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APOSTILA_SOCIOLOGIA_2008

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FUNDAMENTOS SOC IO LÓG I COS 
DA ADM IN I S TRAÇÃO 
 
 
Vania Mart ins dos Santos 
 
 
 
Ma te r i a l d i dá t i co pa ra a d i s c i p l i na 
Fundamentos Soc i o l óg i cos da Admin i s t r ação 
dos cu rsos de Admin i s t r ação e Sec re ta r i ado 
Execu t i vo da UNIGRANRIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
Duque de Cax i a s 
2008
S UMÁ R I O 
 
CAPÍTULO 01: A SOCIOLOGIA E A ADMINISTRAÇÃO, p. 01 
1.1 A NOVA REALIDADE DO ADMINISTRADOR, p. 02 
1.2 O PONTO DE VISTA DA SOCIOLOGIA, p. 03 
1.3 A SOCIOLOGIA APLICADA À ADMINISTRAÇÃO, p. 04 
1.4 CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA DA SOCIEDADE PARA A ADMINISTRAÇÃO, p. 
06 
 
CAPÍTULO 02: A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A TRANSFORMAÇÃO DA 
SOCIEDADE, p. 09 
2.1 AS TRANSFORMAÇÕES DO SÉCULO XIX, p. 09 
2.2 A ORGANIZAÇÃO FEUDAL, p. 10 
2.3 MUDANÇAS NO CAMPO, p. 11 
2.4 A DECADÊNCIA DAS ATIVIDADES ARTESANAIS, p. 12 
2.4.1 O declínio das corporações artesanais, p. 14 
2.5 OS CONFLITOS IDEOLÓGICOS E SOCIAIS, p. 16 
2.6 O SURGIMENTO DA GERÊNCIA, p. 20 
2.7 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: PROGRESSO HUMANO OU PROBLEMAS SOCIAIS? , 
p.22 
2.7.1 As críticas à sociedade industrial, p. 24 
 
CAPÍTULO 03: INDUSTRIALIZAÇÃO: O CASO BRASILEIRO, p. 28 
3.1 A FORMAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA BRASILEIRA, p. 28 
3.2 TRADIÇÃO E MODERNIDADE NO BRASIL AGRÁRIO, p. 29 
3.3 ORIGENS DA INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA, p. 31 
3.4 EMPRESÁRIOS E ADMINISTRADORES NO BRASIL, p. 33 
 
CAPÍTULO 04: A SOCIEDADE MODERNA SEGUNDO OS CLÁSSICOS, p. 39 
4.1 A DIVERSIDADE DA ABORDAGEM SOCIOLÓGICA, p. 39 
4.2 EMILE DURKHEIM E AS BASES DA SOCIOLOGIA, p. 40 
4.2.1 A análise sociológica do suicídio, p. 41 
4.2.2 A solidariedade na sociedade industrial, p. 42 
4.3 KARL MARX E A CRÍTICA AO CAPITALISMO, p. 44 
4.3.1 A alienação do trabalhador no capitalismo, p. 45 
4.3.2 As contradições do capitalismo e a revolução operária, p. 46 
4.4 MAX WEBER E A TEORIA DA AÇÃO SOCIAL, p. 47 
4.4.1 O surgimento do capitalismo segundo Weber, p. 49 
 
CAPÍTULO 05: SOCIALIZAÇÃO E INTEGRAÇÃO SOCIAL, p. 52 
5.1 O APRENDIZADO SOCIAL DO SER HUMANO, p. 52 
5.2 OS PROCESSOS DE SOCIALIZAÇÃO, p. 53 
5.3 SOCIALIZAÇÃO ORGANIZACIONAL, p. 54 
5.3.1 Estratégias de socialização organizacional, p. 56 
5.4 SOCIALIZAÇÃO E REPRODUÇÃO SOCIAL, p. 58 
 
CAPÍTULO 06: A CULTURA, p. 62 
6.1 CULTURA E SOCIEDADE, p.62 
6.2 NATUREZA, CULTURA E SOCIALIZAÇÃO, p. 62 
6.3 CULTURA E DIVERSIDADE, p. 64 
6.3.1 Etnocentrismo e relativismo cultural, p. 65 
6.3.2 Subculturas e contraculturas, p. 66 
6.4 AS ORGANIZAÇÕES E A CULTURA, p. 67 
6.4.1 Cultura organizacional e cultura nacional, p. 69 
6.5 A CULTURA ORGANIZACIONAL NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO, p. 72 
6.5.1 Cultura e comportamento do consumidor, p. 73 
6.6 A CULTURA ORGANIZACIONAL NA PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA, p. 74 
 
CAPÍTULO 07: AGRUPAMENTOS SOCIAIS, p. 79 
7.1 GRUPOS E AGREGADOS SOCIAIS, p. 79 
7.2 DINÂMICA SOCIAL DOS GRUPOS, p. 80 
Vania Martins dos Santos 
7.3 ESTRUTURA DOS GRUPOS, p. 82 
7.4 GRUPOS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS, p. 83 
7.5 A ATUAÇÃO DOS GRUPOS NA ORGANIZAÇÃO, p. 84 
7.5.1 A Experiência de Hawthorne, p. 85 
7.5.2 Conclusões da Experiência de Hawthorne, p. 86 
7.5.3 Organização informal, p. 87 
7.6 A CRÍTICA SOCIAL À ESCOLA DE RELAÇÕES HUMANAS, p. 89 
 
CAPÍTULO 08: ORGANIZAÇÕES FORMAIS, p. 92 
8.1 A SOCIEDADE DAS ORGANIZAÇÕES, p. 92 
8.2 O PROBLEMA DA ORDEM NAS ORGANIZAÇÕES, p. 93 
8.2.1 Múltiplos grupos e interesses, p. 94 
8.2.2 Por que existe a ordem nas organizações? , p. 95 
8.3 ORGANIZAÇÕES E BUROCRACIA, 96 
8.3.1 Características e vantagens da burocracia, p. 97 
8.3.2 Críticas à burocracia, p. 98 
8.3.3 A aplicabilidade do modelo burocrático, p. 100 
8.3.4 As transformações do modelo burocrático, p. 102 
 
CAPÍTULO 09: A ESTRUTURA DA SOCIEDADE, p. 106 
9.1 STATUS E PAPÉIS SOCIAIS, 106 
9.1.1 O conflito de papéis, p. 107 
9.1.2 Negociação e determinação de papéis, p. 109 
9.1.3 Status, rótulos e identidades sociais, p. 110 
9.2 A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL, p. 111 
9.2.1 Teorias de estratificação social, p. 111 
9.2.2 Estratificação por castas sociais, p. 113 
9.2.3 A estratificação por classes, p. 114 
9.3 ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO, p. 115 
9.3.1 Gênero e raça como fatores de estratificação no Brasil, p. 116 
 
CAPÍTULO 10: PODER SOCIAL, p. 121 
10.1 O FENÔMENO DO PODER, p. 121 
10.2 PODER E AUTORIDADE, p. 123 
10.2.1 Tipologia da autoridade de weber, p. 124 
10.3 LIDERANÇA, p. 126 
10.4 ORGANIZAÇÕES E PODER, p. 128 
 
CAPÍTULO 11: EMPRESAS, ESTADO E SOCIEDADE CIVIL, p. 132 
11.1 EMPRESAS E SOCIEDADE, p. 132 
11.2 O ESTADO NACIONAL NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO, p. 133 
11.3 SOCIEDADE CIVIL E MOVIMENTOS SOCIAIS, p. 136 
11.4 EMPRESAS, MEIO AMBIENTE E RELAÇÕES INTERNACIONAIS, p. 138 
11.4.1 Gestão ambiental, p. 139 
11.5 CONSUMO E MEIO AMBIENTE, p. 141 
11.6 MOVIMENTOS DE CONSUMIDORES, p. 143 
 
CAPÍTULO 12: ORDEM SOCIAL E MUDANÇA SOCIAL, p. 147 
12.1 O PROBLEMA DA ORDEM, p. 147 
12.1.1 controle social e ordem social, p. 147 
12.1.2 A eficácia das instituições , p. 149 
12.1.3 A legitimação da ordem, p. 149 
12.2 COMPORTAMENTO DESVIANTE, p. 151 
12.2.1 O Desvio como produto da sociedade, p. 153 
12.2.2 Desvio e mudança social, p. 154 
12.3 MUDANÇA SOCIAL, p. 155 
12.3.1 Fatores da mudança social, p. 155 
12.3.2 Atitudes individuais e mudança social, p. 157 
12.4 MOVIMENTOS SOCIAIS, p. 159 
12.4.1 Os novos movimentos sociais, p. 161 
 
Vania Martins dos Santos 
 CAP 13 - GLOBALIZAÇÃO: UM MUNDO DE RISCOS E OPORTUNIDADES, p. 
167 
13.1 A SOCIEDADE GLOBAL, p. 167 
13.2 IMPACTOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS , p. 169 
13.3 FORDISMO E TAYLORISMO: AS BASES DA PRODUÇÃO EM MASSA, p. 172 
13.3.1 As inovações do taylorismo, p. 174 
13.4 DO FORDISMO À PRODUÇÃO FLEXÍVEL, p. 175 
13.4.1 Toyotismo, p. 176 
13.4.2 A especialização flexível, p. 178 
13.5 O PROBLEMA DO EMPREGO, p. 180 
13.5.1 A valorização do capital humano: promessa ou prática nas 
organizações?, p. 180 
13.6 EFEITOS SOCIAIS DO PÓS-FORDISMO, p. 184 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vania Martins dos Santos 
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 01 
CAPÍTULO 01: A SOCIOLOGIA E A ADMINISTRAÇÃO 
 
1.1 A NOVA REALIDADE DO ADMINISTRADOR 
 
Acreditamos que, para um administrador, as principais 
contribuições trazidas pela sociologia devem ser compreendidas à 
luz das intensas transformações que atingem o ambiente 
empresarial. Estas transformações têm estimulado os 
profissionais da gestão a procurar conhecimentos provenientes 
das ciências humanas, em busca de uma melhor compreensão 
sobre um fator que, no bojo destas mudanças, vem adquirindo 
relevância cada vez mais significativa nas organizações: o fator 
humano. 
O campo da administração encontra-se no começo deste 
século marcado pela percepção dos impactos das mudanças 
geradas pelo processo de globalização sobre a teoria e a prática 
dos negócios. Existe hoje um discurso bastante consensual entre 
os que vivem no mundo corporativo de que o atual contexto, 
marcado pela rapidez das mudanças e pelo acirramento da 
competição, guarda poucas semelhanças com o contexto de 
relativa estabilidade dos mercados restritos em meados do 
século passado. 
De acordo com esta perspectiva, tudo mudou no cotidiano 
das empresas: o trabalho centra-se em atividades criativas e não 
mais rotineiras; é realizado através de equipes, ao invés de 
ações isoladas; é orientado por líderes que substituem atitudes 
autoritárias pela delegação de poderes e responsabilidades aos 
colaboradores e, finalmente, requisita cada vez mais profissionais 
flexíveis, inovadores e capazes de enxergar a organização como 
um todo. Tudo pela satisfação do cliente, que agora constitui o 
principal foco das estratégias das empresas. 
É claro que estamos falando de processos que não se 
desenvolvem da mesma maneira em todas as empresas. Talvez 
o leitor, observando a própria organização na qual trabalha, note 
a ausênciade algumas destas características. Teremos 
oportunidade de abordar os diferentes contextos nos quais se 
dão as referidas mudanças. O que nos interessa, por ora, é que a 
discussão destes fatores de mudança coloca diretamente no 
centro das atenções o que esteve por um bom tempo relegado a 
segundo plano nas organizações: as pessoas. Afinal, não se pode 
falar em criação, inovação, capital intelectual, trabalho em 
equipe, responsabilidade, flexibilidade e satisfação do cliente sem 
falar em sua grande força geradora, as pessoas. 
Nunca a administração discutiu tanto o papel das pessoas 
no desempenho das empresas, a ponto de ter se tornado comum 
nos dias atuais a idéia de que o fator humano é o fator crítico de 
sucesso das organizações. Hoje, as empresas em maior sintonia 
com as tendências modernas de gestão não chamam mais seus 
integrantes de “empregados” e sim de “colaboradores”, 
atribuindo peso significativo ao valor que estes podem agregar à 
 1 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 01 
organização. Parte significativa das teorias de recursos humanos 
hoje se dedica a estudar as maneiras mais eficientes de atrair e 
reter talentos na organização, acreditando extrair daí uma fonte 
poderosa de vantagem competitiva. 
Outro indicador do novo status das pessoas em relação às 
organizações é dado pela crescente importância dos 
consumidores na sociedade. As empresas que ambicionam 
vencer em mercados altamente competitivos, inevitavelmente 
incorporam a lei: os clientes são sua razão de ser. A expressão 
“o cliente é rei” se popularizou rapidamente no mundo 
corporativo, indicando um direcionamento de recursos e de 
estratégias organizacionais para a identificação dos desejos, 
gostos e necessidades dos consumidores, e a conseqüente oferta 
de produtos e serviços mais adequados a estes. Como podemos 
observar, este não é mais o mundo no qual os “clientes podem 
comprar carros Ford de qualquer cor, desde que sejam pretos”, 
como afirmara o presidente desta companhia no século passado. 
Nem mesmo aqueles que, ao menos aparentemente, não 
se encontram diretamente ligados às empresas são 
desconsiderados neste novo enfoque caracterizado pela 
centralidade do fator humano. As pessoas que não compram da 
empresa e não trabalham nela, mas que constituem a sociedade 
na qual ela atua, recebem cada vez mais a atenção das 
organizações. No século XIX, à época da Revolução Industrial, a 
legislação trabalhista, as regulações comerciais e os movimentos 
sociais eram precários e desarticulados, permitindo que a 
maximização dos lucros dos proprietários das indústrias fosse a 
única expectativa válida de negócios. Gradualmente, essa 
concepção é colocada em questão pela intervenção de uma série 
de movimentos sociais: operários, consumidores, defensores do 
meio ambiente, entre outros, fortalecem a idéia de que a relação 
de uma empresa com a sociedade não deve se resumir a 
produzir bens econômicos. As empresas então passaram a 
considerar como interlocutores-chave não apenas os segmentos 
sociais com os quais estabelecem relações estritamente 
comerciais ou profissionais (como fornecedores, compradores e 
órgãos públicos reguladores), mas também as comunidades que 
podem ser afetadas, direta ou indiretamente, pelas atividades da 
empresa – como é o caso, por exemplo, das atividades que 
geram danos ambientais. Começa a se fortalecer, então, a noção 
de toda empresa deve assumir compromissos éticos e sociais 
para com a sociedade na qual atua. É crescente a importância 
destes temas nos estudos e pesquisas em administração e, 
apesar de seus variados enfoques, há uma predominância da 
idéia de que evitar os custos de reparação resultantes de 
conflitos com os interesses da comunidade é um dos principais 
desafios das empresas que ambicionam progredir na competição 
global. 
 Tantas mudanças, é claro, se refletem na própria forma 
como a administração caracteriza o elemento humano na 
 2 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 01 
organização. No início do século XX, por exemplo, predominava 
no meio industrial a idéia de que os seres humanos possuíam 
uma natureza egoísta, cuja motivação encontrava-se associada 
exclusivamente a aspectos econômicos. Esta noção foi sendo 
gradativamente substituída por perspectivas que passaram a 
entender as características humanas de forma mais ampla e 
complexa. Aspectos emocionais, psicológicos, culturais e sociais, 
entre outros, foram incorporados à rede de fatores que passam a 
ser considerados nas abordagens administrativas sobre as 
organizações. 
Se isto representa realmente uma melhoria nas condições 
de trabalho e de vida para as pessoas é uma questão 
controversa. Muitas destas mudanças têm sido compreendidas 
como estratégias de sobrevivência das organizações em um novo 
contexto de relações econômicas e sociais. Vista desta 
perspectiva, a centralidade das pessoas para a administração é 
fruto da mesma busca que sempre motivou as empresas: 
ampliar os lucros. Tudo se resume a melhor conhecer o elemento 
humano que constitui as organizações, para melhor dominá-lo e 
dele extrair maiores vantagens. 
Tomando-se a questão por outro ângulo, o fato que se 
destaca é que novas perspectivas se abrem para a administração 
e elas não podem ser pensadas nem praticadas sem que se 
tenha em conta as pessoas e suas relações com as organizações. 
Ao longo deste caminho, a administração tem se mostrado 
aberta às contribuições de outros campos de conhecimento. 
Neste livro, serão exploradas as contribuições da sociologia para 
o melhor entendimento do fator humano nas organizações, bem 
como dos processos de mudança pelos quais vêm passando as 
organizações e a administração, que tornam cada vez mais 
necessária a compreensão deste fator. 
 
1.2 O PONTO DE VISTA DA SOCIOLOGIA 
 
A sociologia é o estudo científico da vida social humana, 
dos grupos e das sociedades. Seu nível de abrangência varia 
desde a análise das interações dos indivíduos situados em um 
micro contexto social, como, por exemplo, uma rede constituída 
de amigos, uma família ou uma empresa, até a investigação de 
processos sociais de nível global. O ponto de vista central da 
sociologia convida a enxergar a realidade humana a partir de 
suas conexões com a sociedade mais ampla. É isto que o 
sociólogo Wright Mills (1972) chamou de “imaginação 
sociológica”, um recurso que nos ajuda a ver que a vida humana 
está envolvida em uma dimensão social que não pode ser 
explicada quando se olha para os indivíduos isoladamente, nem 
mesmo para a soma de seus atributos particulares. Dentro desta 
perspectiva, as ações das pessoas não se devem somente aos 
desejos e escolhas individuais, mas também a fatos ligados à 
sociedade, como a posição social ocupada no grupo, os papéis a 
 3 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 01 
serem desempenhados, as normas, valores e padrões que 
caracterizam o ambiente social do qual fazem parte os 
indivíduos. 
O simples ato de se vestir, por exemplo, ainda que pareça 
um gesto isolado de um indivíduo, em função de seus gostos e 
preferências pessoais, é uma ação carregada de dimensões 
sociais, pois está conectada a um contexto social que o indivíduo 
leva em conta para desenvolver suas ações. A roupa escolhida 
para ira uma festa é geralmente diferente daquela escolhida 
para o primeiro dia de trabalho no novo emprego. Levamos em 
conta o que as pessoas vão pensar de nós, e também 
procuramos influenciá-las, tentando direcionar a imagem que 
formarão a nosso respeito. Nossas ações vão mudando conforme 
mudam as pessoas ao nosso redor, não só porque os indivíduos 
são diferentes uns dos outros, mas porque essas pessoas, 
através de suas interações, criam normas, padrões e 
expectativas que influenciam nosso comportamento. Estes 
aspectos fazem parte da natureza social da vida humana e 
constituem o foco de interesse da sociologia. Podemos dizer que 
a sociologia busca o entendimento dos fenômenos sociais – todos 
aqueles que surgem das relações que os homens estabelecem 
entre si como membros de sociedades. Para esta ciência, os 
aspectos sociais devem ter prioridade na explicação da realidade 
em que vive o homem. 
 
1.3 A SOCIOLOGIA APLICADA À ADMINISTRAÇÃO 
 
A administração, segundo Chiavenato (1999), é uma 
maneira de utilizar os diversos recursos organizacionais, sejam 
eles materiais ou humanos, para alcançar objetivos e atingir 
elevado desempenho. Ela é importante em qualquer situação 
onde tais necessidades existam, e seja preciso alcançar objetivos 
individuais, grupais, familiares ou sociais. O processo 
administrativo, contudo, tem sido estudado e desenvolvido 
sobretudo por seu papel no desempenho das organizações. Estas 
vêm assumindo importância cada vez maior na vida social 
humana. A sociedade moderna é considerada uma sociedade 
organizacional, pois poucos são os aspectos da vida das pessoas 
que não estão relacionados com algum tipo de organização, seja 
ela empresarial, religiosa, educacional ou governamental. 
As organizações existem fundamentalmente porque certos 
objetivos só podem ser alcançados por meio da ação coordenada 
de grupos de pessoas e é neste ponto que se torna crucial o 
papel da administração. O administrador não é um simples 
executor de tarefas, mas sim aquele que possibilita que estas 
sejam executadas por outras pessoas em conjunto, de modo que 
a organização seja bem-sucedida em seus objetivos. 
Chiavenato (1999, p.6) chama a atenção para a 
classificação da administração como uma ciência social aplicada: 
“pois ao lidar com negócios e organizações, ela o faz 
 4 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 01 
basicamente por meio das pessoas”. Na consecução de sua 
missão, a administração aplica os conhecimentos desenvolvidos 
nas demais ciências sociais, inclusive o arcabouço de 
conhecimentos sociológicos. 
Mas como a sociologia avalia o uso dos conhecimentos 
gerados em seu campo para tornar mais eficiente a gestão das 
organizações? As respostas a essa questão podem ser 
controversas, já que os sociólogos nunca estiveram em consenso 
quanto ao engajamento social e político de suas ações. 
A idéia de que a sociologia deve gerar conhecimentos com 
o propósito de melhorar a sociedade existe desde o surgimento 
desta disciplina no século XIX, quando autores, hoje 
considerados clássicos, analisaram as transformações provocadas 
pela Revolução Industrial na sociedade e sugeriram diversas 
formas de intervir nos problemas sociais derivados destas 
mudanças. Estes propósitos podem parecer tentadores para os 
administradores, que assumem a responsabilidade pela eficácia 
no alcance dos objetivos das organizações. Contudo, algumas 
questões devem ser levantadas a respeito destes usos da 
sociologia. 
Devemos, em primeiro lugar, permanecer atentos às 
diferenças que marcam os campos da sociologia e da 
administração, sobretudo pelo caráter pragmático desta última 
disciplina. Na perspectiva da administração, qualquer aspecto 
encontrado em uma empresa que influencie seus objetivos e 
resultados deve ser controlado ou manipulado para garantir o 
sucesso do gerenciamento desta organização. A sociologia, por 
outro lado, estuda os fenômenos que afetam as organizações 
sem necessariamente desenvolver ferramentas para intervenção 
ou controle desta situação. Embora a sociologia tenha produzido 
conhecimentos sobre fenômenos de grande interesse para a 
administração, como por exemplo a cultura, o poder e o conflito, 
a transformação destes conhecimentos em ferramentas de 
intervenção, que permitem controlar estes processos na 
realidade organizacional e atender as exigências pragmáticas dos 
administradores, nunca foi regra geral na sociologia. A sociologia 
busca muito mais compreender e interpretar estes fenômenos do 
que intervir sobre eles de maneira instrumental (BARBOSA, 
1996; MASCARENHAS, 2002). 
Há um campo específico da sociologia que se encarrega 
da aplicação de conceitos, princípios e insights sociológicos para 
embasar decisões acerca dos problemas que afetam a vida das 
pessoas em sociedade, chamado sociologia aplicada (JOHNSON, 
1997). Ao analisar os fenômenos sociais, o sociólogo produz uma 
compreensão de seus mecanismos de funcionamento, ajudando a 
prever e a controlar suas manifestações. As áreas de trabalho do 
sociólogo aplicado podem, por exemplo, incluir a coleta e análise 
de indicadores sobre a pobreza nas grandes cidades a fim de 
fornecer subsídios à elaboração de programas sociais para 
combatê-la. De modo semelhante, estudos sobre o estilo de vida 
 5 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 01 
de um determinado segmento da sociedade podem nortear a 
adoção de estratégias de marketing de uma empresa. 
A sociologia aplicada ao campo da administração 
compreende aspectos que afetam a organização, tais como 
comportamento humano no trabalho, comportamento do 
consumidor, dinâmica de grupos sociais, estruturas de poder, 
transformações sociais, entre outros, e o faz de uma perspectiva 
particular, enfocando a dimensão social e cultural destes 
fenômenos. Esta abordagem nos permite, por exemplo, entender 
que o indivíduo não é um ser isolado na organização, mas um ser 
que atua em contextos sociais formados por grupos (internos e 
externos à empresa), organizações, sociedades e culturas e 
assim compreender melhor o comportamento humano na 
organização a partir da influência destes fatores. A análise destes 
contextos amplia, portanto, a compreensão das ações humanas. 
Dentro desta perspectiva, a atenção às transformações dos 
padrões da sociedade, de seus valores, normas de 
comportamento e formas de organização, permite ampliar a 
compreensão das tendências sócio-culturais que se configuram, e 
que podem se manifestar, por exemplo, em novas oportunidades 
de negócio, novas expectativas de grupos e comunidades quanto 
à atuação das empresas ou, ainda, novos arranjos políticos que 
venham a influenciar o desenrolar dos negócios. 
 
1.4 CONTRIBUIÇÕES DA CIÊNCIA DA SOCIEDADE PARA A 
ADMINISTRAÇÃO 
 
A adoção da perspectiva de que a sociologia não só 
fornece explicações sobre o que ocorre nas interações humanas, 
como possibilita medidas de intervenção nestas interações, 
significa afirmar que é possível para o administrador utilizar as 
contribuições da sociologia para gerenciar de maneira mais eficaz 
as organizações. Contudo, devemos ter a consciência de que as 
escolhas feitas pelo administrador em sua prática gerencial 
permanecem no campo dos valores e não da ciência (WEBER, 
1972). É importante esclarecer que os usos que são feitos da 
ciência, de qualquer ciência, têm uma natureza política, dada 
pelas preferências por este ou aquele caminho, este ou aquele 
resultado. O conhecimento da realidade podeser obtido 
cientificamente, mas as decisões sempre serão políticas, isto é, 
ligadas aos interesses e poderes dos atores envolvidos nas 
interações sociais que constituem as organizações e também a 
sociedade. 
Não há base científica que sustente o conceito de uma 
sociedade “melhor”, ou mesmo de uma organização “melhor”, 
pois julgamentos desta natureza estão enraizados em valores 
sócio-culturais e imersos em relações de poder. O que 
determina, por exemplo, que o lucro de uma organização esteja 
à frente da melhoria da qualidade de vida de seus funcionários 
 6 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 01 
ou então de uma relação menos predadora com o meio 
ambiente? O papel do sociólogo não deve ser o de determinar 
qual o objetivo “correto” para as organizações, mas explicar 
porque certos objetivos em determinados contextos se tornam 
mais relevantes do que outros e mostrar as conseqüências que 
estes objetivos podem trazer. 
O caráter científico da sociologia esbarra em algumas 
questões específicas ao cientista social, que é, no final das 
contas, um ser humano estudando outros seres humanos. 
Observada esta condição, entendemos que não é possível 
estudar a vida social da mesma maneira que se estudam 
processos físicos ou biológicos, objetos do cientista da natureza. 
Em primeiro lugar, a margem de erro de quem se dedica a 
analisar a vida em sociedade sempre será maior, já que os 
fenômenos sociais não ocorrem com a mesma exatidão dos 
fenômenos da natureza; ao contrário, variam enormemente ao 
longo da história das sociedades. Apesar desta variabilidade, o 
sociólogo, utilizando-se de pesquisas científicas, é capaz de 
encontrar alguma regularidade nos fenômenos sociais, o que os 
torna relativamente previsíveis. 
Por outro lado, o sociólogo não deve estar isento de atuar 
da forma mais objetiva possível quando realiza seus estudos 
sobre a realidade social, utilizando para isto os métodos e 
técnicas que o desenvolvimento científico de sua época lhe 
oferecem. Isto é o que lhe permite ampliar o controle sobre suas 
preferências subjetivas, capacitando-o a perceber o que se passa 
na realidade com mais clareza, ainda que esta realidade não 
esteja de acordo com suas crenças e valores. Quando o sociólogo 
entrevista os funcionários de uma empresa, por exemplo, para 
entender as razões de determinado padrão de produtividade, 
deve ter cuidado com perguntas que encorajam os entrevistados 
a dizer exatamente o que o pesquisador, ou mesmo o dono da 
empresa, querem ouvir. Suas conclusões, como a de qualquer 
outro cientista, devem ser submetidas a verificações e 
confrontadas com os dados da realidade. 
A maior contribuição da sociologia para a administração 
vem de sua compreensão mais profunda do funcionamento das 
organizações, formando um quadro mais realista das situações 
nas quais os administradores têm de intervir no exercício de sua 
função. Entretanto, o sociólogo só pode obter esta compreensão 
se mantiver um distanciamento necessário que o permita ver as 
ações humanas de maneira mais complexa, envolvendo atores 
com interesses distintos, visões diferenciadas, que são afetadas 
por múltiplas influências. Neste ponto, a sociologia tem 
certamente implicações práticas na vida de quem gerencia 
empresas. Ela permite conhecer melhor o comportamento das 
pessoas na organização, bem como as relações e os processos 
sociais que nela se desenrolam. Ampliando nosso nível de 
compreensão sobre esta realidade, entendemos melhor as ações 
dos outros e nossas próprias ações e ampliamos nossa 
 7 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 01 
capacidade de intervir sobre elas e de influenciá-las. Quanto 
maior o nível de informação sobre a situação em que atuamos, 
maiores as chances de tomarmos decisões acertadas (GIDDENS, 
2005). 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BARBOSA, Lívia Neves de Holanda. Cultura administrativa: uma 
nova perspectiva. Revista de administração de empresas. 
São Paulo, v. 36, n. 4, p. 6-19, out./nov./dez. 1996. 
Ao longo de décadas, as teorias de administração têm 
gradativamente avançado de uma limitada perspectiva da 
organização como um sistema predominante técnico e movido 
por fatores internos, a uma visão que abarca fatores humanos 
bastante complexos, além das variadas formas de interação da 
organização com seu ambiente externo. Este movimento reflete 
as intensas transformações pelas quais passaram as 
organizações e as sociedades no século XX, mas em parte reflete 
também a necessidade de romper as amarras que limitam a 
visão sobre o processo de gerenciamento das organizações. 
Neste sentido a sociologia tem um papel importante a 
desempenhar na administração. 
 
CHIAVENATO, Idalberto. Administração nos novos tempos. 2. 
ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 
 
GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6° ed. São Paulo: Artmed, 
2005. 
 
JOHNSON, Alan. Dicionário de sociologia: guia prático da 
linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. 
 
MASCARENHAS, André Ofenhejm. Etnografia e cultura 
organizacional. Revista de administração de empresas, 
v.42, n.2, abr/jun2002. 
 
MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: 
Zahar, 1972. 
 
 
 WEBER, Max. A ciência como vocação. In:_____. Ensaios de 
Sociologia. Rio de Janeiro: Guanabara Editora, 1982. 
 
 
 
 
 
 
 
 8 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 02 
CAPÍTULO 02: A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A 
TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE 
 
2.1 AS TRANSFORMAÇÕES DO SÉCULO XIX 
 
A palavra sociologia é uma junção do termo latino socio 
(social ou sociedade) com o termo grego logos (estudo), tendo 
sido empregada pela primeira vez em 1839 pelo pensador 
francês Augusto Comte. 
O surgimento da sociologia está relacionado a um 
conjunto de transformações ocorridas na sociedade a partir do 
século XV e que se estenderam até o século XIX, determinando a 
ruína dos sistemas feudais e a configuração de uma nova ordem 
social. A produção econômica, a distribuição de poder, os valores 
e as visões de mundo estavam em transformação e os reflexos 
destas mudanças na vida social tornaram-se alvos da reflexão de 
diversos pensadores. 
Um importante ponto de ruptura com a antiga forma de 
sociedade foi provocado pelo movimento intelectual chamado 
Iluminismo, que, a partir de uma visão racional do mundo, se 
contrapôs às doutrinas da Igreja, ao poder ilimitado dos Reis e à 
intervenção do Estado na economia. Este movimento representou 
no século XVIII um dos pilares da sociedade burguesa em 
construção e favoreceu a criação de condições para uma 
abordagem científica da realidade social. O surgimento da 
sociologia representou, em grade parte, a iniciativa de alguns 
pensadores de aplicar as técnicas científicas ao estudo da 
sociedade. 
A Revolução Francesa de 1789 foi um dos marcos do 
fim do Antigo Regime. As guerras, os problemas econômicos e o 
acirramento da exploração sobre as camadas populares 
colocaram a França diante de uma grave crise social, que 
culminou em uma violenta revolução contra a monarquia 
absolutista dominada pelos membros da nobreza e do clero. 
Embora tenha contado com a participação dos pobres urbanos e 
dos camponeses, a Revolução Francesa representou a ascensão 
da burguesia ao poder. Os primeiros escritos de sociologia se 
deram sob o impacto destareconfiguração da ordem política. 
Intensas transformações sociais foram provocadas pela 
Revolução Industrial que, a partir do século XVIII, centra a 
atividade econômica na produção fabril em larga escala, com 
base na utilização crescente de máquinas. Nos campos, as 
atividades agrícolas são reestruturadas para atender às 
exigências das indústrias. Nas terras delimitadas pelos 
cercamentos, a criação de carneiros predomina a fim de 
abastecer as fábricas com a lã. Os camponeses expulsos de suas 
plantações engrossaram as fileiras do proletariado urbano, junto 
com os trabalhadores da manufatura esmagados pela 
concorrência com o trabalho mecanizado. As condições de 
 9 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 02 
trabalho nas fábricas, por sua vez, são bastante precárias. O 
parcelamento das tarefas no novo sistema fabril distancia ainda 
mais o trabalhador do produto final de seu trabalho. A 
inexistência de leis trabalhistas permite altos níveis de 
exploração dos operários, submetidos a longas jornadas de 
trabalho e a baixos salários, não sendo rara a utilização de 
mulheres e de crianças sob as mesmas condições. As primeiras 
manifestações operárias fazem-se sentir através dos luditas, que 
revoltam-se contra as máquinas, e das associações que viriam a 
originar os sindicatos. As novas relações de trabalho, bem como 
os graves problemas urbanos característicos deste período, serão 
temas constantes nos trabalhos dos primeiros sociólogos. 
O século XIX oferecia um panorama que exigia dos 
pensadores da época um entendimento mais amplo da natureza 
das mudanças ocorridas, e sobretudo das conseqüências sociais 
que então se anunciavam. A nova sociedade tornava-se assim 
alvo de pesquisas e análises sistemáticas. Este novo contexto, 
como veremos, influenciará não apenas o surgimento da 
sociologia como também o da administração. 
 
2.2 A ORGANIZAÇÃO FEUDAL 
 
De acordo com Huberman (1976), no mundo feudal, as 
relações sociais eram organizadas em torno da agricultura e do 
controle da terra. Esta era dividida em feudos, que consistiam 
em aldeias, onde viviam os camponeses, e em vários acres de 
terra comandados por um senhor, nas quais os camponeses 
trabalhavam como servos para os dois estratos superiores da 
sociedade: o clero e a nobreza. O sistema hierárquico desta 
sociedade, chamado estamental, era rígido e não permitia quase 
nenhuma mobilidade de um estrato social ao outro. A riqueza 
produzida nas atividades agrícolas era totalmente improdutiva. O 
clero e a nobreza acumulavam grandes fortunas, mas neste tipo 
de organização social não se criavam oportunidades de negócio 
nos quais estas fortunas pudessem ser investidas. Os feudos 
eram auto-suficientes. Os camponeses, embora trabalhassem 
quase todo o tempo para o senhor feudal, podiam utilizar algum 
pedaço da terra para obter seu próprio sustento e o de sua 
família, além de ser prática comum entre este estrato a 
fabricação de utensílios, mobiliário e vestuário de que 
necessitavam. O intercâmbio de mercadorias assumia uma 
função complementar a estas atividades e seu alcance era 
estritamente local. A inexistência de um sistema único de pesos e 
de medias, a escassez do dinheiro como moeda de troca, as 
péssimas condições das estradas e os altos pedágios cobrados 
eram fatores que desestimulavam empreitadas comerciais mais 
ousadas. Realizar transações comerciais na sociedade feudal do 
século XI era caro, difícil e perigoso demais. 
Sete séculos de transformações sociais transcorreram até 
a dissolução completa deste rígido sistema de vida. O mercado 
 10 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 02 
cresceu e com ele floresceram as cidades e um novo estrato 
social, composto de mercadores urbanos, que deram início às 
atividades capitalistas. Gradativamente, o sistema feudal se 
desagregou, dando lugar a uma nova ordem econômica e social. 
Os primeiros pensadores da sociologia se dedicaram a 
compreender a crise social gerada pela profunda transição entre 
estas formas de organização da sociedade. 
Serão destacados, então, alguns aspectos desta transição, 
que criaram condições para o surgimento da sociedade capitalista 
– sociedade na qual nascerá não apenas a sociologia, como 
também a administração. 
 
2.3 MUDANÇAS NO CAMPO 
 
Durante muito tempo, os camponeses viveram resignados 
em um sistema hierárquico bastante estático. O mercado era 
limitado e os senhores se apropriavam de praticamente tudo que 
era produzido em suas terras. A possibilidade de ascender 
socialmente era praticamente inexistente para os camponeses, 
que não tinham qualquer incentivo para fazer mais do que o 
necessário para sobreviver. 
Mas a situação começava a se modificar. O mercado havia 
crescido desde o século XI, quando as Cruzadas abriram uma 
riquíssima rota comercial entre Ocidente e Oriente, fazendo 
crescer o interesse por mercadorias estrangeiras e pela produção 
para mercados que ultrapassavam a esfera local. Grandes feiras 
haviam se tornado o principal local de transação de mercadorias 
provenientes de diversos pontos do mundo, transformando-se 
posteriormente em prósperas cidades comerciais. 
As cidades, que cresciam progressivamente, dependiam 
das zonas rurais para obtenção de alimentos e também de 
matéria-prima para as atividades manufatureiras nascentes. Os 
feudos, por sua vez, passaram a depender das cidades para 
obter os produtos manufaturados que eram oferecidos pelos 
mercadores, classe que vai adquirindo cada vez mais importância 
social e a quem interessava o rompimento das restrições ao 
comércio, típicas da sociedade feudal. 
Se, de um lado, o mercado se tornava mais próspero, de 
outro, o aperfeiçoamento tecnológico das formas de cultivo e dos 
meios de transporte provocava uma série de transformações nas 
atividades agrícolas dos feudos. A introdução do sistema de 
rodízio, permitindo o pousio da terra e a recuperação de sua 
fertilidade, resultou em um expressivo aumento da produtividade 
das terras. O transporte de pessoas e de mercadorias se tornou 
muito mais eficiente com a utilização de cavalos no lugar de bois, 
fator que beneficiou também a produtividade do trabalho 
humano no campo e favoreceu a obtenção de colheitas 
superiores. 
A produção excedente encontrou um próspero mercado 
para consumi-la e este novo cenário abriu novas possibilidades 
 11 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 02 
de ação na sociedade. Pequenos empresários independentes 
começaram a surgir neste cenário: os camponeses, que 
trocavam o excedente de sua produção por dinheiro nos 
mercados locais e pagavam ao senhor feudal pelo uso da terra, 
compravam sua liberdade pessoal e abandonavam a condição de 
servos. Muito senhores perceberam ser vantajoso que suas 
terras fossem cultivadas por trabalhadores livres que lhes 
pagavam arrendamento, pois desta forma obtinham dinheiro que 
lhes permitia adquirir bens manufaturados e produtos de luxo. 
Além disso, o trabalho livre demonstrou ser mais produtivo que o 
servil. 
Com a evolução das atividades industriais nas cidades, 
uma outra forma de exploração das terras se tornou mais 
conveniente para a nobreza. Ela então reuniu e cercou as terras 
que antes eram parceladas entre vários arrendatários e criou 
grandes campos fechados,cuja produção foi direcionada para as 
necessidades da indústria. A agricultura foi em grande parte 
substituída pela criação de ovelhas, que apresentava uma dupla 
vantagem: necessitava de uma quantidade bem pequena de 
mão-de-obra e dava origem à lã, cujo preço no mercado era 
bastante atraente. Este novo sistema de cercamento dos 
campos, chamado de enclousers, resultou na expulsão de uma 
parcela significativa de trabalhadores, que foram privados de 
terras, de instrumentos e ferramentas de produção e obrigados a 
migrar para as cidades para garantir sua própria sobrevivência. 
Recém-chegados nas cidades, estes trabalhadores constituíram 
um importante contingente de mão-de-obra para a indústria. As 
atividades capitalistas invadiram o campo, deslocando 
progressivamente o objetivo da produção do suprimento das 
necessidades de subsistência para a busca do lucro. 
 
2.4 A DECADÊNCIA DAS ATIVIDADES ARTESANAIS 
 
Outro pilar do sistema feudal a se desintegrar diante do 
avanço das relações de mercado são as oficinas artesanais – uma 
das mais antigas formas de organização da produção. Nestas 
oficinas, a produção era comandada por um mestre que, junto a 
seus aprendizes (alguns deles familiares seus), trabalhava em 
sua própria casa para suprir as necessidades de sua comunidade. 
As mercadorias eram geralmente encomendadas em pequenas 
quantidades e assim o nível de produção seguia adaptado às 
limitações do consumo. O mestre dominava todas as técnicas 
envolvidas no processo de produção e compartilhava este know-
how com os aprendizes que, após alguns anos, podiam adquirir 
ferramentas, um pequeno estoque de matérias-primas e se 
estabelecer como mestres de sua própria oficina. 
Porém, o desenvolvimento dos mercados ampliou a 
demanda por produtos e fez nascer uma classe de mercadores 
capitalistas a quem interessava tirar proveito deste aumento do 
consumo. Esta classe assumiu um papel intermediário na 
 12 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 02 
produção artesanal, com a função de fornecer matérias-primas e 
comprar produtos acabados que eram revendidos em mercados, 
longe do alcance dos artesãos que os fabricavam. 
Este sistema ficou conhecido como putting-out system, ou 
sistema de produção domiciliar. Nele o artesão perdeu uma 
parcela significativa de seu controle sobre a produção, uma vez 
que o capitalista que fornecia a matéria-prima era quem 
determinava as metas, os prazos e o preço da produção. O 
sistema era bastante vantajoso para esta última classe, que 
mantinha com os artesãos uma relação bastante flexível, fazendo 
e desfazendo os contratos de acordo com as oscilações da 
demanda. 
Contudo, neste sistema, os artesãos mantinham sob seu 
poder a concepção e a execução do trabalho, já que podiam 
determinar o número de horas trabalhadas, a forma de realizar 
as tarefas e as técnicas utilizadas na produção. Os capitalistas 
não possuíam nenhum modo de supervisionar o processo 
produtivo no ambiente domiciliar e, embora dispusessem do 
poder de descontar no pagamento dos trabalhadores os desvios 
das metas estipuladas, enfrentaram problemas para manter os 
prazos e os padrões de qualidade dos produtos. Não era difícil 
para os trabalhadores substituir a matéria-prima fornecida por 
outra de qualidade inferior, esconder imperfeições dos produtos e 
até mesmo desviar mercadorias. Chama a atenção uma lei do 
Parlamento inglês, de 1777, que permitia a realização de buscas 
no domicílio do trabalhador para averiguar tais desvios. Outra lei 
do mesmo ano tentava garantir que os artesãos terminassem e 
entregassem a produção determinada em um prazo máximo de 
oito dias. Os capitalistas encontravam também certa dificuldade 
para motivar os trabalhadores a produzir mais. Tentaram 
oferecer um pagamento mais atraente, mas os artesãos estavam 
mais interessados em garantir o suprimento de suas 
necessidades básicas. De acordo com os valores destes 
trabalhadores, um ganho financeiro maior não era tão importante 
quanto reservar um tempo para o lazer. Tornava-se então 
necessário para o capitalista intervir de maneira mais direta no 
processo produtivo, caso contrário, o resultado final da produção 
lhe escaparia ao controle. 
Os capitalistas passaram a reunir vários trabalhadores em 
um mesmo local de produção, para que pudessem supervisionar 
a execução de suas tarefas, forçando-os a trabalhar de maneira 
mais regular e sistemática, de acordo com o princípio da divisão 
do trabalho. De acordo com este princípio, cada trabalhador 
executava somente uma parte de todo o processo produtivo, de 
modo que a mercadoria só estava acabada após passar 
sucessivamente por várias mãos. Esta fase caracterizou a 
produção manufatureira, que antecedeu o surgimento da 
produção mecanizada. O capitalista transformou-se no 
proprietário do produto ao longo de todas as etapas de 
produção: contratava os trabalhadores para utilizar as matérias-
 13 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 02 
primas, os instrumentos de trabalho e as instalações e 
apropriava-se dos produtos acabados. O trabalhador não vendia 
mais o produto acabado ao mercador, mas vendia a sua própria 
força de trabalho, transformando-se no trabalhador assalariado. 
No lugar do artesão que dominava todo o processo produtivo, 
tem-se o tecelão, o fiandeiro, o tintureiro, e outros trabalhadores 
especializados, desprovidos de capital e de outros recursos de 
produção e que passam a depender do capitalista para obter um 
emprego e garantir seu sustento e o de sua família. Cabia ao 
capitalista vender os bens produzidos por estes trabalhadores a 
um preço que lhe permitisse pagar os salários, os custos de 
produção e obter um lucro para si. 
 
2.4.1 O declínio das corporações artesanais 
 
Nem mesmo os artesãos organizados na defesa de suas 
atividades subsistiram às transformações promovidas pelo 
avanço da economia de mercado. Nas cidades, os trabalhadores 
artesanais dedicados a um mesmo ofício reuniam-se em 
corporações de ofício, retardando a intervenção da burguesia 
capitalista na estrutura de produção. Estas organizações foram 
inicialmente formadas para garantir a transmissão dos 
conhecimentos do mestre aos aprendizes, proporcionar ajuda 
mútua entre os trabalhadores e impor padrões de qualidade aos 
produtos. Funcionavam dentro de um regime que propiciava 
relativa igualdade entre mestres e aprendizes que com eles 
trabalhavam. As relações eram bastante cordiais, pois os 
aprendizes moravam na casa do mestre, compartilhavam deste 
ambiente familiar e tinham a perspectiva de um dia alcançar a 
maestria. A perspectiva de ascensão e não de oposição, marcava 
a relação entre estes atores. Os valores predominantes na 
cultura religiosa neste momento favoreciam condições de 
trabalho mais “humanas”. O repouso dominical, por exemplo, era 
praticado antes mesmo de ser estabelecido por lei. 
As corporações se organizavam sob um rígido conjunto de 
regras e tradições. Mantinham segredos quanto a certas técnicas 
artesanais e estabeleciam punições para trabalhadores que 
levavam esta arte para outros países. Regulavam o processo de 
competição, proibindo que uma corporação aliciasse ou 
subornasse trabalhadores e clientes de outrem, sob pena de 
multa. E sobretudo preocupavam-se com a qualidade do serviço, 
estabelecendo diversas regras para impedir o uso de material 
inferior e garantir que os associados passassem por uma rigorosa 
aprendizagem que lhe trouxesse o domínio do ofício. Outra 
funçãodas corporações era garantir o monopólio comercial nas 
cidades. Para realizar negócios em uma localidade, era 
necessário ser membro da corporação artesanal e fora dela não 
se podia exercer comércio sem permissão expressa. 
As corporações negociavam os produtos sob a tradição da 
prática do justo preço. Os artigos feitos e vendidos pelo artesão 
 14 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 02 
tinham seu preço calculado à base do custo real de fabricação. 
Havia uma forte influência da noção medieval sobre a usura, que 
era moralmente condenável. Nesta lógica, o comércio não 
deveria objetivar o lucro, mas o benefício de compradores e 
vendedores. Uma das atribuições das autoridades municipais era 
impedir que as mercadorias fossem vendidas a preços 
excessivos, podendo até abolir os privilégios das corporações, 
quando estas usavam seu monopólio para auferir lucros 
excessivos. A alta de preços só podia ser determinada por fatores 
que alterassem as condições de produção, como uma má colheita 
que tornasse mais escasso o produto. Com o desenvolvimento do 
mercado e a necessidade de produção em maior escala, houve 
uma mudança nas idéias econômicas e a noção do justo preço foi 
substituída pela noção de preço de mercado. Daí em diante, a 
busca de lucros por um determinado grupo podia provocar uma 
alta de preços. 
A estrutura das corporações se transformou em direção à 
formação de grupos fechados e, assim, a igualdade entre os 
membros começou a ruir. Era interesse dos mestres, que 
monopolizavam a fabricação de manufaturados, evitar que o 
aumento do volume de produtos provocasse a baixa dos preços. 
Com isso, o ingresso de artesãos nas corporações, bem como sua 
ascensão à condição de maestria foi restringida pela cobrança de 
taxas e pela realização de provas rigorosas. Posteriormente, foi 
criada a regra segundo a qual somente os filhos de mestres 
poderiam tornar-se mestres. A imposição destas barreiras fez 
com que os artesãos mais pobres e seus filhos viessem a se 
juntar à classe operária urbana em formação. Já os mestres que 
prosperavam, adquiriam maior parcela de poder e formavam 
corporações cada vez mais fechadas, as quais chamavam 
“superiores”. Eram selecionadas, poderosas e ricas, influenciando 
até o governo municipal. Alguns membros abastados das 
corporações abandonaram a produção e dedicaram-se ao 
comércio, tornando-se capitalistas. As regras de cooperação, que 
favoreciam a harmonia nas relações entre os mestres e seus 
aprendizes, regrediram, dando lugar a uma série de relações 
conflituosas. 
Por fim, a estrutura das corporações, baseada em velhos 
métodos e velhos monopólios, se chocou com as necessidades de 
uma economia cuja mutação era progressiva, tornando inevitável 
a decadência destas organizações. Fincadas em rígidas tradições 
e em uma estrutura de mercado baseada no monopólio da 
manufatura e venda de produtos, logo se tornaram obsoletas 
para atender às necessidades do mercado em expansão e para 
absorver as inovações tecnológicas que então se processavam. A 
Corporação de Mecânicos Glasgow, por exemplo, tentou proibir 
James Watt de continuar experiências com a máquina a vapor, 
sob o argumento de que o inventor não era membro da 
corporação (HUBERMAN, 1976). 
 
 15 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 02 
2.5 OS CONFLITOS IDEOLÓGICOS E SOCIAIS 
 
Os ganhos em produtividade obtidos com a evolução das 
formas de produzir foram muito importantes para a geração de 
um capital que, investido na promoção de avanços técnicos, 
acelerou o processo de transformação da organização produtiva. 
A revolução tecnológica daí resultante, eliminou as técnicas 
tradicionais utilizadas pelos trabalhadores e permitiu o 
alavancamento da produção em níveis até então inéditos na 
sociedade, lançando a Europa definitivamente na era industrial. 
Invenções tais como a lançadeira volante (1733), o tear 
mecânico (1787) e a máquina a vapor (1760) ampliaram 
enormemente a capacidade de produzir. A utilização da spinning 
jenny, invenção de James Hargreaves em 1765, tornou possível 
a um só homem fiar oitenta fios ao mesmo tempo. 
Além de capital e desenvolvimento tecnológico, as 
indústrias contaram também com uma vasta força de trabalho, 
constituída de pessoas que não possuíam mais nenhum meio de 
produzir seu próprio sustento. Quando destituídas da terra, das 
ferramentas e instrumentos de trabalho, não tiveram escolha, 
senão vender a única coisa que lhes restava: sua força de 
trabalho. Como vimos, dois grupos perderam o acesso aos seus 
meios de produção, indo engrossar as fileiras dos que 
precisavam trabalhar para outro em prol de sua própria 
sobrevivência. 
O primeiro grupo era composto pelos trabalhadores rurais 
expulsos do campo pelo processo de cercamento das terras. 
Muitos camponeses foram expulsos não apenas de suas terras, 
como de suas próprias casas. Aldeias foram destruídas e 
incendiadas e os campos transformados em pastagens. O 
pequeno proprietário não sobreviveu e foi obrigado a trabalhar 
para grandes fazendeiros. De pequenos ocupantes da terra se 
transformaram em assalariados. Muitos mudaram-se para as 
cidades, em busca de emprego, formando então uma parte da 
mão-de-obra necessária para a indústria. 
Outro grupo provinha dos trabalhadores da manufatura, 
desempregados com a decadência das oficinas. O sistema fabril, 
assentado no uso de poderosas máquinas e na divisão do 
trabalho, fabricava produtos com muito mais rapidez e menor 
custo que os trabalhadores manuais, sepultando de vez o 
trabalho de pequenos manufatores que ainda se mantinham 
independentes (donos de seus meios de produção). As máquinas 
venceram o modo de produzir obsoleto dos trabalhadores 
manuais, que então vendiam seus meios de produção e iam 
buscar sua sobrevivência no trabalho fabril. A produção 
mecanizada, ao sepultar as manufaturas, acabou assegurando 
um grande suprimento de força de trabalho para seu próprio 
desenvolvimento. 
A associação das máquinas à força do vapor foi o principal 
fator a incrementar o sistema fabril, possibilitando uma produção 
 16 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 02 
em larga escala. A produção de mercadorias ampliou-se de modo 
expressivo e gerou um volume de riquezas inédito na história 
humana. Tais riquezas, contudo, permaneciam inacessíveis para 
a maioria da população, que experimentava altíssimos níveis de 
miséria. Embora a divisão da sociedade entre ricos e pobres já 
fosse conhecida de longa data, acentuava-se a linha divisória 
entre os dois grupos: os industriais lucravam muito com o 
aumento da produção, enquanto os operários eram intensamente 
explorados, trabalhando e vivendo em condições degradantes. 
De acordo com a mentalidade empresarial dominante na 
primeiras fases do industrialismo, as máquinas eram os 
principais bens do capitalista, merecendo sua preocupação, 
enquanto as pessoas representavam apenas um custo 
necessário. Por isso pagavam ao trabalhador o menor salário 
possível e exigiam-lhe o máximo de produção. Leis que 
protegessem os trabalhadores contra os abusos dos industriais 
eram praticamente inexistentes. 
 Esta mentalidade foi influenciada pela visão de mundo 
individualista trazida pelo liberalismo clássico, que se tornou 
ideologia dominante no capitalismo.Os liberais se opuseram 
radicalmente às práticas paternalistas de assistência aos pobres, 
pois as consideravam “um modo de alimentar vadios que 
preferiam viver às custas dos vizinhos industriosos” (DICEY, 
apud HUNT; SHERMAN, 1997). Esta visão afirmava a primazia do 
indivíduo sobre o grupo ou a coletividade, confrontando a ética 
cristã que sustentou a sociedade medieval e que via a sociedade 
como uma espécie de família, onde os laços que integravam as 
pessoas eram mais importantes do que cada uma delas 
isoladamente. As convicções individualistas, ao contrário, 
afirmavam que o grupo nada mais é do que a soma dos 
indivíduos que o compõe, sendo estes a realidade fundamental 
de qualquer sociedade. 
Nesta perspectiva, o mercado deveria ser o espaço para a 
livre competição dos indivíduos que, embora motivados por 
interesses egoístas, acabariam promovendo o bem comum. Os 
industriais, por exemplo, motivados pelo interesse egoísta de 
obter mais lucros, concorreriam entre si para atrair os 
consumidores e acabariam aprimorando constantemente a 
qualidade de seus produtos, buscando formas de reduzir os 
custos de produção. O resultado: produtos melhores e mais 
baratos para os consumidores. Por outro lado, quanto mais 
acessíveis os preços dos produtos, maior o volume de compras, 
maiores os lucros dos industriais, assim desencadeando-se um 
círculo harmonioso de relações que promoveria o progresso 
econômico contínuo. 
Mas para que este mecanismo funcionasse perfeitamente, 
seria necessário que o mercado agisse livre de restrições, com 
base no livre jogo da oferta e da procura, atuando como uma 
“mão invisível” a harmonizar as ações humanas. Nenhuma 
autoridade ou lei, portanto, deveria determinar o que seria 
 17 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 02 
produzido nem como os produtos seriam vendidos. Adam Smith 
foi o principal representante desta vertente, que criticava o 
Estado como corrupto, despótico e incompetente para conduzir 
os negócios na sociedade. 
Este cenário favoreceu uma exploração sem limites da 
força de trabalho dos operários. A jornada diária era longa, 
podendo chegar a 16 horas, sendo bastante comum o mesmo 
nível de exploração do trabalho infantil. Inicialmente, as crianças 
eram recrutadas em orfanatos, depois os próprios pais as 
enviavam para as fábricas, já que o rendimento médio do 
operário não era suficiente para manter a família. Assim um 
relato do século XIX retrata as condições dos trabalhadores que, 
ao milhares, se dirigiam ao trabalho ao apito da máquina: 
 
“O trabalho começava às cinco horas da manhã e acabava às 
cinco horas da tarde tanto no verão quanto no inverno [...] Era 
preciso vê-los chegar todas as manhãs à cidade e vê-los partir 
à noite. Há entre eles uma multidão de mulheres pálidas, 
magras, caminhando de pés descalços por cima da lama e que, 
à falta de chapéu-de-chuva, trazem, atirados sobre a cabeça 
quando chove ou neva, os aventais e as saias de cima para 
protegerem o rosto e o pescoço, e um número mais 
considerável de crianças pequenas não menos sujas, não 
menos pálidas e macilentas, cobertas de farrapos, todas 
engorduradas do óleo dos teares que lhes cai em cima 
enquanto trabalham. Estas últimas, melhor preservadas da 
chuva pela impermeabilidade das suas roupas, nem sequer 
têm no braço, como as mulheres de que acabamos de falar, 
um cesto onde estão as provisões do dia; mas trazem na mão 
ou escondem debaixo do seu casaco ou como podem, um 
bocado de pão que os deve alimentar até a hora do seu 
regresso a casa (VILLERMÉ, apud LAFARGUE, 1990, pp. 23-
24). 
 
Além das árduas condições de trabalho, os operários 
também residiam em habitações degradantes. As cidades 
cresceram sem o planejamento adequado para receber a grande 
massa de novos habitantes. A escassez de espaço elevou os 
preços dos aluguéis, restando aos trabalhadores as condições 
precárias nos arredores das cidades. A desigualdade social 
refletia-se na própria topografia da cidade: nos bairros elegantes, 
a burguesia; nos bairros periféricos, em habitações promíscuas e 
degradadas, o povo. O efeito das condições de habitação na 
saúde dos pobres tornava as epidemias e a morte fatos comuns 
nas áreas onde se amontoavam as habitações operárias. 
De acordo com Hobsbawm (1994, p. 221), havia três 
possibilidades abertas aos trabalhadores pobres à margem da 
sociedade burguesa: lutar para se tornarem burgueses, permitir 
que fossem explorados e oprimidos ou, então, poderiam se 
rebelar. 
A reação operária foi violenta. Inicialmente, os 
trabalhadores reagiram queimando e destruindo as máquinas, 
por considerá-las as grandes causadoras de sua miséria. Ficaram 
conhecidos como luditas e foram violentamente reprimidos pelo 
governo. A evolução da organização dos trabalhadores foi um 
fator bastante importante na melhoria de suas condições de vida. 
Através dos sindicatos, os trabalhadores se organizaram como 
 18 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 02 
um grupo consciente na defesa de seus interesses e adquiriram 
importância política, embora tenham sido considerados ilegais 
até o primeiro quarto do século XIX na Inglaterra. Dentre os 
primeiros objetivos do movimento operário estava a mudança da 
legislação que restringia a própria existência de sua organização, 
pois era necessário sair deste estado de clandestinidade e 
organizar-se abertamente. Pouco a pouco, o movimento operário 
aproveitou-se destas conquistas legais para atuar na promoção 
de avanços na legislação social: seguros contra acidentes de 
trabalho e doenças e regulação do uso da mão-de-obra infantil e 
das mulheres foram algumas de suas reivindicações. Mas o 
movimento não se restringiu a lutar pela melhoria imediata da 
condição de vida operária e, inspirado pela ideologia socialista, 
vislumbrou a transformação da sociedade como um todo. 
Os primeiros socialistas buscaram inspiração nos ideais 
apregoados pela Revolução Francesa – liberdade, igualdade e 
fraternidade – e projetaram uma sociedade ideal livre de 
conflitos e de desigualdades sociais. O pensamento socialista 
evoluiu para uma crítica radical do capitalismo, considerado um 
sistema injusto, no qual os trabalhadores, principais geradores 
da riqueza social, ficavam com a menor parte destas riquezas, 
enquanto os que se apropriavam da maior parte dela nada 
faziam pelo bem-estar da sociedade. O principal alvo da crítica 
dos socialistas foi a propriedade privada dos meios de produção - 
máquinas, equipamentos, terras, minas, etc. – considerada a 
fonte da dominação dos capitalistas sobre os trabalhadores. 
Preconizavam a revolução da sociedade pelo movimento 
operário, abolindo a propriedade privada e derrubando os 
governos que representavam a classe capitalista. 
Criticando o liberalismo individualista, os socialistas 
defenderam a subordinação dos interesses do indivíduo às 
necessidades do grupo social. Os campos de oposição estavam 
fortemente marcados, caracterizando o século XIX como um 
século de agudos conflitos entre os grupos que emergiam da 
sociedade em transformação. 
Dentro da corrente socialista, o grupo representado pelos 
socialistas utópicos refletiu sobre aspectos diretamente ligados à 
administração, como a idéia de que as fábricas fossem 
gerenciadas pelos sindicatos, defendida por Robert Owen. Ao 
descrever a nova sociedade emergente do progresso técnico e 
científico, Saint-Simon afirmou que os melhores administradores 
seriam os tecnocratas, ou detentores do conhecimento.Charles 
Fourier, além de apresentar a idéia das comunidades auto-
geridas, também preconizou a idéia de que o trabalho deveria ser 
fonte de prazer e estar adaptado às inclinações individuais. Em 
sua análise da sociedade industrial, os socialistas utópicos 
propuseram novas formas de organizá-la, criando, desta 
maneira, as bases para o surgimento da Teoria da 
Administração. Por esta razão, estes pensadores são 
 19 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 02 
considerados precursores do estudo da administração (PARK, 
1997). 
 
2.6 O SURGIMENTO DA GERÊNCIA 
 
O alto nível de desenvolvimento tecnológico que marcou a 
Revolução Industrial jamais teria realizado todas as promessas 
de ampliação da capacidade produtiva e de geração de riquezas, 
se não tivesse sido combinado a um controle mais eficaz das 
tarefas por parte dos capitalistas. Neste sentido, a fábrica 
tornou-se a expressão máxima da combinação entre organização 
disciplinada do trabalho e tecnologia. Na fábrica, foi possível o 
exercício mais eficiente da vigilância, pois a produção passou a 
reunir numerosos operários em uma só oficina, ampliando as 
possibilidades de direção e de coordenação do trabalho. As 
instalações pertenciam ao capitalista, que detinha todos os 
recursos necessários para o trabalho, fator este que retirou dos 
operários o controle do processo de produção, transferindo-o 
para os capitalistas. 
 A imposição de uma disciplina foi especialmente 
necessária neste momento, já que a primeira geração de 
operários era formada por camponeses expulsos pelos 
cercamentos, indigentes que vagavam pelas cidades, artesãos 
desempregados com a decadência das oficinas e toda sorte de 
pessoas muito pouco propensas a se adaptar a uma disciplina 
completamente estranha ao seu contexto social. À classe 
capitalista interessava descobrir novas formas de tornar mais 
produtivo o trabalho dos operários. 
Os problemas de adaptação dos operários às fabricas 
foram muitos, sobretudo os provocados pelo novo ritmo de 
trabalho determinado pelos movimentos das máquinas e pela 
rígida disciplina de horários que fixava o início, os intervalos e o 
término da jornada de trabalho. A consciência quanto à 
necessidade de treinamento dos operários era tosca, sendo 
freqüentes os acidentes de trabalho, sobretudo no manuseio das 
máquinas. Vários outros problemas se manifestaram, como o 
absenteísmo, a rotatividade de empregados, a embriaguez no 
ambiente de trabalho e as atitudes de revolta por parte dos 
operários. O problema da indisciplina dos trabalhadores não 
melhorou em nada com os avanços tecnológicos, como relata um 
industrial em 1743: “Nem metade do meu pessoal veio trabalhar 
hoje e não sinto um grande entusiasmo pela idéia de depender 
deste gênero de gente” (MARGLIN, 1978). 
No início da industrialização, a preocupação com a 
eficiência da gestão da fábrica era rudimentar e os capitalistas 
apostavam no desenvolvimento tecnológico como principal 
ferramenta para a ampliação de seus lucros. As transformações 
tecnológicas de fato representaram grande desenvolvimento da 
capacidade de produzir, mas passado este impacto inicial, os 
empresários passaram a se interessar pela adoção de formas de 
 20 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 02 
gestão mais eficientes como forma de enfrentar os conflitos que 
emergiam no ambiente da fábrica e de garantir a lucratividade de 
seu negócio. A administração começou a surgir como objeto de 
estudo. 
Desenvolveu-se a percepção de que o gerenciamento, 
junto aos fundamentos básicos da produção – terra, capital e 
trabalho – é recurso indispensável para o funcionamento da 
organização. Um conjunto de conhecimentos sobre como 
administrar começa a se desenvolver até se transformar em 
teorias sistematizadas que apresentam os fundamentos, técnicas 
e estratégias de gerenciamento que devem ser adquiridas pelos 
que assumem posições de comando nas organizações. 
Com o desenvolvimento da administração como um 
campo de conhecimentos, o administrador deixou de ser visto 
como um empreendedor heróico, possuidor de marcante 
personalidade e de habilidades pessoais que lhes permitiam 
manipular praticamente sozinho, na base da tentativa e erro, os 
recursos de produção. O sucesso de um empreendimento passou 
a ser visto como fruto da aplicação eficiente de conhecimentos 
sistematizados sobre práticas de gerenciamento. 
A própria expansão das cidades, acentuada com a 
Revolução Industrial, também colocou uma série de problemas 
inteiramente novos, que exigiram a intervenção da figura do 
administrador, sobretudo pela emergência de questões de ordem 
pública que exigiam planejamento: abastecimento, circulação, 
alojamento, fornecimento de energia, segurança e salubridade 
para uma massa de pessoas que passaram a se concentrar em 
grandes aglomerados urbanos. O agravamento dos problemas 
sociais tornou a necessidade de planejar e ordenar as cidades 
uma questão ainda mais premente, que exigia uma intervenção 
mais eficaz por parte dos administradores públicos (REMOND, 
[197-?]). 
As características do sistema capitalista e suas 
conseqüências sobre a organização da sociedade acabam por 
tornar a gerência profissional uma estratégia indispensável à 
manutenção do sistema (BRAVERMAN, 1987). Em momentos da 
história humana bem anteriores à Revolução Industrial, a 
necessidade de coordenar grande número de trabalhadores 
esteve presente, como demonstram as Pirâmides, a Muralha da 
China, os grandiosos monumentos e arquedutos da antiguidade e 
dos tempos medievais. Contudo, estes empreendimentos se 
davam em ambientes onde o trabalho era escravo ou servil, a 
tecnologia estacionária e inexistia a necessidade capitalista de 
expandir o capital empregado, isto é, de gerar lucro. Por isto 
estas formas “primitivas” de gerenciamento eram marcadamente 
diferentes da gerência capitalista e permaneceram em um nível 
rudimentar. O capitalista tem de gerenciar o trabalho 
assalariado, que gera custo por cada hora improdutiva, além da 
tecnologia altamente dinâmica, sendo pressionado pela exigência 
de produzir um excedente de capital. É isto que estimula uma 
 21 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 02 
nova ciência de administrar que, mesmo nos seus primórdios, 
era muito mais completa e eficiente do que qualquer forma 
anterior. 
Algumas questões emergiram neste novo sistema: como 
manter os trabalhadores interessados no progresso da indústria? 
Nas oficinas artesanais, o controle baseava-se na obediência que 
os costumes da época exigiam tanto dos aprendizes quanto do 
homem que os contratava. Mas no novo sistema, a tradição e o 
orgulho no trabalho passaram a desempenhar papel cada vez 
menor, pois o capitalismo criou uma sociedade na qual 
predomina o interesse próprio. Por parte dos operários, não 
havia interesse pessoal no êxito da empresa, a não ser na 
medida em que permitia um meio de vida. Como extrair dos 
empregados a conduta diária que melhor serve aos interesses do 
capitalista? Como impor sua vontade aos trabalhadores se estes 
efetuam um trabalho sob base contratual voluntária (contrato 
livre de trabalho)? 
A necessidade de ampliar a capacidade produtiva do 
trabalho humano, para tornar mais lucrativos os negócios, tornou 
a gerência uma buscaconstante de aproveitamento do potencial 
virtualmente infinito do homem em gerar riqueza. Enquanto 
todas as espécies animais trabalham seguindo determinações 
ditadas pelo instinto – o que gera formas relativamente fixas de 
realizar as coisas – o trabalho humano é indeterminado, pois 
depende não da biologia, mas de fatores tais como estado 
subjetivo do trabalhador, sua história passada, as condições 
sociais sob as quais trabalha, as condições da empresa e as 
condições técnicas de seu trabalho, como está organizado, como 
se dá a supervisão, e toda uma gama de fatores sobre os quais a 
gerência procura desenvolver formas de intervir, visando 
aumentar a capacidade humana de trabalho. 
 
2.7 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: PROGRESSO HUMANO OU 
PROBLEMAS SOCIAIS? 
 
Existem grandes divergências nas análises de pensadores 
sociais acerca das conseqüências da Revolução Industrial sobre a 
sociedade. As condições de trabalho a que foram submetidos os 
operários nas primeiras fases da Revolução Industrial eram 
extremamente precárias, mas a evolução do padrão de vida 
desta classe ao longo do século XIX – sobretudo em função de 
sua atuação no combate aos abusos cometidos pelos capitalistas 
– é ponto de divergência nas análises dos pensadores sociais. 
Segundo Drucker (1999), a Revolução Industrial trouxe 
muitos benefícios para a sociedade. Segundo sua análise, os 
operários das indústrias adquiriram uma vida melhor do que a 
dos trabalhadores das zonas rurais antes da industrialização, 
cuja existência era submetida à tirania dos senhores da terra. A 
existência de uma alternativa à sociedade arcaica que vigorava 
no campo constituía um motivo importante para explicar porque 
 22 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 02 
as cidades atraíam tantos trabalhadores. Além disso, o progresso 
tecnológico saltava a olhos vistos, refletindo em progressos na 
medicina, aumentando a expectativa de vida das pessoas e, de 
modo um geral, elevando o nível de vida da população. Na 
sociedade consolidada após a Revolução Industrial, tornou-se 
possível, pela primeira vez na história humana, suprir as 
necessidades básicas de toda a sociedade. 
A vida cultural modificou-se bastante. A autoridade da 
Igreja Católica perdeu força, interferindo menos na liberdade de 
pensamento e nos rumos da investigação científica. 
Gradativamente, um novo modo de vida foi se constituindo, 
possibilitando uma gama mais variada de empregos, uma vida 
menos monótona e a fuga das condições incertas de existência 
no campo. A libertação dos padrões sociais estreitos da 
comunidade da aldeia, que eram fortemente vinculados a laços 
de dependência hierárquica, estendeu a margem de liberdade 
pessoal e deu origem a novas formas de relação entre as 
pessoas, novos grupos, agora não mais sujeitos apenas aos laços 
de família e ao parentesco de sangue. O estilo de vida urbano, 
cuja mobilidade tornou possível a ascensão na escala social, 
independente das condições de nascimento e de herança, tornou-
se admirado e almejado como um novo ideal de vida para maior 
parte da população. 
E quanto aos conflitos e contradições comumente 
associados a este período? Segundo Drucker, foi encontrada uma 
solução dentro dos parâmetros da sociedade industrial, solução 
esta que passou pelo aperfeiçoamento da capacidade de gerir a 
produção industrial. Trata-se da revolução da produtividade, 
promovida fundamentalmente pela administração taylorista. 
Durante o século XIX, o aguçamento dos conflitos entre 
operários e industriais gerou a crença de que o capitalismo criava 
uma oposição intransponível entre as classes. Dentro desta ótica, 
os donos das indústrias exploravam os operários, concentravam 
a riqueza em suas mãos e empobreciam cada vez mais os 
trabalhadores, condenando o próprio sistema ao fracasso. 
Frederick Taylor (1856-1915), engenheiro que 
desenvolveu a gerência científica no início do século XX, também 
estava bastante preocupado com estes conflitos, mas entendia 
que estes eram desnecessários, já que proprietários e 
trabalhadores poderiam ter um interesse comum pela 
produtividade, construindo, assim, um relacionamento 
harmonioso. Um aumento da riqueza poderia ser gerado se os 
trabalhadores se tornassem mais produtivos, e esta riqueza 
poderia se traduzir em maiores lucros e melhores salários, 
beneficiando as duas classes que se confrontavam inutilmente. 
Taylor apostava que a administração eficiente era capaz 
de tornar mais produtivos os trabalhadores, mas para isso seria 
necessário que a fábrica fosse conduzida por gerentes 
profissionais e não por proprietários cujo nível de conhecimento 
não era compatível com o de seu capital financeiro (TAYLOR, 
 23 Vania Martins dos Santos
Fundamentos Sociológicos da Administração Capítulo 02 
1970). Este era um aspecto importante naquele momento, já que 
as máquinas ofereciam grande oportunidade de criar maior 
capacidade de trabalho e isto não era totalmente aproveitado, 
porque os próprios trabalhadores não eram mais produtivos que 
antes. A crença dominante até aquele momento era a de que os 
trabalhadores deveriam trabalhar mais horas ou esforçar-se mais 
durante a jornada para que a produção aumentasse. Taylor 
procurou demonstrar que o que faltava aos trabalhadores não 
era mais empenho e sim seleção e treinamento adequados, além 
de métodos planejados para realizar suas tarefas – algo que 
poderia ser oferecido pelo gerente profissional. 
 Para Drucker, os números são significativos. Depois 
que a gerência científica começou a ser aplicada, a produtividade 
começou a subir à taxa de 4% ao ano nos países avançados. Foi 
justamente nestes países que se verificou uma elevação no 
padrão de vida dos trabalhadores. Parte disto reverteu-se na 
ampliação do consumo, o que gerou um efeito positivo para o 
desenvolvimento econômico. Drucker afirma ainda que foi 
possível produzir mais trabalhando-se menos, já que a jornada 
de trabalho nos países industrializados foi gradativamente 
reduzida, enquanto os níveis de produtividade só fizeram crescer. 
Isto fez com que, por volta de 1930, a gerência científica de 
Taylor tivesse se estendido a todo o mundo desenvolvido. 
 O principal efeito social disto foi a transformação dos 
operários em classe média nos países desenvolvidos, 
consolidando a sociedade capitalista como uma alternativa viável 
de organização social. Este fator foi crucial para o declínio das 
idéias socialistas, que propunham uma transformação radical do 
capitalismo: que os meios de produzir – tais como as fábricas e 
as terras – fossem coletivizados e controlados pelo Estado, como 
forma de acabar com as desigualdades sociais. 
 
2.7.1 As críticas à sociedade industrial 
 
No extremo oposto destas análises sobre os efeitos sociais 
da Revolução industrial, existem os pensadores que destacam o 
agravamento das desigualdades sociais como o principal entrave 
para a extensão dos benefícios da sociedade industrial à grande 
massa da população. 
Por um lado, como lembra Hobsbawn (1994), a transição 
da sociedade aristocrática para a sociedade industrial trouxe 
conseqüências positivas. No tempo em que reinavam as 
aristocracias, um conselheiro de Estado recusaria o pedido de um 
jovem e pobre advogado para um cargo no governo, sob 
alegação de que o pai deste era encadernador de livros e que, 
assim sendo, o jovem deveria se ater a este ofício. Na sociedade 
urbano-industrial, o filho de um encadernador de livros liberta-se 
da obrigação de agarrar-se

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