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autor GUILHERME SANDOVAL GÓES 1ª edição SESES rio de janeiro 2018 DIREITO CONSTITUCIONAL AVANÇADO Conselho editorial roberto paes e gisele lima Autor do original guilherme sandoval góes Projeto editorial roberto paes Coordenação de produção gisele lima, paula r. de a. machado e aline karina rabello Projeto gráfico paulo vitor bastos Diagramação bfs media Revisão linguística bfs media Revisão de conteúdo mariana de freitas rasga Imagem de capa dm_cherry | shutterstock.com Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2018. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) G389d Góes, Guilherme Sandoval Direito constitucional avançado / Guilherme Sandoval Góes. Rio de Janeiro : SESES, 2018. 176 p: il. isbn: 978-85-5548-541-1. 1. Neoconstitucionalismo. 2. Dogmática pós-positivista. 3. Constitucio- nalismo democrático. 4. Ativismo judicial. 5. Área metajurisdicional. I. SESES. II. Estácio. cdd 342 Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063 Sumário Prefácio 7 1. Teoria geral do controle de constitucionalidade 9 As premissas do controle de constitucionalidade 10 Tipos de inconstitucionalidade 16 Inconstitucionalidade quanto ao objeto: formal ou material 17 Inconstitucionalidade quanto à conduta: por ação ou por omissão 20 Inconstitucionalidade quanto à relação que mantém com a Constituição: direta ou indireta (por derivação ou reflexa) 23 Espécies de controle de constitucionalidade. 27 Controle preventivo de constitucionalidade 29 Controle repressivo de constitucionalidade 36 2. Controle difuso de constitucionalidade 43 A influência do sistema norte-americano (Judicial Review) 44 Efeitos da decisão final de mérito do STF em sede difusa 49 A legitimação para o controle difuso de constitucionalidade 50 A arguição incidental de inconstitucionalidade como causa de pedir 52 A decisão final de mérito do STF e o papel do Senado Federal em sede de controle difuso 54 A cláusula de reserva de plenário e a cisão funcional de competência 59 O controle difuso de constitucionalidade em sede de ação civil pública 63 3. Controle abstrato de constitucionalidade 69 A influência do sistema kelseniano-austríaco 70 Elementos comuns das ações de controle abstrato de constitucionalidade 74 A legitimação para o controle abstrato de constitucionalidade 76 A decisão final de mérito do STF no controle abstrato e a possibilidade de modulação temporal dos seus efeitos 79 A ação direta de inconstitucionalidade genérica (ADI) 83 Objeto da ação direta de inconstitucionalidade 85 O papel do Advogado-Geral da União (AGU) e do Procurador-Geral da República (PGR) em sede de ADI 86 A ação declaratória de constitucionalidade (ADC) 87 Objeto e pressuposto da ação declaratória de constitucionalidade 88 A natureza dúplice da ADI e da ADC 90 A arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) 90 Espécies ou modalidades de ADPF: autônoma e incidental 92 Da aplicação do princípio da subsidiariedade em sede de ADPF 94 A ação direta interventiva (ADINT) 95 Competência para o julgamento da ADINT 96 Legitimação em sede de ADINT 96 Hipóteses de ADINT 97 4. Remédios constitucionais 101 A figura jurídica do habeas corpus 102 A doutrina brasileira do habeas corpus 104 O conceito constitucional e as hipóteses de cabimento do HC 106 Legitimidade ativa e passiva em sede de habeas corpus 108 As modalidades de habeas corpus (preventivo e repressivo) 110 O instituto jurídico do habeas data 110 O conceito constitucional, modalidades e hipóteses de cabimento 111 A legitimação ativa e passiva em sede de habeas data 113 O habeas data como uma das exceções ao princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional 115 O remédio constitucional do mandado de segurança (MS) 116 O conceito constitucional do mandado de segurança 116 Legitimidade ativa e passiva em sede de mandado de segurança 118 Características e hipóteses de cabimento do mandado de segurança 120 As modalidades de mandado de segurança 121 A figura jurídica da ação popular (AP) 124 Conceito constitucional e características da ação popular 125 Legitimidade ativa e passiva em sede de ação popular 126 Competência em sede de ação popular 127 O mandado de injunção e a ação direta de inconstitucionalidade por omissão em perspectiva comparada 129 Características principais da ação direita de inconstitucionalidade por omissão (ADO) 129 Características principais do Mandado de Injunção (MI) 131 Comparando os efeitos da ADO e do MI 132 5. Neoconstitucionalismo e dogmática pós-positivista 137 A teoria constitucional e seu perfil de evolução 139 O constitucionalismo garantista e o Estado Liberal de Direito 140 O constitucionalismo welfarista e o Estado social de Direito 142 O neoconstitucionalismo e a superação do positivismo jurídico 145 Força normativa da Constituição, paradigmas de racionalidade discursiva e fatos portadores de juridicidade 146 A insuficiência do positivismo jurídico na solução dos problemas constitucionais da atualidade 149 A colisão de normas constitucionais de mesma hierarquia 152 A estratégia hermenêutica da ponderação harmonizante e o princípio da concordância prática 153 A estratégia hermenêutica da ponderação excludente e o princípio da proporcionalidade 155 O ativismo judicial e a área metajuriscional do legislador democrático 158 7 Prefácio Prezados(as) alunos(as), O presente livro foi planejado para apresentar os principais elementos teóricos da disciplina direito constitucional avançado. Nesse intuito, foram estabelecidos cinco capítulos que abordam três grandes eixos epistemológicos do direito constitucional contemporâneo, quais sejam: o controle de constitucionalidade, os remédios constitucionais e o neoconstitucio- nalismo edificado na dogmática pós-positivista. Assim sendo, os três primeiros capítulos examinam as diferentes vertentes ine- rentes ao complexo sistema brasileiro de controle de constitucionalidade, cujo mo- delo de fiscalização de compatibilidade vertical com a Constituição incorporou, a um só tempo, tanto o paradigma difuso estadunidense (judicial review) quanto o modelo concentrado europeu (kelseniano-austríaco). Além disso, diversos temas relevantes serão estudados, dentre eles, as premissas do controle de constituciona- lidade, os diferentes tipos de inconstitucionalidade, as principais espécies de con- trole de constitucionalidade, a comparação com o conceito de “stare decisis” dos Estados Unidos da América, a cisão funcional de competência e a chamada mo- dulação temporal dos efeitos da decisão de mérito do Supremo Tribunal Federal. Na sequência dos estudos, estudar-se-á a dinâmica jurídica de proteção das garantias processuais ativas, também conhecidas como remédios constitucionais. Nesse sentido, serão examinados os seguintes writs constitucionais: habeas corpus, habeas data, mandado de segurança, ação popular e mandado de injunção. Finalmente, no capítulo denominado neoconstitucionalismo e dogmática pós -positivista, serão abordados os seguintes tópicos: o perfil de evolução do constitu- cionalismo democrático (liberal e social), as bases epistemológicas que informam a chamada reconstrução neoconstitucionalista do direito e a insuficiência do po- sitivismo jurídico para resolver os problemasconstitucionais hodiernos, notada- mente, os casos difíceis (hard cases). Por último, o presente livro vai destacar a importância da área metajurisdicional na contenção do decisionismo solipsista do juiz positivista, reconhecendo um espaço normativo reservado exclusivamente ao legislador democrático. Bons estudos! Teoria geral do controle de constitucionalidade 1 capítulo 1 • 10 Teoria geral do controle de constitucionalidade Neste capítulo, você estudará as bases teóricas que fundamentam o controle de constitucionalidade, cuja origem remonta aos primórdios da Revolução france- sa de 1789. A partir desse grandioso evento, a Constituição passa a ser percebida como norma de caráter superior, colocando-se acima de todos os poderes consti- tuídos do Estado. Nascia assim o constitucionalismo democrático e, na sua esteira, o conceito de Estado de Direito como uma resposta ao absolutismo monárquico. Nesse sentido, a concepção de um documento escrito e com supremacia passa a limitar o poder do Estado perante os indivíduos, institucionalizando um sistema de controle de constitucionalidade necessário para conter o arbítrio do Estado. Portanto, essa ideia de supremacia da Constituição vai, juntamente, com o conceito de rigidez constitucional, possibilitar a guarda dos valores constitucionais da sociedade me- diante o controle de constitucionalidade, notadamente a jurisdição constitucional. O controle de constitucionalidade é gênero, enquanto a jurisdição constitu- cional é espécie, ou seja, existem outras espécies de controle de constitucionalida- de que não se confundem com a jurisdição, daí a necessidade de estudar os dife- rentes tipos de inconstitucionalidade, bem como as diferentes espécies de controle de constitucionalidade. OBJETIVOS • Compreender as premissas do controle de constitucionalidade; • Examinar os diferentes tipos de inconstitucionalidade; • Analisar as diferentes espécies do controle de constitucionalidade. As premissas do controle de constitucionalidade Para que se possa falar em controle judicial de constitucionalidade, é necessário observar dois conceitos fundamentais, quais sejam a supremacia da Constituição e a rigidez constitucional. Ou seja, as premissas do controle de constitucionalidade são exatamente estes dois conceitos. capítulo 1 • 11 A ideia de que a Constituição é dotada de supremacia em face das demais normas infraconstitucionais que integram a ordem jurídica como um todo é um fenômeno que somente se consolida com a famosa decisão do Juiz Marshall, nos Estados Unidos da América, no caso Marbury v. Madison, em 1803. No âmbito do constitucionalismo democrático moderno, tal decisão é a ori- gem do controle de constitucionalidade, na medida em que selou, definitivamente, o princípio da supremacia da Constituição, cuja efetividade passou a ser garantida pela intervenção do Poder Judiciário nos casos de violação ao texto constitucional. Assim, ficou consolidada a competência da Suprema Corte para invalidar to- dos os atos do Poder Público que, por ventura, vierem a contrariar a Constituição, norma suprema que se coloca acima dos poderes constituídos do Estado. Coloca-se assim a Constituição fora da esfera de atuação da vontade circuns- tancial das maiorias legislativas. Portanto, a ideia de controle de constitucionalidade está vinculada ao conceito de Estado de Direito, aqui vislumbrado como principal produto do constitucio- nalismo democrático, cujas origens remontam aos grandes movimentos revolu- cionários liberais do século XVIII (Revolução americana de 1776 e Revolução francesa de 1789). Em linhas gerais, o constitucionalismo democrático e, na sua esteira, o Estado de Direito, surgem como reação ao Estado Absoluto, com o objetivo específico de limitar o exercício arbitrário do poder estatal. Nesse sentido, o leitor vai com- preender facilmente que a limitação do poder do Estado ocorre a partir de dois grandes eixos propulsores, a saber: a) separação de poderes, ou seja, poderes independentes e harmônicos en- tre si; b) positivação de um catálogo de direitos fundamentais do cidadão comum. Observe, aqui, com atenção, que não haverá Estado de Direito se não houver o equilíbrio entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário (princípio da se- paração de poderes). Da mesma forma, não haverá Estado de Direito sem o esta- belecimento de um regime jurídico de proteção dos direitos fundamentais, que se coloque acima das razões de Estado. Em consequência, o princípio da supremacia da Constituição pressupõe verticalidade normativa que se impõe aos atos emanados do Poder Constituinte Derivado Reformador, que não podem contrariá-la. Portanto, há que se capítulo 1 • 12 compreender que a supremacia da Constituição é fruto de uma estratégia herme- nêutica liberal de limitação do poder do Estado. Cabe ao Poder Constituinte Originário (único detentor de legitimidade para criar o novo Estado e a nova Constituição) estabelecer as limitações constitucionais que serão impostas ao Poder Constituinte Derivado Reformador (poder constituído). Tais limitações constitucionais são: a) de ordem material (cláusulas pétreas); b) de ordem formal (observância das regras do processo legislativo constitucional); c) de ordem circunstancial (proibição de Emendas Constitucionais du- rante uma Intervenção Federal, Estado de Defesa ou Estado de Sítio). Assim, observe, com atenção, que, quando o Poder Constituinte Derivado Reformador viola direitos fundamentais do cidadão comum ou fere de morte a supremacia de uma Constituição rígida e escrita, o mecanismo de controle de constitucionalidade é acionado como elemento garantidor da restauração de equi- líbrio do sistema jurídico, retirando o ato inconstitucional do mundo jurídico. Manoel Gonçalves Ferreira Filho destaca as diferenças entre rigidez e flexibili- dade constitucionais, bem como as diferenças entre Poder Constituinte Originário e Poder Constituinte Derivado, valendo, pois, reproduzir suas palavras: A distinção entre Constituição rígida e Constituição flexível, entre Poder Constituinte originário e Poder Constituinte derivado, implica a existência de um controle de consti- tucionalidade. De fato, onde este [controle de constitucionalidade] não foi previsto pelo constituinte, não pode haver realmente rigidez constitucional ou diferença entre o Poder Constituinte originário e o derivado. Em todo Estado onde faltar controle de constitucio- nalidade, a Constituição é flexível; por mais que a Constituição se queira rígida, o Poder Constituinte perdura ilimitado em mãos do legislador. (FERREIRA FILHO, 2009, p. 34) De tudo se vê, portanto, que os conceitos de rigidez constitucional e suprema- cia da Constituição estão associados diretamente à ideia de controle de constitu- cionalidade, ou seja, a supremacia e a rigidez constitucionais são as duas premissas imprescindíveis para o controle de constitucionalidade. A questão que se impõe agora é saber se é o controle de constitucionalidade que ga- rante a rigidez constitucional e a supremacia da Constituição, ou, o contrário, isto é, se são estas que garantem aquele? capítulo 1 • 13 Hans Kelsen muito se aproxima de tal questionamento quando alerta que “uma Constituição que não dispõe de garantia para anulação de atos inconstitu- cionais não é, propriamente, obrigatória, (...) não passa de uma vontade despida de qualquer força vinculante”. (MENDES & BRANCO, 2013, p.1003-1004). Assim, a grande reflexão que a questão encerra é a visão de que a plastici- dade constitucional (flexibilidade constitucional) inviabiliza um sistema judicial de controle de constitucionalidade, na medida em que o Poder Constituinte Derivado Reformador continuará atuando como se Poder Originário fosse, ou seja, de modo soberano, ilimitado, incondicionado.Portanto, sob os influxos de uma Constituição flexível, não escrita, o legislador ordinário, sem nenhum tipo de limitação, tem o poder de alterar a Constituição da mesma forma com que edita uma lei infraconstitucional, uma vez que o poder constituinte ilimitado e incondicionado continua em suas mãos. Trata-se da supremacia do Parlamento e, não, da Constituição. Assim, já não resta mais nenhuma dúvida de que a rigidez constitucional e a supremacia da Constituição são pressupostos do controle de constitucionalidade, da mesma forma que o controle de constitucionalidade feito por um órgão cons- titucionalmente competente é premissa para uma Constituição rígida e suprema. Não existirá controle de constitucionalidade se não houver uma Constituição rígida e com supremacia, da mesma forma que não haverá supremacia consti- tucional e nem Constituição rígida se não houver controle de constitucionali- dade. Além dessa conexão direta entre rigidez constitucional e supremacia da Constituição, é importante destacar, ainda, que o controle de constitucionalidade configura-se como garantia dos direitos fundamentais do cidadão comum, bem como da delimitação da fronteira de atuação do Estado a partir das limitações ma- teriais, formais e circunstanciais ao Poder Constituinte Derivado (Reformador e Decorrente), perfazendo as características da vida democrática em um verdadeiro Estado de Direito. Em outros termos, pode-se afirmar que os conceitos de rigidez constitucio- nal, supremacia da Constituição, limitações constitucionais ao Poder Constituinte Derivado Reformador estabelecidas pelo Poder Constituinte Originário (nítida distinção entre poder originário e poder derivado) e controle de constitucionali- dade estão umbilicalmente interligados; formam um único corpo epistemológico. capítulo 1 • 14 A figura a seguir sintetiza tais ideias. OBS: 1 OBS: 2 O controle de constitucionalidade possui duas premissas: a rigidez constitucional e a supremacia da Constituição. Da mesma forma que a inexistência de um órgão constitucionalmente competente inviabiliza o controle de constitucionalidade, que é pressuposto dos conceitos de Constituição rígida e supremacia da Constituição. Sem rigidez constitucional não há imposição de limitações materiais, formais e circunstanciais ao poder constituinte derivado, e, portanto, não supremacia formal da Constituição. Ou seja, em regime de flexibilidade constitucional, não existe controle de constitucionalidade, pois o poder constituinte derivado também é originário. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE RIGIDEZ CONSTITUCIONAL LIMITAÇÕES AO PODER DERIVADO SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO Fonte: Elaborado pelo autor. Assim sendo, o leitor haverá de concordar que os conceitos de rigidez cons- titucional, supremacia da Constituição, limitações constitucionais ao Poder Constituinte Derivado Reformador e controle de constitucionalidade, são mutua- mente dependentes, sendo irrelevante determinar quem é pressuposto de quem. Como já se viu, sem um órgão controlador da constitucionalidade das leis não se pode falar em rigidez constitucional, supremacia da Constituição e distinção entre poder constituinte originário e derivado. Firme é a convicção de que a existência de um órgão constitucionalmente competente para exercer o controle de constitucionalidade é a condição de possibilidade da rigidez constitucional, da supremacia da Constituição e da distinção entre poder originário so- berano e poder derivado limitado. Com rigor, somente é correto falar em Estado Democrático de Direito se a supremacia da Constituição puder ser garantida por órgão competente (Poder Judiciário) com força de fiscalização sobre os atores responsáveis pela elaboração normativa ordinária (Poder Constituinte Derivado Reformador). capítulo 1 • 15 Para que haja controle de constitucionalidade, é necessário que a Constituição determine qual é o órgão ou quais são os órgãos com legitimidade democrática para aferir possíveis violações à Constituição. Realmente, se não houver tal órgão próprio destinado a negar validade às leis atentatórias aos princípios e regras da Constituição, não há como resguardar sua superioridade perante as leis ordinárias. Em um verdadeiro Estado Democrático de Direito, devem existir meios de aferição da compatibilidade vertical dos atos estatais inferiores com a Constituição por órgão próprio destinado para esta finalidade, ou pelo Poder Judiciário, sendo que este último apresenta a vantagem de não participar da produção de leis. O legislador ordinário poderá modificar a seu talante as regras constitucionais, se não houver órgão destinado a resguardar a superioridade destas sobre as ordinárias. Mas ainda, órgão com força bastante para fazê-lo. Isto não quer dizer que é preciso prever expressamente a Constituição esse controle, para que ela seja de fato rígida. Basta que de seu sistema tal deflua. (FERREIRA FILHO, 2009, p. 34). O sistema das Constituições rígidas assenta numa distinção primacial entre poder cons- tituinte e poderes constituídos. Disso resulta a superioridade da lei constitucional, obra do poder constituinte, sobre a lei ordinária, simples ato do poder constituído, um poder inferior, de competência limitada pela Constituição mesma. As Constituições rígidas, sendo Constituições em sentido formal, demandam um processo especial de revisão. (BONAVIDES, 2010, p. 296). Com efeito, de nada adiantaria a imposição de limites materiais ao Poder Constituinte Derivado Reformador, se Emendas Constitucionais violadoras de cláusulas pétreas não fossem declaradas inconstitucionais, por órgão constitu- cionalmente competente para tanto. Da mesma forma, de nada adiantariam as limitações formais, se os atos legiferantes dos Poderes Legislativo e Executivo desrespeitassem o processo legislativo constitucional e não fossem retirados do mundo jurídico. Finalmente, de nada adiantaria estabelecer limitações de ordem circunstancial, se Emendas Constitucionais fossem promulgadas durante uma Intervenção Federal, Estado de Defesa ou Estado de Sítio e, mesmo assim, conti- nuassem a gerar efeitos no ordenamento jurídico. É de se concluir, portanto, que as limitações materiais, formais e circuns- tanciais que informam a rigidez e a supremacia constitucionais seriam inócuas se não existisse órgão constitucionalmente competente para realizar o controle capítulo 1 • 16 de constitucionalidade das leis. Sem fiscalização por órgão independente, não há controle de constitucionalidade, sem controle de constitucionalidade, não há ri- gidez constitucional, não há distinção entre poder originário e derivado, não há supremacia da Constituição, não há efetiva separação de poderes e não há garantia dos direitos fundamentais. Logo, não há Estado Democrático de Direito. Uma vez examinadas as premissas do controle de constitucionalidade, é preci- so agora estudar os diferentes tipos de inconstitucionalidade. Tipos de inconstitucionalidade No âmbito da teoria constitucional contemporânea, deve prevalecer como um dos grandes pilares de um verdadeiro Estado de Direito o princípio da separação de Poderes, que juntamente com o catálogo de direitos fundamentais do cidadão comum irão perfazer a essência do constitucionalismo democrático. Em consequência, o equilíbrio entre os três poderes e o respeito ao texto cons- titucional tornam-se o eixo central do Estado de Direito, sem o qual não haverá verdadeira sociedade democrática e plural. Portanto, quando um dos Poderes do Estado extrapola as fronteiras que lhe foram traçadas pela Constituição, cria as condições de possibilidade para os de- mais Poderes agir no sentido de restaurar a ordem constitucional. Isto significa dizer que existe uma série de atos que se caracterizam como inconstitucionais, devendo, pois, serem retirados do mundo jurídico.Um ato in- constitucional nada mais é do que a ação ou omissão que não se coaduna, total ou parcialmente, com o texto constitucional, seja formal, seja materialmente. É correto afirmar, portanto, que a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo pode ser aferida a partir de diferentes critérios, como, por exemplo, quanto ao objeto (inconstitucionalidade material ou formal), quanto à condu- ta (inconstitucionalidade por ação/comissiva ou por omissão/omissiva), quanto à relação que mantém com a Constituição (inconstitucionalidade direta ou por derivação/reflexa); quanto ao tempo (inconstitucionalidade originária ou superve- niente) e muitos outros. Portanto, não resta nenhuma dúvida de que a inconstitucionalidade de um determinado ato estatal poderá se manifestar de várias maneiras. Daí a importân- cia de uma sistematização acerca de suas principais espécies. capítulo 1 • 17 Inconstitucionalidade quanto ao objeto: formal ou material A inconstitucionalidade quanto ao objeto pode ser decomposta em dois tipos, a saber: inconstitucionalidade material e a inconstitucionalidade formal. A figura a seguir sintetiza tal divisão. TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE Quanto ao objeto INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL Violação ao texto constitucional Vícios: iniciativa, competência e processo legislativo Fonte: Elaborado pelo autor. A inconstitucionalidade material ocorre quando há violação ao conteúdo do texto constitucional, ou seja, quando uma norma fere, por exemplo, um princípio ou preceito constitucional ou um direito fundamental. Assim sendo, uma norma que, por exemplo, afronte o núcleo essencial do prin- cípio da dignidade da pessoa humana seria materialmente inconstitucional. Observe, com atenção que a ofensa ao conteúdo da Constituição representa um vício insa- nável, vale dizer, essa norma sempre seria considerada inconstitucional, mesmo que tivesse cumprido rigorosamente todas as etapas formais do processo legislativo. O vício material de inconstitucionalidade pressupõe a violação de uma con- duta imposta pela Constituição, ou seja, há um descompasso entre o conteúdo do ato público e a Constituição. Isto significa dizer que a inconstitucionalidade material da lei ou ato normativo surge com a discrepância entre o ato do legislador (em sua substância) e as regras e princípios constitucionais. capítulo 1 • 18 Em termos simples, a inconstitucionalidade material, também denominada de inconstitucionalidade de conteúdo ou substancial, está relacionada à "matéria" do texto constitucional, ao seu conteúdo jurídico-axiológico. No dizer do Min. Barroso: A inconstitucionalidade material expressa uma incompatibilidade de conteúdo, subs- tantiva entre a lei ou ato normativo e a Constituição. Pode traduzir-se no confronto com uma regra constitucional - e.g., a fixação da remuneração de uma categoria de servidores públicos acima do limite constitucional (art. 37, XI) - ou com um princí- pio constitucional, como no caso de lei que restrinja ilegitimamente a participação de candidatos em concurso público, em razão do sexo ou idade (arts. 5º, caput, e 3º, IV), em desarmonia com o mandamento da isonomia. O controle material de constitucio- nalidade pode ter como parâmetro todas as categorias de normas constitucionais: de organização, definidoras de direitos e programáticas. (BARROSO, 2009, p. 29) Em síntese, a inconstitucionalidade material, diferentemente da formal, diz respeito ao mérito conteudístico da Carta Ápice, não podendo, por via de conse- quência, ser sanada. Nesse sentido, a inconstitucionalidade material envolve a afe- rição do desvio de poder ou do excesso de poder legislativo a partir da aplicação do princípio da proporcionalidade e seus subprincípios da adequação e necessidade. O vício de inconstitucionalidade substancial por violação ao subprincípio da adequa- ção ocorre quando se constata a incompatibilidade da lei com os fins constitucional- mente previstos. Já a inconstitucionalidade substancial por violação ao subprincípio da necessidade ocorre quando a lei impugnada não é aquela que traz a menor restrição ao outro direito constitucional em colisão. Já a inconstitucionalidade formal pressupõe a violação das normas do devido processo legislativo (seja um vício de iniciativa, seja outro vício qualquer do curso normal de feitura da norma), bem como a violação das normas determinantes do sistema constitucional de repartição de competências. Observe, com atenção, que a institucionalidade formal se configura quando uma regra qualquer do devido processo legislativo deixa de ser observado, seja um vício de iniciativa, como, por exemplo, os projetos de iniciativa privativa do Presidente da República, seja um quórum qualificado que deixa de ser cumprido, como, por exemplo, a maioria absoluta para um projeto de lei complementar. Quando o vício de inconstitucionalidade é relativo à violação do sistema cons- titucional de repartição de competências, temos a chamada inconstitucionalidade capítulo 1 • 19 formal orgânica. Assim, observe que a inconstitucionalidade formal orgânica é apenas uma espécie do gênero inconstitucionalidade formal. Sua caracterização ocorre quando um ente federativo legisla na competência de outro. Como exemplos de inconstitucionalidade formal orgânica, podemos citar uma lei federal que regula o tempo de espera em filas de banco em determinado município, ou, então, lei estadual que legisla sobre direito penal sem autorização de lei complementar federal. Além da inconstitucionalidade formal orgânica atrelada ao vício de competên- cia dos entes federativos, existem ainda duas outras modalidades de inconstitucio- nalidade formal propriamente dita e que são: a) a inconstitucionalidade formal subjetiva (vício de iniciativa no pro- cesso legislativo); b) a inconstitucionalidade formal objetiva (qualquer outro vício do processo legislativo, exceto o vício de iniciativa). A figura a seguir sintetiza tal tipo de sistematização. TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE Quanto à conduta INCONSTITUCIONALIDADE POR AÇÃO INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO Ação positiva ensejar a incompatibilidade vertical Objeto: normas de eficácia limitada Fonte: Elaborado pelo autor. Finalmente, é importante destacar que a Súmula número cinco não mais vigo- ra, pois, o atual entendimento do STF é no sentido de que a sanção do Presidente da República não sana o vício de iniciativa, isto é, o fato de o Chefe do Poder Executivo ter sancionado uma lei cuja iniciativa legislativa era sua, não livra tal ato de ser declarado inconstitucional por vício de iniciativa (inconstitucionalidade formal subjetiva). capítulo 1 • 20 Inconstitucionalidade quanto à conduta: por ação ou por omissão A inconstitucionalidade quanto à conduta pode ser decomposta em dois ti- pos, a saber: inconstitucionalidade por ação (comissiva) e a inconstitucionalidade por omissão (omissiva). A figura a seguir sintetiza tal classificação. TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE Quanto à conduta INCONSTITUCIONALIDADE POR AÇÃO INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO Ação positiva ensejar a incompatibilidade vertical Objeto: normas de eficácia limitada Fonte: Elaborado pelo autor. A inconstitucionalidade por ação surge quando uma lei ou ato normativo viola o texto constitucional, extrapolando os limites jurídicos impostos por ela. Portanto, a inconstitucionalidade por ação pressupõe um ato positivo contrário à Constituição. Ou seja, diferentemente da inconstitucionalidade por omissão que pressupõe uma inação estatal relativa a um dever constitucional de legislar, a inconstitucio- nalidade por ação é aquela que nasce com uma ação positiva do Estado, que por algum motivo afronta a Constituição. Em linhas gerais, a inconstitucionalidade por ação temum campo de atuação que projeta a imagem de atos estatais reais incompatíveis com a Carta Ápice, não importando a caracterização dessa violação, seja relativa à forma ou conteúdo. O que importa aqui ressaltar é que esse tipo de inconstitucionalidade requer uma conduta ou ação positiva do Estado-legislador, cujo conteúdo ou forma são in- compatíveis com a ordem constitucional. capítulo 1 • 21 Já a inconstitucionalidade por omissão será configurada quando o Estado dei- xar de agir positivamente diante de um comando constitucional. A omissão inconstitucional, seja do legislador/administrador democrático, seja do juiz contramajoritário, pressupõe um “não fazer” do Estado, que neutraliza a eficácia positiva ou simétrica da norma constitucional em tela. Com rigor, somente pode ser objeto de uma declaração de inconstitucionali- dade por omissão, um não fazer do Estado relativo a uma norma de eficácia limi- tada, na medida em que tais normas têm sua efetividade ou eficácia social atrelada a uma ação legiferante superveniente do legislador democrático. Nesse sentido, a jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal entende que a inconstitucionalidade por omissão somente se caracteriza quando o “não fazer estatal” deixa de regulamentar normas constitucionais de eficácia limitada, exatamente porque são as únicas cuja aplicabilidade depende da intervenção legislativa superveniente do legislador. (STF, Pleno, ADO n. 297, julgamento em 25/04/96, rel. Min. Octávio Gallotti) Observe que as normas de eficácia plena e as normas de eficácia contida, cuja característica em comum é a entrada no mundo jurídico com aplicabilidade direta e imediata, vale explicitar, a entrada no mundo jurídico com eficácia positiva ou simétrica, não são suscetíveis de gerar a declaração de inconstitucionalidade por omissão. Em termos simples, contra normas de eficácia plena ou normas de eficá- cia contida, não cabe a declaração de inconstitucionalidade por omissão. Além disso, a doutrina costuma também classificar a inconstitucionalidade por omissão em dois subtipos, a saber: a omissão total ou omissão parcial. Na omissão total ou absoluta, o non facere do Estado atinge por completo o man- damento constitucional, que deixa de ser cumprido integralmente. Ou seja, não existe nenhuma norma regulamentadora do dispositivo constitucional em apreço. Já a inconstitucionalidade por omissão parcial ocorre quando houver o des- cumprimento parcial da norma constitucional, vale dizer, quando a lei regula- mentadora até existe, porém regula de modo deficiente ou insuficiente a norma de eficácia limitada paradigma do controle. Nesse sentido, é importante destacar que o STF já reconheceu a inconstitu- cionalidade por omissão parcial no caso da lei que regulamentou o salário mínimo (artigo 7°, IV, da CRFB/88). Entendeu a Corte Suprema Constituição que a lei fixou o salário mínimo em condições insatisfatórias em relação ao determinado no mandamento constitucional. capítulo 1 • 22 Salário Mínimo. Valor Insuficiente. Situação de Inconstitucionalidade por Omissão Par- cial. A insuficiência do valor correspondente ao salário mínimo, definido em importân- cia que se revele incapaz de atender às necessidades vitais básicas do trabalhador e dos membros de sua família, configura um claro descumprimento, ainda que parcial, da Constituição da República, pois o legislador, em tal hipótese, longe de atuar como o sujeito concretizante do postulado constitucional que garante à classe trabalhadora um piso geral de remuneração (CF, art. 7º, IV), estará realizando, de modo imperfeito, o pro- grama social assumido pelo Estado na ordem jurídica. (...) As situações configuradoras de omissão inconstitucional – ainda que se cuide de omissão parcial, derivada da insu- ficiente concretização, pelo Poder Público, do conteúdo material da norma impositiva fundada na Carta Política, de que é destinatário – refletem comportamento estatal que deve ser repelido, pois a inércia do Estado qualifica-se, perigosamente, como um dos processos informais de mudança da Constituição, expondo-se, por isso mesmo, à cen- sura do Poder Judiciário. (STF, Ação Direta de Inconstitucionalidade – Medida Cautelar n. 1.458, julgada em 23/05/96). Mas o que significa dizer que a lei regula de modo deficiente, imperfeito ou insuficiente? A não observância do princípio da isonomia pode ser enquadrada como uma regulamen- tação deficiente, imperfeita ou insuficiente? Significa dizer que a regulamentação de modo deficiente, imperfeito ou in- suficiente não viabiliza o pleno gozo dos efeitos pretendidos pela norma consti- tucional de eficácia limitada. Portanto, a resposta ao segundo questionamento é afirmativa, ou seja, a omissão parcial também estará caracterizada quando a lei existente violar o princípio da isonomia, não permitindo que a regulamentação integral seja aproveitada por todos os beneficiários possíveis. Em outros termos, a regulamentação será deficiente, imperfeita ou insuficien- te, por exemplo, quando determinada lei regulamentadora conceder benefícios apenas a determinado grupo, não incluindo outros. Nesse sentido, a exclusão implícita de benefícios, embora não tenha sido positivada pela lei que outorga benefícios a certo grupo, caracteriza também a regulação deficiente, imperfeita ou insuficiente, na medida em que exclui sua aplicação a outros segmentos. Em suma, é a própria Lei nº 13.300/16 (Lei que disciplina o processo e o julgamento dos mandados de injunção individual e coletivo) que, inovando a ordem jurídica, faz referência direta à expressão “falta total ou parcial de norma regulamentadora”, expressão esta que não se encontra positivada na Constituição de 1988. Portanto, agora, a figura jurídica do Mandado de Injunção também é instrumento hábil para combater a omissão parcial, vale repetir, situações em que, capítulo 1 • 23 apesar da existência de regulamentação, esta for insuficiente, nos termos do art. 2º, caput, e parágrafo único da referida lei. (GÓES & MELLO, 2016, p. 101). Art. 2º da Lei nº 13.300/16. Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta total ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e li- berdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Parágrafo único. Considera-se parcial a regulamentação quando forem insuficientes as normas editadas pelo órgão legislador competente. Em síntese, resta indubitável que o reconhecimento da existência de omissão parcial representa um grande avanço no combate à síndrome de inefetividade das normas constitucionais de eficácia limitada. A figura jurídica do Mandado de Injunção é vocacionada para suprimir omissões normativas do legislador democrático, que tenham latitude para esva- ziar completamente direitos e liberdades dos cidadãos, como no caso das normas constitucionais de eficácia limitada, em que a garantia de sua eficácia positiva ou simétrica fica dependente, necessariamente, de lei regulamentadora ulterior. Com isso, o direito que é garantido pela Constituição fica sem ser exercido porque con- dicionado à edição normativa superveniente. Eis aqui a importância do Mandado de Injunção: combater a síndrome de inefetividade das normas constitucionais de eficácia limitada a partir da concreti- zação do direito faltante no caso concreto. Inconstitucionalidade quanto à relação que mantém com a Constituição: direta ou indireta (por derivação ou reflexa) A inconstitucionalidade quanto à relação que mantém com a Constituição pode ser classificada em duas categorias, a saber: inconstitucionalidade direta e inconstitucionalidade indireta, também chamada de inconstitucionalidade por derivação ou inconstitucionalidade reflexa. Para compreender melhor esses dois tipos de inconstitucionalidade, é impor- tante examinaros conceitos de atos primários e atos secundários, dentro da pirâ- mide normativa de Hans Kelsen. capítulo 1 • 24 A figura a seguir mostra tal pirâmide de modo detalhado. CONSTITUIÇÃO Norma Suprema ATOS PRIMÁRIOS ATOS SECUNDÁRIOS OU INFRALEGAIS VERTICALIDADE FUNDAMENTADORA KELSENIANA . Leis complementares, leis ordinárias medidas provisórias, leis delegadas, decretos legislativos, resoluções, decretos autônomos, etc. Decretos regulamentadores de lei, portarias de ministérios, resoluções do Banco Central, etc. Fonte: Elaborado pelo autor. Observe, com atenção, pela pirâmide hierárquica (verticalidade fundamenta- dora kelseniana), que existe uma linha vertical de hierarquia, na qual uma norma constitui o fundamento de validade de outra. Ou seja, uma norma encontra fun- damento naquela outra que lhe é imediatamente superior. Assim, os atos secundários (decretos regulamentadores de leis, ordens de ser- viço e portarias de Ministérios e Secretarias dos Estados, resoluções do Banco Central etc.) encontram seu fundamento de validade no âmbito normativo dos atos primários, que, por sua vez, se subordinam diretamente à Constituição, nor- ma superior, ocupando o vértice da pirâmide hierárquica. Pela figura, fácil é perceber que os atos normativos primários (leis complemen- tares, leis ordinárias, medidas provisórias, leis delegadas, decretos legislativos, reso- luções do poder legislativo, decretos autônomos do Presidente da República, tra- tados internacionais que não versem sobre direitos humanos, regimentos Internos dos tribunais, resoluções do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público) retiram seus fundamentos diretamente da Constituição. Tais atos primários são considerados atos normativos dotados de autonomia nomológica, isto é, são atos normativamente autônomos, na medida em que, na pirâmide kelseniana, estão localizados imediatamente abaixo da Constituição. Ou capítulo 1 • 25 seja, o fundamento direto e imediato de validade desses atos primários é a própria Carta Magna. É nesse sentido que parte da doutrina entende que a Constituição atua como fundamento de validade, engate lógico, enfim razão de ser dos atos primários. Em termos figurados, os atos primários bebem diretamente na norma superior constitucional, sua nascente e fonte geradora. Os atos normativos primários possuem força normativa capaz de criar, modificar ou re- vogar relações jurídicas, desde que observadas as diretrizes constitucionais. São atos com autonomia monológica que se caracterizam por possuir aptidão normativa capaz de inovar a ordem jurídica como um todo. Podem, portanto, alterar o universo normativo-po- lítico do Estado, gerando direitos e deveres em nível infraconstitucional. O mesmo não acontece com os secundários, que podem, no máximo, regular a apli- cação desses direitos e deveres, mas, nunca, determinar sua criação, modificação ou revogação no mundo jurídico. Assim sendo, fácil é perceber que os atos secundários, também denominados atos infralegais ou atos não-primários, estão localizados em patamar inferior aos atos primários, que lhes servem de nascente e engate lógico. Ou seja, os atos nor- mativos secundários encontram como fundamento direto de validade os atos nor- mativos infraconstitucionais, não havendo, portanto, nenhum vínculo direto com a Constituição. Tais atos estão direta e materialmente atrelados aos atos primários e não à Constituição, ou seja, para os atos infralegais, a Constituição aparece ape- nas como fundamento indireto, reflexo. É por isso que surge a classificação de inconstitucionalidade direta e indire- ta/reflexa/indireta, ou seja, a inconstitucionalidade direta caracteriza a violação da Constituição por intermédio de um ato primário, enquanto a inconstitucionalidade indireta ocorre quando uma norma secundária viola indiretamente a Constituição. Na primeira modalidade, a norma primária viola a Constituição sem inter- mediação de qualquer outro ato ou veículo normativo. Há, portanto uma relação direta com a Constituição. É o caso, por exemplo, de lei estadual criando tipo penal, ou, então, medida provisória versando sobre direitos políticos. A afronta dessas espécies normativas é direta à Constituição (art. 22, I, a / art. 62, § 1º, I, a, ambos da CRFB/88). Diferente é a inconstitucionalidade indireta como, por exemplo, na hipótese de um decreto editado pelo Presidente da República para regulamentar uma determi- nada lei infraconstitucional e feito de forma incompatível com a Constituição. capítulo 1 • 26 Observe, com atenção, que nessa hipótese, o controle não é de constituciona- lidade e, sim, controle de ilegalidade. O decreto regulamentador de lei não violou diretamente a Constituição. Assim sendo, é correto afirmar que o direito brasileiro não admite a existência de uma inconstitucionalidade por derivação, indireta, derivada, mediata, uma vez que a norma fundamentadora não é a Constituição, mas, sim, a lei infraconsti- tucional sendo regulamentada. É por isso que o conflito das normas infralegais com a Constituição caracteriza o vício de ilegalidade, que, em última instância, equivale à inconstitucionalidade indireta, reflexa ou oblíqua. Em linhas gerais, pode-se afirmar que a inconstitucionalidade indireta ou por derivação não deixa de representar uma violação de norma jurídica por ato de poder, porém não se confunde com a inconstitucionalidade direta, exatamente pela dignidade normativa do preceito violado, qual seja uma norma de dignidade normativa infraconstitucional. No Brasil, jurisprudência e doutrina não admitem a inconstitucionalidade indireta, reflexa, oblíqua, mediata ou por derivação, na medida em que o conceito de inconstitucionalidade fica restrito à inconstituciona- lidade direta, deixando-se a inconstitucionalidade indireta o campo da ilegalidade. A figura a seguir, retirada da obra “Controle de Constitucionalidade” dos au- tores Guilherme Sandoval Góes e Cleyson de Moraes Mello, mostra com precisão a diferença entre controle de constitucionalidade e controle de legalidade. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE CONSTITUIÇÃO LEIS INFRACONSTITUCIONAIS INCONSTITUCIONALIDADE INDIRETA OU REFLEXA ATOS NORMATIVOS PRIMÁRIOS ATOS SECUNDÁRIOS OU INFRALEGAIS INCONSTITUCIONALIDADE DIRETA CONTROLE DE LEGALIDADE Fonte: GÓES & MELLO, 2016, p. 85. capítulo 1 • 27 Com a devida sensibilidade acadêmica, o leitor haverá de compreender que os concei- tos de “inconstitucionalidade” e “ilegalidade” não se confundem. Com efeito, o controle que incide sobre atos infralegais (atos normativos secundários que retiram sua fonte de validade diretamente das leis infraconstitucionais) não é propriamente de constituciona- lidade, mas sim de legalidade. (GÓES & MELLO, 2016, p. 85) Em conclusão, de tudo se vê, portanto, que o controle de legalidade é feito contra atos secundários ou infralegais e transita no campo do direito administra- tivo, enquanto que o controle de constitucionalidade é feito contra atos primários e milita no campo do direito constitucional. Uma vez examinada a diferença conceitual entre controle de constitucionali- dade e controle de legalidade, é importante agora examinar as espécies do controle de constitucionalidade no âmbito do direito constitucional brasileiro. CONEXÃO Acesse o link para ouvir o MP4 e assistir o vídeo sobre fenômeno da inconstitucionali- dade através de: http://portaldoaluno.webaula .com.br/Cursos/gen_aula_mais/jur isdicao_ constitucional/mp3/arq/aula_1.mp3 h t t p : / / p o r t a l d o a l u n o . w e b a u l a . c o m . b r / C u r s o s / p o a 0 0 8 / c o n t e u d o / aula_mais.htm#myModal Espécies de controle de constitucionalidade. Nesta parte, você estudará as espécies de controle de constitucionalidade. O primeiro ponto a ser destacadodeve ser o fato de que o sistema de controle de constitucionalidade das leis pode ser classificado segundo três grandes critérios, a saber: a) Quanto ao momento de realização do controle: controle preventivo ou repressivo; b) Quanto à natureza do órgão de controle: controle político ou judicial; c) Quanto ao órgão judicial que exerce o controle: controle difuso ou concentrado. capítulo 1 • 28 O sistema brasileiro adotou diferentes modelos estrangeiros de controle de constitucionalidade, bem como criou diversas ações genuinamente brasileiras, que foram sendo concebidas após a redemocratização do País a partir da promulgação da Constituição de 1988. Com isso, temos um dos sistemas mais complexos do mundo, que engloba tanto o modelo repressivo quanto o modelo preventivo. O primeiro é uma espécie de con- trole que é feito após a norma entrar no mundo jurídico, já o segundo é o controle que é feito durante as fases de elaboração da norma, isto é, a norma ainda se encontra em fase de elaboração (projeto), mas já é objeto de controle de constitucionalidade. Da mesma forma, quanto à natureza do órgão de controle, o sistema brasileiro adotou tanto o controle político feito pelos Poderes Legislativo e Executivo, quan- to o controle judicial feito pelo Poder Judiciário em determinada ação judicial. Finalmente, com relação ao critério relativo ao órgão judicial que exerce o controle, nosso sistema optou pelos dois modelos existentes, quais sejam, o siste- ma norte-americano do Judicial Review (controle difuso) e o sistema kelseniano -austríaco (controle concentrado). O sistema difuso norte-americano, também denominado de Judicial Review, é um sistema que se caracteriza pelo controle de constitucionalidade feito por qual- quer um dos órgãos do Poder Judiciário (daí a designação de controle difuso) a partir de um determinado caso concreto (daí a designação de controle concreto ou subjeti- vo), tendo-se a questão de inconstitucionalidade como uma questão incidental (daí a designação de controle incidental). Portanto, o Judicial Review norte-americano projeta, a um só tempo, a ideia de controle difuso, concreto e incidental. Já o sistema concentrado, também denominado de sistema kelseniano-aus- tríaco, é um sistema que se caracteriza pelo controle de constitucionalidade feito por apenas um órgão de cúpula do Poder Judiciário (daí a designação de controle concentrado no Tribunal Constitucional) sem depender de nenhum caso concreto (daí a designação de controle abstrato ou objetivo), tendo-se a questão de incons- titucionalidade como uma questão principal da ação (daí a designação de controle principal). Portanto, o sistema kelseniano-austríaco projeta, a um só tempo, a ideia de controle concentrado, abstrato e principal. Além disso, como bem desta- cam os professores Guilherme Sandoval Góes e Cleyson de Moraes Mello: Resta indubitável, portanto, os fatores que permitem afirmar que o Brasil ostenta o mais perfeito sistema de controle de constitucionalidade do mundo, sem rival em perspectiva comparada com o direito de outros Estados nacionais. Sem nenhuma dúvida, existem capítulo 1 • 29 diversos mecanismos, situações, oportunidades e instrumentos de controle de constitu- cionalidade que só se encontram no Brasil, não se tendo notícia de similares no resto do mundo. O quadro a seguir mostra, em visão panorâmica, as diferentes modalidades de controle de constitucionalidade do nosso sistema. (GÓES & MELLO, 2016, p. 126/127) QUANTO AO MOMENTO DE REALIZAÇÃO DO CONTROLE Controle Preventivo (feito antes de a norma entrar no mundo jurídico) Controle Repressivo (feito depois de a norma ter entrado no mundo jurídico) QUANTO À NATUREZA DO ÓRGÃO CONTROLADOR Controle Político (feito pelos poderes legislativo e executivo) Controle Judicial ou jurídico (feito pelo poder judiciário) QUANTO AO ÓRGÃO JUDICIAL QUE EXERCE O CONTROLE Controle difuso (feito por qualquer órgão do poder judiciário) Controle concentrado (feito exclusivamente pelo Supremo Tribunal Federal) QUANTO À FORMA DE CONTROLE JUDICIAL Controle por via incidental (feito a partir de um caso concreto) Controle por via principal (feito de forma abstrata de lei ou ato normativo em tese) Uma vez examinados os principais critérios e modelos de controle de consti- tucionalidade, você deve agora estudar, com maiores detalhes, o complexo sistema brasileiro, valendo, pois, começar com o controle preventivo de constitucionalida- de, seja o controle político, seja o controle judicial. Controle preventivo de constitucionalidade Como já visto, o sistema brasileiro de controle de constitucionalidade, quanto ao momento de sua realização, pode ser classificado como preventivo ou repressivo. O controle será preventivo quando a tarefa de aferição de compatibilidade vertical Constituição-ato normativo for desempenhada durante o processo de elaboração do respectivo ato normativo, ou seja, antes mesmo de ele adentrar ao mundo jurídico. capítulo 1 • 30 Você pode verificar facilmente que tal tipo de controle incide, portanto, so- bre projetos, sejam projetos de emenda constitucional (PEC), sejam projetos de lei (PL) ou qualquer outro ato normativo, passível de sofrer controle prévio ou preventivo. O fato é que, diferentemente das normas já formadas, cujo controle será re- pressivo, os projetos de emendas constitucionais e de leis ordinárias e complemen- tares sofrerão controle preventivo, com o objetivo de impedir que atos normativos inconstitucionais entrem em vigor. Observe, com atenção, que o objetivo do controle preventivo ou prévio é evitar a publicação e promulgação de normas suscetíveis de serem declaradas in- constitucionais. Portanto, a tarefa de fiscalização da constitucionalidade de pro- jetos de emendas e leis é realizada ainda durante o processo de elaboração do ato legislativo correspectivo, isto é, antes mesmo de ele se completar; de adentrar ao mundo jurídico. Sua finalidade principal é evitar a entrada em vigor de um ato inconstitucional antes do término do devido processo constitucional legislativo. O controle preventivo é típico do direito francês, ou pelo menos, a França é o país mais citado por adotar tal tipo de controle. Com efeito, em França, o controle preventivo de constitucionalidade é feito exclusivamente pelo Conselho Constitucional, órgão encarregado de examinar previamente a constitucionalida- de dos projetos de lei que tramitam no Parlamento, o que evidente faz com que o controle francês seja classificado como controle preventivo. O Conselho Constitucional é composto por nove Conselheiros escolhidos pelo Presidente da República e pelo Parlamento, tendo como membros natos os ex-Presidentes. Com rigor, não é propriamente um órgão de jurisdição constitu- cional, na medida em que se manifesta previamente à promulgação das leis, em regra. Isto significa dizer por outras palavras que não há controle jurisdicional feito pelo Poder Judiciário, inabilitado que está para declarar a inconstitucionalidade das leis francesas. Nesse sentido, Luis Roberto Barroso mostra que: Embora o modelo francês seja frequentemente referido como o arquétipo do controle político de constitucionalidade das leis, afigura-se mais apropriada a designação de controle não judicial. É que, no fundo, é o fato de não integrar o Poder Judiciário e de não exercer função jurisdicional o que mais notadamente singulariza o Conseil Constitutionnel – junto com o caráter prévio de sua atuação. (BARROSO, 2009, p. 43) capítulo 1 • 31 De tudo se vê, portanto, que o Conselho Constitucional francês, nos termos do artigo 62 da Constituição de 1958, é o órgão responsável pelo controle preven- tivo de constitucionalidade, não podendo nenhuma lei ser promulgada nem posta em vigorse for declarada inconstitucional por ele. Em termos simples, o Conselho Constitucional afere previamente as propostas legislativas com o objetivo de veri- ficar se existe alguma inconstitucionalidade. Entretanto, essa ideia de exclusividade do controle preventivo está sendo des- feita a partir do artigo 61-1 da Constituição de 1958 que autoriza o Conselho Constitucional a realizar o controle repressivo de determinada lei que “atente con- tra os direitos e liberdades que a Constituição garante”, desde que os pedidos de inconstitucionalidade sejam feitos pelo Conselho de Estado ou pela Corte de Cassação. No dizer de Dimitri Dimoulis e Soraya Lunardi: “A exclusividade do controle judicial preventivo não existe mais na França. O art. 61-1 da Constituição, (...), prevê que o Conseil Constitutionnel pode realizar controle repressivo a pedido dos Tribunais Superiores”. (DIMOULIS & LUNARDI, 2017, p. 91). Em suma, um ponto importante que deve ser destacado é o fato de que o sistema de controle de constitucionalidade da França já não é mais exclusivamente preventivo a partir da Emenda Constitucional n. 724, de 23 de julho de 2008, que trouxe uma nova realidade para o modelo francês. Outro ponto importante a destacar é a ideia de que o controle preventivo ou prévio de constitucionalidade tanto pode ser exercido pelos Poderes Legislativo e Executivo, quanto pelo Poder Judiciário, daí sua divisão em duas modalidades distintas: controle preventivo político e controle preventivo judicial. Controle preventivo político Em linhas gerais, o controle preventivo político é aquele que é exercido pelos poderes do Estado encarregados das decisões de caráter político-democrático, legi- timados pelo voto popular, ou seja, pelos Poderes Legislativo e Executivo. Trata-se, portanto, do controle preventivo político, que é feito durante o pro- cesso de criação de lei ou ato normativo, seja pelo Chefe do Poder Executivo, seja pelo Congresso nacional. A doutrina costuma destacar duas grandes modalidades desse tipo de controle, a saber: a) controle preventivo político feito pelo Poder Legislativo a partir das Comissões de Constituição e Justiça (CCJ); capítulo 1 • 32 b) controle preventivo político feito pelo Poder Executivo a partir do veto do Chefe do Poder Executivo. A figura a seguir sintetiza tal tipo de controle. CONTROLE PREVENTIVO DE CONSTITUCIONALIDADE Controle Político COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA (CCJ) VETO JURÍDICO DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO Decisão da CCJ não é vinculante Veto jurídico pode ser rejeitado pelo Congresso em Sessão Conjunta Observe, com atenção, que o sistema constitucional brasileiro comporta duas hipóteses de controle preventivo político, nos moldes do sistema francês. A primeira hipótese surge com a atuação das Comissões Permanentes de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), que tem sua base jurídica fincada no art. 58 da CRFB/88. Com efeito, durante o processo legislativo, a função da CCJ é ava- liar previamente a compatibilidade dos projetos que serão apreciados pelo Plenário das respectivas Casas Legislativas, ou seja, julgam preliminarmente a constitucio- nalidade dos projetos que serão enviados para a sessão plenária do Parlamento, nos termos do Regimento Interno de cada uma das duas Casas Legislativas. Em termos gerais, cabe à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania ana- lisar os aspectos constitucional, legal, jurídico, regimental e de técnica legislativa de projetos, emendas ou substitutivos sujeitos à apreciação do Plenário, bem como assunto de natureza jurídica ou constitucional que lhe seja submetido, em consul- ta, pelo Presidente da Casa Legislativa, pelo Plenário ou por outra Comissão, ou em razão de recurso previsto no próprio Regimento. Questão fundamental que surge é saber se o parecer dessas Comissões tem sempre força vinculante, ou seja, o que acontece quando a CCJ decide pela inconstituciona- lidade de um projeto qualquer? capítulo 1 • 33 A resposta é negativa. Com efeito, o parecer da CCJ não tem efeito vinculan- te, uma vez que tal parecer é suscetível de revisão pelo Plenário da Casa Legislativa. Assim, por exemplo, nos termos do art. 101, §§ 1º e 2º do Regimento Interno do Senado Federal, quando os projetos receberem pareceres contrários da CCJ, quanto ao mérito, serão tidos como rejeitados e arquivados definitivamente, salvo recurso de um décimo dos membros do Senado no sentido de sua tramitação. Além disso, tratando-se de inconstitucionalidade parcial, a Comissão poderá oferecer emenda corrigindo o vício. Trata-se da assim chamada Emenda Saneadora de Inconstitucionalidade. Em consequência, não obstante o parecer negativo da CCJ, seja do ponto de vista formal ou material, tal pronunciamento não tem força vinculante absoluta, podendo, assim, ser derrubado em certas situações. É exatamente por isso que par- te da doutrina (posição minoritária) entende que o parecer da CCJ não caracteriza realmente um controle preventivo político de constitucionalidade. Finalmente, é importante salientar que não existe controle preventivo político exercido pela CCJ nos projetos de medidas provisórias, resoluções dos tribunais e decretos autônomos do Chefe do Poder Executivo. Além do controle da CCJ, existe, também, uma segunda modalidade de con- trole preventivo político feito Poder Executivo e que é o veto do Presidente da República na elaboração das leis infraconstitucionais (leis complementares e leis ordinárias), conforme o art. 66, § 1º, da Constituição de 1988. Observe, com atenção, que o veto do Chefe do Poder Executivo, durante a criação da lei ou do ato normativo, caracteriza uma modalidade específica de controle preventivo político. Aqui, a atuação do Presidente da República e demais Chefes de Governo de âmbito estadual e municipal (Governador e Prefeito) no âmbito de controle preventivo político ocorre a partir do chamado veto jurídico. Somente o veto jurídico pode ser caracterizado como sendo um controle preventi- vo político, uma vez que é baseado na inconstitucionalidade do projeto de lei, total ou parcialmente. Ou seja, a compreensão de que um determinado projeto de lei aprovado pelo Poder Legislativo não se coaduna com o interesse público (veto político) não tem o condão de caracterizar controle de constitucionalidade, na medida em que não existe nenhuma incompatibilidade vertical com a Constituição. Trata-se de juízo estritamente político de conveniência e oportunidade. (BARROSO, 2009, p. 68). Em consequência, a figura do veto político, que é oferecido em virtude de contrariar o interesse público, não viabiliza controle preventivo de constitucionalidade pelo Presidente da República. capítulo 1 • 34 Diferentemente do que ocorre com a atuação das Comissões de Constituição, Justiça e Cidadania, a atuação do Presidente da República tem o condão de im- pedir que o projeto inconstitucional se converta em lei, não havendo, por isso, dúvidas quanto à caracterização do veto jurídico como modalidade de controle de constitucionalidade preventiva. No entanto, não há, por outro lado, nenhuma dúvida de que o veto do Presidente da República pode vir a ser derrubado pela maioria absoluta das Casas do Congresso Nacional, em sessão conjunta, nos termos do art. 67 da Constituição da República federativa do Brasil. Controle preventivo judicial Em regra, o controle preventivo no Brasil é político, ou seja, feito pelos Poderes Legislativo e/ou Executivo. Normalmente, não se atribui ao Poder Judiciário a competência para o exercício do controle preventivo de constitucionalidade. Entretanto, existe uma hipótese na qual o controle preventivo será jurisdicio- nal e não político. Trata-se aqui de mandado de segurança impetrado por parla- mentar em nome de seu direito líquido e certo de participar do devido processo legislativo.Ou seja, somente o parlamentar tem esse direito de participação em processo legislativo hígido, no qual as limitações constitucionais do poder consti- tuinte derivado reformador serão observadas. Em consequência, toda vez que as limitações constitucionais (materiais, formais e circunstanciais) não forem observadas durante a execução de um projeto de lei ou ato normativo, surge para o parlamentar (deputado ou senador) a legitimidade ad causam para impetrar mandado de segurança. (GÓES & MELLO, 2016, p. 142). Ou seja, somente o parlamentar é legitimado para pleitear, mediante a im- petração de mandado de segurança em defesa de seu direito líquido e certo de participar do devido processo legislativo, o trancamento do processo legislativo que viole uma cláusula pétrea ou que deixe de observar as regras atinentes ao processo legislativo constitucional ou, ainda, que não cumpra as limitações de ordem circunstancial (proibição de aprovar emendas constitucionais durante uma intervenção federal, estado de defesa ou estado de sítio). Veja a questão a seguir. Na hipótese de apresentação de um projeto de emenda constitucional (PEC) que vise trans- formar o Brasil em um Estado Unitário, poderá determinado parlamentar impetrar mandado de segurança perante o STF solicitando a imediata interrupção da votação de tal PEC, ar- guindo violação de seu direito líquido e certo de participar do processo legislativo hígido? capítulo 1 • 35 A resposta é afirmativa, pois, essa hipótese não caracterizaria uma questão “interna corporis” e, sim, violação de uma cláusula pétrea. Assim, é importante compreender que, muito embora ao Poder Judiciário, em geral, não se atribua competência para o exercício do controle preventivo de constitucionalidade, o direito brasileiro admite tal hipótese nos projetos de emenda à Constituição que vão de encontro às cláusulas pétreas. Nesse sentido, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de afirmar que os parlamentares estão legi- timados para pleitear, mediante a impetração de mandado de segurança peran- te aquela Corte, o trancamento do processo legislativo nessas hipóteses, ou seja, deputados federais e senadores da República têm o direito público subjetivo de não deliberar sobre qualquer proposta de emenda tendente a abolir qualquer das cláusulas pétreas. A figura a seguir sintetiza os elementos essenciais do controle preventivo exer- cido pelo Poder Judiciário em uma ação judicial. Controle Preventivo Judicial Mandado de Segurança impetrado por Parlamentar (MS) Violação do Direito Líquido e Certo de “Participar do Devido Processo Legislativo” Inobservância das limitações constitucionais ao Poder Constituinte Derivado Reformador: a) Limitações materiais: Cláusulas Pétreas; b) Limitações formais: regras do processo legislativo; c) Limitações circunstanciais: Intervenção Federal, Estado de defesa e Estado de Sítio Não se admite MS para as questões “Interna Corporis”.. . Em suma, é correto afirmar que existem três modalidades de controle preventi- vo, duas do controle político (veto jurídico do Chefe do Poder Executivo e parecer capítulo 1 • 36 negativo das Comissões de Constituição, Justiça e Cidadania) e uma do controle judicial (Mandado de Segurança impetrado por Parlamentar perante o STF). Uma vez examinadas as espécies do controle preventivo, resta, agora, estudar as modalidades do controle repressivo ou posterior de constitucionalidade, cujo objetivo é retirar do ordenamento jurídico uma norma inconstitucional. Controle repressivo de constitucionalidade O controle repressivo também pode ser dividido em duas modalidades, quais sejam o controle repressivo político feito pelos Poderes Executivo e Legislativo e o Controle repressivo judicial feito pelo Poder Judiciário, seja em sede difusa, seja em sede abstrata. Vale, pois, iniciar, agora, o estudo do controle repressivo político. Controle repressivo político O controle repressivo político é aquele que é exercido, depois de completo o processo de elaboração legislativa, pelos Poderes Executivo e Legislativo. Existem duas grandes modalidades desse controle, quais sejam: a) controle repressivo político feito pelo Poder Legislativo: exercido a partir de um Decreto Legislativo do Congresso Nacional que suspende a eficácia de um ato do Poder Executivo que tenha exorbitado de sua função regulamentar ou extrapolado os limites de delegação legislativa recebida, com amparo no art. 49, V, da CRFB/88; b) controle repressivo político feito pelo Poder Executivo: exercido a partir de um Decreto autônomo do Chefe do Poder Executivo, nas esferas federal, estadual e municipal, que suspende a aplicação de uma lei conside- rada inconstitucional, sob pena de crime de responsabilidade. A primeira modalidade mostra que o Poder Legislativo exerce o controle repressivo político quando resolve suspender a eficácia de um ato normativo do Poder Executivo que tenha exorbitado de sua função regulamentar (Decreto Regulamentador de Lei) ou extrapolado os limites de delegação legislativa concedida (Lei Delegada), com am- paro no art. 49, V, da CRFB/88. Observe que nesta modalidade de controle repressi- vo, um determinado ato normativo do Poder Executivo (Decreto Regulamentador de capítulo 1 • 37 Lei ou Lei Delegada) está sendo privado de sua regular produção de efeitos pelo fato de ter invadido a esfera de competências do Poder Legislativo. A espécie normativa que susta os atos normativos do Poder Executivo (Decreto Regu- lamentador de Lei ou Lei Delegada) é um Decreto Legislativo do Congresso Nacional. Nesse sentido, a questão que se impõe, agora, é saber se tal Decreto Legislativo editado pelo Congresso Nacional pode ser objeto de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) perante o Supremo Tribunal Federal? A resposta deve ser afirmativa, na medida em que o Decreto Legislativo editado pelo Congresso Nacional é um ato normativo primário e federal, previsto no art. 59, VI, da CRFB/88, logo, ato passível de ser objeto de uma ADI. Em termos simples, cabe Ação Direta de Inconstitucionalidade de Decreto Legislativo que sustou um Decreto Regulamentador de Lei ou uma Lei Delegada do Chefe do Poder Executivo. Além desse caso, parte da doutrina também entende que fica caracterizado o controle repressivo político feito pelo Poder Legislativo quando o Congresso Nacional rejeita uma Medida Provisória em razão de algum vício de inconsti- tucionalidade, seja material ou formal. Com efeito, nos termos do art. 62, §5.º, da Constituição de 1988, o Poder Legislativo tem competência para proceder a rejeição de uma Medida Provisória no prazo de 60 dias, prorrogável uma única vez por mais 60 dias. Entretanto, aqui, o leitor deve observar, com atenção, que não há consenso na doutrina, com grandes dificuldades para a aceitação desta tese (que reconhece tal tipo de modalidade de controle repressivo político). Ou seja, há uma controvérsia acerca da classificação desse tipo de controle: seria controle preventivo ou repres- sivo. Parte da doutrina entende que: Neste último caso, contudo, não há consenso doutrinário, bem como existem também algumas dificuldades para se aceitar essa tese. Em primeiro lugar, tem-se dificulda- de de se concluir que a rejeição se deu por motivo de inconstitucionalidade, espe- cialmente porque as decisões legislativas, nestes casos, não vêm acompanhadas de fundamentação ou de motivação eminentemente políticas que são. Por outro lado, temos dúvidas em afirmar que essa seria uma hipótese de controle repressivo. Nesta perspectiva, interessa saber se o controle de constitucionalidade que incide sobre uma medida provisória seria preventivo ou repressivo. (GÓES & MELLO, 2016, p.146) capítulo 1 • 38 Com isso, fica claro que o controle repressivo político comporta duas modali- dades,que a figura a seguir ressalta com precisão. CONTROLE PREVENTIVO DE CONSTITUCIONALIDADE Controle Político COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA (CCJ) VETO JURÍDICO DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO Decisão da CCJ não é vinculante Veto jurídico pode ser rejeitado pelo Congresso em Sessão Conjunta Fonte: Elaborado pelo autor. Observe, com atenção, que o sistema constitucional brasileiro comporta duas hipóteses de controle preventivo político, nos moldes do tradicional sistema po- lítico francês. Controle repressivo judicial O controle judicial leva em consideração a natureza do órgão que exerce o controle e que no caso é o Poder Judiciário, daí a denominação de controle técnico como sinônimo de controle judicial, jurisdicional ou jurídico. Como toda decisão judicial, de caráter técnico, o ato de controle de cons- titucionalidade necessita de fundamentação jurídica, daí a ideia de que o siste- ma de controle de constitucionalidade judicial representa a chamada jurisdição constitucional. A questão que agora se impõe é saber se o ato judicial de controle de constitucionalida- de é exclusivo do Supremo Tribunal Federal ou não?. Nesse mesmo sentido, é importan- te questionar quais são as duas modalidades do controle repressivo judicial? capítulo 1 • 39 Em termos simples, a resposta à primeira pergunta é negativa, ou seja, o sis- tema brasileiro tanto admite o controle jurisdicional feito pelo Supremo Tribunal Federal quanto por qualquer outro órgão do Poder Judiciário com função jurisdicional. Ou seja, já respondendo o segundo questionamento, pode-se afirmar que o controle repressivo judicial tem duas modalidades, a saber: o controle difuso feito por qualquer juiz ou tribunal e o controle concentrado feito exclusivamente pelo Supremo Tribunal Federal. Em consequência, o controle judicial concentrado, também denominado con- trole abstrato ou principal, tem como característica marcante o fato de que cabe ao órgão de cúpula do Poder Judiciário a tarefa de controlar a constitucionalidade das leis num processo abstrato e cuja questão principal da ação é exatamente a decla- ração ou não de inconstitucionalidade dessas leis supostamente inconstitucionais. Observe, com atenção, que o controle concentrado de constitucionalidade fica restrito às hipóteses nas quais as ações serão propostas pelos legitimados do art. 103 da CRFB/88 e apresentadas diretamente ao órgão de cúpula do Poder Judiciário, isto é, o Supremo Tribunal Federal. Enquadram-se na modalidade de controle repressivo judicial concentrado, as seguintes ações: a) ação direta de inconstitucionalidade (ADI); b) ação declaratória de constitucionalidade (ADC); c) arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF); d) ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO). Alguns autores ainda incluem a chamada ação direta interventiva (ADINT) como uma quinta modalidade de controle concentrado efetuado pelo STF. Todas essas modalidades serão examinadas com mais detalhes no capítulo 3 do presente Livro Didático. Já o controle repressivo judicial difuso de constitucionalidade das leis se carac- teriza pela possibilidade de qualquer juiz ou tribunal aferir – de forma incidental - a questão da inconstitucionalidade a partir de um determinado caso concreto. Assim, sendo, em sede de controle difuso, admite-se que qualquer órgão juris- dicional exerça essa tarefa de fiscalização de compatibilidade vertical com a Carta Ápice. Tal questão surge naturalmente durante a apreciação da causa como uma questão incidental, nunca como questão principal da lide, daí a designação de controle incidental de constitucionalidade. Portanto, observe, com atenção, que o capítulo 1 • 40 controle difuso no Brasil é exercido no bojo de ações comuns, como, por exemplo, os mandados de segurança, as ações de conhecimento, de execução, cautelares etc. Ou seja, a atuação fiscalizadora do juiz ou tribunal não é a questão principal do processo, figurando, apenas, como um incidente que o magistrado deve antes aferir para poder apreciar o pedido formulado pelo autor da ação. CONEXÃO Acesse o link para ouvir o MP4 e assistir o vídeo sobre sobre as modalidades de controle da constitucionalidade. http://portaldoaluno.webaula .com.br/Cursos/gen_aula_mais/jur isdicao_ constitucional/mp3/arq/aula_3.mp3 h t t p : / / p o r t a l d o a l u n o . w e b a u l a . c o m . b r / C u r s o s / p o a 0 0 8 / c o n t e u d o / aula_mais.htm#myModal No próximo capítulo, você vai estudar com maiores detalhes esse tipo de con- trole de constitucionalidade. ATIVIDADES O Presidente da República, amparado pelo artigo 68 da Constituição da República, soli- cita delegação ao Congresso Nacional para legislar sobre direito civil, matéria não vedada a tal espécie normativa. Após apreciação da solicitação feita pelo Presidente da República, o Congresso Nacional editou a Resolução competente (delegação externa corporis), na forma do art. 68, § 2.º, da Constituição da República, autorizando que o Presidente da República disciplinasse a matéria, sem, contudo, tratar de questões relativas a relações contratuais entre particulares. A despeito da reserva feita pela Resolução do Congresso Nacional, o Presidente da República disciplinou mediante lei delegada questões relativas a relações contratuais entre particulares, extrapolando, pois, os limites da delegação legislativa recebida. A partir da situação descrita, responda justificadamente: a) Poderia o próprio Congresso Nacional tomar alguma providência contra o ato do Pre- sidente da República (providência motu próprio) ou deveria o Congresso Nacional recor- rer ao Poder Judiciário para que este tome as providências que forem necessárias? capítulo 1 • 41 b) A delegação legislativa feita mediante Resolução do Congresso Nacional está de acordo com a Constituição de 1988? c) O ato que susta a lei delegada também seria uma Resolução do Congresso Nacio- nal? d) Poderia o Presidente da República impugnar perante o Poder Judiciário o ato que sustou a lei delegada? REFLEXÃO Neste capítulo, você estudou as bases teóricas que informam o controle de constitucio- nalidade. Inicialmente, foram examinadas as premissas do controle de constitucionalidade e que são a supremacia da Constituição e a rigidez constitucional. Nesse contexto, ficou claro que a ideia de uma Constituição rígida, escrita e com supremacia é a condição de possibilidade da jurisdição constitucional. Na sequência dos estudos, foram identificados os diferentes tipos de inconstitucionalidade, bem como as principais espécies de controle de constitucionalidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro. Exposição sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 2009. BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 25 ed., São Paulo: Malheiros,2010. DIMOULIS, Dimitri; LUNARDI, Soraya. Curso de processo constitucional. Controle de constitucionalidade e remédios constitucionais. 5 ed., São Paulo: Atlas, 2017. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 35 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. GÓES, Guilherme Sandoval, MELLO, Cleyson de Moraes. Controle de Constitucionalidade. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2016. MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. capítulo 1 • 42 Controle difuso de constitucionalidade 2 capítulo 2 • 44 Controle difuso de constitucionalidade Neste capítulo, você estudará as bases teóricas que fundamentam o controle difuso de constitucionalidade no Brasil. O controle difuso, também denominado incidental, concreto, indireto, de exceção, de defesa, é aquele
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