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Conteúdo: TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO II Gisele Lozada Abordagem Sistêmica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar as principais correntes da abordagem sistêmica na ad- ministração. � Relacionar a teoria geral dos sistemas com a complexidade das organizações. � Criticar os avanços e limitações da abordagem sistêmica na ad- ministração. Introdução Neste texto, veremos a abordagem sistêmica da administração, que surge a partir dos anos 50, com a formulação da teoria geral dos sis- temas pelo biólogo alemão Ludwig Von Bertalanffy. Com esta teoria, houve uma substituição de alguns princípios da abordagem clássica em direção a uma nova realidade de princípios intelectuais dominan- tes. Essas transformações, somadas ao surgimento da automação e da informática - ainda que em estágios primários, acabou por revisar vários pressupostos da administração e atrair interesses de diversos teóricos e pesquisadores. Abordagem sistêmica da administraçã o Na década de 1950, o biólogo Ludwig von Bertalanffy elaborou uma teoria interdisciplinar capaz de ultrapassar problemas que antes eram exclusivos de cada ciência, proporcionando assim princípios gerais e modelos gerais para todas as ciências que estavam em discussão naquele momento, onde as desco- bertas realizadas em cada uma destas ciências pudessem vir a ser utilizadas por todas as outras de alguma forma (Chiavenato, 2002). Tal teoria de vanguarda foi intitulada Teoria Geral dos Sistemas, demons- trando o isomorfismo das múltiplas ciências, viabilizando, assim, a elimi- nação das fronteiras existentes, conduzindo a uma maior aproximação entre as ciências e vindo a preencher as lacunas existentes entre elas. A teoria trata essencialmente de que os sistemas não podem ser simplesmente compreendidos por uma análise separada e exclusiva de somente uma de suas partes, mas sim baseando-se na vinculação recíproca das mais diferentes ci- ências e da necessidade de integrá-las para a busca de um único resultado sobre um mesmo tópico. Em verdade, a Teoria Geral da Administração apresentou, ao longo dos tempos, uma ampliação gradativa e crescente de seu enfoque, desde a abor- dagem clássica até a abordagem sistêmica. Enquanto estava sob a batuta da abordagem clássica, a TGA, assim como praticamente todas as ciências da época, era influenciada por três princípios dominantes: reducionismo, pensa- mento analítico e mecanicismo. � Reducionismo: baseado na crença de que todas as coisas podem ser divi- didas em partes menores, sendo reduzidas até seus elementos fundamentais mais simples, de modo que atinjam a constituição de unidades indivisíveis; � Pensamento analítico: utilizado pelo reducionismo, considera que a di- visão por ele proposta permite que tudo (objetos, fenômenos, teorias) seja melhor explicado, compreendido e solucionado quando avaliado em suas partes constituintes mais elementares; � Mecanicismo: baseado fundamentalmente na simples relação de causa e efeito entre dois fenômenos, sendo um a causa e o outro, o efeito, quando o primeiro for suficiente para provocar o segundo. � Com a chegada da Teoria Geral dos Sistemas, estes princípios foram substituídos, sendo a regência da TGA transferida para a abordagem sistêmica, onde seu enfoque mudou para princípios opostos, correspon- dentes ao expansionismo, pensamento sistêmico e teleologia, advindo da TGS: � Expansionismo: é o princípio que sustenta todo o fenômeno como sendo a parte de um fenômeno maior, ou seja, o desempenho de um sistema depende de como ele se relaciona com o todo que o envolve (visão voltada para o todo); Exemplo O átomo na física, a célula na biologia e as substâncias na química são exemplos que ilustram o conceito do reducionismo. � Pensamento sintético: considera que cada fenômeno é parte de um sistema maior, sendo explicado em razão do papel ou função desempenhados por ele neste sistema (interesse em juntar as coisas ao invés de separá-las); � Teleologia: compreende a causa como uma condição necessária, mas nem sempre suficiente para que surja algum efeito, ou seja, causa e efeito não representam uma relação determinística ou mecanicista, mas sim puramente provável. Em contraponto ao mecanicismo, que possui foco na causa como promotora de um efeito, e teleologia foca no efeito como motivador da causa, explicando um comportamento em razão daquilo que ele produz ou pretende produzir. Figura 1 – Princípios da abordagem clássica e sistêmica da administração. Fonte: Chiavenato (2002, p. 233) Estes princípios da abordagem sistêmica, principalmente a teleologia, promo- veram o redimensionamento da Teoria Geral da Administração, passando a influenciar poderosamente esta e outras ciências, introduzindo a concepção da busca por objetivos, onde os sistemas e suas partes integrantes possuem propósitos e finalidades únicas. Exemplo Os órgãos do corpo humano, cada um tendo um papel a desempenhar com o obje- tivo de manter o corpo todo em funcionamento, representam um bom exemplo do pensamento sistêmico. Abordagem Clássica Abordagem Sistêmica - Reducionismo - Expansionismo - Pensamento analítico - Pensamento sintético - Mecanicismo - Teleologia Neste contexto de mudanças, as mais diferentes áreas e ciências, que antes correspondiam a mundos isolados em sua própria redoma de conhecimento, passaram a alinhar seus objetivos como em um sistema. Surge, assim, a Abordagem Sistêmica da Administração, buscando conjugar conceitos oriundos das diversas ciências, acreditando que, embora um de- terminado objeto de estudo possua diversas dimensões, elas podem ser es- tudadas e compreendidas pelas diferentes ciências, que passam a colaborar mutuamente, colocando seus conceitos e princípios à disposição do estudo de um fenômeno por uma determinada ciência. Abordagem Sistêmica da Administração é composta por três principais escolas: � Cibernética; � Teoria Matemática; � Teoria de Sistemas. Cibernética Criada por Norbert Wiener, na década de 1940, a Cibernética é uma ciência da comunicação e do controle, seja no mundo do homem ou das máquinas, tendo como principal intuito os processos e sistemas de transformação da informação, tendo sua efetivação em processos físicos, fisiológicos, psicoló- gicos, entre outros. Fique Atento A abordagem sistêmica influenciou poderosamente a TGA e outras ciências, introdu- zindo a concepção da busca por objetivos. Fique Atento Abordagem Sistêmica da Administração surgiu da intenção de conjugar conceitos oriundos das diversas ciências. A Cibernética estuda os sistemas, entendendo-os como conjuntos de elementos relacionados na busca pelo atingimento de um objetivo. Assim, apoia-se em alguns dos principais conceitos relativos aos sistemas: � Entradas (inputs): o que alimenta o sistema para que ele possa operar. � Saídas (output): tudo o que o sistema produz, transformando as en- tradas que recebe; � Caixa negra (black box): é um conceito que descreve todo o trabalho que o sistema executa para produzir suas saídas; � Retroação ( feedback): denominado como retroalimentação ou retro in- formação, é o retorno de uma parte das saídas à entrada, com o intuito de promover as mudanças necessárias; � Homeostasia: é a capacidade de sobrevivência do sistema, obtida por meio de auto regulação ou autocontrole, promovendo um equilíbrio di- nâmico; � Todos estes conceitos levam a Teoria Cibernética a consequências ou resultados, dentre os quais cabe destacar a automação e a informática: � Automação: são invenções que possuem dispositivos capazes de tratar a informações oriundas do meio exterior e propiciar ações e/ou res- postas para estas informações, podendo ainda, tratar a informação de tal forma que poderá até modificar sua própria estrutura interna com o intuito de melhorar o processo, gerando aprendizado; � nformática: transformou-se em uma importante ferramenta tecnoló- gica ao dispordo homem, promovendo o desenvolvimento econômico e social, tendo em vista a agilidade por ela proporcionada no processo de tomada de decisão e pela otimização dos recursos possuídos e utili- zados por uma organização. Críticas ou limitações da Cibernética Dentre as críticas destinadas a cibernética, podemos citar: � Promoveu uma certa dependência, tornando-se um dos recursos mais importante para as organizações modernas; � Ainda não conseguiu proporcionar todos os benefícios de produtivi- dade e desempenho desejados pelas organizações; � Historicamente, se a primeira Revolução Industrial desprestigiou o tra- balho manual humano, a segunda Revolução Industrial, desencadeada pela Cibernética, trouxe uma possível desvalorização do cérebro humano. Teoria Matemática A Teoria Matemática aplicada dentro da Administração busca a resolução de problemas, possuindo grande importância no processo decisório, pois procura tratar as decisões de maneira lógica e racional, com uma abordagem quantita- tiva, deslocando a importância da ação para a decisão que a antecede. Neste sentido, trouxe a necessidade da criação de modelos matemáticos des- tinados à Administração, tornando possível a concepção de que a Teoria Ma- temática tem a preocupação de construir um modelo de empresa baseado na matemática, sendo capaz de simular situações reais do dia a dia de uma orga- nização. A criação destes modelos matemáticos, destinam-se principalmente a resolução de problemas e assertividade na tomada de decisões. Dentre os temas trabalhados por esta especialidade estão operações, serviços, qualidade, estratégia e tecnologia, podendo abranger demandas como pro- cessos decisórios, modelos matemáticos em administração, pesquisas ope- racionais (PO), teoria dos jogos, controle estatístico de qualidade, qualidade total e balanced scorecard (BSC). Neste contexto, os problemas que a teoria matemática busca resolver podem ser classificados em dois principais grupos: � Problemas estruturados: são aqueles que se pode definir, pois suas pos- síveis consequências são conhecidas; � Problemas não estruturados: são aqueles que não se pode definir, pois suas variáveis não são conhecidas, impedindo que possam ser determi- nadas com confiabilidade. Figura 2 – Tipos de problemas e suas decisões. Fonte: Chiavenato (2002, p. 284) Críticas ou limitações da Teoria Matemática Dentre as críticas destinadas a teoria matemática, podemos citar: � Muito focada nas atividades operacionais das organizações, descui- dando da visão da organização como um todo; � Conduz ao reducionismo dos métodos da pesquisa operacional, por possuir uma abordagem matemática, bastante objetiva e quantificada. Teoria de Sistemas Esta teoria afirma que as propriedades dos sistemas não podem ser apresen- tadas separadamente, pois a compreensão dos sistemas somente é possível quando este é estudado globalmente, envolvendo assim todas interdependên- cias das partes que o constituem. PROBLEMAS DECISÕES PROGRAMADAS NÃO PROGRAMADAS Estruturados - Dados adequados e repe- titivos, certos e corretos - Previsibilidade - Problemas com situações conhecidas e estruturadas - Processamento de dados convencional - Dados inadequados, novos, incertos e não confiáveis - Imprevisibilidade - Problemas com situa- ções conhecidas e va- riáveis estruturadas - Tomada de decisão in- dividual e rotineira Não estruturados - Dados adequados e repe- titivos, certos e corretos - Previsibilidade - Problemas com situações des- conhecida e não estruturadas - Pesquisa Operacional - Técnicas matemáticas - Dados inadequados, novos, incertos e não confiáveis - Imprevisibilidade - Problemas com situações desconhecidas e variá- veis não estruturadas - Tomada de decisão in- dividual e criativa Neste sentido, pode-se dizer que sistema é um conjunto de elementos inter- dependentes que interagem entre sim, gerando um grupo de unidades combi- nadas que formam um todo organizado, onde o resultado do conjunto é maior do que o resultado que as partes poderiam produzir separadamente. Quanto a sua natureza, os sistemas podem ser classificados como abertos ou fechados: � Sistemas fechados: são sistemas que não apresentam interação com o meio ambiente que os cerca, permanecendo estáticos a qualquer influ- ência vinda de fora; � Sistemas abertos: são os sistemas que apresentam relações de interação com o ambiente que os cerca, sendo que o meio compreende as en- tradas e saídas do sistema. Figura 3 – Parâmetros de um sistema. Fonte: Chiavenato (2002, p. 325) Deste modo, no contexto da administração, torna-se possível afirmar que o sistema aberto é aquele que mais se adequa ao universo empresarial, pois mantém interação e transações constantes com o meio que o cerca. Dentro desta visão, a abordagem sistêmica trouxe profundas repercussões na teoria administrativa, passando a tratar efetivamente a organização como um sistema aberto devido a influência que tem sobre o meio ambiente, bem como a influência que recebe deste. Fique Atento O sistema aberto é aquele que mais se adequa ao universo empresarial, devido a sua constante interação com o meio. Ambiente Entrada Retroação Saída AmbienteProcessamento Neste contexto, é oportuno sinalizar algumas características apresentadas pelas organizações, que coincidem com características básicas dos sistemas abertos, cujo conhecimento é essencial para entendimento da organização como um sistema. São elas: � Comportamento probabilístico e não determinístico: uma organização nunca é totalmente previsível; � As organizações como partes de um sistema maior: as organizações integram a sociedade, ao mesmo tempo que são constituídas de partes menores, o que configura a existência de sistemas dentro dos próprios sistemas; � Interdependência entre as partes: as organizações dependem da socie- dade, e vice-versa, demonstrando que as partes dependem umas das outras; � Equilíbrio dinâmico: a organização precisa preservar sua condição interna (manter status quo), ao mesmo tempo que se adapta as mu- danças demandadas por sua interação com o meio (mudar status quo), a primeira garantindo a rotina enquanto a segunda leva à mudança e inovação, sendo ambas destinadas a um mesmo fim: o atingimento do objetivo almejado; � Fronteiras ou limites: separam o que está dentro do sistema daquilo que está fora dele, sem que esta linha necessite existir fisicamente; � Morfogênese: capacidade de a organização promover mudanças em sua constituição ou estrutura, tendo como ponto de partida a comparação entre os resultados atingidos e os almejados, permitindo que erros sejam detectados e corrigidos, promovendo novas condições, capazes de gerar melhores resultados. Face a complexidade natural de todo sistema, é importante conhecer e com- preender seus principais parâmetros e características, para que seu contexto possa ser aplicado às organizações. Dentre eles, cabe destacar: � Propósito: todo sistema tem um ou mais objetivos; � Globalismo ou totalidade: a alteração em uma das partes do sistema muito provavelmente promoverá influência todas as demais, demons- trando sua natureza orgânica; � Entropia: as partes tendem a perder sua capacidade de integração e comunicação, promovendo um fenômeno que leva o sistema à exaustão e degradação; � Sinergia: quando as partes produzem conjuntamente, o resultado por elas promovido tende a ser maior que a soma daquilo que produziria individualmente, gerando um efeito multiplicador que alavanca o resul- tado global do sistema. Por fim e em síntese, é oportuno reforçar algumas importantes definições sobre o sistema, que pode ser compreendido como: � Um conjunto de elementos com interação recíproca; � Um conjunto de partes reunidas que se relacionam entre si formando uma totalidade; � Um conjunto de elementos interdependentes, cujo resultado final é maior que a soma dos resultados que eles teriam, caso operassem de maneira isolada; � Um conjunto de elementosinterdependentes e interagentes no sentido de alcançar um objetivo ou finalidade; � Um grupo de unidades combinadas que formam um todo organizado, cujas características são diferentes das características das unidades; � Um todo organizado ou complexo, um conjunto ou combinação de partes, formando um todo global ou unitário orientado para uma fi- nalidade. Críticas ou limitações da Teoria dos Sistemas Dentre as críticas destinadas a teoria dos sistemas, podemos citar: � Conflito entre benefícios do sistema aberto e sistema fechado; � Trata a organização de forma a criar um modelo, sendo que as orga- nizações são tão ou ainda mais complexas do que sistemas físicos ou biológicos, o que, de certa forma, torna inviável a aplicação de modelos pré-definidos; � Caráter excessivamente integrador e abstrato; � Tendência de destacar funções ou conjunto de atividades exercidas pelos indivíduos nos subsistemas; � Promoção de ordem e desordem de forma simultânea; Saiba Mais Leia mais sobre a Abordagem Sistêmica na obra Teoria Geral da Administração (Chiave- nato, 2002). Referência Chiavenato, Idalberto. Teoria Geral da Administração. Vol.2 – 6ª edição. Rio de Janeiro: Campus, 2002. Leituras recomendadas ANDRADE, Aurélio L. [et al]. Pensamento Sistêmico. Porto Alegre: Bookman, 2006. AUDY, Jorge Luis Nicolas. Fundamentos de sistema de informação. Porto Alegre: Bookman, 2007. NEWSTROM, John W. Comportamento Organizacional. Porto Alegre: AMGH, 2011. O’BRIEN, James A.; MARAKAS, George M. Administração de Sistemas de Informação. Porto Alegre: AMGH, 2013. Conteúdo:
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