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ELETRÔNICA DE POTÊNCIA Ruahn Fuser Dispositivos e circuitos de controle Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer as características dos dispositivos e circuitos de controle. � Determinar as vantagens do uso dos dispositivos e circuitos de controle. � Relacionar os componentes que fazem parte dos dispositivos e cir- cuitos de controle. Introdução Primeiro, é importante saber que cada interruptor eletrônico (SCR, TRIAC, IGBT, BJT, etc) possui características construtivas particulares e, por isso, necessita de estratégias específicas para controle. Os circuitos básicos de controle para dispositivos de potência são encontrados com propó- sitos direcionados e muitas vezes utilizam-se de componentes especiais. Além disso, há no mercado alguns circuitos integrados (CI’s) dedicados para alguns interruptores, os quais facilitam a manipulação de circuitos complexos de potência. Neste capítulo, você vai encontrar alguns dispositivos utilizados para controlar as chaves eletrônicas, tanto para tiristores quanto para transis- tores de potência. Tais dispositivos serão posteriormente aplicados em circuitos básicos com o objetivo de qualificar as aplicações e conceituar os obstáculos na manipulação dos interruptores de potência. Por fim serão abordados alguns circuitos integrados dedicados ao controle de comu- tação dos elementos de potência para o condicionamento de energia. Dispositivos de controle É comum o emprego de alguns dispositivos específicos no disparo de tiristores, tais como o retificador controlado de silício (SCRs, do inglês, Silicon controlled rectifier) e o tríodo para corrente alternada (TRIACs, do inglês, Triode for alternating current). Esses dispositivos serão caracterizados neste capítulo. Diodo para corrente alternada O dispositivo conhecido como diodo para corrente alternada (DIAC, do inglês, Diode for alternating current), é muito utilizado para o controle de TRIACs. Para entender melhor é possível realizar uma analogia com dois diodos em antiparalelo. Logo, sua simbologia e curva característica ideal podem ser observadas na Figura 1. Figura 1. Símbolo DIAC e curva característica. Fonte: Adaptada de Rashid (2014). I -vD vD v (a) Curva característica (b) Símbolos Dispositivos e circuitos de controle2 O DIAC não possui terminal de controle; logo, a curva característica mostrada na Figura 1(a) caracteriza o comportamento do dispositivo. Quando a tensão aplicada entre seus terminais é menor que a tensão de ruptura por avalanche VBO o dispositivo permanece em corte e uma pequena corrente de fuga flui sobre ele. Já para o dispositivo entrar em condução, basta que a magnitude da tensão aplicada entre seus terminais supere a tensão de ruptura direta por avalanche VBO, fazendo com que a corrente cresça rapidamente. Quando polarizado, o DIAC apresenta uma queda de tensão ∆V entre seus terminais, causada pelo fluxo de corrente da carga. Os DIACs são comumente aplicados em controle de TRIACs e SCRs, com a função de enviar pulsos de disparo para ambos. Uma aplicação básica para DIACs é o controle de intensidade de luz em lâmpadas incandescentes, que pode ser visualizado na Figura 2. Figura 2. Circuito de controle de intensidade de lâmpadas. DIAC Carga TRIAC R1 R2 C1 Q2 Q1 Vrefe 3Dispositivos e circuitos de controle Nesse circuito, inicialmente o DIAC e o TRIAC estão operando em corte e a rede carrega o capacitor por R1 e R2 até que a tensão de condução direta do DIAC seja atingida. Nesse momento o DIAC cria um caminho de descarga para o capacitor, que gera um pulso de corrente suficiente para disparar o TRIAC, sendo que o fim desse pulso leva o DIAC a corte novamente. Com o TRIAC ativo, a tensão na carga segue o mesmo sinal que a tensão de entrada da rede, e, quando esse sinal cruza o zero, o TRIAC entra em corte novamente. Isso se repete para o semi-ciclo negativo da tensão da rede. As formas de onda podem ser observadas na Figura 3. Figura 3. Formas de onda no controle de intensidade da lâmpda (fazer um desenho dessa forma de onda). VE VC VCarga ωt ωt Os DIACs são utilizados para realizar condicionamento de energia em correntes alter- nadas, como apresentado no exemplo anterior, mas também servem para disparo de SCRs que trabalham em corrente contínua. É possível encontrar algumas aplicações em Ahmed (2000). Dispositivos e circuitos de controle4 Transistores de unijunção Os transistores de unijunção (UJT, do inglês Unijunction Transistor) são caracterizados por apresentarem 3 terminais, onde um é denominado emissor e os outros dois são bases. Esse dispositivo é empregado para gerar pulsos em tiristores, tal como o DIAC. A Figura 4 mostra o símbolo e a curva ca- racterística do UJT. Figura 4. Figura (a) símbolo do UJT e figura (b) curva característica do UJT. Fonte: Adaptada de Ahmed (2000). (a) (b) E B1 B2 0 IE VP VEB1 Quando em corte, com VEB1 = 0, o UJT apresenta resistência entre as bases. A relação entre as resistências de base é denominada relação de stanfoff η. η = RB1 RB2 + RB1 Essa relação pode ser encontrada no datasheet do componente e possui como valor típico 0,6. Com o auxílio da Figura 5, vamos analisar o comportamento do UJT e caracterizar o seu ponto de polarização. 5Dispositivos e circuitos de controle Figura 5. Circuito de polarização de um UJT. Fonte: Adaptada de Ahmed (2000). +VBB R B E E D 2 B1 B2 ponto η R R B 1 Como você pode ver, para que o UJT seja acionado, o diodo deve conduzir. Para que isso aconteça, é necessário aplicar uma tensão no emissor maior que a tensão no ponto η. Sabendo que a tensão no ponto η é dada por: VRB1 = ηVBB Podemos definir que para ativar o UJT a seguinte condição deve ser satisfeita: VE > Vd + VRB1 Quando o UJT passa para o estado ativo a resistência intrínseca da base 1 cai para um valor próximo de zero. Já a resistência da base 2 não é afetada. Com isso é possível utilizar o UJT para realizar disparos em tiristores utilizando um circuito bastante simples conhecido por oscilador de relaxamento, o qual pode ser visualizado a Figura 6. Dispositivos e circuitos de controle6 Figura 6. Circuito para disparos de tiristores com UJT (a) forma de onda (b) Fonte: Adaptada de Ahmed (2000). R R RF E C V V E VB1 R1 +VS R2 B2 V EB1 C B2B1 BB OUT + - + -+ - Tensão de disparo Tensão de vale Tensão no terminal B1 (usada para disparar tiristores) Tensão contínua em B1 Tensão no terminal B2 t t t 0 t1 t2 VB2 VB2 VB1 VB1 VP VE Vv Observando a Figura 6 verifica-se que o período de trabalho do oscilador é dado por: T = τ1 + τ2 Que seriam o tempo de carga e descarga do capacitor C: τ1 = RC τ2 = RB1C 7Dispositivos e circuitos de controle Nota-se que τ2 é a largura de pulso do sinal de disparo para o tiristor VB1. Sabemos que o RB1 decai a um valor próximo de zero quando o UJT está ativo, logo, é possível afirmar que o tempo de carga do capacitor é muito maior que o seu tempo de descarga, deixando assim o período: T ≈ τ1 ≈ RC O sinal de disparo para o tiristor VB1 possui o mesmo formato que a corrente no capacitor C. A tensão de disparo VB1 deve ser projetada com um valor suficientemente alto para acionar o tiristor. Além disso, para que o UJT ative e depois volte a ficar em corte, as seguintes relações devem ser satisfeitas: R < VBB – Vp Ip R > VBB – Vv Iv As formas de onda dos UJTs comerciais podem vir com um formado diferente do ideal, apresentado na Figura 4. É o que pode ser visto no datasheet do componente 2N2646. O eixo de tensão assume a posição das ordenadas e o valor de corrente é apresentado no eixo das abscissas. Além disso, é possível analisar as características reais do componente, que apresenta uma pequena corrente reversa no emissor. Circuitos de controle Neste item você verá alguns circuitos de controle para transistores de potência. Com o objetivo de garantir a operaçãode circuitos de potência, é necessário assegurar alguns pontos no controle das chaves eletrônicas principais. São listados alguns itens de importância: � O sinal de acionamento deve possuir transitório suficientemente curto; Dispositivos e circuitos de controle8 � A amplitude do sinal de acionamento deve atender às especificações do componente controlado; � Deve-se assegurar que o dispositivo não seja acionado por ruídos ou sinais falsos; � Assegurar que o circuito de potência não interfira no circuito de controle; Além disso, os transistores de potência possuem características constru- tivas que provocam alguns efeitos transitórios indesejados. Dessa forma, é importante trabalhar com circuitos que ajudem, tanto no transitório, para o modo ativo, quanto no modo corte. Circuito de acionamento para transistores Os sistemas de potência são controlados normalmente por uma forma de onda quadrada com modulação por largura de pulso. Portanto, a forma mais básica de se ver um circuito de controle para um transistor de potência pode ser vista na Figura 7. Figura 7. Circuito básico de acionamento para MOSFET. Fonte: Adaptada de Hart (2001). Carga R1 vi VS 9Dispositivos e circuitos de controle Nesse circuito é possível identificar que a entrada é uma onda quadrada Vi e a carga está alimentada por uma fonte Vs. O dispositivo de chaveamento principal apresentado acima é um MOSFET, do inglês, Metal oxide semicondutor field effect transistor, ou, transistor de efeito de campo metal – óxido – semicondutor. Dessa forma você já pode saber que é um dispositivo polarizado por tensão. Devido a características capacitivas na porta do MOSFET, é necessário criar um circuito para reduzir o seu tempo de comutação. Sabendo que o tempo de carga de um capacitor é dado por τ = RC, um dos circuitos mais utilizados para essa função é apresentado na Figura 8: Figura 8. Circuito de acionamento rápido para MOSFET. Fonte: Adaptada de Rashid (2014). Sinal de comando V R R R I VG s G DD D D C1 R1+ - + - Além do tempo de acionamento reduzido, é importante tomar cuidado com a tensão de polarização necessária para o MOSFET. Essa tensão pode ser encontrada nos datasheets dos componentes e possui valores típicos entre 4 e 6 V. Normalmente, para trabalhar com o dispositivo como chave, é sugerido pelos fabricantes que se aplique uma tensão de 10 V entre porta e fonte do MOSFET. No circuito apresentado, temos que a tensão entre porta e dreno é dada por: VGS = VGRG Rs + R1 + RG Dispositivos e circuitos de controle10 Outro ponto que deve ser levado em consideração é a despolarização do MOSFET. Quando o sinal de acionamento volta a ser zero (semiciclo de corte do MOSFET) deve haver um caminho para que o capacitor CGS descarregue, levando o MOSFET efetivamente ao modo de corte. Para que isto aconteça, é importante que o circuito de acionamento possua, além da capacidade de fornecer correntes elevadas, também a capacidade de drenar correntes grandes. Sugere-se um novo circuito de acionamento para operação do dispositivo, chamado de totem-pole (Figura 9). Figura 9. Circuito de acionamento com arranjo totem-pole. Fonte: Adaptada de Rashid (2014). + - NPN PNP M1 C +VCC vin Nesse circuito, o sinal de controle é fornecido via Amp-Op. O circuito de realimentação com o capacitor C serve para regular a taxa de subida e descida da tensão na porta. Uma grande maioria dos CIs utilizados para controle de transistores utiliza essa configuração interna, sendo que, normalmente, utilizam-se MOSFETS, NPN e PNP no ramo de acionamento. 11Dispositivos e circuitos de controle Alguns circuitos integrados podem ser encontrados no mercado para controle de porta tanto para os MOSFET quanto para os IGBTs. São listados alguns exemplos abaixo e indica-se que se leia os seus datasheets: � IR2110; � TK75050; � NCP51530. Alguns detalhes que devem ser levados em consideração durante o uso de CIs para controle: � Deve-se verificar qual a tensão de polarização do interruptor utilizado (valores típicos de 10V). É importante deixar claro que a tensão VGS deve ser na ordem de 10 V, ou seja, a tensão de porta deve ser 10 V maior que a tensão da fonte. Condicionar o nível de tensão do circuito de controle de acordo com a tensão da fonte. � A energia absorvida pelo circuito de controle não deve influenciar na eficiência do sistema. Também já são apresentados vários circuitos de controle de chaveamento com diferentes formas de se controlar as perdas durante os transitórios de comutação, tais como: � Snubbers; � Soft-switching: ■ Zero-Voltage Switching; ■ Zero-Current Switching. Além disso, salienta-se a importância de utilizar circuitos que isolem o estágio de controle do circuito de potência. Os dispositivos que realizam esse trabalho são: � Optoacopladores: ■ TIL111; ■ 4N25; ■ MOC3021. � Transformadores de pulso. 1. No datasheet de um componente é possível encontrar dados sobre o comportamento do dispositivo quando submetido a testes. Analise a figura abaixo e assinale a resposta correta: Dispositivos e circuitos de controle12 VDD VDS VGS td(ON) td (OFF) tON tOFF tr tf RG VGS RL DUT 90% 90% 90% 50%50% 0 0 10% 10% 10% 50% Pulse width o tempo de comutação sofrerá uma redução considerável. a) td(ON): É o tempo de resposta para o chaveamento do circuito de controle, e depende das capacitâncias intrínsecas entre porta e fonte. b) Os tempos de subida tr e de descida tf são iguais e dependem apenas da capacitância CDS. c) Os tempos de comutação, tON e toff, dependem diretamente das capacitâncias Cgs e Cgd que formam o valor Ciss dado no datasheet. Dessa forma, o circuito de gatilho para o MOSFET não interfere nos tempos de descida e subida da comutação. d) Se o resistor RL for substituído para um valor R2 e R2 ≫ RL. e) Nesse circuito de teste RG é utilizado para carga e descarga das capacitâncias Cgs e Cgd. Em uma situação hipotética onde o resistor RG estivesse sendo utilizado apenas para o momento tON, o tempo de tOFF aumentaria. 2. Sobre aplicação de controle de potência em cargas C.A. em 60Hz, por ciclo integral e por ângulo de fase, assinale a alternativa correta: a) Para células resistivas de aquecimento, é aplicável o controle por ciclo integral, visto que flutuações de tensão não são fatores que influenciam no calor médio emitido. b) O controle por ângulo de fase não deve ser utilizado em sistemas de iluminação incandescente devido à alta flutuação de tensão causada. c) Para motores com inércia baixa é aconselhável que se utilize controle por ciclo integral. d) O controle por ângulo de fase consiste em transformar o semiciclo negativo em positivo e, por isso, não é indicado para motores de indução. e) O controle por ciclo integral possui menor flutuação de fase que o controle por ângulo de fase. 3. Para realizar o controle de potência em uma carga resistiva de 7Ω é utilizado controle por ciclo integral. A alimentação é dada por uma rede de 127 VC . ARMS. Qual será o ciclo de trabalho e o valor de TON para fornecer 700 W para essa carga? a) D = 0,3; TON = 7 ciclos. b) D = 0,5; TON = 3 ciclos. c) D = 0,3; TON = 3 ciclos. d) D = 0,5; TON = 10 ciclos. e) D = 0,5; TON = 3 ciclos. 13Dispositivos e circuitos de controle AHMED, A. Eletrônica de potência. São Paulo: Pearson, 2000. HART, D. W. Eletrônica de potência: análise e projetos de circuitos. Porto Alegre: AMGH, 2001. RASHID, M. H. Eletrônica de potência: circuitos, dispositivos e aplicações. 4. ed. São Paulo: Makron Books, 2014. Leituras recomendadas BALOGH, L. Design and application guide for high speed MOSFET gate drivers circuits. [201-?]. Disponível em: <http://www.radio-sensors.se/download/gate-driver2.pdf>. Acesso em: 09 ago. 2018. BALOGH, L. Fundamentals of MOSFET and IGBT gate driver circuits. 2002. Disponível em: <http://www.ti.com/lit/ml/slua618/slua618.pdf>. Acesso em: 09 ago. 2018. 4. Agora, para uma carga resistiva de 3 Ω,deseja-se controlar a potência utilizando controle por ângulo de fase. A alimentação é dada pela rede 220 VCARMS. Qual será o ângulo de disparo, considerando que a potência requerida na carga é de 1 kW? Calcule também o fator de potência para esse sistema. a) α = 35,23⁰; FP = 0,7. b) α = 140,77⁰; FP = 0,751. c) α = 35,23⁰; FP = 0,3. d) α = 140,77⁰; FP = 0,249. e) α = 45,4⁰; FP = 0,5. 5. Um controlador de potência por ângulo de fase é utilizado para controlar a potência de um motor, que será considerado aqui como uma carga RL, onde R = 10 Ω e L = 20 mH. Deseja-se manter uma potência média de 300 W no motor, qual será o ângulo de retardo para o circuito de controle para uma tensão de alimentação de 220 VCARMS? a) α = 48,2°. b) α = 131,8°. c) α = 83°. d) α = 90°. e) α = 36,7°. Dispositivos e circuitos de controle14 http://www.radio-sensors.se/download/gate-driver2.pdf http://www.ti.com/lit/ml/slua618/slua618.pdf Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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