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Universidade São Tomás de Moçambique Faculdade de Ética, Ciências Humanas e Jurídica Licenciatura em Psicologia Clínica Acompanhamento Psicológico De Um Adolescente Com Perturbação Fonológica Estudo de Caso: Infantário da Matola Johar Ali Mucussete Maputo 2017 II Johar Ali Mucussete Licenciatura em Psicologia Clínica Acompanhamento Psicológico De Um Adolescente Com Perturbação Fonológica Estudo de Caso: Infantário da Matola Relatório de estágio apresentado a Faculdade de Ética, Ciências Humanas e Jurídicas, como culminação de curso e requisito parcial para obtenção do grau de Licenciada em Psicologia Clínica Supervisores: Jossyel Mac Tacula (USTM) Célia Monjane (Infantário da Matola) Maputo 2017 III Dedicatória Dedico este Trabalho á memória da minha mãe Ancha Muzé Sebo e a minha avó Amina Saíde Omar duas pessoas que gostaria que estivessem fisicamente presentes para partilhar comigo este momento da minha vida. IV Agradecimento Agradeço ao meu amado esposo Vali Issufo, pelo apoio e paciência constante. Pelo acolhimento em momentos difíceis desta trajetória, pelo amparo, amor e confiança sempre depositada. Aos meus restantes familiares, avós, tios, primos, cunhados, sogra e sobrinhos que não deixaram de contribuir para a minha formação com o seu apoio moral e por vezes material. Um agradecimento especial vai ao meu orientador Jossyel Tacula pelo seu apoio e acompanhamento incondicional em todos os momentos da realização deste trabalho. Agradeço também a todos que de alguma forma contribuíram para tornar essa construção possível, em especial as minhas colegas e amigas da faculdade de curso de Psicologia, que partilharam comigo alegrias e algumas dificuldades desde o primeiro ano até a culminação do curso. Agradeço pelo apoio moral e científico prestado durante os estudos e para a realização deste trabalho. Particularmente á Sandra David, Camila Rodrigo, Sílvia Munguambe, Vitalina Paulino e Carol Tembe, que a nossa amizade não termine na faculdade. Por fim agradeço a equipa que acolheu o estágio e que auxiliaram enormemente na concretização dos objectivos do mesmo, trazendo uma contribuição, positiva para o campo de Psicologia. V Resumo O presente relatório retrata o estágio curricular da Licenciatura em Psicologia Clínica da Universidade São Tomás de Moçambique realizado no ano lectivo 2015, no Centro do Infantário da Matola, o qual teve uma duração de 3 meses. O estágio é um processo de aprendizagem indispensável para os profissionais estarem preparados para enfrentar os desafios da profissão. Neste âmbito, o estágio curricular teve como objectivo dar, à estudante finalista, a oportunidade de aplicar os conhecimentos teóricos adquiridos, ao longo do curso, contribuir para a aquisição de experiência e competências profissionais, reflectir sobre as práticas e as aprendizagens, no contacto com a realidade, e promover a formação ética alicerçada na componente teórica. Este relatório encontra-se organizado em Cinco capítulos: o primeiro capítulo abarca a descrição do local e a descrição do estágio; O segundo Capítulo apresenta aspectos metodológicos seguidos na realização do presente trabalho; O terceiro Capítulo apresenta a fundamentação teórica da patologia em estudo; O quarto Capítulo consiste na Descrição do estudo de Caso enquanto o quinto Capítulo apresenta as considerações finais advindas do estágio, recomendações, referências bibliográficas e, por último, são apresentados os anexos. VI Índice Dedicatória III Agradecimento IV Resumo V Índice de Tabelas IX Siglas e Abreviaturas XI Introdução 1 Capitulo 1 3 1. Descrição do local de Estágio 3 1.1. Historial da instituição e seu funcionamento actual ......................................... 3 1.2. Dificuldades do infantário ................................................................................ 6 1.3. Pessoal Beneficiário ......................................................................................... 6 1.4. Pessoal funcionário e sua ordenação Hierárquica ............................................ 6 1.5. Estágio Integral ................................................................................................ 7 1.6. Objectivos do Estágio....................................................................................... 7 1.6.1. Geral ............................................................................................................. 7 1.6.2. Específicos .................................................................................................... 7 1.7.1. Geral ............................................................................................................. 8 1.7.2. Específicos .................................................................................................... 8 1.8. Descrição da Observação de actividades no contexto do estágio .................... 8 1.9. Avaliação das Necessidades ........................................................................... 10 1.10. Acompanhamento e supervisão do estágio ................................................. 11 Capítulo 2 12 2. Metodologia 12 2.1. Método ........................................................................................................... 12 2.2. Técnicas .......................................................................................................... 12 2.3. Objecto de Estudo .......................................................................................... 14 Capítulo 3 15 3. Fundamentação teórica ................................................................................... 15 3.1. Evolução Histórica do conceito Perturbação Fonológica ................................. 15 3.2. Natureza da Perturbação.................................................................................... 16 3.3. Perturbações dos Sons e da Fala (PSF) ............................................................. 16 3.4. A perturbação Especifica da Articulação (PA) ......................................... 16 3.5. Perturbação Fonológica (PF) ............................................................................. 16 VII 3.6. Modelos Explicativos da Perturbação de fonológica ........................................ 18 3.6.1. Teoria Behaviorista ........................................................................................ 18 3.6.2. Teoria Estruturalista ....................................................................................... 18 3.6.3. Teoria Biológica ............................................................................................. 19 3.6.4. Teoria da Fonologia Natural .......................................................................... 19 3.7. Avaliação ........................................................................................................... 20 3.8. Componente da avaliação para perturbação fonológica .................................... 20 Classificação Segundo CID-10 ................................................................................ 22 Classificação Segundo DSM-IV-TR ........................................................................ 22 Características Especificas da Cultura e do Género ................................................. 22 Prevalência ............................................................................................................... 224.1. Diagnostico Multiaxial ................................................................................... 23 5.0. Psicoterapia .................................................................................................... 24 5.1. Modelos de Intervenção Terapeuta ................................................................ 24 5.2. Descrição dos testes usados no estudo de Caso ............................................. 28 5.2.1. Testes projectivos ....................................................................................... 28 5.2.2. HTP- (Casa, Arvore, Pessoa) ...................................................................... 28 5.2.3. Escala do Comportamento Adaptativo ....................................................... 28 Capitulo 4 30 6.0. Descrição do Estudo de Caso 30 6.1. Descrição da Criança e do seu Meio .............................................................. 30 6.2. Dados de identificação ................................................................................... 30 6.3. Problema apresentado .................................................................................... 30 6.4. História do problema actual ........................................................................... 30 6.5. História social ................................................................................................. 31 6.6. Dinâmica do paciente ..................................................................................... 31 6.7. Critérios do DSM- IV- TR ............................................................................. 32 6.9. Diagnóstico diferencial para a Perturbação Fonológica ................................. 33 6.10. Prognóstico ................................................................................................. 33 6.11. Perfil Intra-Individual ................................................................................. 34 6.12. Resultados Obtidos pelo Teste de HTP ...................................................... 35 6.13. Avaliação do Funcionamento Adaptativo .................................................. 36 6.14. Plano de Intervenção .................................................................................. 38 VIII Capítulo 5 41 7.0. Análise geral do processo como um todo 41 7.1. Perspectiva profissional.................................................................................. 42 8.0. Conclusão 43 8.1. Recomendações .............................................................................................. 45 9.0. Referências Bibliográfica 46 9.1. Documentos electrónico ................................................................................. 47 10.0. Anexos 49 10.1. Escala de Comportamento Adaptativo ....................................................... 49 10.2. Entrevista (Anamnese) ............................................................................... 49 11.0. Apêndices 50 11.1. Teste HTP ................................................................................................... 50 11.2. Desenho livre (Metaphon) .......................................................................... 50 11.3. Diário do Estágio ........................................................................................ 50 IX Índice de Tabelas Tabela 1 Principais Actividades no Infantário ............................................................... 9 Tabela 2 Diagnóstico Multiaxial .................................................................................. 23 Tabela 3 Modelos de Intervenção ................................................................................ 25 Tabela 4 Perfil Intra- individual do caso de estudo ..................................................... 34 Tabela 5 Análise do desenho HTP (Casa) ................................................................... 35 Tabela 6 Análise do Desenho HTP (Pessoa) ............................................................... 36 Tabela 7 Síntese do funcionamento adaptativo do caso em estudo ............................. 37 Tabela 8 Objectivos Terapêuticos ............................................................................... 38 Tabela 9 Plano de Intervenção Psicológico ................................................................. 39 X Índice de Figuras Figura 1 prevalência das Perturbações Fonológicas .................................................... 17 XI Siglas e Abreviaturas APA- Associação dos Psicólogos Americanos BR - Nome fictício do Paciente ECA- Escala de Comportamento Adaptativo HTP - House, Tree, Person (Casa, Árvore e Pessoa) USTM- Universidade São Tomas de Moçambique PA- Perturbação Articular PF - Perturbação Fonológica PSF- Perturbação dos Sons e da Fala PACT - Parent and Children Together TF - Terapeuta de Fala XII RELATÓRIO DO ESTÁGIO INTEGRADO Tipo do Estágio: Estágio Integral do Curso de Psicologia Clínica Local de Estágio: Centro de Infantário da Matola Período de realização do estágio: Maio a Agosto de 2015 Supervisores do estágio: Dr. Inácio Jorge Jússa (USTM) e a Psicóloga Célia Monjane (Infantário da Matola). Identificação do estudante Estagiária: Johar Ali Mucussete – Código: 201121059 Disciplina: Estágio Final e Supervisionado Endereço: telemóvel – 821317694 ou 840160255; correio electrónico: joaria.aly@gmail.com Local de estágio: Infantário da Matola Como parte integrante das obrigações do Estágio Integral e para obtenção do título de Licenciatura em Psicologia Clínica pela Universidade São Tomás de Moçambique (USTM), o relatório foi elaborado sob orientação do Dr. Jossyel Mac Tacula. Introdução O presente relatório insere-se no âmbito do estágio curricular de Licenciatura em Psicologia Clínica na Universidade São Tomás de Moçambique realizado no ano lectivo 2015, no Centro do Infantário da Matola. Este relatório é parte da longa etapa de uma caminhada de aprendizagem construída durante os quatro anos do curso. O estágio curricular é um componente fundamental, na medida em que permite aplicar todos os conhecimentos adquiridos, contribuindo, de igual modo, como dimensão para o desenvolvimento pessoal e profissional. Durante o período do estágio fez se o acompanhamento de várias crianças internadas no infantário incluindo a participação nas actividades quotidianas da instituição. Especial destaque vai para o paciente descrito no relatório com problemas de perturbação na fala onde realizaram-se testes, relacionados a perturbação na fala, que culminaram com uma proposta de intervenção com vista ao acompanhamento psicológico adequado. Os objectivos do estágio foram assegurados através do plano padrão da disciplina de estágio. Este plano foi facultado a estagiária no início do estágio e a partir dos objectivos traçados pela disciplina, foram desenvolvidas, pelos estagiários, actividades como assistência medicamentosa e assistência educacional, ambas contempladas no relatório. Na perspectiva de motivação pessoal, o estágio curricular teve como objectivos aplicar os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo do curso, contribuir para a aquisição de experiência e competências profissionais, reflectir sobre as práticas e aprendizagens, no contacto com a realidade, e promover a formação ética alicerçada na componente teórica. Relativamente às preocupações das famílias que convivem com crianças com perturbações Fonológicas, o objectivo da estagiária era de ir ao encontro das necessidades Educativas Especiais das crianças que apresentam esta patologia, mediante um estudo baseado na prática, de modo a prestar uma colaboração efectiva às instituições que atendem este tipo de patologia, através da descrição das características principais da perturbação. No que tange à sua estrutura,o presente relatório está organizado em Cinco capítulos: o primeiro capítulo abarca a descrição do local e do estágio; o segundo Capítulo apresenta aspectos metodológicos seguidos na realização do presente trabalho; O terceiro Capítulo apresenta a fundamentação teórica da patologia em estudo; O quarto Capitulo descreve o 2 estudo de Caso, enquanto o quinto Capítulo apresenta as considerações finais advindas do estágio, recomendações, referências bibliográficas, Por último, são apresentados os anexos. 3 Capitulo 1 1. Descrição do local de Estágio 1.1.Historial da instituição e seu funcionamento actual O Infantário da Matola, antigamente chamado Aldeia das crianças, criado na década de 60 por um casal de nacionalidade portuguesa que se encantou em cuidar de dois irmãos gémeos filhos de um casal moçambicano. Após a independência, a referida aldeia passou a ser uma instituição do estado e foi baptizada pelo nome Infantário Viveiro da revolução tendo como objectivo principal acolher crianças órfãs, privilegiando as deslocadas e traumatizadas de guerra. A designação” Infantário viveiro da revolução” caiu em desuso, devido às transformações sociopolíticas, passando a antiga Aldeia das Crianças a ser chamada Infantário da Matola, tendo como propósito, o atendimento de crianças órfãs necessitando dos primeiros cuidados maternos, bem como as crianças expostas à vulnerabilidade e a marginalização, com idades compreendidas entre três (3) e catorze (14) anos de idade. No dia 11 de Julho de 2005, o infantário foi reabilitado, ampliado e equipado pela cooperação portuguesa e mais tarde mantido através de financiamento moçambicano do Ministério do Trabalho e da solidariedade social (comunidade, artistas e demais figuras públicas). O infantário conta também com o apoio do programa de cooperação existente no Ministério da Mulher e Acção social. Na altura em que se designava infantário viveiro da revolução, as crianças nele acomodadas vinham transferidas do infantário 1º de Maio, a partir dos 3 anos, e quando atingissem os seus 14 anos eram transferidos do infantário da Matola para outros centros como é o caso do centro educacional de Chiango, localizada na cidade de Maputo, centro de acolhimento Artes e Ofícios da Moamba e a casa do Gaiato, no distrito de Boane. De 2003 a 2005, o infantário 1º de Maio passou a transferir grande parte das crianças com deficiência, o que alterou o funcionamento normal do infantário da Matola, isto é, este passou a ter um tratamento igual ao de uma escola especial, confrontando-se com o princípio de que o infantário deve ser um local onde as crianças permanecem transitoriamente. O infantário da Matola tem como objectivos dar assistência e protecção a crianças desprovidas de ambiente familiar; proporcionar, às crianças, a pré-escolarização e assegurar que as mesmas tenham acesso à formação socioprofissional, dependendo da capacidade física e 4 mental das crianças; Dar conhecimentos e ensinamentos que lhes proporcionem um crescimento saudável e harmonioso; Defender e fazer respeitar os direitos fundamentais da criança, bem como promover a reposição dos direitos que foram violados (por seus progenitores ou pessoas desconhecidas). O infantário da Matola é uma unidade social tutelada pela Delegação Provincial do Instituto Nacional da Acção Social, cujo funcionamento é assegurado pelo orçamento do estado, contando também actualmente com parceiros de cooperação como: Unicef, ICDP, HANDICAP internacional, Bombas Engen da Matola-Rio, Transportes Lalgy, Millennium Bim, Darling e pessoas singulares, sendo de destacar o músico Stewart Sukuma. O infantário da Matola tem uma capacidade instalada para 80 crianças e, actualmente, atende 70 crianças de idades compreendidas entre 2 e 35 anos de idade, dos quais, 33 são de sexo masculino e 37 do sexo feminino. Cerca de 90% são adolescentes e jovens com necessidades especiais, por isso há necessidade de se construir um centro especializado para atender crianças com necessidades especiais, contando também com um profissional especializado na área. Presentemente, as crianças são assistidas por 43 funcionários e agentes do estado, dos quais 7 são de sexo masculino e 36 do sexo feminino, designadamente 2 técnicos profissionais de acção social, 1 profissional de administração pública, 1 responsável pedagógico, 2 agentes de educação de infância, 7 auxiliares técnicos de educação de infância, 5 assistentes técnicos, 19 agentes de serviços, 4 auxiliares administrativos, 2 psicólogas, uma das quais é permanente e a outra dá assistência nas sextas-feiras, 1 carpinteiro, 1 jardineiro e 3 cozinheiras. A Direcção Provincial de Saúde alocou, no infantário da Matola, uma enfermeira, que trabalha a tempo inteiro, uma psicóloga, uma terapeuta ocupacional, um fisioterapeuta e um psiquiatra os quais apoiam o infantário regularmente. Contudo, devido o carácter de trabalho que se desenvolve, há défice de pessoal. No infantário da Matola, são realizadas seguintes actividades: Reintegração de crianças em suas famílias; participação no processo de adopção e tutela; assistência médica e medicamentosa; realização de visitas de acompanhamento pós- reintegração familiar; realização de actividades educativas, participação nos processos de registos civil; adopção de estratégias visando a participação da comunidade circunvizinha nas actividades do infantário e passeios, aos finais de semana, de modo que a criança conheça o mundo exterior, para além do local onde se encontra inserida. 5 Das crianças do Infantário da Matola, 13 estão em idade escolar, nas quais 9 são de sexo feminino e 4 masculino, todos frequentando o ensino inclusivo na Escola Primária da Matola C na cidade da Matola e Escola inclusiva Eduardo Mondlhane no Distrito da Macie, na província de Gaza. Para melhorar a sua sustentabilidade o Infantário e reforçar a receita o infantário promove a implementação de projectos de geração de rendimento como por exemplo: criação de frangos, produção e vendas de ovos, produção de hortícolas e carpintarias; No âmbito da melhoria contínua da qualidade do seu quadro de pessoal, o infantário promove cursos de capacitação regular e de curta duração para os trabalhadores bem como a divulgação da legislação que protege as crianças e os trabalhadores. Quanto ao seu espaço físico, o infantário da Matola é uma instituição constituída por um refeitório, onde são feitas as refeições diárias das crianças, nomeadamente o pequeno- almoço, às 8:00,o almoço, às 12:00, e, mais tarde, as crianças têm o direito ao lanche e ao jantar. O infantário é constituído por 6 casas, no total, designadamente 3 dormitórios, e 3 casas onde as crianças praticam as suas actividades. Em cada casa, existem 3 mães, excepto a casa 3, que tem quatro mães, pelo facto de se tratar de crianças bebés que necessitam de cuidados especiais. Outras infra-estruturas do infantário são a carpintaria, campo de jogos, uma lavandaria, capoeira, uma machamba, onde é feita a produção agrícola, um posto de saúde, onde se faz a assistência medica e medicamentosa, um espaço administrativo (secretarias), um pátio, onde as crianças possam brincar, no momento da socialização e tomarem banho de sol, um jardim. A casa 8 é onde são ministradas as formações, pelas educadoras do local e onde estas realizam reuniões. O infantário da Matola é uma instituição que acolhe crianças que padecem de vários tipos de deficiências, sejam elas físicas ou mentais tais como a Microcefalia e a, Hidrocefalia. De referir que recebe também crianças portadoras do HIV. 6 1.2.Dificuldades do infantário As principais dificuldades que o infantário apresenta são: A falta de um centro especializado para atendimento de crianças com necessidades especiais; Falta de pessoalcom formação específica, na área de deficiência; falta de transporte destinado a passeios e fins escolares; falta de matéria-prima para operacionalização da carpintaria; falta de medicamentos, principalmente para crianças que sofrem de epilepsia. Outra dificuldade do Infantário da Matola e a necessidade de mais cadeiras adaptadas para os seus doentes, facto revelado pela Directora da instituição, Laura Francisco Machanguane. O centro tem 12 crianças com deficiências profundas e que, neste momento, ajeitam-se em cadeiras sem condições adequadas. 1.3. Pessoal Beneficiário Os beneficiários do infantário da Matola são as 70 crianças que lá vivem, das quais, 33 são do sexo masculino e 37 do sexo feminino. Durante o estágio, a autora deste relatório teve oportunidade de assistir à reintegração de uma criança de sexo masculino, que estava perdida, e ao falecimento de uma das crianças da casa 3, que sofria de deficiências múltiplas. 1.4.Pessoal funcionário e sua ordenação Hierárquica As crianças acima referidas são assistidas por 43 funcionários e agentes do estado, dos quais 7 são do sexo Masculino e 36 do sexo feminino, sendo 2 técnicos profissionais de acção social, 1 técnico profissional de Administração pública, 2 agentes de educação de infância, 7 auxiliares técnicos de educação de infância, 5 assistentes técnicos, 19 agentes de serviço, 4 auxiliares administrativos e 3 auxiliares. A Directora do infantário da Matola é responsável pela dinâmica do infantário. O Director pedagógico é o responsável pela qualidade de ensino das crianças, e tem a missão de criar um projecto pedagógico, organização da direção e controle do infantário. A assistente Social tem como responsabilidade amparar as crianças perdidas que, de alguma forma, foram abandonadas pelo seus progenitores, ou seja, está voltada para a promoção do bem-estar físico e psicológico das crianças perdidas. A Psicóloga Célia é responsável pelo bem-estar Psicológico e social das crianças e, como se trata de crianças com 7 necessidades educativas especiais, faz o acompanhamento psicológico das crianças, restabelecendo o equilíbrio mental e emocional destas. A técnica de enfermaria é responsável pelos cuidados intensivos e o bem-estar das crianças. O técnico de psiquiatria é responsável pela medicação das crianças, para equilibrar a dinâmica da criança, de modo que as mesmas não tenham recaídas e vivam em harmonia. A Fisioterapeuta é responsável pela reabilitação da capacidade física e funções motoras das crianças portadoras de deficiência física, buscando a qualidade de vida e autoestima. As educadoras não só são responsáveis pela higiene e alimentação como também promovem a motivação e alegria das crianças demostrando o seu afecto, cuidando delas como se fossem seus próprios filhos. Essas Educadoras ensinam as crianças a saudar, pintar, desenhar, pintar, dançar e a cantar. A este respeito, interessa sublinhar que a Direcção Provincial de Saúde afectou uma enfermeira que trabalha a tempo inteiro, mais uma Psicóloga, uma terapeuta Ocupacional, um Fisioterapeuta e um Psiquiatra, os quais apoiam o Infantário, regularmente. 1.5.Estágio Integral O estágio enquadra-se no plano curricular do curso de Psicologia Clínica e realizou-se na perspectiva de que os estudantes entrem em contacto com o mundo técnico – profissional, permitindo, assim, que possam aliar os conhecimentos teóricos adquiridos, ao longo dos 4 anos, com técnicas e procedimentos práticos que a profissão de psicólogo clínico exige, de modo que os estudantes tenham a noção da realidade profissional e adquiram experiência adequada. 1.6.Objectivos do Estágio 1.6.1. Geral Outorgar aos estudantes uma aprendizagem prática da Psicologia Clínica usando instrumentos terapeutas como a psicanálise, terapia de grupo, comportamental, e prestar serviços psicoterapeutas à comunidade. 1.6.2. Específicos Aplicar e aprofundar as teorias de intervenção psico-clínica para a obtenção de conhecimento e expandir competências de avaliação e intervenção clínica; 8 Aprofundar o conhecimento sobre a teoria escolhida cientificamente adequada ao estudo de um caso; 1.7.Objectivos do Estudo de Caso 1.7.1. Geral No que tange ao trabalho realizado (caso de estudo), teve como objectivo o diagnóstico do paciente seguido de uma proposta de acompanhamento psicológico do mesmo. 1.7.2. Específicos Identificar os possíveis diagnósticos para o paciente designado; Enumerar as possíveis abordagens de acompanhamento psicológico, a luz da literatura corrente, para a patologia identificada; Propor um modelo de intervenção para o paciente designado. 1.8. Descrição da Observação de actividades no contexto do estágio No princípio, fez-se uma apresentação do local, pela assistente social, de modo que a estagiária tivesse o conhecimento do local. De seguida, a estagiárias teve oportunidade de conhecer um pouco sobre a história de algumas crianças. As actividades tiveram início no dia 13 de Maio de 2015 e o seu fim no dia 14 de Agosto de 2015. De notar que as actividades tiveram uma duração de 88 horas, subdivididas em 8 horas diárias, com uma periodicidade de 3 vezes por semana. Durante o estágio, a estagiária teve a oportunidade de observar e fazer parte da dinâmica e equipe do trabalho. No percurso do estágio, foram realizados as seguintes actividades: No primeiro dia, fez-se uma apresentação da instituição, dos funcionários, educadoras e as estagiárias tiveram o primeiro contacto com crianças, de modo a conhecer o funcionamento do Infantário. No segundo dia, houve uma divisão de grupos de quatro elementos, em cada casa, os quais eram supervisionados pelas educadoras. Em seguida, as estagiárias fizeram o acompanhamento das refeições das crianças, nomeadamente o pequeno-almoço das 8:00 às 9:00. A partir do terceiro dia, foram apresentadas as actividades de rotina tais como a 9 participação na assistência alimentar e na medicação das crianças, onde a estagiária dava de comer as crianças que tinham dificuldade de comer sozinhas, ajudava as mães no deslocamento das crianças para as casas (dentro do centro) onde exerciam as suas actividades, e algumas das crianças eram levadas ao pátio para apanhar raios solares. A participação alimentar era feita duas vezes, no horário do pequeno-almoço, às 8:00, e do almoço, às 12:00 horas. Tabela 1 Principais Actividades no Infantário Actividade Descrição Canto e dança A dança é um factor de motivação, nas actividades, sendo considerada a actividade que as crianças mais gostam, e também um factor de desenvolvimento de capacidades físicas e integração das crianças que participam. Apenas alguns meninos não demonstravam interesse nas actividades realizadas com música, dança, porque estavam mais interessado em jogar futebol etc. enquanto as meninas mostram-se mais interessadas em músicas coreografadas e actividades lúdicas com música. Assim, pode-se perceber que a dança traz benefícios para as crianças especiais, no centro infantário. Machamba A machamba era feita uma vez por semana, com a duração de 30 minutos, de modo que as crianças não ficassem muito tempo expostas ao sol, e a sua finalidade era de estimula-las a conhecer os produtos alimentares que elas consomem. Para além da concretização das actividades mínimas exigidas pelo Regulamento de estágio, surgiu a possibilidade das estagiárias de participarem noutras actividades institucionais as quais proporcionaram um maior enriquecimento ao estágio, caracterizado de seguinte forma: Discussão colectiva dos casos clínicos: dos métodos e técnicas do psicodiagnóstico e de melhor conduta a ser tomada, em cada caso. (aqui era apresentado pelo estudante, o resumo do perfil sintomatológico e psicológico, as hipóteses diagnósticas e as técnicas terapêuticas do caso). Participação na Formação:“ Crianças Deficientes” que tinha com objectivo proporcionar aos participantes uma aquisição de conhecimento e capacidades, de 10 modo a actuarem de forma adequada quando confrontados, na sua vida profissional, com situações de Suspeitas de crianças com Deficiências. 1.9.Avaliação das Necessidades O período de observação, como referimos, permitiu que se fizesse um levantamento de necessidades, no contexto institucional. Embora o presente estágio contemplasse, principalmente, o acompanhamento dos casos clínicos (observação, avaliação e intervenção), de igual modo envolveu as estagiárias em toda a dinâmica do serviço na qual nos inserimos. A fase de observação foi distribuída por cerca de três meses e, durante esse período, existiu a oportunidade de se observar diferentes aspectos, tais como as condições do espaço físico, as relações de serviços/ departamentos, o contexto ao qual o serviço de Psicologia está vinculado ou presta apoio. Ainda que não nos tenha sido possível entrevistar a Direcção ou Coordenação de serviço (psicologia e psiquiatria), para a obtenção de dados para efeitos de uma posterior intervenção, foi-nos permitido fazer um diagnóstico de necessidades baseado numa aproximação à realidade. Através desse diagnóstico fez-se o levantamento de informações ou dados que nos mostraram quais as necessidades a colmatar, no serviço, facilitando a escolha de alternativas ou soluções exequíveis. A identificação das necessidades, resultou da análise efectuada a documentos relativos ao Departamento de Psicologia, das reuniões informais com a orientadora do estágio e da observação do funcionamento do serviço de Psicologia, no contexto da própria instituição. Considerando a observação realizada um instrumento de avaliação formal e informal, assim como os contactos e reuniões estabelecidas, no local do estágio, e possível destacar-se algumas das necessidades de serviços de Psicologia, nomeadamente: Necessidade de programas de intervenção em grupos direccionados para a promoção da saúde e prevenção de doenças (Crianças Seropositivas); Ausência de apoio formal aos pais ou familiares com determinadas patologias (Dificuldades na Aprendizagem, epilepsia, Hidrocefalias, hiperactividade entre outras), consideramos útil contribuir com formações de carácter informativo e/ou preventivo de modo a melhorar a interacção entre a criança e os seus familiares mais próximo. 11 1.10. Acompanhamento e supervisão do estágio O acompanhamento e supervisão do estágio foram garantidos pelos profissionais afectos ao Infantário da Matola. Os estudantes tinham um supervisor directo e as sessões de supervisão, eram nas sextas-feiras, dirigidas pela psicóloga do sector. Para além das discussões dos casos que ocorriam com o supervisor directo (Dr. Jussa), também ocorriam sessões de supervisão colectiva onde eram apresentadas e discutidas as histórias clínicas dos casos em seguimento, pelos estudantes. 12 Capítulo 2 2. Metodologia Neste capítulo, será feita uma abordagem sobre os aspectos metodológicos seguidos na realização do presente trabalho, bem como os seus objectivos e, por fim, aludir-se-ão as técnicas utilizadas para a recolha de dados e os respectivos instrumentos. 2.1.Método O método de investigação utilizado neste trabalho, focalizado no Estudo de Caso, é o Método Descritivo-Analítico. Esse método visa explorar o caso, descrevendo a ocorrência dos factos, avaliar o fenómeno em estudo, e por fim, propor um tipo de intervenção que possa contribuir para a melhoria do sujeito em estudo. Ponte (2006) considerou que o Estudo de Caso é uma metodologia de investigação que se debruça deliberadamente sobre uma situação específica, particular ou especial, pelo menos em certos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de um certo fenómeno de interesse e de actualidade. Por conseguinte, a estagiária pensa que, para este Estudo de Caso, o método Descritivo-Analítico é o mais apropriado pois torna possível a planificação de estratégias e técnicas com vista a melhorar a qualidade de vida do sujeito. 2.2.Técnicas Neste estudo foram utilizadas técnicas de recolha e tratamento de dados que podem ser divididas em dois grupos: técnicas documentais e técnicas não documentais. As técnicas documentais são todos os registos documentais já existentes sobre o sujeito em estudo e portanto, foi utilizado o processo clínico do paciente. Este processo clínico continha os resumos diários das suas consultas de psicologia e os desenhos feitos pelo menino. Quanto às técnicas não documentais, Coutinho e Chaves (2002) referem que estas podem ainda se subdividir em dois grupos, que são: o Inquérito, que pode ser oral (Entrevista) ou escrito (Questionário). No caso em estudo, empregou-se as técnicas de entrevista, nas formas não estruturada e observação participante. 13 a) Entrevista clínica A entrevista psicológica é utilizada em todas as áreas da psicologia, em especial, na psicologia clínica e na psicologia organizacional. A entrevista é definida por Bleger (1991), citado por Sousa (2011), como um instrumento de investigação, um dos procedimentos que o profissional, no caso, o psicólogo, dispõe, no seu trabalho, a fim de alcançar objectivos como investigação de um problema ou elaboração de diagnóstico. b) Entrevista não Estruturada Optou-se também por se trabalhar com a entrevista não estruturada e não dirigida que Marconi, Lakatos (2005, p.199) definem como entrevista não estruturada, em que o entrevistador tem a liberdade de desenvolver cada situação, em qualquer direção que considere a adequada, de modo que possa explorar, de forma mais ampla, as questões. Desta forma, os métodos utilizados durante a realização do estágio foram selecionados com o intuito de interferir, o menos possível, na rotina diária do infantário. c) Ludoterapia Podemos definir a Ludoterapia como: Uma relação interpessoal dinâmica entre a criança e um terapeuta treinado em Ludoterapia que providencia a esta um conjunto variado de brinquedos e uma relação terapeuta segura de forma que possa que possa expressar e explorar plenamente o seu Self (Sentimentos, pensamentos, comportamentos e experiencia). (landreth,2002, p.16) O objectivo central da escolha desta abordagem é de proporcionar o brincar, como acção pela qual a criança apresenta suas vivências, evoca experiências significativas, estrutura a sua realidade externa e interna e toma consciência de si como ser actuante, no mundo. Segundo Maluf (2003) O brincar promove a construção do conhecimento pois o brinquedo apresenta uma função social, uma vez que permite o processo de apreensão, análise, síntese, expressão e comunicação da criança sobre si mesma e o mundo que o rodeia criando um sentimento e uma identidade pessoal e social de pertencer e interagir em uma determinada realidade. 14 2.3.Objecto de Estudo Neste trabalho, o objecto de estudo é um paciente de 14 anos, do sexo masculino, com a hipótese diagnóstica de Perturbação na Fala e na Linguagem. Para além deste, participaram também no processo as educadoras e a psicóloga do paciente. Instrumentos de Recolha de dados Para a realização deste Estudo de Caso, recorreu-se ao uso dos seguintes instrumentos: Escala de Comportamento Adaptativo Vineland1; DSM-IV-TR; Papel A4, lápis de cores, borracha, lápis; HTP (House, Tree and Person) 1 Trata-se de uma entrevista dirigida preferencialmente aos pais da criança, mas também pode ser feita a qualquer educador que esteja familiarizado com a criança. Ver o anexo 1 15 Capítulo 3 3. Fundamentação teórica Neste capítulo, serãofeitas abordagens teóricas sobre áreas de conhecimento relacionadas com o fenómeno em estudo. As perturbações dos sons, da fala, bem como aspectos relevantes com os quais estão relacionados, tais como a evolução e a clarificação desse mesmo conceito. Estendendo-se as definições de perturbações articulatórias e perturbações Fonológicas. Criança E um sujeito social e histórico que faz parte de uma organização familiar que esta inserida numa sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico (RCNEI, 1998, p.21) Adolescente Segundo a organização mundial de saúde, adolescência é definida como um período de biopsicossocial, em que ocorrem modificações corporais e de adaptação a novas estruturas psicológicas e ambientais, que conduzem o individuo da infância á idade adulta. (Ferreira& Nelas, Sd.) 3.1.Evolução Histórica do conceito Perturbação Fonológica No passado, todas as perturbações eram consideradas Perturbações Articulares (PA), o que não contribuía para um diagnóstico e uma intervenção adequada, a cada caso. A avaliação das alterações da fala era feita através de uma análise fonética de produção dos sons, sendo somente contemplado o aspecto motor articulatório. Contudo, ao longo do tempo, os métodos de avaliação e de intervenção das PSF foram sofrendo modificações, passando a haver maior consideração pelos aspectos linguísticos que fazem parte dessas mesmas perturbações (Antunes e Rocha, 2009: Rabelo, 2010). 16 3.2.Natureza da Perturbação Segundo Wertzner et al. (2007), em relação à etiologia, pode-se falar em cinco grupos: Atraso da fala genética (40% a 60% dos casos com transtornos de linguagem expressiva, entre os três e cinco anos); Atraso de fala, devido aos episódios de otite média de repetição (grande prevalência na infância, decrescendo com a idade, sendo responsável por 30% dos problemas da fala; Atraso de fala com apraxia da fala (5% dos atrasos da fala); Atraso de fala envolvendo o desenvolvimento psicossocial (acontece em, menos de 5% da população com transtornos fonológicos; Erros residuais (distorções em fricativas e/ou liquidas, em crianças sem histórias de atraso de fala e transtorno de linguagem). 3.3.Perturbações dos Sons e da Fala (PSF) A fala é descrita, actualmente como sendo uma actividade dinâmica e complexa, que se materializa através da articulação de palavras (e necessário uma programação motora e execução neuromuscular para que se produzam sons- fonemas), expressando a linguagem (Groulart 2002;Franco et al., 2003 Gomes et al., 2006). 3.4.A perturbação Especifica da Articulação (PA) Segundo Lima (2008), no passado, as PA eram definidas pelo termo dislalia (do grego dys- dificuldade e lalein- falar). Actualmente, quando existem erros motores permanentes, fala-se em alterações fonéticas: o sistema fonológico está inalterado, ou seja, não há dificuldade na organização e/ou na representação fonológica. Nas PA, na maioria das vezes, há um erro motor, mas nem sempre existe lesão orgânica associada. 3.5.Perturbação Fonológica (PF) A PF era, no passado, designada por perturbação articulatória funcional e, de acordo com esta terminologia, apenas se considerava que a criança apresentava dificuldades na produção de sons da fala, não havendo uma relação entre este tipo de perturbação e alterações na leitura e escrita, executando-se apenas uma terapia tradicional para a correcção desse problema (Browm.2012). Segundo a mesma autora, o termo PF não é unicamente “ um novo 17 nome para um problema antigo”, este novo conceito evidencia a influência da teoria psicolinguística na formação dos profissionais de saúde em Terapia da fala (TF). A Perturbação Fonológica (consciente) é utilizada quando a criança usa, para além dos processos fonológicos típicos, processos que não são frequentes no desenvolvimento linguístico normal (processos atípicos). Estas crianças apresentam desempenhos baixos em tarefas de consciência fonológica, de metalinguagem e de literacia e uma performance normal em tarefas oro-motoras e de planeamento motor na fala. Tendo em conta as características referidas, tem sido considerado que estas crianças apresentam uma perturbação -cognitivo linguística de abstração das regras fonológicas (Bradford e Dodd,1996; Dodd e Bradford, 2000) Shriberg e Kwiatkwski (1994) estudaram a prevalência da perturbação fonológica, em crianças entre os 3 aos 11 anos de idade, e os resultados mostraram que 7.5% das crianças apresentavam alterações significativas dos sons. Deste grupo de crianças, 5% manifestavam erros do tipo articulatório (distorções de sons) e 2,5% apresentavam erros do tipo fonológico (substituições e omissões dos sons). Verificou-se, também, que 50% a 75% das crianças com perturbações fonológicas apresentava, simultaneamente, a perturbação de linguagem, conforme a figura abaixo: Figura 1 prevalência das Perturbações Fonológicas. Adaptado de Shriberg e kwiatkwoski (1994) Crianças dos 3 aos 11 anos Perturbação articulatória ou fonológica (7.5%) Erros de substituição e omissão (2.5%) Linguagem normal (25%-50%) Linguagem perturbada (50%-75%) Compreensão normal (60%-90%) Compreensão e expressão perturbadas (10%-40%) Erros articulatórios/Distorção (5%) Desenvolvimento fonológico normal (92.5%) 18 Nas Perturbações Articulatórias considera-se que há dificuldades motoras que provocam modificações na produção de sons, havendo alteração na mecânica do som e um movimento atípico dos órgãos fono-articulatórios. Na perturbação fonológica, os erros ocorrem por falta de organização fonológica, ou seja, o sujeito apresenta dificuldades com o valor contractivo dos fonemas: inadequado conhecimento do som, alteração linguística e utilização inconsciente de fonemas (Goulart, 2002; Antunes e rocha, 2009). 3.6.Modelos Explicativos da Perturbação de fonológica As características presentes num indivíduo com perturbações Fonológicas são explicadas por quatro modelos ou teorias. Abaixo são apresentadas as definições de cada uma das teorias e as dificuldades frequentemente manifestadas nos indivíduos. Estas teorias se complementam e juntas contribuem para a compreensão da perturbação fonológica. 3.6.1.Teoria Behaviorista A teoria behaviorista foi introduzida por Mower (1952,1960) e adaptada por Murai (1963) e Olmsted (1971). Esta teoria realça a importância do reforço selectivo na aquisição fonológica. As Vocalizações infantis ajustam-se, gradualmente, aos padrões da fala dos adultos, através dos princípios clássicos do condicionamento e não pressupõe uma ordem de aquisição dos sons inata, sendo que os sons adquiridos dependem do reforço obtido através do ambiente linguístico (Bowen, 2008). 3.6.2.Teoria Estruturalista Segundo Jakobson (1941/1968) caracteriza o balbucio e a fala com significado são considerados períodos distintos de produção. No balbucio, as produções não seguem uma sequência regular da aquisição, sendo muito diversificadas, enquanto na fala com significado, o repertório de sons produzidos é reduzido, relativamente ao período anterior, e os sons da fala têm de ser readquiridos como parte do sistema fonológico da língua materna da criança. Segundo a teoria Estruturalista a criança adquire: Contrastes (traços distintivos) entre os sons em vez de sons individuais; O contraste consoante/vogal, o contraste consoante nasal/ oral e o contraste labial/ alveolar. Deste modo, as crianças adquirem os contrastes que diferenciam oclusivas nasais antes dos que diferenciam fricativas, africadas e líquidas e adquirem as consoantes anteriores (labiais e alveolares) antes das posteriores (Bowen, 2009; Stol- Gammon,1990). 19 3.6.3.Teoria Biológica Lock (1983) realça as semelhanças entre os padrões fonológicos, observados da fase final do balbucio,e os padrões observados no início da fala com significado, rejeitando a ideia de Jakobson, da descontinuidade entre o balbucio e a fala com significado. O modelo da Teoria Biológica propõe 3 premissas: As vocalizações pré- linguísticas das crianças são muito semelhantes, em todos os ambientes linguísticos; O repertório fonético e os padrões fonológicos da fala com significado são idênticos aos padrões observados na fase final do balbucio; Quando ocorrem substituições, na produção da criança, os sons que ocorrem frequentemente. No período do balbucio (ou seja, africadas e liquidas) surgem neste período (Bowen,2009). 3.6.4.Teoria da Fonologia Natural Os processos fonológicos são considerados simplificações da fala do adulto que a criança usa durante o desenvolvimento linguístico normal (processos fonológicos típicos ou naturais), (Bowen,2009; Grunwell,1987;smit,2004). De acordo com a teoria da Fonologia Natural, os erros que as crianças produzem, na fase inicial do desenvolvimento não são aleatórios, mas sim sistemáticos, sendo possível identificar os Padrões (BaKer,2006). A aplicação desta teoria, a nível clinico, permitiu observar que as crianças com atraso fonológico ou perturbações fonológicas também apresentam estes padrões de erro, para além da idade esperada (ou seja, quando as crianças com desenvolvimento linguístico normal já não os utilizam) e que a identificação destes Padrões e útil para o diagnóstico e para intervenção terapeuta (Bowen,2009; Crosbie, Holm e Dodd, 2005; Smit, 2004). 20 3.7.Avaliação Segundo Greenspaan e Wieder (2008), para permitir um tratamento preventivo, quer a nível individual como familiar, realizar uma planificação com acções educativas, dar atenção médica e efectuar a previsão de ajudas familiares e assistências é necessário fazer-se uma detecção precoce das perturbações globais do desenvolvimento, o que implica um processo de avaliação. 3.8.Componente da avaliação para perturbação fonológica A utilização de determinadas componentes de avaliação é fundamental para que se obtenham informações mais detalhadas e pormenorizadas sobre as crianças com PSF, pelo que se passa a descrever as que se consideram relevantes (Skahan, Watson e Lof, 2007). A história clínica é uma componente fundamental da avaliação, pois é a base de um diagnóstico e de uma intervenção terapêutica adequados. Através dela, recolhem-se dados/informações pertinentes sobre a criança que se tem em acompanhamento, para que se possa efectuar, posteriormente, a melhor intervenção possível. Para além disto, através da história clínica, é possível realizar-se novos estudos e investigações sobre determinada problemática (Canepa e Canicoba, 2011). As provas de nomeação são fundamentais para a concretização de uma avaliação em PSF (Silva, 2009) e poderão ser realizadas através de provas formais e/ou informais de avaliação, como já foi mencionado, anteriormente. A avaliação do discurso espontâneo é fundamental e deve ser sempre incluída na avaliação, uma vez que revela as competências funcionais mais naturais da criança, as relações fonológicas entre palavras e a inteligibilidade da fala (Stackhouse e Wells, 1997; Hernandorena e Lamprecht cit. in Antunes e Rocha, 2009). Contudo, apesar de a recolha dever ser detalhada, nem sempre é fácil, pois a criança apresenta, muitas vezes, períodos curtos de atenção/concentração, vocabulário reduzido e evita certos fonemas que lhe trazem dificuldades (Antunes e Rocha, 2009). A prova de estimulação permite que crianças com um inventário fonético pobre consigam produzir um som de forma correcta. Para que tal aconteça, são-lhe fornecidas várias pistas visuais, auditivas e tácteis (Miccio e Rvachew cit. in Williams et al., 2010). Esta prova serve, também, para melhorar as competências perceptuais, pois apesar do foco desta 21 componente de avaliação ser a produção, a percepção, enquanto resultado do treino de produção, melhora (Wolfe et al. cit. in Williams et al., 2010). A Avaliação da percepção/discriminação auditiva deve ser realizada, sempre que possível, pois as crianças com PSF, maioritariamente, apresentam dificuldades na execução desta prova. As actividades mais frequentemente realizadas nesta avaliação são de pares mínimos ou de pseudo- palavras (Antunes e Rocha, 2009). A observação em contexto natural é fulcral, dado que é possível fazer uma observação natural do comportamento humano no seu meio ambiente comum. Neste tipo de observação, o observador pode não interferir nas actividades que estão a ser realizadas (não participante) ou pode fazê-lo, não prejudicando a participação (participante). As observações em contexto natural evidenciam, tendencialmente, um comportamento mais natural, espontâneo e genuíno do que em contexto clínico (Guedes e Barros, 2010). A análise fonética e a análise fonológica estão intimamente relacionadas, pelo que se considera essencial efectuar, primeiramente, uma determinação do inventário fonético dos sons, para que se faça uma anotação de todos os sons da fala. Posteriormente, deverá realizar- se a determinação dos processos fonológicos, uma vez que, através desta análise fonológica, se obtêm informações mais específicas sobre a natureza e o perfil dos desvios da fala, dado que estes normalmente não são aleatórios (Yavas et al. cit. in Antunes e Rocha, 2009). A avaliação de competências motoras orais pode envolver a concretização de tarefas não- verbais e verbais. A realização de exercícios de diadococinésia, movimentos necessários para a alimentação e expressão facial são exemplos de algumas actividades não-verbais que podem ser concretizadas nesta avaliação. Para a avaliação de tarefas verbais, podem ser feitas provas de nomeação espontânea de imagens, repetição de fonemas isolados, sílabas, palavras, pseudo-palavras e frases (Antunes e Rocha, 2009). É importante, ainda, mencionar que Howell e Dean (cit. in Antunes e Rocha, 2009) e Lof (cit. in Skahan, Watson e Lof, 2007) afirmam que as competências motoras orais que usam tarefas não-verbais não estão afectadas em muitas crianças com perturbações fonológicas e, por esta razão, não é possível constatar uma relação de causa- efeito. 22 Classificação Segundo CID-10 É representada pelo código F 80.0 do CID-10 é referida como a dificuldade que a criança apresenta para sua faixa etária, em utilizar correctamente os sons da fala. Mas sem evidenciar alterações de linguagem. De acordo com o CID-10, para se efectuar o diagnóstico, deve-se verificar se a PA está fora dos limites dos padrões normais, a linguagem está adequada à idade e as alterações articulatórias não estão relacionadas com alterações estruturais sensórias ou neurológicas. Classificação Segundo DSM-IV-TR Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística de transtornos Mentais (DSM-IV-TR, 2002) a PF é caracterizada pela dificuldade que um individuo tem na utilização dos diversos sons da fala esperados para um determinado estágio de desenvolvimento e de acordo com a sua faixa etária. É de referir que, no passado, se designava transtorno no Desenvolvimento da articulação. Nos transtornos fonológicos podem ocorrer vários tipos de erros: omissões, substituições ou distorções de sons. Os primeiros são mais graves do que as substituiçõese estas mais severas do que as distorções. O rendimento escolar e profissional pode estar comprometido por estas dificuldades na produção dos sons da fala. Características Especificas da Cultura e do Género As avaliações do desenvolvimento das competências de comunicação devem ter em conta o contexto cultural e linguístico do sujeito, particularmente nos sujeitos que crescem em meios bilingues. A perturbação Fonológica é mais prevalente nos sujeitos do sexo masculino. Prevalência Segundo o Manual de diagnóstico e Estatísticas de Transtornos Mentais (DSM-IV- TR,2002) Aproximadamente 2% das crianças entre 6 e os 7 anos apresentam perturbações fonológicas, moderadas e graves, apesar de a prevalência das formas mais ligeiras desta perturbação ser mais elevada. A prevalência diminui para 0.5% pelos 17 anos. 23 4.1. Diagnostico Multiaxial Tabela 2 Diagnóstico Multiaxial Eixo I 351.39 Perturbação Fonológica (Anteriormente Perturbação do desenvolvimento da Articulação) [80.0] Eixo II V 71.09 Sem Diagnostico [Z03.2] Eixo III Nenhum Eixo IV Nenhum Eixo V AGF=31 (No inicio da Avaliação) AGF= 40 (Actual) Este Sistema Multiaxial de classificação ajuda a planear e apresenta, além da codificação e denominação do DSM-IV-TR, a codificação do CID-10. No Eixo I, apresenta- se a perturbação principal. O Eixo II ainda carece do diagnóstico dos problemas biológicos. A avaliação global de funcionamento (AGF), indica que o BR apresenta dificuldade na comunicação e em várias áreas adaptativas, embora actualmente estas dificuldades estejam em menor grau do que no início da avaliação. 24 5.0. Psicoterapia O termo psicoterapia (do grego psykhē - mente, e therapeuein - curar; refere-se a um processo dialéctico efectuado entre um profissional psicólogo/médico (o psicoterapeuta) e o cliente (o paciente). Por ser, definitivamente, da área da Saúde Mental, a psicoterapia é a principal linha de tratamento para qualquer assunto referente à mente e, para isso, faz uso de métodos, técnicas e intervenções psicológicas, cujos objectivos centrais são: Restabelecer a qualidade de vida do paciente; Equacionar os motivos da consulta (que variam desde pequenas dificuldades do dia-a- dia até mesmo grandes psicopatologias); Desenvolver os padrões de funcionamento mental do indivíduo e dos seus sistemas psíquicos (saúde orgânica, saúde mental, familiar, social, sexual, intelectual, financeiro, profissional, lazer e espiritual). 5.1. Modelos de Intervenção Terapeuta Muito tem-se estudado e discutido, no âmbito das perturbações fonológicas. Diversos modelos de intervenção vêm sendo testados com diferentes objectivos e resultados, de acordo com o quadro clínico do paciente. BACELAR (2013) Discute os vários modelos de intervenção, seu objectivo, características, técnicas, entre outros. Salientar que esses modelos terapêuticos baseiam se na estrutura organizacional do sistema fonológico da criança para a correção dos sons da fala, ou seja, o som não é considerado como uma unidade isolada, mas sim como tendo valor contraste. Para o presente trabalho e de acordo com a patologia identificada, foram escolhidos e analisados cinco modelos, conforme a tabela síntese abaixo: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Interven%C3%A7%C3%B5es_psicol%C3%B3gicas&action=edit&redlink=1 25 Tabela 3 Modelos de Intervenção Modelo Proponente Objectivo Características Técnica Metaphon Proposto por Dean e Howell em 1986 Realizar mudanças fonológicas na criança, através do aumento do seu conhecimento da língua e dos seus aspectos comunicativos Fazer a criança compreender que a linguagem serve para comunicar de forma tangível e transparente. Progresso dependente do feedbcak constante do adulto Manipulação de brinquedos e jogos correspondentes às propriedades fulcrais do sistema fonológico; Introduçã o de pares mínimos e subsequente formação de frases complexas. Ciclos Modificado Proposto por Tyler, Edwards e Saxman em 1987 Eliminar processos fonológicos da fala da criança e concretizar, através da consciencialização das características do som-alvo operante naquele processo fonológico. A aplicação de ciclos de 10 a 15 semanas, com duração de cerca de 60 minutos, durante os quais exercita-se uma componente específica, individualmente ou em grupo. O gravador é o melhor instrumento para este tipo de modelo, pois a criança pode ouvir as suas próprias produções (umas com e outras sem erros) e adquirir os sons ao mesmo tempo que os está a ouvir, podendo ouvir uma listagem de quinze ou vinte palavras, no início e no final da sessão de Terapia da Fala. 26 ABAB – Retirada e Provas Múltiplas Proposto por Tyler e Figursky, em 1994 Promover mudança no sistema fonológico da criança O ciclo é constituído por sessões realizadas duas vezes por semana, cada uma com a duração de quarenta e cinco minutos, durante cinco semanas. Inicia-se com a recolha de dados da fala, para se determinarem os traços distintivos alterados e seleccionarem os sons-alvo. As provas múltiplas incluem duas provas: uma de generalização (efectuada durante os períodos de retirada) e uma prova alvo básica (PAB), presente durante os ciclos de intervenção. Parents and Children Together (PACT) Não identificado A Educação parental visa fornecer modelos estruturais e estratégias para que as famílias trabalhem o melhor possível com as crianças (inclui apoio e motivação aos pais). Ocorrem uma vez por semana, durante dez semanas, e tem a duração aproximada de 50 minutos. O tempo de sessão divide- se em duas partes: 30 a 40 minutos de intervenção directa entre TF e criança e o tempo restante (cerca de 20 minutos) deve ser para o cuidador estar presente e participar na sessão, de forma activa, conjuntamente com o TF e a O TF frequenta o domicílio dos utentes, para que se observem comportamentos tanto dos cuidadores como das crianças, no seu contexto natural. 27 criança. Metade das actividades realizadas na terapia deverão ser auditivas e conceptuais e a outra parte será dedicada a actividades de produção Inter venção Psicolinguíst ica Proposto por Stackhouse e Wells em 1997 Compreender de que forma a linguagem da criança está alterada e encontrar a melhor forma de colmatar essas alterações São conciliadas várias abordagens, para que se crie o programa psicolinguístico, nomeadamente: linguística, médica, educacional e psicossocial. Apresenta-se, à criança, o reportório fonético e mostra-se como os segmentos são usados fonologicamente em sílabas, palavras e, por fim, no discurso espontâneo, fazendo, assim, com que ela obtenha uma comunicação funcional. 28 5.2. Descrição dos testes usados no estudo de Caso 5.2.1. Testes projectivos São instrumentos menos estruturados que os testes psicométricos e, devido a essa característica, estimulam a projecção de vivências internas na realização das tarefas propostas. As produções do paciente, tanto verbais quanto gráficas, revelam seus conflitos, preocupações e dificuldades emocionais se houver de modo representativo e facilmente detectáveis (Pregnolato, 2007). 5.2.2. HTP- (Casa, Árvore, Pessoa) Buck (2003), define o H.T.P, como um teste projectivo que serve para obter informações de como uma pessoa experiência a sua individualidade em relação ao ambiente do lar e em relação a outras pessoas. É um instrumento sistematizado, que tem várias respostas. E como toda técnica projectiva,“ele estimula a projecção de elementos da personalidade e de áreas de conflito dentro da situação terapêutica e proporciona uma compreensão dinâmica das características e do funcionamento do indivíduo” (Buck, 2003). O instrumento é destinado a indivíduos maiores de oito anos e propõe a realização de três desenhos sequenciais - uma casa, uma árvore e uma pessoa, os quais devem ser desenhados em folhas separadas, utilizando lápis e borracha. A aplicação propõe, também, que se realize um inquérito acerca de características e descrições de cada desenho realizado (Buck, 2003). O HTP divide-se em quatro fases Primeira Fase não-verbal: consiste em convidar o individuo a fazer o desenho de uma casa, uma árvore e de uma pessoa. Segunda é a de um inquérito posterior ao desenho: é uma série de perguntas sobre os aspectos de cada desenho. Após terminar estas duas fases, o examinador pode ou não prosseguir para a terceira fase, que consiste em desenhar novamente uma casa, uma árvore e uma e uma ou duas pessoas. Na quarta fase, o examinador deverá fazer perguntas adicionais sobre os desenhos. A sua aplicação pode levar de 30 minutos a uma hora e meia. 5.2.3. Escala do Comportamento Adaptativo A Escala de Comportamento adaptativo (ECA) foi criada por Lambert, Nihira e Leland, nos Estados Unidos em 1993. Esta escala consiste numa revisão das ECA elaboradas pela American association on Mental Retardacion (AAMR), de 1975 e de 1981. 29 A ECA tem como objectivo recolher informações precisas e pertinentes acerca do que se quer estudar, permitindo uma avaliação compreensiva da capacidade da criança em lidar com as condições do seu ambiente, mediante a análise de diversas condutas, situações e actividades diárias. Lambert et al. (1993), a nível prático-pedagógico, referem os seguintes objectivos específicos: discriminar as áreas fortes e fracas: identificar os indivíduos que se encontram abaixo da média em determinadas áreas do comportamento adaptativo comparativamente aos seus pares; permitir o acompanhamento da evolução resultante da intervenção; avaliar o comportamento adaptativo para estudos de pesquisa. Estes autores afirmam que os resultados da aplicação desta escala são facilitadores tanto a nível do diagnóstico, como na organização de programas comportamentais e de desenvolvimento de capacidade e habilidades (Cit. Santos& Morato,2002: Santos, 2007). 30 Capitulo 4 6.0. Descrição do Estudo de Caso Neste capítulo, pretende-se dar a conhecer o caso, através da descrição da paciente tendo em conta os aspectos sociais e culturais que a envolvem, assim como os seus aspectos evolutivos. À luz do quadro teórico, procurar-se-á explicar, detalhadamente, as características da perturbação que o paciente apresenta. 6.1. Descrição da Criança e do seu Meio Os dados apresentados nesta secção foram obtidos através do processo clínico do paciente, de entrevistas às educadoras e a Psicóloga do Infantário e por via das entrevistas no primeiro capítulo do presente relatório. 6.2. Dados de identificação Nome: BR 2 Data de Nascimento: 13 de Setembro de 2001 Residência: Infantário da Matola Idade Cronológica: 14 anos de Idade Raça: Negra Filiação: Desconhecida Lugar de Nascimento: Maputo 6.3. Problema apresentado É um paciente que não anda. Para se locomover precisa de uma cadeira de rodas, percebe o que os outros falam, mas não consegue articular bem as palavras. 6.4. História do problema actual O BR é um paciente, hoje, dos seus 14 anos de idade, nascido no dia 13 de Setembro de 2001, com nacionalidade moçambicana, vive no infantário localizado na cidade da Matola, e encontra-se na casa 4, onde estão cerca de 17 crianças. É um paciente de aparência calma, 2 Nome fictício, usado por questões éticas profissionais 31 com um ar alegre, gosta de estar com outras crianças. Vivia com os seus pais, mas aos 5 anos de idade foi abandonado pela sua mãe, no Hospital Central de Maputo, na área de fisioterapia. Os dados dos seus progenitores são desconhecidos, o que faz pensar que nenhum parente vem visita o menino, no infantário.Com a ajuda do terapeuta de fala, o BR consegue articular algumas palavras, apesar da dificuldade que ainda tem para emitir o som. Durante o estágio, a estagiária teve conhecimento que o BR tinha um irmão gémeo que vivia no infantário, esse irmão tinha a mesma deficiência e, mais tarde, acabou falecendo. 6.5. História social O BR revela que tem amigos no infantário e que gosta muito dos jogos e das brincadeiras que faz com os outros meninos. Refere ainda que tem três amigos considerados os mais especiais, realçando que um desses amigos é como se fosse irmão, porque se dão muito bem. As educadoras referem-se que o menino BR só fica chateado quando está com fome ou quando uma das crianças lhe provoca. 6.6. Dinâmica do paciente No dia 24 de Julho, numa sexta-feira feira, aconteceu o primeiro encontro da estagiária com o paciente BR, em que, primeiro, foi acompanhado ao pequeno-almoço, onde pôde-se observar alguns comportamentos como a maneira de comer e como se comporta na mesa com os seus amigos. Pude constatar que, apesar da sua deficiência física, ele consegue pegar a colher levando a comida à boca, sem precisar de ajuda dos outros, e comporta-se muito bem e sem nenhuma agitação na mesa. Depois do pequeno-almoço, a estagiária acompanho-o o BR para dar um passeio ao pátio e ele estava tranquilo e silencioso, enquanto passeávamos. Durante o passeio a estagiária teve a oportunidade de conversar com ele, perguntando se gostava de passear, tendo ele respondido afirmativamente, perguntou os nomes de cada objecto que a estagiária tinha e ele conseguiu responder sem nenhuma hesitação. E, por fim, a estagiária perguntou ao menino BR se queria desenhar e o que ele queria desenhar, tendo este respondido que queria desenhar uma casa, e sobre a razão de querer desenhar uma casa respondeu “mama e papa”. De seguida, a estagiária deu, ao menino, um papel, lápis e lápis de cor e o BR teve uma atitude colaborativa, desde o início da prova, apesar de demostrar estar inquieto, devido ao cansaço que ele sentia. E, no final, a estagiária pediu que ele descansasse e disse a ele que continuariam noutro dia, e acompanhou-o para a casa das actividades. 32 No dia 29, numa quarta-feira, o menino BR estava com ar triste e um pouco agitado e a estagiária perguntou o que acontecera e ele não respondeu. Às 8:30, a estagiária acompanhou o menino ao pequeno-almoço e fez uma observação em relação ao seu comportamento, tendo constatado que o menino continuava agitado devido à ansiedade pela hora do pequeno-almoço. Depois do pequeno-almoço, a estagiária levou o BR para dar um passeio no pátio onde este começou a melhorar o seu humor e a demostrar o seu ar de alegria. 6.7. Critérios do DSM- IV- TR O DSM IV- TR é um sistema de classificação nosológica desenvolvido pela Associação Americana de Psiquiatria que utiliza, na descrição dos critérios da perturbação fonológica, as três características nucleares da perturbação. Pelas observações e entrevistas efectuadas, a criança em estudo apresenta comportamentos que satisfazem a descrição da Perturbação Fonológica (F.80). A interacção com o paciente permitiu validar, positivamente, os seguintes critérios associados à F.80: A. Incapacidade de utilizar sons da fala, esperados evolutivamente e próprios da idade e idioma (por exemplo, erros na produção, uso de representação ou organização dos sons, tais como substituição de um som por outro [uso de som/ t em vez de q/], ou omissões de sons tais como as consoantes finais). B. Apresenta dificuldades da produção de sons, o que interfere no rendimento laboral ou na comunicação social. C.Apresenta um défice motor da fala, ou um défice sensorial, ou uma privação ambiental, as dificuldades da fala são excessivas em relação às que estariam normalmente associadas com estes problemas. 6.8. Classificação pela CID-10 Foram tidos também em conta, nesta avaliação diagnóstica, os critérios de classificação da CID-10. A CID-10 é um manual de Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas relacionados à Saúde, organizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na sua décima edição, que utiliza as características nucleares patentes na Triad de Wing, tal como o DSM-IV-TR, variando apenas na designação do transtorno, que no caso da CID-10 é denominado por Transtorno especifico da articulação da fala, com o código F.80. Esta classificação CID-10, que é a classificação oficial utilizada no Sistema Nacional de 33 Saúde é compatível com a DSM-IV-TR, pois, os critérios de diagnóstico do DSM- IV-TR também servem para o CID-10. Existe uma relação entre os dois manuais, pois as equipas de trabalho dos dois sistemas trabalharam de forma a coordenar os seus reforços, resultando numa grande influência recíproca. Portanto, todos os códigos e terminologias fornecidos no DSM-IV-TR são totalmente compatíveis com a CID-10 (APA, 2002). 6.9. Diagnóstico diferencial para a Perturbação Fonológica O diagnóstico diferencial deve ser estabelecido mediante a exclusão dos problemas limitados ao ritmo da fala ou da voz que são diagnosticados como gaguez ou perturbação da comunicação sem outra especificação. As crianças com dificuldades de fala devido à privação ambiental, podem melhorar rapidamente, uma vez ultrapassados os problemas. As dificuldades da fala podem estar associadas à Deficiência mental, défice auditivo, ou outro défice sensorial, défice motor da fala ou privação ambiental grave. A presença destes problemas pode ser verificada pelos testes de inteligência, provas audiométricas, exame neurológico e história clinica. Se as dificuldades da fala forem excessivas, em relação às que estão normalmente associadas com estes problemas, ou se interferirem com a capacidade de a criança ser entendida pelas pessoas que lhe são mais próximas, pode se fazer um diagnóstico simultâneo de Perturbação Fonológica. 6.10. Prognóstico Mediante os dados recolhidos na avaliação, chegou-se à conclusão que o BR sofre de Perturbação Fonológica (F80.0) e o prognóstico leva a crer na necessidade de uma intervenção terapêutica. 34 6.11. Perfil Intra-Individual Tabela 4 Perfil Intra- individual do caso de estudo Áreas Fortes Áreas fracas Domínio Psicomotor Dissociação (capacidade de individualizar vários segmentos corporais utilizados na planificação e execução motora Coordenação motora Auto concentração Domínio Cognitivo Atenção Comunicação Ficção Flexibilidade no pensamento Orientação Temporal Domínio Socioemocional Motivação Colaborante Instabilidade emocional Controlo de impulsos agressivos Competências sociais 35 6.12. Resultados Obtidos pelo Teste de HTP Em virtude dos métodos de aplicação não terem sido cumpridos, na íntegra, nomeadamente por os desenhos terem sido feitos na mesma folha A4, aspectos de avaliação como, a LOCALIZAÇÃO do desenho não pôde ser interpretada (de acordo com as regras estabelecidas para interpretação de Localização no teste HTP). Descrevem-se abaixo os elementos dos desenhos acompanhados de sua significação, em PAPEL e TAMANHO DAS FIGURAS, não serão classificados. Análise do desenho da CASA3 surgido no teste de HT P para o participante BR: Tabela 5 Análise do desenho HTP (Casa) Caract erística Análise Descrição A CASA representada é uma cabana, o que mostra o isolamento do paciente. O sentimento de perda afectiva e sua imaturidade para reagir aos estímulos ambientais. PAREDES Não apresenta linha representativa do solo. PAREDES maiores que o teto ou corpo da casa grande e teto pequeno, indicando a vida instintiva, com comportamento mais prático e voltado para a realidade concreta. PORTA Fechada. Sugere auto-defesa/defesa com o mundo; JANELA Nua e sem cortinas. Tendência a relacionamentos e contactos sociais directos, falta de tacto ou oposição. TELHADO Área da Fantasia. Foram terminados em pontas. Telhado ligeiramente afastado ou deslocado da parede, sombreado um com buraco, sugere Ansiedade, dificuldade de aprendizagem e ideias de fuga do ambiente. CHAMINÉ Ausência. Actualmente não é considerada importante, mas pode simbolizar falta de calor e afecto, no lar. 3 Ver anexo 3 36 Pauta de análise do desenho da FIGURA HUMANA4 surgido no teste de HTP para o participante BR: Tabela 6 Análise do Desenho HTP (Pessoa) Característica Análise CABELO Ausente OLHOS São representados em tamanho muito pequenos e, por vezes, apenas traços, indicando deste modo introversão, insegurança, dúvida, imaturidade afectiva, não-aceitação do meio, dificuldades para enfrentar os problemas. NARIZ Ausente QUEIXO Redondo delicadeza BRAÇOS Encontram-se afastados para os lados ou pendentes ao longo do corpo e caídos, remetendo-nos a uma passividade, dificuldade para iniciativa ou incapacidade e dependência, ou sentimento de culpa PERNAS Encontram-se separadas, sugerindo falta de equilíbrio. Pés Os Pés apresentam o calcanhar muito acentuado, falta de base, dificuldades de evoluir. 6.13. Avaliação do Funcionamento Adaptativo De acordo com APA (2002), pode ser enganador fazer uma média para obtenção de QI matemático, principalmente quando existe uma dispersão significativa nas pontuações dos sub-testes da criança, como é o caso do BR. Para tal, recorre-se à forma como esse indivíduo se adapta às demandas do seu meio. Sendo assim, para avaliação do comportamento adaptativo da criança em estudo, teve-se como base as actividades propostas pela escala vineland de comportamento adaptativo, complementadas pelas observações comportamentais, individuais e em grupo. Pelos aspectos inerentes à rotina da criança em forma de entrevista, através do cruzamento de todos estes instrumentos e tendo em conta, também, a idade cronológica do paciente, foi possível identificar que este apresenta atrasos no seu funcionamento, em diversas áreas adaptativas. 4 Ver anexo3 37 Tabela 7 Síntese do funcionamento adaptativo do caso em estudo Área adaptativa Algumas manifestações Autonomia - Precisa de ajuda para tomar banho; -Não sabe dizer as horas ou dia corrente da semana; Saúde e segurança Dificuldades em descrever e reconhecer sintomas da doença Competências académicas Desenha significativamente abaixo da sua idade cronológica; Dificuldades em ler pequenas palavras funcionais (ex. ai, ia, au) Dificuldade em associar as letras aos seus sons Competências comunicativas Dificuldade em transmitir informações; Outras dificuldades descritas na avaliação da perturbação Fonológica Competências sociais/ interpessoais Dificuldade em ajudar os outros ou pedir ajuda Outras dificuldades descritas na avaliação da Perturbação Fonológica Como indica na tabela, o BR apresenta um comportamento adaptativo limitado, em vários aspectos. Os comportamentos adaptativos são, em geral, sintomas mais visíveis do que o valor do QI, e ajudam a estabelecer o perfil do paciente, um quadro com as suas potencialidades e fraquezas, pois reflecte melhor as capacidades dela (Ballone,2007). 38 6.14. Plano de Intervenção Tendo por base as informações acima recolhidas, foi elaborada uma proposta de plano de intervenção que incidiu, sobretudo, na redução e/ou eliminação dos aspectos que interferiam com o nível
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