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HQ2 - Fascículo-06 FINAL

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Prévia do material em texto

Curso
quadr
inhos 
em sal
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de aul
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Tiras e
m
Quadr
inhos
Paulo 
Ramos
66
1. Começando a conversa...
Que atire a primeira ped
ra quem nunca leu 
uma tira de quadrinhos 
antes. Ela é tão popular 
que merece sempre um 
capítulo próprio na his-
tória da história em quad
rinhos. Muitos persona-
gens famosos surgiram n
elas: Fantasma, Tarzan, 
Mandrake, Recruta Zero, 
Snoopy, Garfi eld, Hagar, 
Calvin e Haroldo, entre t
antos outros que pode-
riam ser citados. No Brasi
l, vale registrar, Mônica e 
Cebolinha também fi zera
m suas estreias em tiras, 
lá no comecinho da décad
a de 1960, quando ain-
da eram publicadas em pr
eto e branco.
Por serem tão conhecidas
, não é de estranhar 
que sejam sempre utilizad
as em sala de aula e em 
materiais escolares. Quem
 já folheou algum livro 
didático do ensino funda
mental, em particular os 
de português e os de lín
guas estrangeiras, sabe 
bem do que estamos fala
ndo. Elas são muito co-
muns nas páginas desses 
materiais.
Um dos motivos dessa pre
dileção pelas tiras no 
meio escolar pode estar 
relacionado aos jornais. 
Foi lá que essas histórias 
circularam durante déca-
das, comportamento aind
a visto nos dias de hoje. 
Não é coincidência a prese
nça de muitas dessas sé-
ries impressas no ensino. C
omo muitos dos autores 
de materiais didáticos não
 são leitores habituais de 
revistas em quadrinhos, on
de encontrariam, então, 
produções assim para leva
rem à sala de aula? Nos 
periódicos jornalísticos, é
 claro. E agora também 
na internet. Afi nal, quantas
 e quantas tiras não são 
compartilhadas nas redes 
sociais diariamente? Elas 
são sempre um convite p
ara se tornarem tema de 
alguma discussão a ser le
vada aos alunos em sala 
de aula. Ainda mais porq
ue esse tema vem carre-
gado de humor, já que a 
maioria aborda os assun-
tos com uma boa dose de
 comicidade.
Mas essa é apenas a pont
a do iceberg. Há mui-
to mais a ser dito sobre e
las. Como tudo na vida, 
quanto mais se sabe a re
speito, mais efi cazes 
são as chances de um
a abordagem bem-
sucedida. Ainda mais se 
o foco é entender me-
lhor as tiras para poder pe
nsar em formas de como 
trabalhar melhor com elas
 no ensino. 
Vamos, então, aprender u
m pouco mais sobre 
o assunto?
Não esquecendo: você, qu
e ainda não se inscre-
veu em nosso curso, pode 
fazê-lo GRATUITAMENTE 
até junho. E não deixe 
de assistir às nossas vi-
deoaulas, radioaulas, web
conferências e consultar 
a biblioteca virtual, tudo n
o AVA:
lá no comecinho da décad
a de 1960, quando ain-
da eram publicadas em pr
eto e branco.
ava.fdr.org.br
8282
2. Os diferentes formatos
 das tiras
Indo direto ao ponto: a tira é um formato que 
pode ser moldado de diferentes modos. É impor-
tante que isso fi que claro para que se possa enten-
der melhor os vários exemplos delas que circulam 
nas páginas dos jornais e, principalmente, na in-
ternet, que modifi cou muito a maneira como elas 
vinham sendo produzidas no país até então. Mas, 
para compreender melhor essa história, é preciso 
dar uns passos para trás, retornando lá para o iní-
cio do século XX.
Os jornais do passado encontraram nos dese-
nhos de humor uma forma de compor muito bem 
as páginas da publicação. Como não havia ainda 
fotos, os periódicos dos séculos 18 e 19 mescla-
vam o noticiário com ilustrações chamadas à época 
de caricaturas. Elas eram produzidas em tama-
nhos diferentes. Umas maiores, equivalente a uma 
página completa, e outras menores. 
O número de quadros também era variável. A 
arte podia ser resumida numa cena só ou então 
ser dividida em várias, como as HQs fazem. Havia 
um limite, claro, que eram as dimensões físicas 
da página. Mas mesmo essa amarra poderia ser 
contornada.
No Brasil, um imigrante italiano chamado Angelo 
Agostini chegou a criar páginas duplas, como as 
que fez para a revista Vida Fluminense. Uma das his-
tórias, “As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de 
uma Viagem à Corte”, publicada em 30 de janeiro 
de 1869, foi usada como base para consagrar a data 
como o Dia do Quadrinho Nacional.
Angelo Agostini (1843-1910): um dos desenhistas 
de maior destaque da segunda metade do século XX 
no Brasil. Ele atuou em vários periódicos da época, 
primeiro nos de São Paulo e, depois, nos do Rio de 
Janeiro. O mais importante foi a Revista Illustrada, 
que teve papel de destaque nas discussões sobre o 
abolicionismo. Agostini é lembrado tanto como um 
dos pioneiros das histórias em quadrinhos no Brasil, 
quanto como um dos desbravadores da imprensa 
gráfi ca no país.
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abolicionismo. Agostini é lembrado tanto como um 
dos pioneiros das histórias em quadrinhos no Brasil, 
quanto como um dos desbravadores da imprensa 
gráfi ca no país.
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8383
para curiosospara curiosos
 No Ceará, desde
 2017, foi criado o D
ia Esta-
dual do Quadrinho 
no Ceará, sendo es
colhida 
a data de nascime
nto do quadrinista
 Luiz 
Sá: 28 de setembr
o. A Lei, além de pr
omover 
o nome desse prof
issional, chamar at
enção 
da sociedade para 
a produção dos qua
dri-
nhos no estado, ta
mbém estimula as 
es-
colas, em especial 
as públicas, a realiz
ar na 
data atividades co
m seus alunos. Saib
a mais 
sobre a lei em sua 
Biblioteca Virtual n
o AVA.
Eram histórias criadas par
a compor as páginas 
dos jornais da época, com
 moldes variados, a de-
pender da diagramação q
ue se pretendesse impri-
mir. Mesmo na virada par
a o século XX)), quando 
começaram a ser publicad
os suplementos específi -
cos para quadrinhos nos j
ornais norte-americanos, 
a variação de formatos pa
recia ser a regra, mesmo 
que alguns deles fossem p
róximos ao das tiras.
Isso mudou em 1907, q
uando o desenhista 
Bud Fisher (1885-1954) 
participou da inaugura-
ção de um novo modo de
 produção e distribuição 
das tiras nos Estados Un
idos. Ao criar a série A. 
Mutt, depois rebatizada d
e Mutt e Jeff, ele perce-
beu que poderia vender 
a mesma história a mais 
de um jornal, desde qu
e produzisse o material 
sempre no mesmo taman
ho. O formato escolhido 
foi o horizontal e retangul
ar. Pronto, estava cria-
do o tamanho fi xo da 
tira.
É bem verdade que aos do
mingos os autores ti-
nham um pouco mais de e
spaço para a criação das 
séries, porque havia mais 
páginas para a impressão 
dos quadrinhos. Mas, de 
segunda a sábado, o pa-
drão era o do formato 
fi xo. Esse modelo deu 
tão certo que, já na déca
da seguinte, havia uma 
explosão de séries e perso
nagens povoando as pá-
ginas dos diários norte-am
ericanos. 
Não demorou para que 
esse modelo de pro-
dução fosse exportado. 
No Brasil, sabe-se que, 
no início da década de 19
30, os jornais já traziam 
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Maurício de Sousa (1935): na
scido em 
Santa Isabel, cidade próx
ima de São Paulo,
se tornou quase um sinôn
imo de histórias em 
quadrinhos infantis no Br
asil. Seus primeiros 
personagens foram publi
cados na forma de 
tiras em jornais do grupo
 da Folha de S. Paulo 
a partir de 1959. Rapidam
ente, conseguiu fi xar 
suas séries em vários outr
os jornais. Desde 
o começo da década de 1
970, conseguiu 
bastante popularidade co
m suas revistas em 
quadrinhos, tendo Mônica
 e Cebolinha como 
carros-chefe.
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páginas dedicadas às tira
s e, nos anos seguintes, 
esse número só viria a a
umentar. Em 1964, por 
exemplo, O Globo, do Rio
 de Janeiro, publicava 18 
séries, todas estrangeiras
. A Folha de S.Paulo so-
mava a mesma quantidad
e de histórias nesse ano, 
mas já trazia cinco criada
s no país, a maioria por 
Maurício de Sousa (ele fazia as 
tiras de“Bidu 
e Franjinha”, “Cebolinha”
 e “Raposão”).
Aos poucos, mais e mais
 séries e autores na-
cionais passaram a ocupa
r espaço nas páginas dos 
jornais brasileiros. Neste s
éculo, sabe-se que já há 
mais jornais com produçã
o de desenhistas brasilei-
ros do que com conteúdo
 estrangeiro. O lado ruim 
é que há no país menos t
iras do que antigamente. 
Nesse sentido, a interne
t apresentou uma 
alternativa para a circula
ção das histórias.
Inicialmente, as páginas v
irtuais tendiam a re-
produzir o mesmo forma
to de tiras adotado nos 
jornais, ou seja, horizo
ntal e retangular. 
Quando os autores perc
eberam que os ambien-
tes digitais não traziam a
s mesmas restrições de 
espaço dos diários, passa
ram a:
a) ampliar os for
matos, criando narrativas 
qua-
dradas ou então com o ta
manho equivalente 
ao de duas, três ou até m
ais tiras; 
b) alternar o uso
 dos formatos, conforme 
o ta-
manho da história.
Dizer que essas mudança
s de formato foram 
iniciadas na internet seria
 um equívoco. Ainda no 
século passado as revistas
 em quadrinhos infantis, 
comuns nas bancas de rev
istas e jornais, tornaram 
tradicional a presença da 
tira, mostrada na ver-
tical, nas páginas fi nais,
 dividindo espaço com 
os créditos da publicação
. Algumas coletâneas de 
tiras, vendidas em banca
s, também adaptavam o 8585
molde da história para adequar melhor a produção 
ao novo suporte editorial. Mas não se discute que 
as mídias digitais tornaram ainda mais maleáveis 
esses recursos.
Daí, você pode perguntar: mesmo com es-
ses moldes diferentes, ainda podemos dizer que 
essas produções continuam sendo tiras? Vamos 
pensar juntos. Na internet, os autores também 
as denominam de tiras. Os leitores, pelo que 
se vê nos comentários deixados nas redes sociais, 
tendem a enxergar aquele conteúdo da mesma 
forma. Ou seja, a percepção é a de que, embora 
estejam em diferentes moldes, aquelas histórias 
continuam, sim, sendo tiras. 
Essa nova forma de olhar para elas ajuda a en-
tender e a explicar porque as muitas das tiras utili-
zadas nos livros didáticos e em exames como os do 
Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) apresen-
tam tamanhos tão variados uns dos outros. Não ra-
ras vezes, é para adequar a história à diagramação 
da página (em vez de aparecer na horizontal, os 
editores optam por apresentar a história na ver-
tical, por exemplo). Mas há também aquelas que 
foram criadas com essas dimensões diferentes. Na 
internet, são fáceis de encontrar.
Com os alunos, essas características dos for-
matos podem gerar uma boa discussão. Quais 
eles mais conhecem ou de quais são mais fami-
liares? Onde viram essas produções? Se tivessem 
de desenhar uma tira, qual molde usariam para 
criar a história? Quais motivos levaram o estudan-
te a fazer essa escolha? Note que não há respos-
tas prontas, mas construídas na interação 
com os alunos.
Colocado tudo isso, podemos entender melhor 
por que as tiras são um formato criado em dife-
rentes tamanhos. A questão é o que se faz den-
tro dessas dimensões variadas, que tipo de história 
se cria ali. Talvez cause estranheza dizer isto nos 
dias de hoje, em que as tiras são quase sinônimas 
de humor, mas nem todas são de cunho cômico. 
Houve até uma época no país em que estas eram 
a minoria, sabia?
Tira horizontal com agrupamentos - Liz, de Daniel Brandão
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Tiras ou “tirinhas”?: sim, “tirinhas” é a outra 
forma como são chamadas as tiras, entretanto, 
preferimos evitar essa denominação por trazer uma 
conotação pejorativa à produção.
8686
Liz, de Daniel Brandão
3. Identificando os Gêneros
de tiras
Basta olhar as seções de tiras dos jornais – pelo 
menos dos que ainda publicam quadrinhos – ou 
então navegar pela internet para perceber que a 
grande maioria delas traz situações hu-
morísticas. Em geral, essas produções se parecem 
muito com as piadas. Isso porque ambas criam uma 
narrativa para, no fi nal, revelar um desfecho ines-
perado. É essa situação imprevista, inusitada, sur-
real até, que costuma dar graça à história. Quando 
isso ocorre, costuma-se dizer que se trata de uma 
tira cômica. Ela pode vir com personagem fi xo, 
que dá título à série e aparece quase sempre, ou en-
tão eventualmente, alguém criado especifi camente 
para aquela história (recurso que tem sido muito 
comum na produção brasileira atual), mas há sem-
pre o cuidado em criar a piada ao fi nal.
De tão comum que ela é, já virou até sinônimo 
de tira. Integram esse gênero muitas séries famo-
sas. Como exemplos, os estadunidenses Recruta 
Zero, Charlie Brown e Snoopy, Hagar, o Horrível, e, 
claro, a não menos popular, inclusive em materiais 
didáticos, Mafalda, criada pelo argentino Quino.
No Brasil, também há fartura de exemplos. 
Além de Maurício de Sousa, já citado anterior-
mente, existem as criações de Angeli para a série 
Chiclete com Banana (com diversos personagens, 
como Rê Bordosa, Bob Cuspe, Os Skrotinhos, 
entre tantos outros), Glauco (Geraldão, Casal 
Neuras), Fernando Gonsales (Níquel Náusea), 
A. Silvério (Urbano, o aposentado), Iotti 
(Radicci), para citarmos alguns. E isso só entre os 
publicados em jornais. Se olharmos para os sites 
e redes sociais, temos outra leva de séries e au-
tores. Algumas: Um Sábado Qualquer, de Carlos 
Ruas; Will Tirando, de Will Leite; Depósito do 
Wes, de Wesley Samp; Mentirinhas, de Fábio 
Coala; Tiras Não!, de Thales Gaspari; Ryotiras, 
de Ricardo Tokumoto. 8787
para curiosospara curiosos
 Urbano, o aposentado,
 personagem da série 
de Antônio Silvério, nasce
u durante uma aula 
de sociologia no curso de
 Ciências Sociais na 
Faculdade de Filosofia Sa
nta Doroteia, em 
1982. A. Silvério é profess
or e orientador no 
curso de animação do Nú
cleo de Tecnologia 
Educacional (NTE), que te
m como objetivo 
apresentar aos professo
res o potencial 
educacional da linguagem
 da animação e 
possibilitar sua utilizaçã
o em sala de aula. 
Durante o curso, são ex
ibidos filmes sele-
cionados para debate. A
través da manipu-
lação e confecção de dis
positivos ópticos, 
os professores conhece
m a história da 
animação e têm aulas pr
áticas para a pro-
dução de pequenos filme
s animados em 
diferentes técnicas.
Há também as que transitam entre a inter-
net e os jornais. São casos em que os autores 
publicam nos jornais e, depois, levam os traba-
lhos para seu site ou rede social ou então per-
correm o caminho contrário. Ou seja, iniciaram 
Urbano, o
 aposenta
do, de A. S
ilvério
na internet e conseguiram espaço no impresso. 
Malvados, de André Dahmer, Armandinho, 
de Alexandre Beck, e Bichinhos de Jardim, de 
Clara Gomes, são três bons exemplos contem-
porâneos de produções assim.
diferentes técnicas.
8888
SAIBA MAISSAIBA MAIS
Armandinho: tirasarmandinho.tumblr.com/
Bichinhos de Jardim: bichinhosdejardim.com/Depósito do Wes: oslevadosdabreca.com/
Mentirinhas: mentirinhas.com.br/
Ryotiras: facebook.com/ryotiras/
Tiras, Não!: tirasnao.blogspot.com.br/
Última Quimera: ultimaquimera.com.br/
Um Sábado Qualquer: umsabadoqualquer.com/Will Tirando: willtirando.com.br/
Magias e Barbaridades: magiasebarbaridades.com.br/
Apesar da popularidade e difusão, é preciso 
esclarecer que a tira cômica não é o único 
gênero existente. Há outros, como as tiras seria-
das, as tiras cômicas seriadas e o que temos 
chamado de tiras livres. Vamos ver uma a uma.
As tiras seriadas (ou de aventura, forma 
sinônima) eram muito comuns em décadas passa-
das. No Brasil, elas predominaram nos jornais por 
um grande período de tempo. A proposta era criar 
histórias em capítulos, apresentando ao leitor um 
episódio por dia. Na prática, funcionava como uma 
novela de TV ou algum dos vários seriados norte-a-
mericanos exibidos atualmente. Além de construir 
uma narrativa maior, ajudava a fi sgar a atenção de 
quem acompanhava a série.
Por conta dessa peculiaridade, a de serem se-
riadas, e por terem temas relacionados à aven-
tura, receberam esse nome. Muitos dos heróis 
queganharam fama no imaginário cultural do sé-
culo XX tiveram início em tiras assim: Fantasma, 
Mandrake, Flash Gordon, Tarzan, Buck Rogers, 
Dick Tracy, entre outros. Algumas dessas séries 
são produzidas ainda hoje, embora mais restritas 
aos jornais norte-americanos (elas perderam mui-
to espaço para as tiras cômicas).
É possível ainda haver uma mescla entre os dois 
gêneros. Há algumas histórias que são criadas de 
forma seriada, porém, ao fi nal de cada capítulo 
trazem uma piada. Seriam, então, tiras cômicas 
seriadas. Algumas das sequências narrativas de 
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Calvin e Haroldo, de Bill Watterson, costumam 
ser construídas dessa maneira (como as várias ve-
zes em que os pais contratam uma babá para ser 
infernizada pelo garoto).
O Brasil teve algumas tiras cômicas seriadas bem 
famosas. O detetive Ed Mort, de Luis Fernando 
Verissimo e Miguel Paiva, teve bom destaque 
nas páginas de jornais. Mais recentemente, o de-
senhista Fabio Ciccone criou a série Magias e 
Barbaridades, com essas características, para a in-
ternet. Ambas chegaram a ganhar coletâneas na 
forma de livros.
Um quarto gênero que poderia ser citado é o 
que temos optado por chamar de tiras livres. 
São produções cuja marca é justamente não ter 
um rigor, uma rigidez no uso de elementos nar-
rativos na composição da história. Nem narrativa 
precisa ser. Esses casos se parecem mais com expe-
rimentações gráfi cas ou com produções literárias, 
como os poemas e os microcontos. 
Laerte, que criou os Piratas do Tietê, envere-
dou por esse caminho em meados da primeira dé-
cada deste século no espaço diário que mantinha 
(e que ainda mantém) na Folha de S. Paulo. Fez 
escola. Não demorou para que outros autores, al-
guns deles colegas de página no diário paulista, se-
guissem o mesmo rumo. As tiras de Rafael Sica 
(Ordinário) e algumas produções de Orlandeli 
(SIC) e José Aguiar (Quadrinhofi lia) podem ser 
citadas como exemplos de tiras livres. 
Magias e 
Barbarida
des, de Fa
bio Ciccon
e
Cabe destacar que o fato de citarmos séries 
aqui não signifi ca que elas possam ser au-
tomaticamente transpostas para a sala de 
aula. Não! É necessário sempre que o professor 
ou o responsável pelo material didático faça uma 
leitura prévia da história para verifi car se ela está 
adequada ao que pretende e também à faixa etária 
do estudante. Embora um tanto óbvios, são cui-
dados essenciais que devem ser tomados. 
Falaremos deles a seguir. 
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Ra
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9090
Os professores de literatura sabem há muito 
tempo que há a necessidade de se ter repertório 
de leitura para poder trabalhar bem os romances, 
contos e poemas em sala de aula. Dessa forma, 
com o domínio de um volume grande e diversi-
fi cado de obras, fi ca mais fácil adequar temas e 
conteúdos à realidade dos estudantes e do pro-
grama a ser desenvolvido na escola, de forma in-
terdisciplinar ou não.
O mesmo deve (ou deveria) ocorrer com as his-
tórias em quadrinhos, independentemente da ma-
téria a ser ministrada e do nível de escolaridade 
do aluno (fundamental I e II, ensino médio, EJA, 
4. Leia e selecione bem
as tiras
universidade). Mas não é o que acontece. O co-
mum, muitas vezes, é usar com os estudantes a 
primeira tira que aparece no Google, seja ela qual 
for, ou mesmo utilizar aquelas mais corriqueiras 
e facilmente encontradas nas bancas de revistas. 
Entretanto, o risco disso é trabalhar com algo que 
não atenda exatamente ao que se preten-
de ou mesmo que seja inapropriado à faixa 
etária do estudante.
do aluno (fundamental I e II, ensino médio, EJA, 
9191
Sabe-se de casos de tiras criadas para leitores 
adultos (a maioria, aliás) que foram levadas até 
alunos mais jovens. Alguns chegaram a ser no-
ticiados pela imprensa com ares de escândalo. O 
ponto importante a ser destacado é que a história 
não saiu sozinha do local onde foi veiculada (jor-
nal, site ou outro meio) até as mãos dos estudan-
tes. Esse processo foi mediado por alguém. Esse 
“alguém” precisaria ter maior cuidado e atenção 
na seleção desse material, o que provavelmente 
não aconteceu.
Costumamos dizer que tudo (ou pelo menos 
quase tudo) pode ser ensinado com o au-
xílio dos quadrinhos. Isso vale também para 
as tiras. A questão é ter clareza na proposta 
e usar a história certa. O problema é justa-
mente esse: como saber qual a melhor narrati-
va? É aí que volta a necessidade do repertório. A 
familiaridade com diferentes conteúdos irá faci-
litar na hora da seleção.
Tomemos como exemplo a situação das pes-
soas portadoras de alguma defi ciência, um dos 
temas transversais a serem trabalhados no ensino 
básico, de preferência de forma tanto inter quan-
to transdisciplinar. O desenhista baiano Luis 
Augusto trabalhou muito bem o tema em Fala, 
Menino, série em que alguns dos personagens 
apresentam características assim. Nela, o prota-
gonista, Lucas, é um menino de quase dez anos, 
mudo, mas que ouve muito bem, inclusive as in-
coerências ditas pelos adultos. Outro personagem 
é Caio, cadeirante, um garoto com inteligência su-
perior à idade que tem. Também temos Rafael, que 
é cego. Outros integrantes da turma representam 
também algumas vítimas da sociedade, como o 
Diogo, um jovem morador de rua e pedinte.
 O Fala, Menino! foi cria
do em 1996 pelo 
cartunista Luis Augusto 
(1972-2018) e 
publicado em livros e jorn
ais, chegando 
a ter uma animação exib
ida na TV. Nele, 
eram discutidos temas c
omo preconceito, 
diferenças e responsabil
idade social. Fala, 
Menino! As tiras em quadr
inhos é uma co-
letânea lançada pela edit
ora Manole em 
2010 e ainda em catálogo
.
Fala Menin
o!, de Luis 
Augusto
para curiosos
9292
As tiras da série podem fazer parte de diferen-
tes ações a serem realizadas com os alunos. O que 
os personagens representam? Algum dos estu-
dantes conhece alguém com essas características? 
Como essas pessoas são tratadas socialmente? 
Qual a posição da escola sobre o tema? Que atitu-
des inclusivas poderiam ser pensadas? A depender 
do projeto que se crie, pode-se envolver toda a es-
cola de modo integrado.
Outro cuidado a ser tomado é o de contex-
tualizar a tira selecionada. Assim como se faz 
com reportagens e trechos de obras literárias, é 
necessário indicar quem é o autor da história e o 
nome da série; identifi car o período em que foi 
criado e os personagens; dizer de onde aquele 
material foi extraído: se de jornal (qual?) ou de 
site (qual?) etc. Esses dados ajudam o aluno a si-
tuar o texto. Sim, a tira é um texto que mescla 
elementos visuais com verbais escritos. Daí, por 
consequência, esses dados também preparam o 
caminho para a leitura da narrativa.
E por falar em leitura, ela não pode estar dis-
sociada da compreensão do conteúdo. Parece algo 
até redundante de dizer, mas é dessa forma, de 
texto em texto, de leitura em leitura, que vai se 
aprimorando o processo de construção de senti-
do(s). É algo muitas vezes relegado a segundo 
plano, em detrimento de se trabalhar aspectos 
específi cos das histórias (qual o sujeito da oração 
dita pelo personagem, por exemplo). Texto pres-
supõe leitura que, por sua vez, implica com-
preensão. Sempre. Inclusive com tiras.
Há poucos dados sobre como os estudantes 
compreendem as tiras. Mas, do pouco que há, os 
indicadores não são muito animadores. Percebe-se 
que há uma difi culdade na articulação en-
tre imagem e palavra e, num segundo mo-
mento, na identifi cação do humor presente na 
história, no caso das tiras cômicas. E é algo difícil 
mesmo. Entender uma piada é muito diferente de 
explicar a graça dela.
Os FitoManos, de Raymundo Netto
Jeanzinho, de Jean O
kada
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Outra difi culdade para co
mpreender as tiras é 
o fato de elas serem his
tórias curtas. Se, por 
um lado, isso ajuda muit
o na hora de preparar o 
material para ser levado a
o aluno – são menos có-
pias a serem tiradas, apre
sentam uma leitura mais 
rápida etc. –, por outro,d
emandam um volume 
muito maior de assoc
iações com elementos 
externos à história, justam
ente por ela ser curta.
Vejamos um caso: as ti
ras de Mafalda, tão 
comuns nos materiais did
áticos brasileiros. Saber 
que a personagem é q
uestionadora, adora os 
Beatles e acredita que a
 televisão manipula são 
elementos que ajudam a 
entender melhor a histó-
ria. Só que muitas das n
arrativas trabalham com 
a premissa de que o leito
r já domine esses dados. 
Ter ciência da época da pr
imeira publicação das ti-
ras – décadas de 1960 e 
70, na Argentina – pode 
fornecer outros elemento
s importantes para des-
vendar trechos pensados
 pelo autor, Quino.
Uma vez mais, vale bater
 na tecla da necessi-
dade de articular a leitur
a com a compreen-
são. É um exercício co
nstante, mas que, se 
estimulado, torna-se cada
 vez mais automático e, 
se bem trabalhado, pode
 conduzir a leitores bas-
tante críticos. Temas para
 isso as tiras têm de so-
bra. Inclusive bem atuais
. O repertório sobre elas 
– e a sua leitura prévia – 
irá revelar as que melhor 
irão se enquadrar no que
 pretende. 
Embora se possa fazer mu
ito com elas, as tiras 
não irão resolver todos os
 problemas relacionados 
ao ensino. Nem elas, ne
m os quadrinhos como 
um todo. Essas tarefas a
inda estão nas mãos de 
quem conduz o processo 
de ensino-aprendizagem 
no país, que passa tanto
 pelos professores quan-
to pelas autoridades e re
sponsáveis por materiais 
didáticos. O ponto é sab
er o que fazer com esse 
material. Pode-se fazer m
uito, desde que seja com 
inteligência, criatividade e
, claro, uma boa dose de 
bom-senso. É só querer. V
ocê quer?
 
Quino, ou melhor, Joaquim 
Salvador Lavado (1932): é 
um cartunista argentino, 
o pai da 
Mafalda, a menina que c
onquistou o 
mundo – embora tenha s
ido criada 
para protagonizar uma ca
mpanha 
de publicidade da marca 
de 
eletrodomésticos Mansfi e
ld –, inclusive a 
Unicef, que, em 1977, so
licitou ao artista 
que as suas tiras ilustrass
em a Edição 
Internacional da Campan
ha Mundial de 
Declaração dos Direitos d
a Criança.
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Paulo Ramos (Autor)
é jornalista e professor do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal 
de São Paulo, onde coordena o Grupo de Pesquisa sobre Quadrinhos (Grupesq). Integra o Observatório de Histórias 
em Quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e é um dos organizadores das 
Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos. É autor de vários livros e artigos sobre tiras.
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RealizaçãoApoio
CRISTIANO LOPEZ (Ilustrador)
é desenhista, Ilustrador e quadrinista. É desenhista-projetista do Núcleo de Ensino a Distância da Universidade de Fortaleza 
e ilustrador e chargista freelancer para o jornal Agrovalor, revista Ponto Empresarial (Sescap-CE) e Editora do Brasil.
978-85-7529-859-6 (volume 6)
Os FitoManos, de Raymundo Netto

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