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CADEIAS PRODUTIVAS DA CANA-DE- AÇÚCAR, DO ALGODÃO E DE FRUTAS Professor Dr. Fábio da Silva Rodrigues Professora Dra. Francielli Gasparotto Professor Me. Celso Daniel Seratto Professor Me. Tiago Ribeiro da Costa GRADUAÇÃO Unicesumar Acesse o seu livro também disponível na versão digital. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; RODRIGUES, Fábio da Silva; GASPAROTTO, Francielli; SERATTO, Celso Daniel; COSTA, Tiago Ribeiro da. Cadeias Produtivas da Cana-de-açúcar, do Algodão e de Frutas. Fábio da Silva Rodrigues; Francielli Gasparotto; Celso Daniel Seratto; Tiago Ribeiro da Costa. Maringá-Pr.: Unicesumar, 2019. Reimpresso, 2021. 216 p. “Graduação - EaD”. 1. Cadeias produtivas. 2. Cana-de-açúcar. 3. Algodão. 4. Frutas. 5. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1838-7 CDD - 22 ed. 633.6 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Supervisão de Produção de Conteúdo Nádila Toledo Coordenador de Conteúdo Silvio Silvestre Barczsz Designer Educacional Bárbara Neves Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Ilustração Capa Bruno Pardinho Editoração Victor Augusto Thomazini Qualidade Textual Ariane Andrade Fabreti Jaqueline Mayumi Ikeda Loureiro Ilustração Bruno Pardinho Rodrigo Barbosa da Silva Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quan- do investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequente- mente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Crian- do oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógi- ca e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complemen- tando sua formação profissional, desenvolvendo com- petências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhe- cimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fó- runs e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra dis- ponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. CU RR ÍC U LO Professora Dra. Francielli Gasparotto Possui doutorado em Agronomia pela Universidade Estadual de Maringá (2010) com área de concentração em Proteção de Plantas, mestrado em Agronomia pela Universidade Estadual de Maringá (2006) e graduação em Agronomia pela Universidade Estadual de Maringá (2004). Professora Titular do Centro Universitário Cesumar (Unicesumar), atuando no Mestrado em Tecnologias Limpas e nos cursos de Graduação em Agronomia e Tecnólogo em Agronegócios. Possui experiência na área de Fitopatologia, Microbiologia Ambiental, Processos de produção da Agroindústria Sucroalcooleira e Cadeias produtivas. Desenvolve projetos na linha de pesquisa Agroindústria e agropecuária sustentável. http://lattes.cnpq.br/2673470812353146 Professor Dr. Fábio da Silva Rodrigues Possui doutorado em Administração pela Universidade Estadual de Maringá (2018), mestrado em Agronegócios pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2008), especialização em Economia e Gestão do Agronegócio pela UEM (2006) e graduação em Administração pela Universidade Estadual de Maringá (2004). Possui experiência na área de Administração, com ênfase em Agronegócios, atuando principalmente nas seguintes áreas: administração geral, marketing, administração pública, pesquisa em administração, diagnóstico organizacional e agronegócios. Possui experiência em EAD - Educação a Distância. Atualmente, desenvolve pesquisa em Agronegócios, discutindo a questão da sustentabilidade competitiva em sistemas agroalimentares. http:// buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4501271Y9 Professor Me. Celso Daniel Seratto Possui mestrado em e graduação em Agronomia pela Universidade Estadual de Maringá (1992). Atualmente é Engenheiro Agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Paraná. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Extensão Rural. http://buscatextual.cnpq.br/ buscatextual/visualizacv.do?id=K4777477U8 Professor Me. Tiago Ribeiro da Costa Possui Mestrado na área de Genética Quantitativa e Melhoramento Vegetal (Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento - PGM / Universidade Estadual de Maringá), graduado em Agronomia e em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Atua como Professor Assistente do Centro Universitário Cesumar (UniCesumar - Maringá - Paraná), no curso presencial de Agronomia e nos cursosde Tecnologia em Agronegócios, Tecnologia em Gestão Ambiental, Tecnologia em Segurança do Trabalho e Gestão Comercial, na modalidade de Educação à Distância. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv. do?id=K4533077U4 SEJA BEM-VINDO(A)! Prezado(a) aluno(a), por meio deste livro, você terá a oportunidade de estudar sobre três cadeias produtivas que se situam entre as mais importantes da economia do agro- negócio brasileiro. Iniciaremos nosso estudo pelo tópico “Cadeia produtiva da cana-de- -açúcar”, após isso, versaremos sobre a “Cadeia produtiva do algodão” e, depois, finaliza- remos com a análise da “Cadeia produtiva da fruticultura”. Sendo assim, conheceremos assuntos que vão da tecnologia e chegam até a conjuntura atual de mercado de seus produtos. Para tanto, com o objetivo de situá-lo(a) nesse universo, o material didático foi organi- zado com informações atualizadas e dados importantes, além disso, constam alguns temas clássicos. Desse modo, foi possível produzir uma combinação ímpar, ao mesmo tempo em que fica bem informado(a), é dado a você uma formação com qualidade para exercer atividades relacionadas com o papel de agente e gestor de agronegócios. Assim sendo, na Unidade 1, que trata da cadeia da cana-de-açúcar, você conhecerá sobre os aspectos relacionados com o histórico dessa atividade e a produção, as técnicas de cultivo e manejo, as tecnologias de colheita, chegando ao ponto em que abordaremos, com uma breve discussão, sobre a sustentabilidade da produção dessa matéria-prima. Na Unidade 2, incluíram-se temas relacionados ao estudo da cadeia produtiva em si, como a conjuntura de mercado dos produtos da cana-de-açúcar, o potencial de apro- veitamento que vem sendo dado ao que era considerado até pouco tempo atrás como seus subprodutos. Além disso, é apresentada a logística que envolve a distribuição dos produtos e também uma breve análise sobre o custo de produção da matéria-prima, o que pode ser considerado bastante específico entre as diversas usinas, dadas as suas especificidades quanto ao uso das tecnologias e ao ambiente, com os recursos naturais que estão disponíveis nas regiões em que se encontram instaladas as usinas. A Unidade 3 é dedicada ao exame da cadeia do algodão, iniciaremos com seu histórico de cultivo e, depois, você se concentrará no estudo dos sistemas de produção da fibra, o que envolve conhecimentos sobre as técnicas de cultivo, manejo e colheita, para depois discutirmos os custos que abrangem a produção nas principais regiões produtoras do país, permitindo refletir sobre a relação que existe entre os fatores ambiente, tecnologia e sustentabilidade. E, por fim, a biotecnologia utilizada para obtenção de novos cultiva- res de algodão, com características que visam facilitar o processo produtivo e melhorar a qualidade do produto final. Na Unidade 4, continuaremos estudando a cadeia produtiva do algodão, agora com foco na análise das estatísticas internacionais e nacionais ligadas à cotonicultura, além de distinguirmos alguns indicadores importantes. Nesse ponto, o nosso objetivo é pos- sibilitar que você se situe sobre a conjuntura internacional e nacional dessa cadeia pro- dutiva, de modo que você possa correlacionar tais fatos, o que irá deixá-lo(a) apto(a) para fazer análises a respeito das perspectivas sobre a produção e os mercados, nacio- nais e internacionais. Por fim, abordaremos sobre a importância da indústria têxtil, no Brasil e no mundo. APRESENTAÇÃO CADEIAS PRODUTIVAS DA CANA-DE-AÇÚCAR, DO ALGODÃO E DE FRUTAS Em nossa última unidade, a Unidade 5, trataremos da “Cadeia produtiva da fruti- cultura”, com uma abordagem que privilegia o estudo da conjuntura nacional, a produção das principais frutas consumidas e comercializadas pelo país, com seus respectivos mercados de destino e sua importância relativa. Como você perceberá, o estudo dessas cadeias produtivas passa pelo uso e análi- se de muitos números, cujos valores mudarão no futuro. Portanto, não espero que você memorize todos eles, mas sim, que eles possam servir para situá-lo(a), permi- tindo você aprimorar seus conhecimentos e fazer as comparações relativas. Assim, eles poderão ser úteis para interpretar a importância do que você estudará. Portanto, tenho certeza de que as oportunidades de estudo aqui oferecidas, as quais aliadas ao tempo que você irá dedicar àquilo em que irá se apaixonar, permitirão a você uma boa formação que o auxiliará a abrir as portas do mercado de trabalho e novas oportunidades com que sonha. Por isso, leia, estude e apaixone-se, pois, o futuro te espera. APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 11 UNIDADE I A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS, CULTIVO E COLHEITA 19 Introdução 20 Histórico, Características e Desenvolvimento da Cana-de-açúcar 23 Técnicas de Cultivo 29 Fitossanidade 36 Métodos de Colheita 41 Desenvolvimento Sustentável na Produção de Cana-de-açúcar 44 Considerações Finais 49 Referências 51 Gabarito SUMÁRIO 12 UNIDADE II A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR: CADEIA PRODUTIVA, SUBPRODUTOS E LOGÍSTICA 55 Introdução 56 Produção de Cana-de-açúcar no Brasil 66 O Mercado de Etanol no Brasil e no Mundo 82 A Produção e o Mercado do Açúcar Brasileiro 88 Subprodutos da Agroindústria Sucroenergética 92 Logística na Produção de Cana-de-açúcar 95 Considerações Finais 99 Referências 101 Gabarito SUMÁRIO 13 UNIDADE III A CULTURA DO ALGODÃO: HISTÓRICO, PRODUÇÃO, MEIO AMBIENTE E TECNOLOGIA 105 Introdução 106 Histórico e Características Morfológicas do Algodoeiro 110 Aspectos Técnicos do Cultivo do Algodão 118 Fitossanidade do Algodoeiro e a sua Colheita 125 Custos de Produção da Cultura do Algodão 129 Biotecnologia e Meio Ambiente 131 Considerações Finais 136 Referências 138 Gabarito SUMÁRIO 14 UNIDADE IV A CULTURA DO ALGODÃO: ESTATÍSTICAS INTERNACIONAIS E NACIONAIS E A CADEIA PRODUTIVA ALGODOEIRA 141 Introdução 142 As Estatísticas Internacionais 146 A Geografia do Cultivo de Algodão no Brasil 149 As Estatísticas Nacionais 156 A Cadeia Produtiva do Algodão 160 A Indústria Têxtil 164 Considerações Finais 170 Referências 171 Gabarito SUMÁRIO 15 UNIDADE V FRUTICULTURA 175 Introdução 176 A Cadeia Produtiva da Fruticultura no Brasil 187 A Produção e as Exportações de Frutas Produzidas no Brasil 192 A Produção e a Exportação das Principais Frutas Brasileiras 202 A Inovação e a Agregação de Valor na Fruticultura 205 Considerações Finais 210 Referências 212 Gabarito 213 CONCLUSÃO 214 ANOTAÇÕES U N ID A D E I Professor Dr. Fábio da Silva Rodrigues Professora Dra. Francielli Gasparotto Professor Me. Celso Daniel Seratto Professor Me. Tiago Ribeiro da Costa A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS, CULTIVO E COLHEITA Objetivos de Aprendizagem ■ Conhecer a evolução da cana-de-açúcar, sua origem, como ela chegou ao Brasil, suas características morfológicas e desenvolvimento. ■ Compreender as principais técnicas de cultivo e adubação da cultura da cana-de-açúcar. ■ Identificar e diferenciar as principais pragas, doenças e plantas daninhas que atingem a cultura, tal como os principais métodos de controle das mesmas. ■ Entender os métodos de colheita da cana-de-açúcar e suas implicações. ■ Atinar sobre a produção de cana-de-açúcar e sua influência nas dimensões social, econômica e ambiental. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Histórico, características e desenvolvimento da cana-de-açúcar ■ Técnicas de cultivo ■ Fitossanidade ■ Métodos de colheita ■ Desenvolvimento sustentável na produção de cana-de-açúcar INTRODUÇÃO Nesta primeira unidade de nosso livro, apresentamos as principais informações sobre a cultura da cana-de-açúcar, uma das principais do agronegócio brasileiro que se destaca devido aos grandes avanços tecnológicos e pelo seu potencial paraajudar a equalizar problemas ambientais. O setor sucroalcooleiro passou por um momento favorável à sua expansão, sobretudo no que se refere ao cenário internacional para os preços do açúcar somado à adoção do álcool combustível na matriz energética de alguns países. Devido às condições climáticas desfavoráveis ao cultivo da cana-de-açúcar e à consequente diminuição da produtividade nas últimas safras, aliada às oscilações negativas nos preços do açúcar, no mercado internacional, o setor vem passando por dificuldades nos últimos anos. O desenvolvimento do setor canavieiro é muito importante para economia brasileira, visto que a cana-de-açúcar está entre as três culturas mais importantes do país, decorrente do aumento da demanda por açúcar e etanol para atender o mercado consumidor interno e externo. Para aumentar a sua competitividade, este setor utiliza várias tecnologias. Desde o controle biológico da broca da cana- -de-açúcar, passando pela mecanização das lavouras e chegando até a colheita, onde, especialmente, vem ocorrendo a substituição da colheita manual com queima prévia pela colheita mecânica sem queima prévia. Muitos são os fatores que interferem na produtividade desta cultura, esten- dendo-se desde o plantio, com a densidade de plantas, o preparo adequado do solo, a época, a escolha das variedades, a qualidade e a idade das mudas até o manejo do canavial e o tipo de colheita empregado. Portanto, a seguir, levaremos você a conhecer melhor esse importante setor do agronegócio brasileiro, iniciando com sua trajetória, desde o descobrimento até os dias atuais, com a pujança que alcançou a atividade para o país com a tec- nologia de produção empregada no cultivo da cana-de-açúcar. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS, CULTIVO E COLHEITA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS E DESENVOLVIMENTO DA CANA-DE-AÇÚCAR Caro aluno, iniciaremos agora o nosso estudo sobre a cadeia produtiva da cana-de- -açúcar e, para que este seja o mais produtivo possível, começaremos conhecendo um pouco mais da história que envolve o cultivo dessa gramínea em nosso país e suas principais características. HISTÓRICO A cana-de-açúcar teve sua origem em regiões da Ásia e Oceania, provavelmente na ilha conhecida como Nova Guiné. No período entre 800 a 600 AC, com a intensificação da migração dos povos, a cultura se adaptou a novos ambientes, principalmente no sudeste asiático, assim, atingiu as Ilhas Solomon e as Novas Hébridas, as Filipinas e o norte da Índia. E, do território indiano, foi levada para a Europa, de onde, no século XVI, foi transportada para o continente ameri- cano, chegando posteriormente ao Brasil (FAUCCONIER; BASSEREAU, 1970). Histórico, Características e Desenvolvimento da Cana-de-açúcar Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 Você sabe o que mudou desde os antigos engenhos de cana do Nordeste brasi- leiro do século XVIII até os dias atuais? De fato, muita coisa mudou. No século XVIII, o cultivo era exclusivamente dedicado à produção de açúcar. Na atualidade, a despeito desta finalidade, o cultivo da cana-de-açúcar se encontra entre os mais importantes do mundo, podendo ajudar a reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, além disso, pode contribuir nas cidades, com um ambiente mais equilibrado e um ar mais limpo. E o melhor, isso pode trazer muitas vantagens econômicas para o Brasil. MORFOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DA CANA-DE-AÇÚCAR Hoje em dia, as variedades da cana-de-açúcar, cultivadas comercialmente, são híbridas do gênero Saccharum, isto é, cruzamentos de espécies do referido gênero, com destaque para a espécie Saccharum officiarum, que apresenta alto teor de açúcares, sendo conhecida como “cana nobre” (MOZAMBANI et al., 2006). As plantas desta cultura se desenvolvem em forma de touceira (moita), sendo constituídas por colmos, folhas, inflorescência, frutos, raízes e rizomas. A cana é uma gramínea adaptada ao cultivo em regiões de clima tropical, pois necessita de alta intensidade luminosa e altas temperaturas, não tolerando gea- das (SEGATO et al., 2006). As primeiras mudas de cana-de-açúcar que foram trazidas ao Brasil provi- nham da Ilha da Madeira (território português) e foram transportadas por Martim Afonso de Souza, o responsável pela instalação do primeiro enge- nho em São Vicente, no ano de 1533. Em seguida, muitos outros engenhos se proliferaram pela costa brasileira. O Nordeste brasileiro, principalmente o litoral pernambucano e o baiano, dominavam a maior parte da produção açucareira da colônia na época. Para saber mais, acesse: https://www.infoes- cola.com/historia/ciclo-da-cana-de-acucar. Fonte: adaptado de Silva (2018). A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS, CULTIVO E COLHEITA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 A cana é propagada via reprodução assexuada, vegetativamente pela brotação de suas gemas e seu desenvolvimento envolve as fases de brotação, perfilha- mento, crescimento dos colmos e maturação. A fase de brotação inicia-se cerca de 20 até 30 dias após o plantio, ela consiste na emissão da parte aérea da planta e também das raízes primárias. A segunda fase é o perfilhamento, processo em que vários colmos são produzidos por planta, constituindo uma touceira, que pode chegar a ter 25 ou mais colmos (SEGATO et al., 2006). Fase de brotação e estabelecimento Fase de per�lhamento Período de crescimento dos colmos Fase de maturação Figura 1 - Fases do desenvolvimento da cana-de-açúcar Fonte: adaptada de Santos (2017). Após o perfilhamento, ocorre o crescimento dos colmos e a maturação do cana- vial, em que os colmos mais desenvolvidos continuam o crescimento em altura e espessura, acumulando sacarose. O acúmulo de sacarose é influenciado por diferentes fatores, entre estes, destacam-se os ambientais, como a temperatura e a disponibilidade de água e nutrientes (SEGATO et al., 2006). Após 11 a 20 meses do plantio, a cana está madura e pronta para ser colhida por meio do corte manual ou mecanizado. Técnicas de Cultivo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 TÉCNICAS DE CULTIVO Agora, aprofundaremos nossos conhecimentos sobre o plantio da cana-de-açú- car, com suas formas e épocas de produção, seu tempo de desenvolvimento e as técnicas de calagem e adubação. Vamos juntos? PLANTIO No Brasil, o plantio da cana-de-açúcar é realizado de duas formas, o plantio de 18 meses, ou cana-de-ano-e-meio, e o de 12 meses, ou cana-de-ano. Na modali- dade de 18 meses, o plantio ocorre de janeiro a maio, a cultura é implantada no verão (clima quente e úmido) em que inicia sua brotação e passa por um perí- odo de repouso durante o outono e mais acentuadamente no inverno, voltando ao seu desenvolvimento na primavera e verão, estando pronta para a colheita no inverno seguinte. Desta forma, a cana se desenvolve nos 3 meses iniciais do plan- tio, reduz seu desenvolvimento por 5 meses e volta a vegetar durante 7 meses, amadurecendo no inverno seguinte (Quadro 1). A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS, CULTIVO E COLHEITA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 Quadro 1 - Época de plantio, de desenvolvimento e de colheita da cana-planta de ano e meio (18 meses) relacionada à estação e aos meses do ano, na região centro-oeste e centro sul do Brasil CRESCIMENTO CRESCIMENTO LIMITADO CRESCIMENTO Verão Outono Inverno Primavera Jan Fev Mar Abr Mai JunJul Ago Set Out Nov CRESCIMENTO MATURAÇÃO/COLHEITA Verão Outono Inverno Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Fonte: Segato et al. (2006). A cana de 12 meses é implantada de setembro a novembro, apresentando pleno desenvolvimento na primavera e verão, a diminuição do seu desenvolvimento a partir de abril e a colheita no inverno seguinte. Neste tipo de plantio, tem-se aproximadamente 8 meses de desenvolvimento vegetativo da cultura e 4 meses de maturação (Quadro 2). Quadro 2 - Época de plantio, de desenvolvimento e de colheita da cana-planta (12 meses) relacionada à estação e aos meses do ano, na região centro-oeste e centro sul do Brasil CRESCIMENTO MATURAÇÃO/COLHEITA Primavera Verão Outono Inverno Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Fonte: adaptado de Segato et al. (2006). Como a cana-de-ano-e-meio apresenta aproximadamente 10 meses de desen- volvimento vegetativo, segundo Segato (2006), a mesma apresenta uma maior produção do que a de 12 meses. É preciso, porém, ressaltar que após o corte da cana-planta (primeira colheita), inicia-se outro ciclo da cultura que recebe o nome de cana-soca e que apresentará aproximadamente 12 meses. O número de ciclos de cana-soca é variável e depende de vários fatores, como a variedade, o manejo do canavial e as condições ambientais, entre outros. A cana-de-açúcar, durante muito tempo, teve seu plantio realizado exclusi- vamente pelos colmos de plantas adultas, porém, nos últimos anos, o plantio de mudas pré-brotadas teve um crescimento significativo. O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC, 2018, on-line)¹ possui um projeto para tornar mais eficiente o plantio da cana, o centro está desenvolvendo sementes para o plantio de cana de açúcar pela técnica de clonagem. O mesmo afirma que as altas taxas de Técnicas de Cultivo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 multiplicação, a redução dos custos de produção e a produção de material gené- tico sadio são alguns dos benefícios desta tecnologia, e, ainda, por usar sementes, o plantio será operacionalmente mais simples e mais eficiente. No plantio com colmos (toletes), estes são obtidos de canaviais com 8 a 12 meses de idade, especialmente preparados, vigorosos e saudáveis. A colheita dos colmos é feita, nesse caso, sem a queima. O corte é feito rente ao solo, com a remoção das ponteiras em seguida. Deve-se ter cuidado para não ferir as gemas. Antes do plantio, é feito tratamento preventivo dos colmos, com a aplicação de fungicidas e de inse- ticidas. O plantio das canas deve ser feito logo após o corte, pois se os toletes forem armazenados por mais de quatro dias, a germinação será comprometida. De acordo com a variedade a ser utilizada e das condições de plantio como o espaçamento, necessitam-se de 8 a 15 toneladas de colmos por hectare (TOWNSEND, 2000). A cana é plantada em sulcos, com profundidade de 30 cm, quanto ao espaça- mento, vários tipos são utilizados, com distância entre sulcos, variando de 1 a 1,6 m em espaçamento simples. Uma modalidade que vem sendo muito empregada é o plantio em linhas duplas, as quais ficam dispostas 0,9 m entre si e, espaçadas a 1,5 a 1,6 m entre a outra fileira de linhas nas laterais. A distribuição dos colmos deve permitir a emergência de 12 a 18 gemas por metro linear. Deve-se observar que as gemas da ponta da cana apresentam maior vigor e estão menos sujeitas a injúrias que as gemas da base, podendo haver domi- nância apical. Por este motivo, os colmos serão colocados no sulco “pé com ponta”, em colmos com entrenós curtos, e “pé com pontas cruzadas”, quando tiverem entrenós mais longos. Assim, em seguida, os colmos devem ser cortados com facão em toletes menores com o tamanho que abriga de 3 a 4 gemas. O facão usado deve estar bem amolado e desinfetado. A desinfecção é feita com a imersão periódica desse equipamento na solução à 10% de creol ou formol, para evitar a disseminação de doenças. Em seguida, os colmos serão cober- tos com uma camada de 5 a 10 cm de solo (TOWNSEND, 2000). A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS, CULTIVO E COLHEITA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 Os primeiros 90 dias constituem um período crítico e os tratos culturais deverão ser feitos com extremo cuidado, pois a planta jovem é muito mais suscetível ao ataque de pragas e de doenças, bem como a competição com plantas daninhas, do que a planta adulta. Lembre-se que observar com fre- quência o desenvolvimento do canavial recém-plantado permite o controle de problemas, com o ajuste de operações subsequentes, evitando surpresas desagradáveis. CALAGEM E ADUBAÇÃO De acordo com Rosseto e Santiago ([2019], on-line)², a correção da acidez e do teor de nutrientes do solo (adubação) é essencial para produtividade das cul- turas. O sistema radicular da cana-de-açúcar é do tipo fasciculado e consegue atingir camadas profundas do solo, desde que não existam impedimentos físi- cos e químicos. Desta forma, a correção do solo é fundamental nos ambientes de produção de cana-de-açúcar. Ainda, segundo os autores, a correção da acidez do solo com o emprego de calcário, a redução da atividade de alumínio e o acréscimo de cálcio em profun- didade via gesso e a adição de fósforo em área total são consideradas práticas de correção do solo. Essas práticas, com destaque para a calagem, podem con- tribuir para o aumento da longevidade dos canaviais, estudos mostram que este aumento pode ser de um ciclo a mais da cultura. Além das práticas corretivas, a adubação do canavial é de suma importância para atender as necessidades da cultura e contribuir para maiores produtividades. Como a cana-de-açúcar produz uma grande massa total (120 a 200 toneladas de folhas e colmos por hectare) ela necessita de uma elevada quantidade de nutrien- tes do solo, os quais precisam ser repostos pela adubação. De acordo com Oliveira et al. (2007), para produzir 120 t/ha, cerca de 100 t de colmos industrializáveis, o uso de nutrientes na parte aérea das plantas alcança 150 kg de nitrogênio (N), 40 kg de fósforo (P), 180 kg de potássio (K), 90 kg de cálcio (Ca), 50 kg de magnésio (Mg) e 40 kg de enxofre (S). Tratando-se dos micronutrientes, apesar da quantidade necessária ser menor, não é menos Técnicas de Cultivo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 importante e, para produzir 120 t/ha, as plantas acumulam cerca de 8,0 kg de ferro (Fe), 3,0 kg de manganês (Mn), 0,6 kg de zinco (Zn), 0,4 kg de cobre (Cu) e 0,3 kg de boro (B). Portanto, é necessário conhecer a fertilidade do solo em que será cultivada essa cultura, para estabelecer a necessidade de adubação e calagem, que permi- tirá a produtividade ótima, com eficiência econômica. Conforme pesquisou Oliveira et al. (2007), o nitrogênio e o potássio são os nutrientes absorvidos em maiores quantidades pela cana-de-açúcar. O nitrogê- nio promove a aceleração da atividade meristemática das plantas, induzindo ao desenvolvimento da parte aérea, resultando em maior perfilhamento e índice de área foliar da cana-de-açúcar. O acúmulo de N pela planta depende do cultivar, da idade do plantio e da disponibilidade deste e de outros nutrientes no solo, com seu equilíbrio, mas sabe-se que, para cada tonelada de matéria natural acu- mulada pela parte aérea, ocorre absorção de 1,5 kg de N pela planta. Dessa maneira, nos sistemas de produção em que a produtividade é supe- rior a 120 t/ha, a quantidade de N absorvida pela cultura ultrapassa 180 kg/ ha. A ureia (45% de N) é o adubo nitrogenado mais usado na cana-de-açúcar por seu menor custo por unidade de N, quando comparado com outras fontes, mas a aplicação de ureia sobre o solo ou palhada pode gerar perdas de até 40% (OLIVEIRA et al., 2007). Alémdos adubos minerais, parte da adubação nitrogenada pode ser forne- cida por meio de bactérias fixadoras de nitrogênio. No caso da cana-de-açúcar, a relação das bactérias com a planta é do tipo associativa, em que as mesmas dis- ponibilizam nitrogênio ao redor das raízes da planta. A substituição da adubação nitrogenada mineral pela inoculação com bactérias diazotróficas é uma prática sustentável, pois reduz os impactos ambientais do uso de adubos nitrogenados e também reduz os custos de produção da cultura. Fonte: os autores. A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS, CULTIVO E COLHEITA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 Com relação ao fósforo, deve ser aplicada a maior parte da dose no fundo do sulco de plantio, pois, assim, a adubação terá maior eficiência, contudo, será preciso aplicar fósforo novamente nas rebrotas da cana-de-açúcar, após cada colheita, sendo aplicados os adubos fosfatados, mais comumente, o superfosfato simples, o superfosfato triplo e o termofosfato. O potássio é aplicado na operação de plantio e, depois, logo após cada um dos cortes para a colheita, uma vez que a cana-planta e as rebrotas também respondem a esse tipo de adubação. A principal fonte de potássio utilizada na cana-de-açú- car é o cloreto de potássio (KCl), mas, nas lavouras em que a vinhaça é viável de ser aplicada, ela também é utilizada em substituição ao KCl. O cálcio e o magnésio são fornecidos por ocasião da calagem e não é neces- sário aplicar enxofre em áreas que receberam vinhaça ou gesso agrícola, mas naquelas áreas em que existe carência desse nutriente, podem ser aplicados 30 kg/ha. As principais fontes de enxofre são o sulfato de amônio (22 a 24% de S) e o superfosfato simples (10 a 12% de S) (OLIVEIRA et al., 2007). Em geral, não é necessário aplicar micronutrientes na cultura da cana-de- -açúcar. Quando os canaviais são implantados em áreas de baixa fertilidade, contudo, pode haver necessidade desses elementos. Lembre-se que adubar é muito mais que simplesmente aplicar fertilizantes no solo. Para que a adubação seja bem-sucedida, é necessário ter um diag- nóstico preciso da fertilidade do solo, com os laudos de análise de micro e macronutrientes para calibrar as quantidades mais econômicas. Além disso, é preciso estar atento à época mais adequada e à maneira com que são apli- cados os corretivos e os adubos aplicados. Isso não elimina a necessidade de realizar o diagnóstico da nutrição foliar, com as análises de amostras de tecido vegetal, para avaliação do estado nutricional da planta. Aplicações de matéria orgânica, como vinhaça e torta de filtro, contribuem para aumentar a fertilidade do solo, e reduzir a dependência de adubos minerais. Proceden- do desta maneira, você conseguirá melhores resultados com a adubação, e poderá controlar melhor seus custos de produção! Fonte: os autores. Fitossanidade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 FITOSSANIDADE A produtividade de uma cultura é um somatório de diversos fatores, entre estes, temos os ligados à fitossanidade da mesma, isto é, à sanidade da cultura, se a mesma está sendo afetada por alguma praga, doença ou planta daninha. Neste tópico, iremos abordar os principais fatores que interferem na sanidade da cul- tura da cana-de-açúcar. PRAGAS E SEU CONTROLE A cana-de-açúcar é alvo preferido de diversas pragas, as quais obrigam o uso de práticas e a aplicação de técnicas especiais para o seu controle, sob pena de sofrer a redução na sua produção e na sua qualidade, o que pode até inviabilizar economicamente a atividade. Para sua melhor compreensão, apresentaremos, a seguir, algumas das principais pragas que atingem a cana-de-açúcar. A broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) pode ser considerada a principal praga da cultura no país (OLIVEIRA et al., 2007). Na fase adulta, a bro- ca-da-cana se caracteriza como uma mariposa de cor amarelo-palha. A fêmea deposita os ovos nas folhas e, quando eclodem, surgem as larvas de cor amare- lo-palha e cabeça marrom. As larvas caminham para os colmos e os perfuram, abrindo galerias ascendentes, o que, além do dano físico, abre portas de entrada que tornam os colmos susceptíveis a fungos, bactérias e vírus. A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS, CULTIVO E COLHEITA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 Na cana nova, os danos podem provocar até a morte da gema apical, com perda da última folha, sintoma que é chamado de “coração morto”. Quando a larva vai empupar, para se transformar na mariposa, ela abre outro orifício para sair. As pupas se tornam adultas e, após o acasalamento, o ciclo recomeça. Em média, o ciclo completo da broca é de 70 dias. No Nordeste brasileiro, ocorre outra praga endêmica denominada broca-gigante da cana (Telchin licus), que também é uma mariposa. Segundo Almeida, Stingel e Arrigoni (2009), ela tem ocorrido em uma área de aproximadamente 320 mil hec- tares, na qual foram observados níveis de infestação de 7%, o que representa uma perda de cana-de-açúcar equivalente a R$ 34,5 milhões a cada safra naquela região. O seu controle consiste na retirada dos rizomas infestados e catação das formas biológicas presentes. Este método, porém, torna-se inviável para a prática em larga escala, além de excessivamente caro (ALMEIDA; STINGEL; ARRIGONI, 2009). Os danos causados pelas brocas podem ser diretos, tal qual a perda de peso dos colmos, a morte da gema apical com o coração morto, a quebra da cana por ação mecânica do vento e os danos indiretos incluem a penetração de fungos (Fusarium ou Colletotrichum), que causam a podridão vermelha e a inversão da sacarose armazenada nos colmos, ocasionando prejuízos na qualidade e na pro- dutividade da matéria-prima. O principal método de controle utilizado para as brocas é o controle biológico que é feito com um inimigo natural específico, a Cothesia flavipes, uma vespa que é multiplicada em laboratório e liberado nos canaviais. A fêmea deste inseto caça a larva da broca, entrando nas galerias abertas. Ao encontrar o alvo, ela paralisa a larva com uma picada e introduz o ovipositor, a partir daí, surgirão as larvas que se alimentarão dos tecidos internos da broca, levando-a a morte. O monitora- mento é feito por amostragem de cinco canas por carga, colhidas ao acaso quando chegam ao pátio. De acordo com Negrisóli Junior (2015), ainda não há um con- senso para amostragem e monitoramento no campo para a broca-gigante, muitas empresas amostram cinco pontos por talhão (1 ha), sendo que em cada ponto (2 m lineares) é contado o total de colmos nas touceiras e o total daqueles atacados. Os danos da broca-gigante são muito parecidos com os originados pelo ataque das brocas do gênero Diatraea, os mesmos podem ser diferenciados pelo diâmetro das galerias formadas por essas pragas, sendo o ocasionado pela broca-gigante maior. Fitossanidade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 Além deste inimigo natural que parasita as lagartas para controlar esta praga, ainda pode-se usar um inimigo natural que atua como parasitoide dos ovos da broca (Trichogramma galloi). Este organismo, como dito, parasita os ovos da broca da cana, não deixando que a mesma chegue à fase adulta. Segundo Rosseto e Santiago ([2019], on-line)², o uso deste organismo juntamente com Cotesia fla- vipes que parasita as lagartas pode levar a uma redução de 60% da infestação da cana-de-açúcar com a broca. Para calcular o nível de dano, os colmos são abertos longitudinalmente e são contados o número de entrenós, além daqueles atacados por broca/podri- dão vermelha. Assim, calcula-se o índice de infestação pela relaçãonúmero de entrenós brocados/número total de entrenós x 100. O nível de dano econômico aceitável é de até 3%, devendo-se adotar as medidas de controle. Outra praga que afeta a cultura é a cigarrinha das raízes (Mahanarva fim- briolata), que ataca, especialmente, na época das chuvas. O inseto encontra condições favoráveis para se multiplicar sob a palha e com umidade. Com o advento da colheita mecanizada sem queima e o acúmulo de palha no solo, vem ocorrendo um aumento dos danos ocasionados por esta praga nas áreas de pro- dução de cana-de-açúcar. A primeira geração ocorre de forma discreta e passa despercebida. A popu- lação aumenta na segunda geração, e são observadas três a quatro gerações por ano. As ninfas da cigarrinha (a sua forma jovem) atacam as raízes super- ficiais da cana, liberando uma espuma branca, que se acumula no pé de cana, ao nível do solo. Sugando as raízes, as ninfas debilitam a planta, impedindo ou dificultando o fluxo de água e nutrientes. Desse modo, ocorre a morte das raízes, o cho- chamento e o afinamento de colmos, com a secagem prematura das folhas. Em consequência, cai a produção do canavial, e a cana perde qualidade, com aumento no teor de fibras, impurezas e contaminantes no caldo, junto à redu- ção no teor de açúcar. Esta praga também deve ser monitorada por amostragem de campo, sendo identificada a presença de espumas brancas junto ao pé da planta, ao nível do solo. O nível de controle estabelecido pela pesquisa é alcançado quando são encontradas de três a cinco ninfas/m linear de plantio. A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS, CULTIVO E COLHEITA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 A cigarrinha pode ser combatida pelo controle biológico, para tanto, se uti- liza o fungo Metarhizium anisopliae. Produtos comerciais do mercado, contudo, têm apresentado baixa eficiência em condições de campo. Até o momento, o con- trole químico é a alternativa mais eficiente. O afastamento da palha do pé da cana, sempre que possível, aumenta a eficiência do produto. DOENÇAS E SEU CONTROLE Além dos insetos pragas que afetam a cultura da cana, de acordo com Rosseto e Santiago ([2019], on-line)³ existem mais de 216 doenças que também pode afe- tar a mesma, e destas, cerca de 58 enfermidades ocorrem no Brasil, sendo 10 consideradas as de maior impacto econômico para a cultura. Os agentes causais dessas doenças envolvem fungos, bactérias e vírus e a forma de controle mais utilizada em nossos canaviais é o uso de variedades resistentes. Uma das doenças mais recentes em nosso país nesta cultura é a ferrugem alaranjada, causado pelo fungo Puccinia kuehnii que foi detectada pela primeira vez, no Brasil, em 2009, na região de Araraquara, interior de São Paulo. O sin- toma característico desta doença são as pústulas produzidas nas folhas da cana por ação do fungo para liberação de seus esporos e que apresentam coloração alaranjada, devido a isto a doença recebeu o nome de ferrugem alaranjada. Outra Muitos são os organismos que ocasionam danos na cultura da cana-de-açú- car, nas diversas fases do desenvolvimento da cultura. Estes danos podem ser diretos, impactando no volume produzido de cana, ou indiretos, redu- zindo a qualidade do produto final derivado desta cultura. É importante também destacar que o controle dessas pragas pode ser realizado com o uso de substâncias químicas ou por meio do controle biológico. Para saber mais, acesse: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-a- cucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html. Fonte: os autores. http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_131_272200817517.html Fitossanidade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 doença fúngica que afeta a cultura é a podridão, que muitas vezes ocorre asso- ciada ao ataque da broca, que abre orifícios facilitando a entrada do patógeno. O sintoma visível é a formação de manchas alongadas de cor vermelho intenso na nervura principal das folhas. E o sintoma interno, associado ao ataque da broca, é a presença de colmos avermelhados que podem ser manchados com pontua- ções brancas no caso do ataque de Colletotrichum, ou completamente vermelhos, no caso do ataque de Fusarium. A doença é transmitida pelo uso de colmos contaminados, pelo vento e até mesmo chuva e enxurrada. Para seu controle, podem ser usadas variedades resistentes ou tolerantes, o tratamento térmico das mudas por imersão em água quente (50º C) durante duas horas e, preventivamente, com o combate à broca (OLIVEIRA et al., 2007). O carvão da cana é causado pelo fungo Ustillago scitaminea. A sua identifi- cação é fácil, pois ocorre a emergência de um chicote, modificação do meristema apical do colmo induzida pelo fungo. O tamanho do chicote é variável, variando de uns poucos centímetros até 1 m de comprimento. O chicote é composto pelos tecidos modificados da planta junto com os tecidos do fungo, contendo milha- res de esporos. As plantas doentes, antes da emissão do chicote, apresentam o ângulo de inserção das folhas mais agudo, limbo foliar estreito e curto, colmos mais finos que o normal e as touceiras apresentam-se com superbrotamento. O chicote surge em plantas com 2 a 4 meses de idade e o pico da formação dos chi- cotes ocorre quando estas se encontram com seis a sete meses. A ocorrência da doença é altamente dependente das condições ambientais, sob condições de estresse,mesmo variedades com resistência ao fungo poderão apresentar sintomas da doença. O calor e o estresse hídrico favorecem a doença. O controle mais efetivo desta enfermidade é feito com o uso de varieda- des resistentes ao fungo. Em São Paulo, para essa finalidade, recomendam-se IACSP94-2101, IACSP94-4004, IACSP94-6025 e IACSP95-6114. A prevenção também é eficiente, ou seja, o uso de mudas sadias no plantio reduz o inóculo inicial da cana-planta, para tanto, é necessário fazer o tratamento térmico de mudas, com imersão em água quente (52º C por 30 minutos). Outra medida é o rouguing, ou eliminação de plantas doentes, antes que ocorra a liberação dos esporos (SANTOS, 2003). A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS, CULTIVO E COLHEITA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 O raquitismo das soqueiras é causado por uma bactéria (Leifsonia xyli subsp. xyli), a qual é considerada por muitos pesquisadores como sendo a doença mais importante que afeta a cana-de-açúcar no mundo. As perdas causadas por essa doença atingem a produtividade, reduzindo-a em 5 a 30%. A doença é favorecida em condições de estresse hídrico, sendo facilmente transmitida por ferramen- tas infectadas e mudas doentes. Assim, também existe evidências de que pode ser transmitida por máquinas colheitadeiras. Em condições de campo, o raquitismo das soqueiras não é reconhecido facil- mente, pois pode haver confusão com práticas culturais, com as condições de umidade inadequada e de deficiência nutricional. Portanto, é necessário recor- rer a um laboratório de fitopatologia. A doença fica mais evidente nas soqueiras de variedades suscetíveis, onde se observa, na parte interna de colmos maduros, vasos com coloração alterada (de laranja-claro a vermelho-escuro). Os sintomas externos são colmos mais finos e internódios curtos, com queda da produtividade. A principal forma de controle é o uso de resistência varietal. Outra maneira é o tratamento térmico de colmos ou gemas, do mesmo modo que na podri- dão-vermelha. Ainda assim, todos os equipamentos utilizados no corte da cana-de-açúcar devem ser desinfetados, com o uso de produtos químicos (solu- ção de creolina, lisol ou formol a 10%) ou mesmo pelo calor, passando os podões (ou facões) pelo fogo para destruição do patógeno (SANTOS, 2003). PLANTAS DANINHAS Outro fator que afeta a sanidade da cultura da cana são as plantas daninhas, plantas que crescem no canavial concorrendo com as plantas de cana por água, luz e nutrientes, influenciando de forma negativa no desenvolvimento e pro- dutividade da cultura. Existe uma variedade de plantas daninhas que podem afetar os canaviais e a ocorrência das mesmas varia de propriedade para pro- priedade, entre estas, de acordo com Rosseto e Santiago (2019, on-line)4, as que ocorrem com maior frequência nos canaviais brasileiros são a corda-de-viola (Ipomoea spp.), o capim-marmelada (Brachiaria plantaginea) e o capim-col- chão (Digitaria horizontalis). Fitossanidade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 A principal fase de influência das plantas daninhas na cultura da cana é na fase inicial de desenvolvimento da mesma, na cana-planta, principalmente durante a brotação das gemas. Na cana-soca, o período crítico de competição com plantas daninhas corresponde aos primeiros 60 dias após cada corte no canavial. Nesse período, o controle deve ser bem feito, para evitar perdas de pro- dutividade (ANDRADE; ANDRADE, 2007). Em áreas em que ocorre a queima do canavial e a colheita manual, após apli- cação de vinhaça nas soqueiras, os herbicidas são aplicados com pulverizadores de barra, tracionados por trator, adequados para cana-planta. É indispensável, no entanto, atentar-se para as condições adequadas de umi- dade do solo, pois o uso dos herbicidas exige essa condição para que sejam mais eficientes. É justamente nos meses entre maio a agosto (início e meio de safra) que geralmente as condições de umidade no solo são inadequadas. Outra alternativa é empregar cultivo mecânico ou mesmo capinas manuais, com o uso de enxadas. Em áreas onde a colheita é mecanizada ou manual sem queima da palha, o palhiço exerce um bom controle de plantas daninhas. Nesse caso, a aplicação do herbicida é feita de forma dirigida ou localizada, apenas onde surge o mato, com o uso dos pulverizadores costais motorizados ou manuais. Por outro lado, em áreas pequenas, o controle pode ser feito de maneira eficiente com a capina manual (ANDRADE; ANDRADE, 2007). O uso de agrotóxicos é regulamentado pela Lei Federal n. 7.802, de 11 de julho de 1989 e regulamentada pelo Decreto Federal 4.074, de 4 de janeiro de 2002. No Es- tado do Paraná, no entanto, é disciplinado complementarmente pela Lei Estadual n. 7.827, de 29 de dezembro de 1983 e seu Regulamento, aprovado pelo Decreto Estadual n. 3.876, de 20 de setembro de 1984, além das demais Resoluções, Portarias Estaduais e Federais e outras legislações específicas. A prescrição de uso dos agrotó- xicos, todavia, deve ser feita, obrigatoriamente, mediante o receituário agronômico, sendo imprescindível que o profissional seja habilitado e que respeite as disposições do Art. 66, parágrafo único do Decreto Federal n. 4.074, de 4 de janeiro de 2002. Para saber mais, acesse: http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario- -agronomico.pdf e http://celepar07web.pr.gov.br/agrotoxicos/. Fonte: os autores. http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://creajrpr.files.wordpress.com/2010/12/manual-receituario-agronomico.pdf http://celepar07web.pr.gov.br/agrotoxicos/ http://celepar07web.pr.gov.br/agrotoxicos/ http://celepar07web.pr.gov.br/agrotoxicos/ http://celepar07web.pr.gov.br/agrotoxicos/ http://celepar07web.pr.gov.br/agrotoxicos/ http://celepar07web.pr.gov.br/agrotoxicos/ http://celepar07web.pr.gov.br/agrotoxicos/ http://celepar07web.pr.gov.br/agrotoxicos/ http://celepar07web.pr.gov.br/agrotoxicos/ http://celepar07web.pr.gov.br/agrotoxicos/ http://celepar07web.pr.gov.br/agrotoxicos/ http://celepar07web.pr.gov.br/agrotoxicos/ http://celepar07web.pr.gov.br/agrotoxicos/ http://celepar07web.pr.gov.br/agrotoxicos/ A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS, CULTIVO E COLHEITA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 MÉTODOS DE COLHEITA A colheita da cana-de-açúcar é uma operação extremamente importante, pois influi no desempenho de todo o processo industrial. O melhor momento para se fazer a colheita é quando a planta está com a maior concentração de açúcares, o que vai depender de fatores, como condições edafoclimáticas, adubação,região, idade do canavial, variedade, ocorrência de pragas e doenças (XAVIER, 2007). A tabela a seguir, em que POL é a porcentagem de sacarose aparente contida no caldo de cana; ART são açúcares redutores totais; AR são açúcares redutores e Brix é a porcentagem de sólidos dissolvidos na água, apresenta alguns parâ- metros para a escolha do momento ideal para a colheita. Esta pode ser manual ou mecânica, mas independentemente do tipo de colheita, os cuidados são fun- damentais para o sucesso da operação. Tabela 1 - Indicadores da qualidade da cana-de-açúcar para cana-de-açúcar e valores dos parâmetros recomendados pela Fermentec INDICADOR VALOR RECOMENDADO POL > 14% Pureza (POL/Brix) > 85% ART (sacarose, glicose, frutose) > 15% (maior possível) AR (glicose, frutose) < 0,8% Fibra 11 a 13% Métodos de Colheita Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 INDICADOR VALOR RECOMENDADO Tempo de queima/corte < 35 horas para cana com corte manual Terra na cana (minerais) < 5 kg/tonelada de cana Contaminação da cana < 5,0 X 105 bastonentes/mL no caldo Teor de álcool no caldo da cana < 0,06% ou 0,4% Brix Acidez sulfúrica < 0,80 Dextrana < 500 ppm/Brix Amido na cana < 500 ppm/Brix Broca na cana < 1,0% Índice de Honig-Bogstra > 0,25 Palhiço na cana < 5% Ácido aconítico < 1500 ppm/Brix Fonte: Xavier (2007). A prática da queima prévia das lavouras, até então usual para facilitar a colheita dos colmos, contudo, é motivo de muitas discussões nas esferas técnica e ambiental, pois provoca a emissão de gases de efeito estufa, de perdas dos açúcares conti- dos nos colmos por exsudação e, ainda, perdas de matéria orgânica e umidade no solo, por outro lado, reduz o tempo para corte e moagem da cana, sendo o que praticamente viabiliza a colheita manual (VEIGA FILHO, 2006, on-line)5. Essa prática, no entanto, exige a autorização prévia sob condições específicas que são determinadas pelos órgãos ambientais estaduais e foram estabelecidos limites para o seu uso. Além disso, nos principais estados brasileiros, a prática da queima está sendo restringida cada vez mais, ano a ano, de acordo com a legisla- ção de cada estado. No caso do Estado de São Paulo, de acordo com a legislação, o corte de cana queimada deveria acabar até 2021 em áreas mecanizáveis (com declividade menor que 12%) e até 2031 para as áreas não mecanizáveis (com declividade superior a 12%), porém, em 2007, foi assinado o Protocolo agro- ambiental entre o Governo Estadual e a União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo - UNICA, em que os mesmos firmaram um acordo no qual foi previsto que as áreas mecanizáveis não seriam mais queimadas após 2014 e, nas áreas não mecanizáveis, esta prática não seria mais adotada após 2017. A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS, CULTIVO E COLHEITA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 Por esta razão, as usinas estão abandonando a colheita manual, em prol da colheita mecânica. Outro fator que influi nesse posicionamento da agroindús- tria é o custo da mão de obra que se elevou, pesando contra a colheita manual (XAVIER, 2007). De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2018), na safra 2018/2019, apenas 3% da cana será colhida de forma manual na Região Centro-Sul. Na Região Norte/Nordeste, porém, este percentual é bem maior, cerca de 74,6%, isto se deve ao relevo mais acidentado da região e pela disponi- bilidade de mão de obra. Ainda de acordo com a companhia, o corte manual de cana-de-açúcar passou de 75,6%, na safra 2007/08 para 8,4%, na referida safra. A COLHEITA MANUAL Esta prática exige a queima prévia do canavial para eliminar a palha, o que aumenta o rendimento da operação de corte e, além disso, elimina a mistura de palhiço na matéria-prima que vai para a usina. O corte manual de cana crua para moagem, porém, vem sendo inviabilizado com o baixo rendimento obtido e seu custo operacional considerado elevado. Além dos problemas industriais, causados pelo excesso de palha durante o preparo da matéria-prima dentro da agroindústria, para exemplificar a eficiência dessa operação, o corte de cana crua para mudas tem o rendimento de 3 a 4 toneladas/homem/dia, enquanto o corte de cana queimada para a indústria rende de 7 a 10 toneladas/homem/dia. A Lei n. 11.241, de 19 de fevereiro de 2002, dispõe sobre a eliminação grada- tiva da queima da palha da cana-de-açúcar e a regulamentação da queima da cana para a colheita no Estado de São Paulo, além do acordo estabeleci- do entre o Governo paulista e a UNICA. Para saber mais, acesse: http://www. al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 e http://unica.com.br/protocolo- -agroambiental/ . Fonte: os autores. http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://www.al.sp.gov.br/legislacao/norma.do?id=217 http://unica.com.br/protocolo-agroambiental/ http://unica.com.br/protocolo-agroambiental/ http://unica.com.br/protocolo-agroambiental/ http://unica.com.br/protocolo-agroambiental/ http://unica.com.br/protocolo-agroambiental/ http://unica.com.br/protocolo-agroambiental/ http://unica.com.br/protocolo-agroambiental/ http://unica.com.br/protocolo-agroambiental/ http://unica.com.br/protocolo-agroambiental/ http://unica.com.br/protocolo-agroambiental/ http://unica.com.br/protocolo-agroambiental/ http://unica.com.br/protocolo-agroambiental/ Métodos de Colheita Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 39 A operação de corte é realizada em leitos de cinco linhas, para espaçamen- tos entre 1,3 e 1,5 m ou, em quatro linhas, para espaçamentos de 1,7 a 1,8 m. No campo, para que o cortador saiba quanto será remunerado no fim da jornada, transformam-se as toneladas em metros cortados por leito, após avaliação do rendimento da produtividade do talhão. Nesta etapa, a cana pode ser depositada no solo na forma esteirada, ou em montes distanciados de 2 m um dos outros, com ou sem desponte, para maior eficiência no carregamento. O carregamento pode ser realizado com carregadoras mecânicas conven- cionais, montadas em tratores (operação que só é viável com declividades de até 12%), e autopropelidas (declives acima de 12%), cada carregadora apre- senta rendimento médio de 30 a 40 toneladas/hora. Após o carregamento, faz-se a catação de bitucas, que são canas inteiras ou pedaços que caem durante o carregamento, as quais depois de amontoadas, elas são enviadas à indústria (XAVIER, 2007). A COLHEITA MECÂNICA Esta operação pode ser feita com cana crua ou queimada, usando transbordos ou diretamente nos caminhões. O trabalho intenso de pesquisa e desenvolvimento, combinado ao rendimento operacional das máquinas com a qualidade de corte para melhorar a produtivi- dade agrícola e longevidade dos canaviais, tem tornado essa prática bastante usual. A Conab (2018) estima que, na safra 2018/2019, 91,6%c daprodução bra- sileira de cana será colhida de forma mecanizada, um valor muito maior do que o observado na safra 2007/2008, que foi de 24,4%. A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS, CULTIVO E COLHEITA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E40 Ainda segundo a Conab (2018), a colheita mecanizada sem queima prévia acarreta em benefícios, como a menor emissão de gases de efeito estufa no campo e na indústria, proporcionando a intensificação do processo, já que a limpeza da cana-de-açúcar colhida nesta modalidade é processada a seco, proporcionando redução do uso de água neste processo e evitando perdas no teor de sacarose. A qualidade da cana cortada mecanicamente é superior quando o corte é feito em cana crua, porém a colheita de cana crua também traz algumas desvantagens, que devem ser levadas em conta, como a maior incidência de pragas, principalmente cigarrinha, devido ao acúmulo de palha no solo, o risco de incêndio da palhada e a dificuldade de brotação de algumas varieda- des dado o menor aquecimento e o maior sombreamento do solo. Por outro lado, as vantagens apontadas são: o maior teor de matéria orgânica disponí- vel no solo; a menor compactação do solo; a maior retenção de umidade; a menor incidência de plantas daninhas; e condições mais favoráveis para o equilíbrio do microambiente, com o desenvolvimento dos inimigos naturais (XAVIER, 2007). Os espaçamentos mais utilizados são sulcos simples, de 1,4 e 1,5 m entre- linhas ou o espaçamento duplo, que consiste no plantio de duas linhas duplas paralelas espaçadas de 40 a 50 cm e distantes 1,3 m uma da outra, com 1,7 a 1,8 m entrelinhas. Com a adaptação das máquinas para a colheita de duas linhas simultaneamente, o espaçamento tem sido adaptado para o uso de linhas duplas, as quais ficam dispostas a 0,9 m entre si e, espaçadas a 1,5 e 1,6 m entre a outra fileira de linhas nas laterais. Essa estratégia também evita o tráfego do rodado dos pneus sobre as linhas de plantio, reduzindo perdas. O rendimento operacional depende do planejamento prévio de espaça- mento, do dimensionamento de talhões e o comprimento das linhas de plantio, da sistematização do solo, da escolha de variedades adequadas, da velocidade de trabalho e manobras planejadas e precisas, de sincronismo com o cami- nhão e/ou transbordo, e da boa manutenção das colhedoras mecânicas. O rendimento efetivo de colhedora varia de 700 a 800 toneladas/dia por colhe- dora (XAVIER, 2007). Desenvolvimento Sustentável na Produção de Cana-de-açúcar Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 41 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR As discussões envolvendo a temática do desenvolvimento sustentável são atuais e pertinentes e têm alcançado cada vez mais importância devido a recentes cons- tatações sobre o efeito do aquecimento global, com o derretimento de geleiras e as irregularidades das estações e dos eventos climáticos, os quais são nota- dos recentemente com as variações de temperatura, as chuvas irregulares e as épocas de seca prolongadas, além dos desastres ambientais, dentre outros pro- blemas similares. Essas questões têm afetado o agronegócio, sendo consideradas como externalidades negativas, dificultam as operações oportunas de plantio, de colheita e do transporte. O conceito de desenvolvimento sustentável, contudo, leva em consideração não somente a preocupação de produzir bens e serviços para atender a demanda atual da população em suas necessidades, atentando para a preocupação com os interesses econômicos da empresa, mas também leva em consideração a neces- sidade de conservar os recursos disponíveis para as gerações futuras, para o uso da própria empresa e da sociedade. Assim, ele inclui uma dimensão social e não apenas a ambiental. A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS, CULTIVO E COLHEITA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E42 Nesse sentido, a definição de desenvolvimento sustentável apresentada no Relatório de Brundtland pelo The World Comission on Environment and Development - WCED, em 1987 (The Brundtland Comission), enfatizava o aten- dimento às necessidades das gerações atuais sem o comprometimento das habilidades das gerações futuras em atender suas próprias necessidades. O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, na safra 2018/2019, estima-se que a área em que esta cultura será colhida abrangerá cerca de 8,66 milhões de hectares que serão produzidos 635,51 milhões de toneladas de cana. E devido a esta grande produção, a cada ano que passa, esse segmento da agroindústria apresenta participação cada vez maior na balança comercial e no PIB brasileiro. Não há como contestar que a pujança econômica da cana-de- -açúcar contrasta, sob o prisma social e ambiental, com impactos nos estados e municípios. No que se refere à área social, afirma-se que o setor passa por um momento de transformação. O dilema apresentado se refere à mecanização da colheita da cana que acaba com o problema das queimadas, mas gera uma redução na demanda de mão de obra pouco qualificada. Por outro lado, o corte manual da cana-de-açúcar é considerado um trabalho árduo e desgastante, porém, é a fonte de renda de um milhão de trabalhadores no país. A renda média dos cortadores tem aumentado desde a década de 70 e hoje alcança valor de 81% acima do valor do salário mínimo nacional. Especialistas defendem que isso é fruto de um aumento da quantidade colhida por dia por cor- tador e não de um aumento efetivo da remuneração (ALVARENGA; QUEIROZ, 2006). Outro problema social apontado no corte de cana se refere às precárias condições de trabalho a que naturalmente são submetidos os trabalhadores rurais empregados no corte. Ainda assim, constataram que as condições de pagamento por produtividade levam os trabalhadores a jornadas exaustivas de trabalho, para conseguirem o máximo de produtividade pessoal. Quanto mais toneladas o mesmo cortar, mais rendimento obterá ao final do mês. A remuneração média percebida pelos cortadores de cana (pessoas com baixa escolaridade média) cria uma falsa ilusão, pois não ocorrem aumentos consideráveis na remuneração, mas sim um aumento que se deve ao acréscimo Desenvolvimento Sustentável na Produção de Cana-de-açúcar Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 43 da produtividade individual (toneladas/homem), muitas vezes acima da capa- cidade individual sustentável (ALVARENGA; QUEIROZ, 2008). Deve-se reconhecer, no entanto, que avanços vêm ocorrendo, como a melho- ria nas condições de transporte, de higiene, de segurança com o fornecimento dos equipamentos de proteção individual, nas condições para alimentação e no respeito à legislação trabalhista. O dilema se instala quando se fala em mecanização da lavoura, quando a prática é obrigada pela legislação que proíbe a queimada da palhada da cana- -de-açúcar. Por outro lado, a mecanização tem demandado mão de obra mais qualificada para operar os novos equipamentos e processos. No que se refere à questão ambiental, porém, ocorreu uma significativa subs- tituição do uso de combustíveis fósseis por renováveis, tal qual é o consumo de álcool combustível em detrimento da gasolina, graças ao aumento das vendas dos carros a biocombustível. Assim, isso se torna cada vez mais relevante nos termos dos esforços para se reduzir as emissões de gás carbônico. Além disso, a cogeração de energia a partir do bagaço de cana, que é considerada mais uma fonte energética alternativa, também tem cumprido esse mesmo papel. Os sistemas de produção da cana são reconhecidos como causadores de danos ambientais nos espaços geográficos locais em que é produzidaessa matéria-prima. Além do mais, o uso inadequado de seus subprodutos, como a torta de filtro e a vinhaça, pode contaminar tanto o solo quanto o lençol freático. Nesse sentido, outro problema reconhecido se refere à queima da cana afetando a população das regiões circunvizinhas às plantações de cana-de-açúcar. A mecanização resolveria, por um lado, o problema ambiental, evitando a poluição, a queimada, as cinzas, o aquecimento gerado por essa queima, den- tre outras externalidades negativas geradas, no entanto, a introdução completa das máquinas, eliminaria os postos de trabalho dos cortadores de cana, restando ainda algumas soluções propostas para equacionar esse problema. Nesses termos, cabe ao gestor em agronegócios, além dos demais profis- sionais inseridos na administração dessas organizações buscar as soluções que minimizem ou eliminem os efeitos negativos apontados para a produção da cana-de-açúcar, encontrando alternativas viáveis à solução desses problemas. A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS, CULTIVO E COLHEITA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E44 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado(a) aluno(a), é com grande satisfação que chegamos ao final desta uni- dade, dedicada ao estudo histórico, morfológico, tecnológico de produção, de meio ambiente e de custo de produção aplicados na cultura da cana-de-açúcar, no Brasil. Nele, você conheceu a fundo esta cultura explorada em muitas regi- ões de nosso país que possuem clima favorável para seu cultivo, obtendo, assim, ótimas produtividades. Como você pode ter notado, a forma de cultivo desta cultura em nosso país mudou muito desde sua introdução pelos portugueses até os dias atuais, passando do cultivo e colheita manuais com baixa tecnologia para o cultivo intensivo, com sua grande quantidade de máquinas e muitos insumos. Além disso, os produtos derivados deste setor também se modificaram, no início pro- duzíamos cachaça e rapadura, hoje, o mesmo produz etanol e açúcar, produtos que são comercializados no mercado interno e também no exterior, geralmente altos rendimentos ao setor. Assim, como você pôde comprovar, se trata de um setor muito dinâmico, que possui competitividade em relação a outros países, como a tecnologia uti- lizada para implantação e condução da cultura, com destaque para o controle biológico da broca da cana-de-açúcar e o uso de resíduos do processamento na adubação da cana. Este setor, devido ao seu apelo ambiental por produzir com um combustível renovável, tende a se expandir ainda mais, gerando oportuni- dades a inúmeros profissionais e em suas respectivas categorias. Portanto, melhore seu nível de conhecimento com informações sobre os sistemas produtivos adotados em sua região e, ainda mais, se esse assunto lhe atrai, estude mais, busque novas fontes e procure se possível, um estágio em uma agroindústria da cana-de-açúcar próximo a sua localidade, pois pode ser uma porta para o seu ingresso no mercado profissional. 45 1. Como a cana-de-açúcar chegou ao Brasil? Pesquise sobre a questão histórica desta cultura em nosso país. 2. Por que e como as técnicas de plantio/cultivo, calagem e adubação e controle de pragas, doenças e ervas daninhas são fundamentais para a produtividade das lavouras de cana-de-açúcar? 3. Quais as vantagens e as desvantagens da colheita mecanizada sem queima prévia? 4. O que é desenvolvimento sustentável e como essa questão se relaciona com o setor sucroalcooleiro? 5. Nos últimos anos, o setor sucroalcooleiro vem passando por mudanças na busca por melhorar sua imagem frente à sociedade, este setor sofre com mui- tas críticas ligadas às questões ambientais e sociais. Leia as assertivas sobre as principais críticas enfrentadas pelas agroindústrias inseridas na cadeia da cana-de-açúcar no contexto social. I. A substituição do homem pela máquina na colheita mecanizada, ocasio- nando desemprego. II. A insalubridade e as condições precárias de trabalho enfrentadas por traba- lhadores em algumas agroindústrias dessa cadeia produtiva. III. O sistema de pagamento por produtividade que ocasiona lesões e danos à saúde dos trabalhadores. IV. A queima da cana que causa a morte de microrganismos do solo. É correto o que se afirma em: a) Somente as alternativas I e III. b) Somente as alternativas II e IV. c) Somente as alternativas I, III e IV. d) I, II, III e IV. e) Somente as alternativas I, II e III. 46 Como vimos nesta unidade, a cultura da cana-de-açúcar é implantada convencional- mente com o uso de toletes, em que a partir das gemas presentes nestes são originadas novas plantas. Hoje, porém, esta prática vem sendo pouco a pouco substituída pelo uso de mudas pré-brotadas. Conheça mais sobre esta inovação na produção desta gramínea lendo o texto a seguir. Inovação: plantio da cana-de-açúcar Um novo conceito na forma de multiplicação rápida da cana-de-açúcar, principalmente em viveiros para uso no plantio de canaviais, tem chamado a atenção de produtores rurais e empresários do setor sucroenergético. Trata-se do sistema de Mudas Pré-Bro- tada (MPB), desenvolvido pelo Instituto Agronômico (IAC), em Ribeirão Preto (SP). Com a novidade, saí de cena o tradicional e usual tolete (colmo semente) e entra na história mudas já prontas, que são cultivadas por um período de 60 dias até ir para o campo. Essa tecnologia, que já está acessível ao produtor, ajuda a reduzir o consumo de mudas, gera uniformidade no plantio, qualifica o processo de produção nos canaviais e con- tribui para um salto na qualidade fitossanitária das mudas. A nova tecnologia desen- volvida pelo Programa Cana do IAC é direcionada a aumentar a eficiência e os ganhos econômicos na implantação de viveiros, replantio de áreas comerciais e possivelmente renovação e expansão de áreas de cana-de-açúcar. A equipe do IAC trabalhou por três anos nos experimentos e o sistema MPB completou, em novembro de 2013, um ano de lançamento. Alguns produtores já têm experimenta- do a tecnologia em busca de conquistar mais vigor no plantio e maior produtividade. É um método simples que pode ser adotado por pequenos produtores e associações, não ficando restrito às usinas. Segundo o pesquisador do IAC, Mauro Alexandre Xavier, uma das vantagens do siste- ma está na redução da quantidade de colmo e mudas para plantio da cana. Ele destaca que hoje, no plantio mecanizado de cana-de-açúcar da forma tradicional, são utiliza- dos, aproximadamente, de 16 a 18 toneladas do chamado colmo semente para plantar um hectare. Por meio do MPB, são usadas apenas duas toneladas por hectare. Outro exemplo é que em um metro são usados 10 toletes, enquanto no sistema MPB são necessárias apenas três mudas. “Além disso, os canaviais apresentam menos falhas com esse sistema e a possibilidade de não brotar é zero, pois as mudas já estão prontas, o que reflete em produtividade. É possível explorar uma distribuição espacial mais uni- forme e adequada”, reforça. Mauro acrescenta que a partir do momento que se tem a muda, o produtor pode es- tabelecer distâncias entre as plantas no momento do plantio, o que não é possível a partir da gema. “Com a redução do número de colmos e mudas, o produtor pode ainda aproveitar as canas, que seriam usadas para retirar as gemas, de forma comercial, au- mentando a produção”, destaca. 47 Processos A tecnologia do MPB permite mudar a forma de produção de mudas. No lugar dos col- mos como sementes, entram as mudas pré- brotadas, que são produzidas a partir de cortes de canas, chamados minirrebolos – onde estão as gemas. Depois passam por uma seleção visual e são tratados com fungicida. São colocados em caixas de brotação com temperatura e umidade controlada e, ao final, colocadas em tubetes que passam por duas fases de aclimatação. O ciclo completo leva 60 dias. Logo depois do plantio, é possível perceber o potencial de perfilhar das mudas, ou seja, já passam a fazer acúmulo de biomassa.
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