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Apostila-Completa-Teoria-da-Literatura

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA DA LITERATURA 
 
 
 
 
GUARULHOS - SP 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
2 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4 
3 O QUE É LITERATURA? ......................................................................................... 5 
3.1 Teoria literária: o que é, e como surgiu? ............................................................... 9 
3.2 Teoria literária: uma visão geral .......................................................................... 10 
3.3 Alguns pontos importantes da teoria literária ....................................................... 13 
3.4 A estética da recepção e o fenômeno literário ..................................................... 17 
3.5 Novos rumos da teoria da Literatura.................................................................... 21 
4 TEORIA DA LÍRICA ................................................................................................ 23 
4.1 Gênero Lírico ....................................................................................................... 23 
4.2 O que é poesia lírica? .......................................................................................... 24 
4.3 Subjetividade ....................................................................................................... 27 
4.4 Lírica Moderna ..................................................................................................... 28 
4.5 Mudanças no conceito de lírica ........................................................................... 31 
4.6 Características da lírica moderna ........................................................................ 33 
5 TEORIA DA NARRATIVA ....................................................................................... 36 
5.1 Gênero Narrativo ................................................................................................. 36 
5.2 Caracterização do gênero narrativo..................................................................... 37 
5.3 Tipos de narrativa ................................................................................................ 39 
5.4 Foco narrativo ...................................................................................................... 40 
5.5 A narratologia e seus pressupostos fundamentais .............................................. 43 
5.6Pressupostos fundamentais — as narrativas e a narratividade ............................ 46 
6 TEORIA DO DRAMA .............................................................................................. 50 
6.1 Gênero Dramático ............................................................................................... 50 
6.2 Estrutura do texto dramático e linguagem ........................................................... 54 
6.3 Literatura dramática em diálogo com outras expressões literárias ...................... 59 
 
3 
 
7 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ......................................................................................... 65 
7.1 Referências bibliográficas .................................................................................... 65 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
2 O QUE É LITERATURA? 
A palavra literatura, em sentido amplo, aplica-se a todas as produções literárias 
de um país ou de uma época, sendo, portanto, um dos ramos essenciais do 
conhecimento humano. Literatura abrange os textos, orais ou escritos, sejam eles 
poesia, história, textos de gramática, eloquência, textos filosóficos ou teológicos, 
textos das ciências, dramas, etc., entretanto, a literatura não pode ser reduzida à sua 
etimologia — litterae, litteratura —, que se refere à “coisa escrita”. (GERCKE, 2016) 
A literatura é um fenômeno extremamente complexo. É um tipo de arte que se 
utiliza da linguagem verbal (mas não necessariamente só dela) e, sendo assim, é um 
aspecto da cultura dos diferentes povos e nações. Se as culturas vão se modificando 
ao longo dos tempos com as novas realidades e necessidades, a literatura também 
vai ganhando novas roupagens e elementos. O que é considerado como literatura 
também se modifica de acordo com quem está pensando sobre isso. (MINUZZI, 2019) 
 
 
Fonte:www.brasilescola.uol.com.br 
 
A literatura pode parecer algo muito simples de ser definido e conceituado. 
Contudo, tente pensar a fundo sobre o que é literatura e por que alguns textos são 
considerados como literários e outros não. Afinal, as mesmas palavras que usamos 
no nosso dia a dia são aquelas que estão presentes em um romance ou em uma 
 
6 
 
poesia, por exemplo. E por que a poesia e o romance são considerados como 
literatura e nossas conversas com amigos não? O que diferencia um texto literário de 
um texto não literário? Essa não é uma questão simples, e muitos teóricos já se 
debruçaram sobre o problema, a fim de tentar resolvê-lo. (MINUZZI, 2019) 
Eagleton (2006), em sua obra Teoria da literatura: uma introdução, levanta 
inúmeras definições já dadas à literatura ao longo dos tempos, sempre mostrando 
como elas não funcionam — ou como não funcionam em todos os casos e para todos 
os tipos de textos. Você também pode tentar fazer esse exercício com seus alunos: 
como eles conceituariam literatura? Pode ser que surjam respostas como: “É um texto 
que conta uma história” ou “É uma história que está em um livro”. Todas elas, na 
verdade, são simplistas demais e estão longe de dar conta da complexidade do 
fenômeno literário. Notícias e matérias de jornal, por exemplo, não são textos que 
contam histórias? O que, portanto, distingue a literatura de uma reportagem? 
Podemos falar antecipadamente que a literatura é uma forma de arte, assim como a 
pintura, a escultura, a música ou a arquitetura — a arte literária seria uma forma de 
arte com palavras. A seguir, analisaremos alguns conceitos e explicações de teóricos 
e pesquisadores para literatura. De acordo com Eagleton (2006, p. 24): 
 
Se não é possível ver a literatura como uma categoria “objetiva”, descritiva, 
também não é possível dizer que a literatura é apenas aquilo que, 
caprichosamente, queremos chamar de literatura. [...]. Portanto, o que 
descobrimos até agora não é apenas que a literatura não existe da mesma 
maneira que os insetos, e que os juízos de valor que a constituem são 
historicamente variáveis, mas que esses juízos têm, eles próprios, uma 
estreita relação com as ideologias sociais. Eles se referem, em última análise, 
não apenas ao gosto particular, mas aos pressupostos pelos quais certos 
grupos sociais exercem e mantêm o poder sobre outros. 
 
A explicação de Eagleton (2006) é bastante interessante na medida em que toca 
no assunto da complexidade do fenômeno literário. Essa complexidaderesulta em 
uma dificuldade em conceituá-lo. A literatura não é uma categoria objetiva como a de 
insetos: os insetos formam um grupo com características predominantes e, assim, não 
interessa o tempo no qual eu vivo ou o espaço que habito, insetos sempre serão 
insetos. A literatura, ao contrário, é algo muito mais subjetiva: uma sociedade 
machista, por exemplo, pode apresentar a tendência de considerar textos escritos por 
homens muito mais frequentemente como textos literários do que aqueles produzidos 
 
7 
 
por mulheres; em uma sociedade racista, o mesmo ocorreria em relação a produções 
de brancos e de negros, por exemplo. Assim, o grupo que está no poder pode decidir 
o que será considerado ou não como literatura, uma vez que a definição do que é 
literário passa por juízos de valores, opiniões e gostos. 
Às vezes, um texto pode ser escrito ou publicado inicialmente como não literário 
e acabar se tornando literário. Um exemplo é a carta de Pero Vaz de Caminha, que 
conta sobre o que ele e sua frota haviam encontrado ao chegar às terras brasileiras: 
Pero Vaz de Caminha tinha como objetivo, no momento da escrita, simplesmente o 
de avisar o rei de Portugal sobre o povo e as riquezas achadas; hoje em dia, porém, 
consideramos esse como o primeiro documento literário brasileiro, devido à sua 
importância histórica e cultural. Outro exemplo é o livro chamado Carta ao pai, de 
Franz Kafka. Kafka e seu pai viviam em conflito. Tentando resolver os problemas entre 
os dois, o autor escreve uma carta ao progenitor — mas acaba nunca a mandando. 
Depois de sua morte, a carta é publicada como literatura — e literatura de alta 
qualidade, diga-se de passagem. Apesar de todas as dificuldades de se definir 
literatura, podemos pensar em algumas possibilidades, como o conceito de Coutinho 
(1978, p. 9), no qual ele sublinha a literatura como uma forma de arte: 
A literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade 
recriada, através do espírito do artista e retransmitida através da língua para 
as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova 
realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor 
e da experiência de realidade de onde proveio. [...] O artista literário cria ou 
recria um mundo de verdades que não são mais medidas pelos mesmos 
padrões das verdades ocorridas. Os fatos que manipula não têm comparação 
com os da realidade concreta. São as verdades humanas gerais, que 
traduzem antes um sentimento de experiência, uma compreensão e um 
julgamento das coisas humanas, um sentido de vida, e que fornecem um 
retrato vivo e insinuante da vida. A Literatura é, assim, vida, parte da vida, 
não se admitindo possa haver conflito entre uma e outra. Através das obras 
literárias, tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns 
a todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição 
humana. 
Coutinho (1978) traz uma importante ideia: a literatura não é simplesmente uma 
cópia do real para dentro do texto, mas uma transfiguração do real. Existe uma 
anedota sobre uma conversa entre o poeta simbolista francês Stéphane Mallarmé e o 
pintor Edgar Degas. O pintor teria dito para o poeta que, apesar de estar com a cabeça 
cheia de ideias para um poema, ele sentava e não conseguia escrever absolutamente 
nada. Como resposta, Mallarmé diz que não se fazem poemas com ideias, mas com 
palavras. Em outras palavras: podemos até nos inspirar no real e em experiências do 
 
8 
 
mundo físico para produzir um texto literário, mas a literatura é muito mais do que isso 
(COUTINHO, 1978). 
A literatura não apenas conta histórias — o como se conta a história é igualmente 
relevante, visto que os recursos estéticos são essenciais no texto literário. A forma é 
uma preocupação do escritor de literatura, pois o texto literário trabalha com a 
linguagem estilizada, artística, utilizada de um modo diferente de como é empregada 
no dia a dia. 
Além disso, a literatura não tem compromisso com o real: bruxas, vampiros, 
pessoas que voam, etc., são personagens completamente possíveis no texto literário. 
Apesar disso, cada texto deve ser verossimilhante (i.e., os seus elementos devem 
fazer sentido dentro do universo ficcional criado, mesmo que esse não seja condizente 
com o mundo real). Por último, devemos ressaltar, ainda, a literatura como contendo 
verdades humanas eternas. Você já parou para pensar no motivo de, por exemplo, 
continuarmos lendo as peças de William Shakespeare, que foram produzidas lá no 
século XVI? Elas continuam fazendo sentido para nós, pois abordam temáticas 
humanas universais, como a traição, a loucura ou o amor impossível. Mesmo que as 
histórias se passem em lugares e em tempos específicos, essas narrativas poderiam 
se passar em inúmeros outros contextos. A literatura, enquanto arte, não precisa servir 
para nada a não se causar um prazer estético. Contudo, apesar disso, em muitas 
ocasiões, a literatura cumpre papéis sociais determinantes. Para você pensar sobre 
essa questão, leia o excerto a seguir, fragmento de um romance do escritor angolano 
Agualusa (2012, p. 49): 
Tiravam-nos tudo, a dignidade, as terras, os homens. E no fim o próprio rosto 
[...]. Tiravam-nos todo o passado e nós olhávamos em volta e não éramos 
capazes de compreender o mundo. Então começamos a escrever poesia. A 
poesia era um destino irreparável, naquela época, para um estudante 
angolano. 
Estação das chuvas é um livro sobre a Guerra de Libertação em Angola. O país 
africano, até 1975, era colônia de Portugal. Alguns grupos, entretanto, desejavam a 
liberdade, e, em 1961, eclode a luta dos angolanos para ganhar a sua liberdade. Veja 
que a poesia, para esses homens, servia como uma forma de retomar a identidade 
arrancada deles pelos portugueses (o rosto arrancado pelos portugueses a que se 
refere o trecho). Ao longo de séculos, os europeus colocaram a cultura e os costumes 
 
9 
 
africanos como perigosos, selvagens e inferiores. Além disso, para ascender 
socialmente, os angolanos eram obrigados a assumir a cultura portuguesa. Na 
segunda metade do século XX, ao contrário, eles procuram resgatar esses elementos 
perdidos, e uma das formas é a produção literária. Portanto, literatura pode ser 
pensada como uma forma de arte que transfigura a realidade, que trata de verdades 
humanas e que faz parte da identidade de um indivíduo, de um grupo, de uma nação. 
A literatura ainda é uma categoria subjetiva. 
 
2.1 Teoria literária: o que é, e como surgiu? 
 
A literatura pode enriquecer a sua vida, seja como simples entretenimento, seja 
como fonte de conhecimento e reflexão sobre valores e ideias. Porém, são 
necessários certos conceitos ou ferramentas teóricas para que o leitor possa entender 
a linguagem literária de maneira ampla. A teoria literária traz à tona esses conceitos e 
ferramentas para estudar a obra, o autor, o leitor e todo o processo que envolve as 
produções literárias e seus conteúdos. É com base na teoria da literatura que são 
feitas as resenhas, as análises e as críticas literárias. A teoria da literatura possui uma 
base de dados. Essa base permite elaborar um método de reflexão e análise dos 
textos literários. No cruzamento desses dados, pertinentes à trajetória da produção 
literária de um determinado período, você consegue identificar as mudanças ocorridas 
no processo histórico com relação ao homem e tudo que o envolve. (LIMA, 2018) 
 
 
10 
 
 
Fonte : www.recortelirico.com.br 
 
Segundo Lima, 2018 os primeiros estudos que utilizaram a expressão “teoria da 
literatura” datam do século XIX e apareceram na Alemanha. Os alemães empregaram 
igualmente a expressão “ciência da literatura” para garantir o conjunto de regras 
científicas, e não artísticas, de seu trabalho. No século XIX, a teoria da literatura se 
voltou sobretudo para questões de ordem histórica, sendo investigadas as obras do 
passadode um país, para que fosse escrita a história da literatura daquela nação. As 
primeiras histórias da literatura nasceram entre o final do século XVIII e o início do 
século XIX, na Inglaterra e na Alemanha principalmente. Ao lado da história da 
literatura, se desenvolveu igualmente a literatura comparada, sobretudo na França da 
segunda metade do século XIX, voltada para o estabelecimento das semelhanças e 
diferenças entre as produções literárias de diferentes países. Se a história da literatura 
separava as obras conforme a nacionalidade dos autores, a literatura comparada 
procurava aproximá-las. Para isso, examinava as ascendências de uns escritores 
sobre os outros a fim de constituir uma rede de interlocução entre eles. 
 
2.2 Teoria literária: uma visão geral 
 
Como objeto de estudo, a literatura é analisada com vistas a delimitar elementos 
que a particularizam enquanto manifestação da linguagem e representação universal. 
 
11 
 
Nessa perspectiva, é necessária a identificação do que é ou não considerado literatura 
com base em investigações acerca de características comuns, distintas, traços que 
estabelecem relações com gêneros literários, etc. Como manifestação artística, a obra 
deve possuir um valor que possa ser identificado em todas as obras literárias ou em 
alguns grupos específicos pertencentes aos gêneros literários, sendo uma das 
funções da teoria da literatura justamente definir quais são esses elementos conforme 
os seus modos de manifestação. (LIMA, 2018) 
As contribuições para esse campo do saber por meio das concepções gregas 
apontam como objetos de estudos literários a preocupação em diferenciar o que é ou 
não considerado literatura. Secundariamente, voltaram o seu olhar para a formulação 
de um conjunto de preceitos que deveriam ser seguidos pelos escritores para que as 
suas construções literárias atingissem a perfeição no que tange aos recursos 
expressivos quanto às regras estabelecidas para cada gênero literário compreendido 
como tendência na época (AMORA, 2004). 
Na Renascença, entre os séculos XVI e XVIII, a teoria da literatura se 
desenvolveu como um esforço para dedicar-se ao estudo formal da literatura greco-
latina, adotando princípios advindos das tendências presentes no período clássico. 
Mais tarde, já no século XIX, marcada pelo Romantismo e pela sua crítica ao 
Classicismo, a teoria literária “deixou de ter finalidade preceptística e didática e passou 
a visar os conhecimentos dos fatos literários” (AMORA, 2004, p. 25). 
No fim do século XIX, a teoria é influenciada pelo cientificismo, que favoreceu a 
ampliação do campo de investigação em uma ciência com foco no saber positivo 
(positivismo científico) dos fenômenos literários. No decorrer dos séculos 
subsequentes, realizando um panorama das histórias das teorias da literatura, 
podemos refletir sobre três questões, nas palavras de Amora (2004, p. 27): 
 
 O estudo dos aspectos e problemas gerais da literatura se fez, durante 
vários séculos, em mais de uma disciplina — na Poética, na Retórica, na 
Estética e na História Literária — e dado este fato, difícil se torna, aos 
principiantes, acompanhar a evolução desse estudo. 
 Se quisermos reduzir essa evolução a ideias essenciais podemos dizer 
que os teóricos da literatura visaram, nos séculos clássicos (antigos e 
modernos), sobretudo a indicar, aos escritores, um caminho para atingir o 
 
12 
 
que não se idealizava como perfeição literária; e que no século XIX visaram 
a demonstrar que cada civilização produz um tipo de literatura e que as 
literaturas, em suas formas, nos seus gêneros, evoluem através do tempo, 
e daí não se poderem tomar as teorias clássicas como absolutas e 
universais. 
 No fim do século XIX começou a revisão das ideias de seus teóricos e 
com essa revisão teve início uma nova época da Teoria da Literatura. 
 
 
Fonte: www.letrando.webnode.com 
 
Segundo Amora (2004), posto esse panorama das principais tendências da 
história da teoria da literatura, a seguir verificaremos em que estado se encontra esse 
campo do Estado atual da teoria literária “saber humano” atualmente. Antes de 
avançarmos, devemos assumir como premissa que o fato de nos aprofundarmos 
sobre o estado atual da teoria da literatura não significa que chegamos ao ápice da 
sua trajetória, pois o conhecimento está em constante desenvolvimento, sendo 
passível de reformulações no que tange aos seus princípios, às suas metodologias e 
aos seus objetos de investigação. Partindo desse pressuposto, relembramos que, no 
século passado, a teoria literária se dividiu em correntes de caráter filosófico e 
científico: a primeira considerou o fenômeno literário como possuidor de uma essência 
abstrata analisada no campo das ideias, já a corrente científica considerava que não 
havia outros fenômenos literários que não pudessem ser analisados senão pelo seu 
 
13 
 
caráter objetivo e científico inerente à realidade concreta. Após a primeira metade do 
século XX, essas duas correntes enfim se conciliaram, motivando especialistas a 
concluir que, para refletirmos sobre questões tais como o que é a literatura e quais as 
razões para existirem distintos gêneros literários, era essencial a investigação de 
dados concretos com base em metodologias científicas que partissem de hipóteses e 
especulações determinadas. Assim, houve a junção de elementos filosóficos e 
científicos que formularam a disciplina a que denominamos teoria da literatura. Outra 
notória evolução foi a individualização no que tange às demais áreas de estudos 
literários, como a análise, a crítica e a historiografia literárias. Esse processo de 
desvinculação, no entanto, não atrasou o seu processo evolutivo, pois novas 
investigações, problematizações, pesquisas e reflexões trouxeram-nos novas 
contribuições. 
Assim, no estado atual, os críticos modernos defendem o entendimento de que 
a obra literária é simultaneamente geral e particular, distinguindo “individualidade” de 
“particularidade e unidade”. (LIMA, 2018) 
De acordo com Wellek e Warren (2003, p. 9) “cada obra de Literatura tem as 
suas características individuais, mas também compartilha propriedades com outras 
obras de arte”. 
 
 
 
2.3 Alguns pontos importantes da teoria literária 
O processo de leitura de uma obra por um especialista é cheio de informações 
diferenciadas e simultâneas. É como se o estudioso usasse óculos multifocais para 
não perder de vista as relações do tempo presente com o presente, do presente com 
o passado e do passado com sua própria época. Uma obra literária não se limita a 
exprimir um aspecto da vida social, nem se restringe a características formais. É 
 
14 
 
fundamental que a estrutura da obra seja consequência da transformação dos 
aspectos externos (como a sociedade) em elementos internos da estrutura textual. As 
normas estéticas consideradas em uma obra literária correspondem aos critérios 
estabelecidos pela sociedade para determinar o que é e o que não é considerado arte 
literária. Trata-se de um código preexistente a partir do qual as obras individuais se 
enquadram ou não no universo da literatura. (GERCKE, 2016) 
 
Fonte: www.socialbauru.com.br 
 
A obra literária, por meio de seus padrões estéticos, produz o efeito de estudo 
da história, da crítica e da teoria literária, estranhamento ao se apresentar como objeto 
desconhecido e inovador que leva o leitor a ver o mundo de modo diferente. É o leitor 
que assegura o que é ou não considerado um clássico da literatura, por demonstrar 
(por meio dos seus hábitos e preferências literárias) que as obras do passado 
continuam a ser lidas no presente (historicidade). 
Conheça alguns princípios que segundo GERCKE (2016), a teoria literária utiliza 
para analisar uma obra: 
 O estudo de uma obra literária, o ato criador do artista, ou as reações do leitor 
diante de uma obra, não podem se confundir com crítica literária,ou com o 
estudo apenas dentro do contexto histórico. 
 O estudo teórico de uma obra literária pode ser feito em um nível científico e 
filosófico. No científico, a produção literária é considerada apenas nos seus 
critérios mais objetivos: a forma ou estrutura da obra literária, o comportamento 
do leitor ou de um público específico influenciado pela obra. No nível filosófico, 
a obra literária pode ser avaliada segundo aspectos não tão objetivos, 
 
15 
 
aspectos que devem ser admitidos como “reais”; por exemplo: a vocação 
literária, o ideal literário, o estado emocional provocado por uma obra. No nível 
filosófico, as conclusões teóricas podem ser um pouco especulativas e ir muito 
além. 
 Nos níveis científico e filosófico, é indispensável partir da análise dos aspectos 
objetivos do mesmo fato. Até mesmo as especulações filosóficas sobre as 
realidades abstratas da obra literária têm que estar fundamentadas em 
conhecimentos científicos. Um exemplo: para refletir sobre a vocação literária 
de um autor, que é um dom inexplicável, é necessária uma rigorosa análise da 
psicologia artística; já para analisar o belo literário, a “obra-prima”, você deve 
recorrer aos termos da filosofia, da estética, que analisa as qualidades das 
obras consideradas belas. 
 Para a análise objetiva de uma obra literária, você sempre tem que se orientar 
por métodos de trabalho. Esses métodos variam de acordo com a obra a ser 
analisada (os fatores psicológicos que deram origem à obra, as tendências 
literárias do momento, entre outros fatores, podem dar a direção aos estudos). 
Os métodos também variam na medida em que você aprofunda seu 
conhecimento sobre a obra. Esses métodos compõem o que se conhece como 
análise literária. 
 A teoria da literatura é uma área de estudo em permanente evolução. Você 
deve considerar e tentar compreender essa evolução, seu estado atual e, na 
medida do possível, suas perspectivas. 
Segundo GERCKE (2016), a teoria literária não é um método teórico limitado e 
rígido. Há a estrutura básica, mas existem várias linhas de estudo dentro da teoria da 
literatura. As indispensáveis são as seguintes: 
 
 Teorias interpretativas: a teoria da literatura exige um modelo básico para a 
interpretação de cada um dos textos literários; 
 Construção de modelos: cada teoria oferece um método mais ou menos 
padronizado a partir do qual é possível interpretar textos ainda desconhecidos; 
 Terminologia: os resultados obtidos a partir do método padronizado devem ser 
analisados segundo uma lista de outros conceitos gerais. A teoria literária está 
o tempo todo buscando conceitos que sejam válidos para todos os textos. 
 
16 
 
Como está configurada neste momento, ela só é válida até que apareça um 
texto literário que já não se enquadre nos seus modelos, métodos e conceitos 
gerais. Ao surgirem textos que fogem ao que já é conhecido e consagrado, a 
teoria tem de ser adaptada. O objetivo fundamental da teoria da literatura é 
fazer com que uma obra literária deixe de ser apenas um texto encantador e 
comovente. A obra deve passar a ser considerada uma produção cultural 
embasada na realidade, na vida, revelando aspectos que, em um primeiro 
momento, fogem à compreensão. 
Por meio da teoria literária, você pode apurar seu senso crítico. Além disso, ela 
objetiva um estudo sistemático e metódico de cada obra. Veja alguns objetivos que se 
destacam: 
 
 Estabelecer um sistema de fundamentos, conceitos e métodos comuns aos 
estudiosos da literatura; 
 Articular e relacionar os conhecimentos literários em um conjunto mais 
abrangente, conforme questionamentos políticos, sociais e culturais; 
 Ir além dos conhecimentos obtidos em uma primeira leitura das obras literárias; 
 Diferenciar os elementos de generalidade e particularidade da obra para que 
não sejam confundidos com individualidade (aspectos subjetivos) e 
singularidade absoluta; 
 Investigar os princípios gerais da literatura; 
 Definir conceitos para que os estudos literários não sejam apenas atos 
individuais de leitura. O processo de análise tem como objetivo a leitura crítica 
dentro de um panorama em constante transformação e expansão; 
 Estudar a literatura como um todo; com uma análise linguística, semântica, 
temática, histórica, dentro de um âmbito internacional. A literatura ultrapassa 
barreiras linguísticas e deve ser pensada também nos termos da literatura 
universal; 
 Dentro da universalidade, buscar o que é específico em cada obra, único. 
Buscar o que pode determinar a condição artística do texto. 
A ciência da literatura e a filosofia da literatura são, portanto, dois níveis de 
trabalho que se completam e formam uma só disciplina, que é a sua conhecida e atual 
 
17 
 
teoria da literatura. Não só essa conciliação da ciência da literatura com a filosofia da 
literatura foi importante, mas também a individualização da teoria literária em relação 
aos demais campos de estudos literários, a análise, a crítica e a historiografia literária. 
(WELLEK, 2003) 
2.4 A estética da recepção e o fenômeno literário 
Segundo Eagleton (2006), é possível pensar na história da moderna teoria 
literária como apresentando três períodos: um primeiro que se preocupa com o autor, 
durante o Romantismo e o século XIX; o segundo, que olha exclusivamente para o 
texto literário, na Nova Crítica; e, por último, uma grande atenção ao leitor, no final do 
século XX. 
 
 Fonte: www.portaldoenvelhecimento.com.br 
 
A estética da recepção ou teoria da recepção encontra-se neste último período, 
que coloca o leitor como centro privilegiado. Sempre o menos privilegiado dos três 
aspectos, sem o leitor, não existiria literatura, pois é o receptor do texto que transforma 
as letras, palavras em frases dentro de um livro em um texto com um significado. 
Assim, para a literatura existir, o leitor é tão fundamental quanto o autor. Dentre os 
principais nomes dessa teoria, pode-se citar os alemães Wolfgang Iser e Hans Robert 
Jauss e o americano Stanley Fish. Para eles, é a dinâmica da leitura o que importa: a 
relação entre autor, obra e leitor. Produção, recepção e comunicação são três palavras 
fundamentais, e a literatura só existe quando existem todos esses elementos — nesse 
sentido, o texto de um autor que fica guardado na gaveta e nunca é publicado não 
 
18 
 
pode ser considerado como literatura propriamente dita, mas ele pode se tornar 
literatura no momento em que for descoberto e começar a ser lido. 
 Eagleton (2006, p. 116) diz que, durante a leitura: 
 
[...] o leitor estabelece conexões implícitas, preenche lacunas, faz deduções 
e comprova suposições – e tudo isso significa o uso de um conhecimento 
tácito do mundo em geral e das convenções literárias em particular. O texto, 
em si, realmente não passa de uma série de ‘dicas’ para o leitor, convites 
para que ele dê sentido a um trecho de linguagem. Na terminologia da teoria 
da recepção, o leitor ‘concretiza’ a obra literária, que em si mesma não passa 
de uma cadeia de marcas negras organizadas numa página. Sem essa 
constante participação do leitor, não haveria obra literária. 
A fim de elucidar essa explicação, analisaremos um pequeno conto do escritor 
gaúcho Noll (1999, documento on-line), chamado Grêmio: 
Quando minha mãe morreu, eu acordava em Florianópolis. Na rodoviária de 
Porto Alegre pedi ao taxista que me levasse depressa. A viagem atrasara. 
Ele disse que, como o cemitério ficava perto do campo do Grêmio e tinha jogo 
naquela noite, o trânsito não estaria fácil. Passamos pelo clarão do estádio. 
O motorista ostentava quase um desconsolo, embora eu não tivesse 
confessado a qualidade íntima do velório. O padre soube observar meu suor. 
Horas depois forcei a chave para entrar no apartamento dela. Por que não 
tentar desde logo o que eu não ousara formular até ali? Virei-me. O cão 
rosnava. Preparava sua fúria para me atacar. 
Alguns elementosdo texto podem parecer segundo Sadanha (2019), em um 
primeiro momento, um pouco misteriosos, e cabe ao leitor preencher as lacunas e dar 
sentido a essas frases. Em primeiro lugar, o narrador diz: “eu acordava em 
Florianópolis”. Aqui, o leitor deve acionar os conhecimentos sobre os sentidos dos 
tempos verbais: o pretérito imperfeito indica uma ação que se repetiu no passado. 
Assim, concluímos que ele vivia em Santa Catarina e precisou realizar uma viagem, a 
fim de ir ao velório da mãe, em Porto Alegre, pois, na frase seguinte, ele já indica a 
rodoviária da capital do Rio Grande do Sul. Outro elemento interessante são as elipses 
temporais: como a narrativa é extremamente curta, o narrador deixa de contar 
inúmeros fatos e de indicar o tempo que passou. Na primeira frase, por exemplo, ele 
diz que vivia em Florianópolis. Na segunda, ele já está na rodoviária de Porto Alegre. 
Entre um e outro momento, ele pegou um ônibus e passou algumas horas viajando 
até chegar. Ele fala que estava no táxi e, a seguir, já afirma que “o padre soube 
observar meu suor”. Ele não explica que o táxi chegou ao cemitério, que ele 
desembarcou e que se dirigiu ao local do velório. Todas essas informações devem ser 
 
19 
 
preenchidas pelo leitor, que desempenha uma função ativa na hora da leitura. As 
últimas frases também são bastante enigmáticas: “Horas depois forcei a chave para 
entrar no apartamento dela. Por que não tentar desde logo o que eu não ousara 
formular até ali? Virei-me. O cão rosnava. Preparava sua fúria para me atacar”. Por 
que o cão rosnou para ele? Talvez porque ele não visitasse regularmente a sua mãe, 
e, portanto, o cachorro não estava familiarizado à sua presença. E o que ele não 
ousara formular até então? A ausência da mãe denunciada por todos os seus 
pertences sem ela por perto? Ou será que o cão é, na verdade, um animal metafórico 
que representa a dor da perda? Cabe ao leitor formular hipóteses e deduções e definir 
as suas preferidas. Quando terminamos o conto, podemos voltar ao seu início e ler de 
forma diferente as primeiras frases, já que a leitura e a interpretação não são atos 
cumulativos, e o que vem depois pode alterar nossa percepção do que veio antes: 
“lemos simultaneamente para trás e para frente, prevendo e recordando, talvez 
conscientes de outras concretizações possíveis do texto que a nossa leitura negou. 
Além do mais, toda essa complicada atividade é realizada em muitos níveis ao 
mesmo tempo, pois o texto tem ‘[...] segundos e primeiro planos’, diferentes pontos de 
vista narrativos, camadas alternativas de significado, entre as quais nos movemos 
constantemente [...]” (EAGLETON, 2006, p. 118). 
Em sua obra O ato de leitura, de 1978, Wolfgang Iser explana sobre a 
necessidade de o leitor dominar certas técnicas e convenções literárias para o 
entendimento de cada obra. Cada gênero possui suas marcas e precisamos estar 
mais ou menos familiarizados com elas, a fim de compreender um texto. No entanto, 
nunca deve haver, na literatura, uma adequação total entre os códigos das obras 
literárias e os conhecimentos e códigos do leitor, pois uma das funções do texto 
literário é o de constantemente desacomodar o leitor e suas crenças. “Para Iser, a 
obra literária mais eficiente é aquela que força o leitor a uma nova consciência crítica 
de seus códigos e expectativas habituais [...]” (EAGLETON, 2006, p. 119). 
 Quando a obra literária tem valor, ela deve violentar e transgredir o leitor e suas 
crenças. Assim, Iser afirma que, durante a leitura, o leitor deve ser flexível e manter a 
mente aberta, caso contrário, a literatura não poderá cumprir seu maior objetivo, que 
é modificar as crenças. Portanto, um leitor com fortes e rígidas convicções será um 
leitor inadequado. 
 
 
20 
 
 
 
Já para Hans Robert Jauss, o panorama histórico é muito importante para 
entendermos um texto literário e deve ser levado sempre em consideração: tanto o 
período histórico em que uma obra foi escrita quanto aquele em que é lido por cada 
leitor (EAGLETON, 2006). 
Isso porque o leitor é aquele que finalizará a escrita de um texto, pois é apenas 
após a sua interpretação que o texto fica completo, e, sendo assim, as especificidades 
do leitor e do período em que ele vive modificarão a leitura. A forma como uma obra 
é recebida em diferentes épocas é chamada de recepção histórica. Eagleton (2006, 
p, 126) explica: “[...] as obras literárias, em si mesmas, não permanecem constantes, 
enquanto as suas interpretações se modificam; os próprios textos e tradições literárias 
sofrem modificações ativas, de acordo com os vários horizontes históricos nos quais 
elas são recebidas [...]”. Por fim, o crítico americano Stanley Fish afirma que não 
existem textos literários de forma objetiva, já que é apenas quando leitor lê o texto que 
ele é completado. Nesse sentido, para Fish, o leitor é o verdadeiro autor, pois não há 
nada “dentro” da obra literária, e é o leitor que dá vida a ela, ou seja, é ele que atribui 
sentidos a ela. Entretanto, é importante frisar que nem todas as interpretações de um 
leitor em relação ao texto literário são válidas, na medida em que o autor cita algumas 
“estratégias de interpretação” que os leitores possuem em comum e que determinarão 
as suas leituras. Por isso, nossas interpretações não são completamente livres, 
apesar de conterem uma grande liberdade. A interpretação da literatura é muito mais 
livre do que a interpretação de textos não literários, que são textos com a tendência 
de serem objetivos ou, pelo menos, mais objetivos do que os literários (EAGLETON, 
2006, p. 121). 
 
 
21 
 
 
Fonte: www.super.abril.com.br 
 
O que devemos reter dessas teorias é a importância conferida por elas ao leitor, 
elemento que comumente ficava de fora dos estudos da literatura, mas que é 
fundamental para compreendermos a literatura enquanto fenômeno social. 
 
2.5 Novos rumos da teoria da Literatura 
 
Como você viu, na primeira metade do século XX, a teoria literária acabou 
ficando dividida entre duas linhas de trabalho: uma de caráter científico e a outra de 
caráter filosófico. A corrente filosófica partiu do princípio de que o fenômeno literário 
deveria ser pensado apenas no plano das ideias, pois uma obra, sendo uma realidade 
(um livro impresso, algo material), tem, no entanto, uma essência abstrata (o seu 
conteúdo). Essa essência, sendo abstrata, não poderia ser analisada objetivamente. 
Ao se considerar o conteúdo de uma obra, bem como seus valores artísticos, como 
abstratos, a essência do ato de criação dessa obra também é abstrata. O escritor é 
uma pessoa real, com sua biografia, com suas escolhas. Mas o processo criativo que 
produziu sua obra estava no seu interior, foi algo subjetivo com uma imensa 
complexidade psicológica e com infinitas incógnitas de toda espécie, sobre as quais 
só se pode pensar em termos filosóficos. Ao se definir, segundo a corrente filosófica, 
que a essência da obra e do autor são abstratas e, portanto, passíveis apenas de 
especulações, também se pode dizer isso de outros fatos literários. (WELLEK, 2003) 
 
22 
 
Por exemplo: 
 
 O leitor (dentro do qual se processa o ato recreativo e também subjetivo 
da obra), 
 O ambiente cultural de uma obra (constituído de sentimentos e de ideias); 
 E, por fim, a história literária (que é uma evolução desses sentimentos e 
ideias). Partindo de todos esses princípios, se definiu e se impôs a 
corrente da teoria literária chamada de filosofia da literatura. Em 
contrapartida a essa corrente filosófica surgiu, na mesma época, a 
corrente de estudos conhecida como ciência da literatura. Ela nasceu com 
o seguinte princípio: não há nada nos fatos literários que possa escapar 
a uma análise objetiva e científica. 
Partindo de todos esses princípios, se definiu e se impôs a corrente da teoria 
literária chamada de filosofia da literatura. Em contrapartida a essacorrente filosófica 
surgiu, na mesma época, a corrente de estudos conhecida como ciência da literatura. 
Ela nasceu com o seguinte princípio: não há nada nos fatos literários que possa 
escapar a uma análise objetiva e científica. (GERCKE, 2016). 
 
 
Fonte: www.avozdaserra.com.br 
 
 
23 
 
3 TEORIA DA LÍRICA 
3.1 Gênero Lírico 
O adjetivo “lírico” vem do nome da lira, instrumento musical utilizado pelos 
gregos para acompanhar seus cantos. Daí surgem também as expressões “poema 
lírico”, “poesia lírica”. Até o final da Idade Média, os poemas eram cantados, mas 
pouco a pouco foram afastando-se do acompanhamento musical, e o texto passou a 
ser mais trabalhado formalmente através da divisão estrófica, da medida dos versos 
e do esquema rímico. A rima vai surgir na literatura cristã e, segundo Emil Staiger 
(1974, p. 38), com o objetivo de substituir “a variedade métrica da lírica antiga, que vai 
aos poucos desaparecendo”. 
 
Fonte : www.provasdiscursivas.com.br 
 
Em relação ao conteúdo, a poesia lírica traz sempre um eu confessando suas 
emoções, seu estado de espírito. O lírico está associado ao emotivo, ao subjetivo. 
Hegel em sua Estética diz que o que se faz presente na poesia lírica é o sujeito a partir 
de suas experiências individuais. Dessa forma – continua pensando ele – o conteúdo 
da poesia lírica vem dos juízos subjetivos, das emoções, das alegrias, das dores, das 
angústias que, em determinado momento, ocupam lugar na consciência do poeta e 
em outro momento ocupam lugar na poesia que ele compõe. 
 
24 
 
O gênero lírico, diferentemente do narrativo, convida imediatamente o leitor a 
participar e mesmo a assumir o ato enunciativo, pois o uso da primeira pessoa do 
discurso é típico de grande parte das criações poéticas. Essa forma discursiva é 
responsável, muitas vezes, pela indistinção entre autor e sujeito lírico. (MELLO, 2001) 
Quando a voz lírica produz um enunciado de tendência descritiva ou narrativa 
em relação a algo que interessa ou diz respeito ao universo infantil, sem se assumir 
como criança ou seu porta-voz, fica mais difícil distinguir o destinatário do poema, 
podendo-se inferi-lo pelo tipo de percepção ou de avaliação que destila do discurso 
poético. (MEIRELLES, 1994, p. 723) 
O tempo do lírico é o da recordação, conforme Staiger, do sentir de novo uma 
emoção passada ou mesmo de sentir antecipadamente, no presente, algo que está 
para ocorrer. Recordar, como a própria etimologia da palavra indica - cor, cordis - 
alude ao reviver algo, no presente, com o sentimento do já vivido ou do por viver 
(STAIGER, 1970). 
 
3.2 O que é poesia lírica? 
Em diferentes contextos e situações, todo e qualquer indivíduo, letrado ou não 
letrado, produz e lê textos. Os textos são produzidos com diferentes intencionalidades 
e circulam entre interlocutores distintos. Eles assumem uma forma, uma finalidade e 
uma intencionalidade para compor o processo de comunicação. Ou seja, quando 
estão em jogo manifestações da linguagem e quando se concretiza uma mensagem, 
o que representa tal mensagem concretizada é o texto. O texto pode ser oral ou 
escrito. Também pode ser verbal, não verbal ou misto. Um texto não verbal, por 
exemplo, corresponde a uma pintura, a uma fotografia ou, até mesmo, ao tom de voz 
e aos gestos. (SPESSATO, 2019) 
 
25 
 
 
Fonte: www.mosqueteirasliterarias.comunidades.net 
 
Um texto misto é a fala humana. Nela, juntamente com a mensagem, há gestos 
e tom de voz. Outro exemplo é uma charge, em que figuras se conjugam com a escrita. 
Dentro das inúmeras possibilidades textuais, é interessante subdividir os textos em 
literários e não literários (ou informativos). Os textos literários correspondem à 
literatura, a obras ficcionais e ao uso de uma linguagem poética. Já os não literários 
têm uma finalidade bem específica: informar. Gonzaga (2007) simplifica essa 
dicotomia entre os dois tipos de texto com um exemplo bastante simples, porém 
esclarecedor: quando se resume o texto literário, perde-se o essencial; em 
contraponto, quando se resume o texto não literário, sobra o essencial. 
As obras literárias, assim como as não literárias, são classificadas em diferentes 
grupos, os quais correspondem à sua forma e à sua finalidade. Todo texto literário se 
encaixa em um grupo específico, em um gênero textual. A abordagem sobre gênero 
corresponde à finalidade e à forma de determinado texto. Convencionalmente, na 
literatura, há três grupos ou gêneros: o gênero épico, o gênero lírico e o gênero 
dramático. Segundo Reis (2014), essa é a tripartição tradicional dos gêneros desde a 
Antiguidade, mas recentemente (na Modernidade), fala-se também em modos do 
discurso, que são o modo narrativo, o modo lírico e o modo dramático. Assim, o modo 
narrativo pode incluir o gênero épico (as epopeias) e outros gêneros que envolvem 
tipos textuais narrativos, como romance, conto, etc. Já o modo lírico pode incluir 
 
26 
 
poemas, como sonetos, e o modo dramático pode incluir dramas, comédias, etc., ou 
seja, está relacionado ao teatro. 
O modo narrativo engloba as obras literárias que apresentam uma narrativa com 
narrador, enredo, personagens, tempo e espaço. Elas podem se apresentar em forma 
de poema, ou seja, ser escritas em verso, como Ilíada e Odisseia, ou em forma de 
prosa, como em contos ou romances. Já o modo dramático é aquele que imita a 
realidade ou que cria mundos possíveis a partir do real por meio de personagens em 
ação, ou seja, trata-se de peças de teatro, por exemplo. A representação desse 
gênero se manifesta tanto em tragédias quanto em comédias e, mais moderadamente, 
em dramas. As peças de William Shakespeare são exemplos. No modo lírico, o eu 
lírico registra, principalmente, a sua subjetividade, seus pensamentos e as suas 
emoções. A poesia lírica ou poema lírico é a forma como a obra se apresenta. Na 
concepção clássica, enquanto textos em prosa ou em verso possuem estruturas 
textuais distintas ligadas à literatura, a poesia pode se apresentar em outros tipos de 
manifestações artísticas (como poemas, pinturas, fotografias, etc.), chamadas, então, 
de poéticas. A concepção de poesia se resume à representação do sentido, e a do 
poema, à representação da forma. A poesia representa a esfera abstrata da arte, 
enquanto o poema é apenas uma de suas manifestações. Assim como uma pintura 
ou uma fotografia são manifestações poéticas, o poema também o é. Atualmente, na 
esfera literária, é possível fazer referência a poema lírico e poesia lírica como 
sinônimos. (SPESSATO, 2019) 
A poesia lírica é organizada em versos e estrofes. O seu conteúdo carrega um 
caráter subjetivo bastante marcante. Esse tipo de gênero, portanto, apresenta obras 
com marcas salientes de subjetividade, com uma intensidade emotiva bastante 
significativa. Os versos se caracterizam, normalmente, por efeitos rítmicos e sonoros, 
e a linguagem é original e sugestiva. Todas essas características possuem como 
principal objetivo despertar a emoção no receptor. Na poesia infantil, o receptor deve 
ser visto como o principal motivador da forma e do sentido de um poema. Ou seja, 
uma boa poesia infantil deve fazer sentido, ter um significado para os seus leitores. 
No Quadro 1, veja a divisão clássica dos gêneros literários a partir da Antiguidade. 
Atualmente, em geral, não se vê mais o romance ou o conto como subgêneros, por 
exemplo, mas como gêneros. 
 
 
27 
 
 
 
3.3 Subjetividade 
 
Como você viu, uma das definições mais pontuais da poesia lírica — que não 
abrange tanto a forma, e sim o conteúdo — é a subjetividade. A subjetividade é algo 
que depende da visão de cada pessoa, é a interpretação que cada indivíduo tem sobre 
determinado aspecto. Ou seja, é inquestionável que o poeta lírico expressa o seu 
mundo subjetivo. O poema lírico, para Gonzaga (2007), se constitui pelo 
extravasamento da alma. Portanto, o que acentua a diferença entre ele e asoutras 
manifestações é o seu objetivo e a sua emoção: a poesia lírica centra-se no registro 
das emoções. 
 
 
28 
 
 
Fonte: www.revistacult.uol.com.br 
 
No entanto, é importante ressaltar que a subjetividade em si não é suficiente 
para caracterizar uma poesia lírica. Por mais que se saiba da importância da marca 
do “eu”, ela sozinha não caracteriza um gênero. Caso caracterizasse, todos os dias, 
quando alguém expressasse os seus sentimentos, estaria fazendo um poema. Dessa 
forma, ao caracterizar uma poesia lírica, você deve atentar não somente ao sentido 
do poema, mas também à sua forma e à sua linguagem. Ou seja, a expressão poética 
perpassa o sentido literário, pois carrega consigo a beleza e a criatividade formal. 
(SPESSATO, 2019) 
 
3.4 Lírica Moderna 
Há diferenças pelo que se entende por poesia, se considerada a partir de escolas 
tradicionais ou mais recentes. Há também uma divisão que ocorre entre a poesia 
chamada “moderna” e a contemporânea. (FERREIRA, 2017) 
Segundo Ferreira (2017), a poesia é um gênero textual rico na produção de 
sentidos. Atualmente, não é necessário o uso de rimas, de métrica, de linguagem 
rebuscada na sua construção. Essas características começaram a ser modificadas no 
Romantismo e passaram quase a ser mais visíveis no século XX. 
 
 
29 
 
 
 
Com o romantismo, os temas do EU, da consciência, do sonho, e do símbolo 
passam a ser objetos da escrita literária. A obra de arte romântica mantém o foco em 
uma parte secreta do EU, é voltada para o íntimo. Entre o Romantismo e a poesia da 
primeira metade do século XX, mais do que a retomada de temas e ideias, existe uma 
abordagem espiritual. A lírica moderna tem suas raízes no Romantismo, momento em 
que os poetas tomam consciência de que a vida não poderia ser explicada por meio 
de mecanismos racionais, pois o universo é algo muito mais misterioso e imprevisível, 
mas encontrou sua plenitude com o Simbolismo. (FERREIRA, 2017) 
Um dos principais nomes do Simbolismo foi o de Charles Baudelaire (1985), que 
escreveu obras como As Flores do Mal em 1857. Esta trata de temas avessos ao 
clássico belo, buscado pelos poetas parnasianos, e se debruça sobre a melancolia, o 
feio, a hipocrisia, entre outros. Os poetas simbolistas consideram o símbolo como 
recurso para expressar o vago e multiforme mundo interno do ser humano, e suas 
indagações sobre os mistérios cósmicos. A linguagem simbólica na lírica moderna é 
o recurso que estabelece, ao mesmo tempo, como presença e ausência, algo que não 
é possível captar, o mistério, cuja realidade só pode ser pressentida. Para os 
românticos e para os simbolistas, o símbolo está conectado ao mistério. (REIS, 1999) 
 
 
30 
 
 
Fonte: www.atoresnomercado.com.br 
 
Uma das possibilidades do símbolo, nesse movimento, é que pode conectar, por 
meio da palavra, a realidade concreta com um sentido mais abstrato. Assim, é possível 
dizer muito, ou deixar muito implícito, a partir de poucas palavras. Essa prática pode 
ser vista na obra do poeta Stéphane Mallarmé, conhecido por textos como Lance de 
dados, de 1897. Em sua obra mais tardia, também explora a relação entre forma e 
conteúdo, liberando o poema de sua disposição tradicional (vertical, em versos) e 
distribuindo-o diferentemente no espaço da página. (FERREIRA, 2017) 
A partir dessas características, é possível identificar uma espécie de meditação 
nas duas principais correntes da poesia moderna da primeira metade do século XX: 
 
 Uma poesia de introspecção que privilegia o fechamento do texto, 
convivendo e problematizando com a ideia de uma dimensão 
transcendente, inacessível pelas vias racionais; 
 E uma poesia mais voltada para a realidade exterior, itinerário de 
interpretação do eu e do mundo, marcada pela abertura do texto. 
 
As bases da Modernidade encontram-se no movimento romântico que, na sua 
reação ao Classicismo, opõem à rigidez da delimitação dos gêneros literários. A maior 
liberdade no tratamento dos gêneros leva a uma profunda mudança no conceito de 
lírica. (FERREIRA, 2017) 
 
 
31 
 
3.5 Mudanças no conceito de lírica 
Há muito que a lira, instrumento musical de cordas, deixou de acompanhar as 
composições poéticas, mas o gênero lírico, dentro das configurações clássicas, 
perdura. Pode-se dizer que os ensinamentos aristotélicos preconizados pela célebre 
e milenar Poética só sofreram uma ruptura realmente significativa no século XX, 
quando se estabeleceu o que se convencionou classificar como lirismo moderno com 
o seu distanciamento da subjetividade. (FERREIRA, 2017) 
A despersonalização é um dado fundamental a compreensão da nova lírica: a 
linguagem poética assume um caráter experimental, pois o “eu-lírico”, representante 
maior dos sentimentos, entra em conflito com um outro “eu” que se mostra mais 
racional, mesmo frente à poesia. (CAMPOS, 1977) 
Segundo FERREIRA (2017), o poema passa a ser visto não mais como fruto de 
uma inspiração, mas como resultado de uma atitude consciente aliada a sensibilidade 
do poeta. Essas mudanças geram reflexões sobre o próprio fazer poético e refletem-
se no caráter metalinguístico da poesia moderna. 
Haroldo de Campos (1977) diz que essa metalinguagem pode manifestar-se de 
dois modos: 
 O “sério-estético”, como em Mallarmé; 
 E o paródico, humorístico e irônico. 
 
Nos dois modos a estrutura da obra é revelada, desautomatizando a percepção 
do leitor, que passa a recorrer a uma leitura ativa. Outro aspecto da lírica moderna é 
a dissonância, percebida por traços de tensões formais que querem ser entendidos 
como tais. Essa tensão dissonante pode levar a uma multiplicidade de significações 
no poema, o que, novamente, cobra do leitor uma postura ativa. Também é uma das 
responsáveis pela constante presença do insólito na licenciatura moderna. (CAMPOS, 
1977) 
Outra manifestação da dissonância está no fato das grandes metrópoles 
representarem para o poeta a decadência do homem e também uma beleza 
fascinante e misteriosa. Na lírica moderna a transcendência da realidade é indefinida, 
uma espécie de fantasia vazia. (FERREIRA, 2017) 
 
32 
 
 A rejeição do tradicional leva o poeta moderno a procurar a beleza na surpresa, 
no inesperado, no feio. A modernidade em si é paradoxal: em alguns casos manifesta-
se em uma poesia hermética, beirando o incompreensível, e em outros apresenta-se 
com despojamento e simplicidade, trazendo, com frequência, elementos da linguagem 
prosaica. (FERREIRA, 2017) 
 
 
Fonte: www.estadodaarte.estadao.com.br 
 
Hugo Friedrich (1978), em seu livro Estrutura da lírica moderna, tece 
interpretações sobre a obra dos poetas que, para ele, constituem a base da lírica 
moderna (Baudelaire, Rimbaud e Mallarmé). A partir deles, enumera-se as principais 
características de um novo lirismo que, de fato, afasta-se das qualidades clássicas da 
lírica, entre as quais estão a despersonalização, a desumanização e a obscuridade. 
Essas qualidades distanciam o conceito moderno do conceito clássico por desprende-
lo da subjetividade e expressividade. 
 
 
33 
 
3.6 Características da lírica moderna 
Ainda na segunda metade do século XIX, com os poetas simbolistas Baudelaire, 
Rimbaud e Mallarmé, a poesia moderna passa por uma transformação, em que 
algumas regras de convenção são rompidas. (FERREIRA, 2017) 
A poesia acontece pela recriação contínua da linguagem, o que equivale a um 
rompimento da composição tradicional, das regras gramaticais e da ordem do 
discurso. Ocorre uma renovação, uma ruptura com o antigo. Quanto ao ritmo na 
poesia, este passou a ser libertado com a instituição dos versos livres com a revolução 
na linguagem poética. O ritmo passou a ser mais adequado a fluidez dos sentidos 
representados, fugindo não apenas dos métodos convencionais de metrificação, mas 
também aderindo ao propósito de motivar o discurso poético de forma imprevisível e 
inteiramente livre. (REIS, 1999,p.331) 
Segundo FERREIRA (2017), a lírica moderna contrasta a simplicidade da 
exposição daquilo que é exposto, trazendo uma incompreensibilidade que causará 
tensão naquele que a lê, pois, à medida que sua obscuridade fascina o leitor, o fato 
de não compreender o desconcerta. Por isso a dissonância, como você viu, é uma 
das características da lírica moderna. 
Na poesia moderna, a realidade é transformada e, como a realidade do mundo 
é constituída pela linguagem, é esta que sofre transformações. Das três maneiras 
possíveis de comportamento da composição lírica – sentir, observar, transformar – é 
esta última que domina na poesia moderna, tanto no que diz respeito ao mundo como 
a língua. (FRIEDRICH, 1978, P. 17) 
Assim, podemos citar três tendências da lírica moderna: 
 
 A poetização do não – poético; 
 O processo de despersonalização; 
 E o hibridismo dos gêneros literários. 
 
Baudelaire é considerado um dos precursores da modernidade, pois foi o 
primeiro a cantar a paisagem moderna do século XX, as cidades na fase inicial da 
modernização, a multidão, os pobres, os excluídos e as prostitutas, o tédio da chuva 
e os becos ao amanhecer, e decadência e a corrupção que assolam o homem 
 
34 
 
moderno. A poetização do apoético, de temas cotidianos, provoca um efeito de 
choque no leitor acostumado a uma poesia de moldes românticos e parnasianos. 
(FERREIRA, 2017) 
O leitor da poesia moderna não está acostumado com as inovações temáticas e 
expressivas que caracterizam a lírica do século XX, produzida um uma sociedade pós-
segunda guerra mundial. (FRIEDRICH, 1978, P. 17) 
A lírica moderna se faz no que a sociedade despreza. Como o heroísmo épico 
não encontra lugar na sociedade moderna, o poeta busca seu heroísmo no obscuro 
das metrópoles, poetizando aquilo que até então não foi poetizado, isto é, o material 
apoético. (FERREIRA, 2017) 
 
 
Fonte: www.revistacult.uol.com.br 
 
O poeta moderno exalta o que é feio, troca o que é belo pelo que causa 
estranhamento. O feio que se encontra nos becos, na periferia da metrópole é a 
matéria prima da lírica moderna. O poeta traz para o âmbito da poesia o grotesco ao 
invés do que é considerado belo pela sociedade. A nova “beleza”, que pode ser 
coincidir com o feio, inquieta porque “[...] absorve o banal e deforma em bizarro [...]”, 
o espantoso com o doido [...]” (FRIEDRICH, 1978, P. 17). 
É necessário ressaltar que uma das características da lírica moderna é a 
miscigenação dos gêneros, havendo a predominância de traços estilísticos de um 
determinado gênero sobre outro. Para classificar uma obra segundos suas 
 
35 
 
características formais, utilizam-se termos como “Épica”, “Lírica” e “Drama”. Já os 
adjetivos “líricos”, “épico” e “dramático” são termos que designam as qualidades das 
quais uma obra pode ou não se apropriar. Designa, desse modo, a essência, os 
fenômenos estilísticos do lírico, do épico e do dramático. (REIS, 1999, p.331) 
A partir desse movimento, na literatura, ocorre uma intercomunicação dos 
gêneros. Como isso, a teoria clássica dos gêneros literários passa a ser contestada. 
Segundo alguns estudiosos, não há nenhum gênero “puro” (puramente lírico, por 
exemplo), mas uma interação, uma inter-relação entre os gêneros literários. Assim, as 
obras poéticas podem apresentar características de todos os gêneros. A partir, da 
predominância de um sobre os outros é que será compreendida como lírica, épica ou 
dramática. (FERREIRA, 2017) 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
4 TEORIA DA NARRATIVA 
4.1 Gênero Narrativo 
Desde o surgimento da humanidade, as histórias são contadas sob a forma de 
narrativas, que são práticas linguísticas e culturais presentes no cotidiano de todas as 
populações. É por meio das histórias que o ser humano se representa e constrói sua 
memória. Nos dias atuais, o processo de contação de histórias é midiatizado, ou seja, 
é transmitido, distribuído ou recebido pelos meios de comunicação. Com o surgimento 
da escrita, o que antes era função exclusiva da oralidade, passou a ser eternizado e 
construído para ser consumido por muitos. (JUSKI, 2020) 
 
 
 
O processo narrativo não é algo exclusivo da literatura; áreas como o jornalismo 
e a publicidade se apropriam das estruturas narrativas para desenvolver suas 
atividades e se aproximar do público, seja leitor ou consumidor. (JUSKI, 2020) 
Segundo Reis e Lopes (1988), não existe um consenso sobre a definição de 
narrativa; ela pode ser compreendida como um enunciado, como um conjunto de 
conteúdos representados por esses enunciados ou como o ato de relatar e contar 
histórias. Segundo o Dicionário Aurélio, referindo-se ao gênero narrativo, em especial 
na literatura, que compreende as modalidades lírico, narrativo e dramático, a narrativa 
é definida como a “exposição de um acontecimento ou de uma série de 
acontecimentos mais ou menos encadeados, reais ou imaginários, por meio de 
palavras ou de imagens”. 
Para que se estude mais a fundo o conceito de narrativa e os elementos que a 
compõem, cabe mais uma vez retornar à Arte Poética de Aristóteles (1995). Lá, o 
filósofo afirma que a “arte poética” (as artes em geral) é realizada por meio da 
 
37 
 
disposição do ritmo, da linguagem e da harmonia. Ele distingue diferentes gêneros 
que exploravam, cada um a seu modo, certos elementos. Alguns gêneros abordados 
por Aristóteles não são mais praticados, como o ditirambo (um canto coral entusiástico 
e exuberante dirigido aos deuses), mas outros gêneros, como a epopeia e o teatro, 
ainda hoje podem ser estudados segundo os critérios aristotélicos. Assim, é possível 
afirmar que o filósofo deu muitas contribuições para as teorias das artes que você 
estuda atualmente. É dele, por exemplo, o conceito de catarse e a divisão dos gêneros 
miméticos em função dos meios narrativo e dramático. 
 
 
 
A narração é um tipo textual que se constitui a partir de uma história. Nela, 
alguém conta um fato, fictício ou não, que ocorreu em determinado tempo e lugar e 
envolveu dadas personagens (MARCUSCHI, 2003). 
Na concepção de Travaglia (2002), o tipo narrativo objetiva contar, dizer os fatos, 
os acontecimentos, entendidos como os episódios, a ação em sua ocorrência. Uma 
de suas marcas linguísticas de destaque é, de acordo com o estudioso, ter o 
interlocutor como o assistente, o espectador não participante, que apenas toma 
conhecimento, se inteira do(s) episódio(s) ocorrido(s). Pode haver ou não coincidência 
entre o tempo da enunciação e o referencial, podendo o da enunciação ser posterior, 
simultâneo ou anterior. 
4.2 Caracterização do gênero narrativo 
O hábito de contar histórias acompanha o ser humano há muitos séculos. Nesse 
contexto, se pode afirmar que a narrativa surgiu da necessidade de criar uma certa 
 
38 
 
unidade para essas histórias. Assim, as narrativas desempenham a função de 
oferecer um certo ordenamento, uma forma no tumulto da experiência humana. 
(HOFF, 2017) 
A narrativa literária, por sua vez, é caracterizada pela dinamicidade, pela 
objetividade e por vezes pela subjetividade, mescladas às ações que se apresentam. 
O texto narrativo é um sistema complexo e imprevisível de possibilidades 
interpretativas, que trabalha continuamente com o real e o imaginário. A partir das 
situações vividas pelas personagens, a narrativa aproxima realidade e representação 
de fatos, lidando continuamente com o possível e o impossível. Assim, a narrativa tem 
por objetivos, além de relatar, produzir informação, aprendizado e/ou entretenimento. 
Nesse sentido, o leitor pode se apropriar dos sentidos que ecoam da narrativa até se 
identificar com o que está lendo. (HOFF, 2017) 
Segundo HOFF (2017), A narrativa se estrutura conforme uma rede de relações 
entre os seguintes elementos essenciais: 
 
 Enredo: aqui se fundamentam e se desenvolvem as ações da estrutura da 
narrativa. 
 Personagens: executam as ações. Dividem-se em protagonista(personagem 
principal), coadjuvantes (personagens secundárias) e antagonista 
(personagem que se opõe à personagem principal). 
 Narrador: relata os fatos. Existem vários tipos de narradores: narrador- -
personagem, narrador-observador, narrador onisciente, entre outros. A 
identificação do narrador depende da perspectiva adotada perante os fatos 
narrados: basicamente, ou o narrador participa da história ou é somente um 
espectador. 
 Tempo: momento ou época em que acontecem os fatos. O tempo poderá ser 
cronológico (linear) ou psicológico (não linear). 
 Espaço: local ou cenário onde se desenrolam os fatos narrados. 
 
39 
 
4.3 Tipos de narrativa 
Você já viu que o gênero narrativo serve para contar histórias e é estruturado conforme 
alguns elementos. Segundo HOFF (2017), as definições de alguns dos principais tipos 
de narrativa. 
 Epopeia: longo poema narrativo, de tom solene e elevado. O tema da epopeia, 
ao contrário daqueles dos demais tipos de narrativa, é limitado, tratando 
sempre de um assunto heroico e nacional. Constitui a primeira modalidade 
narrativa criada e é escrita em verso. Seus exemplos máximos são Ilíada e 
Odisseia, de Homero. 
 Romance: narrativa longa que envolve um número considerável de 
personagens (em relação à novela e ao conto), bem como um maior número 
de conflitos e tempo e espaço mais dilatados. Embora haja romances que 
datem do século XVI (D. Quixote de La Mancha, de Cervantes, por exemplo), 
esse tipo de narrativa se consagrou sobretudo no século 19, assumindo o papel 
de refletir a sociedade burguesa, e vem se renovando desde então. 
 Novela: tipo mais curto de romance, ou seja, tem um número menor de 
personagens, conflitos e espaços, ou os tem em igual número ao romance, com 
a diferença de que na novela a ação no tempo é mais veloz. Um exemplo de 
novela seria Max e os felinos, de Moacyr Scliar, na qual o personagem central, 
Max, vive muitas aventuras. 
 Conto: narrativa mais curta que tem como característica central condensar 
conflito, tempo e espaço, bem como reduzir o número de personagens. O conto 
é um tipo de narrativa tradicional, isto é, já adotada por muitos autores nos 
séculos XVI e XVII, como Cervantes e Voltaire. Atualmente tem adquirido 
atributos diferentes, como deixar de lado a intenção moralizante e adotar o 
fantástico ou o psicológico para elaborar o enredo. 
 Crônica: texto curto, leve, que geralmente aborda temas do cotidiano. É um 
texto híbrido, que pode ter diferentes funções além de narrar, como contar, 
comentar, descrever e analisar. 
 
40 
 
4.4 Foco narrativo 
Analisar os tipos de narrador, embora essencial para os estudos literários, não 
se trata de uma tarefa simples. O estudo do foco narrativo pode ser definido como um 
problema técnico da ficção que supõe fazer algumas perguntas fundamentais, 
sintetizadas por Lígia Chiappini em O foco narrativo (LEITE, 1985): 
 
1. Quem conta a história? Trata-se de um narrador em primeira ou em terceira 
pessoa; de uma personagem em primeira pessoa; ou não há ninguém 
narrando? 
2. De que posição ou ângulo em relação à história o narrador conta (por cima, na 
periferia, no centro, de frente, ou mudando)? 
3. Que canais de informação o narrador usa para comunicar a história ao leitor? 
(Palavras? Pensamentos? Percepções? Sentimentos? Do autor? Da 
personagem? Ações? Falas do autor? Da personagem? Ou uma combinação 
disso tudo?) 
4. A que distância ele coloca o leitor da história? (Próximo? Distante? Mudando?) 
Após coletar tais propriedades da narração, você pode adotar uma tipologia 
básica de narradores para caracterizar o foco narrativo empregado. Uma 
tipologia interessante é a de Norman Friedman (2002), apresentada no famoso 
ensaio O ponto de vista na ficção. 
 
 Friedman (2002) vai elencar as seguintes classificações: 
 
Autor onisciente intruso: esse tipo de narrador tem a liberdade de narrar à 
vontade, de se colocar acima ou atrás, adotando um ponto de vista divino para 
além dos limites de tempo e espaço. Pode também narrar da periferia dos 
acontecimentos, ou do centro deles, ou ainda se limitar a narrar como se 
estivesse de fora, ou de frente, podendo, inclusive, mudar e adotar 
sucessivamente várias posições. Como canais de informação, predominam 
suas próprias palavras e seus pensamentos e percepções. Seu traço 
característico é a intrusão, ou seja, seus comentários sobre a vida, os 
costumes, os caracteres, a moral, que podem ou não estar entrosados com a 
história narrada. 
 
41 
 
 
Narrador onisciente neutro: narrador em terceira pessoa que, embora 
semelhante no modo de narrar (ângulo, distância, canais) ao autor onisciente 
intruso, se distingue pela ausência de instruções e comentários sobre temas 
gerais ou mesmo sobre o comportamento das personagens. Apesar disso, sua 
presença, se interpondo entre o leitor e a história, é sempre muito clara. 
 
“Eu” como testemunha: narra em primeira pessoa, mas é um “eu” já interno 
à narrativa. Ele vive os acontecimentos aí descritos como personagem 
secundária que pode observar, desde dentro, os acontecimentos. Portanto, os 
oferece ao leitor de modo mais direto, mais verossímil. No caso do “eu” como 
testemunha, o ângulo de visão é, necessariamente, mais limitado. Como 
personagem secundária, ele narra da periferia dos acontecimentos, sem 
conseguir saber o que se passa na cabeça dos outros; ele pode apenas inferir, 
lançar hipóteses, se servindo também de informações, de coisas que viu ou 
ouviu e, até mesmo, de cartas ou outros documentos secretos que tenham 
caído em suas mãos. Quanto à distância em que o leitor é colocado, pode ser 
próxima ou remota, ou ambas, porque esse narrador tanto sintetiza a narrativa 
quanto a apresenta em cenas. Nesse caso, sempre narra as cenas como as 
vê. 
Narrador-protagonista: O narrador, personagem central, não tem acesso ao 
estado mental das demais personagens. Narra de um centro fixo, limitado 
quase que exclusivamente às suas percepções e aos seus pensamentos e 
sentimentos. 
Onisciência seletiva múltipla: não há propriamente narrador. A história vem 
diretamente da mente das personagens, das impressões que fatos e pessoas 
deixam nelas. Difere da onisciência neutra porque agora o autor traduz 
detalhadamente os pensamentos, percepções e sentimentos, filtrados pela 
mente das personagens – enquanto o narrador onisciente os resume depois de 
terem ocorrido. O que predomina no caso da onisciência múltipla, como no caso 
da onisciência seletiva que vem logo a seguir, é o estilo indireto livre, ao passo 
que na onisciência neutra o predomínio é do estilo indireto. Os canais de 
informação e os ângulos de visão podem ser vários, nesse caso. 
 
42 
 
Onisciência seletiva: Essa é uma categoria semelhante à anterior, mas que 
recai sobre uma só personagem, e não muitas. É, como no caso do narrador-
protagonista, a limitação a um centro fixo. O ângulo é central, e os canais são 
limitados aos sentimentos, pensamentos e percepções da personagem central, 
sendo mostrados diretamente. Além desses, Friedman aponta para tipos de 
narração que acontecem com a exclusão tanto do autor quanto do narrador. 
Isso ocorre quando se eliminam os estados mentais e se limita a informação ao 
que as personagens falam ou fazem – como no teatro –, com breves notações 
de cena amarrando os diálogos. Assim, surgem os tipos modo dramático e 
câmera. 
Modo dramático: Em virtude da eliminação da figura presente do narrador ou 
da voz narrativa, nesse tipo narrativo cabe ao leitor deduzir as significações a 
partir dos movimentos e das palavras das personagens. O ângulo é frontal e 
fixo, e a distância entre a história e o leitor, pequena, já que o texto se faz por 
uma sucessão de cenas. Trata-se de uma técnica dificilmente sustentável em 
textos longos. 
Câmera: Significa o máximo em matéria de “exclusão do autor”. Essa categoria 
serve àquelas narrativas que tentamtransmitir flashes da realidade como se 
fossem apanhados por uma câmera, de modo arbitrário e mecânico. 
 
 
43 
 
 
4.5 A narratologia e seus pressupostos fundamentais 
A narratologia, tal como definida por Mieke Bal (1977, p. 4), teórica cultural 
holandesa, é “[...] a ciência que procura formular a teoria dos textos narrativos na sua 
narratividade”. Assim, a narratologia, ou teoria da narrativa, é a área de estudo que 
busca explicar o funcionamento dos textos narrativos. Mas o que são textos 
narrativos? Para chegarmos a essa resposta, podemos primeiro pensar nas narrativas 
existentes no mundo, que são inúmeras. O mito, a lenda, a fábula, o romance, o conto, 
a novela, as histórias em quadrinhos, os filmes cinematográficos são todos exemplos 
de textos narrativos. 
O conceito de texto aqui é entendido como discurso, um exemplo 
empiricamente atestado de linguagem, conforme a definição do linguista Émile 
Benveniste (1995): o discurso é expressão da língua como instrumento de 
 
44 
 
comunicação. Então, o que todos esses textos têm em comum que os torna textos 
narrativos? A sua narratividade e a sua forma de veiculação da informação, da história, 
entre quem conta a história e quem a lê, ouve ou vê. Todos esses textos narrativos 
citados fazem parte da tipologia textual narrativa, que tem características discursivas 
bem marcantes. Nas narrativas, necessariamente transmite-se uma mensagem, que 
está inserida em um tempo específico, elaborada de modo que o receptor consiga 
entendê-la. Essa mensagem possui um estado inicial e progride até o desfecho, ainda 
que nem todas as narrativas comecem de forma cronológica pelo primeiro 
acontecimento. Algumas narrativas são feitas “in medias res”, isto é, começam pelo 
meio da história, por um acontecimento importante, como a morte de alguém, e o 
narrador volta ao início de tudo, quando o personagem ainda não havia morrido, para 
contar como a história se desenrolou. 
 
 
Fonte: www.aberje.com.br 
 
A mensagem do texto narrativo é emitida pelo narrador, que conta a história, e 
captada pelo receptor do texto, o narratário, mas só é compreendida e interpretada 
pelo leitor real, a pessoa que faz a interpretação dessa mensagem olhando o todo: o 
que foi enunciado e como foi enunciado. A narratologia, então, é a teoria que busca 
sistematizar as técnicas, os métodos e os modos de transmissão e recepção dos 
 
45 
 
textos narrativos, e busca explicar teoricamente as maneiras como nós, receptores, 
entendemos narrativas literárias e não literárias. Segundo Reis e Lopes (1988), a 
narratologia não se limita à análise de textos narrativos literários, pois estuda a 
narrativa de um modo geral, englobando a análise de textos narrativos não literários, 
ainda que os textos literários tenham sido privilegiados ao longo da construção da 
teoria da narrativa. 
Além da ficcionalidade, outra característica primordial da linguagem literária é 
estética, preocupada com efeitos de sentido. Ela é selecionada pelo autor, que pode 
utilizar metáforas e outras figuras de linguagem, e pode ter como um de seus objetivos 
a fruição do texto pelo leitor. Apesar de poderem ser de ficção e sobre mundos 
alternativos, inventados, as obras literárias precisam ter verossimilhança. Não 
necessariamente o que está sendo contado, declamado ou lido necessita existir no 
mundo real, mas a história inventada requer verossimilhança, isto é, lógica interna: o 
que ocorre no interior da história deve fazer sentido naquele mundo interno ao texto. 
Em resumo, a narrativa literária é um tipo de texto específico que faz parte do conjunto 
de textos literários. Aqui, o termo texto é entendido como discurso, segundo Bakhtin 
(1992, p. 279): “[...] tipos relativamente estáveis de enunciados produzidos nas 
diferentes esferas da atividade humana”. Assim, um texto, seja literário ou não, é 
entendido como uma maneira pela qual a linguagem pode ser posta em prática nas 
relações humanas. Ambos tipos de textos, literários e não literários, podem ser 
escritos ou não. Um poema declamado, por exemplo, é um texto literário oral. Apesar 
do termo literalidade ser uma hipótese válida para distinguir a literatura de outras 
formas de discurso, é possível argumentar que ela varia de época para época e de 
leitor para leitor. Assim, o que é considerado linguagem literária varia e, por isso, 
surgem disputas relativas à classificação de certos textos como literatura. Não há uma 
regra única que determine se um texto é ou não literário, porque essa decisão 
depende da sua recepção (pelo público, pela crítica, em manuais, etc.). Seja como 
for, o Quadro 1 nos ajuda a visualizar e a entender possíveis diferenças entre textos 
literários e textos não literários. 
 
 
46 
 
 
 
4.6 Pressupostos fundamentais — as narrativas e a narratividade 
A narratologia nasceu da relação com duas outras abordagens teóricas e 
metodológicas: o estruturalismo e a semiótica. Embora seja uma área de estudo da 
literatura, teve seu ponto de início gerado devido à necessidade de contraponto à 
linguística estruturalista. (TEIXEIRA, 2011) 
Roland Barthes, em 1966, em seu artigo publicado no número 8 da revista 
Communications, número que inaugurou as discussões sobre a teoria da narrativa, 
aponta a necessidade de reconhecimento de níveis de análise da linguagem acima 
da frase, o nível do discurso, como uma unidade que demanda estudo sistemático. 
Segundo a crítica de Barthes, a linguística estruturalista se concentrava na explicação 
de objetos linguísticos menores, como fonemas e morfemas, e não avançava do nível 
da frase. Assim, desse confronto e desejo de expansão surgiu a análise da narrativa, 
da narrativa como discurso, texto complexo, com características particulares. 
Em 1969, Tzvetan Todorov, ao publicar seu livro Grammaire du Décameron, 
utiliza pela primeira vez o termo “narratologia” quando afirma que sua obra literária é 
uma narrativa e sua análise faz parte de uma ciência chamada narratologia. Vinda, 
 
47 
 
portanto, da linguística estruturalista, corrente teórica vigente na época, a narratologia 
analisa a estrutura subjacente aos textos narrativos e traz conceitos comuns a todas 
as narrativas, conforme veremos mais adiante neste capítulo. Antes disso, 
examinemos os pressupostos fundamentais de um texto narrativo segundo a 
narratologia. O termo narrativa tem concepções diversas, mas duas em especial são 
sempre confrontadas na teoria da narrativa. 
 
 
Fonte: www.conceptodefinicion.de.com.br 
 
A primeira concepção é da narrativa como um processo de enunciação, como 
o ato de relatar algo, e a segunda concepção é da narrativa como resultado dessa 
enunciação, como produto do que foi narrado (REIS; LOPES, 1988). A primeira 
concepção é mais utilizada pela narratologia e tem consequências para a análise dos 
diferentes tipos de estrutura e operações que podem emergir nas narrativas. 
 Assim, a narrativa é entendida como algo que não é estático, como uma “[...] 
prática interativa (relação narrador/narratário), uma comunicação narrativa” (REIS; 
LOPES, 1988, p. 66). Essa primeira concepção abre espaço para a consideração de 
Reis e Lopes (1988) sobre a narrativa não ser imune a atitudes de valoração, como 
ideologias e comportamentos éticos, que surgem principalmente da subjetividade do 
 
48 
 
narrador, evidenciado, segundo os autores, “[...] o caráter pluridiscursivo da 
enunciação narrativa” (REIS; LOPES, 1988, p. 60). 
Por outro lado, a segunda definição também é utilizada para se analisar os 
textos narrativos, que são histórias com tempo e espaço definidos, nas quais eventos 
e ações de personagens acontecem. Essa história, então, chega ao leitor por meio de 
um código, uma linguagem específica. Desse modo, tanto a relação comunicativa 
entre quem conta a história e quem a lê/ouve/vê (conforme a primeira definição) 
quanto o próprio produto dessa comunicação, o

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