Buscar

CCJ0001-WL-RA-07-Fundamentos das Ciências Sociais _12-04-2012_

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 9 páginas

Prévia do material em texto

Curso de Direito 
Turma A – Manhã - 2012.1 
Fundamentos das Ciências Sociais 
Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão 
Disciplina: 
CCJ0001 
Aula: 
007 
Assunto: 
Documentário: Juízo 
Folha: 
1 de 9 
Data: 
12/04/2012 
 
MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-007/WLAJ/DP 
Plano de Aula: 7 - Modelos clássicos da análise e compreensão da sociedade e das instituições sociais e políticas. 
FUNDAMENTOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS 
Título 
7 - Modelos clássicos da análise e compreensão da sociedade e das instituições sociais e políticas. 
Número de Aulas por Semana 
1. 
Número de Semana de Aula 
7. 
Tema 
A sociologia de Émile Durkheim (II). 
Objetivos 
Analisar, no bojo do pensamento de Durkheim, a evolução das formas de organização social (simples e complexa) 
do ponto de vista dos laços existentes entre o indivíduo e a sociedade (solidariedade social). Entender os 
indicadores de solidariedade social proposto pelo autor. Explicar os mecanismos pelos quais a consciência 
coletiva nas modernas sociedades constrói a gradação dos níveis de patologia social e anomia presentes nas 
sociedades. 
Estrutura do Conteúdo 
1- Divisão do trabalho social e formas de solidariedade social - é a organização da sociedade em diferentes 
funções, exercidas pelos indivíduos ou grupos de indivíduos. Nas sociedades mais simples predomina a divisão 
social do trabalho baseada principalmente em critérios biológicos de sexo e idade. Essa divisão parece decorrer 
de uma extensão analógica das diferenças naturais de funções entre membros de um grupo. Durkheim classifica a 
forma de solidariedade social deste tipo de sociedade como solidariedade mecânica. Nas sociedades mais 
complexas, em especial quando tem início o desenvolvimento da agricultura, a sedentarização e o sistema de 
propriedade privada, surge uma divisão social mais complexa, com a criação de novas funções sociais. A indústria 
foi o sistema produtivo que mais desenvolveu a divisão social do trabalho, criando uma imensa gama de funções 
e atribuições diferenciadas. Durkheim classifica a forma de solidariedade social deste tipo de sociedade como 
solidariedade orgânica. Observação: A divisão social do trabalho implica sempre uma divisão não só de funções, 
mas também de privilégios, regalias e poder. 2- Os indicadores dos tipos de solidariedade – Segundo Quintaneiro 
et alli (Um toque de clássicos. Belo Horizonte, Editora da UFMG,2009), Durkheim utiliza-se da predominância de 
certas normas do Direito como indicador da presença de um ou do outro tipo de solidariedade, já que esta, por ser 
um fenômeno moral, não pode ser diretamente observada. Não obstante se sustente nos costumes difusos, o 
Direito é uma forma estável e precisa, e serve, portanto, de fator externo e objetivo que simboliza os elementos 
mais essenciais da solidariedade social. Por outro lado, as sanções que são aplicadas aos preceitos do Direito 
mudam de acordo com a gravidade destes, sendo assim possível estudar suas variações. O papel do Direito seria, 
nas sociedades complexas, análogo ao do sistema nervoso: regular as funções do corpo. Por isso expressa 
também o grau de concentração da sociedade devido à divisão do trabalho social, tanto quanto o sistema nervoso 
exprime o estado de concentração do organismo gerado pela divisão do trabalho fisiológico, isto é, sua 
complexidade e desenvolvimento. Enquanto as sanções impostas pelo costume são difusas, as que se impõem 
através do Direito são organizadas. Elas constituem duas classes: as repressivas - que infligem ao culpado uma 
dor, uma diminuição, uma privação; e as restitutivas - que fazem com que as coisas e relações perturbadas sejam 
restabelecidas à sua situação anterior, levando o culpado a reparar o dano causado. A maior ou menor presença 
de regras repressivas pode ser atestada através da fração ocupada pelo Direito Penal ou Repressivo no sistema 
jurídico da sociedade. Naquelas sociedades onde as similitudes entre seus componentes são o principal traço, um 
comportamento desviante é punido por meio de ações que têm profundas raízes nos costumes. Os membros 
dessas coletividades participam conjuntamente de uma espécie de vingança contra aqueles que violaram algum 
forte sentimento compartilhado que tenha para a sociedade a função central de assegurar sua unidade. Sendo a 
consciência coletiva tão significativa e disseminada, feri-la é uma violência que atinge a todos aqueles que se 
sentem parte dessa totalidade. O crime provoca uma ruptura dos elos de solidariedade, e sua incontestável 
reprovação serve, do ponto de vista da sociedade em questão, para confirmar e vivificar valores e sentimentos 
comuns e, desde uma perspectiva sociológica, permite demonstrar que alguns valores possuem a função de 
assegurar a existência da própria associação. A vingança é exerci da contra o agressor na mesma intensidade 
com que a violação por ele perpetrada atingiu uma crença, uma tradição, uma prática coletiva, um mito ou 
qualquer outro componente mais ou menos essencial para a garantia da continuidade daquela sociedade. Nas 
sociedades primitivas é a assembléia do povo que faz justiça sem intermediários. Os sentimentos coletivos estão 
profundamente gravados em todas as consciências, são enérgicos e incontestes, e assim também sua punição. Os 
crimes são,portanto, atos que ou manifestam diretamente uma dessemelhança demasiado violenta entre o agente 
 
Curso de Direito 
Turma A – Manhã - 2012.1 
Fundamentos das Ciências Sociais 
Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão 
Disciplina: 
CCJ0001 
Aula: 
007 
Assunto: 
Documentário: Juízo 
Folha: 
2 de 9 
Data: 
12/04/2012 
 
MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-007/WLAJ/DP 
que o executou e o tipo social, ou então ofendem o órgão da consciência comum. Tanto num caso como no outro, 
a força atingida pelo crime e a que o repele é a mesma; ela é um produto das similitudes sociais mais essenciais e 
tem por efeito manter a coesão social que resulta dessas similitudes. 3. Anomia - É a ausência, desintegração ou 
inversão das normas vigentes em uma sociedade, neste caso, a consciência “perde” os parâmetros de julgamento 
da realidade. Ela vai acontecer em momentos extremos, tais como: guerras, desastres ecológicos, econômicos, 
etc.. È também nesses momentos que se verifica um número excessivo de suicídios, razão pela qual Durkheim 
trata esse fenômeno como um fato social, e não somente como um ato resultante da consciência individual. 
Aplicação Prática Teórica 
Questão discursiva: Leia o caso concreto e responda as questões propostas: Infância na hora da morte A 
mortalidade infantil na pequena cidade alagoana de Carneiros, a 253 quilômetros de Maceió, não é um índice, é 
um massacre: 633,3 em cada mil crianças. A miséria absoluta em que vive o pequeno município de 5800 
habitantes é a causa principal da infinidade de enterros: crianças mal nutridas num lugar que praticamente nada 
produz, com exceção de pequenas culturas de mandioca e feijão, não resistem às doenças respiratórias e às 
complicações intestinais. O único médico da cidade, Gérson Leão de Mello, 31 anos, clínico geral formado pela 
Universidade Federal de Alagoas, atende em média oitenta pessoas, por dia, entre adultos e crianças. Muitas 
doenças, diz ele, poderiam ser evitadas caso a população fosse mais informada e menos afeita a crendices 
populares e tradicionais da região. As mulheres, por exemplo, em sua maioria casam-se muito jovens, com cerca 
de 14 anos, isto quer dizer, quase crianças ainda, e têm em média, dezesseis filhos. Metade das crianças nascidas 
morre antes do primeiro ano de vida. Há casos drásticos, como o de Marinalva Maria de Jesus de 51 anos. Dos 
seus 26 filhos, apenas 4 sobreviveram. “Vivemos em um mundo diferente”, diz ela, esperamos somente o dia em 
que Deus chama para nos tirar desta terra. A morte das crianças é encarada como uma graça divina em 
Carneiros. Como diz Maria Milton dos Santos, 38 anos, que perdeu seis dos dezesseis filhos que teve: “Deus 
resolveulevá-los, me fazendo um favor”. (Adaptado da revista Isto È, maio de 2008) 1 - Considerando o texto 
apresentado responda: Na visão durkheimiana qual seria o modelo de sociedade que caracterizaria a cidade de 
Carneiros? Por quê? 2 – Que tipo de solidariedade social constitui a base da sociedade de Carneiros? Justifique 
sua resposta. Questão de múltipla escolha: Ao estudar os fatos sociais, Durkheim percebeu que alguns fenômenos 
desvelavam situações em que um indivíduo ou grupos perdiam as referências normativas que orientavam a vida 
e, com isso, enfraqueciam a solidariedade social. Qual o conceito desenvolvido por este autor que corresponde ao 
tema tratado na letra da música de Paulinho Moska exposta abaixo: “Meu amor o que você faria se só lhe restasse 
esse dia? Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria? Abria a porta do hospício, fechava a da delegacia? 
Entrava de roupa no mar, trepava sem camisinha? Dinamitava o seu carro? Parava o trânsito e ria...” A) 
Normalidade B) Anomia C) Anarquia D) Solidariedade orgânica E) Solidariedade mecânica. 
 
 
==XXX== 
 
 
RESUMO DE AULA (WALDECK LEMOS) 
 
7ª AULA – Documentário: Juízo 
Documentário: Juízo 
 
 
Curso de Direito 
Turma A – Manhã - 2012.1 
Fundamentos das Ciências Sociais 
Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão 
Disciplina: 
CCJ0001 
Aula: 
007 
Assunto: 
Documentário: Juízo 
Folha: 
3 de 9 
Data: 
12/04/2012 
 
MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-007/WLAJ/DP 
 
Sinopse 
 
Juízo acompanha a trajetória de jovens com menos de 18 anos de idade diante da lei. Meninas e meninos pobres 
entre o instante da prisão e o do julgamento por roubo, tráfico, homicídio. Como a identificação de jovens 
infratores é vedada por lei, no filme eles são representados por jovens não-infratores que vivem em condições 
sociais similares. Todos os demais personagens de Juízo – juízes, promotores, defensores, agentes do DEGASE, 
familiares – são pessoas reais filmadas durante as audiências na II Vara da Justiça do Rio de Janeiro e durante 
visitas ao Instituto Padre Severino, local de reclusão dos menores infratores. As cenas finais de Juízo revelam as 
conseqüências de uma sociedade que recomenda “juízo” a seus filhos, mas não o prática. 
 
Refletir implicações sociais, não apenas na justiça. 
ECA – 18 anos 
 
No ano em que o Estatuto da Criança e do Adolescente chega à maioridade, a Juíza Cristiana 
Cordeiro analisa o que é ser um menor frente à justiça brasileira. 
 
Nasci no dia 13 de julho de 1990 sob o olhar atento de todos. Dentre tantas esperanças em mim 
depositadas, uma das principais dizia respeito ao status que eu passaria a ostentar. Desejavam que fossem 
abandonadas as anteriores categorizações de menores vadios, libertinos ou em situação irregular, para que 
crianças e adolescentes passassem a ter reconhecida a sua condição de pessoas humanas em processo de 
desenvolvimento e sujeitos de direitos civis. 
Com o passar dos anos, tenho percebido o enorme abismo que separa o que foi sonhado para mim e a 
realidade. A prioridade absoluta que eu deveria receber é letra morta, e continuo sendo visto como uma questão 
de menor importância. Sob o argumento de que me é garantido o direito de ir e vir, me deixaram sozinho, à noite, 
com fome e frio. Dali para o fumo, a droga, a bebida e o roubo, não custou muito. Ignoram que quando dois 
direitos parecem colidir, prevalece o mais relevante, e para mim teria sido tão importante meus direitos à vida, à 
saúde, à educação, à convivência familiar. 
Não demorou muito, “rodei”. No dia em que fui preso, tinha acordado com fome de liberdade. Pensei numa 
moto bem bonita, com o vento batendo no meu rosto. Cheguei a levar um tiro do homem que eu assaltei. Na 
delegacia, fiquei 24 horas sem beber ou comer e minha família demorou a saber o que tinha acontecido. Durante 
dois dias, um dos outros 70 presos que estavam na mesma cela me ajudou com meus ferimentos. Soube de uma 
adolescente no Pará – também indevidamente colocada na companhia de presos adultos – que recebeu dos 
colegas tratamento de natureza bem diversa. 
Saí da delegacia para conversar com um rapaz muito novo, de terno e óculos, que vim a saber ser o 
promotor de justiça. Fiquei um pouco surpreso com as suas perguntas, mas entendi melhor quando soube que, na 
faculdade, ele não estudou nada sobre direitos de crianças e adolescentes. Ele pediu minha internação provisória 
e saí dali para o Instituto Padre Severino, onde passei 45 dias sendo chamado de demônio, levando tapas nas 
orelhas, comendo com colher. Dividi um beliche sem colchão com um colega muito assustado, que vinha do 
interior do estado porque tinha roubado uma galinha. Não recebi visita. Minha família não teria o dinheiro das 
passagens. 
No dia em que fui levado ao Juiz, tomei banho e vesti uma roupa limpa. O Juiz também era jovem como o 
 
Curso de Direito 
Turma A – Manhã - 2012.1 
Fundamentos das Ciências Sociais 
Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão 
Disciplina: 
CCJ0001 
Aula: 
007 
Assunto: 
Documentário: Juízo 
Folha: 
4 de 9 
Data: 
12/04/2012 
 
MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-007/WLAJ/DP 
promotor. Ele leu uns papéis que eu não entendi muito bem, mas que deviam ser como o promotor contou a 
história do roubo da moto, na língua dele. O Juiz apontava para mim e para minha mãe e perguntava se eu não 
tinha vergonha de decepcioná-la. Fiquei tentando imaginar que técnica de abordagem era aquela, mas logo me 
lembrei que o Juiz fez aquela mesma faculdade, onde nada estudou sobre mim. Tive certa compaixão por aquela 
gente sem noção exata do que estava fazendo e passei quase toda a audiência pensando que eu poderia estar ali 
sentado na cadeira do Juiz, se tivesse tido as mesmas chances. 
Da sentença que o Juiz me deu, só entendi a parte dos três anos. Eles passaram lenta e dolorosamente, e 
tanta coisa aconteceu, e tantas histórias ouvi, que quando a porta se abriu e me liberaram (segundo o Juiz, “só 
mesmo porque o tempo máximo de internação foi atingido”), nem sabia mais quem eu era. Só que eu era “ex-
menor”. 
Foi assim que o jornal se referiu a mim quando fui preso. Agora, também podem divulgar meu nome. 
Chamo-me Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 
A Juíza Cristiana Cordeiro é titular da II Vara Regional da Infância, da Juventude e do Idoso do 
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. 
Os dois corpos do RÉU ou as duas FACES da Imagem 
 
Ao dar voz a atores de comunidades carentes, Juízo exibe uma fronteira tensa entre ator e 
personagem. 
Andréa França 
 
O que os últimos filmes de Maria Augusta Ramos lêem e capturam nas representações da Justiça 
brasileira? Grosso modo, que elas são feitas por uma lógica de escolhas, códigos de posturas, articulações, 
disposições espaciais dos atores envolvidos, gestos... Mas dizer isso é certamente dizer pouco. O que Justiça e 
Juízo evidenciam é o sentido da Lei para os réus - vazio, incompreensível, oco - e as relações de poder aí 
implicadas. Ao mostrar o teatro social e o funcionamento do sistema judiciário, estas imagens nos fazem ver a 
própria forma das lutas sociais e políticas hoje no Brasil, impotente e frágil. 
Como em seus documentários anteriores, também em Juízo a documentarista mantém-se na invisibilidade, 
recusando comentários ou perguntas, sem fazer intervenções, buscando um tratamento “justo” através de uma 
câmera discreta, imperceptível, sóbria. Em se tratando de exibir as representações da Lei, tanto em Justiça como 
em Juízo, a diretora acerta em cheio ao optar por esse procedimento técnico/estético: na medida em que diretora 
e equipe não podem intervir no curso daquilo que acontece nas salas do fórum (estamos longe do Irã de Abbas 
Kiarostami, em Close Up), que aqueles que são filmados encenam papéis exteriores ao filme, mais vale se ater ao 
fluxo dessas representações, a um poder que se expõe para uma câmera e que o registra tal como ele se mostra 
(portanto, naquilo que oculta). Daí a necessidade e o gosto da documentaristapela “cena” dentro do quadro 
cinematográfico. Como em Raymond Depardon, o teatro das instâncias de poder é tão ou mais importante do que 
suas engrenagens (caso de Frederick Wiseman). Se o próprio teatro da justiça já implica em uma cena para uma 
sala, um ator para um espectador, uma imagem para uma coisa, personagens (réu, defensor, juiz...) para sujeitos 
singulares (“essa” ou “aquela” mãe), cabe à câmera de Maria Augusta Ramos se ater a essa cena sem julgar, sem 
criar suspense, mas procurando propor ao espectador uma visão sintomática da sociedade, dos jogos de poder, de 
violência e de impotência que ela agencia. 
Se em Justiça importam os papéis exigidos pela Lei - dentro e fora do tribunal, em Juízo, o que está em 
jogo são os papéis dos réus que os atores devem representar, ou melhor, dublar, duplicar. Porque a escolha é 
explicitada desde a abertura: já nos créditos iniciais, somos informados que a lei brasileira não permite fotografar 
ou filmar o rosto de menores infratores, de modo que o filme contratou atores em substituição aos acusados. Em 
função de uma impossibilidade real, a cineasta inventa um procedimento estético que, longe de nos distanciar do 
que é mostrado (afinal, expõe o artifício), dá um passo importante para a aliança entre nós e o filme: oscilamos 
permanentemente entre a dúvida e a crença, entre o distanciamento e a identificação, entre o artifício e a 
“impressão de realidade”. 
Está claro que a montagem fluente dos contra-planos garante em larga medida essa impressão. Mas a 
força de Juízo advém de outro lugar: Ramos opta por atores de comunidades carentes do Rio de Janeiro, rostos 
anônimos e quaisquer, em situação - econômica, social, de filmagem - mais ou menos próximas àquela dos réus; 
opta uma direção rigorosa, que exigiu, na reconstituição dos processos, que os membros da equipe também 
desempenhassem papéis (Maria Ramos no lugar do Juiz, claro!). Ou seja, em Juízo, a potência social do cinema 
grita, é visível e comanda as relações, os sentimentos, o real. 
 
Curso de Direito 
Turma A – Manhã - 2012.1 
Fundamentos das Ciências Sociais 
Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão 
Disciplina: 
CCJ0001 
Aula: 
007 
Assunto: 
Documentário: Juízo 
Folha: 
5 de 9 
Data: 
12/04/2012 
 
MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-007/WLAJ/DP 
Ao dar voz e corpo a atores de comunidades carentes, o filme exibe uma fronteira tensa, precária e obscura 
entre ator e personagem. Alessandro Jardim, Daniele Almeida, Guilherme de Carvalho, entre outros, são menos 
atores do que uma espécie de duplo, dublês, repetições ad infinitum da precariedade dos meios no Brasil, da 
escassez de possibilidades, de um passado que pode se repetir, portanto presente, de um futuro misturado em um 
espelhamento social indiscernível. Os dois corpos do réu expõem de modo perturbador a natureza dupla da 
imagem da Lei e do cinema. Afinal, estamos diante de simulacros ou da realidade? O que é justo e o que não é? 
O menor, que matou o pai a facadas enquanto este dormia, é culpado ou inocente? Questões indecidíveis, pois é 
da natureza dos dublês (cinema) e dos duplos (Lei) serem atravessados pelo mistério do insondável. 
 
Andrea França é professora do departamento de comunicação da Pontifícia Universidade Católica 
do Rio de Janeiro - PUC-Rio. É autora de Terras e fronteiras no cinema político contemporâneo e vice-
presidente da Socine - Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual. 
3 Perguntas 3 Juízes 
 
Três questões foram propostas aos juízes Sergio Mazina, Cristiana Cordeiro e Luciana Fiala a 
respeito de Juízo. 
 
O despreparo do sistema 
Juiz Sergio Mazina 
 
Entre as causas que conduzem crianças e adolescentes à criminalidade, quais são as mais fortes, 
do seu ponto de vista? 
 
Há um complexo de fatores que são importantes para a produção da violência. De um lado, temos a 
exclusão de parcelas cada vez maiores da população dos processos econômicos, sociais e culturais. Isso acarreta 
em condições de vida excessivamente degradantes, o que implica no aumento da violência. Do outro lado, temos 
um Poder Público historicamente orientado para atender interesses particulares e privados. É claro que, nesse 
sentido, a desorganização da polícia, da justiça e do Ministério Público é um fator altamente criminógeno. No que 
toca a delinqüência infanto-juvenil, acrescem-se outros fatores específicos, como a degradação das redes de 
educação pública no Brasil e a inexistência de uma rede de serviços públicos de apoio, acompanhamento e 
orientação da população mais vulnerável (tais como creches, serviços de assistência social e de saúde etc.). Por 
outro lado, e atravessando todos os segmentos da sociedade, temos uma profunda crise: é como se os adultos 
não tivessem autoridade sequer sobre si próprios e, por conseqüência, também já não sabem exercê-la sobre seus 
filhos. Mas o que a infância e a adolescência mais precisam é de adultos diferentes, que estejam abertos a um 
olhar que as entenda como indivíduos diferenciados, vivendo uma situação de vida muito peculiar. Eles ainda 
estão em formação e precisam de muita atenção, muito respeito e muito amor, que é o que nós adultos estamos 
negando cada vez mais. 
 
Como definiria sua experiência de enfrentamento diário com as questões do menor delinqüente? 
 
Eu diria que o menor dos problemas é o adolescente infrator. Essa talvez tenha sido a primeira grande lição 
que tive como operador deste sistema de justiça. Os adolescentes são indivíduos diferenciados dos adultos que 
cometem crimes - e para os quais eu voltava, até então, minha formação profissional. Em segundo lugar, a 
constatação da necessidade - e da dificuldade - de conversar com os responsáveis pelos adolescentes. Na sua 
gigantesca maioria, são pessoas acostumadas a um Estado que se define por apenas três verbos: cobrar, expulsar 
e prender. O grande desafio é o de realizar um Estado que acrescente um quarto exercício, que realmente 
converse com essas pessoas. Curioso, no entanto, é que nossa formação profissional não está minimamente 
voltada a esse exercício da conversa, dessa troca. Finalmente, há de se reservar o maior de todos os desafios que 
consiste em lidar com um sistema de justiça que, à revelia do próprio direito existente hoje no Brasil, é ainda 
eminentemente punitivo, não tolerando uma percepção mais ampla daquela realidade e sempre buscando uma 
simplificação grosseira e massificada de suas rotinas. As grandes resistências às mudanças são dos próprios 
operadores do sistema de justiça, que não toleram abrir mão de papéis seletivos e punitivos que há muito 
invocaram para si. 
 
Como lhe parece que Juízo retrata a questão e participa do esforço para reduzir a dimensão do 
 
Curso de Direito 
Turma A – Manhã - 2012.1 
Fundamentos das Ciências Sociais 
Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão 
Disciplina: 
CCJ0001 
Aula: 
007 
Assunto: 
Documentário: Juízo 
Folha: 
6 de 9 
Data: 
12/04/2012 
 
MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-007/WLAJ/DP 
problema? 
 
É aquela idéia de iluminar alguma coisa que estava escurecida. Esse é o principal trabalho realizado pelo 
filme e o centro de sua importância documental. O filme Juízo se debruça sobre o imenso despreparo que atinge 
todos os operadores desse sistema de justiça, desde administradores das instituições privativas de liberdade - que 
não percebem o absurdo de disciplinar crianças como se fossem adultos - até, e principalmente, juízes, 
promotores de justiça e advogados. Desde os trajes grotescos que vestem até a linguagem estridente que 
empregam, tudo é feito para não conversar, para não dialogar, para não entender e para não ser entendido. 
Estamos diante de uma certa nobreza descoroada. Ninguém percebe a dimensão mais ampla do serviço público. 
Se essa é a justiça, então a vida corre à distância dela e sensibilizar-nos para isso foi certamente a maior maestria 
do filme. 
 
O Juiz Sergio Mazina é vice-presidente do Instituto Brasileiro de CiênciasCriminais. 
 
Como um soco no estômago 
Juíza Cristiana Cordeiro 
 
Entre as causas que conduzem crianças e adolescentes à criminalidade, quais são as mais fortes, 
do seu ponto de vista? 
 
A falta de perspectiva de futuro; a estrutura familiar desorganizada, sem imposição clara de limites, em 
geral com ausência da figura paterna, que representa a lei; a sociedade de consumo, onde bens materiais são 
supervalorizados em detrimento de outros bens, como ética, moral, amizade e respeito; a ausência ou 
precariedade dos serviços essenciais oferecidos pelo Estado, em especial saúde e educação de qualidade; o 
tempo ocioso, sem possibilidade, de preenchimento com atividades de lazer ou ensino; e a facilidade de acesso a 
armas e drogas (lícitas e ilícitas). 
 
Como definiria sua experiência de enfrentamento diário com as questões do menor delinqüente? 
 
Quando se trabalha com um número reduzido de crianças e adolescentes em conflito com a lei, é possível 
estabelecer um vínculo com eles e implicá-los no processo de ressocialização, traçando um plano de trabalho 
individualizado. Tive experiências bem sucedidas com diversos adolescentes em Nilópolis por ter encontrado lá 
estes ingredientes. Percebo que nos grandes centros urbanos tal sucesso é mais raro, especialmente quando há 
uma grande quantidade de adolescentes atendidos por uma mesma Vara. Um bom exemplo disso é a quantidade 
diária de audiências de apresentação (primeira audiência – e, às vezes, única) realizadas. Se o Juiz dispõe de 
uma hora ou de 15 minutos para cada audiência, obviamente na segunda hipótese fará uma audiência de pior 
qualidade. 
 
Como lhe parece que Juízo retrata a questão e participa do esforço para reduzir a dimensão do 
problema? 
 
Enquanto Juíza, não tenho vergonha de dizer que o filme de Maria Augusta Ramos me prendeu à cadeira e 
me socou o estômago. O filme revela o quanto os que lidam diariamente com a questão do adolescente infrator 
estão despreparados para fazê-lo e o quanto sequer se dão conta disso. Como se o conteúdo do filme não 
bastasse, Maria Augusta ainda nos deixa o lembrete emblemático do título. Espero que os que têm o poder de 
promover mudanças recobrem o JUÍZO em breve. 
 
A Juíza Cristiana Cordeiro é titular da II Vara Regional da Infância, da Juventude e do Idoso do 
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. 
 
Um convite à reflexão 
Juíza Luciana Fiala 
 
Entre as causas que conduzem crianças e adolescentes à criminalidade, quais são as mais fortes, 
do seu ponto de vista? 
 
Curso de Direito 
Turma A – Manhã - 2012.1 
Fundamentos das Ciências Sociais 
Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão 
Disciplina: 
CCJ0001 
Aula: 
007 
Assunto: 
Documentário: Juízo 
Folha: 
7 de 9 
Data: 
12/04/2012 
 
MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-007/WLAJ/DP 
 
Não há dúvidas de que o contexto sócio-econômico em que os adolescentes vivem influi na ida para a 
criminalidade. No entanto, o que mais interfere é a formação da criança, a educação recebida dos pais, o 
ambiente familiar e o estímulo aliado à cobrança e à fiscalização do empenho nos estudos e do cumprimento de 
regras de conduta e convívio social. Não é porque é pobre que tem que ser bandido. Mas tudo depende do que é 
visto e aprendido em casa, de noções de dignidade e caráter e a necessidade de estar sempre em busca de um 
objetivo. Infelizmente, estes ensinamentos cada vez mais escassos são pontos decisivos na formação do caráter. 
Nos adolescentes infratores, ocorre um desvio na personalidade que, depois de certa idade, é difícil de ser 
contornado. 
 
Como definiria sua experiência de enfrentamento diário com as questões do menor delinqüente? 
 
Bastante desgastante. Principalmente por saber que a chance de recuperação daqueles jovens era remota, já que 
exigiria uma ação conjunta dos poderes executivo, legislativo e judiciário, além de suporte médico e psicológico, e 
reformas e melhorias das instituições nas quais cumprem as medidas sócioeducativas. Ou seja, aquilo que 
chamam de “vontade política”. Sem isso, as medidas aplicadas caem no vazio. Mas eu, como Juíza, não tenho 
autorização legal para não aplicar a medida necessária. Para mim, era uma sensação de impotência que eu não 
podia deixar prevalecer. Então, procurava fazer o que estava a meu alcance para alertar, procurava de todas as 
formas chamar à consciência os adolescentes para o que estavam fazendo e exigia que percebessem as 
implicações de seus atos. 
 
Como lhe parece que Juízo retrata a questão e participa do esforço para reduzir a dimensão do 
problema? 
 
O filme trata de um tema árido com muita leveza. Não vi ninguém sair com uma sensação ruim. O mais 
Interessante é que retrata a vida como ela é nos dias atuais. Nada ali deixou de acontecer, foi ensaiado ou 
treinado. A meu ver, o seu grande mérito é “fazer do limão uma limonada”. As adversidades existem na vida e 
devemos ultrapassá-las, tendo esperança de que muitos venham a pensar assim, o que incutirá na mentalidade 
dos jovens noções de dignidade, respeito e perseverança. O filme chama atenção para a situação real dos 
adolescentes infratores e convida à reflexão toda a sociedade. E isso é um excelente começo. 
 
A Juíza Luciana Fiala é Juíza de direito do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e no momento atua 
na Comarca de Paracambi. Algumas audiências julgadas por ela estão incluídas em Juízo. 
Penalização em Dobro 
 
O Estado deve garantir proteção integral à criança e ao adolescente. 
No entanto, constatamos a ociosidade do jovem, sem escola, sem esporte, sem lazer, sem respeito. 
Luiz Flávio Borges D’Urso 
 
Os jovens infratores passam pelos mesmos descaminhos de um Judiciário sobrecarregado de processos e 
de um Poder Público que não tem respostas efetivas para os problemas da sociedade. Juízo concentra-se nos 
julgamentos e na rotina de adolescentes infratores, evidenciando o trabalho real dos operadores do Direito – 
magistrados, advogados e membros do Ministério Público – nas audiências, defendendo, acusando e julgando 
esses adolescentes acusados de roubo, tentativa de seqüestro, tráfico de drogas, homicídios, entre outros delitos. 
Em Juízo, temos a Justiça sendo aplicada por juízes que querem saber se o adolescente gostou de roubar, 
se o amigo, que lhe deu a faca ou o revólver, é quem o comanda, se ele pertence a gangues, se pensou nas 
conseqüências de seu ato. No contraponto, temos os advogados, buscando assegurar os direitos dos jovens, 
querendo saber se o adolescente foi coagido a praticar o delito, apontando motivações e atenuantes, além de 
propor medida justa, prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, menos drástica do que a internação. É o 
caso do adolescente que matou o pai alcoólatra que o surrava. 
Enquanto o Ministério Público pedia a internação, a advogada considerava o ato grave, mas ressalvava que 
na Vara da Infância e Juventude deve-se buscar a ressocialização. Para ela, a internação não iria resolver o 
problema, que era de ordem emocional, uma vez que aquele pai só agia com agressão. O Juiz optou pela 
internação durante a semana e visita à mãe nos finais de semana. 
Pelo ECA, o Estado deve garantir proteção integral à criança e ao adolescente, sendo a internação medida 
 
Curso de Direito 
Turma A – Manhã - 2012.1 
Fundamentos das Ciências Sociais 
Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão 
Disciplina: 
CCJ0001 
Aula: 
007 
Assunto: 
Documentário: Juízo 
Folha: 
8 de 9 
Data: 
12/04/2012 
 
MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-007/WLAJ/DP 
extrema, profilática, com o fim de reavaliar sua conduta e garantir meios para sua recuperação e retorno à 
sociedade. No dia-a-dia de instituições que têm essa finalidade, no entanto, tudo o que constatamos é a 
ociosidade dos jovens, sem escola, sem esporte, sem lazer, sem respeito, comendo em quentinhas e dormindo 
em quartos coletivos superlotados e em condições precárias. 
A realidade desses adolescentes nos choca – detenção, algemas, camburão, grades,violência. A falta de 
perspectiva também. É o caso da adolescente a quem o Ministério Público concede a remissão diante da baixa 
gravidade do delito. Cabe a ela aceitar o perdão ou deixar que o processo prossiga. Ela reluta em ser libertada, 
para voltar para casa, porque “lá é pior”. 
Sem dúvida, essa não é a ressocialização de jovens infratores com que sonhamos. O filme até mostra 
agentes do Estado que vão à instituição para saber se os adolescentes têm camisas, shorts, chinelos e 
colchonetes, como se isso fosse resolver a omissão do Estado na recuperação desses jovens, cuja reinserção 
deveria passar, obrigatoriamente, pela educação, saúde e tratamento digno, durante o cumprimento de medida 
privativa de liberdade. O filme deixa, pelo menos, duas perguntas: Será que não falta juízo à sociedade? O jovem 
infrator não está sendo penalizado duplamente? 
 
Flávio Borges D’Urso é advogado e presidente da Secção São Paulo da OAB - Ordem dos 
Advogados do Brasil, cargo para o qual foi eleito em 2003 e reeleito em 2006. 
Aceitar ou Reagir 
 
Quais são as chances reais do jovem melhorar sua vida, com tantas desvantagens? Quando 
teremos o juízo que recomendamos? 
Maria Helena Zamora 
 
Juízo precisa ser visto. Como em seu documentário anterior, Justiça, Maria Augusta Ramos economiza na 
denúncia, nas situações que provocariam sentimentos exacerbados. Aqui, ela também não apela, mas fica à 
distância com sua câmera seca. Nada de drama, mas o cotidiano banal, a burocracia. Ela deixa conosco a tarefa 
de entender, elaborar e aceitar o que se vê. Ou a não aceitar e reagir. O filme mostra a pantomima de uma Justiça 
moralizadora, que repete “recomendações salutares” aos jovens - de bom comportamento, de boas escolhas e, no 
trocadilho que dá nome ao filme, de juízo! Os juízes, diante dos jovens, mostravam exageradamente sua 
preocupação social, mas o que ficava latente era a enorme distância e incompreensão entre os jovens e quem 
julgava e invariavelmente condenava. É um sistema que não sai da tradição penal de concentrar nessas vidas 
pobres e em suas famílias toda a culpa não apenas do ato infracional, mas da própria situação em que se 
encontram. Culpados por não estudarem, por não trabalharem, por serem rebeldes, por serem pobres, por 
quererem consumir... E a sociedade? Presumivelmente harmônica, igualitária? E o Estado? Certamente 
assegurador dos direitos, cumpridor das próprias leis? E as instituições do sistema sócio-educativo? Seriam 
lugares onde retomar uma cidadania ameaçada e se responsabilizar por seus atos? Ambientes de estudo e de 
relacionamento saudável? 
No Brasil, temos cerca de 14 mil adolescentes em cumprimento de medida sócio-educativa de privação de 
liberdade. Destes, cerca de 90% são meninos; 76% têm entre 16 e 18 anos; 63% não são brancos e destes, 97% 
negros; 51% deles não freqüentam mais a escola; 90% sequer concluíram o Ensino Fundamental e quase 86% 
são usuários de drogas. A maioria está em condições precárias, como a que o filme tem o mérito de mostrar, onde 
a brutalidade mal se disfarça, além de serem desprovidas de programas pedagógicos adequados. Quais são as 
chances reais dos jovens de melhorarem suas vidas e ressignificarem seus atos nocivos em tais condições e com 
tanta desvantagem? Quando teremos o juízo que recomendamos e cobraremos os devidos e prometidos direitos 
sociais? 
Os adolescentes infratores têm aparecido de forma endemonizada na mídia. Parte-se do pressuposto que 
eles são os que mais cometem crimes – noção que é falsa. As propostas repressivas como soluções para a 
violência estão disseminadas – redução da maioridade penal, aumento do tempo de privação de liberdade. Tais 
propostas, bem como um Estado omisso e certas práticas de “justiça”, têm em comum apenas sua inoperância e a 
facilidade com que se pisa nos miseráveis. Veja Juízo e ouse pensar. 
 
Maria Helena Zamora é doutora em psicologia e vice-coordenadora do Laboratório Interdisciplinar 
de Pesquisa e Intervenção Social - LIPIS da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio, 
onde também leciona. 
O Abismo: sobre o documentário Juízo 
 
Curso de Direito 
Turma A – Manhã - 2012.1 
Fundamentos das Ciências Sociais 
Prof.: Tiago Jorge Fernandes de Albuquerque Maranhão 
Disciplina: 
CCJ0001 
Aula: 
007 
Assunto: 
Documentário: Juízo 
Folha: 
9 de 9 
Data: 
12/04/2012 
 
MD/Direito/Estácio/Período-01/CCJ0001/Aula-007/WLAJ/DP 
 
É no fato de os réus terem sido substituídos por outros garotos que está o desconcerto provocado 
pelo filme. 
Vera da Silva Telles 
 
Desconcerto. É esse o impacto imediato. E é esse o ponto de partida para se falar de Juízo. A câmara fixa 
de Maria Augusta Ramos encena o teatro social no qual se desenrolam os rituais da justiça e os dramas cotidianos 
que ali, na II Vara da Infância e Adolescência do Rio de Janeiro, comparecem sob a tipificação jurídica (e moral) 
da infração. No entanto, ao mostrar os atores em cena, ela nos faz ver, no mesmo ato, o absurdo exposto no 
brutal abismo entre os operadores da justiça e os adolescentes. Abismo de códigos, de linguagem, de mundos que 
não se comunicam, ou melhor, que só se encontram sob a lógica punitiva que comanda toda a encenação. 
Abismo da situação do garoto que foge da instituição no dia em que lhe foi concedida a liberdade, porque ele não 
entendeu e ninguém se deu ao trabalho de explicar o sentido da expressão “liberdade assistida”. Abismo da 
situação recorrente da leitura ritualizada do documento de acusação, sempre seguida de um enfático sermão 
moral da Juíza e, de outro lado, a resposta constrangida do garoto instado a confirmar os atos praticados, sem 
compreender aquilo que está sendo dito. Não porque não reconheça a verdade das infrações das quais está sendo 
acusado, mas porque a linguagem cifrada do auto e os termos do discurso moral aparecem sempre em 
descompasso com as situações e sofrimentos que perpassam as existências ali transfiguradas na tipificação da 
infração. 
Os garotos são infratores da lei - é fato. As histórias encenadas tratam de pequenos furtos, de envolvimento 
no tráfico de drogas e até mesmo de um parricídio. Porém, conforme os personagens entram em cena para os 
depoimentos perante a Juíza – acusados, testemunhas, policiais, parentes – vão se perfilando os contornos de 
vidas que se estruturam no fio da navalha. Histórias de sofrimentos e infelicidades, percursos atravessados pelos 
acasos da vida. Vistos sob esse prisma, os termos do julgamento moral também ficam incertos, embaralhados, 
pois tudo parece transbordar por todos os lados a certeza de fronteiras entre o lado certo e o lado errado da vida. 
É isso que dá a sensação de que há algo (ou muito) de absurdo naquilo que é encenado ali, no lugar em que o 
juízo é exercitado. É isso que faz com que o discurso moral da Juíza, proferido sempre com ênfase e 
performance, apareça como algo de tal maneira descolado do real que termina por expor a própria impotência do 
discurso que mobiliza as noções de arrependimento e culpa. 
O fato de os réus terem sido substituídos por garotos que fazem a encenação em seu lugar é mais do que 
um artifício engenhoso da diretora. Como se esclarece logo de partida, foram escolhidos meninos que poderiam 
estar na mesma situação dos réus verdadeiros. Pois então, por isso mesmo, esse artifício de ficção confere ainda 
maior densidade ao descompasso. 
E é justamente nisso que se aloja o desconcerto provocado por esse documentário notável. A câmara bem 
posicionada da diretora desloca o terreno que poderia alimentar a denúncia fácil ou os lugares comuns sobre as 
mazelas da sociedade brasileira. Claro, poderíamos traçar muitas linhas sobre o feixe de causalidades das 
abissais desigualdades da sociedade brasileira, dos dramas da pobreza, da criminalidade juvenil, das distorções 
do sistema de justiça no país etc. Porém, nada disso responderia às questões que nos são suscitadas pelas 
situações encenadas em Juízo. 
 
Vera da Silva Telles é socióloga, leciona naUniversidade de São Paulo - USP e é pesquisadora do 
Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania – Cenedic. 
“Não é apenas sobre Justiça” 
 
 
 
 
 
==XXX==

Outros materiais