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Maria Raquel Tinoco Laurindo – MED 103 1 Farmacologia Farmacodinâmica (pt. 1) Relembrando... A primeira coisa que chama atenção é que a questão indica o nível de creatinina sérica, essa informação já dá a dica de que provavelmente essa paciente tem algum comprometimento renal que esteja alterando do clearance da creatinina sérica e, consequentemente, do fármaco também. É importante se atentar à concentração que foi proposta da questão (2 ng/mL), por isso, pode-se desconsiderar a concentração da tabela. Sempre conferir e ajustar os valores da tabela com os valores referentes ao paciente em questão, no caso em questão, é preciso ajustar a depuração para o peso da paciente (que é diferente do que está na tabela). Na tabela, a depuração (CL) expressa a depuração total, mas essa paciente tem um problema urinário, então é preciso observar a porcentagem de excreção urinária da paciente (já que ela tem um problema renal). Na tabela a excreção urinária indica que 67% do CL é decorrente da atuação dos rins. Assim, é preciso somar o valor do CL da paciente (22 mL/min) com a excreção urinária e, depois, somar esse resultado à soma do CL com o restante da excreção. Maria Raquel Tinoco Laurindo – MED 103 2 A farmacodinâmica relaciona-se com os eventos que o fármaco desencadeia no organismo pela sua interação com receptores específicos. É o estudo dos efeitos bioquímicos e fisiológicos dos fármacos e seus mecanismos de ação. ❖ Receptor farmacológico O receptor ou alvo de um fármaco é a macromolécula ou complexo macromolecular da célula com o qual o fármaco interage para desencadear uma reação celular ou sistêmica. Assim, os fármacos, na maioria das vezes, precisam interagir com proteínas celulares (seja de membrana, receptores nucleares, enzimas, etc). Tipos de interação química entre fármaco-receptor: O fármaco interage com o complexo molecular alvo de maneira reversível, por isso, essa interação é feita por uma ligação fraca. Fármacos que interagem por meio de ligações fracas, seus receptores tendem a ser mais seletivos do que os fármacos que se prendem por meio de ligações muito fortes. Ligações fracas requerem um encaixe muito preciso do fármaco a seu receptor para que aconteça uma interação. Apenas poucos tipos de receptores têm probabilidade de prover um encaixe tão preciso para uma estrutura de fármaco em particular. Natureza do receptor do fármaco: - Receptores fisiológicos → majoritariamente proteínas que já agem como proteínas receptoras mesmo antes do fármaco entrar no corpo - Enzimas → alteram a atividade enzimática - Carreadores de membrana → transporte transmembrana - Canais iônicos - Ácidos nucleicos Tipos de interação do fármaco com receptor: proteínas Maria Raquel Tinoco Laurindo – MED 103 3 Existem fármacos que se ligam no mesmo sítio que um composto endógeno se ligaria, como a acetilcolina por exemplo. Se esse fármaco for estimular a atividade desse receptor, ele é um fármaco agonista. No caso de fármacos que se ligam no mesmo sítio de compostos endógenos, mas não ativam essa molécula/receptor, esses fármacos são antagonistas ou inibidores competitivos. Há também fármacos que se ligam a um sítio da proteína e assim favorecem a atividade do receptor, nesse caso o fármaco é um ativador alostérico. Esses sítios podem ser: Ortostérico → sítio ligante de uma molécula endógena, e onde o fármaco pode se ligar. Alostérico → sítio de ligação que não é comum a compostos endógenos, o fármaco se fica em outros locais da proteína. A curva preta indica a ação de um fármaco agonista (A). Se junto ao agonista é ministrado um ativador alostérico, é possível perceber uma resposta maior (curva verde), ou seja, o receptor terá sua ação aumentada. No caso de um agonista atuando junto de um inibidor competitivo, como os dois irão competir pelo mesmo sítio, é preciso mais agonista para se obter a mesma resposta que se obteria com ele isolado (curva vermelha). Se é ministrado um fármaco agonista junto a um ativador alostérico então há uma diminuição de resposta (curva roxa). Nesse sentido, a resposta varia a depender da combinação dos fármacos. Receptores fisiológicos: Muitos dos receptores de fármacos são receptores fisiológicos. São moléculas que já participam como receptores em processos endógenos de comunicação celular (receptores de neurotransmissores, de hormônios, de citocinas, etc). Maria Raquel Tinoco Laurindo – MED 103 4 Ligação dos fármacos aos receptores: A taxa de ligação direta de um fármaco ao seu receptor pode ser medida in vitro. → ensaios de binding (ligação) A) Gráfico de ligação total do composto/fármaco. Apresenta duas curvas pois é possível que o fármaco acabe se ligando a outras estruturas além do seu receptor. B) Quando se está observando a ligação específica (fármaco + ligante) é possível notar que quanto mais se aumenta a taxa de concentração do fármaco, maior vai ficando a taxa de ligação específica – essa taxa eventualmente chega a um limite → isso porque a ligação fica saturada devido à falta de receptores. C) Gráfico de representação logarítmica da concentração que permite o cálculo do KD, que é uma constante que traduz a taxa de ligação daquele fármaco aquele receptor. O KD descreve a afinidade do fármaco ao receptor, e é representado pela concentração do fármaco em que metade dos receptores vão estar ocupados. Curva de Concentração X Efeito: Na curva de Dose X Resposta, quando se está observando um agonista, ao se aumentar a concentração dessa droga, consequentemente se aumenta o nível de resposta (até que se atinja uma resposta máxima). Nesse sentido, em termos de resposta, pode-se calcular a resposta máxima e o EC50, que corresponde à concentração eficaz para se produzir 50% da resposta do fármaco. Obs.: KD ≠ EC50 Medidas de potência e afinidade: Maria Raquel Tinoco Laurindo – MED 103 5 Ou seja, no gráfico onde se avalia o quanto de fármaco está ligado ao receptor, o KD traduz a concentração do fármaco que equivale à metade dos sítios ocupados. Já o gráfico do EC50 está mais ligado à resposta do fármaco, pois o EC50 traduz a concentração do fármaco em que se tem a metade do efeito do mesmo. O KD e o EC50 podem ser numericamente iguais, mas essas grandezas não necessariamente são iguais. Obs.: Como ocorre a intoxicação por determinado fármaco se a o a o efeito da ligação fármaco x receptor é saturável? A toxicidade pode não estar relacionada a ligação do fármaco ao receptor, mas pode ser dada por uma interação desse fármaco com outro receptor, ou por um acúmulo desse fármaco nos tecidos e órgãos, ou ainda pelo metabólico do fármaco que é tóxico, etc. Relação Ocupação X Resposta máxima: Uma taxa de ocupação de 50% não determina necessariamente uma resposta de 50%, por exemplo. É possível que a resposta máxima ocorra em concentrações bem menores do agonista do que aquelas necessárias para ocupar todos os receptores. Isso se dá porque podem existir em alguns sistemas receptores de reserva. Além disso, em alguns casos pode ocorrer cascatas de amplificação da resposta do receptor. Receptores de reserva: Muitos agonistas plenos ativam respostas máximas em taxas de ocupação muito baixas. O pool (sítio) de receptores existentes é maior do que aquele necessário para a resposta máxima. Isso permite uma “economia” da produção e liberação de ligantes endógenos. Distinção entre a ligação dos fármacos e a atividade do receptor: Maria Raquel Tinoco Laurindo – MED 103 6 Um fármaco A se liga a um receptor formando um complexo Fármaco A-Receptor. O quanto o fármaco interage com o receptor tem a ver com a afinidade deles. A partir do complexo é possível ativar o receptor, que irá gerar uma resposta. O fármaco que tem essa capacidade de se ligar a um receptor gerando umaresposta é chamado de agonista. Um fármaco B se liga a um receptor, porém esse receptor não foi ativado e, portanto, não gerou resposta – fármaco ineficiente. Por isso, o fármaco B é um antagonista. Curva de Concentração X Efeito: Agonista pleno → se liga ao receptor e o ativa induzindo uma resposta máxima. Agonista parcial → se liga ao receptor e o ativa, mas não induz uma resposta máxima (menor eficácia). Antagonista competitivo → se liga ao receptor, mas não o ativa, não gera resposta (ao menos que seja administrado junto de um agonista). “Não induz uma resposta enquanto um fármaco ativo, mas o fato dele se opor a um mecanismo fisiológico por si só pode caracterizar uma resposta sistêmica.” Agonista inverso → se liga ao receptor, mas favorece a forma inativa do receptor. Maria Raquel Tinoco Laurindo – MED 103 7 Obs.: Na prática, o agonista inverso atua como um inibidor. A bomba de sódio atua como agonista inverso, porém ele é definido de maneira diferente. Potência e eficácia de agonistas: A maior potência de um fármaco traduz a quantidade que se usa para alcançar seu efeito máximo, quanto menor a quantidade do fármaco para alcançar esse efeito máximo, maior sua potência. Agonista pleno – se liga ao receptor e ativa sua resposta máxima Agonista parcial – se liga ao receptor e ativa uma resposta submáxima Fenilefrina → agonista pleno → se liga e gera uma resposta máxima Outros 4 → agonistas parciais → se liga, porém não gera uma resposta tão eficiente Mecanismos de antagonismo: Maria Raquel Tinoco Laurindo – MED 103 8 - Antagonista competitivo: Na presença de uma concentração fixa do agonista, concentrações crescentes de um antagonista competitivo (verde) inibem de forma progressiva a resposta ao agonista (vermelho). → O antagonista competitivo compete pelo sítio de ligação do agonista, e dessa maneira interfere na resposta do agonista, que passa a precisar de mais agonistas ligados para formar o efeito máximo. A curva de Concentração X Efeito do agonista é sempre desviada para a direita. Obs.: O antagonista competitivo faz uma ligação reversível no sítio do agonista. - Antagonista não competitivo (pseudoirreversível ou irreversível): Ocorre quando o antagonista se liga no sítio do agonista e se dissocia muito lentamente ou não se dissocia. Como acaba não tendo “competição” com o agonista, aumentando-se as concentrações do mesmo, não se atinge o efeito máximo (exceto em receptores de reserva). - Ativação constitutiva e agonistas inversos: Alguns receptores podem apresentar atividade intrínseca mesmo na ausência do ligante (porcentagem pequena na população de receptores totais) → ex.: benzodiazepínicos, canabinoides e serotonina. Os agonistas inversos se ligam aos receptores e favorecem o estado inativo do receptor, reduzindo a resposta basal mesmo na ausência do agonista. Modulação alostérica: Maria Raquel Tinoco Laurindo – MED 103 9 Acontece tanto em alguns receptores fisiológicos quanto em enzimas. Basicamente, o modulador alostérico se liga em um sítio alostérico (que não é o mesmo que um sítio ativo de uma enzima ou que um agonista endógeno se ligaria) e nesse sítio o modulador pode agir tanto como um agonista, aumentando a resposta, quanto como um antagonista, diminuindo a resposta do receptor. Assim, por exemplo, pode-se ter um agonista alostérico que aumente a afinidade do agonista endógeno (pleno) pelo sítio de ligação do receptor → curva desloca para a esquerda → concentrações menores do agonista endógeno já conseguem ativar metade da resposta máxima → Modulação positiva da afinidade. O inverso disso ocorre na modulação negativa da afinidade por meio de um antagonista alostérico, curva se desloca para a direita. No caso de um agonista parcial, quando um agonista alostérico se liga ao sítio do receptor, há uma maior eficácia de resposta →curva desloca para a esquerda → Modulação positiva da eficácia. O inverso disso ocorre na modulação negativa da eficácia por meio de um antagonista alostérico, curva se desloca para a direita. O GABA é um receptor endógeno que atua como um canal iônico. Os sítios GABAérgicos são sítios ortostéricos, então os benzodiazepínicos se ligam em sítios alostéricos, aumentando a resposta do GABA. Maria Raquel Tinoco Laurindo – MED 103 10 Outras formas de antagonismo: - Antagonismo químico: Quando 2 substâncias se combinam em solução e uma inibe a outra (ex.: dimercaptol/ metais pesados, anticorpos neutralizantes como o infliximabe/ TNF). - Antagonismo farmacocinético: Quando uma substância reduz a concentração de um outro fármaco ativo. → Altera as propriedades de distribuição, metabolismo ou excreção do fármaco. - Antagonismo fisiológico: Quando 2 fármacos têm ações distintas em receptores ou até células distintas (possuem vias de sinalização e receptores diferentes) que tendem a se anular mutualmente (ex.: histamina e omeprazol *). Sítio ortostérico: sítio de ligação, no receptor, que é reconhecido pelo agonista endógeno deste receptor. Sítio alostérico: sítio de ligação, no receptor, que não tem sobreposição, é espacialmente distinta, mas conformacionalmente ligado ao sítio ortostérico. * O omeprazol inibe a bomba de próton, diminuindo assim a acidificação do estômago. A histamina vai regular a produção de gastrina, a qual regula a acidificação do estômago.
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