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XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XIII ENPEC Caldas Novas, Goiás – 2021 Nome da linha temática Arial 9pt 1 Racismo, infância e juventude: análise do episódio 8 do desenho animado Super Choque Resumo Vivemos em uma sociedade alicerçada em bases racistas, onde o utopia da democracia racial impera. Os mecanismos informais de discriminação racial são uma forma velada da prática racista, filtrando o acesso igualitários a oportunidades dos negros em detrimento ao branco opressor. O presente artigo aborda questionamentos relacionados ao racismo e suas vertentes, dando enfoque a forma de racismo que acomete crianças e jovens, destacando o papel da família, escola e mídia no combate a essa prática, para fundamentar o artigo, foi escolhido um episódio do desenho animado Super Choque, que é ambientado na cidade Dakota nos Estados Unidos, voltado para o público infanto-juvenil, o desenho foi escolhido pois expõe exatamente nocividade que o racismo causa na vida dos jovens de cor. Palavras chave: racismo, jovens, animação, mídia, escola, família. Abstract We live in a society based on racist bases, where the utopia of racial democracy prevails. Informal mechanisms of racial discrimination are a veiled form of racist practice, filtering equal access to opportunities for blacks to the detriment of oppressive whites. This article addresses questions related to racism and its aspects, focusing on the form of racism that affects children and young people, highlighting the role of family, school and media in combating this practice, to support the article, an episode of the cartoon was chosen animated Super Choque, which is set in the city Dakota in the United States, aimed at children and young people, the design was chosen because it exposes exactly the harmfulness that racism causes in the lives of young people of color. Key words: racism, youth, animation, media, school, family. Introdução É importante destacar que o Brasil foi o último país do ocidente a abolir o regime escravocrata não por vontade própria, mas sim pelas imposições capitalistas que afloravam no mundo o país depois da abolição não foi capaz de desenvolver condições adequadas para inserção da população negra com dignidade na sociedade. É evidente que pessoas negras com fim da escravidão não tiveram a preparação necessária para concorrer com as pessoas brancas ficando perdidas e desajustadas às novas circunstâncias de vida, sem estudos e profissão e com a personalidade afetada pelo regime escravocrata inaptos a nova XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XIII ENPEC Caldas Novas, Goiás – 2021 Nome da linha temática Arial 9pt 2 realidade sendo vítimas do abandono do estado. Florestan em seu livro A integração do negro na sociedade de classes, argumentou que: A desagregação do regime escravocrata e senhorial se operou, no Brasil, sem que se cercasse a destituição dos antigos agentes de trabalho escravo de assistência e garantias que os protegessem na transição para o sistema de trabalho livre. Os senhores foram eximidos da responsabilidade pela manutenção e segurança dos libertos, sem que o Estado, a Igreja ou qualquer outra instituição assumisse encargos especiais, que tivessem por objeto prepará-los para o novo regime de organização da vida e do trabalho”. (FERNANDES,1978 p. 29). Devido a essa problemática as pessoas negras por não terem consciência de classe sujeitados a acreditar que eram inferiores aos brancos e não terem sido assistidas com políticas públicas efetivas com o fim do regime escravocrata foram compelidas a coabitarem as margens da sociedade hegemônica branca opressora dominante, sociedade está que ao invés de subsidiar e garantir a manutenção de trabalho para as pessoas negras, estavam preocupados em embranquecer a população brasileira com imigrantes oriundos da Europa. A elite branca brasileira já tinha em sua própria sociedade os elementos necessários para forjar sua ideologia racial. Tinha aprendido desde o período colonial a ver os negros como inferiores. Tinha também aprendido abrir exceções para alguns indivíduos negros ou mulatos (VIOTTI, 1998, p.373). O racismo estrutural é um composto de ações discriminatórias que faz-se presente na história e formação cultural da sociedade que sempre privilegiou algumas raças em detrimento de outras. Estrutural significa base que sustenta, nesse caso a base tornou-se o racismo que favorece pessoas brancas e negligenciam outras raças. Conforme Almeida (1998, p.27) “para manter a “ordem” grupos dominantes criam mecanismos que possibilitam a manutenção desse poder, impondo aos demais no caso os menos favorecidos, regras, padrões e condutas que normalizam a falsa ordem imposta pelo grupo opressor dominante. Essa população sofre até hoje as consequências do racismo estrutural que assola suas vidas. Pires e Silva, reiteram que o racismo estrutural: Funciona como uma espécie de sistema de convergência de interesses, fazendo com que o racismo, de um lado, implique a subalternização e destituição material e simbólica dos bens sociais que geram respeito e estima social aos negros – ciclo de desvantagens – e, de outro, coloque os brancos imersos em um sistema de privilégios assumido como natural, como norma. (PIRES e SILVA, 2015, p. 66). Criança e jovens que estão com a personalidade em formação desde terna idade percebem em seu cotidiano que há uma rejeição generalizada quanto sua etnia, seja na mídia, livros, brinquedos, arte entre outros. Esse negligenciamento da criança negra ocorre desde os tempos conflituosos da escravidão onde as crianças negras eram retiradas da suas mães e XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XIII ENPEC Caldas Novas, Goiás – 2021 Nome da linha temática Arial 9pt 3 forçadas a trabalhar, Farias (2013, p.51) “as crianças negras ao nascer eram retiradas dos braços das suas mães sem poderem ser amamentadas, pois as mamas de suas mães escravas eram usurpadas para amamentar os filhos brancos dos senhores e senhoras bem nascidos da casa grande. O racismo é capaz de causar impactos danosos na perspectiva psicológica e social de toda e qualquer criança ou adolescente quando essas crianças ligam os computadores televisores, celulares e afins, fica evidente que o conteúdo das animações que abordam a representatividade de pessoas de etnia negra é insuficiente partindo do pressuposto da quantidade negros(as), que há no país, bem como no mundo. Nascimento (2017, p.29), argumenta que: “Ao menosprezar a diversidade étnico-racial do nosso país com relação ao universo infantil, a programação direcionada a eles fez com que as crianças se sentissem prejudicadas em relação a sua própria imagem e analisando que as imagens de crianças negras são usadas pela mídia, para ilustrar questões muito específicas, em novelas e mine series, e quando aparecem são retratadas preferencialmente ligadas a mazelas sociais, mas muito dificilmente para fazer parte de forma positiva que venha a exaltar a beleza e as qualidades de uma criança negra”. (NASCIMENTO, 2017,P.29) De acordo com dados do IBGE 2019 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no ano de 2020, 54% da população brasileira é formada por pessoas negras, ou seja, mais da metade da população, conforme esses dados, é necessário pensar que os desenhos animados, deveriam ser diversificados/ multifacetados, diante da formação miscigenada que originou a população brasileira, mas infelizmente o que presenciamos é uma mídia engessada, pragmática que acompanha os ditames da sociedade vigente. Esse fenômeno pode ser observado não só nos desenhos animados, como em filmes, comerciais e novelas que seguem essa mesma linha, da não representatividade étnico racial, a TV, brasileiraexiste desde a década de 50, mesmo passados mais de 70 anos, é possível constatar, que a população negra, ainda são tratados como coadjuvantes nos meios midiático. Ramos (2002) em sua obra Mídia e racismo, afirma que: “O racismo está presente em todos os ambientes sociais do país, e aqueles que o negam, estão carregados de sentimos como culpa, medo, raiva e vergonha de admiti-lo. No que se refere as crianças e jovens negros, que são mais suscetíveis as influencias das mídias, por estarem com a personalidade em formação, não conseguem associar sua imagem ao que “comercializado” na mídia, a maneira como eles se vê representados, não possibilita uma formação indenitária eficaz e saudável. A identidade, de acordo com Gomes (1995, p.39): ...só pode ser usada no plano do discurso e aparece como um recurso para a criação de um nós coletivo – nós índios, nós mulheres, nós negros, nós homossexuais, nós professores. De acordo com a autora, esse nós se refere a XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XIII ENPEC Caldas Novas, Goiás – 2021 Nome da linha temática Arial 9pt 4 uma identidade (igualdade) que, na realidade, não pode ser verificada de maneira efetiva, mas torna-se um recurso indispensável ao nosso sistema de representações. Indispensável porque é a partir da descoberta, reafirmação ou criação cultural de suas semelhanças que um grupo social qualquer terá condições de reivindicar para si um espaço social e político de atuação em uma situação de confronto. (GOMES, 1995, p.39). Sendo um problema que está enraizado no cerne da sociedade brasileira, as pessoas negras quando “representadas”, é possível perceber um padrão do: negro escravo, empregado/a doméstico, bandido, mulher negra hipersexualizada e da criança e jovem negro favelado. Muniz Sodré (2000): [...] com referência ao negro, a mídia, a indústria cultural, constroem identidades virtuais a partir, não só da negação e do recalcamento, mas também de um saber de um senso alimentado por uma longa tradição ocidental de preconceitos e rejeições. Da identidade virtual nasceram os estereótipos e as folclorizações em torno do indivíduo de pele escura. (SODRÉ, 2000, p. 125). É essencial, que ocorra o fomento de novas de lutas que propiciem fortalecimento da identidade racial das pessoas negras, objetivando uma representatividade e não uma representação do papel social das pessoas negras, sendo necessário que o meio midiático, coloquem negros e negras em papéis de destaque, para que aja uma ruptura da estigmatizarão das pessoas negras como subalternas e serviçais. Diante dessas ideias iniciais, o objetivo principal deste artigo é mostrar que os desenhos animados podem influenciar de forma positiva/ou negativa na formação das crianças e adolescentes, para isso será realizada uma análise da animação Super Choque, mais especificamente do episódio 8, intitulado Filhos dos Pais, episódio que dispõem sobre questões racistas. Realizando uma pontuação sobre, consequência do racismo na infância e juventude e racismo na trajetória escolar. Consequências do racismo na infância Primeiramente ao falar sobre racismo, é necessário discutir o fenômeno do embraquecimento que vem sendo imposto desde o processo de colonização dos povos pelo homem branco e fomentando no Brasil pelo médico Nina Rodrigues (2010, p.292)) enfatizava a ideologia da valorização social do grupo dominante: Adstrito por agora ao exame da capacidade cultural do negro brasileiro, é a este padrão da morosidade extrema em considerar-se que a havemos de referir, pois, se o futuro do Brasil dependesse de chegarem os seus negros ao mesmo grau de aperfeiçoamento que os brancos, muitas vezes se poderiam transformar antes os seus destinos de povo, se é que algum dia se houvesse de realizar. Ocorre, portanto, demonstrar que de fato nessa morosidade reside o ponto fraco da civilização dos negros. XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XIII ENPEC Caldas Novas, Goiás – 2021 Nome da linha temática Arial 9pt 5 De forma destrutiva a pessoa branca opressora que compõem a elite dominante, acredita que está prestando um serviço compensatório as pessoas negras seja através de políticas públicas, campanhas em prol a conscientização ao combate ao racismo etc. Observa-se que toda essa “empatia” para com o povo negro pode ser caracterizada como uma maneira que o branco encontrou para manter seu status quo na sociedade. Conforme Bento (2002, p.4), “A teoria de discriminação racial, serve como interesse, para manutenção da noção de privilégio. Servindo também como um mecanismo que assegura a continuidade de favorecimento de um povo sobre o outro, de forma intencional/ ou sustentada em preconceito. Várias campanhas em benefício da conscientização de combate ao racismo nos mais diversos segmentos são realizadas, buscando abranger os mais diversos setores sociais ainda vivenciamos diversas cenas de racismo contra adultos, jovens e crianças. Os jovens e as crianças por estarem em desenvolvimento emocional/cognitivo são mais afetados, quando expostas a situações que “ferem” sua imagem, bem como sua autoestima. Afirma Barbosa (apud Batista, 2012): “[...] a maioria das doenças que atingem a população negra é a mesma que atinge a população em geral. O que diferencia é seu perfil mais crítico de saúde, recorrente a diferentes contextos históricos, recorrência esta pautada na discriminação, no racismo e na negação de direitos [...]”. Esses traumas que acometem crianças/jovens na primeira infância são mais devastadores, causando incapacidade de demonstrar sentimentos de confiar nas pessoas, as vítimas jovens de racismo passam a acreditar que há algo errado com elas que são culpadas, odiadas, desprotegidas, enfim que não são dignas de amor e proteção esses sentimentos intrinsicamente errados, acarretam uma baixa autoestima e vulnerabilidade. De acordo com Hédio e Daniel (2004, p.23): “O ambiente social que circunda a criança negra — marcadamente eurocêntrico e estigmatizante — e sua exposição a experiências de discriminação racial material e simbólica operam como fatores condicionantes de sua saúde, nomeadamente a saúde mental, psicológica, psíquica.” Ante o exposto, fica evidente que existe a necessidade da percepção, compreensão e aplicação de práticas afirmativas que combatam a violência racial as quais crianças e jovens são expostas, oferecendo um atendimento profissional especializado objetivando a redução dos danos psíquicos que eles possam desenvolver caso não sejam tratados de forma significativa. Consequências do racismo no ambiente escolar A escola por ser um ambiente que propicia a quebra de paradigmas, detentora do papel de trabalhar em prol da prevenção e diminuição do racismo e discriminação deve estar XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XIII ENPEC Caldas Novas, Goiás – 2021 Nome da linha temática Arial 9pt 6 preparada para receber o público diversificado que às compõem. Inerente a escola, Rodrigues (2011, p. 11) diz que: “Se a exclusão escolar tem ‘cor’, é imprescindível compreendermos o papel de todos os atores escolares, [...] na implementação de programas e ações de promoção da igualdade racial”. Constantemente presenciamos situações que envolvem racismo dentro das escolas com casos que acometem crianças e jovens vítimas de tanto sofrimento atentam contra a própria vida em um ato de desespero por serem vítimas de racismo praticado pelos próprios colegas, o que torna o ato mais chocante. Os alunos negros são os que mais sofrem com a violência racista física e verbal, aumentando ainda mais o sofrimento e exclusão social desses alunos no processo educativo. (SILVA E XAVIER,2019, p.150).Diante do contexto fica as indagações. Qual é papel da escola no combate ao racismo? Medidas socioeducativas adequadas estão sendo usadas? Existem políticas públicas eficientes? Os docentes estão realizando ações afirmativas eficientes de combate ao racismo, e não só na semana da consciência negra como é de praxe nas escolas. As salas de aulas atuais são compostas por turmas multicoloridas com várias nuances de tons de pele, devido ao processo de mistura da formação do povo brasileiro. Por isso é importante que as escolas estejam preparadas para combater situações racistas e preconceituosas. O erro para com o povo negro jamais será apagado, por isso é imprescindível falar, discutir sobre eles em conjunto com as gerações futuras, buscando impedir que esse erro jamais volte a ser cometido. Dispomos de uma leis que que, regulamentam o ensino de História e Cultura Afro- Brasileira, no ambiente escolar, sendo relevante na construção indenitária da criança e jovem negro, o ensino da promoção a diversidade, está garantido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996: Art. 26-AO ensino à diversidade também é garantido pela. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna- se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. A Lei nº 10.639/2003 relembra que o calendário escolar incluiu o dia 20 de novembro como o “Dia Nacional da Consciência Negra”. XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XIII ENPEC Caldas Novas, Goiás – 2021 Nome da linha temática Arial 9pt 7 Infelizmente, se analisarmos o ensino da Educação Básica, incluindo os dias atuais, observaremos que os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira Essas leis são significativas no tocante do negligenciamento da História e Cultura Afro-Brasileira, que outrora sempre foi marginalizada e excluída acentuando a supremacia branca. Sendo assim a escola além de educar, deve cumprir seu papel de descontruir e construir novos conceitos e paradigmas, que ressignifiquem o racismo. Análise do episódio 8 do desenho Super Choque Quando surgiram as primeiras histórias em quadrinhos com personagens negros eles eram retratados com personagens secundários: como vilões, cômicos, possuidores de força bruta, auxiliares dos super-heróis ou com déficit intelectual, sempre estenotipados com o viés racista, com o passar do tempo, impulsionados pelos movimentos civis, esse cenário começou a se modificar gradativamente, os personagens negros passaram a ter um pouco mais de representatividade/destaque, nesse ambiente antes dominado pela supremacia branca opressora. Super Choque um herói negro juvenil, politizado que é capaz de manipular a eletricidade, conquistou uma legião de fãs no mundo inteiro, o desenho animado Super Choque foi criado pela editora Milestone Comics, pelos roteiristas Dwayne McDuffie, Denys Cowan, Michael Davis e Derek Dingle, primeiramente em quadrinhos no ano de 1993. Feita uma prévia análise da animação fica evidente que o objetivo de sua criação é a retratação da vida cotidiana de um jovem afrodescendente que lida com questões racistas, familiares e combate ao crime em sua cidade. Thiago e Elias (2020, p.80), frisam que o desenho Super Choque: “Super Choque” é uma obra de ação, ficção-científica e drama. Busca retratar a vida de um adolescente negro, Virgil Hawkins, de Dakota, Estados Unidos, que devido a um vazamento de gás tóxico em uma briga de gangues na periferia de Dakota fica eletrizado, se tornando um Super-Herói (Super-Herói Negro). Juntamente com seu amigo Richie vive aventuras eletrizantes como super-herói, mas também vive experiências de opressão, dramas familiares, bullying e racismo. A obra aborda temáticas de desigualdades sociais, envolvimento com drogas e brigas com grandes corporações. O nome verdadeiro e o heroico do personagem, revela fatores peculiares, o nome verdadeiro faz uma homenagem a Virgil D. Hawkins, um homem negro que teve seu acesso a Universidade de Direito da Florida em 1940, por conta da sua cor, e sua identidade heroica (Static em inglês), foi baseada na canção homônima de James Brown. XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XIII ENPEC Caldas Novas, Goiás – 2021 Nome da linha temática Arial 9pt 8 Figura N:01 Virgil Darnell Hawkins. Fonte: (FIAUX, 2020). Pais e filhos O episódio escolhido “pais e filhos” que faz parte da primeira temporada da série, retrata cenas explicitas de atos e falas racistas, contra o personagem Virgil, quando ele vai dormir na casa do seu melhor amigo Richard (Richei), chegando lá, ele começa a ser “atacado”, pelo pai de Richard, que durante o jantar, expressa atitudes preconceituosas e racistas, fazendo Virgil, desistir de dormir na casa do seu melhor amigo, sentindo-se humilhado e constrangido. O episódio explana a dura realidade da vida corriqueira de um jovem afrodescendente que é “obrigado” a conviver com atos racistas que prejudicam sua autoestima, fazendo com que ele sinta-se coagido e inferiorizado pela sociedade supremacista branca. A cena 1:começa com uma fala estereotipada de um garoto que está com seu pai no shopping, um vilão, uma sobra negra que engole tudo a seu redor, o garoto fala para o pai:- pai olha aquela coisa preta nojenta está se aproximando de nós. Ou seja usa a cor preta de forma pejorativa, tudo que é ruim é negro: lista negra, ovelha negra, humor negro, denegrir, a coisa tá preta etc., infelizmente somos condicionados a pensar/falar de forma errônea, usando a cor negra para adjetivar coisas ruins. XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XIII ENPEC Caldas Novas, Goiás – 2021 Nome da linha temática Arial 9pt 9 Figura N:02 Imagem do vilão Aplle , que faz parte do desenho. Fonte: (Comics, 2020). Cena 2:Virgil, pede para ir na casa de seu amigo Richard, e questiona a atitude do amigo de sempre se negar a leva-lo a sua casa, sua irmã mais velha Sharon, percebe que tem alguma coisa “errada”, e conversa com Virgil, que percebe que a irmã tem razão, logo depois o Richard mesmo contrariado marca uma data para Virgil dormir na sua casa. A cena mais relevante ao que se propõe a discursão desse artigo é a cena 4, na qual ocorre as situações que envolvem atos racistas. Virgil chega na casa de seu amigo, muito animado não consegue perceber a tensão que está presente entre Richard e sua mãe. A mãe de Richard , é acometida por um susto ao perceber que seu marido chegou em casa mais cedo, o pai de Richard ao conhecer Virgil o trata com desprezo e mau humor, começando o jantar , Virgil para “quebrar” o clima tenso que está presente na mesa , onde todos estão comendo calados, fala sobre um CD novo de Hip Hop, que trouxe para ele e o amigo ouvirem depois do jantar, essa fala é o “gancho” para o pai de Richard mostrar sua verdadeira face, e proferi várias falas agressivas:-essas músicas nunca irão ser tocadasna minha casa;-essas músicas influenciam os jovens a desrespeitarem seus pais. Virgil tenta contornar a situação dizendo que o Hip Hop pode ser positivo, a mãe de Richard pede para o marido ser mais tolerante ficar mais calmo, mas o pais de Richard continua:-são um lixo; -ensinam os garotos a picharem os muros; -ficarem até tarde na rua; -a destruírem tudo que gente como eu constrói. Richard fala para o pai que ele o envergonha, Virgil tenta amenizar mais uma vez a situação dizendo que o pai dele também não gosta desse tipo de música, que não é uma coisa de gente branca ou negra e sim de gente velha. XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XIII ENPEC Caldas Novas, Goiás – 2021 Nome da linha temática Arial 9pt 10 Figura N:03 Virgil e Richard conversando. Fonte: (Comics, 2020). Em um segundo momento Virgil sai do quarto do amigo, e começa a escutar o pai de Richard falando que ele é uma má influência, que todos da raça dele são, que já é ruim ter que conviver com gente como ele (negros), todos os e que agora é obrigado a conviver com um dentro da sua casa, depois de escutar essas palavras, pega sua coisas e vai embora, fala para o amigo que nada vai mudar o que o pai do amigo disso. Richard discute com o pai, diz que seu pai conseguiu o que queria, que ele brigasse com seu melhor amigo, porque do racismo idiota dele, que o odeia. Diante disso fica evidenciado o quanto falas e atitudes racistas podem ser nocivas na vida de jovens negos, que enfrentam esses tipos de situações constantemente. Figura Nº 04: Virgil cabisbaixo na mesa do jantar. Fonte: (Comics, 2020) XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XIII ENPEC Caldas Novas, Goiás – 2021 Nome da linha temática Arial 9pt 11 Cena 5: o pai de Virgil entra no quarto e o encontra triste, Virgil fala que não entender como o amigo pode ter um pai racista, seu pai diz que Richard conseguiu quebrar o ciclo da intolerância, e diz ao filho que seu amigo irá precisar dele mais que nunca, para continuar lutando contra os atos racistas do seu pai. Cena 6: Richard foge de casa e seu pai em um ato de desespero vai até o pai Virgil saber se ele tem notícias do seu filho, os dois começam a discutir a criação dos filhos, o pai de Richard faz acusações sobre Virgil, que não conhece os amigos do filho, e que não sabia que Virgil era negro. O pai de Virgil mesmo contrariado resolve ajudar, os dois pais vão para periferia procurar o garoto, chegando lá, o pai de Richard diz que esses garotos vivem como porcos, o pai de Virgil (Super Choque), intervém, diz que esses garotos vão parar naqueles lugares, por falta de apoio familiar, quando não são queridos em casa, quando os pais são omissos. Diante disso o pai de Richard pede desculpa, justifica-se dizendo que a fala dele foi mal interpretada por Virgil, que não estava falando da raça dele. O pai de Virgil fala que conhece o tipo dele, o intolerante, bom, honesto, ignorante e orgulhoso de tudo, é irônico ao dizer que:-seu filho Richard é maravilho, mas do jeito que o senhor é, nunca vai conhecer o filho inteligente que tem. A encera com uma luta, onde Super Choque salva a todos com seus Super poderes eletromagnéticos. O episódio termina com o pai de Richard, depois de resolver a situação, indo leva- los a um concurso onde terá pessoas fantasiadas e maquiadas até homens. A cena final deixa uma interrogação no ar, quando Richard diz que só que ver a cara do pai quando chegar ao evento e presenciar essa variedade de pessoas, sendo seu pai um homem, racista, opressor e homofóbico. XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XIII ENPEC Caldas Novas, Goiás – 2021 Nome da linha temática Arial 9pt 12 Figura Nº 05:parte final do desenho, que mostra um aperto de mãos simbólico entre os personagens. Fonte: (Comics, 2020). Todo contexto do episódio, foi construído com bases em evidencias racistas que ocorrem com jovens negros, que estão mais suscetíveis a sofrerem abusos como este, são eles que são parados pela polícia, são seguidos em shoppings, são estereotipados como “ vagabundo”, em detrimento da suas vestimentas, músicas que ouvem, a maneira de falar de andar, ou seja todo comportamento do negro e mal visto pela sociedade, sociedade está que não conseguiu se descolonizar e aceitar o povo da etnia-negra como iguais. Gelson (2013, p.68), enfatiza que: Entretanto, estes histórias não são tão ‘inocentes’ assim, como aparentam. Elas não trazem somente o entretenimento ao seu leitor, estas histórias introduzem e abordam de forma vivida as questões de suma importância enfrentadas pelos seres humanos ‘normais’, em seu dia a dia. Considerações Finais Nos dias atuais vivenciamos situações de cunho racista em todos ambientes sociais o maior quantitativo de mortes violentas acometem pessoas negras, recebem os menores salários, os piores empregos, enfim vivem à mercê/ margem da sociedade. No decorrer do texto foram apresentados/discutidos temas correlacionados ao racismo estrutural e sua nocividade ao ser cometido, utilizou-se um episódio do desenho Super Choque para evidenciar a importância da discursão desse assunto tão propagado atualmente, mesmo que para muitos combater o racismo tornou-se um tendência um meio da sustentação do status quo ou promoção de determinados segmentos sendo a mídia um deles. Os recursos visuais, são fermentas capazes de manipular e formar uma sociedade, constituindo um elemento determinante de conceitos, é evidente que, jovens e crianças são os XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XIII ENPEC Caldas Novas, Goiás – 2021 Nome da linha temática Arial 9pt 13 mais “afetados” por esses meios midiáticos, sendo significativo que desenhos como Super Choque que agrega valores como: jovem, negro, periférico que estuda em uma escola hegemônica, traga temas como racismo, que necessita ser exterminado da nossa sociedade. O desenho é capaz de demonstrar que um jovem negro pode ser um Super- Herói, que discuti questões étnico-raciais destacando a relevância do jovem na formação da sociedade independentemente da etnia, credo e opção sexual. Diante disso crianças e jovens negros precisam estar representados nos desenhos animados por personagens que legitime sua identidade e realidade através de situações vivenciadas por eles bem como o seu fenótipo, mesmo sendo Super Choque um desenho americano, ele consegue mostrar a dura realidade da vida cotidiana de uma pessoa negra, independente do país que esteja. Agradecimentos e apoios Agradeço ao professor Dr. Francisco Nascimento, pela oportunidade de ser aluna especial de sua disciplina, que me fez enxergar o mundo através do viés racista que muitas vezes está recôndito na sociedade. Referências BATISTA, L. E. Masculinidade, raça/cor e saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 2005. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 21 dez. 1996. COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: Momentos Decisivos. São Paulo. Editora UNESP, 1998. 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