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Lucia Helena Nunes Junqueira Conteúdos e metodologias do ensino de Ciências Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube Junqueira, Lucia Helena Nunes. J968c Conteúdos e metodologias do ensino de ciências / Lucia Helena Nunes Junqueira. – Uberaba: Universidade de Uberaba, 2018. 228 p. : il. Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7777-847-8 1. Ciências (Ensino fundamental). 2. Ciências naturais. 3. Ciências – Estudo e ensino. I. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. II. Título. CDD 372.35 © 2018 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Graduação a Distância Sílvia Denise dos Santos Bisinotto Editoração e Arte Produção de Materiais Didáticos-Uniube Editoração Márcia Regina Pires Revisão textual Érika Fabiana Mendes Salvador Diagramação Douglas Silva Ribeiro Projeto da capa Agência Experimental Portfólio Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Lucia Helena Nunes Junqueira Mestre em educação pela Universidade de Uberaba (Uniube); especialista em Metodologia do Ensino-Aprendizagem de Matemática no Processo Educativo, pela Faculdade de Educação São Luís; graduada em Licenciatura Plena em Matemática, pela Uniube. É docente do curso de Pedagogia desta universidade e participa dos projetos de pesquisa: Estudos acadêmicos sobre o professor no Centro Oeste/FAPEMIG, em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Universidade Federal do Tocantins (UFT), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Estadual de Goiás (UEG) e Uniube e do Observatório da Educação e Interdisciplinaridade na Educação Básica (CAPES-OBEDUC e FAPEMIG). Sobre a autora Sumário Apresentação .............................................................................................................. IX Capítulo 1 Aprender e ensinar Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental ...................................................... 1 1.1 Por que ensinar Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental? ..... 5 1.1.1 Conhecimento científico e senso comum ...................................................... 9 1.1.2 Classificação das Ciências .......................................................................... 11 1.2 Compreensão de Ciências e do processo de ensino e de aprendizagem em Ciências Naturais no Ensino Fundamental ........................................................... 13 1.3 Competências específicas de Ciências da Natureza para o Ensino Fundamental ............................................................................................. 18 1.3.1 Unidade temática – Matéria e energia ......................................................... 19 1.3.2 Unidade temática – Vida e evolução ........................................................... 20 1.3.3 Unidade temática – Terra e Universo .......................................................... 20 1.4 Considerações finais.............................................................................................. 21 Capítulo 2 Os conteúdos de Ciências Naturais no Ensino Fundamental – 1º e 2º anos ...............................................25 2.1 O corpo humano .................................................................................................... 27 2.1.1 O corpo em movimento ................................................................................ 28 2.1.2 O nosso corpo .............................................................................................. 30 2.1.3 Órgãos dos sentidos .................................................................................... 34 2.2 Os materiais ........................................................................................................... 52 2.2.1 Os materiais em nosso dia a dia ................................................................. 56 2.2.2 Origem dos materiais ................................................................................... 57 2.2.3 As propriedades da matéria ......................................................................... 58 2.2.4 Os estados físicos dos materiais ................................................................. 66 2.2.5 A mudança do estado físico dos materiais .................................................. 67 2.2.6 Materiais que se transformam ..................................................................... 69 2.3 Escalas de tempo – os dias e as noites ................................................................ 70 2.3.1 As estações do ano .................................................................................... 72 2.4 O ambiente à nossa volta ...................................................................................... 74 2.4.1 Os seres vivos e a relação com o ambiente ................................................ 77 2.5 Os animais ............................................................................................................. 78 2.5.1 O tamanho dos animais ............................................................................... 79 2.5.2 Como os animais se alimentam ................................................................... 81 2.5.3 O ciclo de vida dos animais ......................................................................... 82 2.5.4 Animais domésticos e animais silvestres ..................................................... 83 2.5.5 Animais terrestres e animais aquáticos ...................................................... 85 2.5.6 Animais mamíferos ....................................................................................... 88 2.6 As plantas ............................................................................................................... 90 2.6.1 Partes da planta ........................................................................................... 90 2.7 Considerações finais.............................................................................................. 92 Capítulo 3 Os conteúdos de Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental – 3º e 4º anos ................................... 99 3.1 O ar ...................................................................................................................... 101 3.1.1 A elasticidade e compressão do ar ............................................................ 105 3.1.2 A pressão do ar .......................................................................................... 109 3.2 O som ................................................................................................................... 112 3.3 Corpos luminosos e iluminados ........................................................................... 114 3.3.1 Efeitos da luz nos materiais ....................................................................... 115 3.3.2 As sombras ................................................................................................ 117 3.3.3 A decomposição da luz ..............................................................................118 3.4 Características da Terra ....................................................................................... 121 3.4.1 A Terra ........................................................................................................ 123 3.4.2 Pontos cardeais ......................................................................................... 125 3.5 Tipos de solo ........................................................................................................ 127 3.5.1 Formação do solo ...................................................................................... 127 3.5.2 A degradação do solo ................................................................................ 129 3.6 Os animais ........................................................................................................... 130 3.6.1 Características e desenvolvimento dos animais ...................................... 133 3.6.2 Animais vertebrados ................................................................................... 142 3.6.3 Animais invertebrados ................................................................................ 153 3.7 Cadeia alimentar .................................................................................................. 161 3.7.1 A energia na cadeia alimentar .................................................................... 165 3.8 Considerações finais............................................................................................ 170 Capítulo 4 Os conteúdos de Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental – 5º ano .....................................175 4.1 Propriedades físicas da água .............................................................................. 177 4.1.1 Estado sólido .............................................................................................. 178 4.1.2 Estado líquido ............................................................................................. 179 4.1.3 Estado gasoso........................................................................................... 179 4.1.4 A água como solvente ................................................................................ 180 4.2 Separação de materiais da água ......................................................................... 182 4.2.1 Evaporação ................................................................................................ 182 4.2.2 Filtração ...................................................................................................... 182 4.2.3 Decantação ................................................................................................ 184 4.3 Ciclo hidrológico ................................................................................................... 185 4.4 Consumo consciente da água ............................................................................. 191 4.5 Reciclagem .......................................................................................................... 194 4.5.1 Coleta seletiva e reciclagem de materiais ................................................ 196 4.6 Nutrição do organismo ......................................................................................... 198 4.6.1 As funções dos nutrientes no organismo ................................................... 200 4.6.2 Os alimentos .............................................................................................. 200 4.6.3 Hábitos alimentares .................................................................................. 201 4.7 Integração entre os sistemas digestório, respiratório e circulatório .................... 202 4.7.1 Sistema digestório ...................................................................................... 203 4.7.2 Sistema respiratório ................................................................................... 205 4.7.3 Sistema circulatório .................................................................................... 208 4.8 Considerações finais............................................................................................ 213 Prezado(a) aluno(a). O presente livro dispõe de quatro capítulos com temas articulados entre si que introduzem os futuros pedagogos no conhecimento acerca das metodologias de ensino-aprendizagem de Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Para a efetivação do nosso estudo, propomos o seguinte desenvolvimento: Apresentação O livro apresenta uma linguagem simples sobre os conceitos e temas propostos nesta etapa de ensino. Além disso, propõe atividades práticas, que o futuro professor poderá explorar no dia a dia de sua sala de aula. No decorrer do livro, buscamos relacionar teoria e prática, articulando-as às propostas dos documentos oficiais que regem a educação no Brasil. X UNIUBE O objetivo principal deste estudo consiste em proporcionar aos licenciandos a compreensão sobre o ensino de Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Para isso, propõe uma reflexão sobre a didática, a metodologia, o planejamento, bem como a execução das práticas educativas. Tal como propomos, o estudo sobre o ensino de Ciências Naturais vislumbra a possibilidade de articular a teoria e a prática, tendo como finalidade a formação do licenciando. Para Libâneo (2017, p.17), a relação entre a educação e a prática educativa compreende “os processos formativos que ocorrem no meio social, nos quais os indivíduos estão envolvidos de modo necessário e inevitavel pelo simples fato de existirem socialmente”. Assim, entendemos que o processo educativo deve ser contextualizado e de acordo com a realidade do aluno. Mediante esta análise, o livro que aqui propomos refere-se ao estudo de temáticas relevantes para o ensino de Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental, objetivando, inclusive, abordar a metodologia do professor. Contribuindo, assim, para a apropriação, pelos licenciandos, de subsídios teóricos e práticos necessários para o exercício da docência nesta etapa do ensino. Bons estudos! Introdução Aprender e ensinar Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental Capítulo 1 O ensino de Ciências Naturais no Ensino Fundamental, no decorrer de sua história, passou por diversas tendências, que se refl etiram em ações docentes tomadas em sala de aula, visto que a educação tradicional dominava o cenário escolar, embora já eram notados alguns esforços de renovação desse processo. As aulas eram expositivas, os professores eram os detentores do conhecimento e os alunos tinham que absorver as informações passadas por esse professor. Para esses cursos serem considerados bons, tomava-se como base a quantidade de conteúdos trabalhados. O questionário era o principal recurso de avaliação e estudo, os alunos, em suas respostas, reproduziam exatamente a fala dos professores em sala de aula ou a do conteúdo do livro-texto. Mediante o exposto, percebeu-se a necessidade de uma revisão no ensino de Ciências Naturais. De acordo com Saviani (2010), apresentadas pelo modelo Escola Nova ou Escola Ativa, de 1932 a 1964, as demandas para revisão do ensino de Ciências Naturais orientaram-se para um currículo que atendesse ao conhecimento científi co e às propostas pedagógicas, que visavam à renovação do 2 UNIUBE ensino. Essa tendência, apresentada pela Escola Nova, mudou o foco da questão pedagógica da escola tradicional e passou a valorizar a participação ativa do estudante no processo de ensino aprendizagem. Em relação à Escola Nova, Menezes (2001, p.1) explica É um movimento de educadores europeus e norte-americanos, organizado em fins do século XIX, que propunha uma nova compreensão das necessidades da infância e questionava a passividade na qual a criança estava condenada pela escola tradicional. [...] No Brasil, a Escola Nova buscava a modernização, a democratização,a industrialização e urbanização da sociedade. Os educadores que apoiavam suas ideias entendiam que a educação seria a responsável por inserir as pessoas na ordem social. Também conhecido como escolanovismo, a Escola Nova chegou ao País na década de 1920 com as Reformas do Ensino de vários Estados brasileiros. Nesse sentido, as atividades práticas começaram a fazer parte dos projetos de ensino e dos cursos de formação de professores, em que os materiais didáticos passaram a ser utilizados de forma a atender a esse tipo de atividade. Com a Escola Nova, o ensino de Ciências Naturais passa a dar condições para o aluno vivenciar e observar as situações e, a partir dessa observação, levantar hipóteses, testá-las, refutá- las e abandoná-las se necessário e, dessa forma, construir conhecimentos. Com base nessa perspectiva, buscava-se a democratização do ensino, com vistas à mudança de mentalidade do professor, que começava a assimilar os novos objetivos, as metodologias para o ensino aprendizagem de Ciências Naturais. UNIUBE 3 Na década de 80, a reestruturação do processo educacional tem como objetivo a construção do conhecimento científico pelo aluno. Desde esta época até hoje, as investigações sobre as preconcepções (ideias que se formam antecipadamente) das crianças e dos adolescentes sobre os fenômenos naturais e as suas relações com os conceitos científicos são temas de pesquisas e produções acadêmicas. A metodologia do ensino das Ciências Naturais não se limita mais ao fornecimento de informações e de estruturas, baseia-se no modelo de aprendizagem com foco em experimentações e na construção do conhecimento, a partir da competência dos alunos. Dessa forma, a Base Nacional Comum Curricular – BNCC (2017), “que é um documento de caráter normativo e que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica”, que passa a vigorar em 2018, tem como objetivo [...] superar a fragmentação das políticas educacionais, enseje o fortalecimento do regime de colaboração entre as três esferas de governo e seja balizadora da qualidade da educação. Assim, para além da garantia de acesso e permanência na escola, é necessário que sistemas, redes e escolas garantam um patamar comum de aprendizagens a todos os estudantes, tarefa para a qual a BNCC é instrumento fundamental. (BRASIL, 2017, p.8). A BNCC propõe que as aprendizagens essenciais efetivem a construção do conhecimento. E, na área de Ciências, os alunos desenvolvam habilidades de compreensão, interpretação e avaliação sobre o ambiente em que estão inserido. 4 UNIUBE As ideias prévias dos alunos têm papel fundamental no processo de aprendizagem que só é possível embasada naquilo que ele já sabe e [...] o que o torna responsável tanto pelo saber produzido quanto pelo controle dos fenômenos naturais e históricos dos quais é agente (BNCC, 2017, p. 352). Todo esse estudo não invalida o processo de construção conceitual e seus pressupostos. Ele serve para redimensionar as práticas sobre a metodologia do ensino das Ciências Naturais. Em consonância com o exposto, pretendemos que os objetivos explicitados a seguir estejam de acordo com as propostas da Base Nacional Comum Curricular - BNCC. Após a leitura deste capítulo, você deverá ser capaz de: • explicar a importância de estudar Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental; • demonstrar as diferentes terminologias e características da Ciência; • distinguir senso comum de conhecimento científico; • esclarecer a transição dos conhecimentos propostos para a Educação Infantil da área de Ciências para os anos iniciais do Ensino Fundamental. 1.1 Por que ensinar Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental? 1.1.1 Conhecimento científico e senso comum 1.1.2 Classificação das Ciências Objetivos Esquema UNIUBE 5 1.2 Compreensão de ciência e de processo de ensino e de aprendizagem em ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental 1.3 Competências específicas de Ciências da Natureza para os anos inciais do Ensino Fundamental 1.3.1 Unidade temática – Matéria e energia 1.3.2 Unidade temática – Vida e evolução 1.3.3 Unidade temática – Terra e Universo 1.4 Considerações finais 1.1 Por que ensinar Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental? Na sociedade contemporânea, com a supervalorização do conhecimento científico e acesso à tecnologia, não é mais possível pensar na formação de um indivíduo crítico e reflexivo à margem do saber científico. Dessa forma, [...] apreender ciência não é a finalidade última do letramento, mas, sim, o desenvolvimento da capacidade de atuação no e sobre o mundo, importante ao exercício pleno da cidadania. (BRASIL, p.317, 2017). O objetivo do ensino de Ciências é reconhecer os valores humanos e estabelecer associações entre o aprendizado de como compreender o mundo e, nele, promover transformações. Visa reconstruir a relação homem-natureza e, com isso, desenvolver a consciência social do indivíduo. O estudo das Ciências, no contexto das séries iniciais do Ensino Fundamental, irá ampliar a capacidade da criança, como cidadã, de compreender as ações, as reações, as composições das coisas e os objetos que constituem o mundo que a cerca, viabilizando sua capacidade de exercer a cidadania. 6 UNIUBE Isso posto, faz-se necessário superar a postura cientifista que compreende definitivos os conhecimentos científicos e que, por muito tempo, fez com que o ensino de Ciências da Natureza fosse instrumental, teórico ou experimental, dissociado da reflexão sobre os conteúdos das Ciências e de suas relações com o mundo de trabalho. Nessa perspectiva, a área de Ciências da Natureza, por meio de um olhar articulado de diversos campos do saber, precisa assegurar aos alunos do Ensino Fundamental o acesso à diversidade de conhecimentos científicos produzidos ao longo da história, bem como a aproximação gradativa aos principais processos, práticas e procedimentos da investigação científica. (BRASIL, 2017, p.317). De acordo com o documentos oficiais do MEC, o estudo da Ciência da Natureza pode contribuir para a relação entre o homem e o ambiente em que vive. Dessa forma, é importante ensinar o conhecimento científico para as crianças desde os anos iniciais do Ensino Fundamental. Pense: como podemos relacionar o que vemos nos jornais, o que assistimos na televisão, sobre assuntos relacionados à natureza e aos grandes temas das Ciências, com os nossos objetos de estudo e com a dinâmica das nossas aulas? PARADA PARA REFLEXÃO Muitos dos assuntos que encontramos nos noticiários abordam os nossos temas sugeridos para estudo: desastres ambientais, poluição, epidemia, técnicas agrícolas, entre outras temáticas comuns ao nosso dia a dia. Isso deixa claro que as implicações das ciências estão inseridas na sociedade, na vida de cada um de nós. Assim, proporcionar às crianças o acesso aos conhecimentos científicos tornou-se fundamental para que elas possam compreender e fazer a leitura do mundo em que vivem e, com isso, poder intervir conscientemente na preservação do mundo. O ensino de Ciências nos anos inicias do Ensino Fundamental precisa dar UNIUBE 7 condições para que as crianças desenvolvam a sua cidadania, tornando- se cidadãos ativos e responsáveis. Neste sentido, o ensino de Ciências é fundamental para a população não só ter a capacidade de desfrutar dos conhecimentos científicos e tecnológicos, mas para despertar vocações, a fim de criar estes conhecimentos. O ensino de Ciências é fundamental para a plena realização do ser humano e a sua integração social. Continuar aceitando que grande parte da população não receba formação científica e tecnológica de qualidade agravará as desigualdades do país e significará seu atraso no mundo globalizado. Investir para constituir uma populaçãocientificamente preparada é cultivar para receber de volta cidadania e produtividade, que melhoram as condições de vida de todo o povo. (UNESCO, 2005, p.2). Para entendermos a importância de estudar Ciências Naturais, temos de compreender a Ciência em si. Reflita acerca da Figura 1 a seguir: PARADA PARA REFLEXÃO Figura 1: O que é ciência? Fonte: Acervo EAD-Uniube. 8 UNIUBE Os conhecimentos das ciências devem ser incorporados à vida dos cidadãos, de modo que estes saberes possam ser aplicados e, com isso, auxiliarem nas mais diversas situações do cotidiano. Nessa perspectiva, é fundamental iniciarmos essas discussões na sala de aula. É importante perguntarmos aos alunos como eles imaginam o cientista e sua forma de trabalho. Provavelmente, eles responderão que é um homem vestido de branco, que trabalha em um laboratório repleto de instrumentos e que provoca explosões, realizando descobertas inéditas. E, ainda, que esses cientistas são gênios! Certamente, eles são retratados da forma como são vistos nos filmes, desenhos animados e programas de TV. Como Dr. Emmett Brown, do filme “De volta Para o Futuro”, Profº Sherman, do filme “O Professor Aloprado”, o Franjinha da “Turma da Mônica”, “Dr.Frankenstein”, entre outros. Vale a pena continuar a discussão refletindo sobre o seguinte questionamento: Mas será que é assim mesmo? O cientista é um homem vestido de jaleco branco, que trabalha em um laboratório repleto de instrumentos, que provoca explosões e que realiza descobertas inéditas? EXEMPLIFICANDO! Para entender o trabalho do cientista, temos que primeiro definir Ciência. Existem várias definições acerca deste conceito, sendo assim, podemos dizer que Ciência é um conjunto de conhecimentos que descrevem a natureza e seus fenômenos; é também a atividade humana traduzida Você saberia responder o que é ciência? Quais são as diferentes concepções a que essa terminologia nos remete? UNIUBE 9 em saberes, teorias e leis; é a interação entre os fatos e as ideias. Os fatos são acontecimentos, por exemplo, um terremoto, a chuva forte que caiu ou o desastre ambiental e as ideias são as formas de interpretar e explicar cada fato, ou seja, o nosso olhar, nossa leitura acerca do que “estamos vendo”. Sobre a interação entre os fatos e as ideias, a Base Comum Curricular aponta que: Ao estudar Ciências, as pessoas aprendem a respeito de si mesmas, da diversidade e dos processos de evolução e manutenção da vida, do mundo material – com os seus recursos naturais, suas transformações e fontes de energia –, do nosso planeta no Sistema Solar e no Universo e da aplicação dos conhecimentos científicos nas várias esferas da vida humana. (BRASIL, 2017, p.321). Assim, a interação entre os fatos e fenômenos do dia a dia é vista como um princípio de aprendizagem e um fator de desenvolvimento da Ciência. 1.1.1 Conhecimento científico e senso comum Saber ciência vai além de conhecer o método científico e ter habilidade para investigação. Aprender ciência é entender a ciência; é fazer ciência! O conhecimento científico, aquele que envolve pesquisa, vai além do senso comum. O professor pode instigar as reflexões dos alunos a partir de uma imagem, como a Figura 2 a seguir: EXEMPLIFICANDO! 10 UNIUBE Figura 2: Ciência ou senso comum? Fonte: Acervo EAD-Uniube. O docente deve mediar as discussões dos educandos, que, provavelmente, já ouviram muitos casos de reações de pessoas que têm medo de encontrar um gato preto à noite, porque acreditam que “dá azar”. Para que essa crença se torne um conhecimento científico, ela deve ser testada, pesquisada, comprovada e certificada, por meio de pesquisas científicas, que comprovem, realmente, que encontrar um gato preto dá azar. Assim, a crença deixaria de ser apenas senso comum, ou seja, um conhecimento popular. Ao falarmos que o medicamento Novalgina é analgésico e antitérmico, não estamos utilizando o senso comum. Isso é um conhecimento científico. Sabe por quê? O medicamento Novalgina foi pesquisado, testado e comprovado cienticamente! Dessa forma, a escola tem papel relevante na condução do processo de ensino e aprendizagem. Isso implica importância e responsabilidade do professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental de estimular o conhecimento científico em seus alunos. UNIUBE 11 Para que isso ocorra, o professor deve deixar de lado o ensino livresco e descontextualizado, que faz com que o aluno decore conceitos sem compreender a aplicabilidade do que está sendo estudado. 1.1.2 Classificação das Ciências Considerando a necessidade de identificar as características comuns de cada ciência, Marcone e Lakatos (2000, p. 28) apresentam as seguintes classificações das ciências: Para Marcone e Lakatos (2000), as ciências formais são compostas pela lógica e pela matemática. Elas preocupam-se com a demonstração de números, demonstração de enunciados, símbolos, ou seja, estudam as ideias. 12 UNIUBE Em relação às ciências factuais, elas são compostas pelas ciências naturais e sociais, que têm como subitens a Física, a Biologia, a Química, a Antropologia, entre outras, e estudam os fatos que estão ao nosso entorno, seus significados e processos por meio dos quais se desenvolvem. Nas séries iniciais do Ensino Fundamental, estudaremos as Ciências Biológicas e os seres vivos que fazem parte da natureza (bios, em grego, significa vida), mediante isso, estaremos realizando um estudo sobre as Ciências da Natureza das ciências factuais. Observe a Figura 3 a seguir. Figura 3: Como ensinar Ciências? Fonte: Acervo EAD-Uniube. Sobre o ensino de Ciências Naturais, a Base Nacional Comum Curricular – BNCC (2017) aponta que devemos organizar situações de aprendizagem significativas para os alunos, partindo de questões que sejam desafiadoras, que estimulem o interesse e a curiosidade científica e que possibilitem definir problemas, levantar hipótese, analisar, tirar conclusões e propor soluções. UNIUBE 13 1.2 Compreensão de Ciência e de processo de ensino e de aprendizagem em Ciências Naturais no Ensino Fundamental Observe a Figura 4 a seguir: Figura 4: Ciência ou Ciências? Fonte: Acervo EAD-Uniube. Para você, é correto aula de Ciência ou aula de Ciências? • A palavra ciência e ciências não possuem o mesmo significado. Segundo o Dicionário Houaiss (2007), Segundo Armstrong e Barbosa (2012, p. 24), Podemos dizer que a ciência é uma forma de conhecimento sistemática que busca explicar os 14 UNIUBE fundamentos da natureza por meio de um trabalho racional, possui créditos metodológicos para demonstrar a veracidade dos fatos observados e tem como finalidade atingir fatos concretos, mediante instrumentos, técnicas e procedimentos de observação fundamentados em diferentes métodos experimentais. Dessa forma, podemos definir que a expressão “ciência”, escrita no singular, diz respeito a conhecimento. Reflita acerca da Figura 5 a seguir: PARADA PARA REFLEXÃO Figura 5: Ciência ou Ciências? Fonte: Acervo EAD-Uniube. Você já pensou sobre isso? A disciplina Ciências já teve várias denominações como: Ciências Naturais, Ciências Biológicas, Ciências Físicas, Ciências Exatas. Atualmente é chamada de Ciências Naturais, mais conhecida, na escrita simplificada, por Ciências. UNIUBE 15 Como vimos, a expressão “ciências” está no plural. Isso significa que ela abrange um grande campo do conhecimento científico e não apenas um campo de estudo de pesquisa. O estudo da área de ciências envolve conhecimentos relativos a diversas disciplinas como: Geografia, Biologia, Química, Astronomia. Dessa forma, percebe-se que o campo das ciências é vasto, o que torna o trabalho complexo. No que se refere ao nosso estudo, estaremos utilizando a denominação simplificada: Ciências. Em relação ao ensino de Ciências, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, assim como nas demais disciplinas, a BNCC valoriza as situações lúdicas de aprendizageme propõe uma transição natural dos conceitos que foram ensinados na Educação Infantil com o que o aluno vai estudar nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Essa interação visa garantir segundo BNCC (BRASIL, 2017, p. 49) a “[...] integração e continuidade dos processos de aprendizagem das crianças, respeitando suas singularidades e as diferentes relações que elas estabelecem com os conhecimentos, assim como a natureza das mediações de cada etapa”. A título de conhecimento, apresentaremos, a seguir, os Campos de Experiências, propostos pela BNCC, para a Educação Infantil, que deverão dar continuidade ao trabalho a ser desenvolvido nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Eu, o outro e o nós • Respeitar e expressar sentimentos e emoções, atuando com progressiva autonomia emocional. • Atuar em grupo e demonstrar interesse em construir novas relações, respeitando a diversidade e solidarizando-se com os outros. • Agir com progressiva autonomia em relação ao próprio corpo e ao espaço que ocupa, apresentando independência e iniciativa. • Conhecer, respeitar e cumprir regras de cunho social, manifestando respeito pelo outro ao lidar com conflitos. 16 UNIUBE Corpo, gestos e movimentos • Reconhecer a importância de ações e situações do cotidiano que contribuem para o cuidado de sua saúde e a manutenção de ambientes saudáveis. • Apresentar autonomia nas práticas de higiene, alimentação, vestir-se e no cuidado com seu bem-estar, valorizando o próprio corpo. • Utilizar o corpo intencionalmente (com criatividade, controle e adequação) como instrumento de interação com os outros e com o meio. • Coordenar suas habilidades psicomotoras finas. • Discriminar os diferentes tipos de sons e ritmos e interagir com a música, percebendo-a como forma de expressão individual e coletiva. • Reconhecer as artes visuais como meio de comunicação, expressão e construção do conhecimento. • Relacionar-se com o outro empregando gestos, palavras, brincadeiras, jogos, imitações, observações e expressão corporal. • Recriar, a partir de imagens, figuras e objetos, usando materiais simples e ensaiando algumas produções expressivas. Traços, sons, cores e formas • Expressar ideias, desejos e sentimentos em distintas situações de interação, por diferentes meios. • Argumentar e relatar fatos oralmente, em sequência temporal e causal, organizando e adequando sua fala ao contexto em que é produzida. Oralidade e escrita • Ouvir, compreender, contar, recontar e criar narrativas. • Conhecer diferentes gêneros e portadores textuais, demonstrando compreensão da função social da escrita e reconhecendo a leitura como fonte de prazer e informação. UNIUBE 17 • Identificar, nomear adequadamente e comparar as propriedades dos objetos, estabelecendo relações entre eles para a formulação, o raciocínio e a resolução de problemas. • Interagir com o meio ambiente e com fenômenos naturais ou artificiais, demonstrando atitudes de investigação, respeito e preservação. • Utilizar vocabulário relativo às noções de grandeza (maior, menor, igual etc.), espaço (dentro e fora) e medidas (comprido, curto, grosso, fino) como meio de comunicação de suas experiências. Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações • Resolver, criar e registrar situações-problema do cotidiano e estratégias de resolução. Utilizar unidades de medida (dia / noite, dias / semanas / meses / ano) e noções de tempo (presente / passado / futuro, antes / agora / depois), para responder à necessidades e a questões do cotidiano. • Identificar e registrar quantidades por meio de diferentes formas de representação (contagens, desenhos, símbolos, escrita de números, organização de gráficos básicos etc.). (BRASIL, 2017, p. 50-51). Assim, entendemos que o ensino das Ciências é processo dinâmico, é ação e movimento. As alternativas que tornam o ensino de Ciências mais dinâmico são, em sua maioria, voltadas para o aspecto reflexivo- experimental, para a importância da contextualização histórico-científica, com o desafio dos alunos em resolver situações-problema, de forma que eles possam construir o pensamento reflexivo, lógico e científico. Se o desenvolvimento do pensamento lógico, reflexivo e científico é a tônica do mundo cultural para o ensino escolar, neste cenário, em relação a Ciências no Ensino Fundamental, professores e alunos são desafiados a romper com a abordagem do ensino linear, teórico, conteudista e 18 UNIUBE cientificista do ensino de Ciências e reestabelecer relações entre o conhecer e pensar. 1.3 Competências específicas de Ciências da Natureza para o Ensino Fundamental O ensino aprendizagem de Ciências visa valorizar o compromisso com os saberes historicamente produzidos e proporcionar aos alunos um novo olhar sobre o mundo em que vivem, bem como a conscientização sobre a preservação da natureza. Dessa forma, pautado nos documentos oficiais que organizam essa disciplina, espera-se que, com o ensino de Ciências, os alunos desenvolvam as seguintes competências. 1. Compreender as ciências como empreendimento humano, reconhecendo que o conhecimento científico é provisório, cultural e histórico. 2. Compreender conceitos fundamentais e estruturas explicativas das Ciências da Natureza, bem como dominar processos, práticas e procedimentos da investigação científica, de modo a sentir segurança no debate de questões científicas, tecnológicas e socioambientais e do mundo do trabalho. 3. Analisar, compreender e explicar características, fenômenos e processos relativos ao mundo natural, tecnológico e social, como também as relações que se estabelecem entre eles, exercitando a curiosidade para fazer perguntas e buscar respostas. 4. Avaliar aplicações e implicações políticas, socioambientais e culturais da ciência e da tecnologia e propor alternativas aos desafios do mundo contemporâneo, incluindo aqueles relativos ao mundo do trabalho. AMPLIANDO O CONHECIMENTO UNIUBE 19 5. Construir argumentos com base em dados, evidências e informações confiáveis e negociar e defender ideias e pontos de vista que respeitem e promovam a consciência socioambiental e o respeito a si próprio e ao outro, acolhendo e valorizando a diversidade de indivíduos e de grupos sociais, sem preconceitos de qualquer natureza. 6. Conhecer, apreciar e cuidar de si, do seu corpo e bem-estar, recorrendo aos conhecimentos das Ciências da Natureza. 7. Agir pessoal e coletivamente com respeito, autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, recorrendo aos conhecimentos das Ciências da Natureza para tomar decisões frente a questões científico- tecnológicas e socioambientais e a respeito da saúde individual e coletiva, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários (BRASIL, BNCC, 2017, p. 276). Segundo a BNCC (2017), a estrutura dos currículos de Ciências é organizada com base em três unidades temáticas Matéria e energia; Vida e evolução, Terra e Universo, que se repetem no decorrer dos anos iniciais do Ensino Fundamental até os anos finais. Para melhor compreensão dessas unidades temáticas, veremos alguns trechos da BNCC. 1.3.1 Unidade temática – Matéria e energia Veja o que o BNCC assevera: Nos anos iniciais, as crianças já se envolvem com uma série de objetos, materiais e fenômenos, em sua vivência diária e na relação com o entorno. Tais experiências são o ponto de partida para possibilitar a construção das primeiras noções sobre os materiais, seus usos e propriedades, bem como suas interações com luz, som, calor, eletricidade e umidade, entre outros elementos, estimulando a construção de hábitos 20 UNIUBE saudáveis e sustentáveis por meio da preservação da saúde a partir dos cuidados e riscos associados à integridade física e à qualidade auditiva e visual e da construção coletiva de propostas de reciclagem e reutilização de materiais. Espera-se também que os alunospossam reconhecer a importância, por exemplo, da água, em seus diferentes estados, para a agricultura, o clima, a preservação do solo, a geração de energia elétrica, a qualidade do ar atmosférico e o equilíbrio dos ecossistemas. Em síntese, valorizam-se, nessa fase, os elementos mais concretos e os ambientes que o cercam (casa, escola e bairro), oferecendo aos alunos a oportunidade de interação, compreensão e ação no seu entorno. (BRASIL, 2017, p. 321). 1.3.2 Unidade temática – Vida e evolução Observe o que o BNCC explica: Nos anos iniciais, as características dos seres vivos são trabalhadas a partir das ideias, representações, disposições emocionais e afetivas que os alunos trazem para a escola. Esses saberes dos alunos vão sendo organizados a partir de observações orientadas, com ênfase na compreensão dos seres vivos do entorno, como também dos elos nutricionais que se estabelecem entre eles no ambiente natural. [...]Nos anos iniciais, pretende-se que, em continuidade às abordagens na Educação Infantil, as crianças ampliem os seus conhecimentos e apreço pelo seu corpo, identifiquem os cuidados necessários para a manutenção da saúde e integridade do organismo e desenvolvam atitudes de respeito e acolhimento pelas diferenças individuais, tanto no que diz respeito à diversidade étnico-cultural quanto em relação à inclusão de alunos da educação especial. (BRASIL, 2017, p. 322). 1.3.3 Unidade temática – Terra e Universo Observe o que diz o BNCC: Os estudantes dos anos iniciais se interessam com facilidade pelos objetos celestes, muito por conta da exploração e valorização dessa temática pelos meios de comunicação, brinquedos, desenhos animados e livros infantis. Dessa forma, a intenção é aguçar ainda UNIUBE 21 mais a curiosidade das crianças pelos fenômenos naturais e desenvolver o pensamento espacial a partir das experiências cotidianas de observação do céu e dos fenômenos a elas relacionados. A sistematização dessas observações e o uso adequado dos sistemas de referência permitem a identificação de fenômenos e regularidades que deram à humanidade, em diferentes culturas, maior autonomia na regulação da agricultura, na conquista de novos espaços, na construção de calendários etc. (BRASIL, BNCC, 2017, p. 324). O documento destaca que essas três unidades temáticas devem ser trabalhadas de forma contínua nas aprendizagens e na integração com os objetos de conhecimento durante todas as séries inicias do Ensino Fundamental. É muito importante que o professor não fragmente esses processos, visto que essas temáticas não se desenvolvem isoladamente. Considerações finais1.4 Com a leitura deste capítulo, esperamos que tenha construído conhecimentos fundamentais sobre o que é proposto para o ensino de Ciências da Natureza nos anos iniciais do Ensino Fundamental propostos pela Base Comum Curricular Nacional – BNCC. A concepção atual de educação nos diz que, para aprender, o aluno precisa participar da construção do seu conhecimento como sujeito. Assim, a aprendizagem passa a ser o foco de todo o processo educacional, sendo a aprendizagem o modo com que indivíduos desenvolvem competências e constroem seus conhecimentos. Neste cenário, o ensino das Ciências da Natureza, desde a Educação Infantil, deve perpassar todo o Ensino Fundamental criando possibilidades para que o aluno desenvolva a curiosidade, as habilidades de experimentação, a investigação sobre fatos e fenômenos da natureza. 22 UNIUBE Para isso, faz-se necessário que o professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental compreenda a importância do ensino de Ciências, bem como suas questões conceituais e suas abrangências socioambientais para propor atividades estimulantes com práticas que promovam a criatividade, a cidadania e o pensamento crítico acerca dos conteúdos estudados, gerando mudanças de atitudes. Como apresenta os estudos de Delors (1999), “O objetivo da Educação não é somente transmitir conhecimentos, mas criar um espírito para toda a vida, onde ensinar é viver em transformações consigo próprio e com os outros”. Referências ARMSTRONG. Diane Lucia de Paula; BARBOSA, Liane Maria Vargas. Metodologia do ensino de ciências biológicas e da natureza. Curitiba: Inersaberes. 2012. (Série Metodológica). BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Proposta preliminar. Segunda versão revista. Brasília: MEC, 2016. Disponível em: < http:// portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=79601- anexo-texto-bncc-reexportado-pdf-2&category_slug=dezembro-2017-pdf&Itemid= 30192>. Acesso em: 02 set. 2017. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: ciências naturais (1º e 2º ciclos do Ensino Fundamental). Brasília: Ministério da Educação e do Desporto, 1998. DALZOTO, Gilsani. Fundamentos e metodologia de ensino de ciências biológicas. Curitiba: InterSaberes, 2004. DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 1999. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 2017. LIPPE. Eliza Márcia Oliveira. Metodologia do ensino da ciência. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2006. UNIUBE 23 MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. MENEZES, Ebenezer Takuno. Escola Nova. Disponível em: <http://www.educabrasil. com.br/escola-nova/.>. Acesso em: 09 nov. 2017. MINAS, Gerais. Secretaria de Estado da Educação. Caderno de Ciências. Ciclos Básicos e Intermediários/Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Consultoria e elaboração: Iria Luiza e Castro Vieira, Inês Luci Machado, Maria Inês Melo de Toledo, Delma Faria Shimamoto. Belo Horizonte, junlho de 2000. UNESCO BRASIL. Ensino de Ciências:o futuro em risco. 2005. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/imagens/0013/001399/139948por.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2018. ZAVBALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Art-med, 1998. Introdução Os conteúdos de Ciências Naturais no Ensino Fundamental – 1º e 2º anos Capítulo 2 Dando continuidade aos nossos estudos, este capítulo foi elaborado pensando em ajudá-lo a compreender os conteúdos de Ciências Naturais propostos no documento ofi cial BNCC, que orienta o ensino no 1º e 2º anos do Ensino Fundamental. Buscaremos [...] contextualizar os conteúdos dos componentes curriculares, identifi cando estratégias para apresentá-los, representá- los, exemplifi cá-los, conectá-los e torná-los signifi cativos, com base na realidade do lugar e do tempo nos quais as aprendizagens estão situadas. (BRASIL, 2017, p. 12). Nessa perspectiva, ao longo do capítulo, procuramos estabelecer uma relação entre a teoria e a prática, de forma a contextualizar os conteúdos de Ciências Naturais, evidenciando estratégias de ensino-aprendizagem. Os textos deste livro apresentam uma linguagem simples, adequada ao 1º e 2º anos, mas contemplando práticas docentes que possibilitam a construção do conhecimento pedagógico do aluno – futuro-professor. Assim, procurou-se conectá-las e tornar os conteúdos signifi cativos para melhor compreensão e estudo. 26 UNIUBE Dessa forma, esperamos que o seu aprendizado transcorra de forma prazerosa e que estimule a atitude investigativa e reflexiva, fomentando soluções para a prática docente. Objetivos Após a leitura deste capítulo, você deverá ser capaz de: • selecionar os conteúdos de Ciências Naturais, adequados ao 1º e 2º anos; • aplicar metodologias para o ensino destes conteúdos. Esquema 2.1 O corpo humano 2.1.1 O corpo em movimento 2.1.2 O nosso corpo 2.1.3 Órgãos dos sentidos 2.2 Os materiais 2.2.1 Os materiais no nosso dia 2.2.2 Origem dos materiais 2.2.3 As propriedades gerais da matéria 2.2.4 Os estados físicos dos materiais 2.2.5 A mudança do estado físico dos materiais 2.2.6 Materiais que se transformam 2.3 Escalas de tempo – os dias e as noites 2.3.1 As estações do ano 2.4 O ambiente à nossa volta 2.4.1 Os seres vivos e a relaçãocom o ambiente 2.5 Os animais 2.5.1 O tamanho dos animais 2.5.2 Como os animais se alimentam 2.5.3 O ciclo de vida dos animais UNIUBE 27 2.5.4 Animais domésticos e animais silvestres 2.5.5 Animais terrestres e animais aquáticos 2.5.6 Animais mamíferos 2.6 As plantas 2.6.1 Partes das plantas 2.7 Considerações finais O corpo humano2.1 O trabalho com o corpo humano chama a atenção das crianças. São várias as perguntas que permeiam esse assunto: • Por que a gente bebe água? • Para que servem os cílios? • Por que as unhas não param de crescer? • Por que sentimos fome, frio e calor? • Como eu nasci? • Por que quando eu choro sai água dos meus olhos? • Quanto tempo podemos ficar sem piscar? • Por que quando espetamos o dedo na agulha tiramos a mão bem rápido sem pensar? Muitas crianças, antes de iniciar o conhecimento científico na escola já têm respostas prontas para essas perguntas. São os conhecimentos que elas trazem de casa. Isso significa que, mesmo antes de ter acesso às informações sobre a composição de seu corpo, elas formulam hipóteses para essas perguntas independentemente dos equívocos ocasionados pelo senso comum. Cabe ao professor aproveitar os conhecimentos que as crianças já possuem sobre determinado assunto e propor novas questões e ajudá-las a construir o conhecimento científico sobre o tema em questão. 28 UNIUBE Nesse cenário, o professor não deve se aprofundar nas explicações, utilizando uma linguagem complexa com termos científicos sobre o corpo humano. É importante compreender o que é fundamental à criança saber, quais as definições básicas, ou seja, utilizando uma linguagem clara e objetiva, o professor ajudará a criança a entender as funções dos diversos órgãos. O estudo do corpo humano no primeiro ano do Ensino Fundamental, implica levar as crianças a compreender o seu corpo como um todo integrado, mostrando que cada parte desse corpo exerce funções específicas, que o fazem “funcionar da melhor forma possível”. 2.1.1 O corpo em movimento Para refletir acerca do corpo em movimento, as brincadeiras são recursos divertidos que mexem com o corpo e estimulam o relacionamento entre as crianças. Veja a brincadeira proposta a seguir, possivelmente, ela é do tempo em que sua mãe, pai e tias eram crianças. MORTO-VIVO A brincadeira que descrevemos a seguir foi adaptada do original de Delasig (2017). Ela poderá ser realizada com um grupo de crianças. Não há limites de participantes. No momento da brincadeira, será sorteado um elemento do grupo para controlar a brincadeira. Ele será o guia do grupo. • O guia fica no centro da roda e os demais participantes caminham livremente pela sala de aula (ou em outro espaço). • Sem avisar ninguém, o guia interrompe a caminhada com o comando morto. Todos têm que agachar. Rapidamente o guia fala vivo, e os participantes levantam e continuam a caminhada. EXEMPLIFICANDO! UNIUBE 29 • Os comandos podem ser alterados, como vivo, em seguida, vivo, morto, vivo, morto... • A cada erro, a criança sai e “paga” uma prenda. A última criança que ficar ganha a brincadeira! Obs. outras brincadeiras poderão ser exploradas, como: cabra-cega, estátua, dança das cadeiras etc. Após a brincadeira, é importante que o professor faça perguntas aos alunos, instigando a análise dos movimentos que foram realizados e as sensações que cada movimento proporcionou, bem como quais as partes do corpo que foram utilizadas. É relevante explorar a coordenação motora, os sentidos, a atenção e a concentração. O professor pode propor que os alunos se sentem em roda e reflitam a partir dos seguintes questionamentos: • É possível praticar a brincadeira com as orelhas tampadas? • Quando estava na posição de morto, desequilibrou e quase caiu? • Durante a brincadeira qual foi a sensação de agachar e levantar toda hora? • Qual posição foi mais confortável: morto ou vivo? O professor poderá pedir aos alunos que registrem as respostas e, posteriormente, todos poderão discuti-las em grupo. EXEMPLIFICANDO! Considerando que o ser criança está relacionado com o brincar, as brincadeiras são recursos que fornecem, a elas, a experiência necessária para o seu desenvolvimento e a construção da aprendizagem (Figura 1). 30 UNIUBE Figura 1: Crianças brincando. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A criança, desde o nascimento, aprende por meio do corpo no momento em que realiza as primeiras ações. Segundo Le Boulch (1992, p. 70), “é através da atividade prática que a criança vai descobrir sua existência e, como pessoa, ela vai conquistar sua unidade através da experiência vivenciada com o corpo eficazmente”. A partir das atividades práticas, das experimentações, as crianças realizam ações significativas no processo de aprendizagem. 2.1.2 O nosso corpo O trabalho com o corpo é fundamental para as crianças. Ele é concreto e familiar para elas, visto que elas exploram seu corpo desde o nascimento. Para Piaget (1996), a criança descobre o mundo por meio de seu corpo. Ela tem sensações e, por meio dessas sensações, vai desenvolvendo a coordenação de informações visuais e motoras sobre o mundo que a cerca e apropriando-se do significado dessas ações. Assim, percebemos a importância de retomar alguns conceitos sobre o corpo humano e, a UNIUBE 31 partir deles, sugerir atividades lúdicas, experimentos que os docentes poderão utilizar como metodologia de ensino para a compreensão das crianças. Para entendermos melhor este trabalho, vejamos o exemplo a seguir. Vejamos, agora, a sugestão de uma atividade para ser desenvolvida com crianças do primeiro e segundo ano do Ensino Fundamental. Podemos iniciar o estudo sobre o nosso corpo refletindo acerca da música “Cabeça, ombro, joelho e pé”, da cantora Xuxa. Cabeça ombro, joelho e pé Xuxa Cabeça, ombro, joelho e pé Joelho e pé Cabeça, ombro, joelho e pé Joelho e pé Olhos, ouvidos, boca e nariz Cabeça, ombro, joelho e pé Joelho e pé [...]. (LETRA.MUS.BR, 2018). Para ouvir a canção na íntegra, acesse: https://www.letras.mus.br/xuxa/769665> A proposta é de que os alunos cantem e encenem a música. Partindo dessa atividade, eles irão identificar as partes do corpo humano mencionadas na letra da música. Sendo assim, deverão perceber que o corpo possui três partes distintas: cabeça, tronco e membros. Em seguida, deve-se dar início à exploração de novos conceitos. EXEMPLIFICANDO! 32 UNIUBE É importante possibilitar ao aluno realizar esse percurso de identificação da cabeça, do ombro, do joelho e do pé, para que compreenda que há órgãos importantes, que atuam em conjunto para nos manter vivos e saudáveis. Assim, eles também verão que, em nosso corpo, temos, também, dois pares de membros, que são: os membros inferiores, que correspondem às pernas, e os membros superiores, que são os braços. O professor pode explorar com as crianças o fato de que, com esses órgãos, podemos locomover, segurar objetos, entre outras ações. Como atividade prática, o professor pode propor a realização do mapa do corpo, como veremos a seguir. Mapa do corpo Nesta atividade, o aluno deverá desenhar o contorno do corpo do colega no chão ou na folha de papel pardo. Depois do desenho feito, cada criança irá identificar as partes do corpo escrevendo o nome de cada uma delas em seu respectivo local e irá recortar formando um móbile (Figura 2). EXEMPLIFICANDO! Figura 2: Móbile do corpo humano. Fonte: Acervo EAD-Uniube. UNIUBE 33 Esse móbile (Figura 2) poderá ser levado para casa como estudo, ou até mesmo ficar fixado na sala de aula, podendo ser retomado quando for necessário. A atividade lúdica é parte da realidade do aluno e torna-se significativa à medida que ele exercita a imaginação e revela sua importância. Toma-se, como hipótese, que a atividade lúdica, realizada pela criança, surge a partir da realidade e assume um papel junto à sua imaginação. Assim, o educando se relaciona com a atividade criadora, podendo ser entendida nas diferentesformas de vinculação entre a fantasia e o real. Segundo Dinello (2007), o brincar e o jogar não têm nenhum interesse fora de si mesmos. O jogo propõe a alegria, o prazer da criança realizar a brincadeira. “A atividade lúdica da criança contém as máximas possibilidades de expressão criativa e comunicativa, portanto é a base das aprendizagens e da construção tanto de sua inteligência como de sua personalidade total (DINELLO, 2007. p. 87). Isso posto, o diálogo entre a criança e o objeto de estudo constitui-se como uma aprendizagem significativa. Isto é aprender por meio de atividades lúdicas é enriquecedor e atrai a atenção dos alunos. Para trabalhar o tema corpo com as crianças, sugerimos a coleção Corpim, do autor Ziraldo: • Pelegrino e Petrônio. • Os dez amigos. • Um sorriso chamado Luiz. • Rolim. • Dodô. • O Joelho Juvenal. INDICAÇÃO DE LEITURA 34 UNIUBE A série Corpim retrata de forma criativa e alegre diferentes partes do corpo, como: • Pelegrino e Petrônio é a história de dois pés “irmãos”. • Os dez amigos é uma história dos dedos da mão. Cada dedo tem um apelido engraçado e, quando as duas mãos se encontram, elas fazem uma grande descoberta! • Um sorriso chamado Luiz conta a história de um menino que gostava muito de sorrir. Sorria o tempo todo e para todo mundo! • Dodô é o nome do bumbum de Dolores. Ele viveu o tempo todo coberto e só via as coisas depois que elas passavam e, com isso, resolveu protestar! • O Joelho Juvenal traz a história engraçada de um joelho que viveu momentos felizes, embora sempre machucado! • Rolim era um umbigo redondinho, que se julgava o centro do mundo! 2.1.3 Órgãos dos sentidos O sistema sensorial é o sistema do corpo humano responsável por mandar as informações recebidas pelos órgãos (tato, olfato, paladar e visão) ao sistema nervoso, que decodifica essas informações e envia-as para todo o corpo. Esse estudo permite à criança perceber a importância desses órgãos para sua sobrevivência. É por meio deles que o indivíduo percebe o ambiente em sua volta e os perigos que o cercam. Em relação aos órgãos de sentidos, enquanto docentes, podemos iniciar e mediar as discussões esclarecendo às crianças que os nossos sentidos nos permitem observar o mundo em que vivemos. Por exemplo: com os olhos podemos ver a beleza das flores. Ouvimos o canto dos pássaros por meio das orelhas, sentimos o que nos toca pela pele. E a língua? Ela nos permite EXEMPLIFICANDO! UNIUBE 35 sentir o gosto das coisas. Já com o nariz sentimos os cheiros. Podemos usar vários desses sentidos ao mesmo tempo, quando observamos o mundo que nos cerca. Neste momento, enquanto professor, você deve trazer o conteúdo o mais próximo da criança, com uma linguagem clara e comum para ela. Segundo Rangel (2005. p. 22), “[...] os métodos individualizados procuram atender a condições e interesses dos alunos, suas motivações e aptidões, numa perspectiva de fortalecimento da disposição, da confiança, das escolhas próprias, das decisões e das convicções”. O professor deve utilizar metodologias e técnicas que proporcionam a autonomia do aluno, levando-o à compreensão e à aprendizagem. Lembre-se de que a aprendizagem só se efetiva se o aluno reconstrói seu conhecimento!!! Também, sugerimos os filmes e os vídeos como estratégia de ensino. Eles são fontes ricas de relação entre o conteúdo da aprendizagem e a realidade, pois apresentam uma linguagem mais próxima e diferente das utilizadas pelos professores nas aulas (BARROS; PAULINO, 2007). A escolha do vídeo depende do objetivo que o professor pretende alcançar com o seu uso. É importante que o professor faça um trabalho prévio e outro posterior com os alunos sobre a temática do filme ou vídeo, caso contrário essa atividade poderá configurar-se em apenas diversão. Para ilustrar o tema estudado, sugerimos o vídeo GUGUDADA – As partes do corpo. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=_NSkoWouWME>. Acesso em: 26 out. 2017. Poderá usar vídeos similares. PESQUISANDO NA WEB 36 UNIUBE O tato O professor pode começar explicando que o tato é um dos sentidos percebidos pela pele. Ao sermos tocados, sentimos o toque. Sentimos a textura e as formas dos objetos. É também, pela pele, que sentimos dor, calor e frio. O nosso corpo é coberto de pele, dessa forma, temos sensibilidade em todas as partes do corpo, porém essas sensibilidades não são todas iguais. Por exemplo, a pele da ponta dos dedos é mais sensível que a pele da sola dos pés. Você sabia que a testa e a ponta dos dedos das mãos são as partes mais sensíveis do nosso corpo? CURIOSIDADE Há algumas atividades práticas que podem ser trabalhadas para que a crianças compreenda o tato. Veja a sugestão a seguir. Caixa tátil • Materiais Caixa de papelão Materiais diversos (Figura 3) EXEMPLIFICANDO! Figura 3: Caixa tátil. Fonte: Acervo EAD-Uniube. UNIUBE 37 • Como proceder? Em um momento anterior à aula, o professor deve colocar dentro da caixa objetos de diferentes texturas. Na hora da aula, o professor deve solicitar a cada aluno que pegue aleatoriamente um objeto na caixa e passe esse objeto em diferentes partes do corpo, como: na sola do pé, nos braços, nas pernas, no rosto, na barriga etc. Em seguida, o aluno deverá relatar qual foi a sensação que sentiu ao passar o objeto pelo corpo e se as sensações foram as mesmas independentemente da parte do corpo. Depois deverá descobrir que objeto é. Os alunos deverão fazer o registro das respostas no caderno. Outras atividades práticas experimentais podem ser exploradas, como pisar, tocar em diferentes texturas: areia, pedras, grãos, lixas, algodão, espuma etc. Vai depender da criatividade do professor! As atividades práticas experimentais são admitidas, segundo Gaspar (2005), como recursos pedagógicos eficientes para o processo de interações sociais. Porém, são poucos os professores que conseguem desenvolvê-las constantemente, visto que esse tipo de atividade requer escolhas e toda escolha implica critérios. O critério é a adequação do conteúdo da atividade ao planejamento da disciplina. • O paladar Ao trabalhar o paladar, o professor deve mostrar que este é o sentido que nos possibilita sentir o sabor dos alimentos. É importante informar ao aluno que o principal órgão do paladar é a língua. Por meio dela podemos diferenciar os quatro gostos básicos do paladar: doce, salgado, 38 UNIUBE azedo e amargo. Ainda temos um quinto gosto do paladar, o umami, sabor sentido pela presença de aminoácidos contidos nos alimentos, que é ainda desconhecido de muitos. Umami “(palavra de origem japonesa que significa ‘delicioso e apetitoso’) é o nome do quinto sabor básico descoberto pelo pesquisador japonês Kikunae Ikeda, no ano de 1908”. (SIGNIFICADOS, 2017, p. 1). Você sabe quais estruturas são responsáveis pela percepção dos sabores? Observe a Figura 4: CURIOSIDADE Figura 4: Botões gustativos. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Como ilustra a Figura 4, “na língua encontramos estruturas chamadas de botões gustativos formados por células epiteliais com propriedades neurais, que, por sua vez, são responsáveis pela percepção dos sabores”. (BRASIL ESCOLA, 2017, p. 10). UNIUBE 39 Gosto e sabor são palavras sinônimas, ou seja, possuem o mesmo significado? É muito comum usarmos essas palavras como sinônimas, mas não são. Usamos a palavra gosto para expressar o sentido do paladar, por exemplo, o limão tem um gosto azedo. A palavra sabor é utilizada quando percebemos o gosto e o aroma dos alimentos. Neste caso, usamos os dois sentidos: o paladar e o olfato, quando, por exemplo, dizemos: o sabor da feijoada é muito bom! Os sabores dos alimentos não são sentidos apenas pelo paladar! Veja que, quando sentimos o “cheiro” de uma feijoada, nossa boca enche de água! Que vontade de comer! Sentimos até o gostinho dela na boca! Essa relação entre olfato e o paladar se dá porque os alimentos, quandoingeridos, liberam moléculas olfativas que são detectadas pela mucosa olfativa e que nos remetem à combinação de aroma e sabores. Você já reparou que quando estamos resfriados não sentimos muito bem o sabor dos alimentos? Sabe por quê? Porque nosso nariz fica entupido e com isso não conseguimos sentir o odor dos alimentos! PARADA PARA REFLEXÃO Aprender Ciências da Natureza implica despertar no aluno a investigação, a construção e a reconstrução dos conhecimentos a partir do que eles já possuem. Sobre essa afirmação, a BNCC (2017, p. 317) aponta que: 40 UNIUBE [...] a área de Ciências da Natureza, por meio de um olhar articulado de diversos campos do saber, precisa assegurar aos alunos do Ensino Fundamental o acesso à diversidade de conhecimentos científicos produzidos ao longo da história, bem como a aproximação gradativa aos principais processos, práticas e procedimentos da investigação científica. Com o objetivo de despertar esse olhar investigativo no aluno, sugerimos uma atividade prática para trabalhar de forma concreta essa temática com as crianças. Ela poderá ser realizada para iniciar o conteúdo ou durante o estudo, para os alunos analisarem e fazerem os registros. Gosto e sabor • Materiais Suco de laranja (pode ser qualquer outro tipo de alimento) Uma venda para os olhos • Como proceder? O professor irá vendar os olhos do aluno, em seguida, irá solicitar que esse aluno tampe o nariz com os dedos, mas bem forte, de forma que não consiga respirar. Nesse momento, o professor irá dar o suco para o aluno beber. O aluno deverá identificar o sabor do suco. Em outra tentativa, ainda de olhos vendados, o aluno irá soltar a respiração e, em seguida, beber mais um pouco do suco. Do mesmo modo que o anterior, ele irá tentar descobrir o sabor do suco. EXEMPLIFICANDO! UNIUBE 41 • Resultado esperado: Acredita-se que o aluno, no momento em que bebeu o suco com o nariz tampado, apenas tenha conseguido sentir o doce ou azedo do suco da laranja, sem identificar a fruta que o originou. Certamente, assim que soltou a respiração, ele conseguiu perceber o sabor do suco e fez a relação com a fruta. Esse experimento é importante porque a criança terá sua atenção voltada para percepção do paladar, o que tornará mais fácil a compreensão do conteúdo científico. O contato da criança com o objeto do conhecimento torna a aprendizagem significativa. Para Ausubel e Hanesian (1980, p.34), “a essência do processo de aprendizagem significativa é que as ideias expressas simbolicamente são relacionadas às informações previamente adquiridas pelo aluno através de uma relação não arbitrária e substantiva (não literal)”. Para os autores, para que a aprendizagem ocorra, é necessário que o novo conhecimento esteja ancorado no conhecimento existente. Somente assim, ele terá significado. O novo conhecimento deve ter significativo para o aluno, e não ser apresentado de forma aleatória. Dessa forma, a ação do professor deve ser planejada, inclusive, propondo para o aluno o contato com o objeto de estudo. • O olfato O professor deve mostrar que o olfato é o sentido por meio do qual reconhecemos odores (cheiros). Os odores estão no ar que respiramos. O principal órgão do corpo humano responsável pelo olfato é o nariz. Ele apresenta duas cavidades, que são chamadas de cavidades nasais. Nas cavidades nasais, encontramos um muco pegajoso, que tem a função de ajudar a purificar as impurezas encontradas no ar que respiramos, 42 UNIUBE isso porque, no ar, estão presentes minúsculos seres vivos, poeira, que grudam no muco (catarro, meleca) e não vão para os pulmões. Partículas saídas dos alimentos, de líquidos, de flores, etc. chegam ao nosso nariz e se dissolvem no tecido que reveste a região interna do teto da cavidade nasal, a mucosa olfatória. Ali a informação é transformada, para ser conduzida, através do nervo olfatório, até o cérebro, onde será decodificada. (SÓ BIOLOGIA, 2018, p.1). No teto da cavidade nasal encontra-se a mucosa olfativa ou mucosa amarela, que é formada por células olfativas, cujos prolongamentos ficam envolvidos pelo muco. Quando o ar entra pelo nariz e atinge a cavidade nasal, ele se dissolve no muco e atinge os prolongamentos das células olfativas, que por sua vez, enviam impulsos para o sistema nervoso, no qual as sensações olfativas são interpretadas e produzidas. A palavra “célula” vem do latim: cellula (quarto pequeno). As células são as unidades estruturais e funcionais dos organismos vivos. Para saber mais acerca desse tema, sugerimos que acesse o documentário “As Células”, do site Biólogo, no endereço a seguir: biologo.com.br/bio/documentario-as-celulas PESQUISANDO NA WEB É importante informar à criança que o sentido da palavra odor não está ligado a cheiro ruim, pois pode, também, ser um cheiro bom. O olfato está ligado ao paladar, por isso quando sentimos o cheiro de uma comida, se esse nos agradar, nossa boca fica cheia de saliva. Ocorre da mesma forma quando estamos gripados e não conseguimos sentir o aroma dos alimentos, pois consequentemente também não iremos sentir o sabor deles. Isso porque “durante a mastigação os aromas da comida se tornam ainda mais intensos. O cérebro utiliza as informações do olfato e do paladar para criar o ‘sabor’ da comida”. (SILVA, 2018, p.1). UNIUBE 43 No texto Olfato, do site Brasil Escola, temos que “O nosso olfato possui uma grande capacidade adaptativa, pois quando somos expostos a um forte odor temos uma sensação olfativa bem intensa, mas, depois de um minuto, a sensação já se tornou praticamente imperceptível” (BRASIL, 2018, p.1). Para ler o texto na íntegra, acesse: https://brasilescola.uol.com.br/oscincosentidos/olfato.htm SAIBA MAIS Comparado a outros animais, o ser humano é o que possui o olfato menos apurado, ou seja, menos desenvolvido. O cachorro e o gato, por exemplo, possuem o olfato mais aguçado. O aluno não pode ser impedido, durante o processo de aprendizagem, de conhecer teorias e vivenciar novas metodologias de ensino. Nessa perspectiva, a BNCC (2017, p. 327) aponta que é preciso oferecer oportunidades para que eles, de fato, envolvam-se em processos de aprendizagem nos quais possam vivenciar momentos de investigação que lhes possibilitem exercitar e ampliar sua curiosidade, aperfeiçoar sua capacidade de observação, de raciocínio lógico e de criação, [...], tendo como referência os conhecimentos, as linguagens e os procedimentos próprios das Ciências da Natureza. Como estamos trabalhando na perspectiva de possibilitar ao aluno conseguir relacionar a prática com a teoria, veremos a seguir uma sugestão de atividade. Trabalhando com perfumes • Materiais Nesta atividade, o educando deve trazer o perfume da mãe, do irmão, da irmã, do pai ou do avô, ou seja, de alguém que conviva com ele. O professor SAIBA MAIS 44 UNIUBE irá rotular cada perfume com o nome da criança que o levou. Pode ser, também, outro cheiro característico da casa, de coisas com as quais a criança tenha mais convivência. • Como proceder? Para realização da atividade, os frascos de perfumes ou as outras coisas levadas pela criança deverão ser dispostos, todos, sobre a mesa. As crianças de olhos vendados irão, uma a uma, sentindo o odor dos objetos que estão sobre a mesa, até identificar o “cheiro característico daquilo que levou”, ou seja, o perfume que a sua mãe usa – ou o cheiro do objeto levado pela criança (Figura 5). Figura 5: Testando o olfato. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A atividade poderá ser realizada para introduzir o conteúdo, bem como para ilustrar o conteúdo estudado. Outras atividades poderão ser realizadas, como levar os alunos para uma praça e pedir que listem os odores percebidos naquele ambiente. • A visão É necessário elucidar aos alunos que por meio dos olhos captamos a luz. A energia luminosa que chega aos nossos olhos traz informações de tudo que nos cerca. Os olhos, por sua vez, enviam esse estímuloluminoso até o cérebro, que transforma essas informações, retiradas do meio, em UNIUBE 45 imagens. É assim que as pessoas que possuem visão normal enxergam. Podemos definir que o órgão responsável pela visão são os olhos. O olho é recoberto por três membranas: esclera, coroide e retina. A esclera ou o “branco do olho” é a parte mais externa do olho. Antes da esclera, temos a córnea, que é uma membrana transparente de formato curvo por onde passa a luz. A coroide é uma membrana que apresenta uma grande quantidade de vasos sanguíneos responsáveis por alimentar as células oculares. Anterior à coroide, debaixo da córnea, está a íris, que é a região colorida do olho. Na região central da íris, existe um orifício, que chamamos de pupila, por onde passa a luz. A cor da íris varia de acordo com a quantidade de melanina que a pessoa possui no corpo. Como sugestão de atividade prática, você poderá solicitar aos alunos que façam o experimento do espelho. Eles deverão observar os olhos deles no espelho (Figura 6) e, durante a observação, irão identificando as partes observadas, esclera, córnea, íris, pupila. AGORA É A SUA VEZ Figura 6: Testando a visão. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 46 UNIUBE Em seguida, os alunos descreverão o que foi observado. Nesse momento, o professor poderá identificar as partes externas que compõem os olhos. Após a observação e descrição, o docente poderá fazer outros questionamentos a partir da seguinte situação: Imagine que você está descansando em seu quarto com a luz apagada e, de repente, acenderam a luz, ou seja, de em um ambiente escuro foi-se para um ambiente claro. Neste momento, você sentiu os olhos ofuscados, sentiu certa dificuldade de enxergar, parece que até doeu. Essa situação já aconteceu com você? Após ouvir os relatos dos alunos, você deve explicar por que essas sensações ocorrem. Isso ocorre porque a íris, região colorida de seus olhos, constitui-se de uma delicada musculatura, que de acordo com a quantidade luz que recebe, faz a pupila ficar grande ou pequena. Nesse caso do ambiente escuro, a quantidade de luz recebida é mínima, ou seja, não estamos enxergando quase nada. A pupila fica dilatada para captar o máximo de luminosidade. E, no momento que a quantidade de luz aumenta, a nossa pupila diminui, para não receber tanta “informação” e com isso o nosso cérebro leva algumas frações de segundos para processar a imagem. É por isso que, em uma situação como essa, no momento que passamos de um ambiente escuro para um ambiente claro, temos por hábito tampar os olhos com as mãos por alguns instantes até acostumarmos com a claridade e, às vezes, até falamos: “A claridade está fazendo os meus olhos doerem!” UNIUBE 47 Você pode citar esse exemplo para as crianças! Agora veja a sugestão de atividade prática a seguir. A luz e a visão • Problematização Em que situação enxergamos melhor: com muita luz ou com pouca luz? A luz interfere na identificação das cores? • Objetivo Identificar se a luz interfere na visão das cores. • Materiais 1 caixa de sapatos Folhas de papel preto ou tinta Guache preta Fita adesiva e cola 4 tampinhas de garrafa Tintas nas cores: verde, vermelha, azul e amarela Tesoura sem ponta • Como proceder? 1. Forre a parte interna da caixa com papel preto, ou pinte com a tinta preta. No caso de utilizar o papel, prenda as bordas com a fita adesiva ou com a cola. 2. Pinte o interior de cada tampinha com uma cor diferente. 3. Utilizando cola ou fita adesiva, fixe as tampinhas no interior da caixa de sapatos no lado menor. 4. Faça um furo com a tesoura no lado oposto às tampinhas. 5. Tampe a caixa (Figura 7) e olhe pelo furo. (MOREIRA, 2017). EXEMPLIFICANDO! 48 UNIUBE Figura 7: Testando a luz. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Depois da atividade realizada, pergunte aos alunos: • Você conseguiu identificar as cores das tampinhas com nitidez? • A luminosidade interfere na visão? Depois, repita a atividade com a caixa destampada. As respostas dos alunos devem ser registradas no caderno e, em seguida, discutida com todos. O professor deve explicar que existem pessoas que não enxergam, ou seja, não possuem visão. São as pessoas cegas. Para identificar os objetos e as coisas, os cegos utilizam o tato, que é um sentido apurado para essas pessoas. A leitura dos cegos é realizada por meio de textos escritos ou transcritos em Braille. O mesmo acontece com a escrita, eles escrevem em Braille. UNIUBE 49 O código Braille surgiu a partir da invenção de Charles Barbier, que criou um código de pontos e traços em relevo feitos em papelão. Esse código tinha como finalidade levar informações e ordens aos militares em sentinela. Estes deveriam decodificá-lo até no escuro. Porém, essa invenção não deu muito certo e Barbier fez adaptação para a leitura dos cegos, essa adaptação recebeu o nome de grafia sonora. O sistema, apesar de permitir a comunicação entre os cegos, era muito complicado, porque possuía muitos sinais para escrever uma única palavra. Foi, então, que o francês Louis Braille, cego, desde os cinco anos, em decorrência de um acidente que perfurou uma das vistas e que ocasionou infecção nos dois olhos, passou a pesquisar a fundo a grafia sonora proposta por Barbier. Frente às limitações da grafia sonora, Louis Braille passou a aperfeiçoá-la. Em 1824, o novo método estava pronto e ficou conhecido como método Braille (JUNQUEIRA, 2017). Este foi adotado como método de leitura e escrita pelos cegos. SAIBA MAIS Para o caso de o professor receber um aluno cego ou com pouca visão em sua sala de aula, ele deve diagnosticar se esse aluno faz leitura em Braille. Se positivo, caso o professor não tenha habilidade para ajudar esse aluno, deverá solicitar um intérprete. • A audição Como sugestão para trabalhar esse tema, o professor pode dar início a uma atividade usando a música “Tindolelê”, da cantora Xuxa. 50 UNIUBE Veja a letra da música: Tindolelê Xuxa Todo mundo tá feliz? Tá feliz! Todo mundo quer dançar? Quer dançar! Todo mundo pede bis, todo mundo pede bis Quando para de tocar! Mais um! Mais um! (BIS) Batendo palma E dando um grito, Hei! Levanta a mão passando energia.[...] Para visualizar a letra da canção, na íntegra, acesse: https://www.letras.mus.br Na roda de conversa, o docente pode perguntar aos alunos como eles ouviram o som e a letra da música apresentada. Assim, a partir da conversa informal, pode-se dar início à introdução do conteúdo. EXEMPLIFICANDO! A audição e a visão são sentidos importantes para que o homem e os outros animais percebam o meio que os cerca. Na audição, os estímulos sonoros vindos do meio externo são maiores que os estímulos da visão. Os sons nos alertam sobre a aproximação dos riscos que corremos e, também, por meio deles podemos perceber a sensação de tranquilidade. Observe a Figura 8 a seguir. UNIUBE 51 Figura 8: Sistema auditivo. Fonte: Acervo EAD-Uniube. O som é uma vibração do ar que é captada pela orelha externa. Ela é formada pelo pavilhão auricular, a parte côncava da orelha, ligada ao meato acústico externo. Nessa parte, o som é captado para podermos ouvi-lo, ou seja, o formato côncavo permite que o som entre e não se espalhe com facilidade. O meato acústico externo é um túnel que se inicia na orelha, com cerca de 2,5 cm de comprimento, e termina no tímpano. (TOMITA, 2012). O tímpano é formado por uma membrana fina que vibra com a entrada do som. O som é provocado pela vibração da membrana timpânica, que fica na orelha média. Nesse local, existem vários ossículos: o martelo, a bigorna e o estribo. Assim, quando o tímpano vibra, essa vibração irá passar pelo martelo, em seguida, pela bigorna, que fará vibrar o estribo. O estribo fica preso em uma pequena membrana que fecha um orifício que tem o tamanho aproximado da cabeça de um alfinete, a janela oval. As vibrações, depois de passarem pela janela oval, fazem vibrar a janela
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