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Cadernos de Paleografia - Número I -2014

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A Oficina de Paleografia - UFMG, em uma iniciativa conjunta com a Imprensa Oficial de Minas Gerais, traz ao público este audacioso projeto, que revela os enlaces entre três diferentes dimensões — manuscrito, 
transcrição e narrativa histórica — caminhos estes que nem sempre estão claros no fazer historiográfico.
 O principal objetivo da Oficina é reunir subsídios para a leitura de fontes manuscritas pertinentes à História 
luso-brasileira. Pretendemos, então, consolidar um espaço permanente de estudo, discussão, exercício e troca de 
experiências no trabalho em arquivos e na leitura e transcrição dessas fontes. Todos(as) os(as) interessados(as) são 
convidados(as) a participar, independentemente de experiência prévia.
 Acreditamos que o desenvolvimento da habilidade de ler e compreender os manuscritos importa, primei-
ramente, pelo seu caráter propedêutico: o de possibilitar o acesso direto a fontes de pesquisa, sem depender da 
publicação de transcrições e/ou comentários. Além disso, a leitura e transcrição paleográfica podem se constituir 
como campo de atuação profissional e como fonte de renda para aqueles que as dominam.
 Nossas atividades se iniciaram com uma aula inaugural em 9 de abril de 2012. No dia 16 de abril, iniciamos 
os nossos encontros semanais, ao longo dos quais pudemos repensar e aprimorar nossa metodologia de trabalho. 
Hoje contamos com a participação de alunos(as) e egressos(as) do Programa de Pós-Graduação em História da 
UFMG partilhando suas experiências de pesquisa em fontes manuscritas. Essa metodologia, consolidada a partir 
do 2º semestre de 2012 e em constante revisão, tem por objetivo, ainda, promover a integração entre os diferentes 
níveis de formação, graduação, mestrado e doutorado.
 Desde a nossa fundação, realizamos quatro aulas inaugurais, com público de até 80 participantes, dois 
Seminários interdisciplinares e mais de 60 encontros semanais, contando com uma média de 30 participantes de 
diferentes cursos da UFMG e de outras instituições de ensino.
 A Oficina de Paleografia - UFMG é um projeto parceiro da Oficina de Paleografia - UFJF e da Oficina de 
Paleografia - UFOP. Contamos com o apoio do Centro Acadêmico de História (CAHIS - UFMG), do Colegiado de 
Graduação, do Programa de Pós-Graduação, do Departamento de História e da Faculdade de Filosofia e Ciências 
Humanas da UFMG.
 A presente obra conta com os textos de André Cabral Honor, Carmem Marques Rodrigues, Mateus 
Frizzone, Emilly J. O. Lopes Silva, Marileide Lázara Cassoli, Carlos O. Malaquias, Gusthavo Lemos, Cássio Bruno 
de Araujo Rocha e Marcus Vinícius Duque Neves e prefácio do professor do Departamento de História da UFMG 
José Newton Coelho Meneses.
 Essa realização não seria possível sem o inestimável apoio da Imprensa Oficial de Minas Gerais, que gene-
rosamente acolheu nossa proposta de publicação, inserindo-a como mais uma iniciativa de democratização da 
informação e difusão da história e cultura de Minas Gerais, projetos levados a cabo por esse órgão desde a sua 
fundação, em 1891. A equipe da Oficina agradece imensamente pela grandiosa oportunidade viabilizada por essa 
parceria.
Cadernos de 
Paleografia
Número I
Organizadores:
Douglas Lima, Fabiana Léo, Gabriel Chagas, Gislaine Gonçalves, Igor Rocha, 
Leandro Rezende, Ludmila Torres, Luíza Parreira, Maria Clara C. S. Ferreira, 
Mateus Frizzone, Mateus Rezende, Rodrigo Paulinelli
Cadernos de 
Paleografia
Número I
iª edição
[versão eletrônica]
ISBN: 978-85-68687-01-7
ISBN da Edição Impressa: 978-85-68687-00-0
Imprensa Oficial de Minas Gerais 
Belo Horizonte, 2014
Governo do Estado de Minas Gerais
Governador: Alberto Pinto Coelho
Secretaria de Estado de Casa Civil e de Relações Institucionais
Secretária: Maria Coeli Simões Pires
Imprensa Oficial de Minas Gerais
Diretor-Geral:
Eugênio Ferraz
Chefe de Gabinete:
Antonio Carlos Teixeira Naback
Cadernos de Paleografia: Número I
Coordenação Editorial e 
Revisão dos Textos:
Douglas Lima de Jesus
Fabiana Léo Pereira Nascimento
Gabriel Afonso Vieira Chagas
Gislaine Gonçalves Dias Pinto
Igor Tadeu Camilo Rocha
Leandro Gonçalves de Rezende
Ludmila Machado Pereira 
de Oliveira Torres
Luíza Rabelo Parreira
Mateus Freitas Ribeiro Frizzone
Mateus Rezende de Andrade
Maria Clara Caldas Soares Ferreira
Rodrigo Paulinelli de Almeida Costa
Transcrição Paleográfica e 
Revisão das Transcrições:
André Cabral Honor
Cássio Bruno de Araujo Rocha
Douglas Lima de Jesus
Emilly Joyce Oliveira Lopes Silva
Fabiana Léo Pereira Nascimento
Gabriel Afonso Vieira Chagas
Gislaine Gonçalves Dias Pinto
Igor Tadeu Camilo Rocha
Leandro Gonçalves de Rezende
Ludmila Machado Pereira 
de Oliveira Torres
Luíza Rabelo Parreira
Marcus Vinícius Duque Neves
Mateus Freitas Ribeiro Frizzone
Mateus Rezende de Andrade
Maria Clara Caldas Soares Ferreira
Rodrigo Paulinelli de Almeida Costa
Apresentação:
Eugênio Ferraz
Prefácio:
José Newton Coelho Meneses
Projeto gráfico, diagramação, 
tratamento de imagens e capa
Daniel Dutra
Finalização Editorial (IOMG)
Fabiana Tinoco, com a 
colaboração de Joicely Agenor
Os textos e transcrições paleográficas contidos nesta obra estão licenciados sob uma Licença Creative Commons Atribuição - Não 
Comercial - Sem Derivações 4.0 Internacional. É permitido copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para 
uso não-comercial, desde que se atribua explicitamente a autoria e se indique os termos desta licença. Para ver uma cópia da 
licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/.
Os direitos de uso das imagens aqui reproduzidas devem ser verificados junto às respectivas instituições de guarda.
H897 Cadernos de Paleografia, Número 1 — Belo Horizonte : Imprensa 
Oficial de Minas Gerais, 2014.
 264 p.
ISBN: 978-85-68687-01-7
Vários autores.
 
1. Paleografia — Discursos, ensaios, conferências. 2. Brasil — 
História. 3. Portugal - História. 
 
CDD 417.7
“Sonho que se sonha só
É só um sonho que se sonha só
Mas sonho que se sonha junto é realidade”
Raul Seixas
Dedicamos este livro ao Felipe Damasceno,
que teria sonhado todos esses sonhos conosco.
Agradecimentos
Agradecer é uma tarefa difícil, especialmente quando podemos contar com con-
tribuições de tantas pessoas e em tão variadas formas.
Primeiramente, gostaríamos de agradecer àqueles que nos apoiaram desde o 
engatinhar do nosso projeto, quando tínhamos mais sonhos do que realidades: 
Centro Acadêmico de História (CaHis), Colegiado de Graduação, Programa de 
Pós-Graduação e Departamento de História e Faculdade de Filosofia e Ciências 
Humanas (FaFiCH) da Universidade Federal de Minas Gerais, bem como o seu 
corpo docente, discente e técnico-administrativo. 
Fundamentais na gestação dessa iniciativa foram o Prof. Dr. Eduardo França 
Paiva e os colegas Douglas Lima e Felipe Damasceno (in memoriam), que no segundo 
semestre de 2009 iniciaram o grupo de estudos então denominado Paleografia e 
Análise Crítica de Documentos Manuscritos, que tanto nos inspirou.
Foram também muito importantes no decorrer de nossa caminhada o Prof. Dr. 
José Newton Coelho Meneses, que coordenou o PPGHis durante a maior parte 
desse tempo e tanto nos estimulou em todos os nossos anseios e até no que nem 
ousávamos imaginar, de modo que não poderia ser outra pessoa a prefaciar este 
livro, o Prof. João Euripedes Franklin Leal e a Prof.ª Dr.ª Maria Helena Ochi Flexor, 
referências no campo da Paleografia no Brasil, que tão carinhosamente nos acolhe-
ram e encorajaram a voar mais alto. Não podemos nos esquecer da equipe que orga-
nizou o II Congresso Brasileiro de Paleografia e Diplomática — CBPD, momento a 
partir do qual a Oficina teve a oportunidade de ser conhecida para além do que nós, 
coordenadores, poderíamos imaginar naquela tarde de verão numa mesa da cantina 
em que nos reconhecemos como samideanos. 
Foram imprescindíveis no dia-a-dia da Oficina os frequentadores das nossas 
atividades, razão da nossa existência, bem como os convidados a partilhar suasexperiências nos nossos encontros, alguns dos quais nos brindaram com as reflexões 
encontradas neste livro. Somos igualmente gratos aos convidados e participantes 
dos eventos que promovemos e que tanto enriqueceram nosso aprendizado, assim 
como aos que nos proporcionaram a possibilidade de estender nossos diálogos na 
academia e fora dela.
Muito nos alegra, ainda, ver florescerem e darem frutos outras iniciativas discen-
tes com quem compartilhamos um ideal de construção solidária do conhecimento, 
dentre elas as Oficinas de Paleografia da UFJF e da UFOP, a Revista Temporalidades, 
o Encontro de Pesquisa em História da UFMG — EPHIS e o Núcleo Interdisciplinar 
de Estudos Teóricos — NIET, aos quais desejamos sempre sucesso e longa vida.
Não seria possível concretizar este e outros sonhos sem a amistosa sintonia 
entre os membros da coordenação, sem nos esquecermos daqueles que nos deixa-
ram para alçar outros voos. É muito recompensador o trabalho coletivo em todas 
as suas dimensões, aprendendo com cada tropeço e comemorando cada pequena 
conquista como se fosse a conquista do mundo. 
Ao nosso diagramador, que fraterna e generosamente nos presenteou com este 
belíssimo projeto gráfico, só nos resta desejar que ao longo de seu caminho não lhe 
faltem mãos amigas como as que ele nos estendeu.
Registramos nosso agradecimento, ainda, aos arquivos que guardam a docu-
mentação aqui reproduzida em fac-símile, a saber: Arquivo Histórico Ultramarino, 
Arquivo Público Mineiro, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Casa Setecentista 
de Mariana, Arquivo do IPHAN — São João del-Rei e Arquivo Municipal de 
Santa Bárbara.
Finalmente, nosso muito obrigado à Imprensa Oficial de Minas Gerais e seu 
dedicado corpo de funcionários, que deram forma e matéria ao sonho da nossa 
primeira publicação. Muito nos honra o reconhecimento e apoio de tão prestimosa 
instituição, pioneira na difusão cultural em nosso estado.
A Coordenação da Oficina de Paleografia — UFMG
Eugênio Ferraz
Diretor-Geral da Imprensa Oficial de Minas Gerais
Apresentação
A Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, além de fomentar a história e 
a cultura de Minas, também cumpre o papel institucional de apoiar e divulgar o 
conhecimento em áreas importantes para a preservação de propagação de fazeres 
(e.g. o reaproveitamento de sobras de sua área industrial) e de saberes.
Partindo dessa premissa, a Autarquia — que também construiu objetos para 
uso contínuo com restos descartáveis de carreteis e pedaços de papelão, sobras de 
madeira e aparas de papel — participou da produção da altruísta iniciativa intitu-
lada Cadernos de Paleografia: Número 1.
A obra se articula a partir da apresentação, transcrição e comentário de fontes 
manuscritas utilizadas pela Oficina de Paleografia, um projeto voluntário, coorde-
nado pelos próprios alunos da Universidade Federal de Minas Gerais. Os capítulos 
que compõem esta publicação se originam de conferências apresentadas por con-
vidados da Oficina, criada por alguns estudantes que sentiram a necessidade de 
buscar mais conhecimentos práticos no estudo de manuscritos antigos, e buscaram 
uma parceria para publicá-los.
A participação da Imprensa Oficial nesta parceria com alunos e egressos da 
graduação e pós-graduação do Departamento de História da UFMG vem legar para 
a posteridade uma cultura e uma tradição que estava se perdendo, ficando esque-
cida. Com a publicação, resgatamos toda essa bagagem que não pode ser deixada 
adormecida.
Em adição a este trabalho gráfico, oportuno em testes de novos equipamentos, 
o Grupo propiciará a servidores da Imprensa Oficial curso e oficinas de paleografia, 
abertos a outros órgãos e a cidadãos interessados, conjugando, assim, a missão da 
Autarquia com a disseminação cultural, em um encontro de valores em benefício da 
sociedade.
Aos membros do Grupo — e por extensão a seus professores, mestres que neles 
despertaram a paixão pelo tema — nossos mais efusivos parabéns pela profundi-
dade, seriedade e respeito com que tratam a busca e disseminação do conhecimento.
À Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, orgulha muito participar de um 
projeto dessa envergadura. 
Sumário
José Newton Coelho Meneses
Prefácio 
15
A Coordenação da Oficina 
de Paleografia — UFMG
A Oficina de Paleografia — UFMG: a construção de uma 
experiência discente 
21
André Cabral Honor
A Ordem Primeira de Nossa Senhora do Carmo e a elite 
açucareira goianense: entre vitupérios e rezas 
39
Carmem Marques Rodrigues
Os Portugueses e os Mapas: relações histórico-
cartográficas 
61
Mateus Freitas Ribeiro Frizzone
Os presos, os carcereiros e as péssimas condições da 
cadeia velha de Vila Rica (1734) 
73
Emilly Joyce Oliveira Lopes Silva
A censura literária em Portugal no Período Pombalino 
93
Marileide Lázara Cassoli
Nos campos de Têmis: senhores, escravos e ações cíveis. 
Mariana, 1850-1888 
117
Carlos de Oliveira Malaquias
Os processos-crimes: uma janela para o cotidiano do 
trabalho em Minas Gerais na primeira metade do séc. 
XIX 
145
Gusthavo Lemos
Fragmentos da paisagem rural brasileira: os Registros 
Paroquiais de Terra 
173
Cássio Bruno de Araujo Rocha
O estranho sodomita 
195
Marcus Vinícius Duque Neves
Peculiaridades da documentação sobre exploração 
mineral em Minas Gerais no séc. XIX 
237
Lista de documentos
Carta do capitão-mor de Itamaracá, José Fernandes 
da Silva, ao rei [D. João V], sobre o procedimento dos 
freis Miguel da Assunção e Manoel de São Gonçalo 
Disponível no Arquivo Histórico Ultramarino, 
notação AHU_ACL_CU_015, Cx. 34, D. 3164
Data: 24 de setembro de 1726, página 51
Requerimentode José da Silva solicitando liberdade. 
Disponível no Arquivo Público Mineiro, Fundo 
Câmara Municipal de Ouro Preto, CMOP Cx. 06 
Doc. 06
Data: 23 de janeiro de 1734, página 79
Representação da Câmara de Vila Rica informando 
da dificuldade em conseguir carcereiros. Disponível 
no Arquivo Público Mineiro, Fundo Câmara 
Municipal de Ouro Preto, CMOP Cx. 07 Doc. 05
Data: 31 de julho de 1734, página 83
Petição do carcereiro de Villa Rica para que nomeie 
um médico para pestar assistência aos presos. 
Disponível no Arquivo Público Mineiro, Fundo 
Câmara Municipal de Ouro Preto, CMOP Cx. 07 Doc. 
25
Data: 31 de setembro de 1734., página 87
Censura por Antônio Pereira de Figueiredo. 
Disponível no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, 
Real Mesa Censória, caixa 5, censura nº 55A.
Data: 12 de junho de 1770, página 105
Trechos do processo de liberdade de Antonio Avelar, 
escravo de Affonso Augusto de Oliveira. Disponível 
no Arquivo da Casa Setecentista de Mariana. Ação 
Cível. Códice: 448. Auto: 9680. Ano: 1883. Iº Ofício.
Data: 15 a 25 de maio de 1883, página 131
Trechos do processo-crime de Joaquim Luís do 
Nascimento e Antônio de Miranda Magro. Disponível 
no Arquivo do Escritório Técnico II, Iphan, 13ª 
Superintendência, São João del Rei.PC 28-05, 1835. 
Data: 6 de maio de 1835, página 157
Trechos do processo-crime de José Antônio Marcelhas 
e Ana Joaquina de Faria. Disponível no Arquivo do 
Escritório Técnico II, Iphan, 13ª Superintendência, 
São João del Rei. PC 04-09, 1843.
Data: 1843, página 165
Trechos do Livro de Registros Paroquiais de Terra. 
Disponível no Arquivo Público Mineiro, Registros 
Paroquiais de Terra, 1854-1861. TP-1-160.Piranga, 
Nossa Senhora da Conceição do (Vila de), Distrito de 
Calambau. 1856. 
Data: 1856, página 181
Trechos do Livro de Registros Paroquiais de Terra. 
Disponível no Arquivo Público Mineiro, Registros 
Paroquiais de Terra, 1854-1861. TP-1-159. Piranga, 
Nossa Senhora da Conceição do (Vila de). 1855-1856.
Data: 1855-1856, página 189
Trecho (Sentença) do Processo do Padre Frutuoso 
Alvares. Disponível no Arquivo Nacional da Torre 
do Tombo, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de 
Lisboa, processo 5846. Código de referência: PT/TT/
TSO-IL/028/05846.
Data: 7 de julho a 7 de agosto de 1593, página 215
Trechos da Ação sobre o direito de posse da Lavra 
da Tartaruga entre Capitão José de Aguiar LeiteMendonça Vasconcellos e sua mulher versus Eufrázio 
Pereira da Silva e outros. Disponível no Arquivo 
Municipal de Santa Bárbara/MG. Cx. 63, 1849 — 
Embargos — Caethé — Santa Bárbara.
Data: 6 de Junho de 1849, página 249
José Newton Coelho Meneses
Professor Associado do Departamento de História da UFMG
Prefácio
Prefaciar este livro é antes de tudo uma alegria, além de uma honra dada a mim 
pelos alunos da Oficina de Paleografia do Curso de História da FaFiCH-UFMG. 
Alegria porque a edição é produto denotativo de uma experiência acadêmica dis-
cente concreta e rica, em um tempo em que tais iniciativas são pouco estimuladas 
e, em decorrência, pouco concretizadas. A honra me faz sentir ainda mais feliz, des-
tacado que fui entre meus colegas docentes para fazer essa apresentação, mas com 
a plena consciência de que outros o fariam melhor. No entanto, fui eu, dentre os 
incentivadores da iniciativa, o premiado com a escolha dos alunos. É, então, como 
um presente ganho, que assumo essa responsabilidade. A retribuição a ele é meu 
compromisso com a continuidade de meu estímulo ao trabalho da Oficina. 
O meu texto será curto. Os que lhe seguem são os que, verdadeiramente, mere-
cem e precisam ser lidos.
As iniciativas acadêmicas dos discentes são atividades que merecem maior valo-
rização no meio universitário. O que dizer, então, de iniciativa discente integradora 
que se amplia no espectro dos vários cursos (Graduação, Mestrado e Doutorado), 
incorpora a experiência docente, dialogando com ela e, ainda mais, se estabelece 
como interdisciplinar? Esse tipo de ação universitária, que integra níveis pouco dis-
postos à conjunção do ato cotidiano é, ainda, mais louvável e é dele que falamos 
nessa apresentação e que este livro apresenta como produto, de forma, a meu ver, 
original e inédita.
É comum em nosso momento, no espaço da Universidade brasileira, uma cor-
rida produtivista e, às vezes, tecnicista e competitiva que vem dificultando a valori-
zação e a dedicação às iniciativas mais formadoras que, necessariamente, impõem 
Prefácio
[16]
necessidades de dedicação mais atentas ao cômputo amplo das partes que fazem a 
Universidade, seus corpos docente, discente e técnico-administrativo. Vivemos com-
partimentadamente esse nosso cotidiano na Universidade e discutir essa questão é, 
aliás, proposta que não ganha muitos adeptos na academia.
Como historiador, tento compreender esse momento e o entendo. Como profes-
sor, busco aquilatar as propostas e os caminhos da formação universitária. Como 
pesquisador, quero dar ênfase às buscas instrumentais da pesquisa. Como cidadão, 
penso que a Universidade desempenha papel fundamental de aliar teoria e apreen-
são do real. Mas não sou um indivíduo partilhado de forma estanque nessas instân-
cias e faço escolhas que as tentam conciliar em uma complexa unidade intelectual e 
em uma difícil ação corriqueira na Escola. É a partir dessa tentativa de compreensão 
do nosso mundo e do nosso meio que avalio a experiência da Oficina de Paleografia 
dos estudantes do Curso de História da UFMG (Graduação e Pós-Graduação). 
Adiantando uma síntese, ela é, para mim, atividade rica para a formação disciplinar, 
e é ação acadêmica integradora.
A Paleografia tem importância fundamental para a pesquisa histórica e, neste 
sentido, serve a várias disciplinas para além da História. É hoje, penso eu, mais fun-
cional e pragmática, sem perder seu caráter teórico e compreensivo acerca da escrita 
e de sua inserção temporal nos processos sócio-históricos. A função pragmática de 
avaliação da autenticidade documental e da interpretação-tradução da linguagem 
antiga constituíram o lugar do paleógrafo e da Paleografia no mundo moderno. Ela, 
sobretudo, apresenta-se, para os estudiosos que fazem dela uma prática no pro-
cesso de compreensão dos escritos antigos e de sua transcrição, um instrumento de 
memória poderoso e eficaz na guarda do feito original da escrita. Eficaz porque se 
presta, em sua essência, como instrumento analítico do documento histórico, atento 
à sua datação, sua procedência, à sua autenticidade e aos aspectos gráficos de sua 
construção.
A leitura paleográfica é prática plena e exemplar de uma sabedoria que carac-
teriza o saber científico da modernidade. Como ele, é umbilicalmente ligada a uma 
utilidade humanista precípua: desvelar o mundo através da manipulação cria-
tiva e criadora desse próprio mundo, conhecer o homem pelos feitos do próprio 
homem. Desvendar o humano pela escrita do homem é a raiz da Paleografia. Ela é 
um dos instrumentos mais poderosos da ciência moderna, ciência essa que trata o 
aporte instrumental como elemento primordial do próprio saber teórico da ciência. 
Instrumentalizar para investigar e investigar a instrumentalização são ações distin-
tas e diversas, mas se igualam em importância no processo do saber.
Prefácio
[17]
Como utilidade primordial, a Paleografia se apega a objetivos que são, também, 
específicos. Daí a sua especialidade como “disciplina”: atender, por meio de parâ-
metros estudados, aos vários saberes que precisam da escrita antiga e às diversas 
formas de acessar essa escrita. Neste livro uma das formas possíveis, a fac-similar, 
que não constrói uma mediação entre o leitor e o texto antigo, é acrescida. No 
entanto, privilegia-se a transcrição do texto em sua forma estritamente paleográ-
fica, onde a intervenção do autor respeita todos os aspectos testemunhais da escrita 
original. Os autores das transcrições, após apresentá-las, passam ao exercício mais 
pleno da mediação, viram intérpretes, exercitam a prática historiográfica, mostram-
-se historiadores.
O livro que o leitor tem em mãos, quando observo sua proposta e procuro 
entendê-la, busca a técnica paleográfica e a sua compreensão, sua aplicação na 
interpretação historiográfica. Os textos, ainda, objetivam discutir, mesmo que mini-
mamente, os suportes físicos, materiais dos conteúdos textuais antigos. Apresentam 
a experiência de uma oficina de leitura paleográfica, mesmo que não mostrem todas 
as atividades da Oficina que compreendem o levantamento, a catalogação, a higie-
nização, a microfilmagem, a fotografia, a digitalização, além, é claro, do próprio 
exercício de transcrição, evidenciado nos “capítulos” que se seguem. O livro, tam-
bém, pode denotar pouco atividades como a discussão acerca dos processos de tra-
tamento de imagens e de preservação das fontes, mas o essencial é que evidencia 
as técnicas de transcrição, de acordo com a metodologia da disciplina paleográ-
fica. Além disso ele denota claramente a importância da leitura documental para o 
historiador. 
Vem de muito tempo o valor da prática paleográfica, mesmo muito antes de a 
Paleografia ser vista como uma disciplina. A prática de historiar na Idade Média 
já apresentava transcrições, traduções, interpretações de alfabetos, coleções docu-
mentais escritas de tempos anteriores, utilizadas para a compreensão das realidades 
passadas. O nascimento da Paleografia moderna, no entanto, costuma ter seu marco 
cronológico plantado no século XVII. Atribui-se esse surgimento a uma necessidade 
jurídica de diferenciar documentos falsos e verdadeiros, para dirimir as disputas em 
torno de direitos civis e eclesiásticos, no âmbito dos tribunais de justiça. Seria um 
tempo onde a Paleografia e a Diplomática se confundiriam e apenas se iniciava uma 
preocupação em configurá-la como uma disciplina.
Neste contexto, o embate religioso entre jesuítas e beneditinos acerca da auten-
ticidade documental teria tido importância fundamental e fundadora. Em Antuérpia, 
os padres da Companhia de Jesus se dedicaram a construir uma coleção de textos 
sobre as vidas de homens santos, os Acta Sanctoru. O Jesuíta Jean Bolland (1596-
1665) foi o responsável pelos primeiros volumes dessa coleção e os “bollandistas” 
Prefácio
[18]
seguiram seus passos. Um deles, o padre holandês Daniele Van Papenbroek (1628-
1714) fez pesquisas em vários mosteiros pela Europa e, preocupado com a auten-
ticidadede documentos, publicou, em 1675, como prefácio do segundo volume 
dos Acta Sanctorum, o texto Propylaeum antiquarium circa verí ac falsi discrimen 
in vetustis membranis (Princípios introdutórios para a discriminação entre o ver-
dadeiro e o falso nos documentos antigos). Essa crítica diplomática colocou em 
evidência dúvidas sobre a autenticidade de documentos de alguns mosteiros benedi-
tinos na França, principalmente os da Abadia de Saint-Germain-des-Près, nos arre-
dores de Paris, pondo sob dúvida uma tradição secular beneditina. A resposta desta 
ordem vem por um de seus membros, Jean Mabillon (1632-1707). Ele publicou, 
em 1681, De re diplomatica. Tal obra propugna princípios e refuta argumentos 
de Papenbroek, sendo muito bem aceita e elogiada até pelo próprio padre jesuíta 
criticado. São princípios básicos da Diplomática que, na sua parte final propõe 
uma classificação sistemática das escritas, considerado como um primeiro tratado 
de Paleografia, sem, no entanto, utilizar essa palavra. Ela é introduzida na obra 
de outro beneditino, Bernard Montfaucon (1655-1741), em seu livro Paleographia 
Graeca sive de ortu et progressu Litterarum, de1708. Apesar disso, tem-se Mabillon 
como o pai da Diplomática e da Paleografia modernas. Tal atribuição vem do fato 
de que sua obra estimulou o aparecimento de vários outros textos que dialogaram 
com ele e aprimoraram as regras paleográficas na Inglaterra, Espanha, Alemanha 
e Itália. Na Itália, afinal, é que Scipione Maffei (1675-1755), a partir do estudo de 
códices de várias épocas da Biblioteca de Verona, publica, em Mântua, em 1727, 
o livro Istória Diplomática che serve d’introduzione all arte critica en tal matéria, 
base de uma nova classificação de textos antigos.
O final do século XVII e o início do XVIII foi um tempo, portanto, onde se pode 
sediar o início da Paleografia disciplinar moderna. A partir daí, estudos paleográ-
ficos foram feitos e refeitos com uma frequência constante e rica em proposições 
disciplinares, começando, inclusive, a comporem cátedras nas universidades euro-
peias. Em Gottingen, na Alemanha, por exemplo, em 1765, o professor Johann 
Christophe Gatterer (1727-1799), construiu uma classificação das escritas, inspi-
rada em Lineu, onde dispunha uma hierarquia de escritas em regna, classes, ordines, 
series, partitiones, genera e species. 
É ao final do século XVIII, ainda, que surgem as Escolas Superiores de Paleografia. 
São exemplos delas, na Itália (Bolonha, Florença e Milão, em 1765), na França (École 
Royale des Chartes), na Espanha (Escuela Superior de Paleografia y Diplomática, em 
1838), na Áustria (Instituto de Paleografia, em 1854) e na Inglaterra (Paleographical 
Spciety, em 1873). Neste tempo, assim, a Paleografia é vista como uma ciência.
Prefácio
[19]
No final do século XIX, a fotografia surgiu como novo instrumento importante 
para a Paleografia e documentos começaram a ter sua reprodução em fac-símiles 
apresentadas ao público interessado. Nova forma surgiu para servir aos estudiosos 
e preservadores das escritas, e adquiriu grande importância em todo o século XX. 
Neste último século, então, a Paleografia, menos disciplinar e mais como técnica 
popularizada e pragmática, foi se incorporando aos estudos universitários de várias 
formações e ganhou força nas pesquisas históricas, o que se verifica até nossos dias.
Esse comentários contextuais acima, mesmo que superficiais e rápidos, a título 
de apresentação ao leitor de outros campos que não os da História, nos servem para 
aquilatar a importância da iniciativa deste livro e sua fundamentação na busca de 
tratar o documento escrito com uma crítica criteriosa e com rigor investigativo. A 
complexidade da leitura paleográfica ultrapassa a simplicidade da simples busca 
pela autenticação. Ela é parte fundamental da crítica ampliada às fontes escritas. É 
instrumento sem o qual o historiador que utiliza tais fontes não investiga. 
O conjunto dos documentos e dos textos interpretativos aqui apresentados por 
graduados, mestrandos e mestres, doutorandos e doutores, nos mostra uma varie-
dade documental interessante. Processos crimes ou embargos, acórdãos ou autos 
de censura, cartas ou processos de liberdade são substratos daquilo que verdadei-
ramente tratamos como fontes. Repertórios ricos de dados que permitem aos auto-
res uma exploração criativa de informações, para transformá-los em interpretações 
plausíveis e em compreensões de um real que tenta escapar de nós. De arquivos 
nacionais ou de acervos arquivísticos locais, são escritas de outros tempos que per-
mitem uma história viva, pulsante de presentes e de devires.
Os autores dos textos que seguem, André Cabral Honor, Carlos de Oliveira 
Malaquias, Cássio Bruno de Araujo Rocha, Emilly Joyce de Oliveira Lopes Silva, 
Gusthavo Lemos, Marcus Vinícius Duque Neves, Marileide Lázara Cassoli e Mateus 
Freitas Ribeiro Frizzone, atentaram por atender ao objetivo deste livro e foram feli-
zes ao construírem interpretações que evocam as possibilidades dos documentos 
transcritos, optando pela perspectiva e problema definidos. Os textos são claros e 
sintéticos para atender à demanda da Oficina. A despeito disso, são claramente pro-
duzidos com rigor e capricho, com vontade didática e criatividade reflexiva. Precede 
estes textos, diríamos, analíticos documentais, um necessário capítulo escrito a várias 
mãos pelos coordenadores da Oficina: Douglas Lima, Fabiana Léo, Gabriel Vieira 
Chagas, Gislaine Gonçalves, Igor Camilo Rocha, Leandro Gonçalves de Rezende, 
Ludmila Torres, Luíza R. Parreira, Maria Clara C. S. Ferreira, Mateus Frizzone, 
Mateus Rezende de Andrade e Rodrigo Paulinelli. “A Oficina de Paleografia — 
UFMG: a construção de uma experiência discente” aponta tudo o que poderíamos 
relatar sobre a iniciativa dos alunos. Historiam o trabalho da Oficina, justificando 
Prefácio
[20]
sua existência, refletem sobre os documentos escritos e seu papel na construção da 
narrativa histórica e, por fim, apresentam o pensamento do grupo a respeito da 
Paleografia no ensino de História.
A edição deste livro apresenta uma experiência de oficina paleográfica desen-
volvida por estudantes que valorizam esse saber-fazer e que o experimentam em seu 
cotidiano de pesquisa histórica. Saber, prática e uso cotidiano são aliados poderosos 
na consistência do que vai aqui exposto ao leitor. Ele não mostra tudo que esses 
estudantes vivenciam na experiência acadêmica da Oficina de Paleografia. Mais 
que técnicas e pragmatismos, a Oficina exercita o rigor no trabalho investigativo, a 
capacidade de abstração e as possibilidades problematizadoras dos objetos docu-
mentados pela escrita.
Ao leitor atento, é salutar ler as páginas que se seguem com a humildade do 
aprendiz. Verá lições de jovens historiadores.
Paris (neste momento fria, mas com céu azul, 
depois de 24 horas de escuridão e chuva),
13 de outubro de 2014.
A Coordenação da Oficina de Paleografia — UFMG1
a Oficina de Paleografia 
— UFMG: a construção de 
uma experiência discente2
Uma iniciativa discente pioneira
No ofício do historiador, a leitura e a transcrição paleográfica são fundamentais, 
primeiramente, pelo seu caráter propedêutico: o de possibilitar o acesso direto às 
fontes de pesquisa, sem depender da publicação de transcrições e/ou comentários. 
Essas habilidades podem, ainda, se constituir como fonte de renda adicional ou 
principal para aqueles que as dominam. No entanto, a leitura paleográfica perma-
nece como uma espécie de nicho, e são relativamente poucos os historiadores por 
formação que se aventuram nesse campo. É muito frequente que o trabalho com as 
fontes originalmente manuscritas se dê a partir de publicações impressas ou que a 
fase da pesquisa relativa à consulta às fontes seja “terceirizada”, deixada a cargo de 
estagiários e bolsistas ou de prestadores de serviço mais ou menos especializados. É 
difícil não atribuir esse descompasso entre a importância da leitura paleográfica na 
1. ANDRADE, M. R.; CAMILO ROCHA,Igor Tadeu; CHAGAS, G. A. V.; COSTA, R. P. A.; 
FERREIRA, Maria Clara C. S.; FRIZZONE, M. F. R.; LÉO, Fabiana; LIMA, Douglas; PARREIRA, L. 
R.; PINTO, G. G. D.; REZENDE, L. G.; TORRES, L. M. P. O..
2. Uma versão estendida deste texto foi submetida ao II Congresso Brasileiro de Paleografia e 
Diplomática, ocorrido em junho de 2013, pelos coordenadores Douglas Lima de Jesus, Fabiana Léo 
Pereira Nascimento, Gabriel Afonso Vieira Chagas, Igor Tadeu Camilo Rocha, Leandro Gonçalves 
de Rezende e Mateus Freitas Ribeiro Frizzone, com o título “O ensino da leitura paleográfica na 
Oficina de Paleografia — UFMG: relatos de uma experiência discente”. 
a Oficina de Paleografia — UFMG: a construção de uma experiência discente
[22]
pesquisa histórica e o domínio das habilidades a ela relativas pelos historiadores a 
uma patente lacuna nas grades curriculares dos cursos de graduação, associada à 
quase inexistência, pelo menos de maneira mais sistemática, de iniciativas extracur-
riculares nesse sentido.
Em uma breve pesquisa sobre a existência de iniciativas de ensino de paleografia 
estruturadas nos cursos de História de outras instituições realizada no ano de 2013, 
buscaram-se informações sobre os cursos de graduação em História oferecidos em 
Belo Horizonte e nas nove universidades federais existentes no estado de Minas 
Gerais3. O trabalho se deu, quando possível, através do contato com alunos, ex-alu-
nos e docentes; além disso, foram feitas pesquisas nos currículos e nas disciplinas 
ofertadas, a partir de informações disponíveis nos sites dessas instituições. O fato 
de não encontrar resultados positivos não significa, necessariamente, a inexistência 
de tais iniciativas. Porém é possível supor o caráter efêmero e, sobretudo, a baixa 
divulgação e circulação dessas experiências.
Iniciativa de uma dupla de alunos do Departamento de História da UFMG que 
compartilhavam dificuldades e experiências na transcrição paleográfica entre si, o 
grupo de estudos então denominado Paleografia e Análise Crítica de Documentos 
Manuscritos surgiu no segundo semestre de 2009 como um grupo de ajuda mútua 
entre aqueles que trabalhavam ou pretendiam trabalhar com manuscritos, princi-
palmente dos séculos XVIII e XIX, e se viam às voltas com o desafio de se capacitar, 
de maneira autodidata, para a leitura de suas fontes de pesquisa. Naquele momento, 
outros 6 alunos tiveram seu primeiro contato com documentação digitalizada, con-
tato este que se revelou bastante profícuo, uma vez que a totalidade daqueles alunos 
de alguma forma passou a se envolver em atividades de pesquisa em manuscritos. 
Com o fim do semestre letivo, a incompatibilidade de horários e sobrecarga de tare-
fas acadêmicas impossibilitou a continuidade do projeto, que, no entanto, permane-
ceu vivo como memória de uma experiência modesta, porém bastante frutífera, de 
aprendizagem construída de maneira colaborativa. No início de 2012, a iniciativa 
foi retomada. Hoje a coordenação é formada por seis alunos do mestrado, um do 
doutorado, quatro da graduação e um egresso; desses, cinco são coordenadores 
desde o início.
No seu formato original, ainda que com reuniões abertas ao público, se espe-
rava uma participação pequena de novos interessados. O segundo nome do grupo 
3. Foram pesquisados os currículos dos cursos de História das seguintes instituições: PUC MG, 
Uni-BH, Estácio de Sá BH, UFJF, UFSJ, UFV, UFU, UFTM, UNIMONTES, UNIFAL, UFVJM e 
UFOP. Vale ressaltar que o currículo do curso de História da Uni-BH prevê uma disciplina de 
paleografia, porém, segundo informações de docentes, tal disciplina já não é ofertada há algum 
tempo.
a Oficina de Paleografia — UFMG: a construção de uma experiência discente
[23]
corrobora com essa dimensão reduzida que fora planejada: Oficina Permanente 
de Paleografia. O fato de a palavra “permanente” estar presente na denominação 
aponta para uma vontade de consolidar o projeto de maneira duradoura — ven-
cendo os primeiros encontros e tentando superar a efemeridade de parte conside-
rável dos grupos de estudo criados até então — mais do que para o projeto, que 
acabou se realizando preterintencionalmente, de ampliação do público-alvo e diver-
sificação das atividades.
É importante ressaltar aqui que o público recebido extrapolou muito as expec-
tativas iniciais, não só na quantidade, mas também em sua variedade. Inicialmente 
essa variedade se deu dentro do próprio curso de História, com participantes de 
diversos períodos, muitos sem nenhum contato com documentação manuscrita. A 
grande procura das atividades da Oficina por indivíduos cuja experiência na lei-
tura documental e paleográfica tendia a zero exigiu uma contínua reelaboração de 
metodologia e objetivos. Essa reestruturação ainda não chegava ao oferecimento 
de um curso de paleografia propriamente dito, mas na inserção desses interessados 
nos debates do grupo — ainda compreendido como de ajuda mútua, apesar dessa 
primeira ampliação — dispensando uma parte do tempo das reuniões para discu-
tir e trabalhar questões muitas vezes já tidas como conhecimento comum para o 
grupo fundador. Rediscutir esses aspectos de forma diluída ao logo dos encontros 
não foi, entretanto, penoso e enfadonho, e sim muito enriquecedor. Resultado disso 
foi a incorporação, de maneira permanente, dos componentes historiográficos e 
contextuais relacionados aos manuscritos trabalhados, que foram ganhando, como 
veremos adiante, um espaço maior nas discussões semanais.
A Oficina passou, gradualmente, a se consolidar como um algo a mais do que 
um grupo de estudos, tornando-se um projeto de atuação cada vez mais multiface-
tada e plástica e, talvez por isso, não definível por nenhuma das nomenclaturas tra-
dicionais para iniciativas extracurriculares no âmbito da universidade. A coordena-
ção se estabeleceu propriamente como um grupo de estudos que planeja, estrutura 
e oferece um curso com componentes teóricos, historiográficos e práticos, visando 
promover com seu público treinamento na leitura elementar e crítica e na transcri-
ção de fontes manuscritas modernas em língua portuguesa. Ao ampliar as ativida-
des de modo a incluir público externo à universidade, de uma maneira inicialmente 
tímida, mas mais sistemática nos projetos futuros, é possível dizer que a Oficina 
vem se tornando uma espécie de guarda-chuva de projetos menores, atuando, assim, 
tanto no nível da pesquisa como do ensino e da extensão4.
4. As atividades semanais da Oficina são gratuitas e abertas a todo o público interessado. O grupo 
também oferece minicursos em eventos acadêmicos, buscando sempre novas parcerias para ofertá-
los à comunidade em geral. Atendendo à solicitação de alguns professores do Departamento de 
a Oficina de Paleografia — UFMG: a construção de uma experiência discente
[24]
Vale acrescentar ainda que o alto índice de interessados se deu pelo sucesso da 
divulgação oral, sendo importantíssima a contribuição de alguns professores do 
Departamento de História da UFMG. Além disso, a coordenação da Oficina utilizou 
extensamente as mídias sociais, começando pela internet, com a criação do site e da 
página na rede social Facebook5 e a maciça divulgação nesses meios, assim como a 
utilização das mídias institucionais da Universidade Federal de Minas Gerais. Para 
maximizar o alcance, era necessário simplificar o nome do projeto, buscando o 
seu enraizamento entre o público alvo. Dessa forma, chegamos à nossa terceira e 
última designação, Oficina de Paleografia — UFMG. A supressão do termo “per-
manente” refletiu a constatação de que a iniciativa havia extrapolado seus objetivos 
e desafios iniciais, gerando mais confiança quanto à superação do antigo risco de 
desintegração.
A respeito da explicitação do recorte linguístico-temporal da atuação da Oficina 
(do termo genérico “paleografia”, contido na denominação do projeto, ao um pouco 
mais específico “paleografia portuguesa moderna”, que passou a constar na descri-
ção da iniciativa tanto nos documentos de apresentaçãodo projeto à universidade 
e seus interlocutores como nos canais de comunicação com o público-alvo) cabe 
ressaltar que ela é resultado de pelo menos 3 processos: (a) a consciência, cada 
vez mais clara, da extensão do campo do conhecimento que pode ser denominado 
Paleografia, em sua abrangência espaço-temporal e cultural, em seu caráter cien-
tífico e teórico-metodológico próprio e em seus múltiplos diálogos e interinfluên-
cias com os mais variados campos do saber humano; (b) a percepção cada vez 
mais nítida da limitação da capacitação adquirida até então pelos coordenadores 
(baseada, como discutiremos adiante, no autodidatismo) combinada a uma limita-
ção também da disponibilidade de tempo e materiais de estudo para acelerar essa 
capacitação, o que levou a definir objetivos diferenciados para o curto, o médio e 
o longo prazo e (c) a necessidade, diante do aumento e diversificação exponenciais 
do público interessado, de recortar e explicitar melhor a atuação possível, dentro da 
disponibilidade de materiais e capacitação da coordenação, no curto e médio prazo.
História e da Escola de Belas Artes da UFMG, ministrou aulas de introdução à paleografia em 
suas respectivas disciplinas de cursos de graduação. Finalmente, em 2014, desenvolveu um projeto 
paralelo no Colégio Pedro II, em Belo Horizonte, com alunos de Ensino Médio, projeto este que tem 
a perspectiva de se estender a outras instituições de educação básica da região.
5. Os endereços são: <http://abre.ai/oficinadepaleografia> e <http://facebook.com/
oficinadepaleografia>.
a Oficina de Paleografia — UFMG: a construção de uma experiência discente
[25]
História e documentos6
Pensando a História como uma narrativa que se pretende ao real por uma repre-
sentação do acontecido, construída a partir de vestígios do passado7, consideramos 
então que o “documento” — em uma perspectiva alargada — é fundamental na 
produção dessa narrativa. A pesquisa documental fornece ao historiador elementos 
imprescindíveis de fundamentação empírica necessários para que sua pesquisa seja 
conduzida sem que se perca uma noção do real, separando, dessa forma, a História 
da narrativa literária. Como nos diz Certeau8, muito além de uma narrativa, a ope-
ração historiográfica é também uma prática e uma instituição. O passado não é 
um dado, mas um produto da História, que depende de uma prática, dos arquivos, 
da documentação, da fabricação desses documentos e sua constante reorganização, 
que, por sua vez, possui técnicas específicas e bem definidas.
Essa necessidade da prova, de uma ligação com o real, com o acontecido — 
que, mesmo sendo um objetivo inalcançável, é um objetivo eterno — é suprida 
pelos vestígios do tempo passado que chegaram ao presente. No entanto, é sabido 
e muito discutido que se deve considerar todo documento como ao mesmo tempo 
verdadeiro e falso: verdadeiro enquanto produto de uma época, falso enquanto por-
tador de uma intencionalidade que não pode ser deixada de lado. Segundo Carlo 
Ginzburg, “os historiadores [...] têm como ofício alguma coisa que é parte da vida 
de todos: destrinchar o entrelaçamento de verdadeiro, falso e fictício, que é a trama 
do nosso estar no mundo”9.
6. A nomenclatura “documento” remete, inicialmente, ao escrito produzido pelo poder estabelecido 
e suas instituições oficiais. Na pesquisa histórica contemporânea, torna-se mais adequada a 
denominação de “fonte”, que aponta tanto para uma variação do suporte e forma, incluindo os 
vestígios não escritos em toda a sua multiplicidade (filmes, canções, imagens, novelas, etc.), como 
para uma extensão, dentro do próprio universo da cultura escrita, daquilo que pode ser considerado 
como de interesse para os estudos históricos. Dessa forma, também escritos de natureza privada 
e informal, como cartas, bilhetes, diários, contabilidade de propriedades privadas, dentre outros 
exemplos, passaram a ser, ao lado dos documentos oficiais, objeto de pesquisa e estudo. “Documento” 
e “fonte” não se confundem, por serem termos que se referem a compreensões diferentes do fazer 
histórico. No entanto, por um certo uso consagrado do primeiro termo, ele permanece sendo 
utilizado de uma maneira ressignificada. No presente texto, exceto quando se referir a contextos 
anteriores da ciência histórica, os termos “documento” e “manuscrito” deverão ser compreendidos 
nesse contexto alargado do que seja uma fonte histórica.
7. GAY, Peter. O Estilo na História: Gibbon, Ranke, Macaulay, Burckhardt. São Paulo: Cia das Letras, 
1990. passim.
8. CERTEAU, Michel de. A escrita da história. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 2006.
9. GINZBURG, Carlo. O fio e os rastros. Verdadeiro, falso, fictício. Tradução de Rosa Freire d’Aguiar 
e Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.14.
a Oficina de Paleografia — UFMG: a construção de uma experiência discente
[26]
Atentando-nos mais para a questão do documento, não é possível deixar de 
mencionar a tão conhecida e importante discussão de Jacques LeGoff10 sobre a 
necessidade de se tratar o documento como monumento11:
O documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é 
um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de força 
que aí detinham o poder. Só a análise do documento enquanto monu-
mento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-
-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa. [...] O 
documento é uma coisa que dura, que fica, e o testemunho, o ensina-
mento (para evocar a etimologia) que ele traz devem ser em primeiro 
lugar analisados, desmistificando-lhe o seu significado aparente. O 
documento é monumento. Resulta do esforço das sociedades históri-
cas para impor ao futuro — voluntária ou involuntariamente — uma 
imagem de si próprias12.
Sendo assim, o documento histórico pode ser lido como um produto de um 
determinado contexto que o forjou de modo a passar, conscientemente ou não, um 
rico campo de relações, ideias e representações sobre si à posteridade. Fundamental 
ao ofício do historiador, o documento é um objeto de disputa em torno de uma 
ampla e complexa construção de discursos que lhe atribuem sentidos mutáveis ao 
longo do tempo. É, frequentemente, objeto de polêmicas. Tal questão acerca da 
natureza monumental dos documentos adquiriu novos contornos na medida em 
que surgiram correntes que valorizavam a autenticidade dos documentos e desen-
volveram mecanismos de verificação da mesma.
Uma crítica entre a ligação do discurso ao poder assumiu novas feições na Idade 
Moderna, sobretudo no contexto das Reformas religiosas ocorridas a partir da pri-
meira metade do século XVI. Combater princípios de autoridade defendidos no 
discurso eclesiástico contrarreformista, reforçado e difundido após o Concílio de 
Trento (1545-63), tornou-se um desafio em diversos campos do pensamento do 
período. Propuseram-se a esse combate, por exemplo, Erasmo de Roterdã e Rabelais, 
precedidos pela perícia filológica dos humanistas italianos desde o século XIV. Um 
célebre exemplo disso foi o de Lorenzo Valla (1407-57), que examinou documen-
tos medievais e desmentiu a versão canônica da doação das terras vaticanas que 
o Imperador Constantino teria feito ao Bispo de Roma. A sua análise linguística 
10. LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento. In: LE GOFF, J. História e Memória. Campinas: 
Editora Unicamp, 2010. 4ª reimpressão. p. 525 — 541.
11. Le Goff, a princípio, caracteriza o monumento como um sinal do passado ligado ao poder de 
perpetuação das sociedades históricas, que raramente é de papel; enquanto o documento tem um 
papel justificativo, de prova, muito mais objetivo.
12. LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento. p.536-538.
a Oficina de Paleografia — UFMG: a construção de uma experiência discente
[27]
demonstrou que o latim do diploma de doação era “bárbaro”; um texto forjado, 
portanto, cuja língua não correspondia ao estilo oficial romano do século IV13. Uma 
noção similar de documento como representação fidedigna do passado foireto-
mada séculos depois pela História metódica dita positivista, importante no século 
XIX no sentido da afirmação da História como campo das ciências14.
Mudanças nos paradigmas historiográficos ocorridas entre o último quartel do 
século XIX e o início do século XX alteraram de maneira dramática a crítica do his-
toriador em relação às suas fontes, tendo em vista dimensões que não eram aborda-
das de maneira muito direta anteriormente. Nota-se que a noção de documento se 
ampliou muito com a Escola dos Annales15, o que não significou, de forma alguma, 
o abandono do documento escrito, sequer a perda de importância do mesmo. 
Mudou-se muito a forma de ver o documento como prova fidedigna do ocorrido 
no passado. A crítica documental passou da verificação da autenticidade para uma 
verificação dos explícitos e implícitos, da já mencionada consideração de que todo 
documento é falso e verdadeiro. A expansão da ideia de documento e a possibili-
dade de cruzamento de diversas fontes — escritas ou não — foram fundamentais 
na reformulação de sua crítica. Considerando os paradigmas atuais da pesquisa 
histórica, com o surgimento de correntes como as da história das mentalidades e da 
micro-história, o falso torna-se um objeto de pesquisa e interesse do historiador, na 
medida em que dialoga com ideias e interesses dos atores envolvidos na produção 
do documento. Como exemplo, podemos voltar à questão de Valla e a “Doação de 
Constantino”, da qual Ginzburg destaca que no medievo uma falsificação como 
esta dialogaria com aquilo que nesse contexto era chamado de piae fraudes, no caso, 
documentos e relíquias forjadas, com datação falseada de forma a parecer mais 
antiga, conferindo-lhes uma legitimidade em torno de sua antiguidade. Ainda que 
13. Ver o ensaio de Renato Janine Ribeiro, “Lorenzo Valla e os inícios da análise de texto”in.: A 
última razão dos reis: Ensaios sobre filosofia e política. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. 
Retomando a questão da “doação de Constantino”, refutada por Lorenzo Valla, ver Carlo Ginzburg 
em History, rhetoric, and proof. Lebanon: University Press of New England, 1999.
14. REIS, José Carlos. A história metódica dita positivista. In: História: entre a filosofia e a ciência. 3. 
ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004, p. 15-32. 
15. Ocorre uma incorporação dos documentos não escritos, assim como os não oficiais no fazer 
historiográfico, assim como uma mudança de enfoque do historiador que passa do fato ao contexto, 
abrindo campos antes não explorados de análises e de objetos de estudo, assim como novas fontes 
que incluem cartas, crônicas, literatura, entre outros, assim como a possibilidade de serialização das 
fontes históricas. Ver em REIS, José Carlos. O programa (paradigma?) dos Analles ‘Face aos Eventos’ 
da História. In: ______. História: entre a filosofia e a ciência. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004, 
p. 67-106.
a Oficina de Paleografia — UFMG: a construção de uma experiência discente
[28]
baseadas em informações falsas, seriam verdadeiras em ideia, pois buscavam inspi-
ração na verdadeira religião16.
Algo similar encontra-se muito posteriormente, no ocaso do século XIX, acerca 
da questão dos “Protocolos dos Sábios de Sião” (1897). Tais protocolos teriam sido 
publicados nesse período em diversos locais da Europa, da França à Rússia, num 
tom de denúncia sobre uma suposta reunião acontecida em 1807, na Basiléia, em 
que um grupo de sábios judeus e maçons teriam elaborado um documento deta-
lhando um plano de dominação mundial. O mesmo teria sido descoberto pela polí-
cia secreta do Czar Nicolau II, da Rússia, em 1897, e fora traduzido para vários 
idiomas, alcançando grande circulação nesse período apesar de trazer um conteúdo 
um tanto inverossímil. Analisando as obscuras origens dos protocolos na produção 
francesa do Diálogo entre Montesquieu e Maquiavel (1864), atribuído a Maurice 
Joly, Ginzburg atribui a grande difusão dos “Protocolos” ao sentimento antisse-
mita que crescia durante esse período no continente europeu e de cujo conspiracio-
nismo, mais tarde, o nazifascismo se apropriaria a fim de legitimar suas políticas de 
segregação17.
Torna-se necessário frisar que, embora tenham sido apresentadas diversas 
mudanças e polêmicas, além da ampliação significativa de objetos que podem ser 
considerados e analisados como sendo fontes com valor histórico, escritas ou não, 
os manuscritos ainda ocupam posição de destaque na análise histórica. Isso porque 
eles foram produzidos por praticamente todas as sociedades humanas e também na 
maior parte dos períodos históricos, proporcionando, dessa forma, vestígios para 
que sejam analisados pelos historiadores do presente.
A ampliação do acesso às fontes como 
subsídio à prática historiográfica
Ao longo do século XIX houve na Europa a preocupação de reunir e publi-
car enormes corpi documentais para subsidiar o estudo de épocas, países, regiões 
e, até mesmo, instituições. Em um contexto marcado, entre outras características, 
pela emergência dos nacionalismos, esse tipo de divulgação visava ocupar um 
papel importante no processo de interpretação e construção das histórias e identi-
dades nacionais. Não se deve esquecer, também, que muitas daquelas publicações 
se inseriam em grandes correntes de pensamento que pregavam a necessidade da 
16. GINZBURG, Carlo. Representar o inimigo — Sobre a pré-história francesa dos Protocolos. In: 
______. O fio e os rastros: o verdadeiro, o falso e o fictício, p. 202.
17. GINZBURG, Carlo. Representar o inimigo, p. 202-6.
a Oficina de Paleografia — UFMG: a construção de uma experiência discente
[29]
comprovação científica. A produção de conhecimento histórico, como parte inte-
grante do seu próprio tempo, não permaneceu incólume diante daquela realidade.
Philippe Ariès destaca que, naquele contexto, a publicação e crítica dos docu-
mentos era uma atividade desenvolvida paralelamente com a tentativa de produzir 
uma “história viva”18. Mais do que somente trazer a público a documentação antiga, 
percebe-se a necessidade de realizar sua contextualização histórica e de explorar 
suas possibilidades enquanto fontes para o historiador, ainda que tais perspectivas 
fossem bastante diferenciadas da visão historiográfica atual.
Le Goff observa que a maior parte das grandes coleções de documentos do século 
XIX foi concebida sob o título de Monumenta, denominação associada à ideia de 
monumento. Em um tempo no qual algumas pessoas entendiam os monumentos 
como meios para demonstrar “as raízes mais profundas e mais vivas” da ordem 
social, a documentação antiga passou a ser vista como repositório das memórias 
históricas19. A Monumenta Germaniae Historica é uma das obras mais emblemáti-
cas dessa categoria de publicações. Seu primeiro volume foi lançado em 1826 pela 
Sociedade Histórica Alemã (Gesellschaft für Deutschlands ältere Geschichtskund). 
A coleção prossegue suas edições até hoje e já possui mais de 300 volumes lançados20.
Embora não possua a designação de Monumenta, a Collection de documents 
inédits sur l’histoire de France (Coleção de documentos inéditos para a história da 
França), divulgada inicialmente pelo então ministro da instrução pública, François 
Guizot, a partir de 1835, também representa uma ideia de monumentalização 
dos documentos. Na apresentação que fez do projeto ao rei, Guizot ressaltou que 
durante anos “homens de ciência rara” exploraram vastos conjuntos de manuscri-
tos resguardados por arquivos e bibliotecas da França. Com o passar do tempo, a 
busca, inicialmente aleatória, revelou documentos que eram verdadeiras riquezas 
históricas esquecidas. A publicação da Collection de documents seria uma forma 
de integrar os esforços, até então desconectados, em uma grande obra de abran-
gência nacional para revelar desde a história das cidades até a história de ideias e 
costumes21.
18. ARIÈS, Philippe. O tempo da história. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1989. p. 213.
19. LE GOFF, Jacques. História e Memória. p. 537.
20.Informações disponíveis em: <http://www.brepols.net/publishers/pdf/Brepolis_MGH_EN.pdf>. 
Acesso em: 28 de abril de 2013.
21. GUIZOT, François. Rapports au Roi et pièces: Collection de documents inédits sur l’histoire 
de France. Paris: Imprimerie Royale, 1835, p. 3-9. Disponível em: <http://archive.org/details/
collectiondedocu00franuoft>. Acesso em: 28 de abril de 2013..
a Oficina de Paleografia — UFMG: a construção de uma experiência discente
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Outra coleção que não leva o nome de Monumenta, mas que também se norteia 
pelo ideal de reunir uma ampla gama de documentos relativos a um período his-
tórico e a uma determinada região, foi publicada na Inglaterra entre 1858 e 1911. 
Os 251 volumes das Chronicles and memorials of Great Britain and Ireland during 
the Middle Ages (Crônicas e memoriais da Grã Bretanha e Irlanda durante a Idade 
Média) são frutos do trabalho de arquivistas e historiadores reunidos no Public 
Record Office. A obra acabou por extrapolar os limites temporais registrados no 
título e divulgou documentos produzidos durante a Idade Moderna22.
Em Portugal, foi publicada a partir de 1856 a Portugaliae Monumenta Historica, 
dirigida por Alexandre Herculano como representante da Academia das Ciências de 
Lisboa. A obra seguiu o modelo da Monumenta Germaniae Historica, que foi a 
grande referência para todos os empreendimentos semelhantes ao longo do século 
XIX. Na apresentação, Herculano constatou que a preocupação em inventariar e 
publicar documentos históricos era um esforço perceptível nos ambientes acadêmi-
cos de vários países da Europa na época. Ao demonstrar a importância desse tipo 
de publicação, o organizador da coleção, com uma argumentação que lembra a de 
Guizot, afirmou que todos os dias eram desenterrados do “pó das bibliothecas e 
dos archivos monumentos desconhecidos”23. A visão do historiador como um cien-
tista que resgata das estantes do esquecimento vestígios do passado e estabelece sua 
interpretação crítica de modo a modificar, corrigir ou confirmar versões historiográ-
ficas foi um elemento presente em quase todas as iniciativas que se dedicaram a levar 
a cabo as Monumentae. O ponto de vista de Herculano serve ainda para confirmar 
o quanto era comum o referencial que igualava os documentos aos monumentos.
A organização de Monumentae prosseguiu ao longo do século XX. A partir 
de 1952 foi publicada em Lisboa por António Brásio a Monumenta Missionaria 
Africana, conjunto de fontes considerado referencial para a pesquisa sobre a atua-
ção de missionários católicos nas possessões portuguesas na África entre os sécu-
los XV e XVIII. Apesar de se dedicar principalmente a assuntos religiosos, essa 
Monumenta também possui transcrições de documentos administrativos, relatos de 
viagem e correspondências24. Em 1960, por ocasião do quinto centenário de morte 
22. SCHELLENBERG, Theodore R. Arquivos modernos: princípios e técnicas. 4. ed. Rio de Janeiro: 
Editora FGV, 2004, p. 335-336.
23. COELHO, Maria Helena da Cruz. Alexandre Herculano: a história, os documentos e os arquivos 
no século XIX. Revista Portuguesa de História, 42, Coimbra, 2011, p. 78-80. Disponível em: 
<http://www.uc.pt/chsc/recursos/mhcc/mhcc_rph42.pdf>. Acesso em: 28 de abril de 2013. Toda a 
trajetória que levou à publicação da Portugaliae Monumenta Historica, assim como o panorama 
historiográfico da época em Portugal, são muito bem detalhados nesse artigo.
24. CORREIA, Stéphanie Caroline Boechat. O reino do Congo e os miseráveis do mar: O Congo, o 
sonho e os holandeses no Atlântico (1600-1650). Dissertação de mestrado apresentada ao Programa 
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do Infante Dom Henrique, se iniciou a publicação da Monumenta Henricina. Esta 
coletânea se estendeu em 15 volumes editados até 1976 e se dedicou a coligir docu-
mentos diplomáticos e narrativos de modo a subsidiar as pesquisas em torno de 
D. Henrique e das navegações portuguesas. A publicação reúne fontes que vão do 
século XII ao XVII25.
No final do último século foi lançada a Portugaliae Monumenta Africana que 
reuniu documentos custodiados em arquivos em Portugal e Espanha com objetivo 
de oferecer novas alternativas à história eurocêntrica da África. Seus quatro volu-
mes foram publicados entre 1993 e 2002 e representam o grande trabalho cole-
tivo desenvolvido por quase trinta anos sob os auspícios de várias instituições. Na 
apresentação da obra se registram os principais obstáculos enfrentados durante sua 
execução, como a dispersão das fontes em vários arquivos, transcrições feitas ao 
longo do tempo sem critérios padronizados, problemas na leitura de documentos 
microfilmados e dificuldade de acesso a alguns documentos originais26.
Nos últimos anos, a emergência dos meios digitais diminuiu a frequência de 
publicação das Monumentae, embora elas ainda sejam importantes ferramentas de 
trabalho para o historiador. Desde a década de 1990, os projetos de divulgação de 
documentos estão focados na produção de CD ROMs e, mais recentemente, na 
disponibilização das imagens digitalizadas via internet. Essa tarefa tem sido levada 
a cabo, principalmente, pelos arquivos onde as fontes estão depositadas. A publi-
cação de transcrições ainda é uma atividade extremamente relevante para a prática 
historiográfica; no entanto, tal produção se encontra pulverizada em periódicos que 
não têm como objetivo principal a divulgação serial e/ou temática de documentos 
em larga escala.
Digitalizar e disponibilizar os documentos via internet tornou-se uma forma de 
divulgação bem menos dispendiosa do que a produção de Monumentae, tarefa que 
demandava muitos recursos financeiros e humanos, se arrastava ao longo de vários 
anos e muitas vezes não era concluída. Ultimamente, as próprias Monumentae têm 
sido digitalizadas e colocadas à distância de alguns cliques na rede mundial de 
de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2012, p. 11. Disponível 
em: <http://www.historia.uff.br/stricto/td/1685.pdf>. Acesso em: 28 de abril de 2013.
25. LIMA, Douglas Mota Xavier de. O Infante D. Pedro e as alianças externas de Portugal (1425-
1449). Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da 
Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2012, p. 19. Disponível em: <http://www.historia.uff.br/
stricto/td/1590.pdf>. Acesso em: 28 de abril de 2013.
26. ALBUQUERQUE, Luís de; SANTOS, Maria Emília Madeira (Direção). Portugaliae Monumenta 
Africana. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. 
Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Instituto de Investigação Científica Tropical, 1993. v. 1. p. 5-14.
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computadores, o que permite sua utilização por pesquisadores do mundo inteiro, 
ao contrário do que antes acontecia, quando eram impressos poucos exempla-
res das coletâneas de documentos, que ficavam restritos a pequenos círculos de 
pesquisadores.
Essa mudança na forma de acesso às fontes tem servido para aumentar a inte-
gração entre os pesquisadores. O que se observa atualmente é uma grande preo-
cupação em fazer com que as informações circulem e estejam disponíveis em uma 
escala cada vez maior. Ainda está longe o dia em que a cultura de ocultação de 
documentos e fontes será totalmente superada no meio historiográfico, mas o certo 
é que essa realidade aos poucos se modifica. Um feliz resultado disso é que, além 
de possibilidades aumentadas de diálogo e da diversificação do repertório de fon-
tes à disposição daqueles que já se dedicavam à pesquisa histórica, o contato mais 
próximo com fontes manuscritas tornou-se viável a um sem número de estudan-
tes e profissionais que ficavam alienados dessa importante etapa da pesquisa, seja 
por incompatibilidade entre suas rotinas de trabalho e o horário de funcionamento 
dos arquivos, seja pela indisponibilidade de acervos organizados em seus locais de 
residência.
Asignificativa criação de novos arquivos e o investimento na preservação e na 
restauração de documentos deram novo fôlego a iniciativas voltadas para a valo-
rização dos manuscritos na pesquisa histórica em suas mais variadas facetas. São 
sintomáticos desse momento, por exemplo, o surgimento e a consolidação de cursos 
superiores como o de Conservação e Restauração de Bens Móveis da UFMG, insti-
tuído em 200827, e que conta com um eixo formativo para o restauro e conservação 
de papel, além de um grande e bem equipado laboratório. No entanto, o que mais 
parece ter favorecido o acesso a esse tipo de documentação são os inúmeros pro-
jetos de digitalização e disponibilização, tanto na internet como em outras mídias. 
Tais projetos, além de facilitarem e difundirem o acesso à documentação sem que 
haja um prejuízo aos documentos, tais como extravios ou danos físicos, muitas 
vezes sistematizam os cuidados para com a documentação no suporte original e sua 
organização.
A organização arquivística é um ponto particularmente delicado para o histo-
riador, que muitas vezes se encontra teórica e tecnicamente despreparado para esse 
trabalho. É uma realidade que tende a gerar conflitos com os profissionais especia-
lizados em questões de organização e preservação. Entender as lógicas do arquivo 
torna-se fundamental para se fazer uma pesquisa histórica, pois elas, em geral, são 
27. O curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis foi criado como o primeiro 
curso do Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - Reuni na UFMG.
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pensadas para facilitar o acesso e a recuperação da informação. Não obstante, os 
arquivos históricos possuem inúmeras especificidades que se destacam no olhar do 
historiador. Esse panorama apenas reforça a necessidade de integração entre os 
diferentes ofícios envolvidos nos processos de organização e gestão dos arquivos. 
Tal interação profissional e acadêmica se reflete na própria dinâmica de funcio-
namento da Oficina, que vem congregando estudantes de História, Arquivologia, 
Conservação, Museologia, Biblioteconomia, dentre outros.
A leitura paleográfica como atividade docente
Apesar de a Oficina se dedicar a uma atividade eminentemente prática, os 
encontros e seu planejamento proporcionam oportunidades de reflexão sobre os 
aspectos teóricos e metodológicos relacionados à utilização das fontes manuscritas 
na operação historiográfica e sobre a prática da leitura paleográfica como atividade 
de docência e de incremento à docência.
Enquanto grupo idealizado e composto, em sua maioria, por estudantes de 
História, a Oficina de Paleografia — UFMG visa aliar a leitura e transcrição de 
manuscritos a alguns “saberes do arquivo” que facilitam o trabalho de pesquisa do 
historiador. O já mencionado esforço para o entendimento de uma lógica arquivís-
tica se alia ao compartilhamento de experiências individuais de pesquisa em arqui-
vos, contando também com os relatos e questões propostas pelos conferencistas. 
Para aprofundar ainda mais essas discussões, são realizadas visitas técnicas a arqui-
vos, abertas a todos os participantes.
Outro aspecto, marcadamente influenciado pela origem da Oficina, é o de 
o estudo não se limitar à pura e simples leitura e transcrição, mas considerar os 
documentos como fontes. Então, enquanto fontes, esses manuscritos devem ser dis-
cutidos, contextualizados, explorados para além do que está escrito, inquiridos e 
pensados a partir de diversos ângulos de pesquisa. No entanto, qualquer tentativa 
de contextualização e reflexão histórica sobre uma fonte manuscrita está necessa-
riamente impedida, se se pretende como teórica e metodologicamente aceitável, de 
prescindir de uma análise cuidadosa do conteúdo e forma em si daquele manuscrito. 
Dito de outra forma, não há leitura crítica sem a leitura elementar — o risco desse 
divórcio é perder o próprio caráter histórico da análise, que passa a ter o mesmo 
valor de narrativas não-científicas como a literária. Esse contato mais direto com a 
fonte, entretanto, é frequentemente substituído por um contato indireto, mediado 
pela reflexão de outros historiadores, e é frequente que os trabalhos desenvolvi-
dos, especialmente durante a graduação, se componham majoritariamente de uma 
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revisão bibliográfica em vez de se apoiar mais sistematicamente na consulta e aná-
lise das fontes que o sustentaram — ou deveriam ter sustentado. Como observam os 
participantes do PIBID/FAE/UFMG:
É importante destacar que a distância entre o ensino e as fontes não 
ocorre apenas na educação básica. Muitos alunos dos cursos de gra-
duação em História sentem-se distantes desses documentos, ou não 
sabem que muitos deles podem ser manuseados e pesquisados por 
qualquer pessoa que se disponha a visitar um arquivo. Portanto, a 
visita e o estímulo à pesquisa recorrente em arquivos são de grande 
valia. Identificação, leitura, seleção, transcrições e cópia de documen-
tos são atividades que podem ser realizadas articulando-se ensino e 
pesquisa de História28.
Porém, com a forma como vem se estruturando o ensino de História na UFMG 
e em outras instituições igualmente gabaritadas, torna-se necessário até mesmo para 
alunos de períodos avançados, ou da pós-graduação, dizer o que parece óbvio: que 
os manuscritos produzidos em épocas passadas não são automaticamente acessíveis 
e inteligíveis aos olhos contemporâneos. É de se notar, por exemplo, que o capítulo 
referido acima, cujo objetivo é incentivar e refletir sobre o uso de manuscritos em 
sala de aula, sequer menciona os obstáculos relativos à leitura paleográfica, muito 
embora proponha tarefas que dela dependem diretamente, como a “identificação”, 
“leitura”, “seleção”e “transcrições” — estas últimas aparecem no texto quase como 
sinônimo de “cópia”. Muito se enfatiza a necessidade de uma análise contextual e 
crítica da fonte, e por vezes se esquece de que a habilidade de compreender os carac-
teres em que ela foi escrita não é de domínio de todos os que se dedicam a essa aná-
lise — arrisca-se dizer que seja, na verdade, de uma pequena parte. É sintomático 
observar, por exemplo, a queda de público da Oficina entre as aulas introdutórias, 
nas quais, como se verá adiante, se oferece uma breve iniciação na qual os manuscri-
tos aparecem, por assim dizer, como uma ilustração do que está sendo demonstrado, 
e os encontros práticos, em que a transcrição começa a ser efetivamente realizada. 
Procura-se suavizar essa transição, explicando pausadamente e com exemplos as 
normas técnicas, começando com transcrições pequenas, conduzidas com a ajuda 
dos coordenadores. Ainda assim, é notável que compreender os caracteres grafados 
e extrair deles alguma informação se constitui como um desafio cuja superação um 
número significativo de participantes prefere adiar.
Como mencionado anteriormente, muito além de uma leitura elementar do 
documento, que consideramos como um passo primeiro e fundamental, se propõe 
28. LIMA, Pablo L. O (Org.). Fontes e reflexões para o ensino de História indígena e afrobrasileira: 
uma contribuição da área de História do PIBID/FAE/UFMG. Belo Horizonte: UFMG , p. 67.
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uma leitura crítica e contextual. Para conseguir trabalhar esses aspectos foi sendo 
desenvolvida uma metodologia, uma maneira mais ou menos estruturada para que, 
no desenrolar dos semestres, os encontros semanais refletissem na prática os objeti-
vos supracitados.
A atual metodologia da Oficina consiste, em um primeiro momento, numa 
breve exposição de introdução à paleografia, e mais especificamente à paleografia 
utilizando documentos modernos em língua portuguesa, seguida de atividades ini-
ciais de transcrição. A partir de então, os encontros acontecem com a participação 
de convidados, em sua maioriaalunos e egressos do Programa de Pós-Graduação 
em História da própria UFMG. Essa metodologia foi construída ao longo do tempo, 
de acordo com os problemas e as soluções que surgiam e com as opiniões e suges-
tões dos participantes durante os semestres.
Os gabaritos dessas transcrições, quando necessário, são elaborados pela pró-
pria coordenação e disponibilizados no site para conferência pelos participantes.
O ensinO de paleOgrafia na Oficina
Didaticamente, a coordenação da Oficina de Paleografia — UFMG buscou 
apoio em manuais e na bibliografia disponível. Como as primeiras habilidades dos 
coordenadores se desenvolveram, no momento inicial do grupo, de maneira autodi-
data, muito baseada em tentativas e erros e na reunião de dicas e técnicas práticas, 
sentiu-se a necessidade, com a ampliação do público do grupo, de aprimorar essa 
capacitação, buscando respaldo na bibliografia técnica especializada. Alguns obstá-
culos se colocaram então, uns relacionados à falta de orientação e ao caráter mais 
ou menos aleatório com que se reuniam materiais e indicações de publicações, e 
outros advindos de uma disponibilidade restrita e baixa circulação dessas publica-
ções, indisponíveis, em sua maioria, na biblioteca da universidade. É possível consi-
derar que o pouco investimento na compra e disponibilização aos alunos de obras 
de referência da área de paleografia seja um reflexo do caráter secundário que ela 
assume no ensino acadêmico de História, a despeito de sua importância evidente.
Há um público, cada vez mais numeroso e sedento de conhecimento, que neces-
sita de ferramentas para entender e praticar a transcrição paleográfica. No entanto, 
o acesso a essas ferramentas se torna, pelos motivos expostos, dificultado. Foi pos-
sível perceber uma grande quantidade de apostilas e blogs na internet dedicados ao 
ensino da leitura paleográfica. Após uma análise mais detida, no entanto, nota-se 
que o conteúdo mais propriamente teórico é em grande parte redundante: há, entre 
eles, a repetição quase idêntica de trechos inteiros mostrando a chamada “evolução” 
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da escrita e os arquétipos caligráficos, depois se passa para uma listagem das prin-
cipais dificuldades encontradas na leitura dos manuscritos, a apresentação das nor-
mas técnicas e então para exemplos práticos de documentos.
A obra de referência em todos esses matériais é certamente Noções de Paleografia 
e de Diplomática29 de autoria de Ana Regina Berwanger e João Eurípedes Franklin 
Leal, arquivista e historiador respectivamente, em sua terceira edição revista 
e ampliada e publicada pela Editora da UFSM. O texto explora os conceitos de 
paleografia e de diplomática, mostrando características dos documentos tanto na 
forma quanto na técnica e nos materiais, tipos de escrita, de números e as dificul-
dades ao se lidar com manuscritos antigos. Há também as Normas Técnicas de 
Transcrição e Edição de Documentos Manuscritos, conforme a reformulação feita 
em 1993 durante o II Encontro Nacional de Normatização Paleográfica e de Ensino 
de Paleografia, realizado em São Paulo. Por fim, apresentam-se alguns documen-
tos transcritos. Como não podia deixar de ser, tanto as aulas introdutórias como 
as reflexões ao longo dos encontros da Oficina também se basearam fortemente 
nesse manual, que em muito facilitou o processo de ensino-aprendizagem da leitura 
paleográfica entre os participantes, melhorou a capacidade de leitura dos próprios 
coordenadores a partir de um contato mais sistemático com as características dos 
materiais, suportes e técnicas caligráficas e do desenho dos caracteres ao longo do 
tempo e enriqueceu bastante as discussões. Considera-se, no entanto, que o incre-
mento do acervo de obras de referência é um obstáculo a ser superado pelo menos 
no médio prazo. 
Também a elucidação das normas técnicas constitui um momento de desafio. 
Na experiência da Oficina, elas significam mais do que um simples modo de forma-
tação do texto transcrito: são compreendidas como um conjunto de diretrizes para 
dotar ao máximo possível da lógica do texto manuscrito as informações transferidas 
a um novo suporte. Embora seja notável a maior adequação das normas brasileiras 
a esse propósito — uma vez que, ao contrário das portuguesas, elas determinam 
que se sinalizem todas as interferências do transcritor, incluído aí, por exemplo, o 
desenvolvimento de abreviações — não deixa de haver situações em que não se sabe 
ao certo como formatar, na transcrição, uma peculiaridade daquele manuscrito. As 
soluções encontradas nesse sentido são de natureza inventiva e provisória; embora 
funcionem no contexto da Oficina, não podem ser empregadas formalmente sem o 
risco de comprometimento da sua compreensão.
29. BERWANGER, Ana Regina e LEAL, João Eurípedes Franklin. Noções de paleografia e 
de diplomática. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2008.
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Outro obstáculo encontrado, como referido anteriormente, é motivar o público 
a enfrentar o desafio de transcrever, ou de tornar acessíveis a um maior número de 
pessoas os caracteres paleografados, que parecem inteligíveis apenas a iniciados. 
Mais um grande desafio da coordenação é conciliar os diversos interesses dos 
participantes. Quanto mais a Oficina se estabelece e fica conhecida, mais diversos 
são esses interesses. Esse leque vai desde dispostos a discutir e aprimorar a leitura 
paleográfica para a própria pesquisa, passando por pessoas que desejam conhecer 
a Paleografia, até interessados em desenvolver fontes digitais inspiradas em alguma 
caligrafia antiga. Para tentar atender a um número mais variado possível de interes-
ses dentro da História, Arquivologia e Restauração e Conservação de documentos 
a Oficina realizou o I e o II Seminários da Oficina de Paleografia UFMG, nos finais 
dos anos de 2012 e 2013, respectivamente. Sendo o primeiro evento de caráter local, 
com conferencistas convidados da própria UFMG, e o segundo um evento nacional 
que contou com grandes nomes da paleografia no Brasil.
Ainda se deve salientar a diversidade de níveis de experiência com leitura e 
transcrição de manuscritos dentre os participantes. A Oficina é procurada por mui-
tos alunos sem nenhuma experiência paleográfica e também por outros tantos com 
uma experiência vastíssima. Além disso, o objetivo continua sendo o de uma ofi-
cina permanente, portanto, muitos participantes seguem por mais de um semestre, 
alguns estão desde o início. A metodologia utilizada, convidando conferencistas, 
aliada aos primeiros encontros introdutórios, tentam unir um curso de iniciação a 
leitura e transcrição paleográfica com um espaço de discussão constante sem que 
isso seja repetitivo, enfadonho e maçante. Essa constante retomada das discussões 
iniciais, além de inserir os novatos na discussão, permite um aprofundamento cada 
vez maior nos estudos e nos questionamentos, assim como a busca de novas soluções 
para os problemas que surgem. A referida variação de temas e documentos apresen-
tados, acrescida de uma variedade de atividades disponibilizadas nos encontros de 
exercício, têm permitido conciliar com algum sucesso a diversidade de interesses e 
de familiaridades com a leitura e a transcrição paleográfica.
Espera-se, com a disseminação da iniciativa da Oficina, que já se desdobrou para 
outras instituições de ensino, a Universidade Federal de Juiz de Fora e Universidade 
Federal de Ouro Preto, incentivar um maior recurso aos manuscritos e uma maior 
integração e troca de experiência entre os diversos estudantes e profissionais envol-
vidos na leitura e transcrição paleográfica. Dessa forma, será possível resgatar o 
lugar privilegiado que esse ramo de atuação deveria encontrar no ensino acadêmico 
e na pesquisa histórica. Como nos instiga Lucien Febvre:
a Oficina de Paleografia — UFMG: a construção de uma experiência discente
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O historiador não vai rondando

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