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Coleção Novos Gestores 2021-2024 1 COLEÇÃO GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL GESTÃO 2021-2024 PREVIDÊNCIA SOCIAL Desafios da gestão municipal na nova previdência Mais capacitação, mais governança local Brasília/DF, dezembro de 2020. COLEÇÃO GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL GESTÃO 2021-2024 Antônio Mário Rattes de Oliveira David Pinheiro Montenegro Diana Vaz de Lima Fernando Benicio dos Santos Gláucia Porto Taulois Selma Marques Borges Santiago PREVIDÊNCIA SOCIAL Desafios da gestão municipal na nova previdência Autores Antônio Mário Rattes de Oliveira David Pinheiro Montenegro Diana Vaz de Lima Fernando Benicio dos Santos Gláucia Porto Taulois Selma Marques Borges Santiago Supervisão Técnica Thalyta Cedro Alves de Jesus SGAN 601 Módulo N • Brasília/DF • CEP: 70.830-010 Contato: (61) 2101-6000 • e-mail: atendimento@cnm.org.br Copyright © 2020. Confederação Nacional de Municípios – CNM. Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte. Todavia, a reprodução não autorizada para fins comerciais desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais, conforme Lei 9.610/1998. Impresso no Brasil. Disponível em: <https://www.cnm.org.br> Catalogado na fonte pela Confederação Nacional de Municípios O48p Oliveira, Antonio Mário Rattes de Previdência social: desafios da gestão municipal na nova previdência / Antonio Mário Rattes de Oliveira ... [et al]. -- Brasília: CNM, 2020. 110 p. : il. -- (Coleção Gestão Pública Municipal: Novos Gestores 2021-2024) Disponível em: <https://www.cnm.org.br> ISBN 978-65-88521-12-0 1. Previdência Pública. 2. Sistema Previdenciário Brasileiro. 3. Regime Próprio de Previdência Social. 4. Regime Geral de Previdência Social. 5. Regime de Previdência Complementar. I. Montenegro, David Pinheiro. II. Lima, Diana Vaz de. III. Santos, Fernando Benicio dos. IV. Taulois, Gláucia Porto. V. Santiago, Selma Marques Borges. VI. Título. CDD 362 Ficha catalográfica elaborada por: Daiane S. Y. Valadares CRB-1/2802 Supervisão Editorial Daiane da Silva Yung Valadares Luciane Guimarães Pacheco Revisão de textos KM Publicações Diagramação Themaz Comunicação e Publicidade DIRETORIA 2018-2021 CONSELHO DIRETOR Presidente Glademir Aroldi – Saldanha Marinho/RS 1º Vice-Presidente Julvan Rezende Araújo Lacerda – Moema/MG 2º Vice-Presidente Eures Ribeiro Pereira – Bom Jesus da Lapa/BA 3º Vice-Presidente Jairo Soares Mariano – Pedro Afonso/TO 4º Vice-Presidente Haroldo Naves Soares – Campos Verdes/GO 1º secretário Hudson Pereira de Brito – Santana do Seridó/RN 2º secretário Eduardo Gonçalves Tabosa Junior – Cumaru/PE 1º tesoureiro Jair Aguiar Souto – Manaquiri/AM 2º tesoureiro João Gonçalves Junior – Jaru/RO CONSELHO FISCAL titular Christiano Rogério Rego Cavalcante – Ilha das Flores/SE titular Expedito José do Nascimento – Piquet Carneiro/CE titular Gil Carlos Modesto Alves – São João do Piauí/PI suPlente Cleomar Tema Carvalho Cunha – Tuntum/MA suPlente Marilete Vitorino de Siqueira – Tarauacá/AC suPlente Pedro Henrique Wanderley Machado – Alto Alegre/RR REPRESENTANTES REGIONAIS região centro-oeste – suPlente Pedro Arlei Caravina – Bataguassu/MS região nordeste – suPlente Roberto Barbosa – Bom Jesus/PB região norte – suPlente Wagne Costa Machado – Piçarra/PA região sudeste – titular Daniela de Cássia Santos Brito – Monteiro Lobato/SP região sul – suPlente Alcides Mantovani – Zortea/SC COLEÇÃO GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL NOVOS GESTORES 2021-2024 1. Livro do(a) Prefeito(a) 2. Assistência Social 3. Comunicação Social 4. Consórcios Públicos Intermunicipais 5. Contabilidade Pública Municipal 6. Concessões e Parcerias Público-Privadas (PPP) 7. Cultura 8. Defesa Civil e Prevenção de Desastres 9. Desenvolvimento Rural 10. Educação 11. Finanças 12. Habitação e Planejamento Territorial 13. Inovação e Municípios Inteligentes 14. Internacional 15. Jurídico 16. Juventude 17. Meio Ambiente e Saneamento 18. MMM e Mulheres 19. Mobilidade e Trânsito 20. Previdência Social 21. Saúde 22. Transferências Voluntárias da União 23. Turismo EXCLUSIVOEXCLUSIVO CONTEÚDO CARTA DO PRESIDENTE Prezado(a) municipalista, Idealizado há 18 anos pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), o projeto Seminários Novos Gestores busca apresentar aos prefeitos as pautas correntes que precisam de especial atenção no dia a dia das gestões munici- pais em sua interação com o governo federal e com o Congresso Nacional e proporcionar um momento de reflexão sobre alguns dos principais desafios que serão enfrentados no decorrer de seus mandatos. A CNM, nesta Coleção Gestão Pública Municipal, traz ao novo gestor um rol de temas que, neste momento, o ajudará no desenvolvimento de suas po- líticas locais. Ao longo de todo o mandato, a Confederação, como sempre, es- tará ao lado do gestor público, apoiando iniciativas, orientando os caminhos a serem seguidos e, principalmente lutando perante o Congresso Nacional e o governo federal pela melhoria das relações entre os Entes, por respeito à auto- nomia dos nossos Municípios e por mais recursos para possibilitar melhores condições de vida às nossas populações municipais. Nesta obra, integrante da Coleção, sob o título Previdência social: desa- fios da gestão municipal na nova previdência, serão apresentadas as alterações que a Emenda Constitucional 103/2019 trouxe ao sistema de previdência so- cial com o estabelecimento de regras de transição e disposições transitórias. Contudo, a CNM continua a acreditar que o regime próprio de previdên- cia ainda é a melhor solução para os Municípios, pois os custos e os recursos não utilizados de imediato no pagamento de benefícios podem formar patri- mônio e ser gerenciados localmente. A Confederação tem imprimido esforços no sentido de retirar a vedação de criação de novos regimes próprios de pre- vidência (RPPS), instituída por meio da EC 103/2019. Boa leitura e uma excelente gestão! Glademir Aroldi Presidente da CNM SUMÁRIO 1 O QUE É SEGURIDADE SOCIAL? .........................................................13 1.1 Como se dá o financiamento da seguridade social?.........................14 2 O QUE É PREVIDÊNCIA SOCIAL? ........................................................15 2.1 Organização e financiamento do sistema previdenciário ..............15 2.2 Inovações trazidas pela Emenda Constitucional 103/2019 ..........17 3 REGIME JURÍDICO X REGIME PREVIDENCIÁRIO ...........................18 4 REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL (RGPS) ........................19 4.1 Segurados vinculados ao RGPS ...........................................................19 4.2 Situação previdenciária dos exercentes de mandato eletivo .........20 4.3 O Município perante o RGPS ................................................................21 4.4 Cumprindo as obrigações previdenciárias .......................................21 4.4.1 Obrigação principal ........................................................ 22 4.4.2 Obrigações acessórias ..................................................... 27 4.5 O que acontece se o Município não efetuar os recolhimentos? .....28 4.5.1 Para o Município ............................................................ 28 4.5.2 Para o administrador municipal ..................................... 29 5 O QUE É REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL? ................30 5.1 Segurados vinculados ao RPPS ............................................................31 5.2 É obrigatória a vinculação dos servidores titulares de cargos efetivos ao RPPS? ..................................................................................................33 5.3 Caráter contributivo do RPPS ..............................................................33 5.3.1 Contribuição patronal e dos servidores ativos .................. 34 5.3.2 Contribuição de inativos e pensionistas ........................... 34 5.4 Criação e extinção do RPPS ..................................................................35 5.5 Desafiosdas gestões municipais no equacionamento dos deficits dos RPPS .........................................................................................................35 6 A LEI GERAL DE PREVIDÊNCIA PÚBLICA .........................................37 7 COMO SE ORGANIZA O RPPS NO MUNICÍPIO? .................................38 8 QUEM FISCALIZA OS REGIMES PRÓPRIOS DE PREVIDÊNCIA SO- CIAL? ........................................................................................................40 9 O QUE É O CERTIFICADO DE REGULARIDADE PREVIDENCIÁ- RIA? ............................................................................................. 42 9.1 Critérios examinados para a emissão do CRP ...................................42 9.1.1 Encaminhamento da legislação à Sprev ................................ 43 9.1.2 Avaliação atuarial inicial .................................................... 43 9.1.3 Encaminhamento dos seguintes demonstrativos eletrônicos .. 43 9.1.4 Caráter contributivo ............................................................ 44 9.1.5 Observância dos limites de contribuição do Ente, dos segurados e dos pensionistas ............................................................. 45 9.1.6 Equilíbrio financeiro e atuarial ............................................ 46 9.1.7 Cobertura exclusiva a servidores efetivos .............................. 46 9.1.8 Concessão de benefícios de acordo com a Lei 9.717/1998 e a Lei 10.887/2004 ................................................................. 47 9.1.9 Utilização de recursos previdenciários apenas para pagamento de benefícios ................................................................... 49 9.1.10 Vedação de celebração de convênios para pagamento de benefícios previdenciários ............................................................... 49 9.1.11 Acesso do segurado às informações do regime ..................... 50 9.1.12 Não inclusão de parcelas remuneratórias temporárias nos benefícios ....................................................................... 50 9.1.13 Contas bancárias distintas para os recursos previdenciários 51 9.1.14 Unidade gestora e regime próprio únicos ............................ 51 9.1.15 Participação dos segurados, dos ativos e dos inativos nos colegiados ...................................................................... 51 9.1.16 Aplicações financeiras de acordo com resolução do CMN .. 51 9.1.17 Atendimento às solicitações da Sprev/ME ........................ 52 9.1.18 Escrituração de acordo com o plano de contas .................. 52 10 CONTABILIDADE APLICADA AOS REGIMES PRÓPRIOS DE PREVI- DÊNCIA SOCIAL .....................................................................................53 10.1 O que é unidade gestora? .....................................................................53 10.1.1 O que é taxa de administração? ....................................... 54 10.2 O impacto das mudanças nas contas da prefeitura .........................55 10.2.1 Como fica a elaboração do orçamento do RPPS? ............... 55 10.2.2 Como o registro da avaliação atuarial afeta as contas municipais? .................................................................... 56 10.2.3 Como gerir a carteira de investimentos dos RPPS? ............ 57 10.3 Em que a contabilidade do RPPS é diferente daquela praticada pelos Municípios brasileiros? ........................................................................58 10.4 Quais as tipicidades do plano de contas aplicado aos RPPS? ..........59 10.5 Modelos e instruções de preenchimento das demonstrações contábeis ...........................................................................................61 10.5.1 Balanço Orçamentário .................................................... 62 10.5.2 Balanço Financeiro ......................................................... 62 10.5.3 Demonstração das Variações Patrimoniais (DVP) ............ 62 10.5.4 Balanço Patrimonial ....................................................... 63 10.5.5 Demonstração dos Fluxos de Caixa .................................. 63 10.5.6 Notas Explicativas .......................................................... 63 10.6 Outros demonstrativos dos RPPS .......................................................64 11 A CIÊNCIA ATUARIAL E O REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SO- CIAL ..........................................................................................................66 11.1 O que é a ciência atuarial? ....................................................................66 11.2 Equilíbrio financeiro e atuarial ...........................................................67 11.3 Hipóteses atuariais ...............................................................................67 11.4 Métodos de financiamento ..................................................................68 11.4.1 Regime de repartição simples .......................................... 68 11.4.2 Regime de capitalização .................................................. 68 11.4.3 Regime de capital de cobertura ........................................ 70 11.5 Reserva matemática .............................................................................70 11.6 Principais itens da avaliação atuarial a serem observados ............71 11.7 Constituição da base cadastral dos servidores .................................71 11.8 Gestão de risco atuarial ........................................................................72 11.9 Alternativas de equacionamento dos déficits atuariais ..................73 12 RASTREANDO A DÍVIDA PREVIDENCIÁRIA ...................................76 12.1 O papel da Procuradoria do Município ..............................................79 12.2 O parcelamento da Lei 12.810/2013 .................................................80 12.3 O parcelamento da Lei Complementar 173/2020 para o RPPS .....81 12.4 O parcelamento da Lei Complementar 173/2020 para o RGPS .....83 12.5 Encontro de contas previdenciário ....................................................85 12.6 A dívida previdenciária do Município em sete passos ....................85 13 APLICAÇÕES FINANCEIRAS DO RPPS ...............................................87 14 O QUE É A COMPENSAÇÃO FINANCEIRA ENTRE OS REGIMES DE PREVIDÊNCIA? .......................................................................................88 14.1 Quem tem direito de buscar esse recurso? ........................................88 14.2 O que é necessário para buscar o recurso da compensação previdenciária........................................................................................90 14.3 O que é o passivo do estoque da compensação previdenciária? ....91 14.4 Reflexo da Portaria MPS 98, de 6 de março de 2007, na compensação previdenciária........................................................................................92 14.5 Operacionalização da compensação financeira – regimes próprios x regimes próprios ...................................................................................92 14.6 Os benefícios da compensação previdenciária para o Município .94 14.7 Orientações sobre RO x RI ....................................................................94 14.8 Por que o Município deve buscar o recurso da compensação previdenciária? ......................................................................................95 14.9 Visão geral do recebimento da compensação previdenciária ........95 15 PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR NO SERVIÇO PÚBLICO ..............96 15.1 Obrigatoriedade de criação dos regimes complementares ............96 15.2 Diferenças entre os RPPS e RPC ...........................................................97 15.3 Servidores vincuados ao regime de previdência complementar ..97 15.4 Aspectos técnicos, econômicos e legais a serem analisados na criação do regime complementar ....................................................................98 15.5 Passos e prazos para a criaçãodo regime de previdência complementar .......................................................................................99 15.6 Seleção do modelo de gestão do regime de previdência complementar ............................................................................... 100 15.7 Leis complementares 108/2001 e 109/2001 ................................ 101 GLOSSÁRIO.................................................................................................103 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................106 Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 13 1 O QUE É SEGURIDADE SOCIAL? A Constituição Federal estabelece que, ao cidadão, é dado o direito de viver dignamente, com o mínimo de condição social necessária à manuten- ção da dignidade da pessoa humana, com participação da sociedade nas áreas de saúde, assistência social e previdência social; e prevê ainda que é dever do Estado prover os meios e os recursos necessários para que a população tenha acesso a este direito. A seguridade social é portanto um conjunto integrado de ações de ini- ciativa dos poderes públicos e da sociedade destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.1 Nesse sentido, o direito assume uma dimensão positiva não como forma de aceitar a intervenção do Estado na liberdade individual, mas como meio de proporcionar à coletividade uma participação do bem-estar social. A seguridade social está baseada nos seguintes princípios: • abrangência de cobertura e atendimento de todas as situações de risco social; • concessão dos mesmos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; • seletividade e distribuição na prestação dos benefícios e dos servi- ços. A seletividade consiste na eleição dos riscos e das contingências sociais a serem cobertos. Este princípio tem como destinatário o legislador constitucional, que estabeleceu expressamente quais os riscos e as contingências sociais protegidas no artigo 201 da Cons- tituição Federal (CF); 1 Art. 194 da Constituição Federal. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202414 • vedação de redução do valor dos benefícios, a fim de preservar-lhes o poder aquisitivo e proteger os beneficiários de eventuais perdas monetárias; • igualdade na forma de participação no custeio pela sociedade e pelo Estado no financiamento da seguridade, na medida de sua capaci- dade de contribuição; • várias fontes de custeio, respeitada a capacidade contributiva de cada um; • caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão com a participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do governo; • preexistência de recursos para a concessão dos direitos referentes à seguridade social; • recursos próprios e específicos, distintos daqueles que constam do orçamento fiscal da União. 1.1 Como se dá o financiamento da seguridade social? O financiamento da seguridade social se dá por toda a sociedade, de forma direta ou indireta, mediante recursos dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além das contribuições sociais de empregadores, trabalhadores, importadores de bens e serviços do exterior e receitas de concursos de prognósticos. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 15 2 O QUE É PREVIDÊNCIA SOCIAL? Previdência social é um seguro que se faz durante todo o período de trabalho de um indivíduo, por meio de contribuições a um sistema para que, quando não se esteja mais trabalhando, seja possível usufruir o benefício da aposentadoria e, com sua morte, possa garantir a sobrevivência daqueles que dependiam de sua renda para sobreviverem por meio da pensão. Seu objetivo é assegurar a manutenção da renda do indivíduo quando houver perda, temporária ou definitiva, de sua capacidade de trabalhar em decorrência de riscos a que todos nós estamos sujeitos, como doença, invali- dez, idade avançada, encargos familiares, prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. 2.1 Organização e financiamento do sistema previdenciário O sistema previdenciário brasileiro organiza-se em três regimes distin- tos: Regime Geral da Previdência Social (RGPS)2, Regime Próprio de Previdência Social (RPPS)3 e Regime de Previdência Complementar (RPC)4. Quanto ao seu financiamento, os regimes previdenciários dividem-se em: i) Sistema de Repartição Simples – em que as contribuições dos segu- rados ativos financiam os gastos com os aposentados, baseando-se no princípio da solidariedade, ou seja, a geração de trabalhadores financia a previdência daqueles que já se aposentaram; 2 Art. 201, CF. 3 Art. 40, CF. 4 Art. 202, CF. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202416 ii) Sistema de Capitalização – em que há uma formação individual ou coletiva de poupança, pois cada segurado contribui para sua ina- tividade, obtendo uma aposentadoria que será correspondente ao montante contribuído para o sistema ao longo da sua atividade, acrescido dos rendimentos do capital investido; e iii) Sistema Misto – em que, como o próprio nome indica, há uma con- junção entre os sistemas de Repartição Simples e de Capitalização em que, até certo limite, prevalecem regras do Sistema de Repartição Simples e acima desse valor existe uma previdência complementar obrigatória, com regras do Sistema de Capitalização. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 17 2.2 Inovações trazidas pela Emenda Constitucional 103/2019 Em novembro de 2019 aprovou-se um novo marco para a Previdência Social brasileira, com a promulgação da Emenda Constitucional (EC) 103, de 12 de novembro de 2019, que trouxe diversas modificações nos modelos pre- videnciais adotados pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e pelos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS). Entre as alterações introduzidas pela EC 103/2019 estão o aumento das idades mínimas de aposentadorias para os RPPS, bem como a instituição de idade mínima para as aposentadorias no RGPS, as quais deixaram de ser con- cedidas apenas com base no tempo de contribuição do segurado. Além disso, a emenda trouxe a descontitucionalização das regras de elegiblidade, conces- são, cálculo e manutenção dos benefícios e das regras de custeio, provendo maior flexiblidade na adoção de medidas de equilíbrio financeiro e atuarial para ambos os regimes previdenciais abrangidos. A EC tornou obrigatório, ainda, no caso dos regimes próprios, a adoção de órgão gestor único para todos os poderes e do regime de previdência comple- mentar para os novos servidores, sendo facultativo para os atuais servidores. Tanto para o caso do RGPS quanto para os regimes próprios de previ- dência, a EC 103/2019 estabelece garantias em relação aos segurados que já reuniram condições para o acesso aos benefícios, assegurando-lhes as regras anteriores, bem como define diversas regras de transição para os atuais segu- rados que ainda não são elegíveis. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202418 3 REGIME JURÍDICO X REGIME PREVIDENCIÁRIO Regime jurídico ou regime de trabalho é aquele que estabelece o vín- culo profissional dos trabalhadores durante sua atividade, podendo ser esta- tutário (decorrente do Estatuto dos Servidores) para os servidores públicos, ou celetista (decorrente da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT) para os trabalhadores da iniciativa privada e para os empregados públicos. Regime de previdência, como já dito anteriormente, é aquele que rege o vínculo dos trabalhadores durante sua inatividade e após o óbito, mediante pagamento das aposentadorias e das pensões por morte. A distinção entre re- gime jurídico e regime previdenciário é importante para definir qual o regime de previdência que o trabalhador vai estar vinculado. Os servidores comissionados e os que exerçam alguma função de con- fiança são segurados do Regime Geral de Previdência Social (RGPS)5, assimcomo os empregados públicos e os trabalhadores da iniciativa privada que se submetem ao regime de trabalho da CLT, devendo contribuir para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). 5 Art. 11 da Lei 8.213/1991. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 19 4 REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL (RGPS) Os benefícios previdenciários concedidos pelo Regime Geral de Previdên- cia Social (RGPS) são: aposentadoria por incapacidade permanente para o tra- balho, contribuição e idade avançada, pensão por morte, salário-maternidade, incapacidade temporária para o trabalho, salário-família e auxílio-reclusão6. A aposentadoria concedida no RGPS pode ser por idade (65 anos para os homens e 62 para as mulheres), no caso de segurado urbano, observado tempo mínimo de contribuição estabelecido em lei. Os trabalhadores rurais, os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal, podem se aposentar com idades mínimas de 60 anos para os homens e 55 anos para as mulheres. Os professores que comprovem tempo de efetivo exercício da funções de magis- tério na educação infantil e no ensino fundamental e médio podem se aposen- tar com redução de cinco anos nos critérios de idades mínimas estabelecidos para os segurados urbanos. Os servidores públicos que tenham contribuído para aposentar-se no RGPS e depois ingressem na administração pública poderão contar com esse tempo para aposentar-se pelo RPPS, que poderá requerer a devida compensa- ção previdenciária referente àquelas contribuições. 4.1 Segurados vinculados ao RGPS • O servidor ocupante de cargo em comissão não ocupante de cargo efetivo, em qualquer Ente da Federação (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), é vinculado obrigatório ao Regime Geral de Previdência Social, na qualidade de segurado empregado, desde 16 de dezembro de 1998. A filiação desse servidor é automática e deve 6 Art. 18 da Lei 8.213/1991. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202420 ocorrer no momento em que for nomeado por ato administrativo. Sendo servidor ocupante de cargo efetivo, será vinculado ao RPPS na hipótese de o Ente público já ter vinculado os demais servidores a este regime. • O servidor ocupante de cargo ou função temporária é aquele que exerce atribuição sem que lhe corresponda um cargo ou emprego, ou seja, é o servidor contratado temporariamente. • O servidor ocupante de emprego público é aquele contratado sob o regime jurídico da CLT. • Os aposentados que voltam à atividade no serviço público – o aposen- tado, independentemente do regime de previdência social em que se aposentou – são segurados obrigatórios do RGPS, quando ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão, de livre nomeação ou exone- ração, bem como de outro cargo temporário ou emprego público. A única exceção é para aqueles que ingressaram novamente em cargo público por meio de concurso público até 16 de dezembro de 1998. 4.2 Situação previdenciária dos exercentes de mandato eletivo Aos prefeitos, aos vice-prefeitos e aos vereadores foi dado um trata- mento previdenciário diferenciado. Até a publicação da Emenda Constitucio- nal 20/1998, podiam estar vinculados ao RPPS se a legislação do Município os previsse como segurados do respectivo regime. Caso contrário, eram se- gurados obrigatórios do RGPS. Ocorre que referida emenda não disciplinou expressamente a respeito da vinculação previdenciária do agente político. A Lei 9.506/1997, que extinguiu o Instituto de Previdência dos Congressistas, os vinculava ao RGPS, contudo, ela foi declarada inconstitucional pelo Su- premo Tribunal Federal (STF) sob o aspecto formal. Somente a partir da Lei 10.997/2004 é que foi definida a vinculação obrigatória dos exercentes de mandato eletivo ao RGPS. No entanto, se eles forem também servidores efeti- vos, poderão se aposentar pelo RPPS em razão deste cargo. A Emenda Constitucional 103/2019 dá um tratamento específico aos Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 21 regimes previdenciais aplicáveis a titulares de mandato eletivo, estabelecen- do no art. 14 que são vedadas as adesões de novos segurados a esses regimes e a instituição de novos regimes dessa natureza, sendo facultado aos atuais segurados se desfiliarem desses regimes, desde que optado expressamente no prazo de 180 dias da data de entrada em vigor da EC 103/2019. Estabelece-se ainda que lei específica do Estado, Distrito Federal ou do Município discipli- nará a regra de transição a ser aplicada aos segurados que permanecerem no mencionado regime previdenciário. 4.3 O Município perante o RGPS Em suas relações com os segurados do RGPS, os Municípios, assim como suas autarquias e fundações, são considerados empresas, incidindo sobre eles, nessa condição, todas as normas previdenciárias aplicáveis. Assim, tanto a obrigação principal quanto as acessórias devem ser cumpridas na forma e no prazo fixados pela legislação previdenciária para as empresas em geral. 4.4 Cumprindo as obrigações previdenciárias As obrigações tributárias previdenciárias se dividem em: i) principal – consiste no recolhimento das contribuições; e ii) acessórias – que são as que envolvem as demais obrigações, diversas da principal, mas consideradas pela legislação como de observância necessária, quer por possibilitarem direta ou indiretamente a verificação da ocorrência do fato gerador e a aferição do quan- to é devido pelo contribuinte ou responsável, quer por serem importantes ao reconhecimento do direito ao benefício previdenciário, quando for pleiteado pelo segurado do RGPS. Observe-se que, enquanto o descumprimento da obrigação principal resulta em aplicação de multa moratória e juros incidentes sobre o valor que deveria ter sido recolhido em determinado prazo, o descumprimento da obri- gação acessória tem como efeito a aplicação de multa de valor pré-ordenado, que, em regra, independe do cumprimento da obrigação principal, posto que consiste em prestação diversa daquela a que corresponde o recolhimento da Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202422 contribuição. É de lembrar, porém, que, embora de natureza distinta, a obrigação acessória, quando descumprida, torna-se principal relativamente à multa aplicada ao contribuinte, sendo seu valor cobrado pela administração tribu- tária como se tributo fosse. 4.4.1 Obrigação principal 4.4.1.1 Relativa a dívidas correntes Do ponto de vista previdenciário, a obrigação consiste no recolhimento da contribuição a cargo do Município e pode variar segundo as circunstâncias que integram a respectiva hipótese de incidência prevista em lei. É dessa forma que, na legislação de custeio do RGPS, haverá diversidade de base de cálculo, alíquotas e prazo de recolhimento da contribuição a cargo do Município conforme seja distinta, também, a natureza da relação jurídica existente entre ele e o trabalhador a seu serviço. De acordo com essa relação jurídica, deverá a municipalidade observar as regras a seguir para o cumpri- mento da obrigação principal. Quando o Município é empregador Deverá recolher, em Guia da Previdência Social (GPS), até o dia 10 do mês seguinte ao da competência, as seguintes contribuições: • a contribuição do empregado, arrecadada mediante desconto efetuado em sua remuneração no porcentual de 7,5%, 9%, 12% ou 14%, con- forme o valor dos respectivos salários de contribuição enquadrados de acordo com tabela divulgada anualmente pela Previdência Social;7 • a correspondente à cota patronal de 20% incidente sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas, a qualquer título, no decorrer do mês, aos segurados empregados • destinada ao financiamento da aposentadoria especial e dos bene- 7 Alíquotas definidas no art. 28 da Emenda Constitucional 103/2019, que estabelece os seguintes percentuais, a serem aplicados de forma progressiva sobre a parcela do salário de contribuiçãodo segurado: até um salário-mínimo (SM): 7,5%; de um SM a R$ 2.000,00: 9%; de R$ 2.000,01 a R$ 3.000,00: 12%; e de R$ 3.000,01 ao teto do RGPS: 14%. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 23 fícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa, decorrente dos riscos ambientais do trabalho no porcen- tual de 2% incidente sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas, a qualquer título, no decorrer do mês, aos segurados empregados; • contribuição adicional de 12%, 9% ou 6% sobre a mesma base de cálculo conforme a atividade exercida pelo segurado enseje a con- cessão de aposentadoria aos 15, 20 ou 25 anos de contribuição, res- pectivamente. Esse acréscimo, caso devido, incidirá exclusivamente sobre a remuneração do segurado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. Quando o Município é tomador de serviço prestado por contribuinte individual (autônomo) Deverá recolher, em GPS, até o dia 10 do mês seguinte ao da competên- cia, as seguintes contribuições: 1. a contribuição do autônomo arrecadada, mediante desconto em sua remuneração no porcentual de 11%, observado o limite máximo do salário de contribuição, considerando-se, na verificação desse limite, também as remunerações que ele tenha percebido, no mesmo mês, de outras empresas, como autônomo, empregado ou avulso, desde que sobre elas tenha incidido a contribuição previdenciária; 2. a correspondente à cota patronal de 20%, incidente sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas, a qualquer título, no decorrer do mês aos autônomos.8 8 Observe-se que, no caso de contratação de serviços de condutor de veículo rodoviário ou seu auxiliar, para frete, carreto ou transporte de passageiros realizado por conta própria, a remuneração sobre a qual incidirá a cota patronal será de 20% do rendi- mento bruto. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202424 Quando o Município é tomador de serviço prestado por cooperados por meio de cooperativas de trabalho Deverá recolher, em GPS, até o dia 10 do mês seguinte ao da competên- cia, as seguintes contribuições: 1. a correspondente a 15% sobre o valor bruto da nota fiscal ou da fa- tura de prestação de serviços; 2. contribuição adicional de 9%, 7% ou 5%, conforme a atividade exer- cida pelo cooperado enseje a concessão de aposentadoria aos 15, 20 ou 25 anos de contribuição, respectivamente. Esse acréscimo, caso devido, incidirá exclusivamente sobre a remuneração do segurado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integri- dade física, razão por que deverá ser emitida nota fiscal ou fatura específica para a atividade por ele exercida. Quando o Município é tomador de serviço prestado por cooperados por meio de cooperativas de trabalho na atividade de transporte rodoviário de carga ou passageiro Deverá recolher, em GPS, até o dia 10 do mês seguinte ao da competên- cia, as seguintes contribuições: 1. a correspondente a 15% incidente sobre a parcela relativa ao valor dos serviços prestados pelos cooperados, o qual não será inferior a 20% do valor da nota fiscal ou da fatura; 2. contribuição adicional de 9%, 7% ou 5%, conforme a atividade exercida pelo cooperado, permita a concessão de aposentadoria aos 15, 20 ou 25 anos de contribuição, respectivamente. Esse acrésci- mo, caso devido, incidirá exclusivamente sobre a remuneração do segurado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, razão por que deverá ser emitida nota fiscal ou fatura específica para a atividade por ele exercida. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 25 Quando o Município é tomador de serviço prestado, mediante cessão ou empreitada de mão de obra Deverá adotar as seguintes providências: 1. reter 11% do valor bruto da nota fiscal, fatura ou recibo de prestação de serviços e recolher esse valor, em nome da empresa contratada, até o dia 10 do mês seguinte ao da emissão desses documentos, em Guia de Previdência Social (GPS); 2. reter e recolher porcentual adicional de 4%, 3% ou 2% relativamen- te aos serviços prestados pelos segurados empregados da empresa contratada cuja atividade permita a concessão de aposentadoria especial, após 15, 20 ou 25 anos de contribuição, respectivamente. Entende-se como cessão de mão de obra a colocação à disposição da municipalidade, em suas repartições ou nas dependências de terceiros, de segurados que realizem serviços contínuos, relacionados ou não com a ativi- dade-fim do Município, independentemente da natureza e da forma de con- tratação realizada com a empresa prestadora, inclusive quando se tratar de trabalho temporário. No caso de atividades de limpeza, conservação, zeladoria, vigilância, segurança, construção civil, serviços rurais e digitação e preparação de dados para processamento, a retenção e o recolhimento serão observados ainda que esses serviços sejam prestados mediante empreitada de mão de obra. Não se considera cessão de mão de obra a contratação de construção civil em que a empresa construtora assuma a responsabilidade direta e total pela obra ou repasse o contrato integralmente, hipótese em que o Município, na condição de proprietário, incorporador, dono da obra ou condômino de unidade imobiliária, será solidário com o construtor pelo cumprimento das obrigações para com a Previdência Social. A responsabilidade será, porém, perdoada caso o Município adote uma das seguintes providências: i) comprovação do recolhimento das contribuições incidentes sobre a remuneração dos segurados, incluída em nota fiscal ou fatura correspondente aos serviços executados, quando corroborada por escrituração contábil; Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202426 ii) comprovação do recolhimento das contribuições incidentes sobre a remuneração dos segurados, aferidas indiretamente nos termos, forma e percentuais previstos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB); ou iii) comprovação do recolhimento de retenção de 11% prevista ante- riormente. Quando o Município é adquirente da produção de empregador rural pessoa física e de segurado especial Deverá reter do valor a ser pago ao produtor e recolher, em GPS, até o dia 10 do mês seguinte ao da operação realizada, as seguintes contribuições: 1. dois por cento (2%) incidente sobre a receita bruta da comerciali- zação da produção rural adquirida, entendida essa produção como os produtos de origem animal ou vegetal, em estado natural ou submetidos a processos de beneficiamento ou industrialização ru- dimentar, observando-se que não integra a produção, para efeito de incidência da contribuição, o produto vegetal destinado ao plantio e ao reflorestamento, o produto vegetal vendido por pessoa ou enti- dade que, registrada no Ministério da Agricultura e do Abastecimen- to, se dedique ao comércio de sementes e mudas no país, o produto animal destinado à reprodução ou à criação pecuária ou granjeira e o produto animal utilizado como cobaia para fins de pesquisas científicas no país; 2. um décimo por cento (0,1%) incidente sobre a receita bruta da co- mercialização da produção rural, especificada no item anterior, des- tinado ao financiamento da aposentadoria especial e dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade labora- tiva, decorrente dos riscos ambientais do trabalho, mais conhecida como Seguro de Acidente de Trabalho (SAT). 4.4.1.2 Relativa a dívidas parceladas Além das obrigações principais anteriormente listadas, devem os Muni- cípios também efetuar os recolhimentos mensais relativos aos parcelamentos Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 27 de dívida previdenciária porventura contratados nos quais não esteja previs- to desconto das parcelas mensais diretamente no Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Atualmente se encontram nessa situação os parcelamentos instituídos pelas leis 11.196/2005, 13.485/2017e 13.496/2017 (Pert), cujas parcelas so- mente serão descontadas do FPM caso o Município não as quite no prazo legal. Dessa forma, deve a parcela mensal ser recolhida até o dia 20 de cada mês, em GPS recebida da Secretaria da Receita Federal do Brasil. 4.4.2 Obrigações acessórias Entre as obrigações acessórias impostas pela legislação previdenciária aos Municípios, destacam-se as seguintes: 1. preparar folhas de pagamento das remunerações pagas ou credita- das a todos os segurados a seu serviço; 2. lançar mensalmente em títulos próprios de sua contabilidade, de forma discriminada, os fatos geradores de todas as contribuições, o montante das quantias descontadas, as contribuições a seu cargo e os totais recolhidos; 3. informar mensalmente à RFB, por meio da Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social, na forma por ela estabelecida, dados cadastrais, todos os fa- tos geradores de contribuição previdenciária e outras informações de interesse daquele instituto; 4. providenciar a inscrição de autônomo a seu serviço no INSS, como contribuinte individual, caso o trabalhador ainda não a tenha rea- lizado; 5. no caso de serviços prestados mediante cessão ou empreitada de mão de obra, manter em boa guarda, em ordem cronológica e por contratada, as correspondentes notas fiscais, faturas ou recibos de prestação de serviços, Guia da Previdência Social, Guia de Informa- ções à Previdência Social (Gfip) e Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e com comprovante de entrega; Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202428 6. fornecer ao INSS, para fins de fiscalização, mensalmente, relação de todos os alvarás para a construção civil e documentos de “habite- -se” concedidos de acordo com critérios estabelecidos pelo referido instituto. 4.5 O que acontece se o Município não efetuar os recolhimentos? 4.5.1 Para o Município De regra, o não recolhimento das contribuições no prazo fixado acar- retará atualização monetária, quando exigida pela legislação, juro de mora, incidente sobre o valor atualizado, equivalente a 1% no mês de vencimento e à taxa do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) nos meses inter- mediários e multa variável, para fatos geradores ocorridos a partir de 28 de novembro de 1999, nos porcentuais apresentados a seguir. a) Para pagamento após o vencimento de obrigação não incluída em notificação fiscal de lançamento: i. 8% dentro do mês de vencimento da obrigação; ii. 14%, no mês seguinte; iii. 20%, a partir do segundo mês seguinte ao do vencimento da obrigação. b) Para pagamento de obrigação incluída em notificação fiscal de lan- çamento: i. 24%, até 15 dias do recebimento da notificação; ii. 30%, após o décimo quinto dia do recebimento da notificação; iii. 40%, após apresentação de recurso desde que antecedido de defesa e apresentados no prazo legal, até 15 dias da ciência da decisão do Conselho de Contribuintes; iv. 50%, após o décimo quinto dia da ciência da decisão do Conse- lho de Contribuintes, enquanto não inscrita em dívida ativa. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 29 c) Para pagamento do crédito inscrito em Dívida Ativa: i. 60%, quando não tenha sido objeto de parcelamento; ii. 70%, se houve parcelamento; iii. 80%, após o ajuizamento da execução fiscal, mesmo que o de- vedor ainda não tenha sido citado, se o crédito não foi objeto de parcelamento; iv. 100%, após o ajuizamento da execução fiscal, mesmo que o devedor ainda não tenha sido citado, se o crédito foi objeto de parcelamento. Todos os porcentuais de multa indicados são reduzidos em 50% se as contribuições tiverem sido declaradas na Gfip. Quanto às obrigações acessórias, sua infração acarretará multa defini- da pelo orgão competente, conforme a gravidade da infração, nos termos da legislação previdenciária. O autuado tem o prazo de 30 dias, a contar da ciência, para efetuar o pagamento da multa com redução de 50%. 4.5.2 Para o administrador municipal Excepcionalmente, a Lei 8.212, de 24 de julho de 1991, que trata da organização e do custeio previdenciário, impõe ao dirigente de órgão ou en- tidade da administração federal, estadual ou municipal a responsabilidade pessoal pela multa aplicada por infração de seus dispositivos, bem como de dispositivos do regulamento da Previdência Social.9 Da mesma forma que no caso do Município, recebido o auto de infração, o autuado terá o prazo de 30 dias, a contar da ciência, para efetuar o pagamen- to da multa com redução de 50%. 9 O regulamento da Previdência Social foi aprovado pelo Decreto 3.048, de 6 de maio de 1999. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202430 5 O QUE É REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL? Entende-se por Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) aquele que assegure por lei ao servidor público os benefícios de aposentadoria e pensão por morte previstos no art. 40 da Constituição Federal. Sua criação depende de que se disponha expressamente sobre esses benefícios, mas não é necessário que eles estejam disciplinados em uma lei específica. Por exemplo, se o esta- tuto dos servidores mencionar que eles terão direito à aposentadoria e seus dependentes à pensão, já estará caracterizada a existência do RPPS municipal. Na sua criação, devem ser observadas normas gerais de contabilidade e atuária, de modo a garantir seu equilíbrio financeiro e atuarial. A avaliação atuarial irá definir o porcentual de contribuição dos participantes do regime para garantir esse equilíbrio de acordo com as características dos servidores municipais. Os RPPS são administrados por uma unidade gestora responsável pela operacionalização do regime, incluindo a arrecadação e a gestão de recursos e fundos previdenciários, a concessão, o pagamento e a manutenção dos be- nefícios.10 O servidor público titular de cargo efetivo, via de regra, vincula-se ao RPPS. Na hipótese de extinção desse regime, o servidor ativo filia-se ao regi- me geral, sendo devidas, a partir da data de publicação da lei de extinção, as contribuições sociais nos termos da Lei 8.212, de 24 de julho de 1991, sendo vedado o reconhecimento retroativo de direitos e deveres perante esse regime. Importante ressaltar que compete ao Município manter o pagamento dos benefícios concedidos durante a vigência do RPPS, bem como aqueles para os quais foram implementados, antes da extinção, os requisitos necessários à sua concessão. Além disso, em caso de extinção do RPPS, o Município poderá prever na lei de extinção mecanismo de ressarcimento ou complementação 10 Art. 2, inc. V, ON SPS 2/2009. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 31 de benefícios aos servidores que tenham contribuído acima do limite máximo do Regime Geral de Previdência Social11. Os Municípios vinculados ao RPPS devem estar atentos às legislações federais que tratam da matéria, tanto para garantir a boa gestão desse regime quanto para não se sujeitarem às restrições e às penalidades previstas nas leis em decorrência de eventuais descumprimentos. Mesmo com a extinção do RPPS, os recursos financeiros existentes no fundo não poderão ser utilizados para outros fins que não os da previdência, pois o Município continua com o encargo de pagar os servidores aposentados antes da extinção e, além disso, terá que, perante o INSS, realizar a compensação financeira relativa ao tempo em que os servidores contribuíram para o RPPS, mas que não serão aposen- tados pelo RGPS. Na hipótese de vinculação dos servidores ativos, antes amparados por regime próprio, ao RGPS, os recursos previdenciários somente poderão ser utilizados para: 1. pagamento de benefícios previdenciários já concedidos pelo regime próprio; 2. pagamento dos benefícios previdenciários para os quais já foram implementados os requisitos necessários à sua concessão; 3. quitação de débitos constituídos com o INSS até a data da lei de vin- culação dos servidoresativos ao RGPS; 4. constituição do fundo previsto no art. 6 da Lei 9.717/1998; 5. pagamentos relativos à compensação previdenciária entre regimes de que trata a Lei 9.796/1999. A inobservância na utilização dos recursos vinculados à Previdência sujeitará o gestor às penalidades previstas na Lei 8.429, de 2 de junho de 1992 – Improbidade Administrativa –, e na Lei 10.028, de 19 de outubro de 2000. 5.1 Segurados vinculados ao RPPS O RPPS abrange exclusivamente o servidor público titular de cargo efeti- vo, ativo e inativo, e seus pensionistas. Até 15 de dezembro de 1998, o servidor 11 Art. 34 da Emenda Constitucional 103/2019. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202432 público ocupante exclusivamente de cargo em comissão, de cargo temporário, de emprego público ou de função pública poderia estar vinculado ao Regime Próprio de Previdência Social que assegurasse, no mínimo, aposentadoria e pensão por morte, nos termos definidos em lei do respectivo Ente da Federação. A filiação ao regime de previdência do prefeito e do vice-prefeito deve observar as seguintes hipóteses: i) amparado originalmente pelo RPPS, na qualidade de servidor ativo titular de cargo efetivo e dele afastado para o exercício do mandato eletivo; ii) amparado obrigatoriamente pelo RGPS, na qualidade de segurado empregado, caso não se enquadre na situação prevista no item an- terior. O vereador que exerça concomitantemente cargo efetivo na administra- ção pública, filia-se ao Regime Próprio de Previdência Social, pelo cargo efeti- vo, e ao Regime Geral de Previdência Social, pelo mandato eletivo; ou somente ao RGPS por ambas as atividades, na hipótese de o Município onde exerça a vereança não tiver instituído o regime próprio para os servidores públicos. Se o agente político for aposentado por qualquer regime de previdên- cia ou se afastar da atividade que o vinculava ao RGPS, a base de cálculo para sua contribuição social a este regime será calculada sobre o valor do subsídio que recebe. Se se tratar de acúmulo de atividades do exercente de mandato eletivo não filiado ao regime próprio, serão observadas as normas do RGPS para cal- cular o valor da contribuição devida. O aposentado por qualquer regime de previdência que exerça ou ve- nha a exercer exclusivamente cargo em comissão, cargo temporário, empre- go público, função pública ou mandato eletivo vincula-se obrigatoriamente ao RGPS, na qualidade de segurado empregado, em relação a essas atividades. O servidor público titular de cargo efetivo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios filiados ao Regime Próprio de Previdência Social, quando cedido a órgão ou entidade da administração direta e indireta do mesmo Município ou de outro Ente da Federação, permanecerá vincula- Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 33 do ao RPPS de origem e não àquele para onde está sendo cedido, mesmo que a obrigação de recolhimento de sua contribuição previdenciária seja desse outro Ente público. 5.2 É obrigatória a vinculação dos servidores titulares de cargos efetivos ao RPPS? Sim. A criação do RPPS, além de ser um dever do Município, é direito do servidor. O art. 40 da Constituição Federal é bastante claro acerca do tema. Vejamos: O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que pre- servem o equilíbrio financeiro e atuarial.12 A simples leitura do dispositivo constitucional nos permite a interpre- tação de que a vinculação dos servidores titulares de cargos efetivos ao RPPS não se trata de mera faculdade do gestor público, tampouco essa decisão está sob o poder discricionário do chefe do Executivo ou do Poder Legislativo. A Constituição Federal assegurou ao servidor estatutário o vínculo previden- ciário ao regime próprio. Trata-se, portanto, de um dever do Ente público criar o RPPS mediante aprovação por lei sob pena de, não o fazendo, respon- sabilizar-se pela complementação das aposentadorias concedidas pelo RGPS, quando o servidor tiver cumprido os requisitos necessários para aposentar-se no regime próprio13. 5.3 Caráter contributivo do RPPS Anteriormente, os servidores que se aposentavam pelo regime próprio não estavam obrigados a contribuir para o sistema previdenciário. Podemos dizer que a aposentadoria era um favor, uma benesse, concedida pelo Muni- 12 Redação dada pela Emenda Constitucional 103, de 12 de novembro de 2019. 13 Art. 5, inc. IV, da Orientação Normativa 2, de 31 de março de 2009 (DOU em 2 de abril de 2009). Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202434 cípio ao servidor que a ele estava vinculado, por ter trabalhado para a admi- nistração pública. Contudo, a partir de 16 de dezembro de 1998, data em que foi publicada a Emenda Constitucional 20, a Previdência Social passou a ter caráter contributivo, ou seja, os benefícios de aposentadoria e pensão não po- dem mais ser concedidos sem a contribuição do servidor. 5.3.1 Contribuição patronal e dos servidores ativos O custeio do regime abrange também as contribuições do Ente público e deve basear-se em princípios técnicos para a preservação do seu equilíbrio financeiro e atuarial de forma que garanta o pagamento dos benefícios futu- ros por ele devidos. A EC 41/2003 alterou o § 1º do art. 149 da CF, estabelecendo custeio mínimo de 11% para os servidores ativos; e o art. 10 da Lei 10.887/2004 alte- rou a redação do art. 2º da Lei 9.717/1998, determinando que a contribuição patronal não poderá ser inferior à contribuição do servidor, nem superior ao dobro desta. Posteriormente, a Emenda Constitucional 103/2019 estabeleceu, no art. 11, a alíquota da União em 14%, determinando que os RPPS dos Esta- dos, Distrito Federal e Municípios pratiquem, no mínimo, essa mesma alíquota (art. 9º, § 4º), podendo ser adotadas como mínimas as alíquotas do RGPS no caso de RPPS que comprove a inexistência de déficit atuarial. 5.3.2 Contribuição de inativos e pensionistas O art. 4º da Emenda Constitucional 41/2003 e o § 18 do art. 40 da Cons- tituição Federal preveem a incidência de contribuição previdenciária para os servidores inativos e os pensionistas da União, dos Estados, do Distrito Fede- ral e dos Municípios, com porcentual igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos. O Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgar as Ações Diretas de In- constitucionalidade (Adins) 3.105 e 3.128, declarou inconstitucionais as ex- pressões “cinquenta por cento” e “sessenta por cento” de que tratam os incs, I e II, respectivamente, do art. 4º da EC 41/2003, que instituiu a contribuição previdenciária para os servidores inativos e pensionistas. Assim, haverá in- cidência de contribuição previdenciária sobre a parcela dos proventos e das Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 35 pensões que superarem o limite máximo estabelecido para os benefícios do RGPS, para todos os inativos e pensionistas, independentemente da data da inatividade ou do recebimento da pensão. Atualmente o limite máximo dos benefícios do RGPS é de R$ 6.101,06.14 5.4 Criação e extinção do RPPS A instituição de um regime de previdência se dá sempre por meio de lei, assim como sua extinção, que só ocorre efetivamente, com o pagamento do último benefício de aposentadoria ou pensão concedidos ou cujos requisi- tos necessários à sua concessão forem implementados durante sua vigência. Importa destacar que, na hipótese de extinção do RPPS, os recursos vinculados à conta previdenciária somente poderão ser utilizados para o pa- gamento dos benefícios por ele devidos e para o pagamento da compensação previdenciária devido ao INSS ou ao RPPS de outro Ente público ao qual venha se vincular o servidor municipal. 5.5 Desafios das gestões municipais no equacionamento dos deficits dosRPPS A promulgação da Portaria MF 464, de 19 de novembro de 2018, deter- minou um novo marco regulatório em relação às normas de atuária dos RPPS. A partir dessa nova regulamentação, se estabelecem conceitos técnicos mais específicos para a gestão atuarial dos regimes próprios de previdência social e novas responsabilidades para os seus gestores diretos e para os gestores do Ente patrocinador. Adicionalmente, a legislação reguladora desses regimes tem sido apri- morada no sentido de exigir maior qualificação e experiência dos gestores e conselheiros das entidades gestoras, bem como dos profissionais que prestam serviços a essas entidades. Todas as medidas têm sido adotadas com o objetivo de prover os RPPS de maior eficiência e eficácia na gestão da previdência dos servidores públi- 14 Valor definido pela Portaria 914, de 13 de janeiro de 2020. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202436 cos, ampliando-se, inclusive, os mecanismos de controle que a Secretaria de Previdência, do Ministério da Economia, terá à disposição para monitorar e orientar os referidos regimes. À parte os desafios de aprimoramento da gestão, os regimes de previ- dência dos Entes subnacionais enfrentam enormes desafios de financiamento dos recursos necessários ao pagamentos dos benefícios presentes e futuros a seus segurados. É de conhecimento público que a situação financeira e atua- rial dos RPPS é preocupante, tanto que o grande desafio atual é a realização das reformas nas legislações estaduais e municipais para adequá-las às mudanças que foram implementadas no âmbito da União por meio da Emenda Consti- tucional 103/2019, popularmente conhecida como Reforma da Previdência. A alteração das regras de acesso aos benefícios, de cálculo e de manu- tenção, tais como idades mínimas, tempo de contribuição, fórmula de cálculo do benefício pela média, pensões por quotas, serão fundamentais na redução do passivo atuarial dos RPPS e consequentemente do deficit atuarial. Por outro lado, a Portaria MF 464/2018 trouxe, em seu art. 53, § 2º, for- mas de equacionamento do deficit atuarial, sendo algumas já conhecidas dos gestores públicos, tais como o plano de amortização e a segregação da mas- sa. Outras são novidade, sendo inseridas pela referida norma como formas complementares, e se constituem em: a) aportes de bens, direitos e ativos; b) aperfeiçoamento da legislação do RPPS e dos processos relativos à concessão, manutenção e pagamento dos benefícios; e c) adoção de medidas que visem à melhoria da gestão integrada dos ativos e passivos do RPPS e da identificação e controle dos riscos atuariais do regime. Diante das alterações recentes na legislação e das novas possibilida- des de equacionamento dos deficits atuariais, bem como diante dos enormes déficits atuariais presentes nos RPPS, os desafios dos gestores municipais re- cairá sobre as ações necessárias para a solução do problema, que vão desde a implementação da reforma da previdência municipal até a escolha de alter- nativas de financiamento dos deficits atuariais, sendo essencial a elaboração de estudos atuariais que permitam avaliar os impactos das medidas a serem implementadas. Avaliamos que o aporte de ativos será fundamental, observa- dos os critérios estabelecidos na mencionada portaria em relação a qualidade, liquidez e possibilidade de monetização desses ativos. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 37 6 A LEI GERAL DE PREVIDÊNCIA PÚBLICA A Lei 9.717, de 27 de novembro de 1998, dispõe sobre as regras gerais para a organização dos regimes próprios de previdência dos servidores públi- cos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos militares dos Estados e do Distrito Federal. A referida lei, bem como a Emenda Constitucional 20/1998, foram os marcos reguladores da previdência no setor público, estabelecendo de for- ma sólida o conceito de Regime Próprio de Previdência Social para o servidor público civil e para os militares dos Estados e do Distrito Federal. A organiza- ção desse regime demandou a instituição de normas gerais de contabilidade e atuária, de modo que garanta o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema previdenciário. Outras medidas relevantes foram a previsão da possibilidade de consti- tuição de fundos integrados de bens, direitos e ativos com finalidade previden- ciária, o que significou a separação definitiva entre assistência e previdência, e a nova tentativa de instituição de cobrança de inativos (suspensa por meio da Adin nº 2010 e revogada pela MP 2.187-12, de 27 de julho de 2001, somente tendo sido efetivada pela EC 41/2003). Em 2019, um novo marco da previdência foi estabelecido com a pro- mulgação da EC 103/2019, que determinou novas regras de elegibilidades, de cálculos e de manutenção dos benefícios dos servidores públicos, aplicadas inicialmente para a União, mas passíveis de adoção por todos os Entes subna- cionais. Outra importante contribuição da EC 103/2019 foi na consolidação do conceito de equilíbrio financeiro e atuarial, vinculando-o ao equilíbrio de longo prazo dos RPPS e definindo o aporte de bens entre as fontes de financia- mento das despesas previdenciais . Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202438 7 COMO SE ORGANIZA O RPPS NO MUNICÍPIO? O art. 6º da Lei 9.717/1998 possibilitou aos Entes federados a consti- tuição de fundos integrados de bens, direitos e ativos com finalidade previ- denciária, desde que observados os critérios por ela estabelecidos. A estrutura necessária para implementar um regime próprio depende das peculiaridades de cada Ente federativo, podendo ser organizado como um departamento in- terno do próprio Município, que disponibilizará estrutura e pessoal para sua operacionalização, com significativa redução das despesas administrativas, ou por meio de uma entidade autônoma, como uma autarquia, com persona- lidade jurídica própria, o que, com certeza, vai acarretar mais despesas admi- nistrativas, as quais não poderão ser superiores aos percentuais estabelecidos na Portaria 402/2008, que dependem do porte do Município, sobre o total das remunerações dos servidores ativos vinculados ao regime próprio referente ao exercício financeiro anterior.15 Em qualquer das hipóteses é recomendável uma estrutura sem exces- sos, reduzindo-se ao máximo as despesas administrativas, que sempre serão cobertas por contribuições dos servidores e do Ente público, com previsão atuarial, já que integram o custo total do regime próprio, desonerando o erá- rio público dessa despesa. A lei geral não determinou a composição mínima dos membros inte- grantes dos conselhos que formam os fundos previdenciários, contudo, na hipótese de constituição de colegiados, estes devem obrigatoriamente contar com a representação de servidores ativos, inativos e pensionistas. A Portaria MF 464/2018, em seu art. 2º, caput, faz referência aos conselhos deliberativo e fiscal, sem contudo, defini-los concretamente.16 15 Art. 15, inc. II, da Portaria MPS 402/2008. 16 Art. 1º, inc. VI, da Lei 9.717/1998; art. 2º da Portaria MF 464/2018; art. 5º, inc. V, da Portaria MPS 204/2008. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 39 Na constituição desses fundos é comum verificarmos a seguinte com- posição: • Conselho Deliberativo: órgão máximo da estrutura organizacional, responsável pela definição da política geral de administração da en- tidade e de seus planos de benefícios; • Conselho Fiscal: órgão de controle interno da entidade; • Diretoria-Executiva: órgão responsável pela administração da en- tidade, em conformidade com a política de administração traçada pelo conselho deliberativo. Por meio da EC 103/2019, vedou-se a criação de novos RPPS. Contudo, há em trâmite a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 156/2019, que propõe a modificação do § 22 do art. 40 da Constituição Fe- deral, a qual dispõe sobre a instituição de Regimes Próprios de Previdência Social. Coleção GestãoPública Municipal Novos Gestores 2021-202440 8 QUEM FISCALIZA OS REGIMES PRÓPRIOS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL? O art. 9º da Lei 9.717/1998 estabelece competência à União, por meio da Secretaria de Previdencia (Sprev), para orientação, supervisão e acompa- nhamento dos Regimes Próprios de Previdência Social dos servidores públicos e dos militares da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e dos fundos eventualmente constituídos, bem como o estabelecimento e a pu- blicação dos parâmetros e das diretrizes gerais previstas na lei. Atualmente, essa competência foi atribuída à Secretaria de Previdência (Sprev) do Minis- tério da Economia (ME). As auditorias fiscais diretas e indiretas da Sprev objetivam a verifica- ção do cumprimento dos critérios e das exigências estabelecidos na legislação previdenciária para o funcionamento do RPPS. Por auditoria direta entende-se aquela executada pelo auditor-fiscal na própria unidade gestora do regime, enquanto a auditoria indireta se realiza por meio da análise da documenta- ção encaminhada à Subsecretaria dos Regimes Próprios de Previdência Social (SRPPS) da Sprev. Ao auditor-fiscal deverá ser dado livre acesso à unidade gestora do RPPS, para inspecionar livros e todos os documentos necessários ao perfei- to desempenho de suas funções, como as demonstrações contábeis exigidas pela Portaria MPS 916/2003 e os relatórios financeiros exigidos pela Sprev. O auditor-fiscal elaborará relatório sobre os pontos verificados, ins- taurando, se constatada alguma irregularidade, o competente processo ad- ministrativo17, sendo, contudo, assegurado o contraditório e a ampla defesa. 17 Processo administrativo previdenciário – Portaria 64/2006 Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 41 Em âmbito estadual, os Tribunais de Contas detêm competência para fiscalizar a utilização dos recursos financeiros vinculados à previdência própria e à sua aplicação, bem como para homologação dos processos de concessão de aposentadorias e pensões por morte. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202442 9 O QUE É O CERTIFICADO DE REGULARIDADE PREVIDENCIÁRIA? O Certificado de Regularidade Previdenciária (CRP) é o documento que atesta a regularidade do Regime de Previdência Social dos servidores titula- res de cargos efetivos dos Estados, do Distrito Federal e/ ou dos Municípios. O CRP é válido por 180 dias contados da data de sua emissão e é exigido nas seguintes situações: • Realização de transferências voluntárias de recursos pela União; • celebração de acordos, contratos, convênios ou ajustes; • concessão de empréstimos, financiamentos, avais e subvenções em geral de órgãos ou entidades da União; • celebração de empréstimos e financiamentos por instituições finan- ceiras federais; • repasse dos valores devidos em razão da compensação previdenciária. Os dados oficiais sobre os Regimes Próprios de Previdência Social e as informações quanto aos critérios examinados para sua emissão constam do Sistema de Informações dos Regimes Públicos de Previdência Social (CadPrev). Verificando quaisquer inobservâncias ou descumprimento da Lei 9.717/1998, da Portaria MF 464/2018, da Portaria 509/2013, do art. 40 da Constituição Federal e das Emendas Constitucionais 20/1998, 41/2003, 47/2005 e 103/2019, o Ente federativo terá o CRP bloqueado, restando sua emissão condicionada ao cumprimento das exigências legais. 9.1 Critérios examinados para a emissão do CRP A Secretaria de Previdência verifica os critérios a seguir para emissão do referido documento. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 43 9.1.1 Encaminhamento da legislação à Sprev O Município deverá encaminhar à Sprev leis que disciplinem o estatuto, o regime jurídico do servidor público e o Regime Próprio de Previdência Social, com suas alterações e respectivos regulamentos, bem como o comprovante especificando a data de sua publicação na imprensa oficial ou de sua afixação no local competente, conforme o caso. As cópias dos originais da legislação e da publicação deverão ser autenticadas em cartório ou por servidor público devidamente identificado por nome, cargo e matrícula.18 A disponibilização da legislação para consulta em página na internet suprirá a necessidade de autenticação, dispensará apresentação e, caso conste expressamente no documento disponibilizado, a data de sua publicação ini- cial dispensará também o envio do comprovante de sua publicidade, deven- do, para tanto, o Município informar à Sprev o endereço eletrônico em que a legislação poderá ser acessada. O Ente federativo que não encaminhar à Sprev toda a legislação que regulamenta ou extingue o regime próprio não receberá o CRP. Nos casos de extinção, é obrigatório que isso ocorra por meio de lei, não se considerando extinto o regime próprio caso a lei local disponha apenas sobre a extinção da pessoa jurídica encarregada de gerenciar o regime, isto é, a unidade gestora. A lesiglação deverá ser encaminhada através do Sistema de Gestão de Consultas e Normas (Gescon-RPPS). 9.1.2 Avaliação atuarial inicial Além da legislação previdenciária, também é necessário que o Ente federado envie à Sprev a primeira avaliação atuarial realizada que definiu o custeio do regime. 9.1.3 Encaminhamento dos seguintes demonstrativos eletrônicos i) Demonstrativo de Resultado da Avaliação Atuarial (Draa). ii) Nota Técnica Atuarial (NTA). 18 Art. 5º, inc. XVI, da Portaria MPS 204/2008. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202444 iii) Demonstrativo de Informações Previdenciárias e Repasses (Dipr). iv) Demonstrativo das Aplicações e Investimentos dos Recursos (Dair). v) Demonstrativos contábeis. vi) Demonstrativo da Política de Investimentos (Dpin). O Draa deverá ser preenchido no site do MPS até o dia 31 de março de cada exercício. O Dipr deverá ser preenchido eletronicamente até o último dia do mês seguinte ao encerramento de cada bimestre do ano civil. Neste último deve- rão constar as assinaturas eletrônicas do prefeito municipal e do responsável pela unidade gestora do regime de previdência. Na impossibilidade de remessa eletrônica, o demonstrativo deverá ser remetido via postal. Os demonstrativos contábeis serão encaminhados até o último dia de cada mês, relativamente ao mês anterior, por meio do Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (Siconfi). O Demonstrativo da Política de Investimentos deverá ser entregue até 31 de dezembro de cada exercício, em relação ao exercício seguinte. 9.1.4 Caráter contributivo 9.1.4.1 Previsão legal Este critério é aferido por meio da análise da legislação previdenciária que contemple o custeio do regime para os servidores ativos, inativos, pensio- nistas e para o Ente federativo. Em outras palavras, as alíquotas de contribui- ção dos participantes do regime devem estar expressamente previstas em lei. 9.1.4.2 Repasse Verificação quanto ao efetivo repasse à unidade gestora do regime quan- to às alíquotas de contribuição definidas em lei. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 45 9.1.4.3 Retenção Retenção, pela unidade gestora do RPPS, dos valores devidos pelos se- gurados e pensionistas relativos aos benefícios e às remunerações cujo paga- mento esteja sob sua responsabilidade. 9.1.4.4 Parcelamentos de débitos Pagamentos à unidade gestora do RPPS dos valores relativos a débitos de contribuições parceladas. As contribuições legalmente instituídas não repas- sadas à unidade gestora até seu vencimento, depois de apuradas e confessadas, poderão ser objeto de acordo para pagamento parcelado em moeda corrente, de acordo com as regras estabelecidas em lei do Ente federativo, observando- -se regras de preservação do equilíbrio financeiro e atuarial do regime.19 Este critério visa ao cumprimento de eventuais parcelamentos de débitos celebra- dos entre o Ente federado e o RPPS. 9.1.5 Observância dos limites de contribuição do Ente, dos seguradose dos pensionistas A contribuição dos servidores ativos, inativos e pensionistas para a ma- nutenção do regime de previdência não poderá ser inferior a 14% da base de contribuição, e a alíquota patronal não poderá ser definida em valor inferior à contribuição dos servidores, nem superior ao dobro desta, ressalvada a ne- cessidade de cobertura de eventuais insuficiências financeiras do respectivo regime próprio decorrentes do pagamento de benefícios previdenciários.20 A contribuição sobre os proventos dos inativos e dos pensionistas inci- de sobre a parcela que excede o valor do benefício pago pelo RGPS ou quando ultrapassar o dobro desse limite quando o beneficiário for portador de doen- ça que o torne incapaz, nas mesmas alíquotas fixadas ao servidor em ativi- dade. Por exemplo, hoje o limite do valor do benefício pago pelo INSS é de R$ 6.101,06. Se o aposentado ou o pensionista receber provento ou pensão 19 Art. 36 da ON SPS 2/2009. 20 As alíquotas que definem o caráter contributivo do regime devem atender ao disposto no art. 149, § 1o, da CF, com o art. 4º da Lei 10.887/2004 e o art. 2º da Lei 9.717/1998. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202446 de R$ 7.000,00, deverá contribuir com o correspondente à alíquota de contri- buição dos servidores ativos, somente sobre a diferença entre R$ 6.101,06 e R$ 7.000,00, ou seja, sobre R$ 898,94 e, se tratar de aposentadoria por invali- dez decorrente de doença incapacitante, não incidirá nenhuma contribuição previdenciária (somente estarão obrigados a contribuir se o valor do benefí- cio for maior que duas vezes o valor do benefício concedido pelo INSS, ou seja, maior que R$ 12.202,12). 9.1.6 Equilíbrio financeiro e atuarial O equilíbrio financeiro é atingido quando o que se arrecada dos partici- pantes do regime previdenciário (Ente federativo e seus respectivos servido- res) é suficiente para pagar os benefícios assegurados por este sistema, sendo um conceito aplicado no curto prazo. Já o equilíbrio atuarial é uma visão de longo prazo e pressupõe que, ao longo dos anos futuros, geralmente em um período não inferior a 75 anos, as receitas de contribuição e os rendimentos das aplicações auferidas pelo RPPS, em conjunto com o patrimônio, financia- rão o pagamento de todos os benefícios aos atuais e futuros aposentados e pensionistas.21 As alíquotas definidas em lei devem ser necessárias para a cobertura do plano de benefícios, e a avaliação atuarial deve conter o plano de amortização ou a separação dos grupos de servidores para determinar o compromisso de cada servidor para manter o regime de previdência equilibrado, nos termos definidos na Portaria MF 464/2018. 9.1.7 Cobertura exclusiva a servidores efetivos Somente podem ser segurados do RPPS os servidores titulares de cargos efetivos e seus dependentes. Os servidores que ocupam exclusivamente os car- gos em comissão, também chamados de cargos de confiança, e os servidores temporários são segurados obrigatórios do RGPS. Nesta última categoria, estão incluídos aqueles que exercem os mandatos eletivos e ainda os contratados por tempo determinado em razão de excepcional interesse público. Podem 21 Emenda Constitucional 103, art. 9º, § 1º. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 47 excepcionalmente vincular-se ao RPPS os servidores estáveis não efetivos de que trata o art. 19 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). 9.1.8 Concessão de benefícios de acordo com a Lei 9.717/1998 e a Lei 10.887/2004 Conforme a recente alteração instituída pela Emenda Constitucional 103/2019, o RPPS somente poderá conceder benefícios de aposentadoria e pensão conforme abaixo relacionado: i) quanto ao servidor: a) aposentadoria por incapacidade permanente para o trabalho; b) aposentadoria compulsória; c) aposentadoria voluntária por idade e tempo de contribuição; d) aposentadoria voluntária por idade; e e) aposentadoria especial do professor; ii) quanto ao dependente: a) pensão por morte. São considerados benefícios previdenciários do RPPS os já menciona- dos, independentemente da fonte de custeio. A legislação estabelece ainda que os benefícios do RPPS não podem ser distintos dos benefícios do RGPS, e considera-se distinto o benefício que, apesar de possuir a mesma nomenclatura, tenha requisitos e critérios para sua concessão diversos do RGPS, inclusive quanto à definição de dependente. São considerados dependentes do servidor filiado ao Regime Próprio de Previdência Social, exclusivamente: i) o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido; ii) os pais; ou iii) o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-202448 Equipara-se a filho, mediante declaração escrita do servidor e desde que comprovada a dependência econômica, o enteado, o menor que esteja sob sua tutela e o menor sob guarda que não possuam bens suficientes para o próprio sustento e educação. Considera-se companheira ou companheiro a pessoa que mantenha união estável com o servidor ou servidora. Entende-se por união estável aquela verificada entre o homem e a mulher como entidade familiar, quando forem solteiros, separados judicialmente, divorciados ou viúvos, ou tenham prole em comum, enquanto não se separarem. O companheiro ou a companheira do mesmo sexo do servidor ou da servidora poderá integrar o rol dos dependentes desde que comprovada a união estável, concorrendo, para fins de pensão por morte e de auxílio-reclusão, com os dependentes previstos no item I. Os dependentes para fins de concessão do salário-família são os filhos ou equiparados até 14 anos de idade, salvo se inválidos. De forma geral, a perda da qualidade de dependente ocorre nas situações abaixo, podendo variar naqueles Municípios que fizerem a adaptação de sua legislação à Reforma da Previdência da União ou do respectivo Estado ou que estabelecerem regras diferentes de duração do benefício de pensão: i) para o cônjuge, pela separação judicial ou divórcio, enquanto não lhe for assegurada a prestação de alimentos, pela anulação do casa- mento, pelo óbito ou por sentença judicial transitada em julgado; ii) para a companheira ou companheiro, pela cessação da união está- vel com o servidor ou servidora, enquanto não lhe for garantida a prestação de alimentos; iii) para o filho e o irmão, de qualquer condição, ao completarem 21 anos de idade, salvo se inválidos, ou pela emancipação, ainda que inválido, exceto, neste caso, se a emancipação for decorrente de co- lação de grau científico em curso de ensino superior; iv) para os dependentes em geral: a) pela cessação da invalidez; ou b) pelo falecimento. Coleção Gestão Pública Municipal Novos Gestores 2021-2024 49 Será verificada ainda a forma de concessão, o cálculo ou o reajustamen- to de benefícios, não podendo a lei do Ente federativo conter previsões distin- tas daquelas previstas na Constituição Federal, nas emendas constitucionais que dispõem sobre matéria previdenciária e na legislação federal de regência. 9.1.9 Utilização de recursos previdenciários apenas para pagamento de benefícios Os recursos previdenciários somente poderão ser utilizados para o pagamento dos benefícios previdenciários previstos em lei, não podendo ser utilizados para conceder assistência médica e auxílio-financeiro de qualquer espécie. A exceção que se faz é quanto às despesas administrativas, observa- dos os limites estabelecidos na legislação específica.22 Entende-se por recursos previdenciários, entre outros, as contrbuições previdenciárias, os valores, os bens, os ativos e os direitos vinculados à Regime Próprio de Previdência Social. A proibição de assistência médica com recursos previdenciários inclui toda e qualquer previsão de prestação de assistência à saúde. A Lei 9.717 veda expressamente a prestação de assistência financeira com recursos previdenciários,