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PROCESSOS UNITÁRIOS I / Tadeu / u06 / pág 1 de 9 6. COQUEIFICAÇÃO, CARVOEIJAMENTO E GASEIFICAÇÃO 6.1 COQUIFICAÇÃO O processo de coqueificação consiste em aquecer um carvão ou uma mistura de carvões na ausência de ar de forma que substâncias voláteis são produzidas e deixam a massa sólida. A coqueificação já foi definida com destilação carvão, mas essa definição é incorreta já que na definição não há reação química, apenas separação de substâncias. Na coqueificação as moléculas de carvão são decompostas termicamente quebradas em moléculas menores. Trata-se de uma pirólise, ou seja, deposição térmica. Os produtos da coqueificação são: o coque, que é o resíduo sólido do processo e os voláteis, também chamados de subprodutos ou produtos carboquímicos. Esses últimos são chamados em inglês de by-products. Os voláteis têm considerável valor e alguns casos são o produto enquanto o coque é o subproduto. Pode-se fazer a coqueificação a baixa temperatura ou a alta temperatura. O coque de baixa temperatura ainda contém consideráveis teores de hidrogênio. Tem poucas aplicações metalúrgicas sendo mais usado como combustível de uso geral e até em aquecimento doméstico. A coqueificação a alta temperatura dá-se a cerca de 1000 oC. O gás é rico em hidrogênio mas há também voláteis condensáveis que geram produtos sólidos como o alcatrão. O gás contém pequenos teores de CO, CO2, H2O, C2H6, H2O H2S e NH3. A “análise” imediata indica baixo índice de voláteis, < 2%. Processos metalúrgicos usam quase que exclusivamente o coque de alta temperatura. No processo dito “com recuperação de voláteis” a coqueificação se faz em retortas retangulares com altura de 4 a 7 metros, largura em torno de 0,5 metro de espessura e 14 metros de profundidade, podendo haver variações nessas dimensões. A razão para uma das dimensões seja tão menor que as outras é que deve haver um dos lados com considerável área por onde se faz o aquecimento. As PROCESSOS UNITÁRIOS I / Tadeu / u06 / pág 2 de 9 retortas são dispostas em baterias, que são conjuntos de até 75 fornos separados por câmaras de combustão. O conjunto de baterias e periféricos é chamado de coqueria e está presente nas grandes usinas siderúrgicas. O processo funciona em batelada. As retortas são carregadas pelo topo e descarregadas pelos lados menores. Há uma porta em cada um dos lados opostos, perpendiculares ao sentido da bateria. As portas são removidas para descarga do coque e recolocadas antes do carregamento. De um lado da bateria o coque é empurrado por uma máquina com um êmbolo. Esse lado é chamado inglês de push side. Infelizmente não há um termo em português de uso generalizado. A máquina que empurra o coque também remove e recoloca a porta. Do outro lado uma máquina que remove a outra porta, guia u coque que estás sendo empurrado para um vagão especial que leva o coque para ser apagado. O apagamento é feito com uma chuveirada, apagamento a úmido, ou colocando-se o coque dentro de uma câmara fechada onde o coque é apagado por falta de oxigênio, apagamento a seco. A maior parta das siderúrgicas tem apagamento a seco. No Brasil só a CST tem apagamento a seco. O aquecimento é feito por queimadores que queimam o próprio gás de coqueria puro ou mesclado com outros gases. A coqueificação acontece à medida que uma frente de coqueificação se desloca da parede aquecida para o centro da retorta. Com são duas paredes aquecidas, duas frentes opostas de deslocam em sentidos opostos e se encontram no plano de simetria da retorta. Quando essas se encontram a coqueificação naquela retorta está concluída. O tempo de coqueificação é inversamente proporcional ao quadrado da espessura da retorta. A taxa operacional da coqueria, que indica a sua produtividade é dada por : TO = (24 horas / tempo de coqueificação (horas)) x 100 (6.1) Normalmente incluem-se o tempo de carga e descarga no tempo de coqueificação de forma que esse índice serve diretamente para calcular a produção de uma coqueria. Uma taxa operacional de 140 significa que a retorta é descarregada 1,4 vezes ao dia. PROCESSOS UNITÁRIOS I / Tadeu / u06 / pág 3 de 9 Carvões coqueificáveis Nem todos os carvões produzem coque de qualidade adequada ao uso proposto. Embora todos os carvões sejam passíveis de coqueificação diz-se que carvão coqueficável á aquele que permite a produção de um coque adequedo. Normalmente coqueifica-se uma mistura de carvões e não um carvão individual. Muitos desses carvões isoladamente não dariam um coque adequado. Os carvões não são homogêneos em estrutura molecular. Em 1919, Mary Scopes definiu os quatro componentes petrográficos dos carvões: vitrênio, clarênio, durênio e fusênio. Esses componentes são chamados hoje de macerais, foram reagrupados em classes, ampliados e adotaram nova denominação, que será vista mais tarde. Tabela 6.1 – Macerais e suas características grupo de maceral vitrinita exinita ou liptinita Inertinita macerais telinita, colinita resinita, esporinita, cutinita, alginita microntia, fusinita, semi- fusinita, esclerotinita origem madeira, cortiça, folhas resinas, esporos, cutículos, algas madeira, fungos (sclerotia) aparência em seção fina vermelho marron amarelo opaco aparência em luz refletida cinza médio cinza escuro amarelado ou cinza claro estrutura química teores médios de hidrogênio mais hidrogênio, mais alifáticos menos H, mais aromáticos comportamento na coqueificação muito reativo reativo inerte comportamento na liquefação suscetível suscetível resistente PROCESSOS UNITÁRIOS I / Tadeu / u06 / pág 4 de 9 A petrografia examina os carvões quanto a seus macerais e mede algumas propriedades relevantes. Entre elas está refletância da vitrinita, ou seja, a capacidade desse maceral de refletir a luz incidente. Esse parâmetro ajuda a estabelecer o rank do carvão, que, junto com a composição petrográfica permite prever a qualidade do coque a ser produzido. Serve, portanto a uma atividade de grande importância na siderurgia e outros processos metalúrgicos: a seleção da mistura a coqueificar. Na coqueificação os macerais reativos, ver Tabela 6.1, entram em fase plástica que envolve os macerais inertes. Depois que as fases voláteis se desprendem e deixam a massa sólida, as fase fluidas se solidificam formando a estrutura porosa do coque. O balanço entre fases inertes e relativas define a resistência do coque. Outras propriedades importantes dos carvões são a moabilidade e a fluidez. A primeira para ao processamento antes da coqueificação e a segunda é também indicativa da suscetibilidade à coqueificação. O rendimento de coque é a relação entre a massa que se transformou em coque e a massa original da mistura de carvões que foi carregada na retorta. Esse valor depende fortemente do índice de voláteis mistura e do de cinzas da mistura. Aproximadamente 3/4 da matéria orgânica do carvão se transformam em coque A matéria mineral original dos carvões permanece no coque. O enxofre se distribui entre o coque e o gás dependendo se sua forma no carvão. O enxofre pode ser mineral ou orgânico, ou seja, pode estar no carvão na forma de piritas ou sulfatos nos componente minerais ou entre os átomos que forma as macromoléculas carvão. Em números gerais pode-se dizer que 1/3 sai nos gases e 2/3 ficam no coque. 6.2 CARVOEJAMENTO O carvoeijamento, ou carbonização, é também um processo de pirólise no qual a madeira é aquecida em um ambiente sem oxigênio, como na coqueificação. PROCESSOS UNITÁRIOS I / Tadeu / u06 / pág 5 de 9 A madeira é constituída de três polímeros: celulose, hemicelulose e lignina em proporção aproximada de 50:20:30. Os demais componentes da madeira presentes em menor quantidade são compostos de baixo peso molecular chamados extrativos, encontrados principalmente na casca e que englobam óleos, resinas, fenóis, taninos,graxas e corantes A celulose é o polissacarídeo mais abundante da natureza. Sua cadeia é constituída de unidades de glicose, unidas por átomos de oxigênio, resultando em alto peso molecular, 3 a 5 x 105. As cadeias de celulose nas paredes celulares das plantas são arranjadas compactamente de modo que suas fibras apresentam regiões nitidamente cristalinas. A glicose cararcateriza-se por um anel formado por 5 átomos de carbono e um de oxigênio. As hemiceluloses, presentes na madeira em menor grau de polimerização, com peso molecular entre 25 e 35 x 103, envolvem as fibras de celulose. Elas diferem da celulose, principalmente, por apresentar várias unidades de açúcar diferentes de 5 ou 6 átomos de carbono. A lignina é um polímero amorfo e heterogêneo que envolve os polissacarídeos da madeira, todos com anéis benzencos e grupos – CH3 e de grupos –OH. São eles os alccolis para-comarílico, para- sinapílico e coniferílico. Sua estrutura tridimensional explica a rigidez e a resistência às forças de compressão Mesmo aquecida a apenas 100 oC por períodos prolongados a madeira sofre modificações estruturais importantes. Primeiro perde a umidade, depois das moléculas de sacarídeos formam-se acido acético, acido fórmico e metanol, O processo industrial é normalmente realizado em quatro estágios, segundo a Tabela 6.2. A lignina contribui predominantemente para a formação do resíduo carbonífero, enquanto os polissacarídeos são a principal fone dos produtos voláteis. A ruptura das ligações glicosídicas na celulose ocorre em temperaturas acima de 300 oC. PROCESSOS UNITÁRIOS I / Tadeu / u06 / pág 6 de 9 No Brasil as instalações existentes são projetadas quase sempre para aproveitar somente o carvão vegetal, perdendo-se os voláteis e não-condensáveis. Neste tipo de carbonização a energia é equivalente a 11 GJ por tonelada de madeira seca para um rendimento médio de 30% de carvão. Com a utilização de retortas a perda é menor, pois é possível o aproveitamento dos gases não condensáveis, sobretudo na demanda térmica na etapa de secagem da madeira. Tabela 6.2 – Etapas da pirólise da madeira etapa temperatura (oC) produtos voláteis Secagem 100 a 200 H2O endotémica 170 a 270 H2O, CO2, CH3OH, CH3CO2H, alcatrão exotérmica I 270 a 280 H2O, CO2, CH3OH, CH3CO2H, alcatrão, H2, CH4 exotérmica II 280 a 400 H2, CH4 e outros hidrocarbonetos . O alcatrão isento de água, obtido após tratamento térmico com vapor superaquecido, possui elevado poder calorífico, cerca de 27 MJ/kg e pode ser usado como combustível. Nos fornos com retorta a pirólise da madeira desenvolve-se sem contato direto com a fonte de calor, permitindo a reciclagem dos gases e a condensação dos voláteis. Neste caso os rendimentos dos diversos produtos são os mostrados na Tabela 6.3. Tabela 6.3 – Rendimentos da pirólise da madeira. carvão 38% gases não-condensáveis 20% alcatrão insolúvel 7% alcatrão solúvel 3% ácido pirolenhoso 33% O ácido pirolenhoso é uma solução aguosa de metanol, acetona, acido acético e outros álcoois e ácidos. PROCESSOS UNITÁRIOS I / Tadeu / u06 / pág 7 de 9 6.3 GASEIFICAÇÃO DE CARVÃO E COQUE A gaseificação visa a se obter um combustível gasoso a partir de combustíveis sólidos ou líquidos. as vantagens de manusear e controlar a queima de um combustível gasoso em lugar de um combustível sólido ou mesmo líquido são obvias. A gaseificação e dá pela combustão parcial do sólido com ar, oxigênio, vapor ou mesmo CO2. O equipamento de gaseificação mais popular é o gasogênio. Na operação do gasogênio é muito importante considerar o equilíbrio da reação de Boudouard: CO2 + C = 2CO (6.I) Também é importante e a reação de troca de oxigênio (shift reaction): CO + H2O = CO2 + H2 (6.II) Elas é que determinam a composição do gás obtido. No calculo do equilíbrio pode-se usar ao dados da Tabela 6.4. Tabela 6.4 – Valores de DGo /R para os óxidos e C(coq) H2O CO2 CO C(coq) A -29898 -47408 -13437 361 B 6,59 -0,10 -10,54 -0,25 DGo/R (K) = A + BT Exercícios resolvidos 6a) Qual a produção esperada para uma bateria de coque que tem 50 fornos de 38m3 operando a taxa operacional de 140? Considere a densidade do carvão igual a 0,5 t.m-3 e rendimento de coqueificação de 0,80. PROCESSOS UNITÁRIOS I / Tadeu / u06 / pág 8 de 9 Solução: 50 fornos x (140/100) x 38 m3 x 0,6 tcq.m-3 x 0,80 tcq.tcv-1 x 365 d.a-1 = 466 kt.a-1 6b) Calcule quantos hectares de floresta são necessários para abastecer uma usina que produz 1 milhão de toneladas de gusa anuais consumindo 600 kg de carbono por tonelada de gusa, com um rendimento de peneiramento de 85%. Considera a produtividade como 140 m3/ha em 6 anos e a densidade da madeira igual a 0,4 t/m3 (fonte: Embrapa, e [3]). Solução: Necessidade de cv: 0,75 tcaf/tgusa x 1,0 x 106 tgusa a-1 / 0,85 tcaf tcaf-1 = 882 x 103 tcv. a-1 em que: caf = carvão alto-forno, cv = carvão vegetal, mad = madeira Produção de carvão vegetal por ha: 200 m3 mad ha-1 x 0,5 t m-3mad x 0,38 tcv tmad-1 / 2 anos = 19 tcaf ha-1.a-1 (o corte deve ser feito a cada 2 anos, após os primeiros 5 anos) área necessária 882 x 103 tcaf a-1 / 19 tcaf ha-1 a-1- = 46,4 x 103 ha = 464 km2 Comparando: área do estado do Rio de Janeiro 1.200 km3 6b) Qual seria a composição de gás obtido pela gaseificação de carvão a 900 oC e à pressão de 1 atm se fosse usado uma mistura com volumes iguais de ar e vapor d’água ? considere a atividade e do carvão igual a da grafita e despreze a energia livre de formação do carvão. PROCESSOS UNITÁRIOS I / Tadeu / u06 / pág 9 de 9 Solução: Trata-se de realizar um balanço de massa de C, H e O que também atenda ao equilíbrio de (6.I) e (6.II) a 1173 K. Para (6.I) CO2 + C = 2CO A = 2(-13437) – (-47408) = 20534 B = 2(-10,54) - (-0,10) = - 20,96 (CO)2.CO2) =exp (- (A/T +B) =exp( -(20534/1173 – 20,96)) = 32 :. CO = 0,97 e CO2 = 0,03 Para (6.II) CO + H2O = CO2 + H2 A = (-47408) - (-13437) - (-29898) = - 4073 B = (-0,10) - (-10,54) - (6,59) = 3,85 (CO.H2/CO2.H2O) =exp (- (A/T +B) = -(-4073/1173 + 3,85) = 0,695 H2/H2O = 0,695 (CO/CO2) = 0,695 (0,97/0,03) = 22,5 C + sH2O + tO2 + uN2 = vH2 +wH2O +xCO + yCO2 +zN2 Tomando um mol de C e montado equações com os índices, com base nos dados do problema, nos equilíbrios químicos e nos balanços de massa dos elementos: s = t + u , u = (79/21)t e v = 22,5w C: 1 = x + y : . x = 0,93 e y = 0,03 H2: s = v + w O: s + 2t = w + x + 2y Resolvendo: PROCESSOS UNITÁRIOS I / Tadeu / u06 / pág 10 de 9 v = 0,970 0,415 H2 w= 0,030 0,013 H2O x = 0,715 0,306 CO y = 0,032 0,014 CO2 z = 0,591 0,253 N2 2,338 1,000 Referências 1. Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura 2006 - IBGE 2. Portal Petrobrás 3. http://www.floresta.org.br/
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