Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
K LS G ESTÃ O D E PLA N O S D E SA Ú D E Gestão de planos de saúde Dayane Freire Romagnolo Carlos Eduardo de Lima Gestão de planos de saúde Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Romagnolo, Dayane Freire ISBN 978-85-8482-977-4 1. Seguro saúde – Brasil. 2. Assistência médica - Brasil. I. Lima, Carlos Eduardo de. II. Título. CDD 368.382 Carlos Eduardo de Lima. – Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017. 136 p. R757g Gestão de planos de saúde / Dayane Freire Romagnolo, © 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente Acadêmico de Graduação Mário Ghio Júnior Conselho Acadêmico Alberto S. Santana Ana Lucia Jankovic Barduchi Camila Cardoso Rotella Cristiane Lisandra Danna Danielly Nunes Andrade Noé Emanuel Santana Grasiele Aparecida Lourenço Lidiane Cristina Vivaldini Olo Paulo Heraldo Costa do Valle Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro Revisão Técnica Iara Gumbrevicius Editorial Adilson Braga Fontes André Augusto de Andrade Ramos Cristiane Lisandra Danna Diogo Ribeiro Garcia Emanuel Santana Erick Silva Griep Lidiane Cristina Vivaldini Olo 2017 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Sumário Unidade 1 | Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor Seção 1 - O que são sistemas de saúde? 1.1 | Os sistemas de saúde 1.2 | Sistema público de saúde no Brasil: aspectos históricos e características 1.3 | Os sistemas privados de saúde 1.4 | A cadeia produtiva do sistema privado de sistemas de saúde: atores e papéis Seção 2 - A saúde suplementar no Brasil: dados e evolução do setor 2.1 | A saúde suplementar em números 7 10 10 13 17 19 24 24 Unidade 2 | Os modelos de gestão de saúde privada: termos técnicos e características Seção 1 - Termos técnicos utilizados na saúde suplementar 1.1 | Termos técnicos e definições Seção 2 - Características e dados das modalidades médico- hospitalares do mercado privado de saúde suplementar 2.1 | Medicina de grupo 2.2 | Cooperativas médicas 2.3 | Autogestão 2.4 | Seguradoras especializadas em saúde 2.5 | Filantropias 2.6 | Administradoras de benefícios 37 41 41 46 47 49 51 54 56 60 Unidade 3 | As práticas na gestão de saúde privada: financiamento, qualidade e indicadores Seção 1 - Financiamento e gestão em saúde 1.1 | As formas de financiamento e a dinâmica no setor 1.2 | A visão holística na gestão em saúde 1.3 | A importância do gestor Seção 2 - A prática da qualidade na gestão da saúde 2.1 | O foco no cliente e nos colaboradores 2.2 | O foco nos dados e fatos 2.3 | O controle dos processos para melhoramento contínuo 2.4 | A administração participativa Seção 3 - O setor de serviços em saúde e seus indicadores 3.1 | Características do setor de serviços em saúde 69 73 73 76 78 81 81 82 82 83 86 86 Unidade 4 | Operadora de planos de saúde: as relações, o papel da regulação e os aspectos gerais e fundamentais Seção 1 - A relação da tríade “Estado, mercado e operadoras de planos de saúde” e a influência das ações exercidas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) 1.1 | A relação entre Estado, mercado e operadoras de planos de saúde 1.2 | A trajetória da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) 4.3 | Formas de reajuste dos planos de saúde Seção 2 - Aspectos gerais e fundamentais das operadoras de planos de saúde 2.1 | A segmentação assistencial 2.2 | A aversão ao risco, a seleção adversa e o risco moral 2.3 | Os avanços a partir da Lei 9.656/98 2.4 | Alguns desafios 2.5 | A hibridização no setor da saúde 2.6 | A insatisfação do consumidor e a portabilidade 101 104 104 106 110 114 115 118 121 122 123 124 Apresentação Neste livro, teremos a oportunidade de aprofundar nossos conhecimentos sobre a gestão na saúde no que tange, principalmente, aos planos privados de saúde. É de suma importância que você, futuro profissional da área, compreenda o sistema privado de saúde e seus aspectos correlacionados, tais como: estrutura, práticas da gestão, características, atores envolvidos, termos técnicos, modalidades, financiamento, dados do setor, papel da regulação e importância do setor de serviços. Nossa proposta é oferecer, de modo didático, conceitos importantes, dados relevantes e aspectos fundamentais a partir das constatações evidenciadas pelos principais autores da área. Assim, buscamos evidenciar a importância do gestor e sua atuação para a melhoria contínua na qualidade dos serviços prestados neste processo. Lembrando sempre que os profissionais atuantes nesta área irão lidar com um tema multidisciplinar, dado que envolve conhecimentos de economia, direito, além da saúde, essencial para o bem-estar de todos os indivíduos. Por isso, aprofunde-se nesta trajetória conosco e busque o aprimoramento constante para se tornar um gestor de sucesso. Bons estudos! Unidade 1 Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor Nesta unidade, iniciaremos nosso estudo compreendendo a evolução dos sistemas de saúde por meio de uma abordagem histórica, contemplando sua origem e tipologias (público e privado). Além desse objetivo principal, há dois objetivos específicos: i) apresentar a cadeia produtiva dos sistemas de serviços de saúde privado e ii) os dados do setor privado em contexto nacional. Objetivos de aprendizagem Nesta seção, iremos demonstrar o conceito de sistema de saúde e como ocorreu sua evolução, principalmente no Brasil. Explicaremos a diferença entre o sistema público e o privado de saúde e como está organizada a cadeia produtiva de sistema de serviços de saúde no país. Por fim, serão explicados os atores e papéis das organizações que formam a cadeia produtiva do sistema privado de saúde. Seção 1 | O que são sistemas de saúde? Nesta seção, são organizados e comentados os dados referentes ao mercado de saúde privada no país. Seção 2 | A saúde suplementar no Brasil: dados e evolução do setor Dayane Freire Romagnolo Introdução à unidade As questões relacionadas à saúde, no Brasil, são complexas em razão das diversidades referentes aos aspectos sociais, políticos e econômicos presentes no país. A Constituição (BRASIL, 1988) define a saúde como um direito de todos e dever do Estado, porém, tal como outras obrigações do Estado brasileiro diante dos seus cidadãos, há dificuldades em seu atendimento e aplicação (PEREIRA-FILHO, 1999). Ainda que seja um setor marcado por complexidades, o Brasil tem feito progressos significativos no desenvolvimento humano durante as últimas décadas, graças a uma série de inovações em políticas e ações sociais. Quando se trata da área da saúde, a consolidação do financiamento público organizado em um sistema nacional, o Sistema Único de Saúde (SUS) e uma maior ênfase na atenção básica têm sido muito importantes para essas melhorias. No entanto, além das ações do sistema público de saúde, no Brasil, em 2016, cerca de um quarto da população encontrava-se amparada por algum tipo de sistema privado de saúde, abrangendo mais de quarenta e oito milhões de usuários (ANS, 2016). Além da quantidade de pessoas amparadas por essa categoria de serviço e dos aspectos econômicos e legais por trás desses números, cabe ressaltar que o sistema privado possui suas peculiaridades. Dessa forma, torna-se necessário compreender melhor como atuam essessistemas que amparam a saúde da população brasileira. Mas, afinal, o que é um sistema de saúde? Sua definição, características e desenvolvimento histórico no país serão descritos na Seção 1 - O que são sistemas de saúde?. Na Seção 2 - A saúde suplementar no Brasil: dados e evolução do setor, traçaremos um panorama com dados relevantes. U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor10 Seção 1 O que são sistemas de saúde? 1.1 Os sistemas de saúde Introdução à seção De modo geral, há um grande caminho a percorrer na área da saúde, seja sob o aspecto do equacionamento da capacidade do Estado de financiar sua obrigação constitucional e garantir a saúde como um direito, seja pela busca de soluções alternativas mediante aquilo que se convencionou chamar de “sistema de saúde suplementar” (PEREIRA-FILHO, 1999). Trabalhar e fazer a gestão desse setor envolve um conjunto de habilidades e competências para lidar com os diversos atores e demandas envolvidas. Partilhando desse entendimento e antes de entrarmos propriamente nas questões que envolvem a gestão de sistemas de saúde, iremos iniciar esta unidade fazendo uma revisão histórica e conceitual do que entendemos por “planos de saúde” na contemporaneidade, além de listar e descrever os papéis das organizações que formam esse complexo sistema de relações. No passado, as primeiras compreensões do que conhecemos atualmente por doenças estavam associadas a fenômenos naturais (físicos e ambientais), tais como: chuva, trovão, ventos e relâmpagos. Naquele período, acreditava-se que as doenças eram castigos divinos em resposta a alguma ação, individual ou coletiva, pela afronta a essas entidades (BISPO-JÚNIOR; MESSIAS, 2005). Ainda que resíduos dessas concepções possam ser percebidos, elas estão, aparentemente, superadas e abandonadas na atualidade (HEGENBERG, 1998). Em um segundo momento, as doenças passaram a ser vistas como entidades externas ao corpo, presentes no ar e alojadas principalmente em ambientes úmidos e com pouca luz. A partir disso, surgiram iniciativas de organização dos serviços de saúde de ação curativa, como práticas de quarentena e sangria, e com ações U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor 11 de prevenção, como a construção de habitações em locais elevados e com arquitetura que facilitasse a circulação de ar, tornando as moradias mais adequadas (BISPO-JÚNIOR; MESSIAS, 2005). Assim, os sistemas de saúde passaram a estruturar-se e a organizar-se, incluindo e atendendo às peculiaridades de cada sociedade de alguma forma. De acordo com Lobato e Giovanella (2012), os sistemas de saúde representados por estruturas orgânicas públicas e privadas de atenção à saúde são recentes na história e só se consolidaram da forma como os conhecemos em meados do século XX. Desde então, os sistemas de serviços de saúde têm se organizado de forma distinta entre os países, porém, compartilhando objetivos comuns, que são: restaurar, proteger e promover a saúde de seus cidadãos (ELIAS; VIANA, 2011). A evolução dos sistemas de saúde está intrinsecamente relacionada ao crescimento da participação dos Estados no controle dos diversos mecanismos que se relacionam à saúde e também ao bem-estar das pessoas. Desse modo, os Estados foram consolidando estruturas que asseguram a prevenção de doenças, a oferta de serviços orientados à cura e à reabilitação, abrangendo o controle e a definição de legislação para a produção de alimentos, medicamentos, equipamentos, proteção do meio ambiente etc. Assim, os temas e problemas relativos à saúde tornaram-se uma preocupação coletiva, pois todas as nações têm esse problema em sua agenda (LOBATO; GIOVANELLA, 2012). Podemos dizer que os sistemas de saúde são construções sociais cujo objetivo é garantir meios eficientes para que os indivíduos façam frente a determinados riscos sociais. Destacam- se, por exemplo, a possibilidade de adoecimento e a necessidade de assistência, situação na qual esses indivíduos não teriam condições de com os gastos envolvidos por meios próprios (BISPO-JÚNIOR; MESSIAS, 2005; ELIAS; VIANA, 2011). Na percepção de Bispo-Júnior e Messias (2005), os sistemas de serviços de saúde são compostos por três elementos: arquitetura, fisiologia e instrumentos. Veja a explicação de cada um deles a seguir: • Arquitetura: refere-se ao componente que envolve a estrutura completa do sistema e engloba seus mecanismos de U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor12 relações entre o próprio sistemas, além das relações entre esses e os demais sistemas sociais. • Fisiologia: está associada à capacidade de funcionamento do sistema em responder socialmente às condições de vida da sociedade. • Instrumentos: referem-se aos recursos disponíveis pelo sistema, sejam eles tecnológicos legais ou organizacionais, utilizados para reger e desenvolver tais funções. Na atualidade, a vida de um grande número de pessoas está nas mãos dos sistemas de saúde. Desde a entrega segura de um bebê saudável ao cuidado com idosos frágeis, os sistemas de saúde têm assumido responsabilidade vital e contínua para com as pessoas ao longo das fases de sua vida. Eles são cruciais para o desenvolvimento saudável de indivíduos, famílias e sociedades em todos os lugares (WHO, 2000). Dessa forma, podemos afirmar que os sistemas de saúde têm como compromisso principal assegurar o acesso aos bens e serviços disponíveis em cada sociedade para que haja a manutenção e a recuperação da saúde de seus indivíduos (ELIAS, 2009). Quando analisamos os sistemas de saúde da Espanha, dos Estados Unidos e outros, por exemplo, verificamos que há uma grande variação na constituição de suas bases, com diversas possibilidades de composição entre as esferas pública e privada. Dessa forma, é possível elencar três tipos de sistemas de saúde (BRASIL, 2011): • Sistemas inteiramente ou majoritariamente públicos: são os sistemas de saúde que possuem acesso universal, financiados pela totalidade da população por meio do pagamento de tributos e cuja provisão de serviços é pública. • Sistemas de seguro social obrigatório: trata-se dos sistemas de saúde organizados pelo Estado e financiados pela contribuição de empregadores e empregados, com provisão de serviços privada. • Sistemas de caráter privado: sistemas de saúde financiados por parte da população e pelos empregadores, sem obrigatoriedade de contribuição e cuja provisão de serviços é geralmente privada. U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor 13 No caso do Brasil, o sistema de saúde é composto majoritariamente pelos subsistemas de saúde: público e privado (suplementar). Por meio do Quadro 1.1, é possível verificar as funções atribuídas a cada um dos sistemas. Como pode-se observar no Quadro 1.1, algumas funções são exclusivas do SUS, como as questões que englobam vigilância sanitária e epidemiológica, enquanto as demais funções são idênticas nos dois sistemas. O sistema de saúde brasileiro tem cobertura universal do sistema público e livre atuação da iniciativa privada. No Brasil, os planos de saúde fornecem assistência à saúde de forma suplementar, de modo que o cidadão não perde o direito de ser atendido pelo SUS ao contar com a cobertura do plano de saúde (IESS, 2017). Para entender melhor como surgiram e desenvolveram-se os dois sistemas, as próximas seções irão abordar a trajetória e as características de cada um deles. 1.2 Sistema público de saúde no Brasil: aspectos históricos e características No século XIX, na Inglaterra, a Lei dos Pobres (1834) documentava uma das primeiras incursões do Estado na área da saúde. No documento, o Estado provia esses indivíduos por considerá-los perigosos para a manutenção da ordem e da higiene públicas. No mesmo século, na Prússia (1883 e 1889), o Primeiro Ministro Bismark foi o responsável pela construçãode um sistema de seguridade social voltado para o proletariado, que contemplava a assistência médica individual (ELIAS, 2004). Fonte: ANS (2009). Sistema Único de Saúde Sistema de saúde suplementar • Vigilância sanitária • Vigilância epidemiológica • Atenção à saúde • Promoção à saúde • Prevenção de riscos e doenças • Atenção básica • Atenção de média e alta complexidade - - • Atenção à saúde • Promoção à saúde • Prevenção de riscos e doenças • Atenção básica • Atenção de média e alta complexidade Quadro 1.1 | O sistema de saúde brasileiro U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor14 Ainda que outros países europeus (França, Itália, Noruega e Suécia) também tenham seguido esse movimento, foi na Inglaterra do início do século XX, sob um alinhamento político progressista de inspiração igualitária, que se criou um seguro nacional de saúde ligado a um sistema fiscal forte (Ibidem) Quando analisamos o contexto brasileiro, conforme Elias (Ibidem), vemos que a intervenção do Estado no setor da saúde ocorria desde o período colonial. Dentre as ações que promoviam a saúde e preveniam doenças, merecem destaque as campanhas de vacinação e controle de doenças contra, por exemplo, os surtos de febre amarela no Rio de Janeiro. Neste período, destacou-se a atuação do sanitarista Oswaldo Cruz. Ainda que algumas medidas de Cruz tenham gerado certo descontentamento e impopularidade, ele conseguiu importantes conquistas como a erradicação da febre amarela. Porém, sua grande façanha foi conceber a saúde pública de uma forma mais completa, pois além do serviço de controle de doença, ele implantou um laboratório bacteriológico, um programa completo de engenharia sanitária, fundou o Instituto Soroterápico Federal e um departamento encarregado de coletar informações da população, visando definir melhores ações de saúde (LOTTENBERG, 2007). O sucessor de Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, aprimorou as campanhas de saúde ao inserir campanhas de educação para a população. No mesmo período foram instituídos departamentos específicos para combater doenças venéreas, lepra e tuberculose. Como resultado dessas ações, as epidemias nos grandes centros urbanos brasileiros foram controladas e as ações de saúde começaram a deslocar-se para o interior do país (Ibidem). Na década de 1920, a intervenção estatal na assistência à saúde no Brasil tem na Lei Eloy Chaves um significativo marco. Editada em 1923, estabelecia os marcos regulatórios para as aposentadorias, pensões e assistência médica, numa espécie de imitação ao que se passava na Europa desde o século anterior (ELIAS, 2004). Para Lottenberg (2007), essa lei foi fruto da mobilização operária que realizou duas greves gerais (1917 e 1919) e teve grande influência da organização de imigrantes italianos. U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor 15 Entretanto, no caso brasileiro, não abrangeu o conjunto total dos trabalhadores, mas apenas parte deles, os que eram vinculados aos polos mais dinâmicos da economia, como os ferroviários e os portuários. Seu financiamento ocorria por desconto compulsório na folha de salário, sem qualquer participação de recursos do Estado (ELIAS, 2004). Esse montante era destinado a uma espécie de fundo que, de certo modo, custeava as questões da saúde e de previdência dos trabalhadores (LOTTENBERG, 2007). Durante o governo de Getúlio Vargas, houve amadurecimento da proposta de fortalecer a previdência social e os direitos trabalhistas e, concomitantemente, houve a criação e o aperfeiçoamento de hospitais e o surgimento de novas escolas de medicina no país. Surgiam também algumas iniciativas que aumentavam a infraestrutura do sistema de saúde por parte do setor público. A partir de então, pautando-se nos ideais de democracia, justiça social e cultura de bem-estar social, dava-se início ao debate sobre a possibilidade de um sistema de saúde acessível a todos e também gratuito (ESCOREL; TEIXEIRA, 2008). Após períodos de transição e transformações, a maior mudança no setor ocorreu em 1988. Nesse ano, ocorreu a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988), que instituiu no país o Sistema Único de Saúde (SUS), oferecendo a todo cidadão brasileiro acesso integral, universal e gratuito aos serviços de saúde (FIOCRUZ, 2017). Por meio da nova Constituição, o Estado brasileiro assumia ter como objetivo reduzir as desigualdades sociais e regionais, promover o bem de todos e construir uma sociedade solidária sem quaisquer formas de discriminação. Tais objetivos marcam o modo de conceber os direitos de cidadania e os deveres do Estado no país, entre os quais está a saúde (BRASIL, 1988). Com o intuito de demonstrar as características do SUS, o Quadro 1.2 aborda como ocorre seu financiamento, forma de gestão e prestação de assistência. U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor16 Podemos dizer que o subsistema público de saúde, institucionalizado pela figura do SUS, é um sistema de saúde com financiamento público e participação das esferas da Federação (federal, estadual e municipal). Sua gestão é pública, única, com integração e articulação entre as diferentes esferas e a prestação de assistência, por meio de serviços de rede própria de serviços públicos relacionados à saúde, de outras áreas de governo e de serviços privados contratados ou conveniados (ANS, 2009; BRASIL, 2007). Menicucci (2014) afirma que a institucionalização do SUS rompeu com o caráter meritocrático que caracterizava a assistência à saúde no Brasil e, dessa forma, determinou a incorporação da saúde como direito, numa ideia de cidadania, que naquele momento se expandia e que considerava não apenas o ponto de vista de direitos formais e políticos, mas preconizava a ideia de uma democracia substancial, que envolvia certa igualdade de bem-estar. Para Elias (2004), o SUS vem se mantendo como um projeto que busca avançar na construção de um sistema de saúde universal na periferia do capitalismo. O Brasil, ao implantar um sistema público de saúde de acesso universal, torna-se um caso raro ou talvez único entre as nações, por ser um país continental, populoso e marcado por enorme desigualdade social. Para o autor, as possibilidades para a saúde no futuro mais imediato encontram- se inexoravelmente atreladas ao êxito do Estado na formulação de políticas públicas voltadas ao enfrentamento da exclusão social, tido como um grande problema brasileiro. Financiamento O financiamento é público com a participação das esferas da federação. Forma de Gestão A gestão é pública, única, com integração e articulação entre diferentes esferas. Prestadores de Assistência Serviços da rede própria de municípios, estados e união; serviços públicos de outras áreas do governo; serviços privados contratados ou conveniados. Fonte: adaptado de Pietrobon et al. (2008). Quadro 1.2 | Características do sistema público de saúde no Brasil U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor 17 1.3 Os sistemas privados de saúde Quando se analisa a história dos sistemas privados de saúde, no Brasil, uma das primeiras passagens nos leva aos anos de 1940, quando passaram a existir as Caixas de Assistência. Essas entidades reuniam os colaboradores do Banco do Brasil, beneficiando os funcionários de algumas empresas por meio de reembolso ou empréstimos pela utilização de serviços de saúde não contemplados pela previdência (PIETROBON; PRADO; CAETANO, 2008). Esse movimento ganhou maior difusão nos anos de 1950, quando a classe médica se reunia para fornecer assistência à saúde aos operários de empresas em expansão e a seus respectivos familiares. Naquele período, o sistema privado de saúde caracterizava-se como um produto local e que atendia às demandas por infraestrutura de serviços de saúde em geral, principalmente nas cidades ondea oferta de serviços era limitada (CARNEIRO, 2016). A consolidação do setor de saúde suplementar ganhou maior velocidade a partir do final da década de 1980, com o fechamento do ciclo de industrialização propiciado pelo projeto nacional desenvolvimentista que caracterizava a ação estatal desde os anos de 1930 (ELIAS, 2004). Por essa razão, podemos dizer que, comparado a outros setores da economia, o serviço de plano de saúde é relativamente novo no país (CARNEIRO, 2016). Com a implantação do plano real, no ano de 1994, a perspectiva de aumento do poder aquisitivo de grande parte da população e a informalidade no mercado de trabalho estimularam a comercialização de planos individuais, por intermédio de hospitais filantrópicos e empresas médicas. Esses planos ofereciam o acesso a serviços restritos e/ou a um único estabelecimento hospitalar, geralmente localizados em periferias das grandes cidades ou em municípios de médio e pequeno portes (TEIXEIRA; BAHIA; VIANNA, 2002). Questão para reflexão Você concorda com a qualidade do acesso universal que o SUS oferece? Em quais aspectos eles necessitam ser aprimorados? U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor18 Durante a década de 1990, observou-se que o setor teve um crescimento sem organização e desregulado, o que levou à aprovação da Lei n. 9.656/98 (BRASIL, 1998) e, posteriormente, da Lei n. 9.961/2000 (BRASIL, 2000), que criou a Agência Nacional de Saúde Suplementar. Dentre os determinantes que levaram a esse crescimento, está o fato de ter sido esse um período em que a conjuntura internacional vivia uma tendência conservadora de reformas, em vários países, no que se refere aos contextos econômico, social e político (BRASIL, 2007). A criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em 1998, representou o início do estabelecimento de uma jurisprudência reguladora das operadoras de planos privados de assistência médica. O novo marco para planos privados de saúde buscou, portanto, a padronização dos serviços ofertados, a elaboração de um sistema regulatório eficiente, a fiscalização da seleção de risco praticada por todas as operadoras, a manutenção da estabilidade do mercado e o controle da assimetria de informação, seguindo a característica reformadora de formação de agências regulatórias no Brasil (COSTA; PINTO, 2002; RIBEIRO, 2001). Por meio do Quadro 1.3, são apresentadas as características dos sistemas privados de saúde no Brasil. Financiamento Financiamento privado com subsídios do setor público. Forma de Gestão Possui gestão privada com regulamentação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Prestadores de Assistência Os prestadores de assistência são privados, credenciados pelos planos de seguros de saúde ou pelas cooperativas médicas; serviços próprios dos planos e seguros de saúde; serviços privados, conveniados ou contratados pelos sistemas públicos por empresas de planos de saúde, passando a fazer parte da rede credenciada. Fonte: Pietrobon et al. (2008). Quadro 1.3 | Características do sistema privado de saúde no Brasil Podemos dizer que o setor de saúde suplementar, devidamente estabelecido, com leis, atribuições para cada parte envolvida e que se tornou um dos principais objetos de desejo do cidadão U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor 19 brasileiro é algo ainda muito novo em nossa sociedade. E, como tal, apresenta-se em fase de aperfeiçoamento e correção, algo típico de mercados em desenvolvimento e que vão precisar de algum tempo para atingir sua plena maturidade (CARNEIRO, 2016). 1.4 A cadeia produtiva do sistema privado de sistemas de saúde: atores e papéis A partir da década 1980, houve uma melhor percepção dos serviços suplementares de saúde como negócio de mercado. Consequentemente, acelerou-se o surgimento de empresas privadas nesse ramo e, dessa forma, as atividades relacionadas com a prestação desses serviços passaram a ter maior dimensão econômica. Outro fato é que as empresas estruturaram-se e o setor ganhou perfil de complexo de saúde. Essas atividades são consideradas atividades econômicas geradoras de emprego e renda e socialmente desejáveis, por causarem externalidades positivas na sociedade (SICSÚ et al., 2006). Lobato e Giovanella (2012) afirmam que os diversos atores, serviços, instituições e organizações que compõem os sistemas de saúde tiveram, em sua origem, legislações condicionadas por Para saber mais Questão para reflexão Você se recorda das diferenças entre os sistemas públicos e privados de saúde? É hora de anotar as diferenças e consolidar o seu conhecimento sobre o tema. Você sabe quais são os melhores sistemas de saúde pública no mundo? Curiosamente, não são apenas os países desenvolvidos que fornecem saúde de qualidade à sua população. Vamos conhecê-los? Para conhecê-los, leia o artigo Top 10 melhores sistemas de saúde do mundo. Disponível em: <http://top10mais.org/top-10-melhores-sistemas- de-saude-do-mundo/>. Acesso em: 03 maio 2017. U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor20 circunstâncias políticas, econômicas e culturais de cada época e por conflitos específicos presentes em cada nação. Assim, resultaram e estão relacionadas às diferenças setoriais, suas maneiras de organização e recursos de poder, dentre eles, as autoras citam os trabalhadores organizados, os seguros privados, os partidos e a atuação da classe médica. Como resultado dessa dinâmica e da relação entre diversos atores e entre esses e o mercado, há a cadeia produtiva de serviços do setor da saúde suplementar. No contexto do mercado, o termo “cadeia produtiva” pode ser compreendido como um conjunto de etapas de um sistema pelos quais vão sendo transformados e transferidos diversos tipos de insumos e serviços. Assim, é possível incorporar diversas formas de cadeia. Em uma cadeia produtiva empresarial, por exemplo, cada etapa é representada por uma organização, cujos papeis são diferenciados, mas articulam-se e complementam-se. No contexto econômico e social, compreender as cadeias produtivas é importante, pois oferece a possibilidade de analisar-se um setor, contemplando a divisão do trabalho e da interdependência dos agentes econômicos. Para entender o funcionamento da cadeia produtiva de bens e serviços de saúde suplementar no Brasil, veja a Figura 1.1 que auxilia a sua contextualização. Fonte: Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (2017). Figura 1.1 | Cadeia produtiva de bens e serviços no setor da saúde suplementar U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor 21 De acordo com o IESS (2017), o início da cadeia de serviços de saúde dá-se em empresas que constituem a indústria de insumos de saúde, contemplando também os seus distribuidores. Elas fornecem, entre outros produtos: medicamentos, materiais para todo tipo de exames e diagnósticos, equipamentos de laboratório (microscópios, centrífugas e reagentes), gases medicinais, próteses, material de consumo e instrumentos cirúrgicos. As organizações que utilizam esses insumos são as prestadoras de serviços de assistência à saúde. Os prestadores de serviço de saúde, por sua vez, compram e utilizam os diversos insumos, possibilitando ofertar serviços aos beneficiários de planos de saúde, que pagam pelos serviços usufruídos por meio da mensalidade do plano acordado por uma das modalidades de contrato. Todo esse sistema privado é regulado por três órgãos: a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC). A ANS é, por sua vez, a agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde, responsável pelo setor de planos de saúde no Brasil. De forma simplificada, a regulação pode ser entendida como um conjunto de medidas e ações do governo que envolve a criação de normas,o controle e a fiscalização de segmentos de mercado explorados por empresas para assegurar o interesse público (ANS, 2016). Para Almeida (1998), a regulação pública tem três objetivos, sendo eles: a manutenção da estabilidade do mercado segurador, o controle das possíveis assimetrias de informação e a maximização da participação dos consumidores no mercado de saúde privada no país. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) foi criada pela Lei nº 9.782, de 26 de janeiro 1999 (BRASIL, 1999). Trata-se de uma autarquia sob regime especial, que tem sede e foro no Distrito Federal, e está presente e atuando em todo o território nacional por meio das coordenações de portos, aeroportos, fronteiras e recintos alfandegados. Sua finalidade institucional é a de promover a proteção da saúde da população, por meio do controle sanitário da produção e consumo de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária. Engloba também a fiscalização dos ambientes, U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor22 dos processos, dos insumos e das tecnologias relacionados a esses produtos (ANVISA, 2017). O Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), conforme prevê o artigo 3º da Lei 12.529/2011 (BRASIL, 2011), é composto pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e pela Secretaria de Acompanhamento Econômico (SAE), do Ministério da Fazenda. Esse elo da cadeia produtiva é representado por um órgão de natureza governamental e suas atribuições são as de analisar e aprovar (ou não) os atos de concentração econômica, de investigar condutas que possam prejudicar a livre concorrência e trazer prejuízo ao governo e à sociedade. As operadoras de planos de saúde são as pessoas jurídicas de direito privado constituídas sob a forma de sociedade civil ou comercial, cooperativa, ou entidade de autogestão, que operem produtos ou serviços de plano privado de assistência à saúde. Cabe ressaltar que esse tipo de organização, para fins legais, necessita estar obrigatoriamente registrada na Agência Nacional de Saúde (ANS, 2009). Como podemos notar em Dedecca, Proni e Moretto (2001), não há como definir nitidamente as fronteiras da cadeia produtiva do complexo econômico de saúde, pois os vários segmentos envolvidos no sistema atuam de acordo com lógicas próprias, típicas de cada setor. Em determinados momentos, os interesses podem se tornar divergentes. Outro agravante é que o serviço oferecido pela cadeia está intrinsecamente ligado ao bem-estar e à vida da população, logo, o setor necessita lidar com atores que não estão ligados à cadeia produtiva em si, como a mídia em geral. Questão para reflexão Você se recorda dos elementos que constituem a cadeia produtiva de bens e serviços de saúde suplementar e suas respectivas funções? Aproveite para relembrá-los. U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor 23 Atividades de aprendizagem 1. O que são sistemas de saúde? 2. Considerando a cadeia produtiva de bens e serviços de saúde, o que são as operadoras dos planos de saúde e qual é o papel delas? 3. Qual é o papel da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) na cadeia produtiva dos serviços de saúde? 4. No caso brasileiro, o sistema de saúde é subdivido em dois subsistemas: o público, Sistema Único de Saúde (SUS) e o privado (de saúde ou saúde suplementar). No caso dos sistemas de saúde privados, quais são suas características no que se refere ao financiamento, gestão e prestadores de assistência? U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor24 Seção 2 A saúde suplementar no Brasil: dados e evolução do setor A saúde suplementar em números Introdução à seção As transformações demográficas, sociais e econômicas pelas quais passam a sociedade brasileira impactam as condições de vida e saúde da população, ao mesmo tempo em que geram novas demandas para o sistema de saúde do país, pressionando-o, para que ele se adapte ao novo perfil de necessidades (IBGE, 2017). No caso brasileiro, ainda que o SUS ofereça acesso universal, o sistema de saúde suplementar contempla em média 25% da população brasileira (ANS, 2016). Dessa forma, além da quantidade dos usuários, dos empregos gerados e das receitas que o setor movimenta na economia, compreender esse complexo por meio de dados é importante, pois auxilia na contextualização da atividade, ou seja, oferece uma visão geral sobre qual maneira e em que lugares deve haver maior atenção na prestação de serviços. Vamos aos números? 2.1 A saúde suplementar em números Com intuito de entendermos melhor os números do setor da saúde suplementar, o Gráfico 1.1 apresenta o número de operadoras de planos de saúde atuantes no mercado entre 2006 e 2016. U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor 25 Fonte: adaptado de ANS (2016). Gráfico 1.1 | Operadoras de planos privados de saúde em atividade (2006 - 2016) O número de operadoras em atividade no setor chegou a 1310 em junho de 2016, das quais 1112 operavam com beneficiários, seguindo assim a gradual tendência de queda desde 2006. No período entre 2006 e 2016, houve um decréscimo de 37% no número de operadoras em atividade. Nota-se também que houve declínio no número de beneficiários. Por meio do Gráfico 1.2, é possível verificar a evolução do número de usuários entre os anos de 2005 e 2016 nas modalidades exclusivamente odontológicas e com ou sem odontologia. Fonte: adaptado de ANS (2016). Gráfico 1.2 | Beneficiários de planos privados de saúde por cobertura assistencial do plano no Brasil (dezembro/2000 - junho/2016) em milhões de pessoas U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor26 De acordo com Gráfico 1.2, verifica-se que havia uma tendência de crescimento no número de beneficiários em ambos tipos de plano entre os anos de 2005 e 2014. Porém, os anos de 2015 e 2016 foram marcados pela queda no número de beneficiados na modalidade com ou sem odontologia, sendo que o plano exclusivamente odontológico registrou sua primeira queda em 2016. De acordo com dados da ANS (2016), o número de vínculos de beneficiários da saúde suplementar no segundo trimestre de 2016 foi de 48,4 milhões de planos de assistência médica com ou sem odontologia e 21,9 milhões em planos exclusivamente odontológicos. Um estudo elaborado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) afirma que o setor registrou perda de 1,37 milhão de beneficiários em 2016, equivalendo a uma queda de 2,8% em comparação ao mesmo período de 2015. Dentre as regiões, a Sudeste puxou a queda do total de beneficiários de planos médico-hospitalares em 2016, pois 1,1 milhão dos vínculos rompidos, o que equivale a 79,9% do total, se concentravam no Sudeste (IESS, 2017). Outro ponto destacado pelo estudo afirma que, apenas no estado de São Paulo, houve declínio de 630,3 mil beneficiários dos planos privados de saúde médico-hospitalar. Dentre as explicações para a queda em todo país, é possível destacar os seguintes pontos: • O declínio no número de beneficiários do sistema privado de saúde se deve à desaceleração da economia do país nos últimos anos. De acordo com o IESS (2017), à medida que se observa uma retração na atividade econômica, o número de beneficiários sofre retração. • Números recentes apontam para um aumento dos níveis de desemprego no país, cujos números ultrapassaram onze milhões de pessoas no ano de 2016. Assim, parte dos beneficiados com planos empresariais acaba por cancelar os seus planos. • Outro agravante refere-se à queda na renda da população e ao ambiente econômico de incertezas que favorece o rompimento dos vínculos com planos de saúde. Apenas cinco estados do país encerraram o ano de 2016 com aumento no total de beneficiários, sendo um deles o Sergipe, onde U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dadosdo setor 27 foram registrados 100 novos vínculos e variação positiva que não chega a 0,1%. No Ceará, 1,5 mil novos beneficiários passaram a contar com um plano de saúde. Mesmo com o resultado positivo, a variação do número total de vínculos no estado foi praticamente estável, com leve variação positiva de 0,1%. No estado do Amazonas, houve incremento de 0,4%, resultando em 2,3 mil novos beneficiários. Tocantins e Piauí tiveram um resultado mais expressivo: nos dois estados, o total de beneficiários subiu 2,7% em 2016; 2,9 mil novos vínculos em Tocantins e 7,9 mil novos beneficiários no Piauí (IESS, 2017). Por meio do Gráfico 1.3, é possível analisar a quantidade de beneficiários do plano de saúde no Brasil que é contemplada pelas modalidades individual e coletiva. Um a cada cinco, ou seja, apenas 20% dos usuários possuem plano individual de saúde. A grande maioria dos beneficiários é usuária dos planos de saúde por contratação coletiva, que se subdivide nas tipologias por adesão e empresarial, categorias que serão abordadas na Unidade 2, na modalidade “administradora de benefícios”. De acordo com Ceccim (2008), os planos individuais oferecem mais risco para as empresas do setor. Ainda segundo o autor, a regulação faz com que as operadoras necessitem cumprir Fonte: elaborado pela autora com dados da ANS (2016). Gráfico 1.3 | Beneficiários de planos privados de saúde por tipo de contratação do plano, segundo cobertura assistencial (junho/2016) U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor28 regras mais rígidas no encolhimento dos planos individuais comparados aos coletivos. Ao fazer a análise das regiões, verificou-se que o Sudeste é onde se encontra o maior número de usuários de planos de saúde, 36,9%. As demais regiões e o percentual da população cobertos com planos de saúde encontram-se apresentadas no Gráfico 1.4. A região Sul ocupa a segunda posição com 32,80%, enquanto a região Centro-oeste possui 30,40% dos usuários. As regiões com menor cobertura são as regiões Norte e Nordeste que possuem 13,30 e 15,50 por cento da população com cobertura de planos de saúde, respectivamente. A cobertura por plano de saúde representa um uso diferenciado dos serviços de saúde, possibilitando um maior acesso a serviços para quem é coberto pelas modalidades de planos existentes (IBGE, 2013). Em uma análise das unidades federativas, já no ano de 2016, conforme a Figura 1.2, nota-se que apenas os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e o Distrito Federal possuem mais de 30% de suas populações cobertas por planos de Fonte: IBGE (2013). Gráfico 1.4 | Distribuição de pessoas na população residente com cobertura de planos de saúde nas regiões brasileiras em 2013 U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor 29 saúde privados. Os estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais possuem entre 20% a 30% de suas populações cobertas. Os demais estados do país encontram-se entre 5% e 10% da taxa de cobertura. Para Pinto e Soranz (2004), os planos privados de assistência à saúde atuam no sistema de saúde brasileiro, configurando-se como mais um fator de geração de desigualdades sociais no acesso e na utilização de serviços de saúde, pois cobrem apenas uma parcela específica da população brasileira em que predominam pessoas de maior renda familiar, inseridas em determinados ramos de atividade do mercado de trabalho: moradores das capitais/regiões metropolitanas e pessoas que já avaliam seu estado de saúde como bom ou muito bom. Fonte: ANS (2016). Figura 1.2 | Taxa de cobertura dos planos privados de assistência médica por Unidades da Federação (Brasil - junho/2016) U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor30 Questão para reflexão Com base no que foi abordado nesta unidade, você acredita que os sistemas privados de saúde refletem as desigualdades regionais do país? Como você analisa o perfil de usuários em seu município? Para saber mais Você possui plano privado de saúde? Você sabia que existe um indicador de qualidade das operadoras de serviços de saúde e que, inclusive, você pode utilizá-lo para verificar como o seu plano foi avaliado? Para conhecer esse indicador, acesse o Programa de Qualificação das Operadoras. Aprenderemos mais sobre esses indicadores nas próximas unidades. Disponível em: <http://www.ans.gov.br/planos-de-saude-e-operado ras/informacoes-e-avaliacoes-de-operadoras/qualificacao-ans>. Acesso em: 3 maio 2017. Fique ligado Nesta primeira unidade, fizemos uma descrição do que são sistemas de saúde e da forma que eles se subdividem. Identificamos e descrevemos como ocorreu o surgimento do SUS e do sistema privado de saúde, apresentando suas respectivas histórias e características. Ilustramos e descrevemos quais são as organizações que compõem a cadeia produtiva de serviços privados no país e, dessa forma, foi possível verificar a diversidade de funções que podem desempenhar e suas naturezas. Vimos também os dados do setor da saúde suplementar, que nos permitiu conhecer o número de operadoras, usuários e como o setor tem respondido à situação econômica nacional atual. Por fim, demonstramos onde estão as maiores concentrações de usuários nas regiões e nas Unidades Federativas do Brasil. Para concluir o estudo da unidade O contexto abordado nesta seção fornece um conjunto de conhecimentos para que o gestor tenha um diagnóstico de como U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor 31 está o setor na atualidade e de como ele desenvolveu-se ao longo dos anos. Dessa forma, é possível retornar à unidade sempre que houver necessidade de orientar-se e de conhecer a fundo o setor com o qual estamos lidando. Passada esta etapa de conhecimento, as próximas unidades permitirão um maior aprofundamento no tema. Atividades de aprendizagem da unidade 1. A cobertura por plano de saúde representa um uso diferenciado dos serviços de saúde, possibilitando um maior acesso a serviços para quem é coberto pelas modalidades de planos existentes. Partindo dessa premissa e com base nos conhecimentos adquiridos na unidade, indique a alternativa que apresenta as Unidades da Federação com maior proporção de beneficiados por sistemas de saúde. a) Rio Grande do Sul, Sergipe, São Paulo e Rio de Janeiro. b) Paraná, Santa Catarina, Maranhão e Distrito Federal. c) Ceará, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Bahia. d) Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná e Rio de Janeiro. e) São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Distrito Federal. 2. Os planos privados de assistência à saúde atuam no sistema de saúde brasileiro, configurando-se como mais um fator de geração de desigualdades sociais no acesso a serviços de saúde e na sua utilização, pois cobrem apenas uma parcela específica da população brasileira. Diante desse contexto e considerando as grandes regiões brasileiras, qual região tem o maior e menor percentual de usuários cobertos por planos de saúde, respectivamente? a) Sudeste e Norte. b) Norte e Sul. c) Sul e Nordeste. d) Sudeste e Centro-Oeste. e) Sul e Sudeste. 3. Os sistemas de serviços de saúde são compostos por três elementos: arquitetura, fisiologia e instrumentos. Qual das alternativas a seguir corresponde ao elemento “instrumento”? Assinale a alternativa correta. a) Componente que envolve a estrutura completa do sistema e engloba seus mecanismos de relações entre o próprio sistema. b) Capacidade de funcionamento do sistema que tem como objetivo responder socialmente às condições de vida da sociedade. U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor32 c) Recursos disponíveis pelo sistema, sejam eles tecnológicos legais ou organizacionais, utilizados para reger e desenvolver tais funções. d) Componente que envolve a estrutura parcial da organização e seus mecanismosde regulação no próprio sistema. e) Recursos exclusivamente tecnológicos, disponíveis pelo sistema e utilizados para responder socialmente às condições adversas. 4. Quando analisamos os sistemas dos sistemas de saúde da Espanha, dos Estados Unidos, por exemplo, verificamos que há uma grande variação na constituição de suas bases, com diversas possibilidades de composição entre as esferas pública e privada. No Brasil, quais são as três formas de composição dos sistemas de saúde que se destacam? a) Sistemas de seguro social obrigatório – Sistema institucional combinado – Sistema de parcerias. b) Sistema institucional previdenciário - Sistema obrigatório - Sistema de caráter social. c) Sistemas inteiramente ou majoritariamente públicos - Sistemas de seguro social obrigatório - Sistemas de caráter privado. d) Sistemas de seguro social obrigatório - Sistema institucional combinado – Sistema assistencial da previdência. e) Sistemas inteiramente ou majoritariamente públicos - Sistemas de caráter privado - Sistema de seguridade social. 5. Em uma cadeia produtiva empresarial, cada etapa é representada por uma organização, cujos papeis são diferenciados, articulam-se e complementam-se. No caso da cadeia produtiva de bens e serviços no setor de saúde suplementar, quais sãos os três órgãos que exercem função reguladora? a) Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Agência de Fiscalização de Serviços Médicos (AFSM) e Comissão de Defesa do Assegurados da Saúde (MCDA). b) Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), Comissão de Defesa do Assegurados da Saúde (MCDA) e Conselho Federal de Medicina (CFM). c) Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Sistema de Seguridade Previdenciária (SSP). d) Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), Operadoras de Sistemas de Saúde e Comissão de Defesa do Assegurados da Saúde (MCDA). e) Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC). U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor 33 Referências ALMEIDA, C. O mercado privado de serviços de saúde no Brasil: panorama atual e tendências da assistência médica suplementar. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 1998. ANS – AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR. Atenção à saúde no setor suplementar: evolução e avanços do processo regulatório. Rio de Janeiro: ANS, 2009. . Caderno de Informação da Saúde Suplementar: beneficiários, operadoras e planos. 2016. Disponível em: <http://www.ans.gov.br/aans/noticias- ans/numeros-do-setor/2887-caderno-de-informacao-da-saude-suplementar-2>. Acesso em: 15 jan. 2017. . Programa de qualificação das operadoras. Disponível em: <http:// www.ans.gov.br/planos-de-saude-e-operadoras/informacoes-e-avaliacoes-de- operadoras/qualificacao-ans>. Acesso em: 3 maio 2017. ANVISA – AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Institucional. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/institucional>. Acesso em: 19 jan. 2017. BISPO-JÚNIOR, J. P.; MESSIAS, K. L. M. Sistemas de serviços de saúde: principais tipologias e suas relações com o sistema de saúde brasileiro. Revista Saúde.com, Vitória da Conquista, v. 1, n. 1, p. 79-89, 2005. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 5 fev. 2017. . Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998. Dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde. Diário Oficial União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 4 jun. 1998. p. 1. BRASIL. Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999. Define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, cria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e dá outras providências. Diário Oficial União, Poder Executivo, Brasília, DF, 27 jan. 1999. p. 1. BRASIL. Lei nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000. Cria a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS e dá outras providências. Diário Oficial União, Poder Executivo, Brasília, DF, 29 jan. 2000. p. 5. . Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Saúde Suplementar. Brasília: CONASS, 2007. . Saúde Suplementar. Brasília: CONASS, 2011. CARNEIRO, L. A. F. Os desafios da sustentabilidade da saúde suplementar do Brasil. In: (Org.). Prêmio IESS de produção científica em saúde suplementar – Economia: 2011 a 2015. São Paulo: Midiograf, 2016. CECCIM, R. B. et al. Imaginários da formação em saúde no Brasil e os horizontes da regulação em saúde suplementar. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 13, n. 5, p. 1567-1578, 2008. U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor34 COSTA, N. R.; PINTO, L. F. Avaliação de programa de atenção à saúde: incentivo à oferta de atenção ambulatorial e a experiência da descentralização no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 7, n. 4, p. 907-923, 2002. DEDECCA, C. S.; PRONI, M. W.; MORETTO, A. O trabalho no setor de atenção à saúde. In: NEGRI, B. (Org.); DI GIOVANNI, G. (Org.). Brasil: radiografia da saúde. Campinas: Instituto de Economia/UNICAMP, 2001. p. 175-216. ELIAS, P. E. O Estado e a saúde, desafios do Brasil contemporâneo. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 18, n. 3, jul./set. 2004. ELIAS, P. E.; VIANA, A. L. Sistemas de saúde. 2011. Disponível em: <http://fm.usp.br/ cedem/did/atencao/3%20-%20Aulas%20expositivas%20-%20Sistema%20de%20 Sa%C3%BAde.pdf>. Acesso em: 19 jan. 2017. ESCOREL, S.; TEIXEIRA, L. A. História das políticas de saúde no Brasil de 1822 a 1963: do império ao desenvolvimentismo populista. In: GIOVANELLA, L. et al (Orgs.). Políticas e sistemas de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2008. FIOCRUZ - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Sistema Único de Saúde. 2017. Disponível em: <Http://pensesus.fiocruz.br/sus>. Acesso em: 16 jan. 2017. HEGENBERG, L. Doença: um estudo filosófico. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1998. IESS – INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAÚDE SUPLEMENTAR. Institucional. 2017. Disponível em: <http://www.iess.org.br/>. Acesso em: 16 jan. 2017. IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional de Saúde 2013. 2013. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/ livros/liv94074.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2017. . Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios. 2017. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/ pnad98/saude/analise.shtm />. Acesso em: 16 jan. 2017.KILSZTAJN, S.; SILVA, D. F.; CÂMARA, M. B.; FERREIRA, V.S. Grau de cobertura dos planos de saúde e distribuição regional do gasto público em saúde. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 10, n. 2, p. 35-45, 2001. LOBATO, L. V. C.; GIOVANELLA, L. Sistemas de Saúde: origens, componentes e dinâmica. In: GIOVANELLA, L. et al (Orgs.). Políticas e sistema de Saúde no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2012. LOBATO, L. V. C. Políticas sociais e de saúde. Rio de Janeiro: CEBES, 2012. LOTTENBERG, C. A saúde brasileira pode dar certo. São Paulo: Ateneu, 2007. LUCAS, A. Top 10 melhores sistemas de saúde do mundo. Top10mais.org. Disponível em: <http://top10mais.org/top-10-melhores-sistemas-de-saude-do- mundo/>. Acesso em: 03 maio 2017. MÉDICI, A. C. A medicina de grupo no Brasil. Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), 1991. (Série Desenvolvimento de Políticas Sociais). MENICUCCI, T. M. G. História da reforma sanitária brasileira e do Sistema Único de Saúde: mudanças, continuidades e a agenda atual. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 21, n.1, p.77-92, jan./mar. 2014. U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor 35 PEREIRA-FILHO, L. T. Iniciativa privada e saúde. Estudos Avançados, São Paulo, v. 13, n. 35, p. 109-116, jan./abr. 1999. PIETROBON, L.; PRADO, M. L.; CAETANO, J. C. Saúde Suplementar no Brasil: o papel da Agência Nacional de Saúde Suplementar na regulaçãodo setor. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, p. 767-783, 2008. PINTO, L. F. S.; SORANZ, D. R. Planos privados de assistência à saúde: cobertura populacional no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 9, n.1, p. 85-98, 2004. RIBEIRO, J. M. 2001. Regulação e contratualização no setor saúde. In: NEGRI, B.; GIOVANNI, G. (Orgs.). Brasil: radiografia da saúde. Campinas: Unicamp/IE, 2001. p. 409-443. SICSÚ, A. B. et al. Para uma Análise Comparativa das Cadeias Produtivas da Saúde de Aracaju e Recife: uma primeira aproximação. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 37, n. 2, p. 187-203, 2006. TEIXEIRA, A.; BAHIA, L.; VIANNA, M. L. T. Notas sobre a regulação dos planos de saúde de empresas no Brasil. In: MINISTÉRIO DA SAÚDE; ANS (Orgs.). Regulação e saúde: estrutura, evolução e perspectivas da assistência médica suplementar. Rio de Janeiro: ANS, 2002. p. 19-34. WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION. The World Health Report 2000: health systems, improving performance. Geneva: WHO, 2000. U1 - Os sistemas de saúde no Brasil: história, cadeia produtiva e dados do setor36 Unidade 2 Os modelos de gestão de saúde privada: termos técnicos e características Caro aluno, o objetivo desta unidade é compreender como está estruturado o setor de saúde suplementar no Brasil. Para isso, primeiramente, apresentamos a você alguns termos técnicos que auxiliarão na efetiva gestão dos planos e seguros-saúde, por considerarmos que o conhecimento desses conceitos é de fundamental importância para o gestor da área da saúde. Em seguida, apresentamos os principais modelos (modalidades) médico-hospitalares que operam planos e seguros-saúde no Brasil bem como suas características, incluindo os dados do setor. Objetivos de aprendizagem Carlos Eduardo de Lima Nesta seção, apresentamos uma listagem com termos técnicos utilizados na saúde suplementar que não são tratados de forma específica ao longo da unidade, mas consideramos importantes na formação do gestor que desempenha atividades ligadas ao mercado privado de serviços de saúde. O conhecimento desses conceitos e suas definições possibilitará a ampliação do vocabulário desse profissional. Seção 1 | Termos técnicos utilizados na saúde suplementar A Seção 2, por sua vez, busca apresentar todas as modalidades médico- hospitalares definidas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que compõem a estrutura do mercado privado de saúde suplementar. Desse modo, cada modalidade traz consigo suas principais características bem como dados atualizados, com o intuito de apresentar a você um cenário completo desse setor. Seção 2 | Características e dados das modalidades médico-hospitalares do mercado privado de saúde suplementar Introdução à unidade A rede privada de serviços de saúde (ou estabelecimentos privados de saúde: De acordo com o autor, essa rede difere do mercado privado de serviços de saúde, definido como O setor privado de saúde apresenta ampla complexidade em relação aos setores que o compõem bem como à diversidade de modalidades internas em seus segmentos. Podemos classificá-lo em: não lucrativo, que abrange as instituições filantrópicas, em sua maioria, vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) mediante contratos de prestação de serviços, a exemplo das Santas Casas de Misericórdia; e o lucrativo que, salvo exceções como uma fração da rede hospitalar, não possui qualquer tipo de vínculo com o SUS. É nesse segmento lucrativo, que se encontra a parcela mais expressiva do Sistema Supletivo de Assistência Médica (ou Sistema Complementar) (ELIAS, 2005). É importante salientar que não há consenso entre os autores que escrevem sobre esse setor. Ao realizarmos estudos, encontramos outros termos, além dos apresentados anteriormente, como: saúde suplementar; “assistência suplementar da saúde”; “assistência o conjunto de práticas (concorrenciais, monopolistas, oligopolistas, etc.) voltadas para a administração de formas assistenciais e correlacionadas a um dado perfil de demanda por serviços que, mantidas por recursos governamentais ou não, destinam-se ao fornecimento de serviços de saúde para uma clientela restrita de beneficiários. (MÉDICI, 1990, p. 5) configura, em linhas gerais, o conjunto dos estabelecimentos privados destinados a prestar serviços de saúde, ou seja, aqueles que não pertencem ao setor público e são administrados por entidades particulares com ou sem fins lucrativos” (MÉDICI, 1990, p. 5) médica suplementar”; “atenção médica supletiva”, entre outros. Assim, a fim de facilitar a compreensão, optamos pela adoção do padrão “saúde suplementar”. Desse modo, Agora que você já visualizou a complexidade envolvida nas discussões sobre o mercado privado de saúde, pretendemos facilitar sua compreensão a partir de duas seções que compõem esta unidade: A Seção 1, denominada Termos técnicos utilizados na saúde suplementar, apresenta os termos técnicos utilizados no setor de saúde suplementar bem como suas definições; essa seção é importante na sua formação como profissional atuante no setor da saúde e visa ampliar seu vocabulário na área. A Seção 2, denominada “Características e dados das modalidades médico-hospitalares do mercado privado de saúde suplementar, contempla todas as modalidades médico-hospitalares definidas pela ANS componentes da estrutura do setor de saúde suplementar bem como suas características e dados atualizados. a Saúde Suplementar (ou assistência suplementar da saúde), no âmbito das atribuições da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), refere-se à atividade que envolve a operação de planos privados de assistência à saúde sob regulação do Poder Público”. (BRASIL, 2012, p. 84) U2 - Os modelos de gestão de saúde privada: termos técnicos e características 41 Seção 1 Termos técnicos utilizados na saúde suplementar 1.1 Termos técnicos e definições Introdução à seção A seguir você encontrará diversos termos técnicos utilizados na saúde suplementar. Embora esses conceitos não sejam tratados de forma específica ao longo da Unidade 2, consideramos importante apresentá-los a você. Conhecer os termos técnicos presentes na área é essencial para sua formação profissional e auxiliará no desempenho de suas atividades ligadas ao mercado privado de serviços de saúde. Os termos e definições a seguir encontram-se no Glossário Temático: saúde suplementar (BRASIL, 2012) e em Gregori (2010, p. 225-232). Acreditação de estabelecimento em saúde: processo formal pelo qual um órgão independente avalia e reconhece que uma instituição de saúde atende a padrões aplicáveis, predeterminados e publicados. Beneficiário de plano privado de assistência à saúde: pessoa física, titular ou dependente, que possui direitos e deveres definidos em legislação e em contrato assinado com a operadora de plano privado de assistência à saúde, para garantia da assistência médico- hospitalar e/ou odontológica. Carência de plano privado de assistência à saúde: período corrido e ininterrupto, determinado em contrato, contado a partir da data de início da vigência do contrato do plano privado de assistência à saúde, durante o qual o contratante paga as contraprestações pecuniárias, mas ainda não tem acesso a determinadas coberturas previstas no contrato. Os prazos máximos de carência são estabelecidos segundo a Lei nº 9.656/1998 (BRASIL, 1998),entre eles: urgência e emergência (24 horas); parto, a partir da 38ª semana de gravidez (300 dias), sendo que o parto ocorrido antes dessa semana de gestação é tratado como procedimento de urgência; e demais casos, como consultas, exames, internações e cirurgias (180 dias). U2 - Os modelos de gestão de saúde privada: termos técnicos e características42 Cobertura assistencial: deve abranger todas as doenças previstas na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), da Organização Mundial da Saúde. Conselho de SaúdeSuplementar: órgão colegiado, integrante da estrutura regimental do Ministério da Saúde, com competência para estabelecer e supervisionar a execução de políticas e diretrizes gerais do setor de saúde suplementar; supervisionar e acompanhar as ações e o funcionamento da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); fixar diretrizes gerais para implementação no setor de saúde suplementar; deliberar sobre a criação de câmaras técnicas, de caráter consultivo, de forma a subsidiar suas decisões. Contrato de plano de saúde coletivo: instrumento jurídico firmado legalmente por pessoa jurídica e uma operadora de planos de saúde para garantia de assistência à saúde. Pode se dar através de contratação coletiva empresarial ou coletiva por adesão. Contrato de plano de saúde individual e familiar: instrumento jurídico firmado legalmente entre uma operadora de plano de saúde e uma pessoa física para assistência à saúde de um indivíduo ou de um grupo familiar. Contrato de plano de saúde novo: instrumento jurídico celebrado posteriormente à Lei 9.656/1998, ou seja, a partir de 2 de janeiro de 1999. Deve obedecer a todas as regras da Lei 9.656/1998 (Ibidem). e de sua regulamentação. Contrato de plano privado de assistência à saúde – Contrato de plano de saúde: instrumento jurídico que registra o acordo firmado entre uma pessoa física ou jurídica com uma operadora de plano de saúde para garantir a assistência à saúde. Pode ser individual e familiar, coletivo empresarial ou coletivo por adesão. Cooperativa odontológica: modalidade na qual é classificada uma operadora que se constitui na forma de associação de pessoas sem fins lucrativos nos termos da Lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971 (BRASIL, 1971), formada por odontólogos, e que comercializa ou opera planos de saúde exclusivamente odontológicos. Coparticipação: mecanismo de regulação financeira que consiste na participação na despesa assistencial a ser paga pelo consumidor diretamente à operadora, após a realização do procedimento. U2 - Os modelos de gestão de saúde privada: termos técnicos e características 43 Mecanismo de regulação: são os mecanismos financeiros (franquia e coparticipação), assistenciais (direcionamento ou perícia profissional) e/ou administrativos (autorização prévia) que a operadora utiliza para gerenciar a demanda e/ou utilização dos serviços de saúde. Plano privado de assistência à saúde – Plano – Plano de assistência à saúde – Plano de saúde: contrato de prestação continuada de serviços ou cobertura de custos assistenciais a preço preestabelecido ou pós-estabelecido, por prazo indeterminado, e com a finalidade de garantir, sem limite financeiro, a assistência à saúde, pela faculdade de acesso e atendimento por profissionais ou serviços de saúde livremente escolhidos mediante pagamento direto ao prestador, por conta e ordem do consumidor. Rede prestadora de serviços de saúde – Rede assistencial: conjunto de estabelecimentos de saúde, incluindo equipamentos e recursos humanos, próprios ou contratados, indicados pela operadora de plano de assistência à saúde para oferecer cuidado aos consumidores em todos os níveis de atenção à saúde, considerando ações de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação. Rol de procedimentos e eventos em saúde: cobertura mínima obrigatória que deve ser garantida por operadora de plano de assistência à saúde de acordo com a segmentação contratada do plano de saúde contratado. Segmentação assistencial: define a amplitude da cobertura assistencial do plano de saúde. A segmentação assistencial é categorizada em referência, hospitalar com obstetrícia, hospitalar sem obstetrícia, ambulatorial, odontológica e suas combinações. Para saber mais Você pode encontrar outros termos utilizados no âmbito da saúde suplementar no Glossário Temático: saúde suplementar (BRASIL, 2012), publicado no ano de 2012. O documento está disponível em: <http://www.ans.gov.br/images/stories/Materiais_para_pesquisa/ Materiais_por_assunto/saudesup_glossario_site-1.pdf>. Acesso em: 13 maio 2017. U2 - Os modelos de gestão de saúde privada: termos técnicos e características44 Atividades de aprendizagem 1. Vimos no início desta unidade que o mercado privado de serviços de saúde é definido como o conjunto de práticas voltadas para a administração de formas assistenciais e correlacionadas a um dado perfil de demanda por serviços. Qual é a finalidade dessas demandas por serviços? Assinale a alternativa correta. a) Fornecimento de produtos para uma clientela restrita de beneficiários. b) Fornecimento de serviços de saúde para uma ampla clientela de beneficiários. c) Fornecimento de serviços de saúde para uma clientela restrita de beneficiários. d) Fornecimento de produtos de saúde para uma ampla clientela de beneficiários. e) Fornecimento de recurso financeiro para uma ampla clientela de beneficiários. 2. A saúde suplementar (ou assistência suplementar da saúde) é definida pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) como a atividade que envolve a operação de sob a regulação do Poder Público. Assinale a alternativa que preencha corretamente a lacuna apresentada. a) planos sociais de assistência à saúde b) planos privados de assistência à saúde c) planos públicos de assistência à saúde d) planos odontológicos de assistência à saúde e) planos médicos de assistência à saúde Questão para reflexão A ANS disponibiliza um serviço de atendimento telefônico para o qual o cidadão pode ligar gratuitamente e tirar dúvidas sobre a saúde suplementar, efetuar queixas ou ainda fazer denúncias ao órgão regulador. O número de atendimento é: 0800 701 9656. Você considera importante esse canal de comunicação? Quais outros mecanismos poderiam ser utilizados pelos beneficiários? U2 - Os modelos de gestão de saúde privada: termos técnicos e características 45 3. Os prazos máximos de carência dos planos de saúde são estabelecidos de acordo com a Lei nº 9.656/1998. Qual é o prazo máximo definido para situações de urgência e emergência? Assinale a alternativa correta. a) 12 horas. b) 24 horas. c) 36 horas. d) 180 dias. e) 300 dias. U2 - Os modelos de gestão de saúde privada: termos técnicos e características46 Seção 2 Características e dados das modalidades médico-hospitalares do mercado de saúde suplementar Introdução à seção Desde a década de 1960, funcionários dos governos estaduais e federal, além dos de instituições financeiras (bancários), entre outros, já possuíam planos de saúde. Esse período representa um marco na história da saúde suplementar no país (BRASIL, 2011). Os diversos arranjos estabelecidos na relação público-privado ao longo da história, conforme vimos na Unidade 1, culminaram no setor de saúde suplementar que temos hoje. É importante lembrar que, recentemente, tem-se notado o surgimento de empresas e cooperativas do ramo odontológico. No setor de saúde suplementar, atuam diversas operadoras de plano de assistência à saúde, definidas pela Lei 9.656/1998 (BRASIL, 1998) como: O mercado de saúde suplementar é estruturado da seguinte forma (modalidades): medicinas de grupo; cooperativas médicas; autogestão; seguradoras especializadas em saúde; pessoa jurídica constituída sob a modalidade de sociedade civil ou comercial, cooperativa, ou entidade de autogestão, que opere produto, serviço ou contrato de prestação continuada de serviços ou cobertura de custos assistenciais a preço pré ou pós estabelecido, por prazo indeterminado, com a finalidade de garantir, sem limite financeiro, a assistência à saúde, pela faculdade de acesso e atendimento por profissionais ou serviços de saúde, livremente escolhidos, integrantes ou não de rede credenciada, contratada ou referenciada, visando a assistência médica, hospitalar e odontológica, a ser paga integral ou parcialmente às expensas da operadora contratada, mediante reembolso ou pagamento direto ao prestador, por conta e ordem do consumidor. (FENASAÚDE, 2017) U2 - Osmodelos de gestão de saúde privada: termos técnicos e características 47 2.1 Medicina de grupo As empresas de medicina de grupo foram pioneiras no mercado privado de saúde. Nos Estados Unidos, por exemplo, já atuavam desde a década de 1920. No Brasil, surgiram a partir da década de 1960, diante da preocupação das indústrias multinacionais com a saúde de seus funcionários no ABC paulista. Essas organizações fomentaram seu início ao estimularem médicos a formar empresas de medicina de grupo, com o oferecimento de diversos planos de saúde (PEREIRA-FILHO, 1999). Nessa modalidade, classifica-se a operadora constituída em sociedade que comercializa ou opera planos de saúde. A gestão dos planos é realizada por uma empresa privada criada historicamente (mas não exclusivamente) por proprietários ou sócios de unidades hospitalares (BRASIL, 2011). É semelhante aos modelos das Health Maintenance Organizations (HMO), em português, “Organização de Manutenção da Saúde”, presente nos Estados Unidos, classificadas em três modalidades: staff model, que representa as HMO que possuem hospitais próprios e assalariam os médicos; group model, em que grupos médicos são contratados pelas HMO; Individual Practice Association, em que as HMO fazem a contratação de médicos de modo individual para que eles realizem atendimentos em seus consultórios (MÉDICI, 1992). De acordo com Elias (2005) e Gregori (2010), a prestação dos serviços pode ocorrer por unidades próprias, nas quais os profissionais de saúde são funcionários da empresa de medicina de grupo, ou mediante unidades por ela credenciadas. Apesar de restrições legais, uma parcela dessas instituições também promove ressarcimento de despesas, como ocorre nos sistemas de seguro. Sua clientela é composta por indivíduos e empresas para os quais são comercializados os planos de saúde, desse modo, operam com planos individuais e em grupo. Nos planos para pessoas jurídicas, a filantropias e administradoras de benefícios. A estrutura do setor agrega ainda as modalidades de odontologias de grupo e as cooperativas odontológicas (FENASAÚDE, 2017) cujas discussões não contemplam o intuito deste material. As características dessas modalidades supracitadas bem como os dados desse setor estão apresentadas nos tópicos a seguir. U2 - Os modelos de gestão de saúde privada: termos técnicos e características48 principal característica é a adesão automática dos colaboradores, sendo os custos pagos integralmente pelo empregador. No entanto, quando os custos são divididos entre empresa e trabalhador, a vinculação ao plano é opcional (ALMEIDA, 1998). Ainda para Almeida (1998), há, em alguns casos, o plano mínimo, obrigatório, custeado pelo empregador, e os demais planos opcionais, com diferentes preços e normas de acesso aos serviços, complementares ao básico. Um grande diferencial ocorre em relação às negociações dos convênios com empresas, associações ou grupos: os prazos de carência podem ser mais vantajosos e até inexistentes para utilização de determinados serviços, assim como prestações menores com base no volume e perfil de clientes cadastrados. Podemos citar como exemplos de empresas atuantes nesse segmento: Golden Cross, Amil, Interclínicas, Blue Life, Classes Laboriosas, entre outras. As principais organizações que as representam é a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (ABRAMGE), criada no ano de 1966; o Sindicato Nacional das Empresas de Medicina de Grupo (SINAMGE), criado em 1987; e o Conselho Nacional de Autorregulamentação das Empresas de Medicina de Grupo (CONAMGE), criado no início da década de 1990 (ALMEIDA, 1998; ELIAS, 2005; GREGORI, 2010). Mas você já se perguntou o quão expressivo é esse segmento em nosso país? Pensando nisso, apresentamos o Gráfico 2.1 que indica a proporção (%) de beneficiários médico-hospitalares que usufruem da modalidade de medicina de grupo. Esse gráfico contempla os dados coletados no mês de setembro de cada ano, de 2006 a 2016, e está dividido entre os usuários das capitais do Brasil e também do interior de todos os estados. U2 - Os modelos de gestão de saúde privada: termos técnicos e características 49 Nessa modalidade, o número de beneficiários, no ano de 2016, era de 17.528.248 milhões, correspondendo a aproximadamente 37% do total de usuários de planos de saúde no Brasil (ANS, 2016). Como podemos observar, a partir do ano de 2008, a utilização da modalidade de medicina de grupo passou a ocorrer em proporção maior a 50% no interior do país, mantendo-se sempre abaixo de 53% até o último ano de coleta. Não há, no entanto, maiores disparidades entre os dados apresentados, pois a diferença entre capitais e interior é mínima. 2.2 Cooperativas médicas A principal característica dessa modalidade é que os médicos são sócios e prestadores de serviços ao mesmo tempo e recebem pagamento proporcional à quantidade de atendimento realizada. O pagamento é realizado com base na tabela da Associação Médica Brasileira (AMB), e os médicos ainda participam da divisão do lucro final obtido pelas unidades municipais (conhecidas por “singulares”) (ALMEIDA, 1998). De acordo com um documento elaborado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), “as cooperativas singulares têm área de atuação em Fonte: adaptado de AND (2016). Gráfico 2.1 | Proporção (%) de beneficiários médico-hospitalares na modalidade de medicina de grupo nas capitais e interior do Brasil (setembro/2006 a setembro/2016) U2 - Os modelos de gestão de saúde privada: termos técnicos e características50 municípios, sendo que algumas possuem hospitais próprios, onde os médicos são cooperados, e a sua clientela é composta por pessoas físicas e jurídicas” (BRASIL, 2011, p. 16). Além das singulares, a cooperativa médica é classificada como central (ou federação) e confederação. A operadora que detém tais características se constitui, portanto, na forma de associação de pessoas sem fins lucrativos nos termos da Lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971 (BRASIL, 1971), formada por médicos, e que comercializa ou opera planos de saúde individuais e/ou coletivos. Desse modo, opera segundo o sistema universal de cooperativas, em que os médicos cooperados participam mediante sistema de cotas (uma cota para cada cooperado), além de não praticarem o ressarcimento de despesas, como acontece em outras modalidades (ELIAS, 2005; GREGORI, 2010). A gestão do plano é feita de forma semelhante à das medicinas de grupo, pois há uma organização que administra os planos. A diferença reside, no entanto, no fato de que essas organizações são formadas por profissionais médicos (cooperados) pertencentes às cooperativas (BRASIL, 2011). Os serviços são próprios ou credenciados. Esse modelo é considerado por várias das entidades médicas como a única forma ética de atuação no mercado. Como exemplos conhecidos, temos as diversas Unimeds, presentes em muitas cidades no Brasil, constituindo uma federação de cooperativas (ELIAS, 2005). Segundo Almeida (1998), ela é considerada a mais forte das cooperativas, representando quase a totalidade desse segmento, com um crescimento significativo desde a década de 1980 em todo o país. As cooperativas têm como premissa básica que todo atendimento deve ser realizado nas instalações de cooperados ou credenciados, no entanto, algumas cooperativas têm investido na aquisição, construção e arrendamento de hospitais. As Unimeds operam com planos de pré-pagamento e a maioria dos beneficiários advém de convênios com empresas. Elas possuem representação nacional na Confederação das Unimed, sendo a “Unimed do Brasil”, a “Aliança Cooperativista Nacional Unimed” e a “Central Nacional Unimed” atuantes em todo o país (UNIDAS, 2005). Salienta-se ainda que, devido à proporção nacional, ocorre grande variação no padrão dos serviços prestados bem como dos U2 - Os modelos de gestão de saúde privada: termos técnicos e características 51 preços cobrados e os
Compartilhar