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15. Olhos Anatomia e Fisiologia Olho É um órgão de forma esférica, com diâmetro antero posterior de aproximadamente 24 mm. ● córnea ● esclera ● úvea A parede do globo ocular é composta de 3 camadas: ● externa (formada por uma camada protetora composta da esclera e córnea) ● média (camada altamente vascularizada e pigmentada composta da coróide, corpo ciliar e íris). ● interna (retina - camada receptora que contém as fibras formadoras do nervo óptico). Figura 1: Anatomia interna do olho Córnea É o mais importante meio refrativo do olho, tem alto grau de transparência, o qual depende de vários fatores (regularidade da superfície anterior epitelial, organização regular das fibras de colágeno, estroma) e a sua natureza avascular. É nutrida pelo: filme lacrimal, humor aquoso, vasos do limbo e da conjuntiva palpebral. O limbo é a área de transição entre a córnea e a esclera, e nele se localizam, na sua parte mais interna, as vias de escoamento do humor aquoso, conhecido como seio venoso da esclera ou canal de Schlemm. Esclera É opaca e constitui os 5/6 posteriores da túnica externa. Nela se inserem os músculos extraoculares e é a passagem de elementos vasculonervosos. Ela contribui na formação do seio camerular, serve de proteção da coriorretina e do vítreo e para a manutenção do tônus ocular. Úvea É formada pela: ● íris ● corpo ciliar ● coróide. Íris É o componente mais anterior da úvea e forma o diafragma pupilar do olho. A dilatação da pupila (midríase) ocorre por estimulação do músculo dilatador da pupila, que tem inervação simpática. A constrição da pupila (miose) ocorre por ação do músculo esfíncter da pupila, que tem inervação parassimpática carreada pelo nervo oculomotor. A margem pupilar repousa na superfície anterior do cristalino. Este diafragma – cristalino-íris – divide o compartimento do humor aquoso em câmara anterior e câmara posterior. A câmara posterior é o espaço limitado pela íris anteriormente e pelo cristalino, posteriormente. O humor aquoso é produzido no processo ciliar do corpo ciliar e drena da câmara posterior para a câmara anterior, que é limitada anteriormente pela córnea, posteriormente pela íris e PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin circunferencialmente pelas estruturas do ângulo iridocorneano. *O volume da câmara anterior é de 0,2 a 0,3 mℓ. Corpo Ciliar É formado por epitélio ciliar e pelo músculo ciliar. O epitélio ciliar produz o humor aquoso. O músculo ciliar é um músculo liso e tem importante papel na acomodação (permite focar para perto e longe). Coróide É um tecido vascular pigmentado que se localiza entre a retina e a esclera. Função: suprimento sanguíneo, especialmente para a retina. Retina É um tecido fino, delicado e transparente, derivado do neuroectoderma. Função: transformar a luz em impulsos nervosos (células respondem aos estímulos visuais através de reações fotoquímicas). É formada por 10 camadas quando avaliada pela microscopia óptica. A luz deve atravessar essas camadas até atingir os fotorreceptores (cones e bastonetes). Os cones funcionam melhor com luz intensa e são responsáveis pela visão central e pela visão de cores. Os bastonetes são mais sensíveis à luz e funcionam melhor com baixa luminosidade. *Na área central da retina, os cones são mais numerosos que os bastonetes. Na fóvea (responsável pela máxima acuidade visual), somente cones estão presentes. Nesta região não há vasos capilares e sua nutrição é feita através da coróide. Os vasos da retina são derivados da artéria e da veia central da retina. Após penetrar na retina, próximo ao disco óptico, a artéria perde sua lâmina elástica interna e sua camada muscular, transformando-se em arteríola. *Entre a arteríola e a vênula, há uma rica rede capilar. As camadas internas da retina se nutrem a partir dos vasos retinianos. Os vasos nascidos da artéria central da retina vão se dicotomizando até se deterem na retina periférica, aproximadamente 1 mm adiante da ora serrata. *A este nível podem aparecer anastomoses capilares. As camadas externas da retina se nutrem a partir da artéria coriocapilar. ● câmara anterior ● câmara posterior ● humor aquoso ● cristalino e zônula ● câmara vítrea Câmara Anterior Limita-se anteriormente pela face posterior da córnea (endotélio corneano) e posteriormente pela face anterior da íris e parte do cristalino que corresponde ao orifício pupilar. O seio iridocorneano (seio camerular) é a parte mais periférica da câmara anterior. Câmara Posterior Limita-se anteriormente pela face posterior da íris, posteriormente pelo cristalino e para fora do ligamento suspensor da lente. Humor Aquoso. Preenche as câmaras anterior e posterior do olho. Forma-se no epitélio do corpo ciliar por processo passivo (difusão, osmose, diálise e ultrafiltração) e ativo (transporte ativo). Função: óptica, estática, dinâmica, trófica, amortizadora e protetora. Cristalino e Zônula Possui poder dióptrico que se soma ao da córnea e no seu estágio adulto possui cerca de 9 mm de diâmetro. *Embora transparente, mostra com frequência uma cor amarelo-clara, escurecendo com a idade. PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin O cristalino é envolto em sua totalidade por uma cápsula. Fibras zonulares (zônula de Zinn) se inserem do equador da cápsula do cristalino até o corpo ciliar. A contração do músculo ciliar durante a acomodação resulta em um relaxamento das fibras zonulares com consequente alteração do formato do cristalino, implicando modificação do seu poder dióptrico, permitindo modificação no foco da imagem. Quando isto ocorre, a lente torna-se mais esférica, aumentando seu poder refrativo, permitindo, deste modo, a visão para perto. Havendo ruptura das fibras zonulares, o cristalino se desloca de sua posição natural, caracterizando a luxação do cristalino. Câmara Vítrea O vítreo ocupa o espaço entre o cristalino e a retina, representando 2/3 do volume do olho, que é de aproximadamente 4 mℓ. Ele forma um hidrogel com alta viscosidade. Encontra firmemente ligado à retina em 3 locais: ● base vítrea ● disco óptico ● mácula Órbita As cavidades orbitárias têm a forma de uma pêra com seu ápice situado posterior, medial e ligeiramente para cima. Os ossos que as formam são frágeis e finos; apenas os ossos da borda orbitária são mais espessos, justamente para proteger o olho contra traumatismos. Os olhos estão implantados nas 2 cavidades orbitárias e estão protegidos do meio exterior pelas pálpebras. Ela é formada por uma junção de 7 ossos pertencentes ao esqueleto craniofacial: ● frontal ● etmóide ● esfenóide ● maxilar ● zigomático ● lacrimal ● palatino Estruturas Acessórias dos Olhos ● músculos extraoculares ● fáscia orbital ● supercílios ● pálpebras ● conjuntiva ● aparelho lacrimal Músculos Extraoculares Músculos extraoculares que movimentam o olho: ● reto superior ● reto inferior ● reto medial ● reto lateral ● oblíquo superior ● oblíquo inferior São do tipo estriado e apresentam 2 tipos de fibras: ● fibras de contração rápida ● fibras de contração lenta. Fáscia Orbital (cápsula de Tenon) O globo ocular está envolto por uma delgada membrana desde o limbo esclero corneano até a entrada do nervo óptico. É a fáscia bulbar ou cápsula de Tenon. Supercílios São 2 proeminências arqueadas e dispostas transversalmente, providas de pelos e situadas acima das pálpebras superiores. Funções dos músculos frontal, orbicular do olho e corrugador do supercílio: O músculo orbicular (inervado pelo facial) protege o olho da luz intensa e de lesões. O músculo corrugador do supercílio (inervado pelo facial) traciona o supercílio para baixo e medialmente, produzindo rugas verticais, além de proteger o olho do excesso de luz. PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin Pálpebras São formadas por 4 camadas básicas: ● pele ● músculo orbicular ● tarso ● conjuntiva A pele da pálpebra, a mais fina do corpo, é recobertapor pelos. Grande quantidade de líquido pode acumular-se entre a pele e o músculo orbicular (edema palpebral). Ações dos músculos extraoculares A camada muscular é formada pelo músculo orbicular, constituído de fibras estriadas, com um arranjo elíptico que lhe possibilita funcionar como um esfíncter. É inervado pelo nervo facial. Quando o músculo orbicular se contrai, a pálpebra se fecha. O tarso é um tecido fibroso (considerado o esqueleto da pálpebra). A placa tarsal contém as glândulas tarsais (glândulas meibomianas) que se abrem na margem palpebral. Estas glândulas secretam uma substância oleosa que entra na formação da lágrima. Conjuntiva É uma fina membrana mucosa dividida em porção palpebral (cobre a pálpebra) e porção bulbar (cobre o globo ocular). O filme lacrimal é composto de 3 camadas: ● camada lipídica (superficial) produzida pelas glândulas meibomianas, Zeis e Moll; ● camada aquosa (média) formada pelas glândulas de Krause, Wolfring, glândulas da prega semilunar e carúncula, e glândula lacrimal principal; ● camada mucóide (profunda) formada pelas células caliciformes e as glândulas de Henle e Manz. Figura 2: Vista externa do olho Aparelho Lacrimal É dividido em: ● parte secretora ● parte excretora. Porção secretora: consiste em uma glândula lacrimal, responsável pela secreção da lágrima que irá banhar o globo ocular. Localiza-se na porção antero superior externa da órbita. Há ainda as glândulas lacrimais acessórias, situadas no fórnice (junção da conjuntiva bulbar com a conjuntiva palpebral) e responsáveis pela secreção basal de lágrimas. Porção excretora: responsável pela eliminação da lágrima. É formada pelo: ● ponto lacrimal (superior e inferior) ● canalículo lacrimal (superior e inferior) ● saco lacrimal ● ducto nasolacrimal O saco lacrimal está localizado na fossa lacrimal (parte medial da órbita). PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin O ducto nasolacrimal corre através da parede medial do seio maxilar, terminando no meato nasal inferior. Figura 3: Aparelho lacrimal Vasos O bulbo ocular recebe a irrigação da artéria oftálmica (ramo da carótida interna). O sistema venoso do olho é drenado para o seio cavernoso. A veia oftálmica superior comunica-se com a angular na raiz do nariz, e a veia oftálmica inferior, com o plexo pterigóide. Via Óptica Neurônio I Os prolongamentos periféricos das células visuais da retina são diferenciados em cones e bastonetes e constituem os receptores dos estímulos luminosos. Os impulsos nervosos por eles deflagrados seguem centripetamente pelos prolongamentos centrais dessas mesmas células e atingem os prolongamentos periféricos das células bipolares. Neurônio II Pelos prolongamentos centrais das células bipolares, cujos corpos celulares se dispõem em grupos, os impulsos prosseguem e, através de conexões sinápticas, são transmitidos aos prolongamentos periféricos das células ganglionares. Neurônio III Pelos prolongamentos centrais das células ganglionares, os impulsos visuais alcançam o corpo geniculado lateral, o colículo superior e a região pré-tectal. Os prolongamentos centrais das células ganglionares constituem, na sua porção inicial: o estrato óptico (camada mais interna da retina), em seguida, convergem para o denominado “ponto cego” e, agrupados, emergem do bulbo ocular, pelo lado nasal, próximo ao polo posterior, como nervo óptico. Este penetra na cavidade craniana pelo canal óptico e une-se ao correspondente do lado oposto formando o quiasma óptico, no qual há decussação parcial de fibras. As provenientes dos quadrantes retinianos nasais entrecruzam-se com as equivalentes do lado oposto. As provenientes dos quadrantes retinianos temporais permanecem do mesmo lado. As fibras, logo após essa decussação, agrupadas novamente, constituem, de cada lado, o trato óptico, que após contornar parcialmente o pedúnculo cerebral, termina no corpo geniculado lateral, no colículo superior e na região pré-tectal homolateral. Neurônio IV Pelos axônios das células do corpo geniculado lateral, os impulsos visuais seguem pela radiação óptica, através da porção sub lentiforme da cápsula interna, e pelos lobos temporal/parietal e occipital, até o centro receptor visual, situado nas margens do sulco calcarino e adjacências. As fibras do trato óptico que terminam no colículo superior interferem em reflexos ópticos somáticos (movimentos da cabeça e dos olhos) em resposta a estímulos visuais, acústicos e exteroceptivos. As fibras do trato óptico que terminam na região pré-tectal interferem apenas no reflexo pupilar à luz. PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin Nervo oculomotor (nervo motor) Supre todos os músculos oculares, com exceção do oblíquo superior e reto lateral. O núcleo de origem do nervo oculomotor surge e toma corpo ao nível do mesencéfalo. É formado por 2 elementos: ● eferente → (visceral), supre os músculos esfíncter da íris e ciliar. ● somático → inerva os músculos extrínsecos do olho, com exceção do oblíquo superior e reto lateral. O gânglio ciliar é um gânglio periférico do sistema parassimpático e encontra-se anexado, funcionalmente, ao nervo oculomotor. Apresenta as seguintes raízes: ● parassimpática ● simpática ● sensitiva Nervo troclear (nervo misto) Inerva o músculo oblíquo superior contralateral do olho. O núcleo do nervo troclear tem origem no mesencéfalo, sendo o único nervo craniano que emerge da região dorsal. Nervo abducente (nervo ) É responsável pela inervação motora do músculo reto lateral do olho. O núcleo do nervo abducente, situado na rafe mediana a meia altura da ponte, é considerado como parte da coluna eferente somática. Ele é o centro da lateralidade do olhar. Nervo trigêmeo (nervo misto) Origina-se na ponte, em região considerada de transição entre a ponte e o pedúnculo cerebelar médio. Apresenta 2 raízes: ● raiz sensitiva (maior) → formada pelos prolongamentos centrais de corpos celulares constituintes do gânglio trigeminal (de Gasser) ● raiz motora (menor) → provém do núcleo motor do nervo trigêmeo homolateral e dispõe-se interna e cranialmente à raiz sensitiva. Os prolongamentos periféricos das células sensitivas do gânglio trigeminal e as fibras eferentes do nervo trigêmeo constituem, distalmente no gânglio, os 3 ramos do V par craniano: ● nervo oftálmico (sensitivos) ● nervo maxilar (sensitivos) ● nervo mandibular (misto) Neurofisiologia da Visão A retina contém aproximadamente 130 milhões de bastonetes e 5,5 milhões de cones. Porém, só um milhão de fibras ópticas saem da retina para o encéfalo. Isto porque um grande número de bastonetes e cones converge para cada fibra óptica. Diferenças entre a retina periférica e a retina central: à medida que se aproxima da fóvea, é cada vez menor o número de bastonetes e cones que convergem para cada fibra óptica. Esses 2 efeitos aumentam progressivamente a acuidade visual para o centro da retina. Na porção central da retina, na fóvea, não existem bastonetes. O número de fibras nervosas ópticas que deixam essa região da retina é quase igual ao número de cones presentes na fóvea. Isto explica o alto grau de acuidade visual na porção central da retina, em comparação com a pouca acuidade nas porções periféricas. A porção periférica é muito mais sensível à luz fraca. Isto resulta parcialmente da circunstância de que centenas de bastonetes convergem na mesma fibra nervosa óptica, nas porções mais periféricas da retina. Os sinais gerados nesses bastonetes se somam, dando uma estimulação mais intensa às células ganglionares periféricas. Na retina, as únicas células sensíveis à luz são as fotorreceptoras, que são estimuladas por determinado comprimento de onda. A informação dos diferentes aspectos da percepção visual é transmitida ao córtex estriado (V1) através da via óptica. PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin Da área V1 as informações alcançam a área V2, onde as informaçõessão analisadas por várias áreas visuais associativas, funcionalmente distintas e adjacentes aos lobos occipitais, para então aperfeiçoar as informações recebidas, as quais serão enviadas ao córtex temporal e/ou parietal. As informações que alcançam o córtex temporal inferior (giro fusiforme) envolvem o reconhecimento de formas e cores, e as que alcançam o córtex parietal respondem pela interação visuo motora, relacionada à percepção de movimento e profundidade. Esta alta complexidade do processamento visual é o que nos permite perceber e identificar o que vemos. 16. Exame Clínico Anamnese Os elementos de identificação são sempre importantes no raciocínio diagnóstico (idade, sexo, profissão, procedência do paciente). Recém-nascido: ● oftalmia gonocócica neonatal (conjuntivite purulenta), quase sempre bilateral, com graves complicações oculares quando não tratada a tempo; ● glaucoma congênito, se manifesta com epífora, fotofobia, opacidade corneana e aumento do diâmetro da córnea Ambos devem ser diagnosticados precocemente para um tratamento efetivo. Infância: ● estrabismo aparece logo após o nascimento ou na infância e não deve ser confundido com a incoordenação motora ocular, que ocorre até os 3 meses de vida quando a criança não fixa os olhos corretamente. ● neoplasias intraoculares (retinoblastoma e xantogranuloma) aparecem mais na infância. Adolescência: ● vícios de refração. ● miopia tem uma tendência progressiva na adolescência e tende a estabilizar-se na idade adulta. Adulto: ● lesões de origem profissional ● dacriocistites agudas e crônicas ● conjuntivites ● uveítes ● presbiopia (dificuldade de visão para perto), a qual decorre do envelhecimento do cristalino. Idosos: ● catarata ● blefaroptose ● lesões vasculares e degenerativas da retina Em idade mais avançada, aparecem os fenômenos de senescência. Alguns tipos de trabalho favorecem o aparecimento de certas afecções. Pessoas que trabalham em ambientes fechados e empoeirados têm maior tendência para apresentar blefarite e conjuntivite. Pessoas que trabalham em locais com muito sol apresentam pterígio com mais frequência. Trabalhadores do campo que sofrem traumatismo ocular com galho de árvore podem desenvolver uma úlcera corneana micótica. Os hábitos alimentares têm importante papel nas afecções carenciais, como a avitaminose A, que causa olho seco, úlcera de córnea, cegueira noturna e transtornos na visão cromática. O uso abusivo de bebidas alcoólicas e o tabagismo podem conduzir à diminuição da acuidade visual por lesão desmielinizante do nervo óptico. Certas afecções oculares predominam em determinado sexo: a doença de Leber ou atrofia congênita do nervo óptico e a doença de Coats (anomalia vascular) ocorrem predominantemente no sexo masculino. PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin Sinais e Sintomas As principais sinais e sintomas das afecções oculares são: ● sensação de corpo estranho ● queimação ou ardência ● dor ocular ● cefaléia ● prurido ● lacrimejamento ● sensação de olho seco ● xantopsia ● hemeralopia ● alucinações visuais ● diminuição ou perda da visão ● diplopia ● fotofobia ● nistagmo ● escotomas Sensação de corpo estranho É uma sensação desagradável, quase sempre acompanhada de dor, cujas causas são a presença de corpo estranho na córnea, na conjuntiva bulbar ou na conjuntiva palpebral; cílios virados para dentro, roçando a córnea; inflamação corneana superficial, abrasão corneana e conjuntivite. Queimação ou ardência É uma sensação de desconforto que faz o paciente lavar os olhos para aliviar o sintoma. As causas de queimação ou ardência são erros refratários não corrigidos, conjuntivite, ceratite, sono insuficiente, exposição à fumaça, poeira, produtos químicos e síndrome de Sjögren. Prurido Quando o prurido é muito acentuado, quase sempre é sinal de alergia, mas pode também ser causado por vício de refração não corrigido. Sensação de olho seco O paciente relata que é como se o olho não tivesse lágrimas e que esta sensação piora com o vento. Ocorre na síndrome de Sjögren, na conjuntivite crônica, na exposição da conjuntiva por mau posicionamento da pálpebra e quando há dificuldade de a pálpebra se fechar corretamente (paralisia facial). Lacrimejamento Também conhecido como epífora, ocorre por excesso de secreção de lágrimas ou por defeito no mecanismo de drenagem. O estímulo aferente é dado pelo ramo oftálmico do nervo trigêmeo, enquanto a resposta eferente (secretora) é dada pelo nervo facial. As principais causas são inflamação da conjuntiva ou córnea, obstrução da via lacrimal excretora, aumento da secreção por emoções, hipertireoidismo, dor ocular, presença de corpo estranho na córnea e glaucoma congênito. Dor ocular Quando ocorre em afecção do globo ocular, é uma dor tipo visceral, que o paciente não consegue localizar muito bem. Ao contrário, quando sua origem é na pálpebra, ele é capaz de apontar com o dedo o local exato da dor. A dor nos olhos pode ser determinada por inflamação da pálpebra, dacrioadenite, celulite orbitária, abscesso, periostite, conjuntivite aguda, esclerite, episclerite, corpo estranho corneano, uveíte anterior (irite e iridociclite) e sinusite. Fotofobia Fotofobia ou sensibilidade à luz é, comumente, devida a inflamação corneana, afacia (ausência de cristalino), irite e albinismo ocular. Alguns medicamentos podem produzir aumento da sensibilidade à luz, como, por exemplo, a cloroquina e a acetazolamida. Cefaleia A cefaléia de origem ocular geralmente é localizada na região frontal e se manifesta no fim do dia, principalmente após trabalhos em que a visão de perto é muito solicitada, salientando-se os vícios de refração não corrigidos. Pode aparecer também nos processos inflamatórios dos olhos e anexos e no glaucoma crônico simples. Hemeralopia e nictalopia Sintomas resultantes da adaptação visual deficiente. PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin Hemeralopia: ou “cegueira diurna” caracteriza-se por uma função deficiente dos cones. Nictalopia: ou “cegueira noturna” é mais comum e relaciona-se com uma deficiente função dos bastonetes. É o sintoma típico da retinopatia pigmentar, embora não seja raro encontrar doentes com retinopatia pigmentar sem nictalopia, mesmo na idade adulta. A nictalopia surge também, em uma forma não progressiva, em um conjunto de condições clínicas conhecidas como “cegueira noturna estacionária congênita”. A miopia maligna, habitualmente associada a degeneração retiniana, e o glaucoma em fase tardia constituem outras causas de nictalopia. A nictalopia em consequência da falta de vitamina A costuma estar associada ao etilismo e à síndrome de má absorção. Xantopsia, Iantopsia e Cloropsia A xantopsia é o aparecimento de visão amarelada, sendo seu mecanismo pouco conhecido. Ocorre em intoxicações medicamentosas (fenacetina, digitálicos, salicilato sódico, ácido pícrico) e, às vezes, como sintoma de icterícia intensa. A iantopsia (visão violeta) e a cloropsia (visão verde) são menos frequentes e também são sintomas de intoxicações medicamentosas (digitálicos, barbitúricos). Diplopia Quando o paciente desenvolve um desvio ocular, o olho desviado não mais mantém a fixação no objeto de interesse na fóvea (área da retina responsável pela visão central). O paciente se queixa, então, de visão dupla. É importante conhecer o momento do aparecimento da diplopia, se constante ou intermitente, se ocorre em certas posições do olhar ou a determinadas distâncias, se os dois objetos vistos são horizontais ou verticais. Em pacientes com esotropia (estrabismo convergente), a imagem é nasal à fóvea e é interpretada como vindo do lado temporal. Em pacientes com exotropia (estrabismo divergente), a imagem é temporal à fóvea e é interpretada como vindo do lado nasal. Deste modo, o objeto de interesse é visto em dois lugares. O paciente pode descrever o fato como visão embaçada, mas que desaparece quando apenas um olho está aberto. A diplopia pode sermonocular ou binocular. As causas de diplopia monocular são cristalino subluxado (p. ex., lente ectópica na síndrome de Marfan), catarata nuclear (o cristalino tem dois pontos focais), coloboma da íris, descolamento da retina. As causas de diplopia binocular são paralisia de um ou mais músculos extraoculares, restrição mecânica, centralização imprópria dos óculos. Escotoma É uma área de cegueira parcial ou completa, dentro de um campo visual normal ou relativamente normal. Neste ponto, a visão diminui apreciavelmente em relação à parte que o circunda. Um escotoma fisiológico é o ponto cego situado a 15° para fora do ponto de fixação e corresponde à localização do nervo óptico. Os escotomas podem ser unilaterais ou bilaterais e devem ser investigados quanto a posição, forma, tamanho, intensidade, uniformidade, início e evolução. Quanto à posição, um escotoma pode ser central (quando corresponde ao ponto de fixação), periférico (quando situado distante do ponto de fixação) e paracentral (quando situado próximo ao ponto de fixação). Com relação à forma, pode ser circular (traduz uma lesão focal na retina e na coróide), oval (indica uma lesão do feixe papilomacular, sendo característico da neurite retrobulbar), arciforme (característico do glaucoma crônico), cuneiforme (ocorre nas afecções coroidianas justa papilares ou na atrofia óptica), anular (o central indica lesão macular, o paracentral corresponde ao glaucoma crônico e o periférico, à degeneração pigmentar da retina), pericecal (em todas as alterações que rodeiam e incluem a papila – glaucoma crônico simples, edema de papila, neurite óptica) e hemianóptico (lesão quiasmática). PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin O tamanho tem pouca importância, embora possa mostrar a gravidade da lesão. O mesmo escotoma pode variar de tamanho de um dia para outro, dependendo da progressão da doença que o produz. Com relação à intensidade, varia da cegueira absoluta a um mínimo de perda da acuidade visual. O escotoma tem uniformidade quando responde da mesma forma, em toda a sua área, a estímulos da mesma intensidade. Escotomas de alta intensidade e uniformidade, relativamente raros, são facilmente demonstrados até por métodos rudimentares de perimetria. O início e a evolução podem ser de grande importância clínica, havendo marcadas diferenças entre as várias doenças. Assim, o início de um escotoma em uma ambliopia pelo uso de tabaco é gradual em seu curso e de evolução muito lenta, enquanto o escotoma central, na esclerose múltipla, aparece em horas. Nistagmo e outros movimentos oculares Nistagmo são movimentos repetitivos rítmicos dos olhos. O nistagmo pode ser caracterizado pela frequência (rápido ou lento), pela amplitude (amplo ou estreito), pela direção (horizontal, vertical, rotacional) e pelo tipo de movimento (pendular, jerk). No nistagmo pendular, o movimento do olho em cada direção é igual. No jerk há um componente lento em uma direção e um rápido em outra. O nistagmo é provocado por impulsos motores irregulares para os músculos extraoculares. Pode ser causado por distúrbios oculares (estrabismo, catarata, coriorretinite) ou por disfunções neurológicas. Cabe ressaltar que o nistagmo, geralmente, é acompanhado de redução da acuidade visual. A dismetria ocular representa uma série de movimentos conjugados pendulares, de amplitude decrescente, que ocorrem durante a mudança de fixação. Os olhos executam um movimento exagerado, ultrapassando o objeto de fixação. Pode haver hipermetria ou hipometria. O flutter é um tipo de movimento ocular conjugado, involuntário, em salvas intercaladas por períodos de imobilidade. O opsoclonus constitui uma manifestação clínica bem característica, que se observa nas encefalites que atingem o tronco cerebral, e se acompanha de mioclonias. Diminuição e perda da visão Os pacientes relatam diminuição da acuidade visual de várias maneiras. Fatores emocionais podem induzir a exageros e o paciente pode relatar perda da visão quando, na realidade, houve apenas uma diminuição. Em contrapartida, o paciente pode menosprezar um grave defeito visual, descrevendo-o como simples embaçamento. Por isso, queixas subjetivas de diminuição ou perda de visão devem sempre ser avaliadas por métodos objetivos. *É importante esclarecer há quanto tempo o paciente vem notando alteração na sua acuidade visual (diminuição foi lenta ou súbita), se não houve uma baixa da acuidade há mais tempo ou se só agora foi percebida. Exame Físico O exame do aparelho visual é feito pela inspeção e palpação. A ausculta raramente tem utilidade. Globo ocular e cavidade orbitária Na inspeção do globo ocular, deve-se observar, em primeiro lugar, a separação entre as duas cavidades orbitárias. Um grande afastamento recebe o nome de hipertelorismo, que ocorre em diversas anomalias genéticas. Pode-se encontrar hipoplasia orbitária bilateral e simétrica, observada nas disostoses craniofaciais, como a síndrome de Crouzon. Em relação ao tamanho do globo ocular, pode-se observar microftalmia, que aparece na síndrome da rubéola congênita. Na palpação da órbita, investiga-se principalmente a reborda óssea, procurando-se solução de continuidade, fraturas e espessamento. O espessamento é comum na periostite sifilítica. Presença de crepitação traduz PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin passagem de ar de algum seio da face para o tecido subcutâneo. Exoftalmia A exoftalmia, ou seja, a protrusão do globo ocular, deve ser avaliada com o exoftalmômetro ou, na sua falta, com uma régua milimetrada. Para isso, apoia-se a parte inicial da régua na reborda orbitária lateral, medindo-se até o ápice da córnea (em vista lateral). A distância normal entre o ápice da córnea e a margem orbitária lateral é, em geral, menor que 20 mm, sendo uma diferença de 2 mm entre os dois olhos considerada suspeita. A exoftalmia consiste, pois, no deslocamento anterior do globo ocular, decorrente do aumento do volume orbitário, secundário a hipertireoidismo, neoplasia, anormalidade vascular ou processo inflamatório. Figura 4 : Exoftalmia unilateral (à direita) por cisto sebáceo (seta). *A movimentação ocular torna mais evidente a protrusão do olho direito. Em pessoas normais, a pálpebra superior situa-se cerca de 2 mm abaixo do limbo superior, e a margem palpebral inferior repousa 1 mm acima do limbo inferior. Na exoftalmia, evidencia-se perda das relações normais entre o limbo e as pálpebras. De perfil, estas alterações costumam ser mais evidentes. Quando mais acentuada aparece um crescente de esclerótica, visível em cima e embaixo, entre o limbo e as pálpebras. Uma avaliação exata da protrusão do globo só é possível por intermédio do exoftalmômetro de Hertel. Em condições normais, a saliência do globo ocular vai de 12 a 15 mm. Uma assimetria com mais de 2 mm entre os dois olhos sugere exoftalmia unilateral. Nos casos de exoftalmia grave, os valores podem ultrapassar 25 mm. Aparelho lacrimal A inspeção pode detectar aumento de volume da glândula lacrimal, que se situa na parte externa da pálpebra superior, cujas causas principais são as afecções inflamatórias (dacrioadenites) e as neoplasias. Para reconhecer pequenos aumentos de volume, é necessário levantar a pálpebra do paciente, pedindo a ele que olhe para baixo e para dentro. Pela palpação, avaliam-se a consistência, a profundidade e a sensibilidade das glândulas lacrimais. O lacrimejamento em excesso, denominado epífora, pode ser causado por excessiva formação de lágrimas ou por obstrução das vias de excreção. A obstrução, quando situada em um ponto lacrimal, pode ser causada por atresia, eversão, presença de corpo estranho e, às vezes, pelos próprios cílios. A exploração dos canalículos, do saco lacrimal e do conduto nasolacrimal deve ser feita pela inspeção, palpação (compressão do saco lacrimal) e por meios especiais, tais como sondagem, lavagem e exame de imagem. A inspeção permite observar tumefação e vermelhidão,alterações comuns na dacriocistite aguda. Nas dacriocistites crônicas, as distensões seguidas do saco lacrimal levam à formação de mucocele e, às vezes, de fístulas cutâneas por debaixo do ligamento palpebral interno. Na palpação do saco lacrimal, deve-se verificar se há refluxo de secreção mucopurulenta. Quando isto ocorre, significa que o conduto nasolacrimal está obstruído. PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin A sondagem das vias lacrimais tem valor diagnóstico e terapêutico em recém-nascidos, mas deve ser feita sob anestesia geral e com material apropriado. Figura 5: Compressão do saco lacrimal, vendo-se refluxo de secreção mucopurulenta no ponto lacrimal inferior A lavagem consiste em dilatar o ponto lacrimal com um dilatador apropriado. Uma pequena cânula acoplada a uma seringa é introduzida no canalículo lacrimal, e, através da mesma, injeta-se soro fisiológico, observando-se se há refluxo e perguntando ao paciente se percebeu o gosto de soro. Nas crianças, deve-se observar se houve deglutição. No glaucoma congênito, um dos sinais é a epífora, que ocorre em consequência da superprodução de lágrimas por estimulação do nervo trigêmeo. Pálpebras. As pálpebras representam uma estrutura de proteção do globo ocular contra traumatismos e excesso de luz. Pela inspeção, investigam-se a cor, a textura, a posição e os movimentos das pálpebras, além de eventual presença de edema. Na região periocular, procura-se observar se os cílios estão virados para dentro (triquíase), se houve queda (madarose) ou se os cílios se tornaram brancos (poliose). No local de implantação dos cílios, deve-se investigar a presença de hiperemia, escamas e úlceras, alterações comuns nas blefarites. A posição das pálpebras altera o tamanho das fissuras palpebrais, as quais devem ser simétricas. A margem palpebral deve recobrir a córnea nas partes superior e inferior, sem que haja nenhuma exposição da esclerótica. A borda da pálpebra deve estar em aposição ao globo, e não invertida (entrópio) ou evertida (ectrópio). Quando a pálpebra inferior não consegue cobrir o globo ocular, surge o que se denomina lagoftalmia, a qual aparece na paralisia facial, na exoftalmia e nas retrações cicatriciais. A inspeção permite também descobrir defeitos no desenvolvimento embrionário, como os colobomas palpebrais, alterações pigmentares como xantelasma, vitiligo, melanose e ainda lesões características do herpes-zóster quando comprometem o primeiro ramo do trigêmeo. Na exploração da motilidade palpebral, é necessário ter em mente os três músculos que dela participam. O orbicular, formado de fibras estriadas e inervado pelo facial, faz a oclusão da pálpebra. O elevador da pálpebra superior, de fibras estriadas, é inervado pelo nervo oculomotor. Por último, o músculo tarsal de Müller, constituído de fibras lisas e inervado pelo simpático, participa da elevação palpebral. A paralisia do orbicular aparece na paralisia facial periférica e, como consequência, ocorre a impossibilidade de oclusão palpebral, surgindo, então, lagoftalmia e suas possíveis complicações corneanas. Além disto, a pálpebra inferior perde sua normal a posição no globo ocular, provocando eversão do ponto lacrimal inferior com consequente epífora. A paralisia do elevador da pálpebra superior leva à blefaroptose, que pode ser congênita ou adquirida. Quando congênita, pode acompanhar-se de uma deficiência funcional do músculo reto superior (ambos os músculos estão inervados pelo ramo do nervo oculomotor e têm a mesma origem embrionária). A blefaroptose adquirida faz parte da síndrome de paralisia do nervo oculomotor. Figura 6: Blefaroptose PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin A paralisia do músculo de Müller, que se acompanha de blefaroptose parcial, faz parte da síndrome de paralisia do simpático cervical (síndrome de Claude Bernard-Horner), que é constituída por enoftalmia, miose e transtornos vasomotores. A condição oposta, ou seja, a contração espasmódica do músculo de Müller, faz parte da síndrome de irritação simpática cervical de Claude Bernard e associa-se a certo grau de exoftalmia, midríase e aumento da fenda palpebral. A blefaroptose pode fazer parte da miastenia gravis; nestes casos, caracteristicamente, a blefaroptose vai piorando no transcurso do dia, mas melhora com a injeção de prostigmina. Conjuntiva e esclera A conjuntiva é uma membrana mucosa, transparente e fina, que reveste a esclera até o limbo e a superfície posterior da pálpebra. Por debaixo da conjuntiva, é possível, às vezes, observar alguns vasos tortuosos – são os vasos episclerais. Excetuando-se estes vasos e eventuais depósitos de pigmentos, a esclera normal tem cor branco-porcelana. Esta cor pode modificar-se por depósitos de pigmentos, como acontece na icterícia e na melanose ocular, em que ocorre depósito de bilirrubina e melanina, respectivamente. Figura 7: Melanose ocular Em cada lado do limbo, principalmente do lado nasal, uma pequena área elevada de cor amarelada (pinguécula) pode ser vista, não se devendo confundi-la com neoplasia, pois se trata apenas de uma degeneração do tecido elástico. A conjuntiva pode ser sede de nevus pigmentado ou, mais raramente, de lesão maligna (melanoma). Edema da conjuntiva (quemose), enfisema com crepitação e hemorragia subconjuntival devem ser pesquisados, podendo fazer parte de lesões perioculares. Figura 8: Hemorragia subconjuntival Existem 2 formas de congestão da conjuntiva bulbar: PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin ● congestão superficial ● congestão profunda Congestão superficial apenas a camada de vasos superficiais é envolvida, os quais se tornam tortuosos e de cor vermelho-tijolo, mais evidente no fundo do saco conjuntival (fórnice) do que próximo ao limbo. A instilação de duas gotas de solução de fenilefrina 10% clareia a conjuntiva em poucos segundos. A congestão superficial é encontrada nos processos inflamatórios restritos à conjuntiva. Congestão profunda indica comprometimento da córnea ou de estruturas mais profundas do olho. Aparece nas ceratites, nas irites, no glaucoma agudo e na presença de corpo estranho, traduzindo a participação dos vasos que nutrem a íris e o corpo ciliar. Manifesta-se como uma congestão de cor violácea do limbo e é conhecida como injeção ciliar. A conjuntiva palpebral, na sua parte anterior, está firmemente aderida ao tarso. Na parte posterior, apresenta grande quantidade de folículos (tecido linfóide). Para exame da conjuntiva palpebral superior, é necessário fazer sua eversão, a qual possibilita evidenciar reação inflamatória, corpo estranho ou tumoração. A pálpebra superior pode facilmente ser evertida pedindo-se ao paciente que olhe para baixo enquanto o examinador segura os cílios com uma das mãos puxando para fora e para baixo, ao mesmo tempo que exerce pressão com um cotonete, 1 cm acima da borda palpebral. Isso equivale a fazer pressão acima da placa tarsal. Na presença de dor, pode-se usar anestesia tópica. Para que a pálpebra volte à posição normal, basta que o paciente olhe para cima. A conjuntiva palpebral inferior é facilmente visualizada com uma simples tração para baixo da pálpebra inferior em cima do osso maxilar, pedindo ao paciente que olhe para cima. O exame da conjuntiva palpebral inferior fornece valiosa informação nas anemias, nas quais a cor normal, rosa-vivo, transforma-se em rosa-pálido ou fica quase branca. Córnea A superfície corneana normal é tão regular que forma excelente área de reflexão, de modo que pequenas alterações são facilmente observadas com uma boa iluminação. O examinador deve avaliar em primeiro lugar o tamanho da córnea. O normal é 10,6 mm (parte vertical) por 11,7 mm (parte horizontal). A ocorrência de megalocórnea sugere glaucoma congênito. A microcórnea faz pensar em rubéola. Figura 9: Técnica de eversão da pálpebra inferior Com boa iluminação e ajuda de uma lupa, pode-seconstatar a presença de opacificação corneana (leucoma), irregularidades epiteliais provocadas por corpo estranho e neovascularização (pannus corneano). Esta última é muito comum no tracoma. Pingando-se um colírio de fluoresceína na córnea e utilizando-se a luz azul de cobalto, torna-se possível detectar pequenas alterações corneanas, isto porque o corante deposita-se nos defeitos epiteliais. Às vezes torna-se difícil examinar a córnea devido a fotofobia ou blefarospasmo. Nestas condições convém instilar duas gotas de colírio anestésico para obter a cooperação do paciente. Para o exame detalhado da córnea, da câmara anterior, da íris e do cristalino, necessita-se da lâmpada de fenda, um exame da alçada do oftalmologista. PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin Ao se observar a câmara anterior, através de uma boa iluminação, de preferência com a lâmpada de fenda, devem-se notar a profundidade, a turvação do humor aquoso (irite), a presença de sangue (hifema) e o acúmulo de exsudato celular (hipópio). É importante determinar a sensibilidade corneana, o que é feito mantendo-se a pálpebra aberta e encostando a ponta de um algodão na parte apical da córnea, sempre comparativamente, tendo-se o cuidado para não tocar nos cílios. Lesões intracranianas que comprometem o nervo trigêmeo frequentemente diminuem a sensibilidade corneana. Afecções da própria córnea, como ceratite herpética, podem conduzir à perda de sensibilidade, havendo possibilidade de evoluir para uma úlcera corneana neurotrófica. Pupila A cor, os desvios e os orifícios da íris e da pupila devem ser analisados conjuntamente, podendo ocorrer alterações congênitas, traumáticas ou cirúrgicas. Quando se observa aderência da íris com o cristalino, habitualmente por processo inflamatório, tem-se a sinéquia posterior. Quando a aderência é entre a íris e a córnea, recebe o nome de sinéquia anterior. As pupilas normais são redondas, localizadas centralmente e, na maioria das pessoas, de igual tamanho. No entanto, pupilas de tamanhos diferentes (anisocoria) são observadas em cerca de 25% da população normal. O diâmetro da pupila normal varia de 3 a 5 mm em um ambiente iluminado. Pupila menor que 3 mm está em miose e pupila maior do que 7 mm, em midríase. A pupila pode ser miótica se o paciente estiver usando certos medicamentos ou drogas, como a pilocarpina e a heroína. A midríase pode ocorrer em contusões oculares e em algumas doenças cerebrais. O reflexo pupilar à luz é testado da seguinte maneira: com uma iluminação uniforme sobre a face do paciente, faz-se incidir um feixe luminoso sobre um dos olhos. A pupila normal contrai-se vigorosa e rapidamente, mantendo esta contração. É o reflexo fotomotor direto. A pupila do outro olho deve contrair-se simultaneamente e com a mesma intensidade – é o reflexo fotomotor indireto ou consensual. O outro reflexo a ser investigado é o reflexo para perto. Para isto, aproxima-se do olho um objeto até uma distância de aproximadamente 10 cm. Neste momento, ocorre então miose bilateral, bem como convergência dos olhos e acomodação. Cristalino O cristalino é uma pequena lente transparente situada entre a íris, à frente, e o vítreo, atrás, presa ao corpo ciliar por um conjunto de fibrilas – as zônulas. O exame do cristalino é feito com lâmpada de fenda, estando a pupila em midríase. Porém, na falta desta, uma boa iluminação permite perceber as alterações mais grosseiras. Em relação à posição do cristalino, pode-se encontrá-lo deslocado (luxado), o que ocorre, às vezes, na síndrome de Marfan e nos traumatismos oculares. Figura 10: Técnica de eversão da pálpebra superior (A), vendo-se corpo estranho facilmente localizado (B) Figura 11: Cristalino luxado na câmara anterior PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin Com o oftalmoscópio, pode-se caracterizar a perda de transparência do cristalino (catarata) pelo desaparecimento do clarão pupilar. Acuidade Visual No exame clínico, a avaliação da acuidade visual é de grande importância, pois permite esclarecer se a queixa de perda ou diminuição da visão é procedente ou não. A acuidade visual é testada em cada um dos olhos separadamente. Ao se ocluir o olho que não está sendo examinado, deve-se evitar pressioná-lo, pois isto pode provocar distorção na imagem com diminuição da acuidade visual. Se o paciente usar óculos, a acuidade visual deve ser avaliada com a correção óptica. Figura 12: Tabela de Snellen O método mais usado é o da tabela de Snellen, ficando o paciente sentado a aproximadamente 6 m (20 pés) de distância dela. A tabela de Snellen é feita de letras de diferentes tamanhos, com distância entre elas de 5 cm. Quanto mais afastada estiver a tabela, menor é a imagem na retina. Combinando os dois fatores, tamanho das letras e distância entre o paciente e a tabela, é possível determinar o ângulo visual mínimo que corresponde à melhor acuidade visual. A acuidade visual normal por convenção é 20/20. Se o paciente é capaz de ler somente a linha 20/30, esta visão é, então, registrada. Se o paciente não consegue ler linha nenhuma, deve-se caminhar na sua direção até o ponto em que este consiga identificar quantos dedos o examinador está mostrando (acuidade visual – dedos a 3 m). Para fins de entendimento, deve-se esclarecer que 20/20 significa que a 20 pés o paciente tem capacidade de enxergar o que um paciente normal deveria enxergar a 20 pés e, desta maneira, 20/60 significaria dizer que o paciente enxerga a 20 pés o que um paciente normal estaria enxergando a 60 pés, portanto, o registro de uma visão pior. O registro da visão de perto mais usado é a tabela de Jaegger com graduações de J1 a J6. A distância ideal para leitura de perto é de 33 cm. Quando o paciente afasta a leitura, deve-se suspeitar de presbiopia. Quando o paciente aproxima muito a leitura, é provável que seja míope. A avaliação da acuidade visual indica a função da fóvea, área da retina responsável pela melhor acuidade visual. Quando o paciente é analfabeto, o quadro é construído com objetos ou animais facilmente identificáveis. O encontro de distúrbios de acuidade visual exige uma completa investigação oftalmológica. Diminuição e Perda de Visão A perda da visão (amaurose) ocorre em um ou em ambos os olhos, podendo ser súbita ou gradual. As causas de perda súbita de visão unilateral são obstrução da veia central da retina, da artéria central da retina, hemorragia vítrea ou retiniana, neuropatias ópticas, descolamento da retina envolvendo a mácula, amaurose urêmica (perda total da visão por uremia), endoftalmite embólica, trombose da artéria carótida interna e lesões traumáticas do nervo óptico (fratura do canal óptico). Causas da perda súbita de visão bilateral são: ● neuropatias ópticas ● amaurose urêmica ● traumatismo craniano ● transtorno de conversão (histeria) ● enxaqueca oftálmica PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin Causas de perda gradual de visão são: ● vícios de refração ● afecções corneanas (ceratites, distrofias, reações alérgicas, edema, ceratocone) ● afecções da úvea (inflamações, doenças hemorrágicas, neoplasias) ● glaucoma (geralmente do tipo crônico) ● afecções do vítreo (qualquer opacificação, hemorragias) ● afecções da retina (lesões vasculares, degeneração tapetoretiniana, retinite, neoplasias, descolamento da retina) ● lesões do nervo óptico (processos inflamatório, isquêmico, neoplasia, papiledema, atrofia óptica) Visão de Cores A visão da forma e a das cores são atributos dos cones, enquanto a visão com baixa iluminação (adaptação luminosa) é de responsabilidade dos bastonetes. Os métodos mais utilizados para o estudo da visão cromática são: ● tábuas pseudoisocromáticas (simples e acessível), as mais usadas são as de Ishihara ● anomaloscópio de Nagel ● testes de Farnsworth As tábuas pseudoisocromáticas são conglomerados de cores de matizes diversas, dentro das quais algarismos ou letraspodem ser percebidos pelos normais, e não pelos portadores de discromatopsias. Na retina tem somente 3 tipos de receptores cromáticos, cada um desses receptores (cones) contém uma substância fotossensível específica: ● protan (absorve a luz vermelha) ● deuteran (absorve a luz verde) ● titan (sensível à luz azul) Assim, consideram-se os seres humanos como tricromatas. Figura 13: Gravuras do atlas de Ishihara para análise de visão das cores Exame Neuroftalmológico A história do paciente é de grande importância no exame neuroftalmológico, podendo a acuidade visual estar normal ou alterada como observado em algumas doenças do nervo óptico. A visão de cor é estudada pelos testes: ● Ishihara ● Hardy-Rand-Rittler ● Farnsworth-Munsell 15 Hue ou 100 Hue Para examinar a pupila, podemos fazê-lo à luz ambiente ou com iluminação oblíqua, sendo aconselhável o uso de uma lâmpada de fenda. Estímulos que podem alterar a pupila: ● luz ● acomodação À luz ambiente e com o doente olhando para longe, podemos examinar a chamada pupila estática: diâmetro, igualdade (isocoria), regularidade, forma e situação. Devemos dar muita ênfase, na pupila estática, à desigualdade de diâmetros (anisocoria), que nos permite desde logo afirmar uma miose (pupila diminuída) ou uma midríase (pupila aumentada). Podemos ter miose nas irites e midríase nos glaucomas congestivos. Temos miose na pupila de Argyll-Robertson. A miose é fisiológica nas pessoas idosas e durante o sono. Nos traumas cranianos, o diâmetro pupilar pode fornecer dados semióticos importantes: ● midríase unilateral (hematoma extradural) ● midríase bilateral (coma grave) ● maior midríase (lado lesado) PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin ● miose bilateral (hemorragia parenquimatosa progressiva) ● rigidez pupilar (morte) Se a pupila estática pode fornecer tantos dados importantes, não menos útil é o estudo da pupila dinâmica, sob a ação da luz e da acomodação. Em um ambiente de luz indireta, quando se lança sobre a retina um feixe de luz, contrai-se não só a pupila do olho iluminado (reflexo fotomotor direto), como também a do outro olho (reflexo fotomotor consensual). Quando se solicita ao paciente para olhar para um ponto próximo, iremos ver sua pupila contrai-se, em uma reação pupilar à acomodação - convergência. Interpretação do campo visual: Depressão: perda do campo visual que é relativa, alguns estímulos são vistos enquanto outros, não. Contração: perda absoluta do campo visual, em geral periférica, de modo que nenhum estímulo é observado na área afetada. Escotoma: área anormal do campo visual cercada por um campo visual normal, pode ser absoluto (onde nenhum estímulo é percebido na área), ou relativo (onde alguns estímulos são apreciados enquanto outros, não). Preservação macular: é um termo aplicado nos defeitos homônimos do campo visual nos quais a representação macular no lado envolvido é completamente ou parcialmente não afetada. Defeito de feixe de fibras: é um defeito do campo visual que ocorre em uma lesão retiniana ou do nervo óptico que segue o padrão de perda de fibras nervosas. Pode ser: ● escotoma arqueado nasal ● degraus ● defeitos altitudinais ● defeitos no setor temporal A observação do campo visual nos permite localizar o nível da lesão da via óptica. Oftalmoscopia: exame de fundo do olho (pode ser direta ou indireta). Figura 13: Representação esquemática da via óptica mostrando os lugares de total interrupção das fibras nervosas e os vários campos visuais anormais produzidos por tais interrupções 17. Exames Complementares ● biomicroscopia e a gonioscopia ● oftalmoscopia ● oftalmodinamometria ● tonometria ● campimetria (campo visual) ● angiografia fluoresceínica ● angiografia com indocianina verde ● ultrassonografia ● eletrofisiologia do olho ● tomografia de coerência óptica (OCT) ● neurorradiologia ● biópsia ● citologia Biomicroscopia e Gonioscopia Exame do globo ocular por meio de uma lâmpada de fenda, que é composta de uma fonte de iluminação e de um sistema óptico ampliador. PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin Biomicroscopia: permite o exame microscópico in vitro das estruturas oculares, tornando possível detectar alterações que passariam despercebidas a olho nu (pequenos corpos estranhos na córnea, distrofias corneanas, edema corneano, células inflamatórias na câmara anterior e opacificação do cristalino). Gonioscopia: pode-se adaptar à lâmpada de fenda ou biomicroscópio (lente especial, munida de um prisma), que permite avaliar o ângulo da câmara anterior (exame fundamental quando se suspeita de glaucoma). Um outro dispositivo especial (lente de 3 espelhos) permite estudar o fundo do olho e a periferia retiniana. Oftalmoscopia Para realizar este exame, a pupila deve ser dilatada, para poder examinar a periferia da retina. O fundo de olho normal é visto como um reflexo vermelho (clarão pupilar). O examinador deve aproximar-se, sem perder o clarão de vista, até visualizar o fundo do olho. Entre o examinador e a retina, podem-se encontrar opacidades nos meios transparentes (córnea, cristalino e vítreo). O disco óptico é o primeiro elemento a ser examinado - em condições normais, ele é arredondado e rosado, com uma depressão mais clara no centro (escavação fisiológica). No glaucoma crônico, pode haver aumento da escavação, que pode atingir todo o disco óptico. No edema da papila e na neurite óptica, pode haver congestão do disco óptico com borramento de sua borda. Na atrofia óptica, o disco encontra-se pálido. No exame dos vasos sanguíneos, é necessário identificar as artérias e as veias: ● artérias (vermelho-clara) ● veias (vermelho-escuras) A artéria é mais espessa, com um reflexo central mais brilhante. Tendo em vista que os vasos são transparentes, o que se observa, na realidade, é a coluna sanguínea no seu interior. Deve-se procurar estreitamentos focais ou generalizados das artérias, tortuosidades das veias, além de observar os cruzamentos arteriovenosos. A área macular localiza-se no lado temporal a uma distância correspondente a 2 diâmetros do disco óptico. É uma área mais escura do que a retina que a rodeia. Não possui vasos na sua superfície e sua nutrição vem por trás, através da coróide. A área central da mácula, com brilho característico, é a fóvea, área responsável pela visão central. Examina-se a periferia da retina, solicitando ao paciente que olhe em diferentes direções (para cima, para baixo, para dentro e para fora). A oftalmoscopia indireta é feita exclusivamente pelo oftalmologista, usando um aparelho especial que permite examinar a periferia da retina, região que a oftalmoscopia direta não consegue atingir. Este exame é de grande importância na identificação do descolamento da retina. Principais achados: ● hemorragias ● exsudatos ● focos de coriorretinite ● edema de papila ● a atrofia de papila ● a neurite óptica ● o melanoma de coróide ● descolamento de retina Tonometria É a medida da pressão intraocular (método mais importante para o diagnóstico e acompanhamento do glaucoma). Existem 3 tipos de tonometria: ● tonometria digital ● tonometria de depressão corneana ● tonometria de aplanação corneana Tonometria Digital Fornece uma informação muito grosseira quanto a diferenças de pressão entre os 2 olhos (pouca utilidade). PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin Tonometria de Depressão Corneana Usa-se o tonômetro Schiötz (dependendo da rigidez escleral, podem-se obter resultados acima ou abaixo do valor real). Tonometria de Aplanação A pressão intraocular é medida pela força necessária do tonômetro para aplanar a área central da córnea (é a que fornece melhores resultados). A pressão intraocular média situa-se entre 13 e 19 mmHg. Campimetria (Campo Visual) Representa a expressão clínica do estado funcional das vias ópticas, iniciando nos elementos receptores sensoriais dos cones e bastonetes e terminando no córtexvisual. Tipos de campimetria: ● perimetria manual ou perimetria de Goldmann (permite detectar alterações na extensão do campo visual do paciente) ● perimetria automatizada ou computadorizada (se aplica mais à investigação do glaucoma - objetiva testar a sensibilidade de determinados pontos no campo visual) Angiografia Fluoresceínica Avalia a retina e a coróide, mediante a injeção de um contraste, que permite a identificação de alterações vasculares do segmento posterior. Fases da circulação da fluoresceína: ● coróide precoce ● arterial retiniana ● capilar retiniana ● venosa retiniana ● coróide tardia Se distinguem em áreas de: ● hiperfluorescência ● autofluorescência ● hipofluorescência No defeito da janela do epitélio pigmentado observa-se a hiperfluorescência de fundo devido à atrofia do epitélio pigmentado. O acúmulo da fluoresceína sob o epitélio pigmentado ocorre no descolamento do epitélio pigmentado. O acúmulo da fluoresceína no espaço sub-retiniano ocorre quando há ruptura da barreira do epitélio pigmentado. O vazamento do corante na retina sensorial é devido à ruptura da barreira hematorretiniana interna. O vazamento da fluoresceína pode ocorrer na neovascularização coróidea ou retiniana e no edema de disco. O bloqueio da fluorescência e da hipofluorescência, ocorre por aumento da densidade do pigmento (xantofila na retina sensorial e melanina no epitélio pigmentado), depósitos de materiais anormais (exsudatos duros na retina sensorial) e lipofuscina (doença de Best e por bloqueio decorrente de sangue na superfície ou interior da retina). A autofluorescência é percebida em algumas situações: drusas de disco óptico, mesmo antes da injeção do contraste. Angiografia com Indocianina Verde Usada para o estudo do segmento posterior. Muitas das propriedades deste corante são responsáveis por sua superioridade em relação à fluoresceína quando se estuda a vascularização da coróide. Indicação: quando a angiografia fluoresceínica não define bem as membranas neovasculares sub-retinianas. Ultrassonografia Parte de um feixe de ultrassom é refletida quando ele incide na interface de 2 meios de densidades diferentes. O aparelho possui uma sonda de dupla função, emissora e receptora, que, colocada sobre o olho, permite caracterizar a córnea, o cristalino e a retina. As principais indicações da ultrassonografia oftálmica são: PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin ● Biometria (cálculo de lente intraocular; diagnóstico e controle pós-operatório de glaucoma congênito) ● Avaliação vitreorretiniana quando os meios oculares são opacos (pré-facectomia; pré-vitrectomia; pré-ceratoplastia) ● Leucocorias da infância (diagnóstico diferencial entre retinoblastoma e pseudoglioma) ● Diagnóstico diferencial dos tumores intraoculares ● Trauma (avaliação da integridade ocular/corpo estranho) ● Neoplasias orbitárias ● Doenças do nervo óptico ● Oftalmopatia de Graves Eletrofisiologia do Olho ● eletrorretinografia ● eletro-oculografia ● potencial evocado visual Eletrorretinografia É o registro dos potenciais de ação da retina durante a resposta a um estímulo luminoso (indicada nas doenças retinianas, como a retinose pigmentar). Eletro-oculografia (EOG) É utilizada no estudo das doenças do epitélio pigmentado e em certas retinopatias tóxicas, como as causadas pela cloroquina e na doença de Best. Serve ainda como teste complementar da eletrorretinografia. Potencial Evocado Visual (PEV) Efetua o registro elétrico da condução da via óptica, das células ganglionares da retina até o córtex visual. No entanto, para se obter uma resposta adequada, é preciso que haja visão central suficientemente boa, capaz de permitir a percepção do estímulo visual, ou que se utilize um método capaz de substituir a visão central (estímulo difuso – flash). Tomografia de Coerência Óptica (OCT) Obtenção de imagem da retina através do fundo de olho, de modo similar a uma ultrassonografia, mas mediante feixes de luzes, e não de som, é possível obter uma imagem histológico-símile da área examinada. Mediante protocolos existentes no equipamento avalia-se a espessura das camadas da retina, tornando-se possível a identificação de doenças retinianas, analisando-se a integridade histológica da mesma. Dacriocistografia É o exame contrastado das vias lacrimais. Consiste na sondagem do canalículo lacrimal superior e injeção de contraste, seguida de registros radiográficos, sendo um logo após a injeção do contraste e o outro, decorridos 15 minutos. É realizada em paciente com dacriocistite crônica, quando se deseja saber o local exato da obstrução e as condições do saco lacrimal. Neurorradiologia Radiografia É um importante método diagnóstico, mas fica restrita a lesões ósseas ou de altas densidades. Tomografia Computadorizada É o exame mais adequado para avaliar lesões ósseas e a ressonância magnética para partes moles. Indicação: avaliação de sela túrcica, lesões orbitárias, calcificações, espessamentos musculares e lesões de altas densidades. Ressonância Magnética Permite identificar pares cranianos e seus trajetos. Indicação: para avaliar estruturas parenquimatosas (desmielinizações), áreas isquêmicas/hemorrágicas e lesões vasculares, podendo-se inclusive adicionar técnicas de exame complementares (angiorressonância) para aumentar a sensibilidade e a especificidade do exame. Biópsia e Citologia É imprescindível para o diagnóstico correto das lesões e para a diferenciação das neoplasias PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin malignas das benignas e estas dos hamartomas e das lesões inflamatórias. 18. Doenças dos Olhos ● blefaroptose ● epicanto ● blefarites ● estrabismo ● queratites ● nistagmo ● hordéolo ● calázio ● entrópio ● ectrópio ● lagoftalmia ● xantelasma ● neoplasias da pálpebra ● hemangioma da pálpebra ● conjuntivites ● xerose ● pterígio ● úlcera de córnea ● dacrioadenite ● dacriocistite ● exoftalmia ● uveítes ● tumores intraoculares ● glaucoma ● descolamento da retina ● paralisia dos músculos extraoculares ● lesões das vias ópticas ● lesões da pupila ● ametropias ● retinopatia hipertensiva ● retinopatia diabética ● traumatismos oculares ● arco senil Blefaroptose (queda da pálpebra superior) Pode ser: ● congênita ● adquirida Blefaroptose Congênita Apresenta incidência familiar, sendo, na maioria dos casos, bilateral. Pode estar associada ao estrabismo e a anormalidades palpebrais. Causa mais comum: desenvolvimento incompleto do músculo elevador da pálpebra. Deve-se pesquisar a existência do fenômeno de Marcus Gun ou jaw-winking, caracterizado pela elevação da pálpebra ptosada quando o paciente abre a boca ou move o queixo lateralmente. Blefaroptose Adquirida Pode ser: ● traumática (depende da lesão do músculo elevador da pálpebra ou do músculo de Müller) ● miogênica (observada na miastenia gravis, devendo-se fazer sempre o “teste do Tensilon®” para confirmar o diagnóstico) ● neurológica (ocorre por paralisia do nervo oculomotor, estando geralmente associada à oftalmoplegia) Quando a blefaroptose se associa a uma pupila miótica, deve-se pensar na síndrome de Horner, a qual resulta da interrupção da via pupilo motora simpática. Epicanto Consiste em uma dobra da pele que começa na pálpebra superior e projeta-se medialmente, cobrindo o canto interno do olho. É normal na raça mongólica e em algumas crianças caucasianas. O epicanto está frequentemente associado à blefaroptose e é um dos sinais oculares da Síndrome de Down. Estrabismo Expressa o desalinhamento ocular. Quanto à direção dos desvios podem ser classificados como: PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin ● convergente (desvio para dentro, ou esotropias) ● divergente (desvio para fora ou exotropia) ● vertical (desvio para baixo ou hipotropia ou para cima ou hipertropia) Podem ainda ser classificados como: ● concomitante (ângulo de desvio constante em todas as direções) ● paralítico(ângulo varia em função da direção) A esotropia congênita precoce é um tipo de estrabismo convergente que pode aparecer após o nascimento ou nos 6 primeiros meses de vida. A maioria das crianças tem fixação cruzada (usam seu olho direito ao olhar para a esquerda e o olho esquerdo ao olhar para a direita). Esta fixação cruzada pode ser confundida com a paralisia bilateral do reto lateral. Contudo, se um dos olhos é ocluído por poucas horas, a habilidade de abduzir o outro olho torna-se aparente. Crianças que não têm fixação cruzada podem desenvolver ambliopia. Entrópio (pálpebra virada para dentro) Pode ser: ● entrópio congênito ● entrópio espasmódico ● entrópio cicatricial Entrópio Congênito Raramente ocorre como doença isolada, em geral se situa na pálpebra inferior, mas pode surgir na pálpebra superior. Entrópio Espasmódico É provocado pela contração excessiva das fibras marginais do músculo orbicular do olho, que mantêm a borda palpebral em contato contínuo com o olho. Localiza-se quase exclusivamente na pálpebra inferior. É característico da atrofia do olho, porém pode ocorrer quando o tecido da borda palpebral perde sua resistência e elasticidade, o que é observado principalmente nas pessoas idosas. Entrópio Cicatricial Ocorre na retração cicatricial do tarso ou nos processos destrutivos da conjuntiva tarsal, cuja causa principal é o tracoma. A retração do tarso produz uma curvatura do dorso palpebral de modo que toda a superfície interna da pálpebra comprime o olho nos movimentos de fechamento, fazendo com que ele se torne hiperemiado e com secreção. O entrópio pode complicar-se com triquíase (desvio dos cílios para a córnea), causando irritação capaz de produzir até ulceração corneana. Quadro 1: Diferenças entre estrabismo paralítico e estrabismo concomitante PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin Ectrópio (borda palpebral invertida) Surge quando a borda palpebral está evertida, com a consequente exposição da conjuntiva palpebral. A exposição conjuntival determina queratinização e hipertrofia, que muitas vezes provocam um círculo vicioso, com a conjuntiva hipertrofiada vindo a separar a pálpebra do globo ocular. Outra complicação: eversão do ponto lacrimal, principalmente o inferior, pois o ectrópio é mais frequente na pálpebra inferior. A eversão do ponto lacrimal tem como consequência a incapacidade de coletar lágrima, aparecendo, então, epífora, que provoca eczematização da pele em decorrência do uso excessivo de lenço para secar a face. O ectrópio pode ser classificado em: ● ectrópio senil ● ectrópio cicatricial ● ectrópio espasmódico ● ectrópio paralítico Ectrópio Senil É um achado comum e deve-se ao fato de o músculo orbicular pré-tarsal não conseguir manter a borda palpebral em contato com o globo ocular. Ectrópio Cicatricial Surge sempre que se destrói a pele palpebral. Causas mais comuns: queimaduras por álcalis, ácidos ou térmicas e os processos inflamatórios. Ectrópio Espasmódico Depende do espasmo dos fascículos musculares pré-marginais. A pálpebra é impulsionada para baixo e para fora. Paralítico: ocorre na pálpebra inferior e é causado por lesão do nervo facial. Lagoftalmia É um defeito de fechamento das pálpebras, cujas bordas não se encontram. Pode ser: ● lagoftalmia cicatricial (ocorre como consequência de grandes retrações palpebrais ou perda de tecido) ● lagoftalmia paralítico (surge na paralisia facial periférica) Exoftalmo: observa-se a lagoftalmia, isto porque as pálpebras não conseguem cobrir o globo ocular. Lagoftalmia: pode haver complicações corneanas graves, mesmo havendo a ação protetora do fenômeno de Bell (elevação do globo ocular ao fechar as pálpebras, fazendo com que a córnea fique protegida pela pálpebra superior). Blefarites Podem apresentar-se sob 2 formas: ● blefarites infecciosa - ulcerativa (geralmente causada por estafilococos, observam-se pálpebras vermelhas, áreas ulceradas ao longo das bordas e queda de cílios) ● blefarites seborreica - não ulcerativa (na maioria das vezes, encontra-se associada à dermatite seborreica do couro cabeludo, das sobrancelhas e da pele atrás das orelhas.) No início, o paciente apresenta hiperemia e prurido nas bordas palpebrais, com sensação de peso, fotofobia e lacrimejamento; posteriormente, formam-se pequenas escamas que se depositam entre os cílios; finalmente, aparecem crostas amareladas que caracterizam a blefarite seborreica. Hordéolo É uma infecção estafilocócica das glândulas palpebrais caracterizada por dor, hiperemia e edema. PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin Ele é um abscesso, pois há formação de pus dentro da glândula afetada. Hordéolo interno: quando afeta as glândulas meibomianas, tem tamanho relativamente grande. Pode salientar-se no lado da pele ou da conjuntiva palpebral. Hordéolo externo: (terçol), menor e mais superficial, é uma infecção das glândulas de Zeis ou Moll. Sempre afloram do lado da pele, na margem palpebral. Calázio Constitui a causa mais comum de tumor palpebral. É uma inflamação granulomatosa crônica da glândula meibomiana, de causa desconhecida. Caracteriza-se por edema localizado na pálpebra superior ou inferior, sem sinais inflamatórios. Quase sempre se projeta para o lado conjuntival da pálpebra. Quando a pálpebra é invertida, a conjuntiva sobre o calázio mostra-se elevada e avermelhada. Xantelasma São placas amareladas, localizadas no canto interno das pálpebras superiores, sendo constituídas por depósitos lipídicos. Elas não são uma neoplasia. Costuma ser uma manifestação de dislipidemia (hipercolesterolemia com ou sem aumento dos triglicerídios). Tumores Palpebrais, das Glândulas Lacrimais e Pseudotumor da Órbita Os carcinomas constituem as principais neoplasias da pálpebra, podendo ter origem nas células basais, nas células escamosas e nas glândulas sebáceas. Carcinomas de células basais: (carcinoma basocelular) são responsáveis por mais de 90% das neoplasias malignas desta região, sendo mais frequentes em homens com idade acima de 50 anos. A localização mais comum é na pálpebra inferior e no canto interno do olho. A lesão começa como um pequeno nódulo, ligeiramente elevado, com borda irregular e aperolada. Quando atípico, pode ser confundido com verruga, papiloma ou nevus. Podem aumentar por extensão direta e ser altamente invasivos, mas praticamente não evoluem para metástase. É comum sua ulceração. Carcinomas de células escamosas: (carcinoma espinocelular) são mais agressivos do que os basocelulares e responsáveis por menos de 5% das neoplasias malignas da pálpebra. Ocorrem predominantemente em homens e localizam-se, de preferência, na pálpebra inferior. Começam como uma verruga que pode lembrar o carcinoma de células basais. À medida que a lesão aumenta, tomam o aspecto de uma ulceração rasa, granular e com base vermelha. Podem ocorrer metástases pelos canais de drenagem linfática. Carcinomas de glândulas sebáceas: são neoplasias de evolução insidiosa, de cor branco-amarelada, que se instalam na porção tarsal da pálpebra. Frequentemente são confundidos com calázio. Por esta razão, calázio recorrente precisa ser biopsiado, e o diagnóstico final deve ser estabelecido histopatologicamente. O tumor benigno mais comum das pálpebras é o papiloma de células escamosas, que pode ser séssil ou pedunculado. Hemangiomas: são lesões congênitas que ocorrem sob a forma de nódulos isolados ou múltiplos, de cor vermelha e textura frouxa. Incluem o nevus flameus, o hemangioma capilar e o hemangioma cavernoso. Os hemangiomas não são neoplasias, e sim hamartomas. O nevus flameus é irregular, com tamanho variado, de cor azul-avermelhada, sendo formado por telangiectasias difusas de vasos maduros. PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin O hemangioma capilar é uma lesão da infância, tem aspecto feio e é de crescimento rápido, mas desaparece espontaneamente. O hemangioma cavernoso é umaafecção da idade adulta, não tem tendência para involução espontânea e é insensível à irradiação. O hemangioma capilar e o hemangioma cavernoso são lesões comuns em outros locais. Os da órbita se estendem à pálpebra. O pseudotumor ocorre em indivíduos de meia-idade, quase sempre unilateral. Porém pode ser bilateral. Há dor, edema palpebral, quemose, hiperemia conjuntival, limitação do olhar e proptose. A tomografia computadorizada pode mostrar aumento da massa muscular e espessamento escleral. O diagnóstico diferencial deve ser feito com pseudotumor bilateral, miosite orbital e síndrome de Tolosa-Hunt. O tumor de células mistas da glândula lacrimal é progressivo e indolor; pode haver ou não proptose; a radiografia revela endentação da fossa lacrimal sem destruição óssea; tomografia computadorizada mostra um tumor redondo ou oval, encapsulado e localizado na fossa lacrimal. Os tumores malignos da glândula lacrimal compreendem o carcinoma cístico adenóide, o adenocarcinoma, o carcinoma mucoepidermoide, e ocasionalmente tumores de células mistas malignas. A radiografia e a tomografia computadorizada mostram com nitidez o tumor. Figura 17: Carcinoma de células basais Conjuntivites É a inflamação da conjuntiva, caracterizanda por dilatação vascular, infiltração celular e exsudação. Causas: ● bacteriana ● viral ● fúngica ● alérgica Conjuntivite bacteriana Pode ser: ● aguda ● crônica Conjuntivite Aguda: é caracterizada por ingurgitamento vascular e secreção mucopurulenta, associados a sintomas de irritação, sensação de corpo estranho e pálpebras aderidas. Pode comprometer o sistema lacrimal. Uma grande variedade de bactérias pode infectar a conjuntiva, e a identificação do tipo de bactéria nem sempre é fácil de ser feita. A forma aguda tem como etiologia o Staphylococcus epidermidis, e Staphylococcus aureus, o Haemophilus e o Streptococcus sp. Conjuntivite Crônica: tem como etiologia germes resistentes aos antibióticos de uso mais frequente, devendo-se pensar sempre em infecção por clamídia. PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin Conjuntivite Viral Apresenta uma reação folicular na conjuntiva. Sua duração é de 10 dias a 3 semanas e melhora espontaneamente. O agente mais comum é um adenovírus, o qual, além da conjuntivite, causa queratite superficial e pode evoluir com pseudomembrana. O herpes simples ocular tem caráter de infecção recorrente e crônica e caracteriza-se por lesões de aspecto dendrítico na córnea. Conjuntivite Alérgica Ocorre geralmente em pacientes com história familiar de alergia. Após alguns minutos em contato com o antígeno, pode haver reação sistêmica junto com manifestação ocular, caracterizada por edema e hipertrofia papilar difusa da conjuntiva. Principais sintomas: ● prurido ● irritação ● secreção aquosa No esfregaço conjuntival, encontram-se eosinófilos. Conjuntivite Fúngica Ocorre muito raramente e está, em geral, associada com situações de imunocomprometimento, apresentando prognóstico reservado. Figura 18: Conjuntivite Xerose É uma condição caracterizada por secura conjuntival, causada pela transformação do epitélio mucoso em epitélio pavimentoso, com queratinização das células superficiais. Na conjuntiva, observam-se manchas brancas, brilhantes e recobertas de espumas. Nos casos mais graves, toda a superfície conjuntival e a córnea (xeroftalmia), mostram transformações. Nestes casos, cessa a secreção lacrimal. É típico que as placas de xerose não fiquem recobertas por nenhum líquido, pois estão cobertas por uma secreção sebácea, procedente das glândulas meibomianas. Ela pode ocorrer em pessoas desnutridas, com avitaminose A, formando as placas de Bitot. A córnea, uma vez invadida pelo processo xerótico, opacifica-se e ulcera (queratomalacia). Queratites Podem ser microbianas (Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae, Pseudomonas sp., Escherichia coli, Proteus sp., Klebsiella sp., Serratia marcescens), virais, micóticas (Aspergillus ou Fusarium sp., Candida albicans) e por Acanthamoeba. Queratite intersticial: geralmente é de origem sifilítica, tuberculosa, e ainda pode ocorrer na síndrome de Cogan (poliarterite nodosa, infiltrados no estroma corneano, zumbidos, vertigem e surdez). Queratites virais: ocorrem no herpes simples (tipo 1 envolvendo pele, lábios e olhos; e tipo 2 envolvendo genitália e, ocasionalmente, transmite-se para os olhos) e no herpes-zóster. Queratite pode levar a uma úlcera de córnea. Pterígio É uma afecção que compromete a córnea, porém seu ponto de partida é conjuntival. Ele é uma prega de conjuntiva formada por tecido fibrovascular dirigida para a córnea, sendo típico seu desenvolvimento no lado temporal ou nasal PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin (mais frequente), ao longo do diâmetro transverso do olho, ou seja, correspondendo à parte da conjuntiva bulbar circunscrita pela fenda palpebral. Em geral é bilateral, começando sob a forma de um pequeno nódulo no limbo, que cresce sobre a córnea até alcançar, nos casos mais graves, as proximidades de seu centro. Apresenta-se como uma asa triangular (com seu vértice sobre o limbo), pouco proeminente sobre o plano corneano e irrigado por pequenos vasos procedentes da conjuntiva. Pode ser progressivo ou estacionário. Sua patogenia é desconhecida. O estroma compõe-se de alterações no tecido conjuntivo semelhantes às das pinguéculas. Dacrioadenite e Dacriocistite Dacrioadenite Consiste em um processo inflamatório da glândula lacrimal. Pode ser de etiologia viral, bacteriana ou fúngica. Quadro clínico da fase aguda: constitui-se de eritema, dor, edema e tumoração no quadrante temporal superior da órbita. A dacrioadenite crônica tem a mesma sintomatologia, mas sem dor. Dacriocistite É a inflamação do saco lacrimal, que pode ser aguda ou crônica. Forma aguda: geralmente causada por uma infecção bacteriana que se espalha do saco lacrimal para os tecidos ao redor, produzindo edema, dor, eritema e tumoração no canto interno do olho. A menos que o processo seja interrompido pelo tratamento, o saco lacrimal irá descomprimir-se através de uma fístula de drenagem. Forma crônica: aparecem epífora e tumoração no canto palpebral interno. A obstrução se encontra habitualmente no conduto nasolacrimal. Em consequência, o saco lacrimal se distende e fica ocupado por secreção mucopurulenta. É necessário fazer uma dacriocistografia para caracterizar o local da obstrução, o tamanho do saco lacrimal e, às vezes, comprovar a existência de dacriólitos no interior do saco lacrimal. Arco Senil É considerado um processo degenerativo da córnea e aparece como uma zona opaca de infiltração lipídica próxima à periferia corneana. Inicia-se nas partes superior e inferior da córnea, sendo separado do limbo por uma zona de córnea clara. Pode estar relacionado com aumento dos níveis de lipídios (hipercolesterolemia). Uveítes É um processo inflamatório da úvea. Embora o termo uveíte se relacione à inflamação primária da úvea, as estruturas adjacentes como retina, vítreo e córnea são frequentemente atingidas. Tipos de uveíte: ● uveíte granulomatosa ● uveíte não granulomatosa Uveíte Granulomatosa É mais frequente, acompanha-se em geral da invasão de patógenos como o Mycobacterium tuberculosis e o Toxoplasma gondii. Uveíte não Granulomatosa Ocorre principalmente na íris e no corpo ciliar (considerada uma reação de hipersensibilidade). Retinopatia Hipertensiva As alterações da hipertensão arterial sistêmica podem ser avaliadas por meio do exame de fundo de olho. Discrepâncias entre os achados fundoscópicos e medidas de pressão arterial devem chamar atenção do médico para uma hipertensão PORTO, C. C. Semiologia Médica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. @juliana.dianin subdiagnosticada ou uma doença vascular existente. Achados fundoscópicos característicos da arteriosclerose: ● Aumento do reflexo central arteriolar: a hialinização da média gera uma cor dourada, definindo a arteríola
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