TETF). O tratamento com GnRH, associado a prostaglandina F2α (PGF) 7 dias após e
a uma segunda aplicação de GnRH 48h após a PGF (protocolo “Ovsynch”) têm apresentado aceitáveis
taxas de prenhez após a inseminação artificial em tempo fixo em vacas de leite e em receptoras inovuladas
sem detecção do estro. Como alternativa, tratamentos com estrógeno e dispositivos contendo progesterona/
progestágenos têm apresentado taxas de prenhez comparáveis àquelas obtidas em receptoras inovuladas 7
dias após a detecção do estro. Além disso, o tratamento com estrógeno e progesterona associado a PGF e
ao eCG (administrado 1 dia após a emergência folicular) tem apresentado altas taxas de receptoras selecionadas
e de prenhez. Esse tratamento é freqüentemente utilizado para sincronização de um grande número de receptoras
na América do Sul. Com esse protocolo 85 a 90% das receptoras tratadas são selecionadas para TE, com
taxa de prenhez (receptoras prenhes por receptoras tratadas) em torno de 40 a 50%. É possível obter um
custo benefício satisfatório com o emprego de um protocolo que resulte em 40 a 50% de prenhez, considerando
que o tratamento também elimina a necessidade de detecção do estro e reduz o intervalo entre o tratamento
e a prenhez.
Palavras chave: desenvolvimento folicular, estrógeno, progesterona, transferência de embrião em tempo
fixo, superovulação
Aknowledgments
Research was supported by the Agencia Córdoba Ciencia and Instituto de Reproducción Animal Córdoba
(IRAC), Argentina. We also thank Syntex S.A., Argentina for DIB, InterAG, New Zealand for CIDR-B and
Bioniche Animal Health, for Folltropin-V. Special thanks to our colleagues of IRAC, U. of Saskatchewan and
U. of São Paulo for technical assistance. e-mail: gabrielbo@iracbiogen.com.ar
Bó G.A., Moreno D., Cutaia L., Baruselli P.S. & Reis, E.L. 2004. Manipulação hormonal do ciclo estral em doadoras e receptoras
de embrião bovino. Acta Scientiae Veterinariae, 32 (Supl ): p.1-22.
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INTRODUÇÃO
Embora a transferência de embriões seja uma técnica amplamente empregada em todo o mundo, com
mais de 500 mil embriões transferidos por ano, a variabilidade da resposta ao tratamento superovulatório
ainda é uma importante limitação (20). Maiores conhecimentos da função ovariana, recentemente adquiridos
pela ultra-sonografia, possibilitam controlar o desenvolvimento folicular e a ovulação. Recentes protocolos,
que controlam a função folicular e luteínica, permitem iniciar o tratamento superovulatório e a sincronização
das receptoras em momento predeterminado. O objetivo desse artigo é revisar esses protocolos e discutir
seu impacto e aplicação em programas de transferência de embriões, com destaque especial na América do
Sul.
SINCRONIZAÇÃO DO ESTRO E DA OVULAÇÃO
A Prostaglandina F2α tem sido o tratamento mais empregado para a sincronização do estro em bovi-
nos (revisado no artigo 64). Estudos anteriores mostraram que a maturidade do CL no momento da aplica-
ção de PGF influenciou a resposta luteolítica e que a PGF não induziu efetiva luteólise durante 5 a 6 dias após
o estro (63). Além disso, em vacas que ocorreu a luteólise, o estro foi detectado ao longo de 6 dias (45).
Estudos recentes mostraram que o intervalo entre o tratamento com PGF e a manifestação do estro é deter-
minado pelo estágio de desenvolvimento do folículo dominante no momento do tratamento (37). Se a PGF
for administrada quando o folículo dominante estiver na fase final de crescimento ou no início da fase estática,
a ovulação ocorrerá em 3 a 4 dias. Por outro lado, se o tratamento com PGF for realizado no momento em
que o folículo dominante estiver no meio ou no final da fase estática, a ovulação do folículo dominante da
próxima onda de crescimento folicular ocorrerá após 5 a 7 dias (37). Esse intervalo é reflexo do tempo
necessário para que o folículo dominante da nova onda cresça e se desenvolva até o estágio pré-ovulatório
e enfatiza a necessidade do controle folicular e luteínico para a obtenção de altas taxas de prenhez em
programas de IA e TE em tempo fixo, sem a necessidade de detecção do estro.
Geralmente, os tratamentos usados para a sincronização de receptoras consistem na administração de
duas doses de PGF com intervalos de 11 a 14 dias (22). Se todas as receptoras estiverem ciclando, em torno
de 80% delas apresentarão sinais de estro 5 dias após o tratamento. Entretanto, devido a baixa acurácia na
detecção do estro, apenas 50% das receptoras tratadas serão detectadas em cio, apresentarão CL e rece-
berão um embrião 7 dias após o estro (20). Essa situação pode apresentar maiores comprometimentos se as
receptoras utilizadas forem Bos indicus ou cruza Bos indicus criadas a pasto. A tabela 1 exemplifica taxas de
aproveitamento das receptoras em programas comerciais de transferência de embriões no Brasil e na Bolívia.
A taxa total de prenhez foi em torno de 13% devido ao baixo número de receptoras detectadas em estro e/
ou que apresentavam CL no momento da transferência dos embriões (Burry, comunicação pessoal, citado
em 20). Essa ineficiência afeta sobremaneira a viabilidade desses programas em receptoras criadas a pasto
na América do Sul.
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TRATAMENTOS HORMONAIS PARA O CONTROLE DA EMERGÊNCIA DA ONDA DE CRES-
CIMENTO FOLICULAR E DA SINCRONIZAÇÃO DA OVULAÇÃO
GnRH
Tem sido demonstrado que a administração de GnRH induz a ovulação ou a luteinização do folículo
dominante presente no momento do tratamento (46). Várias pesquisas foram realizadas para tentar desen-
volver protocolos que empregam GnRH e PGF para inseminação artificial em tempo fixo em bovinos de leite
e de corte (65, 66, 69, 71, 74). Esse protocolo é conhecido como tratamento “Ovsynch” (66) e consiste na
administração de GnRH seguido de PGF 7 dias após, um segundo tratamento com GnRH 48 horas após a
PGF e a inseminação artificial em tempo fixo 16 horas depois. A administração de GnRH induzirá um pico de
LH, resultando na ovulação ou luteinização do folículo dominante e emergência de uma nova onda de cres-
cimento folicular nos próximos 2 dias. A administração de PGF 7 dias após o primeiro GnRH induz a
luteólise e o segundo GnRH promove outro pico de LH e sincroniza a ovulação do novo folículo dominante.
Outros autores utilizaram um protocolo similar em bovinos de corte com intervalo de 6 dias entre a primeira
administração de GnRH e o tratamento com PGF (55, 80).
O protocolo “Ovsynch” tem sido mais eficiente em vacas que em novilhas (66,55). Resultados de
recentes estudos confirmaramque o tratamento com GnRH nem sempre induz a ovulação ou a luteinização
do folículo dominante em novilhas. Verificou-se também, que a emergência da nova onda de crescimento
folicular é sincronizada somente quando o tratamento causa ovulação (54). Consequentemente, a ovulação
ao segundo GnRH pode apresentar comprometimentos se o tratamento com o primeiro GnRH não sincroni-
zar a emergência da nova onda de crescimento folicular. Ainda, foi verificado que algumas novilhas podem
manifestar sinais de estro antes do tratamento com o segundo GnRH. A prevenção de ovulações precoces
pode ser alcançada pela adição de um CIDR-B (Pfizer Animal Health) por 7 dias durante o protocolo
“Ovsynch”, verificando aumento significativo na taxa de prenhez em novilhas inseminadas em tempo fixo
(55).
O protocolo “Ovsynch” também tem sido utilizado para sincronizar a ovulação em receptoras de
embriões produzidos in vivo (5, 36, 84) ou in vitro (2). Em dois estudos, novilhas (5, 84) e vacas (84) Bos
indicus x Bos taurus foram tratadas com uma dose de PGF e submetidas a observação de estro por 5 dias
ou com o protocolo “Ovsynch” sem a detecção do estro. Sete dias após o estro (Grupo PGF) ou após a
segunda administração de GnRH (grupo Ovsynch), as receptoras que apresentavam CL detectado por ultra-
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sonografia (5) ou por palpação retal (84) foram selecionadas para a transferência de embrião. Todas as
receptoras selecionadas receberam por transferência direta um embrião descongelado. A taxa de prenhez foi
maior em receptoras tratadas com o protocolo “Ovsynch” (Tabela 2); nesse grupo um maior número de
receptoras foram inovuladas por não depender da detecção do estro. É também digno de nota que em um
dos estudos (5), 53,7% das novilhas tratadas com PGF foram detectadas em estro, reflexo da dificuldade de
observação de cio em Bos indicus, confirmando a informação anteriormente mencionada nesse artigo (27).
Em outro estudo (10, 36), 499 vacas lactantes cruza Bos taurus (28 a 92 dias pós parto) foram
divididas em 3 grupos experimentais. As vacas do grupo controle foram tratadas com GnRH no dia 0, PGF
no dia 7 e o estro foi detectado pelo sistema “Heat Watch” (GnRH + PGF). As vacas dos outros 2 grupos
foram tratadas somente com o protocolo “Ovsynch” (Ovsynch) ou com o protocolo “Ovsynch” associado a
um implante de norgestomet (SMB, Syncro-Mate-B, Merial) por 7 dias (Ovsynch + P4) e não foram sub-
metidas a observação de estro. Seis a 8 dias após o estro (Grupo GnRH + PGF) ou sete dias após a segunda
administração de GnRH (Grupo Ovsynch e Ovsynch + P4) as vacas foram examinadas por palpação retal e
aquelas que apresentavam CL receberam por transferência direta um embrião descongelado grau 1 ou 2.
Apesar da taxa de concepção (receptoras prenhas/receptoras inovuladas) ter apresentado uma tendência
(P<0,07) de melhores resultados nas vacas do grupo GnRH + PGF, a taxa de prenhez total não diferiu
significativamente entre os grupos, principalmente pelo maior numero de receptoras (P< 0,01) selecionadas
para transferência de embrião nos grupos Ovsynch e Ovsynch + P4 (Tabela 3). Os mesmos pesquisadores
também fizeram experimentos a campo envolvendo 1637 receptoras tratadas com protocolo “Ovsynch”
associado a um implante auricular SMB ou a um dispositivo intravaginal CIDR-B sem a detecção do estro,
obtendo taxa de prenhez total de 59,9% (12). Resumidamente, os resultados desses estudos indicaram que
aceitáveis taxas de prenhez podem ser obtidas quando embriões são transferidos para receptoras submeti-
das à sincronização da ovulação sem a necessidade de detecção do estro. Na figura 1 está descrito o
protocolo.
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Figura 1. Protocolo “Ovsynch” ou “Ovsynch” associado a um dispositivo de progestágeno/progesterona
(Ovsynch+P4) para TETF em fêmeas bovinas. O protocolo “Ovsynch” consiste na aplicação de
GnRH no dia 0, seguido pela administração de PGF no dia 7 e uma segunda aplicação de GnRH
no dia 9. No tratamento “Ovsynch” + P4, um implante de progestágeno ou um dispositivo liberador
de progesterona é inserido no dia 0 e removido no dia 7. Não é efetuada a detecção do estro e a
inovulação é realizada no dia 16 (receptoras que apresentem CL).
Progesterona
Estudos realizados para avaliar diferentes protocolos a base de progestágenos/progesterona mostra-
ram que tratamentos longos para regressão espontânea do CL (≥14 d), sincronizam o estro. No entanto,
esses tratamentos levam à formação de folículos dominantes de maior tamanho (persistentes; 29, 40, 70, 73)
e de reduzida fertilidade (68, 83). A baixa fertilidade é atribuída a maturação espontânea do oócito (quebra
da vesícula germinativa e expansão do cúmulus) presente no folículo persistente (67). Tratamentos que indu-
zem a regressão do folículo persistente e levam à emergência de uma nova onda de crescimento folicular
melhoraram as taxas de prenhez em programas de IA (38, 43). Baseado nos resultados de um estudo
anterior acreditava-se que, o folículo persistente não afetava a qualidade do CL e a taxa de concepção em
receptoras (81). No entanto, nesse estudo as taxas de prenhez foram baixas (em torno de 30% em todos os
tratamentos). Entretanto, resultados de um recente estudo indicaram que um CL de maior tamanho, origina-
do de um folículo persistente, diminui as taxas de concepção (49).
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Progesterona e estrógeno
Nos últimos anos, o tratamento com estrógeno e progestágeno/progesterona tem sido cada vez mais
empregado em programas de sincronização do estro em bovinos de leite e de corte (48, 18, 28, 38, 55). O
tratamento consiste na inserção de um dispositivo contendo progestágeno/progesterona e na administração
de estrógeno e progestágeno/progesterona no dia 0 (para emergência de uma nova onda de crescimento
folicular e prevenção de folículos persistentes), de PGF no momento da retirada do dispositivo nos dias 7, 8
ou 9 (indução da luteólise), e subseqüente aplicação de reduzida dose de estradiol após 24 h (30) ou de
GnRH/LH após 48 a 54 h (18, 55) para sincronização da ovulação. As taxas de prenhez à IATF mostraram-
se similares às da IA com detecção de estro (38).
Uma série de experimentos foram realizados para avaliar o emprego de protocolos a base de estrógeno
e progesterona para IATF na sincronização de receptoras para transferência de embriões em tempo fixo. Em
um experimento (77), as vacas do grupo estrógeno/progesterona receberam um dispositivo intravaginal con-
tendo progesterona CIDR-B, associado a 2 mg de benzoato de estradiol e 50 mg de progesterona im no dia
0, PGF no momento da remoção do CIDR-B no dia 7 e 1 mg de BE no dia 8. Não observou-se estro e o dia
9 foi considerado o dia do estro. As vacas do grupo controle foram tratadas com 2 doses de PGF com 14
dias de intervalo e submetidas a observação de cio por 5 dias. Sete dias após o estro (grupo PGF) ou o dia
esperado do estro (grupo CIDR-B), todos os animais que apresentavam um CL (> 15 mm estimado por
palpação retal) receberam por transferência direta um embrião descongelado. As taxas de prenhez (receptoras
prenhas/receptoras tratadas) não diferiram entre os tratamentos (PGF: 32,0% vs CIDR-B: 37%; P>0,6).
Estes resultados foram confirmados em outros 2 experimentos nos quais não observou-se diferença entre
receptoras tratadas com CIDR-B por 7 ou 8 dias (19) e DIB (Syntex, Argentina) por 8 dias (19).
Apesar do uso de estrógeno e progestágeno/progesterona ter eliminado a detecção do cio, as taxas de
prenhez mantiveram-se em torno de 20 a 35%, necessitando serem aumentadas (20). Assim, 2 estudos
foram realizados para verificar se o momento da administração de PGF no protocolo a base de estrógeno e
progestágeno/progesterona afetaria o número de receptoras selecionadas para TE. As vacas foram tratadas
com dispositivo intravaginal contendo progesterona (DIB) associado a 2 mg de BE e 50 mg de P4 im no dia
0, e foram divididas homogeneamente para receberem PGF no dia4 (dia esperado da emergência da nova
onda de crescimento folicular) ou no dia 8 (momento da retirada do DIB). No dia 9, todas as vacas recebe-
ram 1 mg de BE im e o dia 10 foi considerado o dia do estro. As receptoras que apresentaram um CL ≥ 12
mm de diâmetro no dia 17 receberam um embrião. No primeiro experimento, o desenvolvimento folicular foi
monitorado por ultra-sonografia diária. A aplicação de PGF no momento da emergência folicular (Dia 4),
comparada à aplicação de PGF no momento da retirada do dispositivo contendo progesterona (Dia 8),
aumentou o diâmetro do folículo dominante (13,2±0,2 vs. 11,5±0,2 mm; P<0,05); antecipou o momento da
ovulação (66,6±0,4 vs 70,8±2,3 h; P<0,01) e aumentou a concentração plasmática de progesterona no dia
da inovulação (6,9±0,8 vs 5,2±0,6 ng/ml; P=0,08; 57). No segundo experimento, o tratamento com PGF no
dia 4 aumentou a proporção de receptoras selecionadas para TE (70,5%; P<0,02) e a taxa de concepção
(41,1%; P<0,004) comparado ao tratamento com PGF no dia 8 (52,7% e 21,5%, respectivamente). Além
disso, foi colhida uma amostra de sangue em um grupo de animais e o tratamento com PGF no dia 4 (6,8±0,7
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ng/ml; n=43) aumentou a concentração plasmática de progesterona, comparado ao tratamento com PGF no
dia 8 (4,0±0,4 ng/ml; n=27; P=0,008).
Tratamentos com eCG para aumentar a concentração plasmática de progesterona e a taxa de
prenhez
Diversos estudos relacionaram as taxas de concepção com as concentrações plasmáticas de progesterona
em bovinos (revisado em 74). No entanto, a suplementação com progesterona tem apresentado resultados
inconsistentes na taxa de concepção. A inserção de uma dispositivo intravaginal de progeterona CIDR-B no
momento da TE aumentou 12,8% na taxa de concepção de receptoras cíclicas em lactação (47). Entretanto,
nosso grupo não foi capaz de demonstrar nenhum benefício do CIDR-B em receptoras novilhas e vacas de
leite, e em novilhas cruza Bos indicus (76). Bousquet (comunicação pessoal) foi capaz de verificar efeito
benéfico da suplementação com P4 após a TE somente em embriões de baixa qualidade, e Fuentes (32)
relatou aumento nas taxas de concepção somente quando o PRID foi inserido em novilhas que apresentavam
CL de tamanho reduzido. Em um estudo mais recente a inserção de um CIDR-B do dia 7 ao dia 20 do ciclo
estral não resultou em aumento significativo da concentração plasmática de P4 em novilhas (52). Uma alter-
nativa para o aumento das concentrações plasmáticas de P4 pode ser a formação de um CL acessório pela
indução da ovulação do folículo dominate com hCG ou pela inserção do implante de deslorelina no dia 5 do
ciclo estral (revisado em 74). Em receptoras Bos indicus o tratamento com hCG no dia 7 aumentou a
concentração plasmática de P4 (52) e os tratamentos com GnRH, hCG, pLH ou CIDR-B aumentaram as
taxas de concepção. Levando todos os trabalhos em consideração, os efeitos benéficos da maior concentra-
ção de P4 parecem ser evidentes apenas quando as taxas de concepção das receptoras controle (não
tratadas) foram menores que o esperado, sugerindo que o escore de condição corporal, ciclicidade e/ou
qualidade o embrião podem ser fatores que contribuem na eficiência dos programas de TE.
Outra estratégia para aumentar as concentrações circulantes de progesterona em receptoras é a indução
de múltiplas ovulações pela administração de eCG durante o protocolo de sincronização. Fuentes e de la
Fuente (33) foram os primeiros a reportar que o tratamento com 1000UI de eCG no dia 4 do tratamento
com PRID por 6,5 dias e com 17β estradiol em novilhas Holandesas resultou em múltiplos CLs (2 a 5 por
ovário), maior (P<0,05) número de receptoras selecionadas para TE (89,7%) e maior taxa de prenhez
(58,6%) quando comparados às novilhas sincronizadas com o mesmo tratamento sem eCG (49,1% e 22,2%,
respectivamente). As receptoras tratadas com dose única de PGF (44,8% e 19,0%, respectivamente) ou
que receberam um embrião 7 dias após o cio natural (50,0% e 28,8%, respectivamente) também apresenta-
ram menor eficiência. Em outro estudo (6), novilhas Bos taurus x Bos indicus foram tratadas com CIDR-B
por 7,5 dias, combinado com 2mg de BE e 50mg de P4 im no dia 0. Metade das novilhas receberam 800UI
de eCG no dia 5 e todas novilhas receberam PGF no dia 7 e 1 mg de BE im no dia 8. Todos animais foram
examinados por ultra-sonografia 1 dia antes da TE e uma amostra de sangue foi colhida para determinação
da concentração plasmática de P4. Os resultados mostrados na Tabela 4 revelaram que o tratamento com
eCG aumentou o número de ovulações (número de CL), a concentração plasmática de P4 e a taxa de
prenhez.
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É também digno de nota que, considerando apenas as receptoras com 1 CL, a área do CL (P<0,01)
e a concentração plasmática de P4 (P=0,1) também foram maiores nas novilhas tratadas com eCG (2,9 ±
0,6 cm2 e 2,3±1,6 ng/mL; n=8), que nas não tratadas com eCG (2,2±0,5 cm2 e 1,3±0,8 ng/mL; n=17).
Um posterior estudo foi realizado para avaliar se uma menor dose de eCG também poderia aumentar
as taxas de prenhez em receptoras inovuladas em tempo fixo. Vacas Bos taurus x Bos indicus foram tratadas
com DIB combinado com 2mg de BE e 50mg de P4 im no dia 0. Metade das vacas receberam 400UI de
eCG im e todas receberam PGF no dia 5. O DIB foi retirado no dia 8 e 1mg de BE im foi administrado no dia
9. Todas as vacas foram examinadas por ultra-sonografia um dia antes da TE. Embora esse tratamento não
tenha resultado em muitas múltiplas ovulações como nos estudos anteriores, o tratamento com eCG aumen-
tou o diâmetro do CL e as taxas de prenhez (Tabela 5). Em uma amostra de 55 receptoras inovuladas
colheu-se sangue para determinação das concentrações plasmática de P4. A concentração plasmática de P4
em receptoras tratadas com eCG que apresentaram 2 ou 3 CLs (30,2±8,2 ng/mL; n=8) ou apenas 1 CL no
momento da TE (7,5±0,7 ng/mL; n=18) foi significativamente maior (P<0,01) que nas receptoras não trata-
das com eCG (5,7±0,4 ng/mL; n=29).
Em outro experimento, nosso grupo de pesquisa comparou as taxas de prenhez de vacas tratadas com
DIB e BE e foi induzida a ovulação com BE ou hCG (58). Foram utilizadas vacas de corte Bos taurus x Bos
indicus com escore de condição corporal entre 2,5 e 3,5 (escala 1 a 5). No início de cada réplica (Dia 0)
todos os animais receberam um DIB e 2 mg de BE associado a 50 mg de P4 im. No dia 5 todas as vacas
foram tratadas com 400 UI de eCG e 500 µg de cloprostenol (Estroplan, Syntex), e o DIB foi removido no
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dia 8. Os animais foram divididos aleatoriamente para receberem 1 mg de BE im no dia 9ou 1500 UI de hCG
(Ovusyn, Syntex Argentina) no dia 10. Como em outros experimentos, as receptoras não foram submetidas
a observação de estro. No dia 17, todas as receptoras foram examinadas por ultra-sonografia e as que
apresentavam CL > 12 mm de diâmetro receberam por transferência direta um embrião fresco ou desconge-
lado. O diâmetro do CL no dia 17 foi semelhante entre as receptoras tratadas com BE (21,1±0,6 mm) ou
hCG (21,3±0,5 mm). Não observou-se efeito do embrião (fresco ou descongelado), da qualidade do em-
brião ou do técnico sobre as taxas de prenhez (P>0,4). Além disso, as taxas de prenhez foram semelhantes
entre as receptoras tratadas com BE e hCG (Tabela 6; P>0,09). Concluiu-se que os 2 tratamentos avaliados
apresentam eficiência semelhante na sincronização de receptoras Bos taurus x Bos indicus.
Apesar de estudos anteriores terem demostrado a eficiência desse protocolo, os animais são maneja-
dos por, no mínimo, 4 vezes durante o tratamento. Dessa forma, um estudo recente foi realizado para tentar
simplificar o protocolo, reduzindo o número de dias ou de injeções durante o tratamento. O primeiro objetivo
foi comparar as taxas de prenhez em receptoras tratadas com DIB e 400 UI de eCG no dia 5 (1 dia após a
emergência da nova onda de crescimento folicular) ou no dia 8 (momentoda retirada do DIB, 61). O
segundo objetivo foi determinar o efeito da P4 injetável, administrada im no momento da inserção do disposi-
tivo e da administração de BE, sobre os mesmos parâmetros. Novilhas Bos taurus x Bos indicus foram
divididas homogeneamente em 4 tratamentos em um arranjo fatorial 2 por 2. Todos as novilhas receberam
um DIB e 2 mg de BE im no dia 0, com ou sem a administração de 50 mg de P4. As novilhas foram tratadas
com 150 µg D (-) cloprostenol im e 400 UI de eCG im no dia 5 ou no dia 8. O DIB foi removido no dia 8 e
administrou-se 1 mg de BE em todos os animais. No dia 17, todas as novilhas foram examinadas por ultra-
sonografia para determinação da quantidade de CL e as receptoras com mais de 1 CL ou CL único com
diâmetro ≥ 18 mm foram inovuladas com um embrião produzido in vitro por transferência não cirúrgica pelo
mesmo veterinário. A proporção de receptoras inovuladas/tratadas (P=0,15) e prenhas/inovuladas (P=0,23)
foram semelhantes. No entanto, a taxa de prenhez (receptoras prenhas/tratadas) apresentou tendência (P=0,1)
de melhores resultados em novilhas tratadas com eCG no dia 5 que nas tratadas com eCG no dia 8. Não
verificou-se efeito da P4 injetável em nenhum dos parâmetro avaliados (Tabela 7).
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Um grupo de 154 receptoras foi selecionado e foram colhidas amostras de sangue para determinação
da concentração plasmática de progesterona. O tratamento com eCG no dia 5 resultou em maior número de
CL (1,4±0,1) e maior concentração plasmática de progesterona (2,4±0,3 ng/ml) no dia 17 (dia da TE) que
em novilhas tratadas com eCG no dia 8 (1,1±0,1 CL e 1,7±0,2 ng/ml). Não se verificou efeito da P4
injetável em nenhum dos parâmetros avaliados.
Os resultados sugerem que a o tratamento com eCG no dia 5 aumenta o número de CL, a concentra-
ção plasmática de progesterona e tende a aumentar a taxa de prenhez em receptoras de embrião bovino
sincronizadas com DIB e BE e inovuladas em tempo fixo. Estes resultados foram confirmados em um poste-
rior estudo comparando diferentes doses de eCG administradas no dia 5 ou no dia 8. Não se verificou efeito
da dose de eCG (400 UI vs 500 UI vs 600 UI) nas taxa de prenhez. No entanto, como demonstrado na
Tabela 8, o tratamento com eCG no dia 5 apresentou maiores taxas de prenhez que o tratamento com eCG
no dia 8.
Assim como existem diversos estudos relatando satisfatórias taxas de prenhez em receptoras sincroni-
zadas com dispositivos de progesterona/progestágeno (42, 44, 58), como os descritos na presente revisão,
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existem relatos de reduzidas taxas de prenhez (41, 75, 82). A razão para essa divergência ainda não é clara,
no entanto, relatou-se que a expressão do estro foi maior em animais tratados com progestágenos que em
animais tratados com PGF (82). Pelo menos um estudo em vacas de corte lactantes revelou que aproxima-
damente 50% dos animais estavam em anestro; assim o tratamento com estradiol e progesterona pode
induzir o estro e a ovulação em vacas que não tenham um adequado período pós-parto ou inadequada
condição corporal, levando a reduzidas taxas de prenhez (75). Isso pode explicar a diferença entre os grupos
controle (sem eCG) nos primeiros experimentos discutidos nesse capítulo. Embora tenham sido utilizados
animais Bos taurus x Bos indicus em ambos os experimentos, é possível que as novilhas do primeiro expe-
rimento (6) não apresentassem condição corporal satisfatória como no segundo experimento (78). Esses
resultados enfatizam a importância do uso de vacas ou novilhas cíclicas em boa condição corporal como
receptoras de embriões. De 842 receptoras sincronizadas com estrógeno/progesterona e eCG em um pro-
grama comercial de TE, 709 (84,2%) receberam um embrião pelo método não cirúrgico e 392 (46,6%)
ficaram gestantes. Considerando que um dos maiores custos em programas de TE é a alimentação das
receptoras até tornarem-se gestantes (36), um protocolo com 45 a 50% de taxa de prenhez parece ser
adequado e de satisfatória relação custo/benefício, especialmente considerando que este tratamento também
elimina a necessidade de detecção do estro. Na figura 2 está descrito o protocolo recomendado.
Figura 2. Protocolo para transferência de embrião em tempo fixo em bovinos. O tratamento consiste na
inserção de um dispositivo liberador de progesterona e 2 mg de BE im no dia 0, PGF e 400 UI de
eCG no dia 5, remoção do dispositivo no dia 8, e BE no dia 9. Não é efetuada a detecção do estro
e a TE é realizada no dia 17.
MANIPULAÇÃO DA ONDA DE CRESCIMENTO FOLICULAR PARA SUPEROVULAÇÃO
O protocolo convencional de superestimulação ovariana no diestro foi baseado originalmente em in-
formações empíricas e experimentais nas quais se verificou maior resposta superovulatória quando o trata-
mento foi iniciado 8 a12 dias após o estro (revisado em 15). No entanto, nenhum desses estudos anteriores
avaliou o status folicular no início dos tratamentos superovulatórios. Isso foi devido, principalmente, às
dificuldades encontradas por muitos grupos de pesquisa de monitorar o desenvolvimento folicular por ultra-
sonografia nos estágios iniciais de desenvolvimento por não possuírem o equipamento.
Através das informações geradas pela ultra-sonografia, sabe-se que 8 a 12 dias após o estro (7 a 11
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Acta Scientiae Veterinariae 32(Suplemento), 2004
dias após a ovulação) pode ser, aproximadamente, o dia da emergência da segunda onda de crescimento
folicular em ciclos de 2 ou 3 ondas (34), podendo um grupo de folículos em crescimento estar presente nesse
período. No entanto, o dia da emergência da segunda onda de crescimento folicular tem se mostrado dife-
rente em ciclos de 2 ou 3 ondas (1 a 2 dias antes em ciclos de 3 ondas), assim como apresenta diferenças
individuais (34). Dessa forma, mostrou-se claramente que a resposta superovulatória foi maior quando o
tratamento foi iniciado no momento da emergência da onda de crescimento folicular que quando iniciado
mais tarde (1,60). O início do tratamento apenas 1 dia após a emergência da onda reduziu significativamente
a resposta superovulatória comparada a tratamentos no dia da emergência da onda de crescimento folicular
(1,60).
A probabilidade do folículo dominante não ser funcional (fase estática final ou de regressão), baseada
na duração das fases de crescimento do folículo dominante durante o ciclo estral é de, aproximadamente,
30% (6 de 20 d) para novilhas com duas ondas e de 35% (8 de 23 d) para novilhas com 3 ondas. Ainda,
apenas 20% (4 ou 5 d) dos dias do ciclo estral são adequados para o iniciar o tratamento superovulatório no
momento da emergência da onda de crescimento folicular. Assim, 80% do ciclo estral não é apropriado para
obtenção de ótima resposta superovulatória. A necessidade de se esperar até a metade do ciclo estral para
iniciar o tratamento superovulatório implica na monitoração do estro e em obrigatório atraso. Para eliminar
esses problemas, uma alternativa é iniciar o tratamento superovulatório após o controle exógeno da emer-
gência da onda de crescimento folicular.
Um estratégia para controlar a dinâmica folicular é a ablação transvaginal guiada por ultra-sonografia
de todos folículos ≥ 5 mm para emergência de uma nova onda de crescimento folicular sincronizada em dia
aleatório do ciclo estral, seguida do tratamento com FSH (Folltropin-V, Bioniche Animal Health, Canada) 1
dia após a ablação e com PGF 48 h após o início do tratamento com FSH (14, Tabela 9). Foi demonstrado
que o momento do estro pôde ser controlado mais precisamente quando foi inserido um dispositivo contendo
progesterona/progetágeno durante a superovulação e quando foram administradas 2 aplicações de PGF no
dia da remoção do dispositivo. As novilhas que não foram submetidas à ablação foram tratadas com FSH 8
a 12 d após o estro e com PGF 48 h após. Combinando os dois experimentos, não se observou diferença na
resposta superovulatória entre os grupos submetidos à ablação e os grupos controle (não submetidosà
ablação). Em outros experimentos, a ablação transvaginal guiada por ultra-sonografia de todos os folículos
(35) ou apenas do folículo dominante (23, 35, 39) dois dias antes da superovulação (no meio do diestro),
apresentou maior resposta superovulatória que em doadoras não submetidas à ablação do folículo dominan-
te (Tabela 9). Em um estudo retrospectivo de respostas superovulatórias em vacas de leite, a ablação folicular
resultou em maior número de estruturas colhidas, mas semelhante número de embriões transferíveis que
vacas superovuladas 7 a 13 d após o estro (72; Tabela 9). Em um estudo recente, a ablação dos 2 maiores
folículos em dia aleatório do ciclo estral foi tão eficiente na sincronização da emergência da onda de cresci-
mento folicular para superovulação quanto a ablação de todos os folículos ≥ 5 mm, eliminando a necessidade
de determinar qual folículo é o dominante (3).
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Acta Scientiae Veterinariae 32(Suplemento), 2004
Outra maneira de sincronizar a emergência da onda de crescimento folicular para superovulação envol-
ve o uso de GnRH ou LH suíno (LHp). No entanto, os relatos de dispersão na emergência da onda de
crescimento folicular (de 3 dias antes a 5 dias depois do tratamento) sugerem que este método não deve ser
empregado para a superovulação (54). Apesar da grande distribuição nos dias de emergência da onda de
crescimento folicular relatada nesse estudo (54), a nova onda emergiu 3 d após o tratamento em 44 das 54
(81%) novilhas. De fato, em um estudo envolvendo 3 diferentes experimentos (31), o tratamento com GnRH
ou LH apresentou resultados consistentes quanto ao baixo número de embriões colhidos comparados aos do
tratamento com 17β estradiol e progesterona ou ablação folicular para a emergência da onda de crescimento
folicular. Desse modo, não recomendamos esta técnica para a sincronização da emergência da onda de
crescimento folicular para a superovulação de bovinos.
Nossa técnica preferencial para a sincronização da onda de crescimento folicular para a superovulação
envolve o tratamento com 17β estradiol e P4 im no momento da inserção do dispositivo contendo progesterona/
progestágeno, seguido pelo tratamento com FSH 4 dias após (16). Resultados de experimentos (revisado
em 15) e de programas comerciais de superovulação (17,62) têm demonstrado que a resposta superovulatória
de doadoras tratadas com 17β estradiol e P4 em dia aleatório do ciclo estral é semelhante ou melhor que
doadoras superovuladas 8 a 12 d após a detecção do estro (20,62).
O 17β-estradiol não é permitido para o uso comercial em alguns países. Dessa forma, nosso grupo de
pesquisa investigou a possibilidade do uso de outros ésteres de estrógenos como o BE ou valerato de
estradiol. O tratamento com 2,5 mg de BE e 50 mg de P4 no momento da inserção do CIDR-B induziu a
emergência de uma nova onda de crescimento folicular sincronizada 3 a 4 dias após o tratamento (24). A
superovulação iniciada 4 dias após o tratamento com 2,5 mg de BE e 50 mg de P4 resultou em respostas
semelhantes àquelas iniciadas 4 dias após o tratamento com 5 mg (25) ou com 2,5 mg (26) de 17β-estradiol
associados a 50 mg de P4 (Figura 3 e Tabela 10) ou àquelas iniciadas 8 a 12 d após o estro (56). O
tratamento com 5 mg de valerato de estradiol e 3mg de norgestomet apresentou menor sincronização da
emergência da onda de crescimento folicular e menor resposta superovulatória que o tratamento com 5 mg
de 17β-estradiol e 100 mg de P4 em vacas com dois implantes SMB (50). No entanto, menores doses de
valerato de estradiol têm sido investigadas e doses de 1 ou 2 mg resultaram na emergência da onda folicular
após 3 a 4 dias, com baixa variabilidade (51). Estes resultados sugerem que menores doses podem ser
usadas na sincronização da emergência da onda de crescimento folicular para a superovulação. Mais estudos
são necessários para confirmar esses resultados.
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Acta Scientiae Veterinariae 32(Suplemento), 2004
Figura 3. Protocolo para superovulação de doadoras com benzoato de estradiol (BE) e dispositivo conten-
do progesterona. O tratamento consiste na inserção de um dispositivo contendo progesterona e a
aplicação de benzoato de estradiol e progesterona im no dia 0. O tratamento superovulatório tem
início no dia 4, com duas aplicações diárias de FSH por 4 dias. As doadoras são tratadas com
PGF na manhã e na tarde do dia 6 e o dispositivo contendo progesterona é removido no momento
da segunda aplicação de PGF. Os animais são inseminados artificialmente 12 e 24 h após a detecção
do cio ou 48 e 60 h após a remoção do dispositivo contendo progesterona. Os embriões são
colhidos no dia 15.
Estes estudos demonstraram que o controle exógeno da emergência da onda folicular oferece a vanta-
gem de iniciar o tratamento superovulatório no momento mais adequado (recrutamento folicular), indepen-
dentemente do estágio do ciclo estral. O tratamento é prático, simples de executar pelos funcionários da
fazenda e, mais importante, não necessita da detecção do estro e da ovulação para aguardar o início do
tratamento gonadotrófico 8 a 12 d após. A sincronização da emergência da onda de crescimento folicular
pela ablação folicular ou pelo tratamento com estrógeno/progesterona tem apresentado semelhantes respos-
tas superovulatórias (3,11,15).
É digno de nota que em estudos envolvendo superovulação no momento da emergência folicular, a
reposta à aplicação única de FSH não foi diferente da resposta a múltiplas aplicações (14,16). Os níveis
basais de FSH são responsáveis pela prevenção da emergência de uma nova onda folicular (13); a adminis-
tração de FSH durante esse período pode levar ao crescimento de pequenos folículos anterior ao dia espe-
rado da emergência da nova onda de crescimento folicular (os efeitos da supressão pelo folículo dominante
são diminuídos pelo FSH). Isso pode explicar como maiores doses de FSH exógeno em esquemas
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superovulatórios convencionais podem suprimir o ritmo endógeno e mascarar o efeito da onda na resposta
ovariana. Se o tratamento superovulatório for administrado por um longo período, o recrutamento folicular
será evidente, independente do estágio de desenvolvimento folicular no momento do tratamento gonadotrófico.
No entanto, o recrutamento dessincronizado pode resultar em maior variabilidade na resposta folicular e na
qualidade dos embriões colhidos (16,62).
Estudos recentes, principalmente realizados no Brasil, têm sido elaborados para o desenvolvimento de
protocolos de superovulação que possibilitem a IA em tempo fixo em bovinos da raça Nelore (4, 7, 9). Um
dos tratamentos usados rotineiramente para superovulação de doadoras com IA em tempo fixo é semelhante
ao tratamento descrito anteriormente, exceto pelo fato do dispositivo intravaginal contendo progesterona ser
removido na manhã ou tarde do dia 7 (Dia 7 manhã e Dia 7 tarde; Tabela 11; 85). Todas as doadoras
também recebem 25 mg de LHp (Lutropin-V, Bioniche Animal Health) ou uma dose de GnRH na manhã do
dia 8 e são submetidas à IATF 12 e 24 h após. Não verificou-se diferença quando o dispositivo de progesterona
foi removido no dia 7 pela manhã ou no dia 7 pela tarde (Tabela 11 e Figura 4) em vacas Nelore.
Figura 4. Protocolo para superovulação com inseminação artificial em tempo fixo em vacas Nelore. O trata-
mento consiste na inserção de um dispositivo contendo progesterona e na aplicação de benzoato
de estradiol (BE) e progesterona (P4) im no dia 0. Inicia-se o tratamento superovulatório no dia 4,
com duas aplicações diárias de FSH por 4 dias. As doadoras são tratadas com PGF na manhã e
na tarde do dia 6 e o dispositivo contendo progesterona é removido no momento da última aplica-
ção de FSH, na tarde do dia 7. Os animais recebem pLH ou GnRH na manhã do dia 8 e são
inseminados artificialmente 12 e 24 h após, sem a detecção do cio. Os embriões são colhidos no
dia 15.
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Resultados preliminares de um experimento em andamento feito em vacas Holandesassugerem que
são necessárias, pelo menos, 24 h de intervalo entre a retirada do dispositivo de progesterona/progestágeno
e o tratamento com LHp ou GnRH (Rodrigues, comunicação pessoal). Nesse experimento, 40 vacas Holan-
desas foram tratadas com 1 ou 2 Crestar associados a 3 mg de BE e 50 mg de P4 im no dia 0, o tratamento
com FSH foi iniciado no dia 4 e a PGF foi administrada na manhã e na tarde do dia 6. O Crestar foi removido
na tarde do dia 7 e o GnRH foi administrado na manhã do dia 8 (12 h) ou na tarde do dia 8 (24 h). Não
verificou-se diferença entre 1 e 2 Crestar. No entanto, o tratamento com GnRH 24 h após a retirada do
Crestar resultou em menor número de folículos anovulatórios (1,7±0,3) que quando o GnRH foi administra-
do 12 h após a retirada do Crestar (3,5±0,5). Esse resultado não resultou em aumento significativo do
número de embriões transferíveis, mas os números claramente favorecem o tratamento com GnRH 24 h após
a remoção do Crestar (GnRH 24 h: 4,2±1,3 vs GnRH 12 h: 2,7±0,8). Um maior número de vacas são
necessárias para se obter conclusões e recomendar o tratamento. Todavia, resultados de estudos atuais no
Brasil e na Argentina sugerem que diferentes protocolos podem ser empregados em animais Bos taurus : 1)
remoção do dispositivo de progesterona/progestágeno na tarde do dia 6 e observação de estro com IA 12
e 24 h após ou 48 e 60 h após a remoção do dispositivo (Figura 3); 2) remoção do dispositivo de progesterona/
progestágeno na manhã do dia 7 e administração de GnRH ou LHp na manhã do dia 8 com IA 12 e 24 h
após; ou 3) remoção do dispositivo na tarde do dia 7 e administração de GnRH ou LHp na tarde do dia 8
com IA 12 e 24 h após. Provavelmente a colheita dos embriões pode ser realizada a tarde (segunda e na
terceira alternativa), para evitar a colheita de mórulas iniciais, que não resistem bem ao processo de conge-
lação. Mais experimentos devem ser realizados para determinar o melhor protocolo para IA em tempo fixo
em doadoras Bos taurus.
Conclusões
A variabilidade da resposta continua a ser um dos maiores problemas associados aos programas de
sincronização do estro e superovulação em bovinos. A incorporação de técnicas para o controle da dinâmica
das ondas foliculares, como as discutidas nessa revisão, reduzirá a variabilidade ao tratamento de doadoras
em diferentes estágios do ciclo estral. Esquemas de sincronização de estro baseados tanto no controle luteínico
quanto no controle folicular do ciclo estral permitem a IA em tempo fixo e eliminam a necessidade de detecção
de estro em receptoras de embriões. Estudos realizados até o momento ainda não minimizaram adequada-
mente a variabilidade da resposta à superovulação, mas protocolos de sincronização da emergência da onda
de crescimento folicular oferecem a conveniência de se iniciar os tratamento mais rapidamente e em momento
pré determinado, sem a necessidade da detecção do estro e sem comprometimento dos resultados.
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Acta Scientiae Veterinariae 32(Suplemento), 2004
AVANÇOS EM TRATAMENTOS HORMONAIS PARA A INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL
COM TEMPO FIXO (IATF) EM BOVINOS DE CORTE
Ciro Moraes Barros e Ronaldo Luiz Ereno
Departamento de Farmacologia, Instituto de Biociências, UNESP,
Botucatu , São Paulo. cmbarros@ibb.unesp.br
RESUMO
A inseminação artificial (IA) é uma biotecnologia fundamental para o melhoramento genético do rebanho
bovino. Entretanto, a detecção do cio, a qual requer tempo e pessoal adequadamente treinado, continua a
ser um dos principais fatores limitantes para a ampla utilização da IA.
Nesta última década, a melhor compreensão da fisiologia do crescimento folicular ovariano permitiu o
desenvolvimento de tratamentos hormonais capazes de controlar o momento da ovulação e desta forma
possibilitou a utilização da inseminação artificial com tempo fixo (ou seja, IA com tempo pré-determinado,
sem a necessidade de observação do cio). Na América do Sul, principalmente no Brasil e Argentina, a
disponibilidade comercial de diversos hormônios esteróides e protéicos, tem permitido o desenvolvimento de
inúmeros protocolos hormonais visando a IATF. Nesta mini-revisão será dada ênfase a tratamentos hormonais
utilizados para a IATF de bovinos de corte, sobretudo vacas em anestro pós-parto.
INTRODUÇÃO
Os animais de raças zebuínas (sub-espécie Bos taurus indicus, Meirelles et al., 1999) constituem a
maior parte do rebanho bovino de corte em regiões de clima tropical, devido a sua maior adaptação aos
climas quentes, maior tolerância ao estresse térmico e resistência aos parasitos, em relação aos animais de
raças européias (sub-espécie Bos taurus taurus). No Brasil, entre as raças de corte, a Nelore é a que possui
o maior contingente numérico (100 milhões do total de 176 milhões de cabeças), sendo considerada o
alicerce da cadeia produtiva pecuária (ANUALPEC, 2002)
Há grande expectativa de crescimento da pecuária de corte no Brasil, não só pelo aumento do mercado
nacional, mas também pela inserção de nosso País no mercado mundial da carne bovina. No entanto, é
fundamental que se elevem os índices de produção e a eficiência reprodutiva do rebanho, para garantir maior
retorno econômico aos produtores.
A inseminação artificial pode trazer benefícios econômicos, a curto prazo, para a grande maioria dos
pecuaristas. Entretanto, a carência de pessoal treinado e deficiências básicas de manejo nas propriedades
têm limitado uma utilização mais ampla. Um dos principais fatores que determinam o sucesso de um programa
de inseminação artificial (IA) é a detecção do cio, a qual requer tempo e pessoal adequadamente treinado.
Barros C.M. & Ereno, R.L. 2004. Avanços em tratamentos hormonais para a inseminação artificial com tempo fixo (IATF) em
bovinos de corte. Acta Scientiae Veterinariae, 32 (Supl ): 23-34.
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Acta Scientiae Veterinariae 32(Suplemento), 2004
Em fêmeas zebuínas, a curta duração do estro (cerca de 11 horas) dificulta a detecção do mesmo e prejudica
a implantação de programas convencionais de IA (Barros et al., 1995, Pinheiro et al., 1998, Misuta, 2003).
A partir do conhecimento detalhado da dinâmica folicular (Pierson & Ginther, 1988; Savio et al.,
1988; Sirois & Fortune, 1988) tornou-se possível o desenvolvimento de tratamentos hormonais capazes de
regular o crescimento folicular e o momento da ovulação, de forma a viabilizar a inseminação artificial com
tempo fixo (IATF, ou seja, IA com tempo pré-determinado, sem a necessidade de observar cio) em taurinos
(Twagiramungu et al., 1992a,b;Thatcher et al., 1993; Pursley et al., 1994) e zebuínos (Barros et al., 1998,
2000; Fernandes et al., 2001).
O aperfeiçoamento e aplicação da IATF poderá incrementar a utilização da inseminação artificial e da
transferência de embriões e, conseqüentemente, contribuir para o melhoramento genético, eficiência reprodutiva
e produtividade do rebanho nacional.
Nesta mini-revisão será dada ênfase a tratamentos hormonais utilizados para a IATF de bovinos de
corte, sobretudo vacas em anestro pós-parto.
CICLO ESTRAL
O período entre dois estros consecutivos é denominado de ciclo estral e pode ser dividido em duas
fases principais: folicular e luteal. A fase folicular tem início após a luteólise induzida pela prostaglandina F2α
(PGF2α), com conseqüente queda nos níveis sangüíneos de progesterona (< 1 ng/ml) entre 12 e 36 horas
após o início da luteólise, seja ela natural ou induzida por PGF2α exógena (Dieleman et al.,1986). O incremento
na freqüência de pulsos de LH estimula o desenvolvimento do folículo dominante que secreta quantidades
crescentes de estradiol induzindo o comportamento estral ou cio (Mukasa-Mugerwa, 1989).
O cio é caracterizado pelo desejo sexual, onde a fêmea permite ser montada (Blockey, 1980; Esslemont
et al., 1980). A simples observação diária do comportamento sexual de vacas e novilhas permite a identificação
do cio, entretanto, a freqüência (2 a 4 vezes ao dia) e o tempo (15 a 60 minutos) dispendido nesta observação
influenciam na acurácia da detecção do cio (Vaca et al., 1985).
Nas raças européias (Bos taurus taurus ) o cio dura cerca de 16 a 18 horas e a ovulação ocorre, em
média, entre 28 e 30 horas após o início do cio (Escobedo et al.,1989; Galina & Arthur, 1990), ou seja,
entre 10 e 12 horas após o final do cio (Hansel & Echternkamp, 1972; Wishart, 1972; Hunter & Wilmut,
1984). Por outro lado, em zebuínos, a receptividade sexual é, em média, de apenas 11 horas (Mukasa-
Mugerwa, 1989; Galina & Arthur, 1990; Pinheiro et al., 1998) podendo variar de 1,3 a 20 horas (Mukasa-
Mugerwa, 1989; Galina & Arthur, 1990). Pinheiro et al. (1998), utilizando a técnica de ultra-sonografia,
verificaram que o intervalo entre o início do cio e a ovulação era de 26,6 ± 0,44 horas e a duração do cio de
aproximadamente 11 horas em vacas Nelore, com estro natural ou induzido por tratamentos hormonais.
Estes resultados foram confirmados por Misuta (2003) utilizando o sistema Heat-Watch para detectar o
estro e a ultra-sonografia para observar a ovulação.
As quantidades crescentes de estradiol secretadas pelos folículos ovarianos induzem o estro e, através
de retroalimentação positiva no hipotálamo/hipófise, um pico de LH, o qual induz a ovulação e a formação do
corpo lúteo (CL). A presença do CL caracteriza a fase lútea do ciclo estral. Nesta fase, o CL produz
progesterona em quantidades crescentes do 4° ao 10° dia do ciclo estral, e a secreção se mantém estável até
25
Acta Scientiae Veterinariae 32(Suplemento), 2004
que ocorra a luteólise, entre o 15° e o 20° dia (Hafez, 1993).
Sincronização do estro
A partir da comprovação dos efeitos luteolíticos da PGF2α em bovinos por Rowson et al. (1972),
vários análogos sintéticos desta luteolisina foram comercializados e amplamente utilizados para controlar o
ciclo estral (revisto por Odde, 1990).
A PGF2α pode ser utilizada em dose única, porém requer identificação prévia da presença do corpo
lúteo. A fim de evitar a fase inicial do ciclo estral, duas doses de PGF2α podem ser administradas com
intervalo de 11 a 14 dias, obtendo-se assim melhores taxas de manifestação de cio após a segunda dose
(Lauderdale et al., 1981; Odde, 1990; Chenault, 1992). Uma das limitações da utilização da PGF2α é a
baixa taxa de sincronização na indução do cio. O tempo entre a aplicação da PGF2α e a manifestação do
estro em bovinos varia de acordo com o estágio de desenvolvimento folicular no momento da administração
da PGF2α (Savio et al.,1990; Kastelic et al., 1990; Wiltbank et al., 1996). Por exemplo, o uso de PGF2α
na presença de um folículo dominante em fase de crescimento permite rápida maturação e ovulação do
mesmo, enquanto que a administração de PGF2α no início da fase de atresia do folículo dominante, necessitará
de aproximadamente 4 a 6 dias para que um novo folículo dominante se desenvolva o suficiente para induzir
o estro.
Sincronização da ovulação
Protocolo “ovsynch” e similares
No final de década de oitenta, quando o advento da ultra-sonografia permitiu a caracterização do
desenvolvimento folicular bovino, Thatcher et al., (1989) e Macmillan & Thatcher (1991), utilizaram um
análogo do GnRH para alterar a dinâmica folicular e forneceram a base para o desenvolvimento de um novo
sistema de sincronização do estro.
Quando administrado em estágios aleatórios do ciclo estral, o GnRH causa ovulação do folículo
dominante e induz a emergência de uma nova onda de crescimento folicular dentro de 2 a 3 dias após o
tratamento (Thatcher et al., 1989; Guilbault et al., 1990, Macmillan & Thatcher, 1991; Twagiramungu et al.,
1994; Pursley et al., 1995). Assim, 6 a 7 dias mais tarde, a maioria dos animais estarão em estágio de
desenvolvimento folicular similar no momento da administração de PGF2α e, conseqüentemente, haverá
melhor sincronização do estro (Twagiramungu et al., 1992a,b; Thatcher et al., 1993, Wiltbank e al., 1996).
A administração de uma segunda dose de GnRH 1 a 2 dias após a PGF2α sincroniza o momento da
ovulação e os animais, tanto de raças européias (Pursley et al., 1995; Twagiramungu et al., 1995; Burke et
al., 1996) quanto de zebuínas ( Barros et. al, 1998; Barros et al., 2000; Fernandes et al., 2001), podem ser
inseminadas com horário predeterminado. O GnRH injetado 24 ou 48 horas após a PGF2α concentra as
ovulações dentro de um período de 8 a 12 horas o que permite a realização da IA com tempo fixo 16 a 24
horas após a segunda dose de GnRH (Pursley et al., 1994, 1995, 1997ab; Wiltbank et al., 1996; Burke et
al., 1996, Barros et al., 2000; Fernandes et al., 2001). Esta seqüência de tratamentos hormonais (GnRH-
26
Acta Scientiae Veterinariae 32(Suplemento), 2004
PGF-GnRH), que permite a inseminação artificial em tempo fixo, passou a ser conhecida como protocolo
“ovsynch”. Para simplificar nesta revisão será adotada a sigla GPG no lugar de GnRH-PGF-GnRH.
Uma forma de diminuir o custo do protocolo GPG é substituir a segunda dose de GnRH por benzoato
de estradiol (BE, 1,0 mg para vacas e 0,75 mg para novilhas; via IM, Protocolo GPE). Neste caso, após a
luteólise induzida pela PGF2α, o BE, por meio de retroalimentação positiva no hipotálamo/hipófise, induz o
pico pré-ovulatório de LH cerca de 40 a 44 h após sua administração, ou seja, cerca de 10 a 12 horas mais
tarde do que quando se utiliza GnRH (Barros et al., 2000). Portanto, os animais devem ser inseminados, sem
observação de cio, 30 a 36 horas após a aplicação de BE. O protocolo GPE foi eficiente em sincronizar a
ovualação de vacas Nelore ciclando, resultando em taxas de prenhez de 40 a 45% após uma única inseminação
com tempo fixo (Barros et al., 2000; Fernandes et al., 2001). Entretanto, quando os protocolos GPG ou
GPE foram testados em vacas em anestro, as taxas de prenhes após a IATF foram bem mais baixas: 14,9%
no grupo GPG (n = 67) e 19,1% no GPE (n = 68). Portanto, estes tratamentos não foram efetivos em animais
em anestro e devem ser utilizados somente em vacas que estão ciclando (Fernandes et al., 2001). Além
disso, as taxas de prenhez em novilhas (entre 21 e 43%) geralmente são menores do que as observadas em
vacas (de 41 a 48%) após a utilização destes protocolos (McGowan, 1999, Fernandes al., 2001; Williams
et al., 2002).
Existem outras variações do protocolo “ovsynch” (GPG) que tem sido utilizadas principalmente em
gado de leite. O protocolo denominado pré-synch, é o ovsynch precedido por duas aplicações de PGF2α
(realizadas em um intervalo de 11 a 14 dias), com o objetivo de iniciar-se o tratamento GPG durante uma
fase do crescimento folicular mais responsiva aopico de LH, induzido pela primeira aplicação de GnRH.
Apesar de apresentar resultados um pouco melhores do que os observados após o protocolo GPG, o pré-
synch também só é efetivo quando aplicando em animais ciclando.
A remoção temporária de bezerros (RTB) realizada antes da primeira aplicação de GnRH e/ou após a
administração de PGF2α, induz aumento na pulsatilidade de LH (Edwards, 1985), e pode melhorar a reposta
de vacas em anestro ao tratamento GPG (Geary et al., 2001) ou GPE (Vilela et al., 1999, 2001).
Progesterona/progestágenos associados a estrógenos
A ação da progesterona na sincronização do ciclo estral em bovinos tem sido relatada há décadas
(Lamond, 1964; Gordon, 1976). Os animais recebiam doses diárias de progesterona por períodos de até
20 dias. Estes tratamentos resultavam em altas taxas de sincronização do estro, no entanto apresentavam
baixa fertilidade, além de serem pouco práticos (Macmillan e Peterson, 1993). Com o passar do tempo
foram desenvolvidos métodos mais práticos de administração de progesterona.
Existem atualmente no mercado brasileiro produtos (Crestar e Syncro-Mate-B) que são implantados
nas orelhas (via subcutânea), com a finalidade de manter níveis sangüíneos elevados de um progestágeno
(norgestomet) e, desta forma, diminuir a liberação endógena do hormônio luteinizante, simulando a fase lútea
do ciclo estral. A regressão do CL é alcançada pela aplicação de valerato de estradiol no início do tratamento
ou pela administração de PGF2α no momento da remoção do implante. O implante hidrônico de Syncro-
Mate-B contém 6 mg de norgestomet, enquanto que o implante silástico de Crestar apenas 3 mg. Segundo
27
Acta Scientiae Veterinariae 32(Suplemento), 2004
Kesler et al. (1995), o implante de silicone provoca a liberação do progestágeno de forma mais homogênea
e linear, enquanto que o implante hidrônico libera norgestomet em quantidades mais altas nos primeiros dois
dias, diminuindo nos dias subsequentes.
Tem sido demonstrado que a utilização de implantes de norgestomet, induz o estro em mais de 90%
dos animais, porém as taxas de concepção variam de 33 a 68% (Odde et al., 1990). Cavalieri et al. (1997)
verificaram que o tratamento com gonadotrofina coriônica equina (eCG) promove maior sincronização do
pico de LH e da ovulação em vacas tratadas com implantes de norgestomet. Os autores sugerem que a
utilização de eCG pode melhorar a eficiência de tratamentos de sincronização da ovulação para inseminação
artificial com tempo fixo.
Em uma série de artigos, Bó e colaboradores demonstraram que a associação de estrógenos a
dispositivos que liberam progesterona promove atresia do folículo dominante e induz a emergência de uma
nova onda de crescimento folicular cerca de 4 dias após a aplicação destes esteróides (revisto por Bó et al.,
1995, 2003). Esta possibilidade de sincronizar a onda de crescimento folicular por meio do uso concomitante
de progesterona e estrógenos possibilitou o desenvolvimento de vários protocolos hormonais, especialmente
úteis para realização de IATF em animais que se encontram em anestro e, portanto, não respondem bem ao
protocolo “ovsynch” e similares.
Nos últimos anos tornaram-se disponíveis no Brasil vários dispositivos intravaginais que liberam
progesterona (CIDR®, DIB®, PRID®, Cronipress® e algumas Esponjas). O uso destes dispositivos intravaginais
liberadores de progesterona (P4) associados à administração de BE é um dos tratamentos mais utilizados
para a IATF de bovinos (Macmillan & Burke, 1996; Bó et al., 2002, 2003). O tratamento mais popular
consiste na administração de benzoato de estradiol (BE; 2,0 mg, via IM) no momento da inserção do dispositivo
(Dia 0), aplicação de PGF2α quando o dispositivo intravaginal for removido (Dia 8) e 1,0 mg de BE (via
IM) 24 h mais tarde. A IATF é realizada 30-36 h após a ultima administração de BE. Portanto, neste
protocolo são utilizados os seguintes hormônios: progesterona-estrógeno-prostaglandina-estrógeno (protocolo
PEPE, veja Figura 1).
Figura 1. Associação de progesterone (P4) e benzoato de estradiol (BE) para inseminação artificial com
tempo fixo (IATF, protocolo PEPE).
O protocolo PEPE tem sofrido modificações na tentativa de melhorar ainda mais o crescimento folicular
e a sincronização da ovulação. Trabalhos recentes sugerem que no protocolo PEPE, logo após a aplicação
de PGF2α a administração de eCG (400 UI, via IM, protocolo PEPE/eCG) tende a aumentar a taxa de
prenhez de vacas em anestro pós-parto (Baruselli et al., 2003; Cutaia et al., 2003).
Um recurso interessante a ser utilizado em vacas no anestro pós-parto é a remoção temporária de
bezerros (RTB = 54 horas), realizada entre a aplicação de PGF2α e a IATF (protocolo RTB/PEPE).
Barreiros et al. (2003) testaram, num experimento realizado em duas fazendas, se a RTB seria capaz de
melhorar o protocolo PEPE. Na primeira fazenda, a RTB (Grupo RBR/PEPE) não melhorou as taxas de
28
Acta Scientiae Veterinariae 32(Suplemento), 2004
prenhez quando comparada ao Grupo PEPE (45/84; 53,6% vs 44/87; 50,6%), entretanto, na segunda
fazenda a RTB aumentou significativamente a taxa de prenhez (48/71; 67,6% vs 35/77; 45,6%, p<0,05).
Estes resultados indicam que a RTB pode ter efeitos benéficos quando associada ao protocolo PEPE. No
entanto, novos experimentos devem ser realizados para confirmar esta possibilidade.
Associação da RTB ao protocolo GPE/eCG
Um dos maiores obstáculos ao uso do protocolo GPE em bovinos de corte é sua ineficácia em animais
em anestro. Acredita-se que após o parto as vacas necessitam de um primeiro contato com a progesterona
(“priming”) para que se desenvolva um corpo lúteo com vida funcional normal (Hunter, 1991; Garverick et
al., 1992; Yavas & Walton, 2000). Tanto é que na primeira ovulação pós-parto (isto é, sem o “priming” de
progesterona) geralmente se forma um corpo lúteo com vida curta, devido a liberação prematura de PGF2α
pelo endométrio uterino ( Peter et al., 1989; Stagg et al., 1998; Yavas & Walton, 2000).
Mais recentemente, Mann et al. (2000) propuseram que a vida curta do primeiro CL pós-parto esta
relacionada ao fato do folículo dominante não se desenvolver o suficiente para produzir elevadas concentrações
de estradiol, que seriam responsáveis pela diminuição (“down regulation”) dos receptores do próprio estradiol
no endométrio uterino. Se houver disponibilidade de receptores no endométrio uterino, a interação do estradiol
com os mesmos desencadeará eventos que resultarão na síntese de PGF2α no endométrio uterino e lise
prematura do corpo lúteo.
Levando-se em consideração a hipótese levantada por Mann et al. (2000), o protocolo GPE foi
modificado com o objetivo de se induzir, em vacas de corte com 40 a 70 dias pós-parto, a formação de um
folículo dominante capaz de produzir quantidades suficientes de estradiol para promover “down regulation”
dos receptores para estradiol, de forma a evitar a liberação prematura de PGF2α. Neste novo protocolo
(RTB/GPE/eCG) o tratamento GPE é precedido pela RTB durante 48 horas, a fim de diminuir o efeito
inibitório da amamentação e presença do bezerro na liberação das gonadotrofinas. Além disso, é feita aplicação
de eCG, logo após a administração de PGF2α, para acelerar o crescimento e maturação folicular. Vinte e
quatro horas mais tarde é administrado BE para induzir pico pré-ovulatório de LH e ovulação (veja Figura
2). É de se esperar que o BE tenha um efeito aditivo com o estradiol endógeno, produzido sobretudo pelo
folículo dominante, para diminuir (“down regulation”) os receptores endometriais de estradiol e,
consequentemente, evitar a lise prematura do corpo lúteo.
No protocolo RTB/GPE/eCG, mesmo que a administração de GnRH não promova ovulação e formação
de CL (“priming” de progesterona), de acordo com a teoria proposta por Mann et al. (2000), os níveis de
estradiol provocados por este tratamento, deverão ser suficientes para evitar a lise prematura do CL e
manter a gestação resultante da IATF.
Resultados preliminares indicam que a remoção temporária de

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