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UNIDADE I Contas Nacionais e Mercado Interno Drª. Jamilly Dias dos Santos Me. Leonardo Aparecido Santos Silva Aproximações: o objeto de estudo da Macroeconomia Caro aluno, bem-vindo ao estudo dos temas relacionados à Macroeconomia. Você irá verificar, ao longo desta aula, que muitos assuntos recorrentes no nosso cotidiano, enquanto indivíduos, fazem parte das análises macroeconômicas. Questões como o aumento da taxa de desemprego – um problema que afeta milhões de brasileiros – e o aumento dos preços dos combustíveis, alimentos e remédios, por exemplo, são temáticas que estão na ordem do dia da Macroeconomia. Ao final desta aula, você será capaz de: conhecer o conceito de Macroeconomia e o alcance dos seus temas para empresas e indivíduos. O conceito de Macroeconomia A Macroeconomia é um ramo de estudo das Ciências Econômicas que analisa as diferentes variáveis econômicas de maneira agregada (LUQUE & SCHOR, in LOPES & VASCONCELLOS, 2008). A partir desta conceituação geral, vamos abrir algumas discussões. Nas Ciências Econômicas, há uma preocupação, um foco, no sentido de compreender as mudanças das estruturas que determinam os preços dos bens e serviços disponíveis no mercado para a satisfação das Aula 01 2 necessidades dos indivíduos. Estamos, neste sentido, falando de todos os bens, como canetas, camisetas, smartphones, álcool em gel, umidificadores, chinelos, entre outros. Essas diferentes mercadorias, produzidas pelas empresas e demandadas pelo seu público consumidor (ambos são agentes econômicos, ou seja, transacionam livremente no mercado), são precificadas a partir de critérios de oferta e demanda; a quantidade de bens demandados interfere significativamente nos preços dos bens. Essa análise, a respeito dos preços que cada empresa deve praticar para garantir a inserção de seu produto no mercado e garantir a demanda dos consumidores, é um dos principais tópicos de discussão da disciplina de Microeconomia. No entanto, é conveniente para o profissional que estuda as Ciências Econômicas que haja uma análise mais aprofundada não apenas sobre a dinâmica de oferta e demanda de um certo bem, mas também a respeito de variáveis paralelas que interferem de forma muito significativa no cotidiano das empresas e consumidores, tais como o desemprego nas famílias, o crescimento da produção dos bens e serviços, a renda dos consumidores, entre outras. Desse modo, esta análise é feita de forma agregada, ou geral, unificando todas as variáveis que interferem na geração da produção dos agentes nas economias modernas. Esta análise geral faz parte dos estudos de Macroeconomia. Figura 1 - A realidade histórica do mercado de bens Fonte: Shutterstock 3 O objeto de estudo da Macroeconomia Como verificamos, a Macroeconomia enfoca e analisa o comportamento agregado dos agentes econômicos. No entanto, vamos agora entender melhor alguns espaços onde a Macroeconomia encontra seus objetos de estudo. O espaço de estudo da Macroeconomia, por excelência, é o mercado. Nele, se estabelecem, como vimos na primeira seção, as transações econômicas que regem o funcionamento da sociedade. Porém, este mercado pode ser dividido em algumas dimensões, sendo que todas elas são um referencial macroeconômico (MANKIW, 2006): o mercado de bens e serviços, no qual são produzidas as mercadorias utilizadas no cotidiano das empresas, das famílias e do Estado, onde a soma destes bens gera o produto agregado, transacionado a um certo nível de preços. ATENÇÃO A Microeconomia também estuda e analisa a realidade do mercado, ou seja, a produção de bens e serviços, mediante certos níveis de preço, para a geração de lucros para as empresas ofertantes destes bens. A Macroeconomia, por sua vez, agrega mais variáveis a esta análise, como vimos, em uma perspectiva integrada. SAIBA MAIS Embora bens e serviços tenham uma natureza distinta (os bens, em geral, são fabricados, e os serviços são prestados através de atividades humanas sem necessariamente envolver o fabrico de produtos), na Macroeconomia eles são analisados conjuntamente, pois envolvem, de todo modo, a geração de algum produto a ser utilizado pelo público consumidor. 4 O mercado de trabalho, onde se agregam todos os tipos de trabalho na economia (na indústria, no comércio, na prestação de serviços, na agricultura, na mineração, entre outros), e onde a remuneração destes trabalhadores é dada pela taxa salarial, e a taxa de desemprego está associada a este mercado. Sabendo-se que os bens são transacionados, e os salários são pagos com o uso do dinheiro, a moeda assume uma importância significativa para a Macroeconomia. Desta forma, o mercado monetário é regulado pela taxa de juros e pela quantidade de moeda em circulação na economia. Quando um país efetua transações com o resto do mundo, através da exportação e importação de bens e de capitais, há uma relação de preços entre moedas conhecida como taxa de câmbio. A taxa de câmbio é a variável que regula as relações no mercado cambial. Figura 2 - Atividade de transformação no mercado de bens Fonte: Shutterstock 5 Há, ainda, o mercado de títulos, também regulado pela taxa de juros, onde são transacionadas diferentes aplicações financeiras; em conjunto com o mercado monetário, estes dois mercados formam o que conhecemos como mercado financeiro (LUQUE & SCHOR, in LOPES & VASCONCELLOS, 2008) A Macroeconomia na gestão das empresas A realidade dos diferentes mercados que condicionam a Macroeconomia como referencial de estudo também é muito importante para a gestão das empresas modernas. Como produtora de bens e serviços, estas empresas não podem apenas preocupar-se com variáveis e dimensões relativas ao seu ‘funcionamento interno’, tais como o preço de seus bens, fixado de forma a gerar lucros, ou ainda, a redução dos seus custos de operação. Na realidade, as empresas modernas precisam considerar a evolução da economia como um todo, para poderem definir suas políticas de produção, de crescimento de receitas, de corte de gastos, de contratação ou demissão de funcionários, etc. Assim, a evolução do mercado, como um todo (ou seja, de maneira agregada) é uma variável crucial para a sobrevivência das empresas na atualidade (MANKIW, 2006). Os temas da Macroeconomia no dia-a-dia da população Como você pode perceber, a Macroeconomia condensa um conjunto de discussões e análises auja abrangência é muito próxima das diferentes questões que compõem o seu dia-a-dia. Mesmo os tópicos que dizem respeito às políticas que um governo pode efetuar para incentivar o crescimento econômico, ou conter uma crise de superprodução (sim, às vezes é preciso interromper a produção excessiva de bens e serviços para evitar uma queda muito forte no nível de preços), estão ligados ao seu cotidiano. Textos como o que exemplificamos na NA PRÁTICA Quando afirmamos que a taxa de câmbio entre o Real e o Dólar, em 28 de dezembro de 2017, às 16h35, era de 3,31, isto nos indica que são necessários 3 reais e 31 centavos para a aquisição de um dólar naquela data. 6 sequência podem ser encontrados diariamente nos meios de comunicação: todos nós temos algum parente, amigo, familiar próximo, ou talvez mesmo você, que no momento esteja lidando com a realidade do desemprego. Milhões de brasileiros procuram diariamente uma nova colocação no mercado de trabalho, com maior ou menor sucesso, de acordo com suas pretensões salariais e seu orçamento familiar para viverem com dignidade, em um contexto de inflação em baixa. Uma meta muito comum, neste sentido, é a busca por concursos públicos, em vista da estabilidade no emprego que oferecem; nos últimos anos, porém, a oferta de vagas reduziu-se em função da contenção de despesas do governo federal. Apenas neste parágrafo, tocamos em diversos tópicos de estudo da Macroeconomia. O desemprego, uma variável ligada ao mercado de trabalho, afeta o orçamento das famílias (e o mercado de bens e serviços). A inflação, que podemos entender como um processo sustentado de aumento dos preços dos bens e serviçosao longo do tempo, também é uma variável macroeconômica importante. Por fim, a decisão do governo em suspender concursos públicos está ligada à contenção de gastos públicos, que é uma forma de política fiscal (LUQUE & SCHOR, in LOPES & VASCONCELLOS, 2008). Figura 3 - A realidade do desemprego no mercado de trabalho Fonte: Tommaso79 / Shutterstock 7 Desta forma, você pode perceber que a Macroeconomia, enquanto disciplina da área das Ciências Econômicas, está bastante ligada ao dia-a-dia das famílias e indivíduos. Fechamento Os temas macroeconômicos são de fundamental importância para o funcionamento da sociedade. A evolução dos níveis de preço, da produção de bens e serviços, o comércio exterior, o desemprego, a inflação, e a taxa de juros, são alguns dos objetos de estudo da Macroeconomia relevantes para a determinação das condições de equilíbrio e crescimento da economia. Portanto, o estudo destas dimensões, de forma agregada, fornecerá subsídios para a compreensão dos diferentes referenciais teóricos e modelos que regem a política econômica no mundo contemporâneo. Figura 4 - A Macroeconomia na contenção de períodos de crise Fonte: ESB Professional / Shutterstock ATENÇÃO A política fiscal pode ser usada para promover o crescimento econômico, pelo meio do aumento de gastos do governo e/ou da redução de impostos. 8 Nesta aula, você teve a oportunidade de: conhecer o conceito de Macroeconomia e o alcance dos seus temas para empresas e indivíduos. 9 Contas nacionais: Ótica da Produção e da Demanda Você já deve ter ouvido falar no Produto Interno Bruto (PIB) e em como as políticas econômicas afetam o dia a dia das pessoas. Vamos agora entender um pouco mais sobre estes termos? Você vai estudar, nesta aula, uma matéria atual, presente na mídia e de grande interesse da sociedade. Ao final desta aula, você será capaz de: entender o que são agregados e políticas econômicas; entender o que são e como são formados os agregados econômicos: valor bruto da produção, produto interno bruto e renda. entender o que é e como se forma a demanda agregada; compreender a situação de equilíbrio na qual produto é igual à demanda; identificar os tipos de bens que constituem as exportações e importações e o saldo de transações reais. O que são agregados macroeconômicos Aula 02 10 Os agregados macroeconômicos identificam as principais contas nacionais. O objetivo de conhecê-las é ode contabilizá-las e, desta forma, acompanhar a evolução da economia ao longo do tempo. O estudo destes agregados é ponto de partida para que você entenda a economia de um país. São eles: produto: é o valor, o resultado econômico de todos os esforços dos setores primário, secundário e terciário, incluindo-se o Estado(em sistemas econômicos que possuam um governo) para a produção final de bens e serviços; renda: é o somatório da remuneração dos insumos (materiais básicos) de uma economia. O total dos salários pagos (remuneração do insumo trabalho) somado aos aluguéis e/ou royalties recebidos (remuneração do insumo terra e recursos naturais), somados aos juros (remuneração do insumo capital), somados aos lucros (remuneração do insumo iniciativa empresarial), geram a renda; despesas: também conhecidas por dispêndios, representam a totalidade gasta pelos agentes econômicos para a aquisição de bens e serviços produzidos. O que são políticas macroeconômicas Trata-se de um conjunto de ações intencionais, integradas e sistêmicas (inseridas em sistemas de tomada de decisão), gerenciadas pelo Estado objetivando, por exemplo, gerar renda, emprego, controlar a inflação e, sobretudo, prover o desenvolvimento da sociedade. As políticas econômicas manipulam os agregados macroeconômicos para que sejam atingidas metas de produção e crescimento econômico. ATENÇÃO Políticas econômicas são sempre adotadas em conjunto, ao menos para o caso brasileiro, em que elas são geridas pelo Ministério da Fazenda e pelo Banco Central do Brasil. 11 As principais políticas econômicas, para economias que possuam governo e mantenham relações com o exterior (economias abertas), são: política monetária, que trata da oferta e da demanda de moeda em circulação. O Governo pode ofertar um volume maior de moeda e, neste caso, diz-se que a economia está monetizada ou, ainda, retira-se amoeda de circulação. A principal ferramenta para a execução desta política é a oferta e demanda de títulos públicos; política fiscal, exercida através de variações de tributos e de gastos do Governo; Política cambial, que define a taxa de câmbio do país com o resto do mundo, ou seja, a relação de valor de sua moeda como outras moedas, alterando, desta forma, o volume de importações e exportações e o resultado do balanço de pagamentos e, em especial, da balança comercial. Figura 1 - Sede do Ministério da Fazenda Fonte: Filipe Frazao / Shutterstock NA PRÁTICA Quando o Governo toma medidas da chamada austeridade fiscal, reduzindo gastos e buscando a elevação de impostos, está tomando medidas de política fiscal. 12 Conceituação de valor bruto da produção Se você somar o valor bruto (isto é, sem a exclusão de impostos, pagamentos e outras taxas) de tudo o que é produzido nos setores primário, secundário e terciário, incluindo-se o Estado, obterá o valor bruto da produção (VBP). O VBP remete a todos os bens que foram produzidos na economia, sejam bens de consumo (destinados ao uso imediato dos agentes, de sigla BC), bens de capital (destinados a produzir outros bens, como máquinas e ferramentas, de sigla BK), bens intermediários (que são produzidos como parte da produção de outros bens, como tecidos para roupas, de sigla BI) e os Figura 2 - A política monetária trabalha a oferta e demanda por moeda Fonte: Lisa S / Shutterstock ATENÇÃO Há outras políticas formuladas pelos gestores de uma economia e que somam-se às três que mencionamos, como as políticas: de geração de renda e emprego; de distribuição de renda e diminuição da pobreza; e de concessão de créditos. Todas envolvem importantes medidas de impacto na economia e são desdobramentos dos conceitos de políticas fiscal, monetária e cambial. 13 bens públicos (fornecidos pelo Estado, como iluminação pública, calçadas, forças armadas e segurança nacional, de sigla BP). Esta contabilização, no entanto, pode gerar contagens em duplicidade ou até mesmo em multiplicidade do valor dos bens produzidos, já que um insumo que seja utilizado na elaboração de um bem final pode ter o seu valor total considerado na composição do valor final deste bem. Por exemplo, se uma peça de algodão tem valor de R$ 10 e uma camisa tem valor de R$ 30, você poderia deduzir que a produção teve valor total de R$ 40, quando, na verdade, ela teve valor total de R$ 30. Para evitar essa dupla (ou múltipla) contagem, você deve considerar apenas o valor agregado bruto, que contabiliza apenas valores agregados, eliminando, desta forma, a múltipla contagem. Vamos especificar para você: parte da produção poderá não ser usada para produzir outros bens, mas sim exportada. Isto vale, sobretudo, para os bens intermediários cuja demanda externa também é grande (tratemos os bens intermediários exportados por XBI). Da mesma forma, a produção pode contar com bens intermediários importados (de sigla MBI). Assim, a produção de uma economia corresponde à soma de seus bens produzidos, de acordo com a equação: Abrindo este raciocínio para os outros tipos de bens fabricados em uma economia (BC, BK e BP), você poderá observar que nem todos os bens são necessariamente consumidos internamente, no chamado mercado doméstico (chamaremos os bens consumidos no mercado doméstico por: DBC, DBK e DBP; com D de doméstico). Eles também podem ser exportados (chamaremos assim: XBP. XBC e XBK). Tenha atenção, portanto ao conceito de produto, que considera os valores finais utilizados para a produção de bens e serviços nos três setores da economia. Conceituação de produto interno bruto O valor monetário obtido pelo somatório de tudo que é produzido nos trêssetores da economia para elaboração de bens e serviços finais é chamado de produto interno bruto, o PIB. Assim, a equação anterior pode ser aberta, considerando-se a possibilidade de exportações de bens, da seguinte forma: Em outras palavras, o PIB é soma de todos dos valores agregados de tudo o que é produzido na economia para consumo ou exportação, no espaço geográfico que comporta esta economia, normalmente ao longo de um ano. PIB = BC + BKBP + KBI − MBI PIB = DBC + XBC + DBK + XBK + DBP + XBP + XBI − MBI (SILVA, 1999) 14 Desdobrando-se este conceito, pode-se afirmar que o PIB é composto pelo consumo das famílias (C) para a aquisição de bens e serviços (DBC + MBC), pelos investimentos (I) realizados pelas empresas (DBK + MBK), pelos gastos governamentais (G, formado por DBP + XBP) e pelo saldo líquido das transações realizadas com o resto do mundo (X-M), conhecidos como saldo de transações reais (SILVA, 1999).O PIB é uma medida quantitativa e que considera apenas valores agregados para a elaboração do produto final. PIB = C + I + G + (X − M) Figura 3 - Bens de capital Fonte: Nadezhda Sundikova / Shutterstock NA PRÁTICA Outras variáveis podem ser medidas em períodos maiores ou menores, a critério do pesquisador. O consumo, por exemplo, por ser sazonal (varia mais em determinados períodos) e poderá ser medido mensalmente. 15 Saiba que o termo em inglês Gross Domestic Product (GDP) corresponde ao nosso Produto Interno Bruto. Figura 4 - Participação dos países na composição do PIB mundial em 2015 Fonte: MaxxiGo / Shutterstock ATENÇÃO O PIB configura-se como uma relevante medida de verificação do crescimento econômico capaz de sinalizar políticas econômicas indutoras de desenvolvimento. 16 Conceituação de renda nacional No primeiro tópico, conceituamos para você a renda como o agregado macroeconômico que computa os valores de todas as remunerações dos fatores de produção em um determinado período. Contudo, esta definição pode ser mais “apurada” através do conceito de renda nacional, visível quando a economia possui um governo. Você sabe que um governo se mantém através de impostos. Neste sentido, a renda nacional é o somatório da remuneração de todos os fatores de produção percebidos por todos os proprietários destes mesmos fatores, deduzidos os impostos e somados às transferências realizadas pelo Governo para o setor privado através de pagamentos de subsídios para as empresas e de pensões e outros benefícios previdenciários para as famílias. RN = Renda + Transferencias Governamentais - Impostos SAIBA MAIS Mankiw (2006, p. 500) aprofunda os conceitos de PIB, renda e despesa neste capítulo sugerido sob o título “Medindo a Renda Nacional”. SAIBA MAIS Quer conhecer um caso prático da aplicação dos conceitos vistos até então? Acesse o portal da prefeitura de São José dos Pinhais/PR . 17 http://www.sjp.pr.gov.br/pib-e-renda/ Renda = PIB Como você sabe, o PIB mede o valor final de todos os bens e serviços produzidos em uma economia em um determinado período de tempo e, como todos estes bens e serviços são consumidos, você pode concluir que o PIB também é uma medida da despesa. Como você viu que renda = despesa, pode-se afirmar que o PIB é uma medida tanto da despesa quanto da renda (MANKIW, 2006, p. 500). Assim, torna-se legítima a identidade: A identidade produto = renda = despesa configura o modelo conhecido como “Fluxo Circular da Renda”. Como você pode observar, a geração de produto traz como consequência a remuneração dos insumos através da renda. Sendo consumida na forma de bens, a renda se iguala à despesa. Por exemplo, se a despesa de um empresário for de R$ 1 milhão com o pagamento de salários, a renda dos trabalhadores será usada para o consumo dos bens produzidos, retornando-se, assim, a renda para o fluxo circular. Dentro dos referenciais de estudo da Macroeconomia, os agregados macroeconômicos são uma das dimensões de estudo principais. A partir destas estruturas, são deduzidas diversas outras identidades que conformam e auxiliam o desenvolvimento das políticas econômicas e a obtenção dos indicadores de crescimento nas economias modernas.A medição do valor da produção dos bens e serviços necessários ao funcionamento da sociedade, neste sentido, gera uma base de cálculo que será útil para a discussão de outros importantes pontos da Macroeconomia, como por exemplo, o consumo das famílias e das empresas, e os investimentos. Você verá alguns conceitos da Macroeconomia, que se dedica ao estudo das políticas econômicas e seus impactos sobre a sociedade por meio do crescimento econômico e da geração da produção de uma economia. Você vai estudar, também, a composição da demanda agregada, uma identidade econômica elaborada a partir de diferentes elementos que compõem a produção total de bens e serviços. Consumo, investimento e gastos Você pode verificar que os estudos de Macroeconomia levam em consideração três elementos fundamentais, os agregados macroeconômicos: o produto, a renda e o dispêndio. O produto PIB = Renda = Despesa. 18 corresponde à soma de todos os bens e serviços produzidos pelos agentes em certo tempo. A renda, por sua vez, corresponde à remuneração de todos os recursos necessários à fabricação dos bens finais. Já o dispêndio, ou gasto, representa os valores usados pelos agentes para a aquisição dos bens produzidos. Deste modo, pode-se dizer que a renda se iguala à despesa; e que ambas, separadamente, igualam-se ao produto (PAULANI; BRAGA, 2013). Porém, cada agregado é determinado por variáveis específicas. Você poderia citar algumas? Exemplos clássicos são os encontrados no título deste tópico, quais sejam, o consumo, o investimento e os gastos do Governo. Você analisará cada um desses componentes para entender como é composta a chamada demanda agregada (D). O consumo pode ser compreendido como a soma do valor das aquisições pelos agentes econômicos (famílias, indivíduos, empreendedores, dentre outros) de bens que se destinam ao uso desses agentes (BLANCHARD, 2004). Podemos enquadrar estes bens em três categorias: · bens de consumo não duráveis, destinados ao uso em curtíssimo e curto prazo, às vezes por uma única vez, como alimentos, produtos derivados do tabaco e combustíveis. · bens de consumo duráveis, normalmente utilizados por mais de uma pessoa, por mais de uma vez e cujo prazo de deterioração é maior, como eletrodomésticos, eletrônicos e Figura 5 - Combustíveis são bens de consumo não duráveisFonte: Anze Bizjan / Shutterstock 19 automóveis, por exemplo. · serviços, atividades que vêm do trabalho humano e prestam-se à satisfação de uma necessidade dos agentes, como consultas médicas, consultorias, trabalhos advocatícios etc. O investimento é uma variável macroeconômica que corresponde ao somatório das despesas, por parte das empresas, em especial (pois, na teoria econômica, são elas, no setor privado, que conduzem o processo de produção) para a aquisição de bens e serviços que tenham por objetivo a realização da produção em longo prazo. ATENÇÃO Parte da literatura econômica separa os bens de consumo em outra categoria, a de bens de consumo semiduráveis, que são aqueles a serem consumidos por um agente em curto e médio prazos e que têm prazo de deterioração superior aos bens não duráveis, como calçados e roupas. SAIBA MAIS Uma investigação a respeito do consumo de bens duráveis e não-duráveis no Brasil entre 1970 e 2003 pode ser encontrada no artigo de Fábio Augusto Reis Gomes, “Evolução do consumo de duráveis e não duráveis: existe ajustamento lento no caso brasileiro ?” 20 http://www.scielo.br/pdf/ecoa/v17n2/a05v17n2.pdf Veja que essas aquisições podem ser de equipamentos e construção de instalações destinadas à fabricação das mercadorias. Cabe destacar que, na categoria “equipamentos”, observa-se outro tipo de bens, qual seja: · bens de capital, destinados à produção de outros bens e cuja utilização dá-se em médio e longo prazos, de acordo com uma taxa de deterioração(também conhecida como depreciação ou sucateamento). O gasto deriva de todas as atividades realizadas pelo Estado para a aquisição de bens e serviços, além da remuneração dos funcionários. Essa variável é um importante instrumento Figura 6 - Investimentos envolvem o longo prazo Fonte: Tzido Sun / Shutterstock ATENÇÃO De modo geral, a taxa de depreciação de um bem de capital é razoavelmente conhecida pela firma e determinada pela evolução tecnológica e intensidade de uso deste bem. 21 de política econômica à medida que permite aquecer ou desacelerar a atividade econômica através de variações nas despesas do Estado (PAULANI; BRAGA, 2013). Expressamos, assim, através do Consumo, do Investimento e do gasto do governo, as variáveis mais importantes para a determinação da demanda. Neste sentido, precisamos ter em conta que esta demanda por bens pode ser suprida por aqueles produzidos dentro da economia, ou bens domésticos (d), tanto quanto por bens importados (m). Deste modo, podemos, inicialmente, definir o consumo como uma relação entre a aquisição de bens de consumo domésticos e importados. Verifique a equação que segue. Ou seja, o consumo é formado pela aquisição de bens de consumo domésticos (dbc) e importados (mbc). C = dbc + mbc ATENÇÃO A política econômica que utiliza o gasto do governo para atuar sobre a atividade econômica é denominada política fiscal. SAIBA MAIS Em geral, as economias dos diferentes países mantêm relações com o resto do mundo, de forma que, quase sempre, visualizaremos fluxos de bens e capitais entre essas diferentes nações. 22 Podemos expandir este conceito para as outras variáveis macroeconômicas que estudamos até agora. O investimento, enquanto se configure por um processo de aquisição de bens de capital (bk), pode ser determinado através da seguinte equação: Da mesma forma, o gasto governamental (G) envolve a compra de bens públicos (bp) que serão disponibilizados à sociedade através do Estado, conforme a equação: Expressando, portanto, as três variáveis que determinam a demanda agregada(D), podemos abri-las a partir da aquisição de bens domésticos e importados, concluindo nosso raciocínio através da seguinte equação: Em equilíbrio: PIB = renda O Produto Interno Bruto (PIB) é a expressão do valor de todos os bens e serviços produzidos em uma economia ao longo de um determinado período de tempo, normalmente correspondente a um ano. Ele é a expressão do produto total, através da equação: Em que C, I e G representam, respectivamente, o consumo, o investimento e os gastos do Governo. (X-M) representa o saldo da balança comercial (através da identidade exportações- importações). I = dbk + mbk G = dbp + mbp D = C + I + G = dbc + mbc + dbk + mbk + dbp + mbp PIB = C + I + G + (X − M) NA PRÁTICA Se foram produzidos bens no mercado doméstico com o valor de R$ 1 bilhão e os bens importados somaram o valor de R$ 100 milhões, temos que o consumo total desta economia é de R$ 1,1 bilhão. 23 Como as operações de consumo, investimento e gasto implicam uso de recursos monetários, você pode observar que esses recursos advêm da renda obtida pelas atividades produtivas – no consumo das famílias, no investimento das empresas, no gasto do Governo. Supondo que essa economia seja fechada, ou seja, sem contato com o exterior, temos que o cálculo do Produto Interno Bruto se dá através da relação PIB = C + I + G. Vamos, porém, utilizar o caso de uma economia aberta, que realiza transações com o exterior. Assim, em condições de equilíbrio, observa-se a identidade PIB = Renda; renda esta que, desconsiderando a hipótese de poupança, será correspondente à demanda. Ou seja, nessas condições, o produto se iguala à demanda (PAULANI; BRAGA, 2013). Sabendo-se, portanto, que o PIB se iguala à demanda, temos a seguinte identidade: Neste caso, vamos abrir um pouco mais a identidade que estabelecemos no conjunto de equações da seção anterior. Se o PIB se iguala à demanda, temos que, no cálculo do PIB, são computados todos os bens produzidos, importados e exportados, seja na forma de bens de consumo, capital ou bens públicos. Porém, devemos citar uma quarta categoria de bens, qual seja, os bens intermediários, que são bens que já passaram pelo processo de produção, mas destinam-se à composição da produção de outros bens, como, por exemplo, de chapas de aço para a construção de automóveis. Figura 7 - Estado e seus gastosFonte: Bart Sadowski / Shutterstock PIB = D → PIB − D = 0 24 Estes bens intermediários (tratados por BI) podem ser exportados ou importados conforme as especificidades da economia, logo, para o cálculo do o saldo dos bens intermediários em uso na economia, temos a seguinte equação: Sabendo, assim, que no cálculo do PIB os bens intermediários também devem ser computados, obtemos a seguinte equação: Logo: Como o PIB se iguala à demanda em condições de equilíbrio, temos que: Deste modo: Retirando-se as variáveis que se eliminam mutuamente, temos que: Assim, PIB – D se igualam ao saldo de exportações e importações de bens: Exportações, importações e saldo de transações reais Considerando o conjunto de equações apresentado na seção anterior, você pode compreender o resultado da identidade macroeconômica (PIB – D) como o saldo de transações reais (ou correntes) de uma economia (com notação STR). Logo, sabendo-se que PIB – D = STR, temos que: BI = xbi − mbi PIB = BC + Bk + BP + BI PIB = dbc + mbc + dbk + dbp + mbp + xbi − mbi PIB = D → dbc + xbc + dbk + xbk + dbp + xbp + xbi − mbi = dbc + mbc + dbk + m PIB − D = dbc + xbc + dbk + xbk + dbp + xbp + xbi − mbi − (dbc + mbc + dbk + mb PIB − D = xbc − mbc + xbk − mbk + xbp − mbp + xbi − mbi PIB − D = X − M (SILVA, 1999) STR = X − M 25 Ou seja, o saldo em transações reais corresponde aos resultados das transações da economia com o exterior, através dos processos de exportação e importação de produtos (SILVA, 1999). PIB = D + (X-M) Tendo explorado o conceito de transações correntes, vamos incorporá-lo ao cálculo da demanda para compreendermos a formação do produto interno bruto, identidade de grande Figura 8 - Transações correntes: relações de uma economia com o exterior Fonte: Fine Art / Shutterstock NA PRÁTICA Se as exportações tiveram um saldo final de R$ 4 bilhões e as importações tiveram saldo de R$ 3 bilhões, temos que o saldo de transações reais é igual a STR = 4-3 = R$ 1 bilhão. 26 importância macroeconômica. Vamos recuperar a equação para o caso de uma economia aberta. Sabendo-se que o consumo, o investimento e o gasto do Governo são expressões da demanda na economia, podemos transformar essa equação em: Ou seja, o produto interno bruto é formado pela demanda adicionada dos saldos das transações no exterior, constituindo, assim, a demanda agregada que se iguala ao produto. Tratamos, então, a demanda como “agregada”, pois ela não é individualizada, mas sim composta pela soma das atividades dos agentes econômicos. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: entender a natureza e os fatores determinantes de importantes variáveis macroeconômicas, como o consumo, o investimento e o gasto do Governo; verificar que o produto interno bruto se iguala à renda sob condições de equilíbrio; conhecer os instrumentos de relações de uma economia com o exterior através do saldo de transações reais. verificar que, em economias abertas, certos bens podem ser produzidos por agentes estrangeiros em território nacional e por agentes nacionais no exterior; compreender que esses recursos são geralmente reenviados a seus países de origem, na forma de rendas e que a soma destas rendas corresponde às Rendas Líquidas Enviadas ao Exterior; entender que o Produto Nacional Bruto corresponde ao Produto Interno Bruto, deduzidas as Rendas Líquidas Enviadas ao Exterior. PIB = C + I + G + (X − M) PIB = D + (X − M) 27 Produto Nacional Bruto e Identidade Fundamental Macroeconômica No estudo da Macroeconomia, das políticas econômicas e seus efeitos sobre a economia de um paíse sua sociedade, é muito importante que você conheça e acompanhe a evolução de relevantes conceitos e identidades macroeconômicas. Uma destas identidades você conhecerá agora: é o chamado Produto Nacional Bruto (PNB). Você entenderá melhor a sua composição e quais as variáveis mais importantes que determinam a sua existência em um sistema econômico. Ao final desta aula, você será capaz de: aprender sobre os agregados – renda líquida, saldo de conta corrente e PNB; entender quando a renda líquida é negativa e quando é positiva. entender a identidade fundamental macroeconômica; entender a importância fundamental dos estoques para a Macroeconomia; relacionar alguns agregados macroeconômicos de nosso modelo; compreender os conceitos de propensão marginal a consumir e a poupar. Aula 03 28 Os agregados que formam a renda líquida e se ela foi enviada ou recebida do exterior O estudo dos agregados macroeconômicos, notoriamente o produto, a renda e a despesa, são fundamentais para a compreensão da estrutura econômica de uma sociedade. O produto representa a soma dos valores dos bens produzidos por uma sociedade ao longo de certa janela temporal, por exemplo, um ano fiscal. Um desdobramento do conceito de produto é o chamado Produto Interno Bruto (PIB), que corresponde exatamente à produção de bens e serviços de um país ao longo de um determinado período. Pela ótica da demanda, você observa que o PIB é formado por quatro variáveis fundamentais, todas com igual importância. Em primeiro lugar, tem-se o consumo, formado pela aquisição dos bens e serviços necessários à economia. A segunda identidade é o investimento, enquanto função direta (e inversamente proporcional) à taxa de juros de longo prazo na economia, e que mede os valores aplicados na compra de bens destinados à produção (bens de capital) bem como na ampliação de espaços destinados à produção e outras atividades correlatas. Os gastos do Governo, para uma economia que possua governo, também fazem parte do cálculo do PIB. Por fim, os saldos comerciais desta economia, caso ela seja aberta e tenha relações com o exterior, também são necessários para o cálculo do Produto Interno Bruto (PAULANI; BRAGA, 2013). No entanto, você precisa ter em conta que uma economia não é formada apenas da produção de bens tangíveis, ou seja, bens concretos, que podemos possuir, armazenar, tocar, manter e guardar. Há, por exemplo, os serviços das empresas, dos profissionais liberais, autônomos, e sua produção também deve ser computada no cálculo do Produto Interno Bruto. SAIBA MAIS O PIB é tratado como bruto, pois não inclui as depreciações dos bens de capital ao longo do período de análise. Quando a depreciação – decorrente do uso desses bens de capital para o consumo – é incorporada ao cálculo, tem-se um novo indicador, o Produto Interno Líquido (PIL). 29 Por fim, devemos também destacar as relações que essa economia tem com o resto do mundo através do recebimento e envio de capitais entre a economia nacional e o setor externo. Começaremos, portanto, a discussão a respeito da chamada renda líquida enviada ao exterior, também conhecida pela sua sigla RLEE. Na Macroeconomia, um dos agregados mais importantes é a renda, entendida como a soma, em valores monetários, da remuneração dos chamados fatores de produção, ou seja, dos recursos utilizados por essa economia na produção dos bens e serviços indispensáveis ao andamento da sociedade. Nesse agregado, podemos incluir o pagamento de funcionários de empresas privadas, empregadas domésticas, bem como a compra de insumos (recursos destinados à produção, como matérias-primas e bens intermediários, já manufaturados, como o aço, por exemplo) (PAULANI; BRAGA, 2013). Para facilitar sua compreensão, suponha que a economia em discussão seja a brasileira. Neste caso, as empresas com capital nacional venderão seus bens e obterão lucros que serão apropriados pelos seus proprietários ou acionistas, que poderão, por exemplo, usá-los para novos investimentos. Figura 1 - Taxas de crescimento do PIB dos Estados Unidos (1996-2015) Fonte: Freer / Shutterstock ATENÇÃO A remuneração dos funcionários públicos é parte da despesa pública e, portanto, um gasto governamental. 30 Mas há ainda outras duas categorias de empresas: as empresas estrangeiras instaladas em território nacional, bem como as empresas nacionais que possuem plantas industriais, filiais, lojas, escritórios ou qualquer outro tipo de atividade produtiva no exterior. Nestes casos, essas empresas também realizam alguma forma de atividade produtiva e, ao gerarem uma produção, também geram renda. Esta renda é obtida, por exemplo, com o lucro dessas empresas e o pagamento dos fatores de produção, como salários e aluguéis de edifícios, bem como por doações unilaterais. Mas, quando elas não estão em território nacional, saiba que a tendência é a de que esses capitais não permaneçam nesses países, mas que sejam reenviados ao país de origem da empresa. Desse modo, as transações entre rendas entre países configuram uma movimentação desta renda. Dá-se, assim, o conceito de Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE). A RLEE pode ser entendida como o resultado entre as rendas enviadas e as rendas recebidas, deste modo: RLEE = Rendas Enviadas ao Exterior – Rendas recebidas do Exterior As rendas enviadas ao exterior correspondem aos lucros e às receitas das empresas estrangeiras instaladas em território nacional e que são enviadas às suas matrizes, em seus países de origem. Por outro lado, as rendas recebidas do exterior correspondem às rendas enviadas pelas filiais das empresas nacionais instaladas no exterior e remetidas de volta à nação. No agregado, forma-se o componente das Rendas Líquidas Enviadas ao Exterior (PAULANI; BRAGA, 2013). Figura 2 - Agentes econômicos de diferentes origens Fonte: Sergign / Shutterstock 31 A RLEE pode ser entendida também como uma medida de internacionalização de uma economia. Em países onde há um grande número de empresas estrangeiras operando em volumes superiores aos das empresas nacionais sediadas no exterior e cuja renda enviada é maior que a recebida, você observa que há uma baixa internacionalização dos recursos nacionais no exterior. Esses países, na verdade, exportam renda, pois há mais recursos sendo enviados ao exterior do que recebidos dele. Por outro lado, veja que economias cujas empresas estão espalhadas pelo mundo tendem a possuir um maior grau de internacionalização de seus ativos. Deste modo, as rendas recebidas são maiores que as enviadas e o saldo de RLEE tenderá a ser negativo: são países que importam renda do exterior. Figura 3 - Agentes enviam recursos de volta a seus países de origem Fonte: Gosphotodesign / Shutterstock NA PRÁTICA Se uma economia tem agentes nacionais instalados no exterior, que enviam ao seu país de origem uma renda de um bilhão de dólares, e agentes estrangeiros instalados em seu território enviam de volta três bilhões, o total da RLEE = 3-1 = dois bilhões de dólares. 32 O sinal da RLEE é muito importante: trata-se, para a economia nacional, de avaliar qual é a quantidade de renda que está deixando o país. Por isso, as rendas recebidas que, em teoria, deveriam ter sinal positivo (pois está entrando dinheiro na economia), na verdade, possuem sinal negativo. Se a RLEE for negativa, há mais rendas sendo recebidas. O sinal positivo demonstra que elas estão sendo enviadas ao exterior em maior quantidade. A inversão do sinal nos mostraria não as rendas líquidas enviadas, mas as rendas líquidas recebidas do exterior (RLRE). Na contabilidade social brasileira, costumamos, porém, utilizar o conceito de RLEE com sinal negativo. A RLEE entra no cálculo das transações correntes, ou seja, as transações que uma economia mantém com o resto do mundo em conjunto com os saldos da balança comercial (exportações – importações), da balança de serviços (que agrega os fluxos de renda, como a RLEE e outros) e as transferências unilaterais. Em conjunto, esse saldo conforma o chamado saldo em contacorrente de um governo (PAULANI; BRAGA, 2013). Diferença entre PIB e PNB Agora, vamos expandir o raciocínio para você entender melhor o impacto da RLEE sobre o Produto Interno Bruto (PIB). O PIB, enquanto soma de todos os bens e serviços produzidos em uma economia, embute também os recursos e a renda produzida pelos agentes estrangeiros sediados em território nacional. Se a economia é fechada, sem transações com o exterior, esses ativos não estarão presentes. ATENÇÃO Se os agentes investirem seus recursos, por exemplo em bens de capital, fora de seu país de origem, este recurso não entrará na conta das rendas enviadas. 33 As economias tendem a possuir amplas relações com as economias de outros países. Nestas circunstâncias, parte da renda total produzida em um país também embute as rendas que serão redirecionadas ao exterior. Dessa forma, para deduzir o efeito das RLEEs, tem-se o conceito de Produto Nacional Bruto (PNB), que corresponde a todos os bens e serviços produzidos em uma economia, deduzida a RLEE, conforme a seguinte equação: Figura 4 - Circulação internacional de renda Fonte: Natalya Timofeeva / Shutterstock PNB = PIB − RLEE ATENÇÃO No mundo real, praticamente não há economias fechadas, salvo raríssimas exceções,como a Coreia do Norte, por exemplo, que também não é totalmente fechada, pois possui relações com a China. 34 Cabe lembrar: o sinal negativo da variável RLEE nos mostra que, se houver mais renda sendo enviada ao exterior do que recebida, há recursos deixando a economia nacional. Como você pode perceber, o Produto Nacional Bruto exclui as rendas líquidas enviadas ao exterior. Trata-se de um demonstrativo da produção nacional baseada nos valores monetários advindos do uso de fatores de produção essencialmente nacionais (PAULANI; BRAGA, 2013). Como consequência desta equação, observe que o Produto Interno Bruto corresponde à soma do Produto Nacional Bruto com as Rendas Líquidas Enviadas ao Exterior. Neste caso, o sinal da RLEE se inverte, pois consideramos que há um volume de recursos que está fazendo parte da economia, mas que não é produzido por fatores de produção nacionais. NA PRÁTICA Se o Produto Nacional Bruto de uma economia é de US$ 99.999.999,999,00 e seu PIB foi medido em US$ 100 bilhões, pela equação anterior temos que:99.999.999.999,00 = 100.000.000.000,00– RLEE Logo, RLEE = US$ 1,00. SAIBA MAIS Você poderá encontrar maiores definições sobre os conceitos de PIB, PNB e RLEE no texto do ex-ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira, e do professor Yoshiaki Nakano:“Contabilidade Social”, originalmente publicado em 1972. Acesse aqui 35 http://www.bresserpereira.org.br/papers/1972/72.ContabilidadeSocial.pdf Você conhecerá os elementos determinantes da identidade fundamental macroeconômica que compõem uma das equações mais importantes da Macroeconomia na área da contabilidade social, através da relação entre o produto, o consumo, o investimento, o desempenho comercial e os gastos governamentais, em uma economia aberta e com governo. A identidade fundamental macroeconômica A Macroeconomia, através do estudo das relações entre produção, renda (o pagamento dos meios de produção) e despesa (gastos com o consumo das mercadorias produzidas em um mercado), associa variáveis para a compreensão da atividade econômica conforme a equação: Em que y representa o produto gerado por essa economia (expressa pelo conceito de Produto Interno Bruto, o PIB), c o consumo e i o investimento. A variável g representa os gastos e as despesas do Governo, e os saldos em balança comercial são dados por x-m, em que x e m representam, respectivamente, exportações e importações. A variável s representa a poupança e a variável t, os impostos pagos ao Governo. Esses saldos geram a chamada renda líquida (rl). O investimento é gerado a partir da poupança, a fração da renda dos agentes, que não é consumida. Da mesma forma, o montante disponível ao Governo para a realização de seus gastos é determinado pela quantidade de impostos arrecadados. Esta equação representa a composição geral da economia: a produção (tanto a consumida quanto a exportada) é uma função direta da renda dos fatores de produção (destinada ao consumo e ao investimento) e da despesa (através do consumo e dos gastos públicos). Os estoques e o investimento O investimento é a soma dos valores dos bens e recursos que são destinados a gerar maior capacidade produtiva do agente econômico (seja uma empresa ou a economia de todo um país) através da formação de capital fixo e de estoques. O capital fixo é gerado pelos montantes aplicados na produção dos chamados bens de capital, ou bens de produção, que são destinados à fabricação de outros bens e serviços, como Pib = y = c + i + g + x– m = c + s + t + rl 36 maquinários especializados, caminhões, guindastes, edifícios etc. Essa aplicação de recursos faz parte dos chamados investimentos planejados (KRUGMAN; WELLS, 2012). Da mesma forma, a variação de estoques é fundamental para o investimento. Estoques são o montante de produtos que já passaram pela produção, mas ainda não foram vendidos/consumidos. É comum que as empresas mantenham consigo certo estoque dos bens que produzem, a fim de poder atender rapidamente à demanda dos consumidores. Assim, é possível pensar no estoque de bens como parte da política de investimentos da economia, quando ele é planejado. A variação nos estoques também pode constituir um movimento não planejado de investimento, uma vez que bens podem ser produzidos e não serem demandados. Assim, a ATENÇÃO Os estoques incluem os bens chamados finais, destinados à venda, e os chamados bens intermediários, que são os produtos que já passaram por alguma produção, mas se destina à produção de outros bens, como chapas de aço para a fabricação de automóveis, por exemplo. SAIBA MAIS No século XX, as firmas mantinham grandes estoques de produtos. Porém, na década de 1970, um novo padrão de produção previa a chamada “produção enxuta”, para aumentar a competitividade das empresas e reduzir custos. Você poderá aprender sobre o “toyotismo” no tópico 2.1 da dissertação de Roberto Borghi (Unicamp), Lendo o QRCode a seguir . 37 http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?down=000409069 variação dos estoques determina a atividade produtiva através do ritmo de investimentos: será tendência à formação de estoques por queda na demanda, as empresas não investirão. Deste modo, há uma relação inversa entre estoques e investimentos (KRUGMAN; WELLS, 2012). Taxa de juros e investimento Você sabe o que determina o investimento, isto é, o que faz com que os agentes prefiram investir a usar os seus recursos para qualquer outra finalidade? A chave para esta questão está na taxa de juros da economia – no caso brasileiro, a taxa de juros de longo prazo, conhecida como TJLP. Você pode entender a taxa de juros como o “prêmio pelo dinheiro”, ou seja, uma remuneração que os agentes, como empresas e indivíduos, recebem pela aplicação dos seus recursos em investimentos de natureza financeira (poupança, títulos, CDBs, entre outros). Observando a TLJP, um agente verificará duas situações para tomar sua decisão de investir: o retorno do investimento em termos de aumento da produção, das receitas e dos lucros (em resumo, seu crescimento) e o retorno em aplicações financeiras através da taxa de juros. Se o retorno da taxa de juros for superior ao retorno do investimento, o agente não investirá na produção. Se o investimento trouxer maiores perspectivas de ganho, a decisão do agente será a de investimento produtivo (PAULANI; BRAGA, 2013). Figura 5 - Estoques de produção Fonte: Urbans/ Shutterstock 38 Você pode perceber, portanto, que há uma relação inversa entre a taxa de juros e o investimento. Se os juros aumentam, uma firma que necessite de empréstimos para financiar a aquisição de bens de capital optará por não fazê-lo, dado o aumento do risco, expresso pelo valor pago como remuneração do agente que cede os recursos. E, ainda que a firmanão necessite de financiamentos para investir, ela preferirá manter seus recursos aplicados sob outras formas que não o investimento produtivo, protegendo-se de outros riscos. Figura 6 - Escolhas: investir na produção ou manter o capital aplicado? Fonte: Visual3Dfocus / Shutterstock SAIBA MAIS A TJLP para a economia brasileira, no quarto trimestre de 2016, estava cotada em 7,5%. 39 Renda e impostos A renda diz respeito ao total da remuneração dos fatores de produção em uma economia, como o pagamento de salários, por exemplo. Qual a sua renda, hoje? Você conhece bem seus rendimentos líquidos, aqueles que são pagos em dinheiro a você. Porém, este montante deve representar apenas uma parcela de sua renda total. A outra parcela é usada para o pagamento de impostos. Em economias com Governo, a arrecadação de impostos é o recurso principal que este mesmo governo se utiliza para a manutenção de suas atividades e fornecimento de bens e serviços necessários ao bem-estar da sociedade. Porém, o Governo também pode repassar recursos de volta à população na forma de transferências governamentais, como auxílios, benefícios sociais etc (PAULANI; BRAGA, 2013). Assim, a renda se torna dependente do montante de impostos que os agentes pagam e NA PRÁTICA Considerando que a TJLP no Brasil é de 7,5%, um empresário que possua um montante de capital deverá verificar se o crescimento da produção e de suas receitas e lucros com o investimento supera esse patamar. Caso não supere, você pode concluir que ele preferirá investir em outros ativos financeiros. ATENÇÃO Há determinados bens, conhecidos como bens públicos, que o Estado fornece à sociedade, pois o setor privado não tem condições ou interesse em fazê-lo, como, por exemplo, a segurança nacional 40 as eventuais transferências que eles possam vir a receber, formando a chamada renda disponível. Ela é dada pela seguinte equação: Em que Yd representa a renda disponível em relação à renda total (Y); os impostos são denotados por t (os impostos totais são o saldo entre os tributos pagos e as transferências governamentais, sendo T = TD – TR), e rl representa a renda enviada ao exterior. Você pode perceber que há uma relação proporcional entre renda e arrecadação do Estado. O aumento de impostos é diferente do aumento de arrecadação, que pode ser gerado por outras vias, como o pagamento de multas e reparações de guerra, por exemplo Yd = Y– t– rl Figura 7 - O pagamento de impostos reduz a renda disponível Fonte: Artisticco / Shutterstock 41 Renda disponível e consumo Normalmente, os agentes não possuem acesso à sua renda total; eles devem pagar impostos. Assim, aparcela da renda disponível para consumo é inferior à renda total. Portanto, o consumo, como variável macroeconômica, é determinado pela renda disponível dos agentes, havendo uma relação positiva entre renda e consumo – que aumenta na mesma proporção do aumento da renda. Os agentes poderão consumir toda a sua renda ou direcioná-la para outros projetos, de acordo com os seus desejos de consumir ou poupar. Renda disponível e poupança Além do consumo, a renda disponível pode ser usada para a poupança (PAULANI; BRAGA, 2013). Por “poupança”, entenda a parcela da renda que não é direcionada ao consumo, sendo preservada para outros projetos dos agentes ao longo do tempo, de acordo com a equação: Em que Yd configura a renda disponível, c o consumo e s a poupança. Há uma relação positiva entre a renda disponível e a poupança: esta aumenta em resposta ao aumento da renda disponível. Por sua vez, veja que os montantes que serão consumidos e poupados estão ligados às preferências de cada agente, conforme os conceitos de propensão marginal a consumir e a poupar. Propensão marginal a consumir e a poupar Yd = c + s NA PRÁTICA Se a soma da renda de uma economia é de 1 bilhão de reais, R$ 200 milhões foram pagos em impostos, R$ 50 milhões foram enviados ao exterior e R$ 100 milhões voltaram como transferências, a renda disponível é de R$ 850 milhões. 42 Quando você considera que cada agente efetua, conforme suas expectativas, as suas decisões de consumo e poupança e isto repercute na economia como um todo, pode deduzir que cada variação percentual (1%) na renda da economia será seguida por uma variação nos valores das quantidades de bens consumidos e poupados. Essas razões configuram as chamadas propensões marginais a consumir e a poupar(KRUGMAN; WELLS, 2012). A propensão marginal a consumir demonstra a variação do consumo perante a variação percentual da renda disponível , de acordo com a seguinte equação: Por sua vez, a propensão marginal a poupar configura a variação do consumo perante a variação percentual da Renda , de acordo com a equação: Se, em uma economia, a variação da renda corresponde a uma variação exatamente igual de consumo, a propensão marginal a consumir é igual a 1 e não haveria poupança. Da mesma forma, se todos pouparem, a propensão marginal a poupar assume valor 1 e não haveria consumo de bens nesta sociedade. PMC = △c △yd PMP = △s △yd Figura 8 - Decisões entre consumir e poupar Fonte: Sheff / Shutterstock 43 O conceito clássico de propensão marginal a consumir vem da razão entre variações de consumo e renda. Já para a matriz de estudo keynesiana, proposta por John Maynard Keynes (1883-1946), a PMC é uma função das expectativas dos agentes em relação ao comportamento do sistema econômico. Ela é uma variável subjetiva e afeta o consumo (C) a partir da seguinte equação: Em que apresenta o consumo fixo dos agentes e C corresponde à PMC como função direta da renda disponível em . Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: verificar que, em economias abertas, certos bens podem ser produzidos por agentes estrangeiros em território nacional e por agentes nacionais no exterior; compreender que esses recursos são geralmente reenviados a seus países de origem, na forma de rendas e que a soma destas rendas corresponde às Rendas Líquidas Enviadas ao Exterior; entender que o Produto Nacional Bruto corresponde ao Produto Interno Bruto, deduzidas as Rendas Líquidas Enviadas ao Exterior. conhecer a identidade fundamental macroeconômica e seus principais componentes; entender a determinação do investimento a partir de suas relações com a taxa de juros e o fluxo de estoques; compreender que a renda, o consumo e a poupança dos agentes estão entrelaçados, através das propensões marginais a consumir e a poupar. C = +C0 Cyd C0 YD 44 Mercado de Bens, Serviços, Monetário e Instrumentos de Política Monetária Nesta aula, discutiremos alguns elementos ligados à gestão da política econômica a partir da política fiscal, entendendo-se esta como uma série de medidas destinadas a trazer equilíbrio à economia através da ação do Estado sobre o gasto e a tributação. Você vai verificar como essas ações se traduzem na geração e variação dos volumes de produção e renda nas economias modernas. Ao final desta aula, você será capaz de: entender as condições de equilíbrio no mercado de bens e serviços; identificar política fiscal, políticas expansionistas e contracionistas. entender o que é e qual o objetivo do Banco Central; conhecer o conceito de oferta de moeda; entender o conceito de multiplicação monetária. entender os três instrumentos de política monetária; diferenciar moeda e títulos; conhecer a demanda por moeda, demanda transacional de moeda e demanda especulativa de moeda. Aula 04 45 A curva IS: os pontos sobre ela, à sua direita e esquerda Você entenderá as condições nas quais é dado o equilíbrio em um mercado de bens e serviços, conforme o modelo macroeconômico da curva IS. A expressão é originada do termo “Investment – Saving” (Investimento – Poupança). Ou seja, através dessa curva, você poderá observar como, por meio de mecanismos de determinação da poupança e sobretudo do investimento, é gerado o produto de uma economia (BLANCHARD, 2004). Com efeito, estamos tratando da forma como a demanda é gerada no mercado de bens, pois consideramosque a demanda, com notação z, iguala-se à produção, dada por y, sob condições de equilíbrio, através da equação: Esta equação mostra a você que o produto é dado através do consumo c, do volume de investimentos, dados por i, dos gastos do governo dados por g, e dos saldos em balança comercial, sendo x e m iguais a exportações e importações, respectivamente. A equação acima representa a chamada identidade fundamental macroeconômica. Y = c (y − t) + i + g + (x − m) = z SAIBA MAIS O modelo que originou a curva IS é uma interpretação dos estudos originais de John Maynard Keynes (1883-1946) a respeito do crescimento das economias modernas, e foi efetuado pelos economistas John Hicks e Alvin Hansen na década de 1940 (BLANCHARD, 2004). 46 Você pode observar que há mais duas variáveis que determinam o consumo, quais sejam, a relação y – t. Esta relação corresponde ao volume de bens produzidos menos os impostos pagos ao governo. Pela identidade correspondente aos agregados macroeconômicos principais, temos que o produto se iguala à renda, correspondente ao pagamento dos recursos necessários à produção. Logo, a relação y – t demonstra o volume de renda que efetivamente fica “nas mãos” dos agentes para o consumo – esta identidade é a renda disponível, com notação Yd (BLANCHARD, 2004). Caso uma economia possua governo e recolha impostos, a renda disponível para o consumo será inferior à renda total recebida pelos agentes! A renda disponível é dada pela equação: sendo td os tributos diretos e tr as transferências governamentais, recursos devolvidos aos cidadãos na forma de auxílios, concessões etc. Assim, você pode perceber o nível de produto em equilíbrio. Logo, mudanças no consumo, através dos impostos, e nos gastos do governo podem alterar o produto de equilíbrio. O investimento também é importante na formação do produto. E, neste sentido, um elemento importante para a determinação da renda e do investimento é a taxa de juros, de notação r. Ela é um “prêmio pelo dinheiro”, uma remuneração aos agentes para que mantenham seus recursos aplicados em outros instrumentos que não sejam o investimento produtivo, ou seja, a compra de bens e equipamentos destinados à produção e à geração de renda. O investimento é determinado, ainda, pelo volume de estoques de bens e serviços, de modo que um aumento não planejado de estoques (em resposta a uma baixa nas vendas, por exemplo) reduzirá o aporte de capitais para investimento. Yd = y − td + tr ATENÇÃO Não incluímos as variáveis g e t em economias que não possuam governo ou em que este não atue sobre a economia. Nestas situações, o gasto é igual a zero. De qualquer modo, a existência de impostos pressupõe a existência de gastos. 47 Sempre que o retorno esperado das decisões de investimento for menor que a taxa de juros praticada em uma economia, os agentes não investirão. O investimento, por sua vez, é determinado por duas variáveis. A primeira delas é o volume de estoques. As empresas precisam vender para que, assim, seja viável investir. Deste modo, uma queda nas vendas também afeta o investimento, através do aumento de estoques, podendo mesmo zerá-lo. Em segundo lugar, temos a taxa de juros, como mencionamos. Deste modo, expressamos a determinação do investimento através da função que segue: i = i (estoques +, i −) ATENÇÃO No caso brasileiro, a taxa de juros referencial para a determinação do investimento é a taxa de juros de longo prazo (TJLP), com valor de 7,5% no primeiro trimestre de 2017. Ou seja, os empresários olham a TJLP ao definirem suas opções de aumentar a produção através do investimento. NA PRÁTICA Se a taxa de juros de longo prazo em uma economia é de 5% e o crescimento na produção esperada com o investimento produtivo é de 4%, este torna-se pouco atrativo ao agente, que tenderá a manter seus recursos aplicados em outras áreas. 48 Assim, o investimento I depende positivamente da produção Y (por meio da baixa dos estoques) e negativamente da taxa de juros i. Portanto, você pode retomar a primeira equação, relativa à geração do produto, e expressá-la da seguinte forma: Esta equação expressa a chamada relação IS. Ela iguala a produção (Y) com a demanda (Z), dada uma taxa de juros i (BLANCHARD, 2004). A relação IS permite a você refletir sobre algumas considerações: · variações no volume de bens produzidos geram alterações no mesmo sentido (positivo ou negativo) na renda disponível, que, por sua vez, determina o consumo; · variações no produto geram variações no mesmo sentido nos volumes do investimento. Há, portanto, uma relação entre investimento e produção. Através da relação IS, que mencionamos, podemos obter a curva IS, conforme a próxima figura. Figura 1 - Construções e investimentos Fonte: PerfectLazybones / Shutterstock y = c (y − t) + i (estoque, r) + g 49 Observe a formação da curva IS, que determina diferentes pontos de equilíbrio nos mercados de bens a partir da composição da demanda e do produto mediante variações da taxa de juros cuja elevação faz com que o volume de produto Y seja reduzido e vice-versa. Em todos os pontos da curva IS, note que há um equilíbrio no mercado, ainda que os níveis de produto sejam diferentes, para cima ou para baixo. Em outras palavras, alterações na taxa de juros geram deslocamentos ao longo da curva IS. A curva IS tem característica descendente, ou seja, quando a taxa de juros aumenta, o volume de produção diminui, e vice-versa. Nos pontos sobre a curva IS, o produto é igual à demanda em função da identidade fundamental, que você viu anteriormente. Os pontos que estão à direita da curva demarcam a superioridade do produto sobre a demanda. Como sabemos que o investimento é inversamente proporcional à taxa de juros, nestes pontos, mantido o produto constante, a taxa de juros maior diminui o investimento (os agentes preferirão aplicar seu capital em outras formas que não o investimento produtivo), de modo que a demanda será inferior à produção (com aumentos de estoque). Por outro lado, os pontos à esquerda da curva IS demonstram excesso de demanda de bens: mantido constante o produto, uma baixa na taxa de juros gera aumento de investimentos e diminuição de estoques, aumentando a demanda a um nível superior ao produto. Figura 2 - A curva IS Fonte: Elaborada pelo autor, 2017. 50 Você pode perceber, portanto, que a curva IS é determinada pela taxa de juros e pelo nível de produto (BLANCHARD, 2004). Veja, agora, como determinadas medidas de política econômica podem gerar mudanças da curva IS. Políticas expansionistas e contracionistas No seu estudo da curva IS, se você observou que ela é determinada pelo produto e pela taxa de juros, poderá verificar que medidas de política econômica afetam a dinâmica desta curva, podendo deslocá-la. As medidas de política econômica que se associam à curva IS são as de política fiscal, que são ações orientadas pelo Governo e que visam afetar o nível de produto através das variáveis que ele diretamente pode controlar, quais sejam, os gastos governamentais (G) e os impostos (T). Com estas medidas, o Governo pode gerar estabilidade econômica, crescimento ou, ainda, reagir a conjunturas de crise. Deste modo, medidas de política econômica e, em especial, a política fiscal, podem ser divididas em expansionistas e contracionistas, dada certa taxa de juros. Políticas expansionistas são aquelas que geram expansão da renda; um aumento do produto através da manipulação das variáveis associadas à política fiscal (G e T). Já as medidas que se destinam a reduzir o volume de produção (em uma conjuntura de aumento de preços, por exemplo) e da renda são entendidas como políticas contracionistas. Tomemos um exemplo. Se o Governo amplia seus gastos, haverá redução de estoques. Ampliando-se o investimento em função da redução de estoques, gera-se mais emprego, mais consumo e a demanda cresce, aumentando a produção. O aumento das transações comerciais eleva, por sua vez, a demanda por moeda, o que gera aumento da taxa de juros,fazendo a curva IS deslocar-se à direita. 51 Perceba que ambas as políticas mencionadas exercem efeito sobre a curva IS, embora de modo oposto. Deslocamentos da curva IS para a esquerda são visíveis quando a política fiscal é contracionista, e medidas expansionistas deslocam a curva IS para a direita (BLANCHARD, 2004). Figura 3 - Gastos geram aumento da demanda e do produto Fonte: Travel Mania / Shutterstock NA PRÁTICA Quando um governo aumenta os impostos sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) para obter receitas adicionais, está aplicando uma política fiscal contracionista. Neste caso, o aumento dos tributos reduz a renda disponível, o que gera contração do consumo e queda na demanda e no produto. Da mesma forma, supondo-se a oferta de moeda constante, a queda na demanda por moeda gera redução da taxa de juros, deslocando a curva IS para a esquerda. 52 Um exemplo de política fiscal contracionista está dado na curva IS, em vermelho. Sempre que o Governo aplica medidas para reduzir o volume do produto através de uma taxa de juros (seja por aumento de impostos, que reduzem a renda disponível e o consumo, ou por redução de gastos), a curva IS se desloca para a direita, e a uma data taxa de juros I, o novo equilíbrio estará sobre o ponto A correspondente ao nível de produto Y. Figura 4 - Curva IS e políticas de expansão e contração Fonte: Elaborada pelo autor, 2017. SAIBA MAIS Você pode obter mais referências sobre a política fiscal no Brasil no segundo capítulo da monografia de Marcella Mello Barbosa Derzede Paiva (PUC-RIO), “Política fiscal: impactos na inflação e na atividade”. Leia o QRCode a seguir 53 http://www.econ.puc-rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/Marcella_Derze_Paiva.pdf Por outro lado, medidas expansionistas, como o aumento dos gastos ou a redução de impostos, gerando aumento da renda disponível e do consumo, geram um nível de produto Y maior que Y, deslocando a curva IS para a direita. Mantendo-se constante a taxa de juros, o equilíbrio estará agora sobre o ponto A. Trataremos agora dos aspectos relacionados à dinâmica do mercado monetário e da oferta de moeda através do sistema bancário. Estudaremos também o conceito de Banco Central e como ele pode agir como mediador das relações no mercado monetário. Verificaremos seu papel como emprestador de última instância, entendendo melhor este conceito; da mesma forma, será possível entender como os bancos ampliam a disponibilidade de moeda no mercado monetário através do dispositivo do multiplicador bancário. Banco Central O Banco Central é uma autoridade monetária, ou seja, um agente do Estado, responsável por ordenar as operações do mercado monetário, como a compra e venda de moedas estrangeiras, entrada e saída de capitais, oferta e demanda por moeda nacional, dentre outras. Figura 5 - Banco Central do Brasil Fonte: Donatas Dabravolskas / Shutterstock 54 Um Banco Central possui quatro atribuições fundamentais: 1) ser o banco dos bancos; 2) o depositário das reservas internacionais do país; 3) o banqueiro do Governo; e 4) o controlador da emissão de papel-moeda (VASCONCELOS et al, 2008). Na função de banco dos bancos, você precisa compreender uma característica do sistema bancário: os bancos comerciais não mantêm em sua tesouraria todos os recursos que são depositados. Ao contrário, eles os utilizam para gerar crédito a outros agentes. Parte dos recursos que os bancos devem manter, porém, fica depositada como uma reserva estratégica. ATENÇÃO Mesmo que o Banco Central seja um agente estatal, uma condição importante é a de que ele seja independente: formule suas decisões, medidas e políticas de forma coordenada com os objetivos do Governo, mas não que seja totalmente sujeito a ele. Quando isto ocorre, há um risco de perda de confiança dos agentes. ATENÇÃO A constituição do Banco Central, no Brasil, ocorreu na década de 1960. Antes disto, as suas funções eram realizadas pelo Banco do Brasil, que funcionava como instituição mista: uma autoridade monetária e um banco comercial. 55 Quando os bancos necessitam de recursos adicionais, face a um aumento inesperado do volume de saques, por exemplo, cabe ao Banco Central ser um emprestador de última instância, ou seja, o banco dos bancos, a instituição que fornecerá recursos e evitará a quebra, fato que pode causar efeitos negativos em toda a economia. A segunda função dos bancos centrais é a de ser depositária das reservas internacionais: estas autoridades monetárias mantêm moeda estrangeira, as chamadas reservas internacionais, geradas através de operações de importação e exportação de bens e serviços, e movimentações de entrada e saída de capitais em uma economia. Quando a moeda nacional está se desvalorizando, o Banco Central intervém no mercado de câmbio com estas reservas. Figura 6 - Federal Reserve - o Banco Central dos Estados Unidos Fonte: Blvdone / Shutterstock NA PRÁTICA O Banco Central guarda moeda estrangeira como ativo estratégico, para momentos de crise na economia. Nestes momentos, o Banco Central coloca dólares no mercado monetário a preços mais baixos que a média, aumentando a disponibilidade de moeda estrangeira em circulação e fazendo com que o câmbio se valorize. A terceira função do Banco Central é a de ser o banqueiro do Governo: economias que possuem governo mantêm parte de seus recursos em moeda depositada junto ao Banco Central, que se configura como um Tesouro Nacional. O Banco Central, ainda, financia as operações do Governo através do lançamento de títulos de dívida pública, que, uma vez adquiridos pelos agentes, tornam-se moeda disponível para o Governo. Por fim, a quarta atribuição do Banco Central é a de controlar a emissão monetária na forma de papel-moeda: uma das formas de um Estado obter dinheiro é imprimindo moeda, mas este processo gera um impacto na economia na forma de aumento de preços. O Banco Central, deste modo, controla, através de restrições e expansões do meio circulante e de medidas de intervenção no mercado monetário, a disponibilidade de papel-moeda nacional em circulação (VASCONCELOS et al, 2008). Oferta de moeda O conceito de oferta de moeda resume uma série de fluxos e variáveis que demonstram qual é o montante total de recursos monetários em circulação dentro de uma economia. Você sabe quais são estes recursos e como eles podem ser avaliados? A oferta de moeda consiste na criação de meios de pagamento: são diferentes ativos que circulam no mercado, como moeda-dinheiro (dólares, euros ou reais, por exemplo) e títulos, nas suas mais variadas formas (da dívida pública, ações de empresas e outros títulos privados). SAIBA MAIS Aprenda mais sobre os Bancos Centrais modernos no artigo da professora Maryse Farhi (Unicamp), Lendo o QRCode a seguir . http://www.scielo.br/pdf/rep/v34n3/v34n3a03.pdf O Banco Central, enquanto “banqueiro do Governo”, tem a capacidade de intervir no mercado monetário, quando alguma conjuntura afetar as bases de uma economia, sobretudo pelo lado monetário (através da inflação) com impactos sobre todo o sistema, afetando o crescimento, a geração de empregos e de produção, entre outras variáveis. Esta autoridade monetária altera a oferta de moeda, através das “operações de mercado aberto”, de compra e venda de títulos de dívida pública no mercado monetário. Estes títulos afetam a quantidade de moeda em circulação: quando o Banco Central deseja aumentar a base monetária, ampliando assim a oferta de moeda, ele compra títulos da dívida que estão em circulação nas mãos dos agentes, pagando o preço cotado no mercado. Assim, o Banco Central coloca moeda em circulação. Por outro lado, se há a necessidade de uma contenção da oferta de moeda, é realizada uma operação de venda de títulos: ao serem comprados pelos agentes, o Banco Central recolhe parte da moeda que está circulando (BLANCHARD, 2004). Observamos, assim, como a oferta de moeda pode ser alterada pelo Banco Central. Porém, os bancos comerciais também exercem um papel importante na geração de moeda,através do multiplicador monetário. Figura 7 - Diferentes economias e suas moedas Fonte: William Potter / Shutterstock Bancos comerciais e a multiplicação monetária Os bancos comerciais também são agentes no mercado monetário, intermediários de compra e venda de títulos públicos, além de serem banqueiros dos agentes econômicos, como empresas e famílias, mantendo os seus recursos depositados. Da mesma forma, eles geram capital (ou seja, geram lucros a seus acionistas) através de atividades de crédito. Para os bancos comerciais, a principal atividade geradora de lucro é o ganho obtido com os juros de empréstimos realizados aos clientes que os demandam. Assim, com os empréstimos, os bancos comerciais lucram e ampliam seu capital. Porém, os bancos não mantêm a totalidade dos recursos dos agentes em sua tesouraria; estes recursos são novamente colocados em circulação através de empréstimos (geradores de lucro, como mencionamos), compra de títulos e outras operações. Esta intervenção se dá através do mecanismo da multiplicação monetária, que pode ser entendida como uma série de operações realizadas pelos bancos, na forma de “rodadas” de SAIBA MAIS No Brasil, o Banco Central normatiza a atividade dos bancos comerciais através de medidas denominadas Resoluções do Banco Central. ATENÇÃO Se um banco não utiliza os recursos depositados e os mantém todos na tesouraria, não haverá expansão da quantidade de moeda! compra e venda de títulos e cessão de crédito, que ampliam a disponibilidade de recursos em circulação (BLANCHARD, 2004). Observe este exemplo: um agente possui R$ 100 em suas mãos. Este agente, que podemos chamar de Agente 1, deposita os R$ 100 no seu banco, que chamaremos de Banco A.O Banco A não mantém os cem reais do Agente 1: ele mantém em sua tesouraria apenas R$ 10 para eventuais saques do Agente 1 e utiliza os R$ 90 restantes para um empréstimo ao Agente 2. Este agente deposita os R$ 90 no Banco B. Desta forma, percebemos que os R$ 100 em depósitos à vista já se tornaram R$ 190, pois o Agente 1 depositou R$ 100 e o Agente 2, R$ 90. Seguindo o raciocínio, suponha que o Banco B faz o mesmo processo, mantendo 10% dos recursos depositados como reserva e comprando o restante em títulos, ou seja, armazena R$ 9 e empresta R$ 81 ao Agente 3, que irá depositá-los no Banco C. Este refaz a operação mantendo 10%. E assim por diante. Perceba a ampliação da oferta de moeda em três operações de empréstimo: os R$ 100 originais se tornaram R$ 100 + R$ 90 + R$ 81 = R$ 271.Ou seja, a ampliação de moeda em circulação por conta do multiplicador monetário foi de 2,71 vezes (em três operações) a partir dos R$ 100 iniciais colocados em circulação pelo Banco Central. Deste modo, verificamos como os bancos comerciais interferem na oferta de moeda por meio de operações de crédito e depósito. Figura 8 - Moeda e transações Fonte: Oleksandrum / Shutterstock Conheceremos agora os mecanismos de política econômica voltados para o mercado monetário, do qual a moeda, tanto a nacional quanto as estrangeiras, constitui-se como um dos ativos. Além disso, conheceremos a diferença entre a moeda e os títulos dentro das economias modernas. Discutiremos também os instrumentos de política monetária utilizados pelos gestores da política econômica de um país e como estes mecanismos exercem impacto sobre os agentes econômicos e as razões pelas quais eles demandam moeda. Depósito compulsório A política monetária pode ser entendida como uma série de mecanismos que interferem, em especial, sobre a quantidade de moeda em circulação em uma economia, de modo a fazer com que essa circulação seja compatível com os interesses da sociedade que ela compõe, como o controle da inflação e a promoção do crescimento econômico (BLANCHARD, 2004). Assim, a política monetária é formulada pelo Estado e conduzida por seus gestores por meio de diferentes órgãos. No Brasil, o Banco Central, agente responsável pela custódia dos recursos do Estado em moeda corrente, é o órgão executor dessas medidas, bem como o depositário das reservas internacionais e dos recursos do país em moeda estrangeira originados de operações de importação e exportação (VASCONCELOS et al, 2008). ATENÇÃO No Brasil, o Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central atua em conjunto com o Ministério da Fazenda e seus órgãos subsidiários para a definição do rumo da política monetária. Um dos mecanismos utilizados pelas autoridades monetárias para a obtenção dos objetivos mencionados é o recurso do depósito compulsório. Este instrumento define as relações do Estado com os bancos comerciais, sendo importantes intermediadores de operações entre o Estado e outros agentes, como empresas e famílias. Uma de suas principais operações é a cessão de créditos a esses agentes, gerados a partir dos depósitos efetuados pelos clientes do banco. Por exemplo, suponha que você deposite 100 reais no banco, em sua poupança. A instituição, por sua vez, “entende” que você, como parte de uma média geral de clientes, não tenderá a sacar todo o seu dinheiro imediatamente, logo, mantém uma reserva de menor valor – R$ 10 para eventuais saques – e paga para você uma taxa de juros como remuneração do seu depósito em poupança. Os outros R$ 90 são emprestados a agentes a juros definidos pelo banco e pelo mercado. Assim, a quantidade de moeda em circulação aumentou, uma vez que seu depósito de R$ 100 se tornou um crédito de R$ 90, havendo, portanto, R$ 190 em circulação na economia. Figura 9 - Sede do Banco Central da Federação Russa Fonte: Mgfoto / Shutterstock De forma bastante resumida, esse é o conceito do multiplicador monetário, com a participação dos bancos comerciais. Os R$ 10 que o banco armazenou constituem um fundo de reserva. Os bancos comerciais tenderiam a emprestar tanto quanto fosse possível se eles tivessem a certeza de que os clientes somente usariam 1% dos recursos, ou seja, se assim fosse, eles emprestariam os outros 99%. Deste modo, as autoridades monetárias definem um limite à expansão da moeda em circulação através do multiplicador monetário, com limites mínimos para a custódia de recursos dos depositantes. Este limite é o chamado depósito compulsório (VASCONCELOS et al, 2008). Quando as autoridades monetárias permitem uma variação, para cima ou para baixo, dos limites de depósito compulsório, permitem também uma variação no volume de moeda em circulação. ATENÇÃO Perceba a diferença entre os juros recebidos como remuneração por depositar dinheiro em poupança (pouco mais de 0,5% ao mês, em média) e os juros pagos por créditos, como financiamentos de bens e, sobretudo, por empréstimos pessoais e cartões de crédito! SAIBA MAIS Podemos encontrar o conceito de depósito compulsório em alguns manuais de Macroeconomia sob a expressão exigibilidades de reservas, que é adotada pelo Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos (BLANCHARD, 2004). Assim, o depósito compulsório constitui-se em um dos instrumentos de política monetária das economias modernas. Vale dizer, por fim, que a porcentagem de depósito compulsório é determinada pelas autoridades monetárias, mas os bancos podem manter um estoque adicional de recursos em seu ‘caixa’ para eventuais necessidades. Operações de mercado aberto Outro instrumento utilizado pelas autoridades monetárias consiste nas operações de mercado aberto. Com elas, pode-se controlar a quantidade de moeda em circulação. Essas operações são, em geral, realizadas pelo Banco Central, que intervém no mercado monetário quando alguma situação, potencialmente crítica, pode gerar riscos sobre o mercado monetário e o seu impacto pode espalhar-se para outras áreas da economia, sobretudo na produção e na renda da população. NA PRÁTICA Suponha que o Banco Central exija a manutenção de um depósito compulsório de 10% do total de ativos de uma instituição; se este montante é de R$ 1 bilhão, temos que R$ 100 milhões deverão permanecer na tesouraria da instituição na forma de reservas. Deste modo, o Banco Central altera a
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