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FACULDADE PERNAMBUCANA DE SAÚDE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA AS PSICOTERAPIAS: ABORDAGEM SISTÊMICA JULIO FLAVIO MENDES E SILVA MARIA FERNANDA DOS SANTOS RECIFE 2021 JULIO FLAVIO MENDES E SILVA MARIA FERNANDA DOS SANTOS AS PSICOTERAPIAS: ABORDAGEM SISTÊMICA Este presente trabalho foi proposto pela Professora Maria Valéria de Oliveira Correia Magalhães, tutora dos Seminários Multiprofissionais como requisito para a construção da avaliação do Módulo I. RECIFE 2021 SUMÁRIO I. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 4 II. JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 10 III. DESENVOLVIMENTO .......................................................................................... 11 IV. CASO CLÍNICO .................................................................................................... 15 V. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 17 VI. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 18 Página 4 / 18 I. INTRODUÇÃO A base do pensamento Sistêmico, ganha direcionamentos e reconhecimento na metade século 20. Mas, foi na década de 30 houveram mudanças paradigmáticas das percepções mecanicistas para as ecológicas e até hoje essas alterações tem acontecido de forma lentificada, tendo retrocessos e alguns avanços nos diferentes campos da ciência. O desenvolvimento do Pensamento Sistêmico se deu a partir da Teoria Geral dos Sistemas, da Cibernética e da Teoria da Comunicação que são pilares e limites paradigmáticos para a Teoria Sistêmica. Antes de ser formulado a base da teoria sistêmica houveram alguns percussores históricos do século XVII, tais quais, o modelo de conhecimentos mecanicista que construía o entendimento de que o mundo seria como uma máquina. Além disso, o conhecimento químico se expandia através das grandes descobertas mostrando que os processos químicos auxiliavam para o funcionamento dos organismos vivos por meio da respiração que seria uma forma especial de oxidação. Em XVIII conhecimentos da biologia traçavam rumos iniciais através da morfologia que veio para explicar o estudo da forma biológica a partir de um ponto de vista dinâmico e ao avançar os estudos no século XX surgiu a Biologia Organísmica ou Organicismo como um movimento de oposição ao Mecanicismo e que se delineia como forte influência na construção do Pensamento Sistêmico. Segundo as concepções Organísmica “...as propriedades essenciais de um organismo pertencem ao todo, de maneira que nenhuma das partes as possuem, pois, tais propriedades surgem justamente das interações entre as partes. Portanto, as propriedades das partes podem ser entendidas apenas a partir da organização do todo. O Organicismo coloca o foco no entendimento das relações Página 5 / 18 organizadoras sendo que a concepção de organização foi aperfeiçoada posteriormente com o conceito de auto-organização” (GOMES, 2014). Em 1920 os pensamentos biológicos estavam ampliando os conhecimentos e tirando o foco da visão mecanicista. E através disso a Ecologia, uma das vertentes do Pensamento Sistêmico, emerge da Escola Organísmica da Biologia quando os estudiosos começaram a estudar comunidades de organismos. E assim, o foco dos estudos foram as relações que interligam os organismos. Através disso, concepção de ecossistema reestruturou todo o pensamento ecológico e construíram uma abordagem sistêmica da ecologia. Ainda sobre influências do pensamento da época o filósofo Christian Von Ehrenfels enfatizou que o todo é maior do que a soma das partes, e esse princípio tornou-se central na Teoria Sistêmica. Por volta da década de 1920, no início da carreira como biólogo em Viena, o austríaco Ludwig Von Bertalanffy começa as lançar críticas a predominância do enfoque mecanicista tanto na teoria quanto na pesquisa científica. Em 1940, Bertalanffy apresenta a Teoria Geral dos Sistemas, e o matemático norte-americano Norbert Wiener inicia a elaboração da Cibernética. Ambas as teorias tiveram desenvolvimento paralelo no século XX e configuram os limites paradigmáticos para a Teoria Sistêmica, em conjunto com a influência da Teoria da Comunicação Humana, criada por Gregory Bateson e Paul Watzlawick. A Teoria Geral dos Sistemas é também conhecida por Teoria Sistêmica. No entanto, elas são diferentes, visto que a Teoria Geral dos Sistemas é mais ampla e abarca todas as áreas do conhecimento (Física, Química, entre outras). Já a Teoria Sistêmica está mais voltada para a área da Psicologia. E é o biólogo Bertalanffy que confere importância ao Pensamento Sistêmico como um movimento científico por meio de suas concepções de sistema aberto e de sua Teoria Geral dos Sistemas. Através de suas pesquisas os organismos vivos foram entendidos como sistemas abertos que não podem ser descritos pelas perspectivas da termodinâmica clássica (ou seja, sistemas fechados em estado de equilíbrio térmico ou Página 6 / 18 próximo dele). “Os sistemas abertos podem se alimentar de um contínuo fluxo de matéria e de energia extraídas e devolvidas ao meio ambiente. Mantêm-se, portanto, afastados do equilíbrio em um estado quase estacionário ou em equilíbrio dinâmico” (CAPRA, 2006). Na década de 1940, aportes teóricos se articularam à Teoria Geral dos Sistemas com o a Cibernética e a Teoria da Comunicação, referenciadas nas obras como fundantes da Teoria Geral dos Sistemas. E a partir disso o objetivo da Teoria Geral dos Sistemas se constituí em estudar os princípios universais aplicáveis aos sistemas em geral, sejam eles de natureza física, biológica ou sociológica. Ainda na década de 40, a prática terapêutica era orientada pela Psicanálise, havia uma construção hegemônica de que o comportamento do ser humano era regido e organizado por forças intrapsíquicas. Mas, a partir da Segunda Guerra a teoria sistêmica começa a ganhar forças no cenário por conta das consequências advindas das guerras, houve um movimento de união das famílias e tornaram-se mais fortes as críticas à Psicanálise pois foi percebido que a psicanalise deixava um desfalque no entendimento do sujeito, isso porque, não abarcava os contextos ambientais. É nesse momento que a Teoria Sistêmica começa a reacender pois modifica o foco que havia nas clinicas e dá ao indivíduo sentido para as suas relações, dando ênfase aos sistemas humanos, ou seja, o que antes era intrapsíquico passa a ser interrelacional diante da teoria sistêmica. A Psicologia Sistêmica, como falado anteriormente, é uma corrente baseada na Teoria Geral de Sistemas desenvolvida por Bertalanffy na segunda metade do século XX. Paralelamente a isso, o início da terapia sistêmica está associado ao antropólogo Gregory Bateson, que se uniu a outros pesquisadores, como Jackson, Haley e Weakland, para analisar o sistema comunicacional das famílias esquizofrênicas. Assim, fundamentada na Teoria Geral dos Sistemas proposta por Bertalanffy, na Cibernética de Wiener e na Teoria da Comunicação, formulada por Bateson e Watzlawick, surge a prática sistêmica. Segundo Página 7 / 18 Capra (1996) “...o forte apoio subsequente vindo da Cibernética, as concepções de Pensamento Sistêmico e de Teoria Sistêmica tornaram-se partes integrais da linguagem científica estabelecida, e levaram a numerosas metodologias e aplicações novas”. A Psicologia Sistêmica enfatiza as propriedades do todo que resultam da interação dos diferentes elementos do sistema. Assim, para essa abordagem, o importante é o que surge da interação entre as pessoas. E ainda, estuda os fenômenos de relaçãoe comunicação nos grupos, analisando as relações e os componentes que emergem a partir deles. Essa abordagem parte das pessoas individuais, que se inter-relacionam entre si em diferentes coletivos entendidos como sistemas. Dessa forma, cada grupo/coletivo em que cada pessoa se relaciona é um sistema diferente: familiar, profissional, doméstico, como outros. Essa corrente leva em consideração os distintos âmbitos em que as pessoas se movem, pois, a maneira como cada indivíduo se relaciona com o ambiente ao seu redor determina seu desenvolvimento e seu crescimento pessoal. Por isso, a Psicologia Sistêmica pode ser aplicada tanto a casais, equipes de trabalho e famílias quanto a pessoas individuais. De acordo com a Perspectiva Sistêmica, os sistemas devem ser vistos como estruturas organizadas hierarquicamente que precisam ser analisadas em sua totalidade: desde os aspectos macro, como a ordem social, passando por níveis intermediários, como as culturas das comunidades locais, até atingir um nível mais proximal (ou de microanálise), como as escolas e a família (SIFUENTES, DESSEN & OLIVEIRA, 2007). Conforme Grandesso (2000), a mudança de foco do intrapsíquico para o interrelacional representou uma transformação à medida que passou a configurar outro sistema de pressupostos para problemas humanos e das práticas da Psicologia. A ênfase passa a ser dada aos contextos e formula-se a postulação de uma causalidade circular retroativa e recursiva para os fenômenos, o que favoreceu a abertura do campo da psicoterapia para a Página 8 / 18 interdisciplinaridade e ampliou as fronteiras para a compreensão da pessoa humana para além do psicológico. O Pensamento Sistêmico passa a ser o substrato de propostas de intervenção para a clínica de família, trazendo um novo olhar para o contexto familiar. A adoção da Perspectiva Sistêmica implica em entender a família como um sistema complexo, composto por vários subsistemas que se influenciam mutuamente, tais como o conjugal e o parental (KREPPNER, 2003). Os benefícios da adoção da epistemologia sistêmica pelos profissionais de saúde também é algo importante de se evidenciar. A compreensão da complexidade do processo saúde- doença leva os profissionais a reconhecer a necessidade da atuação interdisciplinar para a construção efetiva de atenção integral à saúde, em conformidade com os princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde. Dito isso, o Pensamento Sistêmico pode funcionar como uma base para o profissional refletir, flexibilizar e contextualizar suas práticas, possibilitando que as mesmas respondam de forma eficiente às demandas da atenção básica. Nesse sentido, pensar sistemicamente transcende a atuação profissional, enriquece e amplia a visão e a atuação como cidadãos, o que possibilita a reflexão e o diálogo em torno dos problemas sociais e comunitários de modo mais abrangente e contextualizado (GOMES, 2014). No campo da Psicologia, a escuta terapêutica de acordo com a Perspectiva Sistêmica, é considerada uma estratégia para considerar seres humanos de forma que as ações sempre partam do contexto e sejam dirigidas para o contexto. O profissional de Psicologia, nesse cenário, desempenha um papel de mediador e catalisador das potencialidades e dos recursos, tanto das pessoas em si como da comunidade, na satisfação das necessidades e na melhora da qualidade de vida. O psicólogo, juntamente aos demais profissionais da equipe de saúde, Página 9 / 18 coordena ações que levem à ampliação da situação apresentada, criem contextos de autonomia e favoreçam a mudança (VASCONCELLOS, 2010). Página 10 / 18 II. JUSTIFICATIVA A Psicologia Sistêmica é a ciência que analisa os diversos aspectos ambientalistas dos sistemas. Além disso, sua base teórica se constituiu através de teorias existentes da época, sofrendo influências de grandes descobrimentos do meio da física, química e principalmente, biologia. Neste contexto, o presente trabalho adveio da demanda em apresentar a abordagem e com isso explicar os princípios mais importantes sobre a Teoria Sistêmica, assim como sua origem histórica, teórica, seus conceitos e princípios. No intuito de fazer com que o conhecimento dessa abordagem ganhe proporções. Este trabalho foi sustentado a partir de pesquisas de artigos científicos e vídeos que traçavam a relevância desta abordagem. Página 11 / 18 III. DESENVOLVIMENTO Sistema é uma palavra que deriva do grego “synhistanai” que traz por significado “colocar junto”. A organização sistêmica se dá através de um contexto que visa alinhar a natureza das relações. Sabendo-se que para essa abordagem um sistema estará dentro de outro sistema. Sendo assim, “cada um dos sistemas forma um todo com relação as suas partes e também é parte de um todo.” Dentro do entendimento sistêmico, há três critérios fundamentais: O primeiro é à mudança das partes para o todo, no sentido que, há propriedades essenciais que são do todo, mas que o ser na sua individualidade não possui porque há propriedades que surgem por causa das relações criadas entre cada indivíduo que contribuirá para formar o todo. O segundo critério é o pensamento contextual que se desenvolve a partir do que se tem por propriedade de cada pessoa, não explicará o todo, esse critério considera o contexto tendo um viés ambientalista o foco será dado as relações e não ao objeto pois estes serão entendidos como redes dessas relações “O mundo material é visto como uma teia dinâmica de eventos inter- relacionados” (Vasconcellos, 2010). O terceiro e último critério se refere as mudanças de uma ciência com um foco mais objetivo para uma ciência que se amplia para os questionamentos abarcando a compreensão das descrições dos fenômenos naturais. Bertalanffy reitera que sistema é como um complexo de elementos em interação e uma característica importante é que para o biólogo a relação entre os componentes contribui para a interdependência de cada elemento, dando forma ao que este chama de sistema. Segundo, Costa (2010) “a Teoria Geral dos Sistemas combina conceitos do Pensamento Sistêmico e da Biologia.” A abordagem da Teoria Geral dos Sistemas teve como suporte teórico três eixos: a primeira que se desenvolveu paralelamente a Teoria Geral dos Sistemas que foi a Cibernética Página 12 / 18 desenvolvida por Norbert Wiener teve início na Segunda Guerra mundial, pois nesta época as pesquisas avançavam e a ideia desenvolvida por Winner, junto a engenheiros e pesquisadores era de apropriar máquinas que tivessem performance de funções humanas. E ainda seguindo essa lógica foi nesse momento que surgiu o conceito de feedback, também chamado de realimentação ou retroação este que foi desenvolvido na busca de explicar que poderia haver correções nas falhas que surgissem nas máquinas computadorizadas e eram ferramentas essenciais, pois o intuito era criar uma analogia entre o funcionamento do sistema nervoso e as maquinas de computação. A Teoria da Comunicação que organiza o processo de comunicação humana abrange uma complexidade de fatores, tais como conteúdo, forma e linguagem, os quais estão sempre presentes nos processos inter-relacionais, a Teoria da Comunicação humana, na sua origem, engloba três dimensões: a sintaxe, a semântica e a pragmática. E por fim a Teoria Geral dos Sistemas desenvolvida organizada por Bertalanffy que visa estudar os princípios universais aplicáveis aos sistemas, a interação/relação ou dos componentes, a interdependência dos elementos. Sendo assim, o viés da Sistêmica coloca que os sistemas são estruturas organizadas hierarquicamente as quais precisam ser analisadas no seu funcionamento total, desde parâmetros macro tendo em vista ordem social, passando por intermediário, a exemplo das culturas de cada comunidade, até o nível entendido como microanáliseque são as famílias e escolas. E é através disso que os fenômenos não podem ser considerados isoladamente, e sim, como parte de um todo. Sendo assim, o todo emerge além da existência das partes e "as relações são o que dá coesão ao sistema todo, conferindo-lhe um caráter de totalidade ou globalidade, uma das características definidoras do sistema." Página 13 / 18 Nesse viés, há seis conceitos básicos que dão estrutura a Teoria Geral do Sistema que são: globalidade, não-somatividade, homeostase, morfogênese, circularidade e equifinalidade (Vasconcellos, 2010). Na Globalidade, todos os sistemas funcionam como um todo coeso e mudanças em uma das partes provocam mudanças no todo. A Não-somatividade afirma que o sistema não é a soma das partes, devendo-se considerar o todo em sua complexidade e organização; assim, embora o indivíduo faça parte da família, ele mantém sua individualidade. A Homeostase é o processo de autorregulação que mantém a estabilidade do sistema preservando seu funcionamento. A Morfogênese é o processo oposto a homeostase, ou seja, é a característica dos sistemas abertos de absorver os aspectos externos do meio e mudar sua organização. A Circularidade, também chamada de causalidade circular, bilateralidade ou não- unilateralidade, diz respeito à relação bilateral entre elementos, sendo que esta relação é não linear e obedece a uma sequência circular. A Equifinalidade, refere que em um sistema aberto, o resultado de seu funcionamento independe do ponto de partida, ou seja, o equilíbrio é determinado pelos parâmetros do sistema; Além disso, há o conceito de Retroalimentação ou feedback que emergiu na cibernética, o qual garante a circulação de informações entre elementos do sistema. A retroalimentação pode ser negativa, o que acontece quando esse mantém a homeostase, ou positiva, ocorre quando o sistema responde pela mudança sistêmica. A Teoria Geral dos Sistemas, a partir do que Bertalanffy desenvolveu ofereceria um arcabouço conceitual abrangente capaz de unificar várias disciplinas científicas que, naquele Página 14 / 18 momento, estavam isoladas e fragmentadas. E assim essa base teórica teria por proposta uma ciência da totalidade, da integridade ou de entidades totalitárias. E a busca do biólogo era colocar como foco o deslocamento da constituição das entidades para a organização dos sistemas e para o conceito de interação (Grandesso, 2000). E o conceito de interação gera realimentações (feedbacks) podendo esta interação ser positiva ou negativa, criando assim uma autorregulação regenerativa, que, por sua vez, cria novas propriedades, as quais podem ser benéficas ou maléficas para o todo independente das partes. E é a partir disso que surge a palavra sinergia que é a interação dos elementos do sistema. Em contraponto a sinergia há a entropia é a desordem ou ausência de sinergia. Um sistema pára de funcionar adequadamente quando ocorre entropia interna. Os sistemas orgânicos em que as alterações benéficas são absorvidas e aproveitadas sobrevivem, e os sistemas onde as qualidades maléficas ao todo resultam em dificuldade de sobrevivência tendem a desaparecer caso não haja outra alteração de contrabalanço que neutralize aquela primeira mutação. Assim, de acordo com Bertalanffy, a mudança permanece ininterrupta enquanto os sistemas se autorregulam e se retroalimentam (Vasconcellos, 2010). Página 15 / 18 IV. CASO CLÍNICO Nesse caso trata-se de Laura, jovem de 28 anos e mãe de Alice e Pedro. Em relato, queixa- se de dificuldades para lidar com alguns comportamentos apresentados por Alice. Segundo relatou a cliente, Alice se recusava a cumprir regras, e havia passado a demonstrar dificuldades na interação com outras pessoas. Desse modo, o pedido de consulta estava pautado notadamente em Alice como "paciente identificada". A entrevista inicial ocorreu com mãe e filha no setting terapêutico, no sentido de investigar a queixa trazida pela família. Na maior parte do atendimento, Laura permitiu que Alice explorasse o espaço à sua maneira, sem tentar colocar qualquer limite. A criança, por sua vez, interagia no sentido de "roubar a cena", concentrando as atenções de todos somente para ela. Além disso, emergiram relatos sobre a união conjugal de Laura e Marcelo, bem como sobre o recasamento e a chegada do novo filho de Pedro. Assim, já nesse primeiro contato, buscou-se ampliar o foco, lançando luz às variáveis do contexto, ao invés de explorar exclusivamente o que motivou o pedido por consulta (Tilmans- Ostyn & Meynckens-Fourez, 2000). Evidenciou-se que Laura relacionava as manifestações comportamentais de Alice a aspectos que envolviam as suas próprias práticas parentais, a relação conjugal com Marcelo e a relação coparental com Pedro. Adicionalmente, a cliente referiu também seu desconforto por ainda depender financeiramente de sua mãe, Isabel, mesmo já desenvolvendo atividades laborais na área em que concluiu o ensino superior. Dessa forma, como emergiram importantes conteúdos atinentes à conjugalidade, à coparentalidade e à diferenciação da família de origem, sugeriu- se a modalidade de terapia sistêmica individual (Boscolo & Bertrando, 2013), a qual foi aceita por Laura. Página 16 / 18 Os demais encontros ocorreram somente com a cliente, com exceção de apenas um, em que Marcelo esteve presente, mediante convite das coterapeutas e da equipe. No entanto, as pessoas da rede de relacionamentos da cliente foram incluídas virtualmente no processo terapêutico, para manter o enfoque sistêmico, mesmo nos atendimentos individuais (Kung, 2000; Sydow et al., 2010). Em linhas gerais, os objetivos do processo terapêutico foram: compreender aspectos transgeracionais que influenciavam os relacionamentos estabelecidos por Laura; favorecer a diferenciação da cliente em relação à sua família de origem; propiciar o estabelecimento de fronteiras mais nítidas entre os subsistemas familiares; fortalecer a qualidade da conjugalidade de Laura e Marcelo; estimular o compartilhamento, por Laura e Pedro (díade coparental), da responsabilidade pelo processo de cuidar e de educar a filha; promover práticas parentais mais positivas. Página 17 / 18 V. CONCLUSÃO Nesse viés, a partir do que foi abordado a Teoria Sistêmica traça um amplo estudo sobre o ambiente e as interrelações. Foi desenvolvida pelo biólogo Ludwig von Bertalanffy, que alargou a base teórica da sua abordagem junto a Cibernética, e posteriormente a Teoria da comunicação e a Teoria Geral dos Sistemas. Além de trazer os critérios fundamentais da Sistêmica, ainda foi revisitado os conceitos dessa abordagem que são globalidade, a não-somatividade, homeostase, morfogênese, circularidade, equifinalidade, retroalimentação/feedback que são estruturais para essa abordagem. Sendo, assim é através das contribuições dessa abordagem que o objeto de estudo em relação ao sujeito passa do intrapsíquico para o interrelacional. O Pensamento Sistêmico é uma teoria que pode ser utilizada em diversos contextos, de modo a realizar diferentes intervenções contribuindo para modificar os padrões de interação disfuncionais, visando um sistema saudável. Por fim, a articulação dos estudos por artigo e o entrelaçamento com o caso clínico possibilitou uma ampliação dos conhecimentos dessa abordagem, contribuindo para que aja maiores discussões sobre a Teoria Sistêmica que é uma abordagem ainda é pouco explorada. Página 18 / 18 VI. REFERÊNCIAS 1. CAMICIA, Edgmara Giordani; SILVA, Stefany Bischoff da; SCHMIDT, Beatriz. Abordagem da transgeracionalidade na terapia sistêmica individual: Um estudo de caso clínico. Pensando famílias, v. 20, n. 1, p. 68-82, 2016. 2. DE VASCONCELLOS, Maria José Esteves. Pensamento sistêmico: o novo paradigma da ciência. Papirus Editora, 2003. 3. GALERA,Sueli Aparecida Frari; LUIS, Margarita Antonia Villar. Principais conceitos da abordagem sistêmica em cuidados de enfermagem ao indivíduo e sua família. Revista da Escola de Enfermagem USP, São Paulo, v. 36, n. 2, p. 141-147, 2002. DOI: 10.1590/s0080-62342002000200006. 4. GOMES, Lauren Beltrão et al . As origens do pensamento sistêmico: das partes para o todo. Pensando fam., Porto Alegre , v. 18, n. 2, p. 3-16, dez. 2014 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679- 494X2014000200002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 18 ago. 2021. 5. GRANDESSO, Marilene A. Sobre a Reconstrucao Do Significado: Uma. Casa do Psicólogo, 2000. 6. KREPPNER, Kurt. Social relations and affective development in the first two years in family contexts. Handbook of developmental psychology, p. 194-214, 2003. 7. SIFUENTES, Thirza Reis; DESSEN, Maria Auxiliadora; OLIVEIRA, Maria Cláudia Santos Lopes de. Desenvolvimento humano: desafios para a compreensão das trajetórias probabilísticas. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 23, p. 379-385, 2007.
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