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Artigo - A vulnerabilidade do consumidor no comércio eletrônico Internacional e-commerce

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A vulnerabilidade do consumidor no comércio eletrônico Internacional – e-commerce
Consumer vulnerability in international electronic commerce – e-commerce
Vitória Piucco[footnoteRef:2] [2: Graduanda em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade de Passo Fundo - UPF. Bolsista PROBIC/FAPERGS. E-mail: viipiucco@gmail.com.] 
Liton Lanes Pilau Sobrinho[footnoteRef:3] [3: Professor dos cursos de Mestrado e Doutorado no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da Universidade do Vale do Itajaí. Professor do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado em Direito da Universidade de Passo Fundo. ] 
Resumo
O presente estudo versa sobre o e-commerce, uma modalidade de compra à distância muito utilizada. Comprar pela internet se tornou um hábito cada vez mais comum e embora aparentemente simples a legislação brasileira carece de um maior aprofundamento sobre o tema, ou seja, não esclarece sobre o e-commerce, ficando o consumidor vulnerável em caso de conflitos. Dessa forma, é necessário dar maior importância quando o consumidor optar por realizar uma compra no exterior, pois no contrato internacional por estar ligado a mais de um sistema jurídico, é preciso saber qual desses sistemas será a lei aplicável. Assim, em virtude do aumento do comércio eletrônico Internacional, sua regularização deve ser um tema cada vez mais relevante nos dias atuais. São questões juridicamente que surgem com a evolução da sociedade e que demandam uma maior proteção do Estado e dos organismos internacionais, visto que as leis não apresentam medidas específicas para tratar das relações.
Palavras-chave: E-commerce. Legislação. Vulnerabilidade. Internacional. 
Abstract
This study is about e-commerce, a widely used distance purchasing modality. Buying over the internet has become an increasingly common habit and although it is apparently simple, Brazilian legislation needs to go deeper into the subject, that is, it does not clarify e-commerce, leaving the consumer vulnerable in case of conflicts. Thus, it is necessary to give greater importance when the consumer chooses to make a purchase abroad, because in the international contract, as it is linked to more than one legal system, it is necessary to know which of these systems will be the applicable law. Thus, due to the increase in International electronic commerce, its regularization must be an increasingly relevant topic nowadays. These are legal issues that arise with the evolution of society and that demand greater protection from the State and international organizations, as the laws do not present specific measures to deal with relationships.
Keywords: E-commerce. Legislation. Vulnerability. International.
Introdução
Com os avanços tecnológicos, as sociedades se transformam expressivamente, como é o caso do termo e-commerce ou também conhecido como comércio eletrônico. Apesar de ser uma ferramenta muito utilizada, é necessário dar importância quando o consumidor optar por realizar uma compra no exterior, ou seja, estar no Brasil e realizar uma compra internacionalmente, pois as relações são firmadas por países distintos e consequentemente cada qual com seu ordenamento jurídico próprio, podendo surgir variados conflitos inerentes à questão. 
	O comércio eletrônico funciona como a comercialização de produtos e serviços pelos meios digitais. Basicamente há a exposição do produto em alguma página (marketing), será adicionado no carrinho eletrônico, concretizar-se-á a compra pelo pagamento, onde será feito um cadastro ou fornecimento de informações pessoais e a mercadoria será enviada no endereço desejado. Comprar sem sair de casa torna-se uma comodidade e o comércio internacional vem se expandindo rapidamente, principalmente pelos variados benefícios, sendo eles: desnecessidade de deslocamento, produtos tendem a possuírem preços menores pelo fato de serem vendidos e produzidos originalmente no país e pela celeridade nas negociações. 
	Entretanto, a partir do momento em que o consumidor brasileiro adquire um produto online, é estabelecida uma relação de consumo e sendo realizado internacionalmente os cuidados precisam ser redobrados para que a parte mais vulnerável (consumidor) não sofra prejuízos e receba os serviços e produtos adquiridos de forma previamente contratada. Nesses casos, não há a possibilidade de discutir as cláusulas com o fornecedor do produto ou do serviço, até mesmo em decorrência do idioma ou falta de compreensão jurídica, justificando uma maior vulnerabilidade do consumidor. 
	Embora rotineiro e aparentemente simples o entendimento sobre o comércio virtual, a legislação brasileira infelizmente carece de um maior aprofundamento sobre o tema. O artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) trata da “contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial”, porém não esclarece sobre o e-commerce, ficando o consumidor vulnerável e carente de entendimento. 
	Para solucionar as demandas judiciais, o Decreto Lei mais recente é de nº 7.962/13, advindo para ajudar a regulamentar o Código de Defesa do Consumidor, no que tange às relações oriundas do comércio eletrônico. Assim, além do Decreto Lei e do CDC, os litígios são solucionados por jurisprudências, Princípios e construções doutrinárias sobre o tema. Embora o Decreto contenha apenas cinco artigos, possui instrumentos especiais para a proteção do consumidor. No entanto, gera divergências ainda em relação à instabilidade e falta de segurança jurídica na tutela jurídica do consumidor. 
	Dessa forma, em virtude do aumento do comércio eletrônico Internacional, sua regularização deve ser um tema cada vez mais relevante nos dias atuais. São questões juridicamente que surgem com a evolução da sociedade, discussões que demandam uma proteção do direito necessitando de uma tutela efetiva do Estado e dos organismos internacionais relativos a conflitos que porventura possam ocorrer, visto que as leis não apresentam medidas específicas para tratar das relações consumeristas no comércio eletrônico internacional.
1 - O e-commerce na atualidade
Atualmente as Tecnologias da Informação e Comunicação trouxeram completa diversidade de meios inovadores nas relações negociais. Tal inovação é marcada pelo fenômeno da globalização, modelo capitalista no qual consiste na mundialização do espaço por meio da interligação social, política, econômica e cultural.
Dessa forma, nasce o e-commerce ou comércio eletrônico, sendo uma modalidade de comércio em que os negócios e transações financeiras são realizados por dispositivos eletrônicos, possibilitando a realização de negociação do contrato até a sua execução.
Nos ensinamentos de Silva: 
O e-commerce é um elemento central na visão estratégica de diversos países e, é uma verdadeira revolução tanto científica quanto comercial, que possibilitará um desenvolvimento sustentado economicamente, facilitando a aproximação entre oferta, procura e distribuição de bens e serviços em escala mundial, a expansão e interligações dos mercados, a criação de novas ocupações e a melhoria das condições sociais e econômicas da população.[footnoteRef:4] [4: SILVA, Juacy da. Comércio eletrônico e Globalização. Gazeta Digital: 2004. Disponível em: <https://www.gazetadigital.com.br/editorias/opiniao/comercio-eletronico-e-globalizacao/38835>. ] 
	Nesse sentido, mencionamos ainda o conceito proposto por de Fábio Ulhôa Coelho:
Comércio eletrônico é a venda de produtos, virtuais ou físicos, ou a prestação de serviços realizada em ambiente virtual. Tanto a oferta quanto a celebração do contrato é realizada por transmissão e receptação eletrônica de dados, podendo ocorrer por meio da internet ou fora dele.[footnoteRef:5] [5: COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de direito comercial: direito de empresa. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 47.] 
	Dentro do conceito amplo de consumo, observam-se várias relações contratuais, assim essas relações de comércio eletrônico envolvem o cidadão (consumer - C), o empresário (business - B) e o governo (governament – G).Luiz Alberto Albertin[footnoteRef:6] reconhece algumas formas de relação jurídico-contratual entre os estabelecimentos eletrônicos, sendo eles: [6: ALBERTIN, Luiz Alberto. Comércio Eletrônico: modelo, aspectos e contribuições de sua aplicação. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p.47. ] 
a) B2B (business to business) – a relação se dá através de contrato de consumo ou aquisição entre duas empresas
b) B2C (business to consumer) – as pessoas comuns são consumidores (art. 2º do Código de Defesa do Consumidor) que adquirem os produtos das empresas por meios digitais.
c) C2C (consumer to consumer) negócios feitos entre os próprios consumidores que ofertam produtos ou serviços para um indivíduo no qual cabe ao empresário intermediar os contratos disponibilizando o espaço virtual.
	O e-commerce está em constante crescimento em razão de suas características e benefícios. Para o consumidor é uma forma fácil de encontrar itens com preços mais baixos, celeridade nas negociações, redução das distâncias no qual o comprador pode ter acesso a diversos sites sem precisar sair de sua residência e como forma de haver uma maior comodidade. Para os fornecedores, os mesmos têm a possibilidade de acarretar mais estratégias de marketing e um alcance maior do público, além das reduções com despesas de um modo geral (funcionários, locação, luz). Ou seja, o e-commerce incentiva o consumo com a redução dos custos. 
	A expansão da internet nos últimos anos foi de grande influência para o crescimento do comércio eletrônico, proporcionando novas possibilidades de compra e venda, seja em ambiente nacional ou internacional. 
	Apesar dos diversos benefícios e o entendimento doutrinário ser claro, a legislação pátria carece desta profundidade, existindo poucos diplomas regulamentadores do tema vigentes no país. Desse modo, o consumidor como principal lesado possui proteção como forma de resguardar e assegurar os direitos dos consumidores através dos meios legais no qual serão comentados no próximo capítulo. 
2 - Legislações pertinentes nas relações de consumo em âmbito nacional
O e-commerce, por ser uma nova relação de consumo, trouxe desafios devendo ser contemplados pelo direito, uma vez que este tipo de modalidade devido ao fenômeno eletrônico trouxe um alto crescimento na sociedade brasileira.
A proteção do consumidor é um direito humano fundamental, positivado na Constituição Federal (CF) em seu art. 5º, inciso XXXII, prevendo a obrigação de o Estado programar políticas que garantem a defesa dos direitos dos consumidores.
A Constituição Federal também impôs proteção aos consumidores em seu artigo 24, inciso VIII ao prever competência legislativa aos entes federados sobre responsabilidade por dano ao consumidor e em seu artigo 170, inciso V contemplou o princípio da defesa do consumidor.
Ademais, a Lei 8.078 de 11 de setembro de 1990, também conhecida por Código de Defesa do Consumidor surgiu com o objetivo de proteção a todas as pessoas físicas ou jurídicas.
Pelo exposto, Werson Franco Pereira Rêgo e Oswaldo Luiz Franco Rêgo conceituam o Código de Defesa do Consumidor como:
Um diploma legal - tão criticado, quanto aclamado - constitui-se em poderosa ferramenta de cidadania. Estabelece normas de proteção e defesa daquele que se reconheceu como sendo a parte vulnerável em uma relação de consumo: o consumidor. Estabelece normas de ordem pública e interesse social, de onde se percebe a dimensão coletiva que se pretendeu dar à nova lei. Estabelece regras e princípios adequados à realidade presente, ao momento de relevantes transformações socioeconômicas operadas em todo o mundo.[footnoteRef:7] [7: RÊGO, Werson Franco Pereira; RÊGO, Oswaldo Luiz Franco. O Código de Defesa do Consumidor e o Direito Econômico. Disponível em <www.jus.com.br>.] 
O Código de Defesa do Consumidor é um importante instrumento de garantia de proteção nas relações de consumo e para a obtenção da ordem social, no qual se baseia nos princípios da dignidade da pessoa humana e da justiça social[footnoteRef:8]. [8: GONÇALVEZ, ALDA LÍDIA FERREIRA. O código do consumidor e a sua importância como instrumento da ordem econômica [manuscrito] / Alda Lídia Ferreira Gonçalves. 2012. Pág. 23. ] 
O rol de direitos garantidos ao consumidor é imenso, entretanto muitas vezes não é cumprido. Surgindo diversos conflitos, pelos vícios nos produtos, propagandas enganosas, recebimentos de mercadorias diferentes da que foi solicitada pelo consumidor, serviços prestados com má qualidade, descumprimento de termos de contrato, dentre outras, passaram a ser constantes neste tipo de relação.
O consumidor de maneira geral se encontra em uma posição vulnerável nas relações de consumo, sendo considerada a parte mais fraca desta relação, pelo fato de não encontrar igualdade de condições com o fornecedor. Tal situação foi reconhecida como o Princípio da Vulnerabilidade, no qual está expresso no art. 4º, inciso I do CDC.
	Quando a relação de consumo ocorre no meio eletrônico, firmado contrato com outro país essa posição de vulnerabilidade é potencializada por diversos motivos, como a falta de compreensão jurídica, a dificuldade em acionar ação judicial devido à distância, a barreira da linguagem, o risco de não receber o produto comprado,  a possibilidade de receber um produto diferente do que foi divulgado, desconhecimento de seus direitos ou condições econômicas, dentre outras.
O e-commerce se estendeu rapidamente atingindo milhares de consumidores. Dessa forma, o CDC estabeleceu em seu artigo 6º “Os direitos básicos do consumidor” e o Novo Código Civil de 2002 passou a adotar a mesma técnica legislativa utilizando-se de princípios, cláusulas gerais e conceitos abertos.
No entanto, tais preceitos não estão sendo suficientes para garantir proteção ao consumidor diante das relações de consumo, principalmente no que tange as relações do comércio eletrônico. Desse modo, além do Código Civil, foi publicado o Decreto Federal nº 7.962 de 15 de março de 2013 que regulamentado pelo Código de Defesa do Consumidor, têm como objetivo segregar as relações comerciais eletronicamente e garantir ao consumidor maior segurança jurídica.
As novas regras para o e-commerce previsto no Decreto Federal citado complementaram o Código de Defesa do Consumidor, facilitando os litígios quando os fornecedores não honrarem com as suas obrigações. Como exemplo se tem o aperfeiçoamento do artigo 49 do CDC, sobre o direito de arrependimento, no qual passa a obrigar os sites de e-commerce informarem de forma clara os meios que o comprador terá para realizar a troca ou devolução do produto.
Entretanto, apesar do avanço relacionado ao Decreto supracitado, infelizmente o mesmo ainda é omisso, causando insegurança ao consumidor no meio virtual, já que necessita do amparo na analogia, jurisprudência e costumes.
	Ainda, o Decreto nº 5.903/2006[footnoteRef:9] traz artigos que tratam apenas do preço dos produtos e do dever de informação. Em nenhum dos diplomas citados o legislador classificou claramente o e-commerce, a conceituação acaba por ser subentendida pelos consumidores e pelos aplicadores do direito, pela intimidade com o assunto, pela lógica do tema ou das construções doutrinárias e jurisprudenciais. [9: Decreto Federal nº 7962 de 15 de março de 2013. Regulamenta a Lei Federal 8078/90 para dispor sobre a contratação no comercio eletrônico. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d7962.htm>. ] 
Com o aumento das relações internacionais, se faz necessário um corpo de normas hábil a regulamentar tais transações, de forma a assegurar proteção suficiente e eficaz ao consumidor eletrônico. Verifica-se assim, que mesmo estando diante de normas ao consumidor, o nosso ordenamento jurídico atual, não está sendo suficientes para suprir todas as necessidades vindas das relações de consumo eletrônico.
	 
3 - A NECESSIDADE DE REGULAMENTAÇÃO DO COMÉRCIO ELETRÔNICO INTERNACIONAL
	Como mencionado é notório que as relações de consumo, em função das características das relações contemporânease pela facilidade trazida pela rede mundial de computadores, têm ocorrido cada vez mais entre consumidores e fornecedores de diferentes países, estabelecendo uma relação internacional denominada pela doutrina como, relação de Direito Internacional Privado.
	O conflito diz respeito a dois ou mais ordenamentos jurídicos no qual possam estar relacionados com a tutela sobre os interesses conflitantes entre as partes, onde cada Estado que possui relação poderá atrair para si a jurisdição sobre a matéria.
	Apesar da distância entre o consumidor e o fornecedor, o contrato é realizado por meio eletrônico, sendo denominados de “contratos à distância”, enquadrando-se como contrato de adesão, no qual não há possibilidade de discussão das cláusulas com o fornecedor, nesse caso, o consumidor realiza o contrato com seu computador e o simples ato de selecionar uma opção significa seu consentimento e concordância com diversas cláusulas, sendo que na maioria das vezes passa a ser desconhecidos pelo consumidor.
	Há doutrinadores que possuem o entendimento no qual nas contratações devem prevalecer a autonomia da vontade, conforme a LINDB, ou seja, as partes possuem liberdade para escolher a lei aplicável ao contrato. 	Nas palavras de Nádia de Araújo:
Qualquer restrição à autonomia da vontade e à liberdade de escolha da lei aplicável ao contrato internacional exige expressa previsão legal. Por ostentar qualidade de preceito fundamental na ordem constitucional brasileira, a autonomia da vontade é essencial para a vida em liberdade e para a dignidade da pessoa humana, constituindo parte integrante de direitos fundamentais e da democracia. Como inexiste em nosso ordenamento jurídico qualquer lei que proíba o exercício da autonomia da vontade, deve ser considerada inconstitucional qualquer interpretação extensiva do art. 9º da Lei de Introdução ao Código Civil (LICC) que restrinja o seu exercício[footnoteRef:10]. [10: ARAÚJO, Nádia de. A proteção do consumidor nos contratos internacionais: necessidade de regulamentação específica se torna realidade no Brasil e demais países do Mercosul. Revista de Direito do Consumidor. São Paulo, ano 24, vol. 100.] 
	Doutrinadores entendem que a regra do art. 9º da LINDB, que prevê a aplicação da norma do domicílio do fornecedor, exclui a aplicação do princípio da autonomia da vontade nesses contratos, uma vez que não se encontra expressamente previsto. Nesse sentido:
Em outras palavras, segundo a opinião majoritária da doutrina brasileira, as normas da Lei de Introdução ao Código Civil são obrigatórias e aplicável é o art. 9º da LICC, a excluir a autonomia da vontade nos contratos internacionais em geral, quanto mais nos de consumo.[footnoteRef:11] [11: MARQUES, Cláudia Lima. A proteção do consumidor de produtos e serviços estrangeiros no Brasil: primeiras observações sobre os contratos a distância no comércio eletrônico. Revista de Direito do Consumidor. São Paulo, ano 11, vol. 41, p. 71. ] 
	Ao aplicar esse princípio, o consumidor é prejudicado, pois, como são contratos de adesão, o fornecedor estrangeiro escolherá a legislação aplicável e infelizmente poderá ser interposta uma legislação menos vantajosa para o consumidor, onde esse último se quer possui a possibilidade de escolha. 
	Segundo Caio Mário, o contrato de adesão se caracteriza por ser "aquele que não resulta do livre debate entre as partes, mas provêm do fato de uma delas aceitar tacitamente as cláusulas e condições previamente estabelecidas pela outra".[footnoteRef:12] [12: PEREIRA, Caio Mário de Silva. Instituições de Direito Civil. Contratos. Vol. III. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 50 a p. 53.] 
	Quando aplicado o disposto no art. 9º da LINDB, no qual a lei será a do domicílio do fornecedor, o consumidor pode ser prejudicado ao se deparar com uma legislação menos protetiva que a legislação brasileira. Tal regra beneficia somente o fornecedor, para reger relações realizadas entre profissionais. Ou seja, o artigo traz a hipótese de contratos firmados entre comerciantes e profissionais, denominado Business to Business (B2B), mas não em relação à contratos firmados entre consumidores e fornecedores, denominados Business to Consummers (B2C), situação que demonstra a inefetiva tutela jurisdicional[footnoteRef:13]. [13: A vulnerabilidade do consumidor no comércio eletrônico internacional à luz das normas de direito internacional privado. ÂMBITO JURÍDICO, 2018. Disponível em: <https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-171/a-vulnerabilidade-do-consumidor-no-comercio-eletronico-internacional-a-luz-das-normas-de-direito-internacional-privado/>.] 
	Ressalta-se que, a autonomia da vontade quando aplicada aos contratos internacionais, realizados entre profissionais, pode ser vantajosa para ambas as partes. Contudo, o mesmo não se pode afirmar quando às relações de consumo ocorrerem por meio eletrônico, ou seja, quando o fornecedor contrata com um consumidor/indivíduo, pois o princípio poderia gerar insegurança e potencializar a vulnerabilidade do consumidor, através da imposição de uma lei menos vantajosa para o mesmo.
	Dessa maneira, a autonomia da vontade deve ser utilizada com certa cautela nas relações internacionais consumeristas, sob pena de colocar o indivíduo em uma posição de risco e vulnerabilidade pelas normas contratuais impostas pelo fornecedor, devendo assim o magistrado analisar o caso concreto levando em consideração a legislação mais favorável ao consumidor. 
	Pelo exposto é possível concluir que as normas de Direito Internacional Privado previstas na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro de 1942, não trazem menção em relação à proteção dos consumidores, uma vez que, tais normas são muito mais voltadas para a regulação das relações profissionais do que para a relação com um consumidor.
	Contudo, a utilização do princípio da autonomia da vontade de maneira absoluta apresenta ser inviável, uma vez que o consumidor é colocado em extrema vulnerável, inclusive juridicamente, que o coloca a mercê das imposições do fornecedor.
	Nesse sentido, é necessário realizar um avanço diferenciado para essas relações, com atualização das normas de Direito Internacional Privado Brasileiro que, atualmente, não regulam tal relação de modo satisfatório. Nas palavras de Khouri:
Como se vê, não existe, na Lei de Introdução ao Código Civil, qualquer norma específica do direito dos conflitos relativa à proteção do consumidor ou a qualquer outra categoria de contratante  que já à época pudesse ser considerado economicamente vulnerável.[footnoteRef:14] [14: KHOURI, Paulo Roberto Roque Antônio. A proteção do consumidor residente no Brasil nos contratos internacionais. Revista de Informação Legislativa. Brasília, ano 41, vol. 164, p. 68.] 
	Assim, necessário se faz uma adequação e regularização do Direito Internacional Privado, sendo viável que nessas situações fosse aplicada a lei do domicílio do consumidor, o que forneceria uma maior segurança jurídica. Contudo, não haveria a vedação da autonomia da vontade das partes, podendo ser utilizada quando for mais benéfica para o consumidor. 
Considerações finais
	É notório que a legislação brasileira é escassa, visto que não apresenta medidas específicas para tratar das relações consumeristas no comércio eletrônico internacional, o que possibilita constantes situações de violações e demonstrando a necessidade de adequá-la à realidade brasileira.
Nota-se que as transformações na sociedade se dão de maneira muito rápida, onde a legislação não consegue acompanhar e se manter atualizada com o surgimento diário de novos conflitos decorrentes de novas tecnologias. Assim, surgem lacunas no ordenamento jurídico que geram insegurança aos vulneráveis.
	Diante das especificidades do comércio eletrônico internacional e da vulnerabilidade dos consumidores, é importante que o Brasil crie normas no âmbito do Direito Internacional Privado para regularização esse da comercialização, em razão das regras de comércio eletrônico internacional serem mais voltadas para regular relaçõesprofissionais.
	Como visto, no Brasil não há uma lei específica para contratos internacionais realizados por meio eletrônico. Assim, utiliza-se a regra do art. 9º da LINDB, que é aplicada para os contratos em geral, no qual é adotando a lei do domicílio do proponente.
	Dessa forma, alguns doutrinadores defendem a aplicação da autonomia da vontade, onde as partes estipulam livremente as cláusulas contratuais e outros doutrinadores defendem a não aplicação da autonomia da vontade, por não haver previsão no art. 9º, LINDB. 
	Pelo exposto, seria viável adotar a aplicação da norma do domicílio do consumidor sem vedar a aplicação da autonomia da vontade, sendo permitida sua utilização quando a norma for mais benéfica para o consumidor.
	A evolução tecnológica e a globalização acarretaram mudanças nos padrões de produção, provocando a intensificação e aumento do comércio internacional. Consumir bens e serviços se tornou muito fácil, porém surgiram também problemas práticos tendo como conseqüência desafios legais que ainda esperam por respostas efetivas.
	A realidade das redes eletrônicas abertas e a disseminação do comércio eletrônico trouxeram fatalmente uma constatação: a de que as leis em vigor não são suficientes a oferecer respostas a todas as necessidades do consumidor nesses novos ambientes virtuais. A novidade das relações nesse tipo de ambiente sugere a existência de certas inadequações e lacunas na lei vigente que necessitam serem reparadas, pois são questões juridicamente que surgem com a evolução da sociedade e que demandam uma maior proteção do Estado e dos organismos internacionais. 
Referências
A vulnerabilidade do consumidor no comércio eletrônico internacional à luz das normas de direito internacional privado. ÂMBITO JURÍDICO, 2018. Disponível em: <https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-171/a-vulnerabilidade-do-consumidor-no-comercio-eletronico-internacional-a-luz-das-normas-de-direito-internacional-privado/>. Acesso em: 28 maio 2021. 
ALBERTIN, Luiz Alberto. Comércio Eletrônico: modelo, aspectos e contribuições de sua aplicação. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
ARAÚJO, Nádia de. A proteção do consumidor nos contratos internacionais: necessidade de regulamentação específica se torna realidade no Brasil e demais países do Mercosul. Revista de Direito do Consumidor. São Paulo, ano 24, vol. 100.
ARAUJO, Vanessa Dias; FERREIRA, Tayná Kikuchi; ALMEIDA, Danielle Rodrigues. Comércio eletrônico: vulnerabilidade do consumidor e a insuficiência do Código de Defesa do Consumidor. Jus.com.br. 2018. Disponível em: < https://jus.com.br/artigos/66040/comercio-eletronico-vulnerabilidade-do-consumidor-e-a-insuficiencia-do-codigo-de-defesa-do-consumidor>. Acesso em: 24 jul. 2021. 
BENEVENUTTI, Paula Danielle Vieira; OLIVEIRA, Deymes Cachoeira de. Contrato Eletrônico de Consumo: Uma Análise do Decreto Nº 7.962, de 15 de Março de 2013. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.4, p. 747-766, 4º Trimestre de 2013. Disponível em: <www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044>. Acesso em: 26 jul. 2021. 
BRASIL. Código Civil. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em: 20 jul. 2021. 
BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Lei 8.078 de 11 de setembro de 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm>. Acesso em: 28 maio 2021.
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 Jul. 2021.
BRASIL. Decreto nº 7.962, de 15 de Março de 2013. Regulamenta a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, para dispor sobre a contratação no comércio eletrônico. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d7962.htm >. Acesso em: 28 maio 2021. 
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Decreto-Lei nº 5.903, de 20 de setembro de 2006. Regulamenta a Lei no 10.962, de 11 de outubro de 2004, e a Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/d5903.htm>. Acesso em: 28 maio 2021.
Decreto-Lei nº 7.962, de 15 de março de 2013. Regulamenta a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, para dispor sobre a contratação no comércio eletrônico. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d7962.htm>. Acesso em: 28 maio 2021. 
GONÇALVEZ, ALDA LÍDIA FERREIRA. O código do consumidor e a sua importância como instrumento da ordem econômica [manuscrito] / Alda Lídia Ferreira Gonçalves. 2012.
GRANATO, Daniela Gonçalves. COSTA, Victória Queiroz. A PROTEÇÃO DO DIREITO DO CONSUMIDOR NO COMÉRCIO ELETRÔNICO INTERNACIONAL (E-COMMERCE). Revista de Direito Internacional e Globalização Econômica. Vol 1, nº 1, jan-jun 2017, p. 32-46.
KHOURI, Paulo Roberto Roque Antônio. A proteção do consumidor residente no Brasil nos contratos internacionais. Revista de Informação Legislativa. Brasília, ano 41, vol. 164, p. 68, out. – dez. 2004.
MARQUES, Cláudia Lima. A proteção do consumidor de produtos e serviços estrangeiros no Brasil: primeiras observações sobre os contratos a distância no comércio eletrônico. Revista de Direito do Consumidor. São Paulo, ano 11, vol. 41.
O que é E-commerce? Como funciona e os melhores em 2021. BERTHOLDO. Disponível em: <https://www.bertholdo.com.br/blog/o-que-e-e-commerce/#O_que_e_e-commerce>. Acesso em: 28 maio. 2021. 
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