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EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS (EEL0024)

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DESCRIÇÃO
Os direitos fundamentais e seu papel no Estado Democrático de Direito.
PROPÓSITO
Entender o conceito de direito fundamental, quais são os direitos colocados nessa categoria pela
Constituição Federal e de que forma a sua compreensão é importante para a boa atuação no setor
público e para a defesa da democracia.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Compreender o conceito de direito fundamental e as suas classificações
MÓDULO 2
Reconhecer o tratamento dado pela Constituição Federal aos direitos fundamentais
PREPARAÇÃO
É importante que, ao longo do estudo, você tenha em mãos a Constituição Federal de 1988.
 
Fonte: ErenMotion/Shutterstock
INTRODUÇÃO
O Brasil é um Estado Democrático de Direito, conforme expresso no art. 1º da Constituição Federal de
1988. Isso significa, em primeiro lugar, que em nosso país vigora a ideia de governo da maioria, como
decorrência da soberania popular. É por isso que ocorrem eleições periódicas, por meio das quais se
escolhem os representantes do povo de acordo com a vontade da maioria manifestada nas urnas.
Entretanto, o Estado Democrático de Direito também possui outro requisito essencial: a existência de
uma Constituição que, além de definir a estrutura básica do Estado, protege os direitos fundamentais. É
justamente esse o objetivo principal buscado pela Constituição Brasileira de 1988.
Isso nos mostra que a estruturação e a atuação do Poder Público estão intimamente ligadas aos direitos
fundamentais que se busca proteger. Afinal, o fim último do Estado, por meio das suas instituições, é
promover a proteção e concretização dos direitos fundamentais. Compreendê-los, portanto, é
indispensável para uma boa gestão pública e atuação do poder público no exercício das suas mais
variadas competências.
Estudar os direitos fundamentais elencados na Constituição, a partir da sua conceituação e com a
análise dos direitos em espécie, permitirá uma melhor compreensão da nossa democracia, dos direitos
que o cidadão possui em face do Estado e de que modo a Administração Pública pode repensar a sua
gestão para atuar cada vez melhor na concretização desses direitos tão importantes.
MÓDULO 1
 Compreender o conceito de direitos fundamentais e as suas classificações.
BREVE HISTÓRICO DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS
Ao longo das sociedades antigas e da história, observamos períodos em que são reconhecidos direitos
pontuais a determinados grupos ou categoria de indivíduos. Vejamos:

 
Fonte: Wikipédia
 Ciro II e os hebreus
É o caso do decreto do rei persa Ciro II, permitindo que os povos exilados na Babilônia retornassem a
suas terras de origem, ou a restrição de penas corporais no Império Romano.
A primeira declaração moderna de direitos fundamentais é de 1776: a Declaração de Direitos do Bom
Povo de Virgínia, uma das treze colônias inglesas na América, à qual se seguiu a Constituição dos
Estados Unidos da América, aprovada na Convenção de Filadélfia de 1787, e que foi objeto de diversas
emendas garantidoras de importantes direitos fundamentais, como a liberdade de religião, o direito de
propriedade etc.
 
Fonte: Wikipédia
 Convenção de Filadélfia


 
Fonte: Wikipédia
 Revolução Francesa
Outro marco importantíssimo nesse processo histórico foi a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, de 1789, fruto da Revolução Francesa e da sua luta contra o absolutismo.
Tivemos também a Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada pela Assembleia Geral
das Nações Unidas em Paris, em 10 de dezembro de 1948, reconhecendo diversos direitos, como a
dignidade da pessoa humana, o direito à vida, à liberdade etc.
 
Fonte: Wikipédia
 Sede da Assembleia Geral

A partir desse processo histórico, podemos falar em três gerações de direitos fundamentais que
surgiram ao longo do tempo:
PRIMEIRA GERAÇÃO
É formada por direitos individuais que buscavam proteger o indivíduo perante os excessos e abusos do
Estado. São direitos ligados sobretudo às liberdades. Ex.: liberdade de reunião, direito 
de ir e vir etc.
SEGUNDA GERAÇÃO
Surge no século XX e caracteriza-se por direitos que exigem uma prestação do Estado. Não basta que o
Estado se abstenha de cometer abusos e violar os direitos individuais. É preciso mais: ele deve atuar
para consolidar direitos sociais e culturais. Essa é a geração dos direitos sociais e coletivos. 
Ex.: direito à saúde, direitos da seguridade social.
TERCEIRA GERAÇÃO
Surge na segunda metade do século XX e está associada aos ideais de solidariedade e fraternidade. É
nesse momento que surgem os direitos difusos, como o direito ao meio ambiente equilibrado (art. 225 da
Constituição).
 ATENÇÃO
Já existem defensores de uma quarta geração de direitos fundamentais, que seriam aqueles
relacionados ao desenvolvimento tecnológico e biológico. São discussões delicadas em torno de
assuntos jurídica e moralmente controvertidos, como clonagem, eutanásia etc.
Observamos que a consolidação dos direitos fundamentais em diferentes sociedades e ordenamentos
jurídicos é fruto de um longo e complexo processo histórico, que se acentuou especialmente após a
Segunda Guerra Mundial. Os horrores causados pela guerra e pelos regimes totalitários deixaram clara
a necessidade de se reconhecer direitos inatos a todos os seres humanos, de modo a protegê-los de
abusos e autoritarismos. É nesse contexto que os diferentes Estados modernos começam a se
preocupar em elaborar um catálogo de direitos fundamentais que não seja meramente uma declaração
política, mas também uma fonte para a sua aplicação concreta à realidade.
Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre as gerações dos direitos fundamentais.
CONCEITO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS
A Constituição de um Estado democrático, como é o caso do Brasil, possui, dentre as suas funções
principais, a proteção de direitos fundamentais. A própria topografia dos dispositivos constitucionais que
os preveem já indica a sua importância, tendo em vista que o catálogo de direitos fundamentais se
encontra no início do texto constitucional.
Tradicionalmente, as Constituições brasileiras começavam tratando da estrutura do Estado e no final
versavam sobre os direitos fundamentais. A Constituição de 1988 inverteu isso: os primeiros artigos
tratam de direitos. Essa mudança topográfica transmite a ideia de que o mais importante são os direitos.
O Estado existe em boa parte para protegê-los, promovê-los e assegurar que a pessoa humana seja
respeitada.
 
Fonte: Rafapress/Shutterstock
O constituinte entendeu que os direitos são parte integrante da própria essência da Constituição,
alçando-os à categoria de cláusulas pétreas, de modo que nem mesmo uma emenda pode suprimi-los
(art. 60, §4º).
Conceituá-los, porém, não é tarefa fácil. Além de o seu conteúdo ter variado ao longo da história e dos
diferentes contextos políticos e culturais, a sua nomenclatura muitas vezes se confunde com outras.
Vamos, aqui, pontuar as principais diferenças entre as nomenclaturas mais comuns a fim de facilitar a
compreensão da extensão e do conteúdo dos direitos fundamentais:
DIREITOS HUMANOS
São tratados no âmbito do 
direito internacional e se referem genericamente a todos os seres humanos, sem considerar as
peculiaridades de cada país ou comunidade, como religião, etnia etc.
Possuem a pretensão de serem atemporais e universais, aplicáveis a todos os povos e em todos os
tempos.

DIREITOS FUNDAMENTAIS
São tratados de maneira diferente por cada Estado, de acordo com as suas próprias Constituições.
Como cada ordenamento jurídico dispõe diferentemente acerca do rol de direitos fundamentais, eles
nem sempre correspondem ao rol de direitos humanos.
São apenas aqueles estabelecidos pelo Estado, conforme o seu Direito Positivo interno.
Reconhecendo a dificuldade de se estabelecer um conceito preciso de direitos fundamentais, José
Afonso da Silva (2020) prefere utilizar a expressão “direitos fundamentais do homem”. O autor
explica:

NO QUALITATIVO FUNDAMENTAIS, ACHA-SE A INDICAÇÃODE QUE SE TRATA DE SITUAÇÕES JURÍDICAS SEM AS
QUAIS A PESSOA HUMANA NÃO SE REALIZA, NÃO
CONVIVE E, ÀS VEZES, NEM MESMO SOBREVIVE;
FUNDAMENTAIS DO HOMEM NO SENTIDO DE QUE A
TODOS, POR IGUAL, DEVEM SER, NÃO APENAS
FORMALMENTE RECONHECIDOS, MAS CONCRETA E
MATERIALMENTE EFETIVADOS. DO HOMEM, NÃO COMO
MACHO DA ESPÉCIE, MAS NO SENTIDO DE PESSOA
HUMANA. DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM
SIGNIFICA DIREITOS FUNDAMENTAIS DA PESSOA
HUMANA OU DIREITOS FUNDAMENTAIS. É COM ESSE
CONTEÚDO QUE A EXPRESSÃO “DIREITOS
FUNDAMENTAIS” ENCABEÇA O TÍTULO II DA
CONSTITUIÇÃO, QUE SE COMPLETA, COMO DIREITOS
FUNDAMENTAIS DA PESSOA HUMANA, EXPRESSAMENTE,
NO ART. 17.
(SILVA, 2020)
É possível apontar também a diferença entre direitos e garantias fundamentais. Enquanto os direitos
fundamentais são os enunciados que estabelecem o conteúdo de um direito (ex.: direito à vida, à
liberdade religiosa), as garantias fundamentais são instrumentos previstos na Constituição para a
defesa e proteção daqueles direitos (ex.: habeas corpus , que busca proteger o direito à liberdade de
locomoção).
CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS
Estudaremos a seguir as principais características dos direitos fundamentais apontadas pela
doutrina:
UNIVERSALIDADE
Significa que os direitos são de todos. O que faz alguém ser titular de um direito? Ser pessoa humana. A
sua titularidade independe de sexo, categoria ou qualquer tipo de classe ou segmentação. Todos os
seres humanos possuem igual dignidade.
A partir dessa premissa, o caput do artigo 5º da Constituição pode suscitar algumas dúvidas. Vejamos
a sua redação:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade [...] (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988)
As primeiras perguntas que surgem são: o estrangeiro que não reside no país não tem direitos
fundamentais? O turista não tem direito à vida, por exemplo?
O entendimento majoritário é de que, apesar da redação do dispositivo constitucional, o estrangeiro não
residente no país também é titular de direitos fundamentais desde que compatíveis com a sua condição,
pois a universalidade não impede a existência de alguns direitos específicos de determinados grupos.
Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que o réu estrangeiro sem domicílio no Brasil deve
ter assegurados:
“Os direitos básicos que resultam do postulado do devido processo legal, notadamente as
prerrogativas inerentes à garantia da ampla defesa, à garantia do contraditório, à igualdade entre
as partes perante o juiz natural e à garantia de imparcialidade do magistrado processante” (HC
94.016, rel. min. Celso de Mello, j. 16-9-2008, 2ª T, DJE de 27-2-2009).
Em que pese afirmarmos a universalidade como uma característica dos direitos fundamentais, há
direitos que pressupõem certos requisitos como, por exemplo, a nacionalidade no caso dos direitos
políticos. Há outros que são específicos para determinados grupos, como o direito fundamental
garantido às presidiárias.
RELATIVIDADE
Significa dizer que não há direitos absolutos. Eles podem sofrer restrições. Se o direito de propriedade
fosse absoluto, como ficaria a proteção do meio ambiente, por exemplo? Ou no caso da liberdade de
expressão, que é um direito que frequentemente se choca com outros, como ficaria a proteção da
intimidade?
Muitas vezes, a lei impõe uma restrição a um direito fundamental. É o caso das leis ambientais, que
restringem o direito de propriedade e exigem o cumprimento de uma série de regras que visa à proteção
do meio ambiente. Um exemplo é o Código Florestal (Lei n° 12.651), que possui diversas regras
restritivas ao direito de propriedade.
O legislador, entretanto, não consegue prever nem solucionar todos os possíveis conflitos entre direitos
fundamentais. Assim, muitas vezes, no caso concreto, é preciso que o Judiciário resolva essa colisão
restringindo um direito em prol de outro, buscando, um equilíbrio. Um exemplo famoso é o caso
Ellwanger, julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Nesse julgamento, o Tribunal entendeu que a
liberdade de expressão, apesar de ser um direito fundamental importantíssimo, não é um direito
absoluto. Dessa maneira, ela não protege o discurso de ódio, o racismo nem a publicação de livros
antissemitas.
Há um princípio de interpretação constitucional que norteia o intérprete diante desses casos difíceis de
conflitos entre direitos e normas constitucionais, chamado princípio da concordância prática:
"Consiste, essencialmente, numa recomendação para que o aplicador das normas constitucionais,
deparando-se com situações de concorrência entre bens constitucionalmente protegidos, adote a
solução que otimize a realização de todos eles, mas ao mesmo tempo não acarrete a negação de
nenhum." (MENDES; COELHO; BRANCO; 2007)
Daniel Sarmento e Cláudio Pereira de Souza Neto nos dão um exemplo do emprego da concordância
prática pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do Habeas Corpus 80.240 (STF, HC
80240, Relator(a): Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 20/06/2001, publicado no DJ 14-10-
2005). Trata-se do caso de um líder indígena intimado para depor em uma Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI). Diante das normas constitucionais que garantem os poderes da CPI e os direitos dos
indígenas à sua cultura, o Tribunal, para conciliar as normas em conflito no caso, decidiu que o
depoimento poderia ser feito, mas apenas no interior das terras indígenas e na presença de antropólogo
e de representante da FUNAI.
Ou seja, considerando a relatividade dos direitos fundamentais e os seus possíveis conflitos em um caso
concreto, deve-se buscar sempre uma solução que leve ao equilíbrio entre eles.
HISTORICIDADE
Os direitos fundamentais foram conquistados historicamente e as mudanças na sociedade influenciam a
leitura que se faz deles.
Os direitos não são realidades metafísicas e sim realidades históricas e concretas. Eles foram
conquistados e ampliados ao longo da história, surgindo em diferentes etapas.
INALIENABILIDADE
Não possuem conteúdo econômico e não podem ser negociados ou transferidos:
“Se a ordem constitucional os confere a todos, deles não se pode desfazer, porque são
indisponíveis.” (SILVA, 2020)
IMPRESCRITIBILIDADE
Os direitos fundamentais não se extinguem pelo decurso do tempo e o seu exercício não se sujeita a
qualquer prazo.
IRRENUNCIABILIDADE
Não se pode renunciar aos direitos fundamentais. O titular do direito pode até não o exercer, mas isso
não implica a renúncia ao direito.
APLICABILIDADE IMEDIATA
A Constituição Federal, no art. 5º, §1º, dispõe expressamente que:
“As normas definidoras dos direitos e das garantias fundamentais têm aplicação imediata”.
Houve aqui uma preocupação do constituinte em dar plena efetivação aos direitos fundamentais,
evitando o que acontecera sob a égide de Constituições pretéritas, em que os direitos previstos na
Constituição, muitas vezes, eram apenas retórica, uma simples proclamação política, sem qualquer
aplicação concreta.
A ideia da aplicabilidade imediata é a de que os direitos valem imediatamente e independem de
concretização legislativa, de regulamentação, para surtirem seus efeitos. O titular dos direitos pode
invocá-los com base apenas na Constituição.
NÃO EXAUSTIVIDADE OU ATIPICIDADE
Um direito não precisa estar positivado na Constituição para ser considerado fundamental. Vejamos a
redação do art.5º, §2º da Constituição:
"Os direitos e as garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte". (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988)
Isso significa que é possível ter direitos fundamentais fora do catálogo formal previsto na Constituição.
Eles podem estar em tratados internacionais de direitos humanos, por exemplo. Qual é o principal
critériopara apontar direito fundamental fora do catálogo? O princípio da dignidade da pessoa humana.
Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgar a ADI 939 (STF, ADI 939, Relator Sidney
Sanches, Tribunal Pleno, julgado em 15/12/1993, publ. DJ 18/03/1994), decidiu que o princípio da
anterioridade tributária, apesar de não estar no rol dos direitos fundamentais elencados pela
Constituição, e sim no capítulo referente à tributação, é um direito fundamental.
CLASSIFICAÇÕES
Existem inúmeras classificações que variam conforme o autor e o critério adotado. Uma delas, por
exemplo, divide os direitos fundamentais de acordo com o conteúdo:
DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM-INDIVÍDUO
Reconhecem autonomia aos particulares e se identificam com os direitos individuais. Ex.: liberdade,
igualdade e propriedade.
DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM-NACIONAL
São aqueles que definem a nacionalidade.
DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM-CIDADÃO
São os direitos políticos como, 
por exemplo, o direito de eleger e de ser eleito.
DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM-SOCIAL
São os direitos “assegurados ao homem em suas relações sociais e culturais”, como o direito à saúde e
à educação.
DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM MEMBRO DE UMA
COLETIVIDADE
São os direitos coletivos. Incluem-se aqui o direito de petição (art. 5º, XXXIV, a) e o direito de greve (art.
9º e 37, VII).
DIREITOS FUNDAMENTAIS DE TERCEIRA GERAÇÃO OU DO
HOMEM-SOLIDÁRIO
Trata-se de uma classe mais recente de direitos, como o direito ao meio ambiente, à paz e ao
desenvolvimento.
 
Fonte: Chinnapong/Shutterstock
Vejamos outra classificação, com base no texto da Constituição Federal de 1988:
DIREITOS INDIVIDUAIS 
(ART. 5º).
DIREITOS À NACIONALIDADE 
(ART. 12).
DIREITOS POLÍTICOS 
(ARTIGOS 14 A 17).
DIREITOS SOCIAIS 
(ARTIGOS 6º E 193).
DIREITOS COLETIVOS 
(ART. 5º).
DIREITOS SOLIDÁRIOS 
(ARTIGOS 3º E 225).
 ATENÇÃO
Há também os direitos econômicos, previstos na Constituição no Título da Ordem Econômica e
Financeira (artigos 170 e seguintes).
EFICÁCIAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Além da aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais, eles também suscitam importantes
questionamentos a respeito da sua eficácia.
Tradicionalmente, os direitos fundamentais eram aplicados à relação entre o indivíduo e o Estado,
verticalmente. Isso se explica até mesmo pela primeira geração de direitos fundamentais, criados para a
defesa do indivíduo contra o poder absoluto do Estado.
Essa noção, contudo, foi mudando ao longo do tempo, pois notou-se a existência de lesões a direitos
que não provêm somente do Estado, mas podem se originar de relações entre patrão e empresa, entre
loja e comprador, entre pai e filho, por exemplo. São relações muito variadas nas quais nem sempre o
Estado está presente.
Surge, então, a ideia da eficácia horizontal dos direitos fundamentais (em contraposição à eficácia
vertical), que significa a aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas. Mas, é
importante ressaltar, há o risco de comprometer a liberdade individual e a espontaneidade das relações
sociais.
Vejamos um exemplo dessa problemática:
Vamos supor que alguém pertença a uma associação. A associação, de maneira discriminatória, resolve
expulsar os sócios. Isso é possível? Até que ponto a liberdade e a autonomia privada protegem esse
tipo de conduta?
EXPLICAÇÃO
EXPLICAÇÃO
O Supremo Tribunal Federal já teve a oportunidade de analisar um caso parecido (o Recurso
Extraordinário 158.215), envolvendo a expulsão do membro de uma cooperativa sem que lhe fosse
dado o direito de defesa. A Corte entendeu que “na hipótese de exclusão de associado decorrente
de conduta contrária aos estatutos, impõe-se a observância ao devido processo legal, viabilizado o
exercício amplo da defesa” (STF, RE 158215, Relator Marco Aurélio, Segunda Turma, julgado em
30/04/1996, publ. DJ 07/06/1996).
 
Fonte: Cacio Murilo/Shutterstock
Vejamos outro exemplo de um caso também enfrentado pelo Supremo Tribunal Federal:
Uma empresa francesa que estabelecia vantagens exclusivas para empregados franceses, criando uma
discriminação em relação a funcionários de outras nacionalidades. O fato de ser uma empresa privada,
à qual se aplica a autonomia e a livre iniciativa, protege esse tipo de conduta?
EXPLICAÇÃO
EXPLICAÇÃO
Mais uma vez, a Corte Suprema entendeu que os direitos fundamentais também devem ser
aplicados às relações privadas, declarando inconstitucional a discriminação perpetrada pela
empresa:
javascript:void(0)
javascript:void(0)
“(...) Ao recorrente, por não ser francês, não obstante trabalhar para a empresa francesa, no Brasil,
não foi aplicado o Estatuto do Pessoal da Empresa, que concede vantagens aos empregados, cuja
aplicabilidade seria restrita ao empregado de nacionalidade francesa. Ofensa ao princípio da
igualdade: C.F., 1967, art. 153, §1º; C.F., 1988, art. 5º, caput .
II – A discriminação que se baseia em atributo, qualidade, nota intrínseca ou extrínseca do
indivíduo, como o sexo, a raça, a nacionalidade, o credo religioso etc., é inconstitucional. (...)”
(STF, RE 161243, Relator Carlos Velloso, Segunda Turma, julgado em 29/10/1996, publ. DJ
19/12/1997)
Existe controvérsia em torno da maneira de aplicar os direitos fundamentais às relações privadas.
 
Fonte: Lemon.key/shutterstock
TEORIA DA EFICÁCIA INDIRETA OU MEDIATA
Um primeiro entendimento defende que essa aplicação deve ser feita pelo legislador. E se a lei, ao tratar
de direito privado, violar direitos fundamentais ou não os proteger adequadamente, será inconstitucional.
Ou seja, os direitos fundamentais não devem ser automaticamente aplicados às relações entre
particulares.

 
Fonte: Banderlog/shutterstock
TEORIA DA EFICÁCIA DIRETA OU IMEDIATA
Um segundo entendimento defende que essa aplicação deve ser feita diretamente pelo juiz,
independentemente da atuação do legislador. Este, ao julgar as causas, deve levar em consideração os
direitos fundamentais, mesmo que sejam causas privadas.
A principal porta de entrada dos direitos fundamentais na atividade jurisdicional são as cláusulas gerais
de direito privado. Ex.: bons costumes, boa-fé, ordem pública. Elas devem ser concretizadas, devem ser
lidas de uma maneira que protejam e promovam os direitos fundamentais.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A RESPEITO DAS DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS, ASSINALE A
ALTERNATIVA CORRETA:
A) Os direitos de primeira geração são tipicamente de cunho social.
B) O direito ao meio ambiente equilibrado foi um dos primeiros direitos fundamentais a serem
protegidos.
C) Os direitos difusos são típicos da terceira geração de direitos fundamentais, marcada especialmente
pelo ideal de solidariedade.
D) O direito à liberdade só começa a ser protegido na segunda metade do século XX.
2. “OS DIREITOS FUNDAMENTAIS PODEM SOFRER RESTRIÇÕES E NÃO SE
SUJEITAM A QUALQUER PRAZO PARA SEREM EXERCIDOS”. 
A AFIRMAÇÃO ACIMA SE REFERE A QUAIS CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS?
A) Irrenunciabilidade e aplicabilidade imediata.
B) Relatividade e imprescritibilidade.
C) Historicidade e indisponibilidade.
D) Atipicidade e eficácia horizontal.
GABARITO
1. A respeito das dimensões dos direitos fundamentais, assinale a alternativa correta:
A alternativa "C " está correta.
 
A letra C está correta, pois a terceira geração de direitos fundamentais se caracteriza pelo surgimento
dos direitos difusos, como é o caso do direito ao meio ambiente, previsto no art. 225 da Constituição.
2. “Os direitos fundamentais podem sofrer restrições e não se sujeitam a qualquer prazo para
serem exercidos”. 
A afirmação acima se refere a quais características dos direitos fundamentais?
A alternativa "B " está correta.
 
A afirmativa B está correta, uma vez que, ao dizer que os direitos fundamentais podem ser restringidos,
refere-se expressamente à relatividade dos direitos fundamentais, que não são absolutos. Em seguida,
ao dizer que o seu exercício não se sujeita a prazo, faz-se clara referênciaà imprescritibilidade dos
direitos fundamentais.
MÓDULO 2
 Reconhecer o tratamento dado pela Constituição Federal aos direitos fundamentais.
DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS
CONSAGRADOS NA CONSTITUIÇÃO
Os direitos individuais estão previstos no artigo 5º e respectivos incisos da Constituição Federal. Podem
ser conceituados, conforme ensina José Afonso da Silva (2020), como aqueles que reconhecem
autonomia aos particulares, garantindo a iniciativa e independência aos indivíduos diante dos demais
membros da sociedade política e do próprio Estado.
 
Fonte: Zolnierek/Shutterstock
EM RELAÇÃO AOS DESTINATÁRIOS, SERÁ QUE
ELES SE APLICAM TAMBÉM ÀS PESSOAS
JURÍDICAS OU APENAS ÀS PESSOAS FÍSICAS?
RESPOSTA
No tópico relativo às características dos direitos fundamentais, nós também já vimos a controvérsia
provocada pela redação do caput do art. 5º da Constituição, que aparentemente exclui o estrangeiro
não residente no país da titularidade dos direitos fundamentais ali elencados.
Naquela oportunidade, vimos que o entendimento amplamente majoritário, inclusive agasalhado pelo
Supremo Tribunal Federal, é o de que a Constituição não excluiu os direitos fundamentais do estrangeiro
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não residente no país.
 ATENÇÃO
No processo de elaboração constitucional, cogitou-se colocar os direitos coletivos em capítulo especial.
Tal proposta, porém, foi rejeitada, mantendo-se o capítulo intitulado “Dos Direitos e Deveres Individuais e
Coletivos”.
Eles são, na verdade, direitos cuja titularidade é individual, mas cujo exercício requer a participação
conjunta de diversas pessoas. Incluem-se nessa categoria os direitos de reunião, de associação, dentre
outros.
O rol de direitos elencados no art. 5º é extenso e, por isso, estudaremos mais detidamente a seguir
aqueles que são mais relevantes e que suscitam maior controvérsia:
DIREITO DE PROPRIEDADE
Está previsto nos seguintes incisos do artigo 5º:
XXII – é garantido o direito de propriedade;
XXIII – a propriedade atenderá à sua função social.
Existem também outros dispositivos constitucionais com previsões específicas acerca do direito de
propriedade ao longo de toda a Constituição (ex.: artigos 5º, XXIV; 182 etc.).
A partir dos dispositivos citados, vemos que a própria Constituição já define um limite para o
direito de propriedade, ao exigir que ela atenda à sua função social. Essa decisão do constituinte
supera a antiga ideia de que a propriedade é absoluta.
Uma questão que se põe diz respeito ao conceito de função social. O artigo 1228 do Código Civil
fixa alguns parâmetros:
§1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade
com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das
águas.
§2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou
utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.
A Constituição também fixa requisitos para o atendimento da propriedade rural:
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos:
I – aproveitamento racional e adequado;
II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente;
III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
(CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988)
Atenção! 
Seguindo essa linha, o Supremo Tribunal Federal já afirmou expressamente que o direito de propriedade
não se revela absoluto, estando relativizado pela Constituição.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Está prevista no art. 5º, IV: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”.
É vital para uma democracia, que pressupõe debate público, amplo acesso a ideias e pontos de
vista divergentes. Em qualquer espaço, pressupõe-se que cada pessoa, para poder decidir sobre
algo, deva ter acesso às informações mais variadas.
A ideia subjacente a esse direito fundamental é de que a democracia exige um espaço público de
discussão robusto, plural, dinâmico no qual diferentes pontos de vista possam ser devidamente
debatidos sem a tirania de uma única ideia.
Tem por fim a autonomia, a realização pessoal de cada indivíduo, na medida em que o homem,
como um ser social, tem a necessidade de se comunicar, moldando a sua personalidade conforme
interage com os outros do seu meio.
A necessidade de se proteger a liberdade de expressão como corolário da própria democracia tem
sido reiterado pelo Supremo Tribunal Federal em diversos julgados:
“A Democracia não existirá e a livre participação política não florescerá onde a liberdade de
expressão for ceifada, pois esta constitui condição essencial ao pluralismo de ideias, que
por sua vez é um valor estruturante para o salutar funcionamento do sistema democrático.
A livre discussão, a ampla participação política e o princípio democrático estão interligados
com a liberdade de expressão, tendo por objeto não somente a proteção de pensamentos e
ideias, mas também opiniões, crenças, realização de juízo de valor e críticas a agentes
públicos, no sentido de garantir a real participação dos cidadãos na vida coletiva. São
inconstitucionais os dispositivos legais que tenham a nítida finalidade de controlar ou
mesmo aniquilar a força do pensamento crítico, indispensável ao regime democrático” (STF,
ADI 4451, Relator Alexandre de Moraes, Tribunal Pleno, julgado em 21/06/2018, publ. DJ
06/03/2019).
Atenção! 
Conforme visto no tópico relativo às características dos direitos fundamentais, o Supremo Tribunal
Federal não inclui discursos de ódio ou racistas no âmbito de proteção da liberdade de expressão.
LIBERDADE RELIGIOSA
Liberdade de religião não é apenas o direito de professar publicamente determinada religião, mas
também o direito de não ter nenhuma.
Tema mais polêmico diz respeito à possibilidade de, com base na liberdade religiosa, tentar
converter outras pessoas e atrair fiéis para determinada seita religiosa.
O Supremo Tribunal Federal já se debruçou sobre o tema e entendeu que essas atitudes estão
protegidas pela liberdade de religião:
“A liberdade religiosa não é exercível apenas em privado, mas também no espaço público, e
inclui o direito de tentar convencer os outros, por meio do ensinamento, a mudar de
religião. O discurso proselitista é, pois, inerente à liberdade de expressão religiosa. (...) A
liberdade política pressupõe a livre manifestação do pensamento e a formulação de
discurso persuasivo e o uso dos argumentos críticos. Consenso e debate público
informado pressupõem a livre troca de ideias e não apenas a divulgação de informações.
(...) (STF, ADI 2.566, rel. p/ o ac. min. Edson Fachin, julgado em 16/05/2018, publ. DJ
23/10/2018).
Outro ponto polêmico relacionado a esse direito envolve a discussão em torno da admissibilidade
ou não do sacrifício de animais como manifestação religiosa. Como se sabe, essa é uma prática
cultural presente em diversas religiões, especialmente nas de matriz africana. O debate nos coloca
um conflito entre dois direitos fundamentais: a liberdade religiosa e a proteção ao meio ambiente.
No entanto, o Supremo Tribunal Federal também já se manifestou sobre o assunto ao analisar uma
lei, do Rio Grande do Sul, que permitia o sacrifício de animais em ritos religiosos. A Corte fixou a
seguinte tese:
“É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa,
permite o sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana”.
Dessa maneira, entendeu que a prática e os rituais relacionados ao sacrifício animal são patrimônio
cultural imaterial e constituem os modos de criar, fazer e viver de várias comunidades religiosas,
devendo taldireito ser protegido (STF, RE 494601, Relator Edson Fachin, Tribunal Pleno, julgado em
28/03/2019, publ. DJ 19/11/2019).
LIBERDADE DE REUNIÃO
Está prevista no art. 5º, XVI:
“Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade
competente”.
Da leitura do dispositivo, concluímos que se exige apenas o mero aviso à autoridade competente. Não
cabe à autoridade definir o local, nem tomar medidas para dificultar a reunião. A Constituição, porém,
ressalta que não se pode atrapalhar outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local. Busca-
se, assim, evitar o abuso de direito que vise atrapalhar outras reuniões, além de se evitar eventuais
conflitos que coloquem em risco a ordem pública.
Na lição de José Afonso da Silva (2020), reunião é qualquer agrupamento formado em certo
momento com o objetivo comum de trocar ideias ou de receber manifestação de pensamento
político, filosófico, religioso, científico ou artístico. Ela protege passeatas e manifestações nos
logradouros públicos.
Note-se que a liberdade de reunião tem grande relevância, pois, por meio dela, é possível exercer outras
liberdades, como as de expressão e de locomoção. Assim, tal direito fundamental é instrumento para
proteção de outros direitos fundamentais.
DIREITOS SOCIAIS
Os direitos sociais são aqueles ligados à igualdade. Trata-se de prestações positivas a serem oferecidas
direta ou indiretamente pelo Estado a fim de conceder melhores condições de vida àqueles que não
possuem uma situação social digna.
Conforme vimos no módulo 1, os direitos sociais surgem na segunda geração de direitos fundamentais,
caracterizados por exigirem uma prestação positiva do Estado para atender às necessidades dos
indivíduos. Não é mais suficiente que o Estado se abstenha de violar direitos; é preciso que ele atue
para protegê-los e concretizá-los.
O artigo 6º da Constituição enumera como direitos sociais:
EDUCAÇÃO
SAÚDE
ALIMENTAÇÃO
TRABALHO
MORADIA
TRANSPORTE
LAZER
SEGURANÇA
PREVIDÊNCIA SOCIAL
PROTEÇÃO À MATERNIDADE E À INFÂNCIA
ASSISTÊNCIA AOS DESAMPARADOS
Todos os direitos mencionados exigem uma prestação positiva do Estado, ou seja, uma política pública
para garanti-los, o que gera custos. Assim, os direitos sociais trazem o desafio de qual será a parcela
desse direito que será exigível do Estado.
 
Janews/Fonte: Shutterstock
Dentre eles, o direito à saúde merece uma análise mais detida. A Constituição deixa claro que a saúde
é um direito de todos e dever do Estado. Ela é tratada com mais detalhes nos artigos 196 e seguintes da
Constituição, onde também há regras de competências dos entes federados para a implementação de
políticas públicas de saúde.
A consagração do direito à saúde tem provocado inúmeros debates em torno da extensão desse direito
e dos limites da interferência do Judiciário na sua aplicação. Se a Constituição garante o direito à saúde,
então é possível requerer judicialmente qualquer tratamento médico ou remédio em face do Poder
Público? Esse é um tema que tem desafiado todos os entes federados no país, que recebem
diariamente milhares de ações judiciais com demandas dessa natureza.
O STF (Supremo Tribunal Federal) , sempre que provocado, tenta estabelecer parâmetros para a
interferência do Judiciário na concretização desse direito. A Corte Suprema já entendeu que, em regra, o
Estado não é obrigado a fornecer medicamentos de alto custo solicitados judicialmente quando não
estiverem previstos na relação do Programa de Dispensação de Medicamentos em Caráter Excepcional,
do Sistema Único de Saúde (SUS).
O direito à alimentação e à moradia buscam consagrar o direito à saúde e a uma vida digna, tendo
servido de esteio para diversos programas sociais de renda mínima e de crédito à moradia
implementados nas últimas décadas. Em 2020, eles voltaram a ter destaque nacional com o auxílio
emergencial implementado pelo governo federal diante dos impactos econômicos e sociais da pandemia
de COVID-19.
Com base no direito à moradia, os tribunais, inclusive o Supremo Tribunal Federal, têm entendido que,
no caso de construções irregulares, ainda que se reconheça o poder-dever do poder público de demoli-
las, ele é obrigado a implementar medidas para mitigar os efeitos sobre as famílias que ali se
encontram. É muito comum que o poder público, em especial o município, seja obrigado a oferecer
alguma opção de moradia ou algum benefício assistencial antes de retirar as pessoas que ocupam
áreas irregulares ou de risco.
O artigo 7º da Constituição também estabelece uma série de outros direitos sociais aos trabalhadores
urbanos e rurais, como por exemplo:
Irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;
Garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;
Décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
Remuneração do trabalho noturno superior à do diurno.
Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre a extensão da exigibilidade do direito fundamental à
saúde.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A RESPEITO DA LIBERDADE RELIGIOSA, MARQUE A ALTERNATIVA
CORRETA:
A) Ela não está prevista expressamente na Constituição Brasileira de 1988.
B) Estabelece que todo cidadão obrigatoriamente precisa escolher uma religião.
C) O indivíduo é livre para escolher a sua religião, mas o Estado estabelece uma religião oficial.
D) A liberdade religiosa permite a prática de cultos religiosos, ainda que envolvam o sacrifício de
animais.
2. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA A RESPEITO DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988:
A) O direito de propriedade, desde que atenda à sua função social, é absoluto.
B) O direito à saúde autoriza que o brasileiro ou estrangeiro residente no país requeira judicialmente
qualquer tipo de medicamento, desde que possua receita médica.
C) O direito à moradia está no rol dos direitos sociais e exige que o poder público atue para garanti-lo.
D) O discurso racista está protegido pela Constituição, mas não o discurso de ódio.
GABARITO
1. A respeito da liberdade religiosa, marque a alternativa correta:
A alternativa "D " está correta.
 
A letra D é a correta, porque a liberdade religiosa garante a prática livre e pública de todas as seitas
religiosas e, conforme já decidido pelo Supremo Tribunal Federal, é constitucional a lei que permite o
sacrifício de animais para fins religiosos.
2. Assinale a alternativa correta a respeito dos direitos fundamentais previstos na Constituição
Federal de 1988:
A alternativa "C " está correta.
 
A letra C é a correta, pois o direito à moradia foi expressamente previsto no art. 6º da Constituição como
direito social. E como tal, o Poder Público é obrigado a atuar, por meio de políticas públicas, para
garanti-lo.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo do nosso estudo, vimos a trajetória de surgimento e consolidação dos direitos fundamentais e
as sucessivas gerações de direitos que ganharam espaço nas Constituições dos diferentes Estados ao
redor do mundo.
Dos direitos individuais aos difusos, passando pelos direitos sociais, nós pudemos compreender melhor
as características definidoras dos direitos fundamentais e por que eles possuem um lugar de destaque
no ordenamento jurídico, estando inclusive no rol das cláusulas pétreas.
Analisamos também as dificuldades e controvérsias que desafiam a aplicação desses direitos e vimos
alguns direitos em espécie cuja relevância exige um estudo mais aprofundado.
Tudo isso nos permite entender melhor o que podemos esperar do Estado como cidadãos e analisar
criticamente o papel que o poder público vem desempenhando na concretização dos direitos previstos
na Constituição.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BARROSO, L. R. Curso de direito constitucional contemporâneo:os conceitos fundamentais e a
construção de um novo modelo. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
BRASIL. Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.
MENDES, G. F.; COELHO, I. M.; BRANCO, P. G. G. Curso de Direito Constitucional. São Paulo:
Saraiva, 2007.
SILVA, J. A. Curso de direito constitucional positivo. 43. ed. São Paulo: Malheiros, 2020.
SOUZA NETO, C. P.; SARMENTO, D. Direito Constitucional: teoria, história e métodos de trabalho. 2.
ed. Belo Horizonte: Fórum, 2017.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os direitos fundamentais, leia o artigo O conteúdo essencial dos direitos
fundamentais e a eficácia das normas constitucionais , do professor Virgílio Afonso da Silva,
disponível no repositório da USP.
Confira o artigo sobre os direitos sociais, O reconhecimento dos direitos sociais como
fundamentais no Brasil , de autoria de José Carlos Bortoloti e Guilherme Pavan Machado,
disponível no Portal de Publicações Eletrônicas da UERJ.
CONTEUDISTA
Elias Suzano Mendes
 CURRÍCULO LATTES
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DESCRIÇÃO
Estudo das perspectivas da Educação para os Direitos Humanos no Brasil e no mundo.
PROPÓSITO
Conhecer a fundamentação legal, os conceitos e os desafios da Educação para os Direitos
Humanos para uma visão e atuação democrática e inclusiva nos contextos educacional e
social.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Relacionar a Educação com o direito à dignidade e à cidadania
MÓDULO 2
Identificar princípios e desafios da relação entre Direitos Humanos e Educação
MÓDULO 3
Reconhecer a relevância da Educação para os Direitos Humanos
INTRODUÇÃO
A relação entre a Educação e os Direitos Humanos é complexa e multifacetada. Por essa
razão, existem muitos modos de abordar o tema e buscar compreender sua importância na
atualidade.
Agora, você terá oportunidade de estudar a Educação para os Direitos Humanos a partir da
estreita relação entre o direito à Educação e o direito à cidadania e dignidade. Poderá
compreender que o direito à Educação é universal e, por isso mesmo, pode ser entendido
como direito humano.
Você também irá conhecer os vários princípios e desafios implicados no ato de educar para os
Direitos Humanos, além de refletir sobre a necessidade de experiências educativas voltadas à
cidadania, democracia e paz social, nos diferentes níveis de Educação.
Tudo isso com o fim de promover uma sociedade mais justa e democrática, na qual os Direitos
Humanos possam ser efetivos para todos, superando a mera intencionalidade de promovê-los
no futuro.
MÓDULO 1
 Relacionar a Educação com o direito à dignidade e cidadania
DIREITO À EDUCAÇÃO EM DISPOSITIVOS
LEGAIS E DOCUMENTOS
Pensar no direito humano à Educação, atualmente, também é considerar a Educação como
direito humano. Isso significa transcender o campo individual do direito constitucional à
Educação e adentrar o campo da percepção de que a dignidade humana depende do acesso à
Educação básica, necessária para o exercício da cidadania plena.
 
Foto: rafapress / Shutterstock.com.
Na Constituição Federal de 1988 (CF), lê-se, no artigo 6º, que a Educação é um direito social,
juntamente com a saúde e segurança, entre outros direitos. Elencar a Educação como direito
social insere a formação educacional no rol das obrigações de fazer do Estado. Trata-se de
prestações positivas no sentido de oportunizar aos cidadãos, sejam eles quais forem, garantias
de direitos cujo objetivo é promover a redução das desigualdades sociais.
A CF reforçou a ideia de cidadão como sujeitos sociais ativos que contribuem para o
desenvolvimento de um estado democrático social de direito.
ARTIGO 6º
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São direitos sociais a Educação, a saúde, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção a maternidade e a infância, a assistência aos
desamparados na forma desta Constituição.
NESSE CONTEXTO, O TEMA DOS DIREITOS HUMANOS
COMO CONDIÇÃO PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA
GANHA IMPORTÂNCIA NA SOCIEDADE BRASILEIRA.
Outro documento que marca a importância do tema é o Plano Nacional de Educação (PNE), no
qual a Educação se impõe como condição fundamental para o desenvolvimento nacional. O
PNE propõe o crescimento cultural da sociedade por meio da Educação, com o objetivo de
reduzir os desequilíbrios regionais que hoje existem no País.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96), em seu artigo 1º, estabelece a
abrangência da Educação. Na mesma LDB, o capítulo 4 reconhece a importância da Educação
para criação e difusão da cultura, como forma de desenvolvimento do pensamento reflexivo,
além de fazer com que os sujeitos sociais se percebam como cidadãos com um papel a
cumprir no seio da sociedade.
ARTIGO 1º
A Educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na
convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
EDUCAÇÃO, CIDADANIA E DIGNIDADE
Vamos, agora falar de cidadania e da dignidade na sua relação com a Educação.
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A Constituição Federal de 1988 traz, como princípios fundamentais do Estado Democrático de
Direito, em seu artigo 1º inciso II e III, a dignidade da pessoa humana e a cidadania, entre
outros. São dois fundamentos de grande importância na formação da sociedade.
PRINCÍPIO DA CIDADANIA
Pelo princípio da cidadania, "toda pessoa tem direito à Educação”. É certo que muitas crianças
e jovens não têm ou não tiveram acesso à escola. Por isso, tornam-se essenciais a criação e a
manutenção de políticas públicas que se preocupem com a efetivação da “Educação para
todos”.
 
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A EDUCAÇÃO, SENDO UM DIREITO INALIENÁVEL DE
TODO CIDADÃO, É DEVER DO ESTADO. NESSE
SENTIDO, O ESTADO DEVE GARANTIR O ACESSO À
EDUCAÇÃO E A PERMANÊNCIA DE TODAS AS
PESSOAS, INDEPENDENTEMENTE DE RAÇA, COR,
SEXO, NACIONALIDADE.
A incorporação dos Direitos Humanos na Educação se torna primordial para a formação dos
sujeitos sociais como partícipes de uma sociedade na qual seus direitos estejam assegurados.
Desse modo, ao contrário do que afirmam alguns críticos, os Direitos Humanos são para todos,
e não devem ser privilégios de parcelas da sociedade.
Pode-se, portanto, afirmar que a indissociabilidade entre a Educação e os Direitos Humanos
também inclui a cidadania ativa.
EDUCAÇÃO E CIDADANIA
Como direito constitucional fundamental, a Educação é direito do cidadão, além de ser
elemento constitutivo do acesso à condição de cidadão pleno – aquele que conhece e exerce
seus direitos, reconhecendo, também, os direitos dos demais cidadãos. Nesse sentido, os
Direitos Humanos são considerados pilares para organização do próprio Estado.
O Estado Democrático de Direito tem como alguns de seus fundamentos:
CIDADANIA
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
A consolidação da cidadania eleva a condição daquele que vive em sociedade e, ao mesmo
tempo, promove a dignidade da pessoa humana. É fundamental que todo cidadão reconheça
os seus direitos, visto que este reconhecimento é o que permite a atuação cidadã em busca de
melhorias na qualidade de vida.
A cidadania é, pois, um processo em construção, e tem como elemento propulsor a Educação.
DIGNIDADE, CIDADANIA E DEMOCRACIA
A dignidade da pessoa humana está relacionada ao direito do indivíduo, enquanto a cidadania
se refere ao social, ao direito de todos.
 
Foto: Shutterstock.com.
De qualquer maneira, dignidade e cidadania estão interligadas de tal modo que o indivíduo, ao
exercer a cidadania, participa não só da sociedade civil, mas também das atividades do
Estado, buscando a melhoria na qualidade de vida individual e coletiva.
Os sujeitos sociais exercem a cidadania ao participarem ativamente na gestão da sociedade e
nas necessárias transformações que esta sofre, exercendo seus direitos civis, políticos e
sociais.
A democracia é inerente ao exercício da cidadania no que se refere à atuação do ser humano
na sociedade na qual estáinserido. Do mesmo modo, o exercício da cidadania é fundamental
para a dinâmica do Estado.
Ao exercer a cidadania, o cidadão reconhece e exercita seus direitos, em uma luta constante
pela sua efetivação em prol de melhorias em seu ambiente social e de seus semelhantes, e
principalmente, pela concretização da democracia.
EDUCAÇÃO COMO CONDIÇÃO DA
DIGNIDADE HUMANA
 
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Os Direitos Humanos e o exercício da cidadania são pilares para organização do próprio
Estado e da sociedade.
É objetivo da Educação formar a pessoa para a cidadania, pelo conhecimento, pela
possibilidade de opções ou alternativas de intervenção na sociedade, pela plenitude dos
direitos. Consequentemente, também é objetivo da Educação formar para a dignidade da
pessoa – princípio fundamental do Estado brasileiro, conforme estabelece o art. 1º da CF.
Uma combinação entre o inciso III do artigo 1º da Constituição Federal e já citado artigo 6º
permite afirmar que, para que a pessoa humana possa ter dignidade (CF, art. 1º, III), é
necessário assegurar os direitos sociais previstos no art. 6º da mesma Constituição:
ART. 1º DA CF
A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos: I. a soberania; II. a cidadania; III. a dignidade da pessoa humana; IV.
os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V. o pluralismo político.
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EDUCAÇÃO
SAÚDE
TRABALHO
LAZER
SEGURANÇA
PREVIDÊNCIA 
SOCIAL
PROTEÇÃO À MATERNIDADE E INFÂNCIA
ASSISTÊNCIA AOS DESAMPARADOS
O Estado Democrático de Direito tem o princípio da dignidade da pessoa humana como basilar.
Também é possível afirmar que a Educação está intimamente ligada ao princípio da dignidade
humana. De qualquer forma, a dignidade da pessoa humana, em si, não é um direito
fundamental, mas um atributo próprio a todo ser humano.
O direito à Educação, portanto, como direito fundamental do homem, deve ser analisado em
consonância com o princípio da dignidade da pessoa humana.
Para muitos juristas e educadores, os direitos à vida e à Educação, entre outros, aparecem
como consequência imediata da dignidade da pessoa humana e, como tal, tornam-se um
fundamento da República Federativa do Brasil.
SENTIDOS DA DIGNIDADE HUMANA
A concepção e o sentido atual de dignidade humana são determinados pelo contexto pós-
guerra, diante da reação ao totalitarismo e seus horrores, por meio de acordos e documentos,
como a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Ao pontificar que “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos” (ONU,
1948), a Declaração nos oferece o conceito de dignidade humana a partir do contexto político
e jurídico internacional.
Há duas perspectivas de dignidade mais frequentes nos estudos sobre o tema:
A perspectiva relacionada à ideia de dignitas romana de posição e função hierárquica;
A perspectiva relacionada à ideia de igualdade.
DIGNITAS ROMANA
O termo dignitas na Roma Antiga estava relacionado com a dignidade como um mérito,
um cargo ou algum tipo de grau.
As duas perspectivas formam os eixos históricos e filosóficos relacionados à concepção de
dignidade humana.
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Atualmente, o predomínio do eixo filosófico é perceptível, assumindo-se a centralidade da
pessoa humana e sua liberdade como princípios que contribuíram para delimitar e sustentar o
sentido contemporâneo de dignidade humana:
O INDIVÍDUO TEM DIGNIDADE, POIS POSSUI VALOR
EM SI MESMO, NÃO TEM PREÇO E NÃO SE
CONFIGURA COMO MEIO À VONTADE EXTERNA/DE
OUTROS. ESSA É A CARACTERÍSTICA PECULIAR DA
NATUREZA HUMANA.
(DANTAS, 2018, p. 56).
No artigo 101 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, podemos identificar
uma defesa da dignidade humana que assume, atualmente, também um estatuto jurídico por
desempenhar papel relevante na proteção dos Direitos Humanos, sobretudo em relação a
questões complexas.
ARTIGO 101 DO PACTO INTERNACIONAL
DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS
“[...] toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e respeito
à dignidade inerente à pessoa humana”.
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TRÊS ABORDAGENS JURÍDICAS SOBRE O
CONCEITO DE DIGNIDADE
 
Foto: Shutterstock.com.
No campo jurídico, muitos autores também têm se debruçado sobre o tema da dignidade da
pessoa humana. Vejamos, pelo menos, três abordagens sobre o conceito de dignidade:
DIGNIDADE E CONCEITO DE PESSOA HUMANA
Para Sarmento (2016), dignidade é um princípio que está relacionado com a concepção de
pessoa humana, a qual subjaz a Constituição Federal e a moralidade crítica.
A pessoa humana é concebida como possuidora de valor em si mesma, não constituindo mero
instrumento a serviço do Estado ou de terceiros. Desse modo, a dignidade da pessoa humana
representa o princípio que alimenta e está presente no conteúdo de todos os direitos
fundamentais afirmados na Constituição, mesmo que em intensidades diferentes.
DIGNIDADE E DIREITOS
A partir da perspectiva legal, Barcellos (2002) conclui que o princípio da dignidade humana na
Constituição brasileira, como consequência de seu valor fundamental, tem como conteúdos os
direitos individuais e políticos, bem como os direitos sociais e culturais e econômicos.
A materialidade deste princípio, em relação às condições básicas de existência, ocorre por
meio dos direitos sociais definidos no artigo 6º da CF.
DIGNIDADE E AS DIMENSÕES ONTOLÓGICA E SOCIAL
Ainda no campo do direito, Sarlet (2007) defende que a dignidade da pessoa humana é
caracterizada pela dimensão ontológica e intersubjetiva. O autor compreende que a
perspectiva ontológica se assenta no valor intrínseco do indivíduo – como em Sarmento – e é a
condição que qualifica cada pessoa como tal.
A dignidade humana, portanto, deve ser sempre respeitada como valor inerente ao indivíduo.
Embora possa ser violada, não pode ser suprimida.
Sarlet (2007) ainda defende que a dignidade humana também possui dimensão social, uma
vez que os indivíduos, como iguais em dignidade, estão submetidos ao contexto da vida em
sociedade e das relações sociais, configurando uma dimensão intersubjetiva.
LIMITAÇÕES NO AVANÇO DO DIREITO À
EDUCAÇÃO
A Declaração Universal dos Direitos Humanos consagra que "toda pessoa tem direito à
Educação". Infelizmente, porém, a realidade é ainda bem cruel.
É inegável que, em muitos lugares, o crescimento econômico permitiu financiar a expansão da
Educação. No entanto, esse desenvolvimento não é uniforme nem equilibrado. De qualquer
forma, muitas conquistas vêm sendo possíveis.
Surgem, a todo momento, muitas e valiosas realizações científicas e culturais que contribuem
para melhor qualidade de vida – uma das metas da Educação como direito.
Os avanços, no entanto, não são considerados suficientes, e muitas questões sobre Educação
permanecem inconclusas.
DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE
EDUCAÇÃO PARA TODOS
Em 1990, foi realizada a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien, na
Tailândia. O tema estava relacionado ao fato de que a Educação para todos precisava ser: “um
direito fundamental de todos, mulheres e homens, de todas as idades, no mundo inteiro”
(DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE EDUCAÇÃO PARA TODOS, 1990, p. 2).
 
Imagem: Shutterstock.com.
Apesar de, historicamente, sabermos que a Educação é uma condição necessária para o
progresso pessoal e social conquistados até hoje, também sabemos que não é suficiente.
A Educação é um instrumento universalmente válido para criar oportunidades de conquista de
uma vida e um mundo melhores, em todos os sentidos: “mais sadio, mais próspero e
ambientalmente mais puro, e que, ao mesmo tempo, favoreça o progresso social, econômico e
cultural, a tolerância e a cooperação internacional” (DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE
EDUCAÇÃO PARA TODOS, 1990).
Embora acreditar nisso seja razoável e essa seja a perspectiva de compreensão mais
avançada do direito à Educação, é preciso considerar os problemas enfrentadospela realidade
educacional. As condições para esse sucesso não vêm sendo criadas. Ao contrário, são
criados problemas e dificuldades para muitos, cujos direitos são desrespeitados e
desconsiderados, no processo educacional.
NO CONTEXTO DA BUSCA PELA EDUCAÇÃO PARA
TODOS, HÁ DUAS FORTES RAZÕES PARA QUE
EDUCAÇÃO E ESCOLARIDADE NÃO SEJAM
IGUALADAS. EM PRIMEIRO LUGAR, MUITAS ESCOLAS
AO REDOR DO MUNDO NÃO CONSEGUEM OFERECER
UMA EXPERIÊNCIA QUE POSSA SER CHAMADA
EFETIVAMENTE DE EDUCAÇÃO [...]. ALÉM DE PODER
NÃO TER QUASE NENHUM SIGNIFICADO, A ESCOLA
PODE SER POSITIVAMENTE PREJUDICIAL.
(MCCOWAN, 2011, p. 12)
NECESSIDADES BÁSICAS DE APRENDIZAGEM
A Declaração Mundial sobre Educação para Todos apresenta o objetivo de satisfazer às
necessidades básicas de aprendizagem de todos. Para tanto, propõe, no primeiro artigo, que
cada indivíduo – criança, jovem ou adulto –, deve estar em condições de aproveitar as
oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades básicas de
aprendizagem.
Segundo a Declaração, as necessidades básicas de aprendizagem incluem:
 
Imagem: Shutterstock
Os instrumentos essenciais para a aprendizagem – leitura e escrita, oralidade, cálculo,
solução de problemas, por exemplo.
 
Imagem: Shutterstock
Os conteúdos básicos da aprendizagem – conhecimentos, habilidades, valores e atitudes, por
exemplo.
Os instrumentos essenciais e os conteúdos básicos, por sua vez, são necessários para:
A sobrevivência dos seres humanos;
O desenvolvimento pleno de suas potencialidades;
A vida e o trabalho dignos;
A participação plena no desenvolvimento;
A qualidade de vida, a tomada de decisões fundamentadas;
A aprendizagem continuada (DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE EDUCAÇÃO PARA
TODOS, 1990).
Segundo a Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990), a satisfação dessas
necessidades deve conferir, aos membros da sociedade, a possibilidade e a responsabilidade
de:
Promover a Educação de outros.
Defender a causa da justiça social.
Proteger o meio ambiente.
Ser tolerante com os sistemas sociais, políticos e religiosos que difiram dos seus.
Assegurar respeito aos valores humanistas e aos Direitos Humanos comumente aceitos.
Trabalhar pela paz e pela solidariedade internacionais em um mundo interdependente.
EDUCAÇÃO BÁSICA
A Declaração segue enunciando os princípios dessa Educação para Todos e defende a
Educação básica, que deve ser proporcionada a todos, independentemente da idade e sem
qualquer discriminação.
É necessário, para tanto, universalizar a Educação básica e melhorar sua qualidade, bem
como tomar medidas efetivas para reduzir as desigualdades. A Educação básica se torna
fundamento para a aprendizagem e o desenvolvimento humano permanentes.
 
Foto: Joa Souza / Shuttertock.com.
PARA QUE A EDUCAÇÃO BÁSICA SE TORNE
UNIVERSAL E IGUALITÁRIA, É NECESSÁRIO
OFERECER A TODOS A OPORTUNIDADE DE
ALCANÇAR E MANTER UM PADRÃO MÍNIMO DE
QUALIDADE DA APRENDIZAGEM, SUPERANDO
OBSTÁCULOS DE QUALQUER NATUREZA PARA TAL
OBJETIVO.
Deve haver a inclusão e a garantia da qualidade da formação das minorias, dos grupos
excluídos, dos discriminados e daqueles que possuem alguma necessidade educacional
especial.
O processo de Educação não ocorre em situação de isolamento. Ele se dá em um contexto
social, político, ambiental. Dessa forma, os cuidados básicos, como aqueles relacionados com
a nutrição e a saúde integral, são essenciais.
RESPONSABILIDADE COLETIVA E
DIFICULDADES
As necessidades básicas de aprendizagem precisam ser contempladas integralmente valendo-
se da integração de ações no âmbito de cada país e, até mesmo, por meio da cooperação
entre diferentes países. Nesse sentido, a Declaração defende que o atendimento às
necessidades básicas de aprendizagem de todas as pessoas é responsabilidade de todas as
nações e povos.
Apesar de todas as intenções e propostas da Declaração, o que se vem assistindo no mundo
nas últimas décadas é o aprofundamento de desigualdades, a fragilização da Educação básica
pública, mesmo em países ricos, e a crescente cassação dos direitos educacionais das
populações subalternizadas – exatamente aquelas que mais precisariam de que a proposta
funcionasse.
Do ponto de vista dos direitos de todos à Educação, o mundo caminha, hoje, de modo
fortemente desfavorável, e algumas mudanças de rumo vêm se tornando cada vez mais
urgentes.
EDUCAÇÃO, CIDADANIA E DIGNIDADE
Assista ao vídeo em que a professora Inês Barbosa aborda a relação entre o direito à
Educação, o valor da dignidade humana e o direito pleno ao exercício da cidadania.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ASSINALE A ALTERNATIVA, A SEGUIR, QUE RELACIONA
CORRETAMENTE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COM A
CIDADANIA:
A) A dignidade da pessoa humana e a cidadania são igualmente direitos civis sem relação com
a Educação.
B) Embora interligadas, a dignidade da pessoa humana se vincula ao direito do indivíduo, e a
cidadania se relaciona ao direito de todos, ao social.
C) A cidadania se vincula aos sujeitos sociais no exercício de seus direitos, enquanto a
dignidade é um direito coletivo, social.
D) O direito à dignidade da pessoa humana depende de como a cidadania é exercida pelas
pessoas.
E) A busca da qualidade de vida individual e coletiva está relacionada apenas com a dignidade,
e não com a cidadania.
2. CONSIDERE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR: 
 
I. A FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA É OBJETIVO DA EDUCAÇÃO,
ASSIM COMO FORMAR PARA A DIGNIDADE DA PESSOA. 
 
II. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA DEVE SER ASSEGURADA PELOS
DIREITOS SOCIAIS, ENTRE ELES A EDUCAÇÃO, ESTABELECIDOS
CONSTITUCIONALMENTE. 
 
III. EMBORA A EDUCAÇÃO SEJA UMA FORMA DE SE EXERCER
CIDADANIA E OBTER DIGNIDADE, A EDUCAÇÃO NÃO SE CONSTITUI EM
UM DIREITO. 
 
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.
A) Apenas a afirmativa I é verdadeira.
B) Apenas a afirmativa II é verdadeira.
C) Apenas a afirmativa III é verdadeira.
D) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.
E) As afirmativas I, II e III são verdadeiras.
GABARITO
1. Assinale a alternativa, a seguir, que relaciona corretamente a dignidade da pessoa
humana com a cidadania:
A alternativa "B " está correta.
 
A dignidade da pessoa humana e a cidadania são fundamentais na formação da sociedade. A
dignidade da pessoa humana está relacionada ao direito do indivíduo, enquanto a cidadania se
liga ao social, ao direito de todos. Cidadania e dignidade estão interligadas, assim, o exercício
da cidadania pelo indivíduo permite que ele participe tanto da sociedade civil quanto das
atividades do Estado, em prol de mais qualidade de vida individual e coletiva. Os sujeitos
sociais exercitam sua cidadania ao se envolverem na gestão da sociedade e nas
transformações pelas quais ela passa. Assim, esses sujeitos exercem seus direitos civis,
políticos e sociais.
2. Considere as afirmativas a seguir: 
 
I. A formação para a cidadania é objetivo da Educação, assim como formar para a
dignidade da pessoa. 
 
II. A dignidade da pessoa humana deve ser assegurada pelos direitos sociais, entre eles
a Educação, estabelecidos constitucionalmente. 
 
III. Embora a Educação seja uma forma de se exercer cidadania e obter dignidade, a
Educação não se constitui em um direito. 
 
Assinale a alternativa correta.
A alternativa "D " está correta.
 
A Educação deve ter o objetivo e o compromisso com a formação para a cidadania e para a
dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, a Educação é tanto um direito assegurado
constitucionalmente quanto um meio de também assegurar o direito à cidadania e à dignidade
humana. Além disso, em uma inter-relação, o direito à Educação, entre outros direitos, deve
ser visto como consequência ou implicação do direito à dignidade da pessoa humana.
MÓDULO 2
 Identificar princípios e desafios da relação entre Direitos Humanos e Educação
PRINCÍPIOS E DIMENSÕES DOS DIREITOS
HUMANOS
 
Imagem: Pixabay.
 Bandeira da ONU.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi adotada pela Organização das
Nações das Unidas (ONU) em 10de dezembro de 1948, no contexto do pós-guerra.
O documento reafirma a crença nos direitos do homem, na dignidade e nos valores humanos
das pessoas. Sua aprovação e divulgação também foram uma convocação de todos os
estados-membros a promoverem o respeito universal, bem como a observância dos Direitos
Humanos e liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou
religião.
O conceito de Direitos Humanos está ligado à ideia de liberdade de expressão e igualdade
perante a lei.
TRÊS PRINCÍPIOS DOS DIREITOS HUMANOS
À luz da Declaração Universal dos Direitos Humanos, pode-se dizer que os Direitos Humanos
contemporâneos se fundamentam em três princípios:
PRINCÍPIO DA INVIOLABILIDADE DA PESSOA
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA PESSOA
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA
PRINCÍPIO DA INVIOLABILIDADE DA PESSOA
Não se pode impor sacrifícios a um indivíduo sempre que tais sacrifícios resultem em benefício
de outra pessoa. A intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas são invioláveis,
conforme o inciso X do artigo 5º da CF. O caput deste mesmo artigo estabelece a igualdade
de todos perante a lei, sem qualquer tipo de distinção.
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA PESSOA
Toda pessoa é livre para a realização de qualquer conduta, desde que seus atos não
prejudiquem terceiros. De acordo com o artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, a liberdade e a igualdade em dignidade e direitos existem desde o nascimento.
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA
Fonte dos demais direitos e arrolada como princípio fundamental na CF. A dignidade da pessoa
humana é um princípio que se caracteriza pela definição de um valor inerente à pessoa, à sua
condição de ser humano.
INCISO X DO ARTIGO 5º DA CF
X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;
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CAPUT
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Os direitos têm uma dinamicidade, já que não nascem prontos nem ficam congelados em sua
primeira formulação, uma vez que outras necessidades e situações emergem com o tempo.
Desse modo, os direitos costumam ser organizados em gerações ou dimensões.
Atualmente, a maior parte dos estudiosos dá preferência ao termo dimensões, em virtude de
sua amplitude. As diferentes dimensões se articulam e interpenetram, em uma perspectiva de
complementariedade entre elas.
TRÊS DIMENSÕES OU GERAÇÕES DE DIREITOS
 
Imagem: Shutterstock.com.
Em 1979, o jurista tcheco Karel Vasak (1929-2015) criou uma classificação de dimensões ou
gerações de direitos, a partir dos princípios da Revolução Francesa. O objetivo era situar as
diferentes categorias de Direitos Humanos:
LIBERDADE – PRIMEIRA GERAÇÃO
IGUALDADE – SEGUNDA GERAÇÃO
FRATERNIDADE – TERCEIRA GERAÇÃO
LIBERDADE – PRIMEIRA GERAÇÃO
Referente à ideia de liberdade individual, garantida nos direitos civis e direitos políticos. Os
direitos civis ou individuais são universais (alcançam todas as pessoas) e os direitos políticos
são restritos ao exercício da cidadania (atingem somente os eleitores, por exemplo).
IGUALDADE – SEGUNDA GERAÇÃO
Referente à garantia de direito a oportunidades iguais a todas às pessoas, ou seja, obrigação
do Estado de assegurar os direitos sociais, econômicos e culturais.
FRATERNIDADE – TERCEIRA GERAÇÃO
Referente aos ideais de fraternidade e solidariedade, que se vinculam aos direitos difusos
(não é possível determinar os titulares dos direitos nem mensurar exatamente o número de
beneficiários) e aos direitos coletivos (número definível de titulares que se encontram na
mesma condição). O direito ambiental, o direito de comunicação, os direitos do consumidor,
entre outros, estão inseridos nos direitos de terceira geração.
Outros direitos vêm sendo considerados fundamentais. Nesse sentido, atualmente, existe uma
quarta e, talvez, quinta geração ou dimensão de direitos.
Na quarta dimensão, estariam o direito à democracia, à informação, ao pluralismo e à bioética.
Além disso, pensa-se em uma quinta dimensão – a dos direitos à esperança e à paz.
O direito à Educação e à dignidade são, nesse contexto, reconhecidamente interligados. O
Estado deve garantir ambos, já que ambos fazem parte das gerações de direito reconhecidos e
articulados.
DIREITOS HUMANOS HOJE E PROBLEMAS
GLOBAIS
Notícias sobre desrespeito à grande parte dos Direitos Humanos chegam a todo momento. A
própria situação da Educação traz dúvidas quanto ao nível de respeito ao reconhecimento da
formação educacional como direito em muitos países, inclusive o Brasil.
 
Foto: Shutterstock.com.
Há um longo caminho a seguir para que os Direitos Humanos se universalizem, dentro e fora
do Brasil. Muitas vezes, também em locais diferentes, percebe-se um engatinhar nas garantias
mínimas. Em outras circunstâncias, retrocessos são percebidos.
CABE, PORTANTO, REFLETIR SOBRE OS
PROBLEMAS ENFRENTADOS PELO CONJUNTO
DESSES DIREITOS PARA SEREM ASSEGURADOS E,
ESPECIFICAMENTE, CABE UMA REFLEXÃO SOBRE O
DIREITO HUMANO À EDUCAÇÃO.
A desigualdade e o desequilíbrio econômico são ainda elementos inibidores na propagação e
implantação dos Direitos Humanos para todos, mas não são as únicas questões que se podem
colocar.
Em novos tempos, temos novas dimensões dos Direitos Humanos. No entanto, ainda há velhos
problemas e, nem sempre, em função de desigualdades sociais.
DIREITO À VIDA
Em relação ao direito à vida, fala-se da pena de morte em alguns países. No entanto, a pena
de morte não é a única forma de infração do direito à vida. Os conflitos entre nações, o
terrorismo, a criminalidade, os ataques deliberados contra civis ou grupos de refugiados
e a violência policial são as novas-velhas formas que ferem o princípio do direito à vida.
 ATENÇÃO
Recentemente, a ONU divulgou que o mundo ainda tem mais de quarenta milhões de vítimas
da escravidão moderna. Entre essas vítimas, 25% são crianças. Isso pode incluir o tráfico de
pessoas, a exploração sexual, o casamento forçado e o recrutamento forçado de crianças para
uso em conflitos armados.
Desse modo, há problemas que atingem países e sujeitos diferentes, mas que atentam contra
o mais elementar e fundante direito humano – o direito à vida.
A pandemia causada pela covid-19 trouxe outras evidências sobre as dificuldades de
assegurar a vida às diferentes populações do mundo. Em alguns países, não houve
preocupação maior com a vida e foi necessária a intervenção da comunidade internacional no
problema.
Quanto às pesquisas e vacinas, os países mais endinheirados puderam não só fazer e
capitanear pesquisas, mas têm podido sair na frente na imunização de seus cidadãos,
assegurando-lhes a vida. Se a vida é um direito humano universal, faz-se mister que o direito à
vacina seja ampliado para todos os países, para todos os cidadãos.
 
Foto: Louise Infante / Shutterstock.com.
 Uma idosa implorando por dinheiro na rua, Filipinas, 2020.
As questões migratórias, as guerras civis, os muitos refugiados decorrentes desses conflitos, a
pobreza extrema de populações ao redor do globo e outros problemas endêmicos que o mundo
enfrenta – tudo isso não tem sido pautado com firmeza pela ONU.
A esperança de dias melhores para essas populações soa cada vez mais vã. Apesar do direito
à vida ser o princípio de maior relevância para todos e de interesse de todas as nações,
resguardá-lo, tanto em nível nacional quanto internacional, é ainda extremamente difícil.
SETE DESAFIOS MUNDIAIS PARA A
GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS
Iremos, agora, refletir sobre duas questões importantes:
Quais são os principais desafios e as perspectivas para implementação dos Direitos
Humanos?
Quais são as grandes inquietudes e as grandes tensões queafetam a proteção desses
direitos?
PRIMEIRO DESAFIO
O primeiro desafio estaria, hoje, no enfrentamento da tensão entre o universalismo – de um
lado – e o relativismo cultural – de outro.
Nesse campo de discussão, o sociólogo e professor português Boaventura de Sousa Santos
vem defendendo uma concepção multicultural dos Direitos Humanos inspirada no diálogo entre
culturas. O objetivo é compor o que o pensador português chamava de multiculturalismo
emancipatório e que, atualmente, formula-se como interculturalidade emancipatória.
A ideia central é a de formulação de um universalismo pluralista, não etnocêntrico. Tal
universalismo incluiria, no campo dos Direitos Humanos, perspectivas não individualistas de
direito humano, por meio de diálogos entre a cultura dos países europeus e os valores de
outras culturas – asiáticas e indígenas.
Seriam reformuladas, nessa perspectiva, algumas compreensões dos direitos individuais,
incorporando os direitos mais coletivos, próprios dessas culturas, como elementos dos Direitos
Humanos – aí sim, universais.
SEGUNDO DESAFIO
O segundo desafio é o enfrentamento das diferentes formas de fundamentalismo, religioso ou
não. As relações entre Estado e religião ainda são muito problemáticas em muitas nações. Há,
porém, outras formas de fundamentalismo – político, econômico e outros – que também
comprometem o exercício dos Direitos Humanos.
A Educação é um direito de difícil exercício em algumas culturas e diante de determinados
valores. A imposição de uma moral única e de valores baseados nela compromete qualquer
projeto de sociedade pluralista aberta e democrática, inclusive porque prejudica as
possibilidades de implantação de uma Educação voltada aos Direitos Humanos.
TERCEIRO DESAFIO
O terceiro é o desafio do direito ao desenvolvimento perante as desigualdades econômicas e
sociais que caracterizam o planeta. Atualmente, os 15% mais ricos do mundo concentram 85%
da renda mundial, enquanto os 85% mais pobres concentram tão somente 15%.
A pobreza, acima de qualquer guerra ou somatório das guerras, é a principal causa mortis do
mundo. Nesse contexto de desigualdade, a América Latina é a região mais desigual, e o Brasil
é o campeão da desigualdade.
Isso não quer dizer que o Brasil seja o mais pobre, incluindo a América Latina, mas que a
diferença entre os mais ricos e os mais pobres é muito acentuada. Tal fato se reflete na
Educação, uma vez que, diante dessas desigualdades, o acesso à Educação e a permanência
na escola são direitos negados à boa parte da população.
QUARTO DESAFIO
O quarto desafio está relacionado à proteção dos direitos sociais diante dos dilemas da
globalização econômica, que têm agravado ainda mais as desigualdades sociais.
A pobreza se torna uma ameaça sistêmica fundamental à estabilidade em um mundo que se
globaliza. A fragilização do Estado o torna crescentemente incapaz de cumprir suas
responsabilidades de assegurar esses direitos.
QUINTO DESAFIO
O quinto desafio trata do respeito à diversidade, de modo que a intolerância não impeça a vida
tranquila de suas vítimas. Nesse caso, as vítimas mais comuns são os pobres, as mulheres, os
não brancos, os não heterossexuais, as pessoas com deficiência, os migrantes, entre outros.
O direito à diferença precisa se articular com o direito à igualdade.
SEXTO DESAFIO
O sexto desafio consiste na oposição entre o combate ao terrorismo e a preservação das
liberdades públicas. Desde o 11 de setembro de 2001, medidas restritivas ao terrorismo
afrontam as liberdades de muitos.
A solução para o problema, nesse caso, estaria em mais investimento no respeito mútuo e na
promoção dos Direitos Humanos. Isso pode e deve ser feito por meio de uma Educação para
os Direitos Humanos.
SÉTIMO DESAFIO
O último desfio diz respeito à exigência ética de fortalecer o Estado de Direito e a construção
da paz nas esferas global, regional e local, mediante uma cultura de Direitos Humanos que
rompa com o unilateralismo e incentive o multilateralismo.
A construção do Estado Democrático de Direito, com o primado da legalidade e a legitimidade
dos acordos entre diferentes por base, é a possibilidade de a sociedade poder assegurar os
Direitos Humanos a todos.
DIREITOS HUMANOS NO BRASIL E DIREITO
À EDUCAÇÃO
Um grande marco para os Direitos Humanos no Brasil foi a Constituição Federal de 1988,
também conhecida como Constituição cidadã. No quesito Direitos Humanos, a CF procura
resguardar os direitos básicos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
 
Imagem: Shutterstock.com.
Embora esses direitos sejam bem formulados e claros, muitos não são exercidos por imensas
parcelas da população. Isso torna o caminho em direção à sua efetivação longo e árduo.
Muitos problemas se devem à pobreza ou à falta de condições de acesso aos direitos. No
entanto, infelizmente, há problemas internos de violência que nada têm a ver com problemas
estruturais e materiais do País. Seu enfrentamento se daria por meio de outra Educação, para
os Direitos Humanos e para o reconhecimento da igualdade de direitos, na diferença entre
comportamentos, valores, modos de estar no mundo e de compreendê-lo.
O desafio, portanto, de uma Educação para os Direitos Humanos no Brasil vem acompanhado
de uma luta mais básica, já que trata dos chamados direitos de primeira dimensão. Tal
dimensão envolve o direito à vida e à liberdade, além da dignidade humana em sua expressão
mais simples.
 ATENÇÃO
Cabe ressaltar, no entanto, que essa Educação não é um “depois” em relação a tais garantias.
Trata-se de direitos interligados, e é possível considerar a necessidade de uma Educação para
os Direitos Humanos para evitar tantos desperdícios de vidas.
Paralelamente a isso, pode-se fomentar uma maior consciência social em relação à
responsabilidade cidadã com o combate às diferentes formas de violência e o investimento em
Direitos Humanos para todos.
DIREITOS HUMANOS E A EDUCAÇÃO
COMO DIREITO
A Educação como direito humano é entendida de múltiplas formas:
 
Foto: Shutterstock.com.
É um direito individual de acesso a conhecimentos necessários ao exercício pleno da cidadania
e à preparação para o trabalho. Em outras palavras, é uma ferramenta para o crescimento
pessoal.
Também é um direito que envolve a autonomia dos sujeitos sociais.
Do ponto de vista mais coletivo, o direito à Educação pode operar como um mecanismo de
equalização social, de conscientização e de democratização da sociedade, já que também
pode ser fator de preparação para o reconhecimento do outro, o respeito aos direitos de todos
e o desenvolvimento da capacidade de interação com grupos sociais distintos.
O status de direito humano da Educação se relaciona estreitamente com a questão da
dignidade humana, que requer a possibilidade de autonomia social, o conhecimento formal
básico para ampliação da compreensão de mundo e atuação social mais efetiva.
De acordo com Claude (2005, p. 38), a Educação é um direito que tem, pelo menos, três faces:
social, econômica e cultural. Vejamos:
 
Imagens: Shutterstock.com.
DIREITO SOCIAL
Promove o desenvolvimento pleno da personalidade humana no contexto da comunidade.
 
Imagens: Shutterstock.com.
DIREITO ECONÔMICO
Promove autossuficiência econômica pelo emprego ou trabalho autônomo.
 
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DIREITO CULTURAL
Promove a construção de uma cultura universal de Direitos Humanos.
TRÊS OBJETIVOS DO DIREITO À EDUCAÇÃO
A Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece a Educação como um direito e
elenca condições e critérios para o que seria sua efetivação.
A Declaração também exibe algumas marcas dos conflitos entre diferentes países na redação
do documento, já que alguns valorizavam mais fatores coletivos de formação enquanto outros
buscavam assegurar a escolarização formal.
 ATENÇÃO
Devemos lembrar que, em 1948, o que se buscava era usar, positivamente e em busca de paz,
a triste memória da Segunda Guerra Mundial e seus milhões de mortos.
O artigo

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