Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
o vestuário, precisam de receitas adicionais. (...) A atmosfera de suas moradias, combinada com outras privações, expõe essa classe especialmente ao tifo e à tísica.”670 De acordo com isso, não admira que, segundo o testemunho unâ- nime dos relatores, um descontentamento sombrio pervada as fileiras dessa classe, fazendo com que ela deseje de volta o passado, abomine o presente, desespere do futuro, “entregue-se às malignas influências de demagogos” e só tenha a idéia fixa de emigrar para a América. Este é o Eldorado em que a grande panacéia malthusiana, o despo- voamento, converteu a verde Erin! Para ver com quanto conforto vivem os trabalhadores manufa- tureiros irlandeses, basta um exemplo: “Em minha recente inspeção ao norte da Irlanda”, diz o ins- petor de fábrica inglês Robert Baker, “chamou-me a atenção o esforço de um operário qualificado irlandês para dar educação a seus filhos apesar de sua penúria de meios. Reproduzo literal- mente suas declarações, conforme as recebi de sua boca. Que ele seja um trabalhador qualificado, percebe-se, se digo que ele é empregado para artigos destinados ao mercado de Manchester. Johnson: ”Sou um beetler e trabalho das 6 horas da manhã às 11 da noite, de segunda a sexta. Aos sábados terminamos às 6 da tarde, e temos 3 horas para refeições e descanso. Tenho 5 filhos. Por esse trabalho, ganho 10 xelins e 6 pence por semana; minha mulher trabalha também e ganha 5 xelins por semana. Minha filha mais velha, de 12 anos, cuida da casa. Ela é nossa cozinheira e única serviçal. É ela quem prepara os mais jovens para a escola. Minha mulher se levanta comigo e sai comigo. Uma menina que passa por nossa casa nos acorda às 5 1/2 da manhã. Não comemos nada antes de ir para o serviço. A criança de 12 anos cuida das crianças pequenas durante o dia. Tomamos o desjejum das 8 horas e para isso vamos para casa. Temos chá uma vez por semana; senão temos uma papa (stirabout), às vezes de farinha de aveia, às vezes de farinha de milho, conforme o que conseguimos arranjar. No inverno, acrescentamos um pouco de açúcar e água à nossa farinha de milho. No verão colhemos algumas batatas que plantamos num pedacinho de terra e, quan- do elas acabam, voltamos para a papa. (...) Assim vão as coisas, dia após dia, domingos e dias úteis, o ano todo. Estou sempre exausto à noite, quando termino o serviço do dia. Só comemos um pedaço de carne excepcionalmente, mas é muito raro. Três de nossos filhos vão à escola, para o que pagamos sema- OS ECONOMISTAS 334 670 pp. 21, 13.
Compartilhar