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APS - Filosofia1

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Atividade Prática Supervisionada (APS) – Filosofia Do Direito e Direitos Humanos
Leitura e interpretação de precedentes jurisprudenciais sobre a matéria dos Direitos Humanos, envolvendo uma grave violação de Direitos Humanos, analisada por um dos Comitês da ONU que integram o sistema global de proteção dos Direitos Humanos, seguido da elaboração pelo aluno de texto descritivo que será postado no ambiente virtual (Blackboard), contendo as partes envolvidas, os direitos violados, os principais argumentos de ambas as partes e a solução dada ao caso concreto.
Direitos das mulheres e meninas (Texto retirado do Relatório Mundial 2019)
No final de 2017, mais de 1,2 milhão de casos de violência doméstica estavam pendentes nos tribunais. O Brasil ainda não implementou de forma efetiva e completa a legislação contra a violência doméstica, a lei “Maria da Penha” de 2006. Dados oficiais mostram que 23 abrigos que acolhiam mulheres e crianças com necessidade de proteção urgente foram fechados em 2017 devido a cortes no orçamento. Apenas 74 abrigos permanecem abertos em um país com mais de 200 milhões de habitantes. Todos os anos, a polícia não investiga adequadamente milhares de casos de violência doméstica, fazendo com que estes nunca sejam processados criminalmente.
Mantida impune, violência doméstica costuma escalar e pode levar à morte. Em 2017, último ano para o qual há dados disponíveis, 4.539 mulheres foram assassinadas no Brasil, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A polícia registrou 1.133 dos casos como feminicídio, definido pela legislação brasileira como o assassinato de uma mulher “por razões da condição de sexo feminino”. O número real é provavelmente maior, pois a polícia não registra casos como feminicídio quando não há clareza no início sobre a motivação do homicídio.
Jurisprudência – Feminicídio – Crime contra gestante e condenação pelo crime de aborto
RECURSO ESPECIAL Nº 1.860.829 - RJ (2020/0028195-4)
Ementa
RECURSO ESPECIAL. PRONÚNCIA. FEMINICÍDIO. HOMICÍDIO QUALIFICADO PRATICADO CONTRA GESTANTE. PROVOCAÇÃO DE ABORTO. BIS IN IDEM. NÃO OCORRÊNCIA. PRECEDENTES DO STJ. RECURSO PROVIDO.
1. Caso que o Tribunal de origem afastou da pronúncia o crime de provocação ao aborto (art. 125 do CP) ao entendimento de que a admissibilidade simultânea da majorante do feminicídio perpetrado durante a gestação da vítima (art. 121, § 7º, I, do CP) acarretaria indevido bis in idem.
2. A jurisprudência desta Corte vem sufragando o entendimento de que, enquanto o art. 125 do CP tutela o feto enquanto bem jurídico, o crime de homicídio praticado contra gestante, agravado pelo art. 61, II, h, do Código Penal protege a pessoa em maior grau de vulnerabilidade, raciocínio aplicável ao caso dos autos, em que se imputou ao acusado o art. 121, § 7º, I, do CP, tendo em vista a identidade de bens jurídicos protegidos pela agravante genérica e pela qualificadora em referência.
3. Recurso especial provido.
Acórdão
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Antonio Saldanha Palheiro, Laurita Vaz, Sebastião Reis Júnior e Rogerio Schietti Cruz votaram com o Sr. Ministro Relator.
Mediante ao exposto, observa-se o delito de aborto configura bis in idem com a qualificadora do feminicídio, ou seja, incidir sempre que o crime estiver atrelado à violência doméstica e familiar propriamente dita, a vítima era ex-namorada do recorrente, sendo certo que deste relacionamento sobreveio a gravidez. A majorante incidiu justamente porque o delito foi cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em observância ao estado gestacional da vítima, protegendo-a, portanto, por demonstrar maior vulnerabilidade.
Ademais, a vítima, sua ex-namorada, estava em estado gestacional, fato do qual o recorrente tinha pleno conhecimento e, ao que tudo indica, tinha a intenção de assassiná-la, pois não queria assumir a paternidade. No entanto, a admissibilidade da causa acarreta bis in idem se, igualmente constar da imputação o crime conexo de aborto, por não ser possível, ao perpetrar o feminicídio, o agente incidir na conduta de feminicídio qualificado pelo estado gestacional da vítima e também responder pelo crime de aborto, pois ao ceifar a vida ou tentar ceifar a vida de mulher grávida seria apenado duas vezes: pela majorante e pelo crime de aborto. 
No Brasil o feminicídio infelizmente é muito presente na realidade das mulheres no dia de hoje, ocupa o 5º lugar no ranking mundial de Feminicídio, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas pra os Direitos Humanos (ACNUDH). O país só perde para El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia em número de casos de assassinato de mulheres. Em comparação com países desenvolvidos, no Brasil se mata 48 vezes mais mulheres que o Reino Unido, 24 vezes mais que a Dinamarca e 16 vezes mais que o Japão ou Escócia. 
O Mapa da Violência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostra que o número de mulheres assassinadas aumentou no Brasil. Entre 2003 e 2013, passou de 3.937 casos para 4.762 mortes. Em 2016, uma mulher foi assassinada a cada duas horas no país.
Em 2015, o Brasil alterou o Código Penal Brasileiro e incluiu a Lei 13.104, que tipifica o feminicídio como homicídio reconhecendo o assassinato de uma mulher em função do gênero. Na lei o crime de homicídio prevê pena de seis a 20 anos de reclusão, porém, quando for caracterizado feminicídio ele é considerado hediondo e a punição se torna mais severa, e se caracteriza de 12 anos de reclusão, para reconhecer uma morte como feminicídio e não como um assassinato comum, a Justiça brasileira investiga as características relacionadas ao fato do crime, como por exemplo as circunstâncias e as formas de violência empregadas que resultaram na morte da mulher. 
Desde a implementação da Lei 13.104, o número de sentenças em casos de feminicídio registrou crescimento contínuo. O último levantamento do Ministério da Justiça é de 2017, quando foram registrados 4.829 novos casos nos tribunais, praticamente o dobro do que no ano anterior, mas ainda tramitam no Judiciário 10 mil processos de feminicídio, que aguardam julgamento. 
A maioria dos crimes de feminicídio no Brasil é cometida por cônjuges das vítimas, muitas das mulheres assassinadas por seus companheiros já recebiam ameaças ou eram agredidas constantemente por eles, os agressores geralmente se sentem legitimados e creem ter justificativas para matar, assim acabam culpando a vítima. Segundo as Nações Unidas, as motivações mais comuns dos agressores envolvem sentimento de posse sobre a mulher, o controle sobre o seu corpo, desejo e autonomia, limitando sua liberdade, evitando que a vítima se torne independe e busque seus objetivos, como por exemplo um crescimento profissional, sua própria econômica, conviver em um ambiente social, sentem desprezo e ódio por sua condição de gênero. 
As sociedades machistas favorecem muito as agressões verbais e físicas em relação as mulheres, além disso, fatores como a classe social, a etnia da vítima, a violência no entorno e outros contextos sociais contribuem para a situação de risco e vulnerabilidade social de uma mulher. 
No Brasil, por exemplo, as maiores vítimas do feminicídio são negras e jovens, com idade entre 18 e 30 anos. De acordo com os últimos dados do Mapa da Violência, a taxa de assassinato de mulheres negras aumentou 54% em dez anos.
Por fim, para dar uma tentativa de solução em relação a este problema que consome o Brasil, é necessário uma de capacitação de profissionais, ou seja, é necessário que os profissionais se sensibilizem no atendimento e acolhimento das mulheres vítimas de violência; O amparo às sobreviventes e suas famílias, a vítima não pode ser esquecida neste processo de restauração mental, e tampouco sua família e sua comunidade;A educação e conscientização da população, pois numa sociedade em que o machismo é fundante e estruturante das nossas relações e experiências, a violência contra a mulher é algo naturalizado no cotidiano, assim, é necessário que haja uma educação e conscientização nas escolas que a mulher não é um objeto, e sim, um ser humano; E uma mídia consciente e responsável, pois, muitas vezes a culpabilização da vítima, adoção de termos impróprios que naturalizam e até romantizam a agressão, isso dificulta o combate contra esse mal que a sociedade vive e impossibilita que as pessoas fiquem consciente em relação a este crime tão cruel que envolve uma em cada cinco mulheres. 
Bibliografia
· Feminicídio - Brasil é o 5º país em morte violentas de mulheres no mundo. – Vestibular Uol.
· 4 passos para combater, prevenir e erradicar o feminicídio – Brasil de fato.

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