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Apostila intervenção Aba

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1 
CBI of Miami 
 
 
2 
CBI of Miami 
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Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações 
legais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
CBI of Miami 
 
Watson e Nascimento do Behaviorismo 
Lucelmo Lacerda 
 
Na história da humanidade, na grande maior parte do tempo, as pessoas 
compreenderam a realidade como parte de um mundo muito maior, que 
compreendia uma realidade não natural, sobrenatural, seja habitada pelos 
espíritos das coisas, que eram entendidas como animadas, o chamado 
animismo, seja como um campo em que divindades, seres maiores, mais 
poderosos e etéreos, reinavam sobre o mundo natural. 
As divindades primeiras eram caprichosas, cheias de vontades, como 
Zeus, a principal divindade do panteão grego, cujo gosto por mulheres lhe era 
característico e cujas vontades tinham que ser atendidas, sob risco de grave 
vingança, que poderia incluir relâmpagos e dilúvios. 
Posteriormente, surgiram e se expandiram as religiões monoteístas que se 
baseavam em uma divindade que se fundamentava na dualidade entre bem e 
mal, advinda do zoroastrismo e aprofundada no cristianismo, em que a divindade 
se confundia completamente com o bem, a bondade, enquanto seu oposto era 
a maldade. A inimizade com Deus não era mais simplesmente a não obediência 
a suas vontades, mas a adesão ao mal (muita atenção com o lado sombrio da 
força, padawans), as novas divindades aderiam ao referencial da ética, iniciando 
o processo que foi chamado de Desencantamento do Mundo. 
Este processo de eticização da religião foi lhe extraindo o caráter mágico 
de explicação dos fenômenos da realidade como meras repercussões das 
vontades caprichosas dos deuses e tornou-se progressivamente mais difícil 
explicar uma praga como fruto da ira de Deus, uma boa colheita como o bom 
humor divido ou quaisquer destas variações nos campos físicos, criando o 
contexto que surgiu e se desenvolveu o racionalismo. 
A Ciência surge com a tentativa de criar um processo de produção de 
conhecimento que seja capaz de oferecer predição dos fenômenos, isto é, que 
 
 
4 
CBI of Miami 
conheçamos tão bem a realidade que, de acordo com certas informações, 
possamos saber o que irá acontecer em certas circunstâncias. 
No século XIX, as pessoas passaram a encarar de maneira diferente a 
realidade, a herança do Renascimento e do Iluminismo culminou em uma busca 
por utilizar a razão como mecanismo para conhecer a realidade, para que 
fôssemos capazes de descrever as coisas do mundo real de tal modo que nos 
possibilitasse atuar sobre este mundo de modo efetivo. 
Não que tenha havido qualquer revolta contra o pensamento religioso ou 
contra a religião organizada, mas explicar o mundo através da vontade divina 
tornou-se algo progressivamente menos aceitável, dando lugar à razão, como 
base para a busca do conhecimento do mundo. O advento do racionalismo nos 
instigou a procurar formas cada vez mais efetivas de conhecermos a realidade, 
culminando com o surgimento da ciência, tempos depois, com o advento da 
Física, com a Química tragando e deglutindo a herança alquimista assim como 
a Astronomia a herança da astrologia, o que foi (e é ainda, infelizmente) muito 
mais complicado naqueles domínios que envolvem a compreensão dos seres 
humanos. 
Foi neste contexto do fim do século XIX e começo do século XX que 
surgiram diversas propostas filosóficas que vão culminar com o surgimento do 
Behaviorismo, na década de 1910, sob a liderança de John B. Watson, nos 
Estados Unidos, um dos principais centros nervosos do desenvolvimento 
científico no mundo. 
A ciência é um conhecimento sobre a realidade que se baseia na 
racionalidade, mas como podemos definir quais são os melhores métodos de 
pesquisa? Qual é a natureza do conhecimento científico? Como devemos 
produzir ciência? 
Todas estas questões são muito relevantes e podem parecerem menores 
porque há já séculos de avanço que nos propiciaram um conhecimento científico 
que se traduziu e se traduz cotidianamente em tecnologia altamente eficaz, que 
afeta a todas as pessoas e demonstra o poder deste conhecimento, mas esta 
 
 
5 
CBI of Miami 
construção não foi simples, ela passou por diversos estágios importantíssimos e 
continua a passar todos os dias. 
O campo que estuda como reconhecemos algo como um conhecimento 
científico ou não, qual é a natureza do conhecimento científico, se ele é 
verdadeiro, quase verdadeiro ou não verdadeiro, se ele representa ou é a 
realidade, é um ramo da Filosofia chamado de Epistemologia, que criou o cenário 
crítico do surgimento do Behaviorismo, em 1913, mas também se transformou 
profundamente desde então. 
Watson, como todo grande pensador, foi um homem de seu tempo, uma 
pessoa que foi capaz de estudar o que havia de conhecimento até então e 
formular uma síntese, que é o Behaviorismo (que podemos chamar também de 
comportamentalismo). 
As fontes que possuem maior influência no pensamento de Watson são: 
1. O objetivismo de Comte; 
2. O Funcionalismo; 
3. A Psicologia Animal. 
A primeira grande proposta filosófica que nos interessa é o Positivismo 
(importante lembrar que a versão contemporânea do Behaviorismo, o Radical, 
não parte dos mesmos pressupostos), elaborado por Augusto Comte, que 
defendeu o que chamou de Lei dos 3 Estados, a ideia de que o conhecimento 
sobre as coisas seguia um processo em que explicávamos as coisas 
primeiramente através da religião, encontrando causas sobrenaturais para o 
funcionamento do mundo, depois este conhecimento caminhava para o estado 
metafísico, em que se supunha a existência de forças acima da natureza, não 
físicas e a terceira fase seria a fase científica, em que o mundo seria tomado 
pelo que é, um fenômeno natural em todas as suas dimensões e aspectos. 
O Positivismo entendia que estes três estados era o processo natural pelo 
qual tudo passava, inclusive a Psicologia, que começara também com a 
compreensão das alterações entre as formas de ser como reflexos dos espíritos 
 
 
6 
CBI of Miami 
e forças sobrenaturais, passando pela metafísica e chegando, por fim, em algum 
tempo, em alguma visão científica sobre os seres humanos. 
Para o Positivismo, a “natureza” que o cientista desejava conhecer era real, 
independentemente de nós a observarmos, a conhecermos, ou não, ela existe e 
os cientistas nada mais fazem do que descrever esta realidade, que continha em 
si todo o seu conhecimento. Ou seja, o cientista era um agente descritivo, era 
alguém que registrava, em uma língua, os códigos da realidade. Ocorre que 
nesta perspectiva, o grande desafio é conter as próprias opiniões e tendências, 
o cientista tinha a si mesmo como inimigo, o que ele precisava gravemente 
combater, lutar dia após dia, era contra qualquer perversão do conhecimento da 
realidade. O cientista deveria ser um observador completamente neutro. 
A ideia de que a ciência pode ser um produto asséptico da relação entre o 
observador da realidade, que é o cientista, e seu objeto de estudo, a natureza, 
já foi completamente superada. Hoje é aceito, de modo consensual, que a 
ciência é um conhecimento formulado pelo cientista, que não há nenhuma forma 
de se esquivar de sua própria cultura, sua própria língua, suas convicções. 
Embora o cientista possa e deva trabalhar para que seja mais objetivo e que o 
conhecimento que produz tenha mais capacidade de prever e controlar 
fenômenos, não há como separar o conhecimento científico de seus 
proponentes. Como diria Skinner, a ciência é o comportamento verbal do 
cientista e o comportamento verbalé controlado pelas variáveis do contexto, de 
modo que o conhecimento científico é igualmente produto das variáveis que 
constroem o cientista, tal como ele o é. 
Dentro desta perspectiva positivismo dominante no século XIX é que nasce 
o objetivismo psicológico, que propunha trazer uma perspectiva objetiva, neutra, 
também para o campo da Psicologia, que até então se dedicava a estudar a 
consciência como objeto de pesquisa, o que obviamente não é uma coisa 
objetiva, mensurável, tangível ou mesmo diretamente acessível. O método 
fundamental da Psicologia da época era o instrospeccionismo, em que os 
indivíduos eram inquiridos sobre o que pensavam, sentiam e acreditavam e estes 
 
 
7 
CBI of Miami 
relatos eram tomados como um produto da observação desta consciência pelo 
sujeito que relata. A forma de realizar a interpretação destes relatos também era 
assistemática e subjetiva, fazendo com que o discurso objetivista na Psicologia 
se opusesse gravemente à corrente dominante que se agarrava à introspecção 
ainda na virada de século. 
Watson, por vezes, admitiu que era possível inquirir as pessoas de algumas 
formas específicas e sobre determinados temas, de modo que aquilo que elas 
dissessem poderia ser tomado como um relato fiel do que ele pensava e/ou 
sentia, proposição pela qual foi atacado por parte de seus parceiros, acusado de 
banir o introspeccionismo por uma porta e admiti-la pela porta de trás. Noutras 
vezes, no entanto, refutou de modo incisivo a utilização de relatos como fonte do 
trabalho psicológico, demonstrando uma certa fluidez com que também se 
comportou em relação à influência da genética no comportamento humano e 
também de vários outros temas, o que pode ser um comportamento importante 
de quem abre uma picada como o behaviorismo na Psicologia, demonstrando 
flexibilidade e mudança ao longo do caminho, com o aparecimento de novas 
evidências e perspectivas. 
Mas não era somente o objetivismo psicológico a única corrente a 
influenciar o surgimento do Behaviorismo, também cumpriram um papel especial 
neste processo o fortalecimento da Psicologia Animal e do Funcionalismo. 
Desde que Charles Darwin propôs a Teoria da Evolução, o mundo tem 
estado em alvoroço com diversos aspectos daquela proposição, mas talvez a 
mais perturbadora era a noção de que o mundo estava habitado por diversos 
animais e entre eles, os seres humanos, que não seriam algo fora da natureza, 
mas parte dela, que esta não seria uma criatura à parte, mas fruto do mesmo 
processo de seleção das espécies que fez a todos evoluir desde as primeiras 
estruturas ridiculamente simples, até o conjunto integral dos seres vivos 
existentes, a baleia, a aranha, o pinguim, a galinha, a barata e, claro, os seres 
humanos. 
 
 
8 
CBI of Miami 
É claro que esta perspectiva provocou violenta reação daqueles que 
defendem o “caráter especial” dos seres humanos, feitos à imagem de Deus e 
também portadores de aspectos essenciais não naturais, na verdade para muito 
além da natureza. E como não poderia deixar de ser, os defensores de Darwin 
e da Teoria da Evolução também foram às armas por suas posições e 
desencadearam um imenso programa de pesquisa para submeter a perspectiva 
darwinista (e seu oposto) a rigoroso escrutínio. Tarefa alcançada muitos anos 
depois e incorporada da noção de genética na esteira de Mandel e tantos outros 
que o sucederam. 
Um dos eixos centrais para a demonstração empírica da teoria 
evolucionista de Darwin era o estudo da continuidade entre os diversos animais, 
contendo os seres humanos como parte. Provavelmente a mais especial 
característica dos seres humanos seria sua experiência enquanto ser, sua 
psicologia, sua “subjetividade”, de modo que isso os separava, supostamente, 
da natureza. Construir uma psicologia animal que demonstrasse uma espécie de 
continuidade entre os animais não-humanos e os animais humanos era central 
dentro deste projeto cético e assim se fortaleceu enormemente este campo de 
pesquisa, no qual se inserem figuras como Thorndike e Pavlov, que tiveram 
decisiva influência sobre o próprio Skinner, Loeb e inclusive o próprio Watson, 
que se dedicou extensivamente à pesquisa com animais. 
As pesquisas com animais se consolidaram e passaram desde a tradição 
do Behaviorismo de Watson para o Behaviorismo Radical, sendo um excelente 
recurso de produção de conhecimento com maior controle de variáveis, 
preocupações éticas menos centrais e uma simplicidade do comportamento que 
torna mais fácil as observações e experimentação. As primeiras décadas do 
Behaviorismo Radical também foram dedicadas extensivamente à pesquisa com 
animais, retirando, no entanto, o caráter antropormofizante que a pesquisa 
científica possuía neste período anterior. 
“Quais são os elementos de nossa Psiquê?” Se perguntavam diversos 
sujeitos que estavam embrenhados no desafio da Psicologia humana. Esta foi, 
 
 
9 
CBI of Miami 
por exemplo, uma pergunta feita por Freud e pelos estruturalistas. Mas nem 
todos estavam realmente interessados nisso, havia quem acreditasse que sair 
em busca de que elementos constituem a psicologia humana era um 
enquadramento inadequado para o estudo da Psicologia, que não era a estrutura 
psíquica, psicológica, mental ou qualquer outro nome que se possa dar a estes 
elementos que interessava, mas o processo de existir no mundo. Esta forma de 
abordar o fenômeno psicológico constituiu o movimento chamado de 
Funcionalismo, que exerceu enorme influência sobre Watson e o Behaviorismo 
de modo geral. 
O Funcionalismo se dedicava aos processos em que o indivíduo existia, se 
opondo ao estruturalismo, que buscava as estruturas psíquicas da Psicologia 
humana. Segundo Schultz & Schultz, William James, um dos mais importantes 
fundadores do funcionalismo, “acreditava serem as experiências conscientes 
simplesmente experiências conscientes e não grupos de conjuntos de 
elementos” (Schultz & Schultz, 2009, p. 161). Angel, outro funcionalista 
importante e com forte influência na carreira acadêmica de Watson, inclusive 
considerado como Pseudobehaviorista, chegou a proclamar que a “consciência” 
seria excluída do vocabulário da Psicologia, em benefício da ação do fazer 
humano, do processo como objeto de estudo fundamental da Psicologia 
(Carrara, 2005, p.60). 
O Funcionalismo se concentrou, em princípio, na chamada Escola de 
Chicago, sob a liderança de dois intelectuais em especial. O primeiro deles foi 
John Dewey, de longa carreira e forte influência também na educação, o autor 
defendeu que a Psicologia deveria se dedicar à análise do indivíduo inteiro e 
como ele funcionava no ambiente, isto é, pensar o comportamento humano a 
partir do que ele significava para o organismo, de seu papel adaptativo para o 
sujeito. Isto é, o funcionalismo não se interessava pelo organismo em si, mas por 
seu funcionamento, pelo processo em que ele agia no ambiente. 
A outra vaga desta história é de James Rowland Angell, nada mais nada 
menos que o orientador de John B. Watson. Com uma carreira brilhante, que 
 
 
10 
CBI of Miami 
incluiu a reitoria de Yale e a presidência da Associação Americana de Psicologia, 
Angell desenvolveu um trabalho, no campo do funcionalismo, com enorme 
influência, que sintetizamos em 3 aspectos: a) Angell voltou-se formalmente 
contra o estruturalismo de Titchener e acentuou a divisão entre eles. Enquanto 
o estruturalismo se dedicava ao conhecimento das estruturas mentais, o 
funcionalismo se interessava pelos processos mentais, humanos, isto é, 
dedicava-se a conhecer o modus operandi do processo mental, o que se realiza 
e em que condições se realizam tais operações; b) o funcionalismo era 
utilitarista, assim, a consciência era vista como executando processos úteis ao 
organismo em diferentes contextos, e uma tarefa essencial era a descoberta 
dessas relações, a que servia cada processo; e c) o funcionalismo é a psicologiadas relações psicofísicas, daí que não admita a distinção entre mente e corpo e 
os considere pertencentes à mesma classe, abrangendo todas as funções 
nestas esferas. 
Dado todo esse contexto, emerge a figura de John Broadus Watson (1878-
1958), um Psicólogo nascido em Nova Iorque, formado e com primeira atuação 
na Universidade de Chicago, depois se mudando para a Universidade John 
Hopkins, onde construiu sua brilhante carreira acadêmica, encerrada 
prematuramente por um escândalo sexual que ocasionou sua demissão e 
rejeição em todo o campo acadêmico, o que o levou à atuação empresarial na 
área da publicidade e propaganda, onde teve enorme sucesso utilizando os 
princípios behavioristas. 
Talvez possamos dizer que Watson não propôs, de fato, nada novo ou 
especial, não foi ele um teórico revolucionário, mas foi sim um agente dos 
tempos, capaz de reconhecer, ordenar e lutar por uma nova lógica no campo da 
Psicologia, estabelecendo firmemente o cenário de uma Psicologia Behaviorista 
e detratando seus opositores com todo o vigor. 
Em 1913, Watson publicou um artigo que ficou conhecido como o Manifesto 
Behaviorista, justamente por apresentar formalmente sua perspectiva e propor 
 
 
11 
CBI of Miami 
este caminho como uma estrada segura para a Psicologia moderna e científica 
que o autor defendia. 
Apesar do objetivismo se afastar do instrospeccionismo, ele não propunha 
um caminho de pesquisa que pudesse oferecer à Psicologia outras bases de 
trabalho, seria quase como a ideia de que a Psicologia seria uma ideia 
impossível, uma semente infértil para a produção científica, enquanto Watston 
propôs claramente que o objeto da pesquisa na Psicologia deveria ser 
modificado, da consciência, ou mente, para o comportamento humano. É 
verdade que Watson tenha sido gravemente criticado por não apresentar um 
objeto que fosse o mesmo, embora com outro enquadramento. Tal como ele 
propôs a noção de Comportamento, ela se tornava um reducionismo, diante da 
Psicologia de então, mas àquela época, seu apontamento direto e específico 
resolveu esta principal contradição daquela corrente. 
A Psicologia Animal ganhava espaço e proliferava à toda, mas suas 
descrições sempre inferiam uma espécie de mente ou de consciência menos 
evoluída para explicar os processos comportamentais que eram avaliados, 
assim ocorria com todos os grandes nomes como o próprio Pavlov e Thorndike. 
Assim, se um gato passava a se comportar de uma certa forma depois de um 
certo estímulo, interpretava-se que ele pensou algo ou sua mente ou consciência 
se modificou em certo sentido, sempre na procura de uma entidade superior da 
qual o comportamento fosse expressão, contradição que também foi resolvida 
por Watson ao estabelecer o comportamento em si como objeto de estudo. 
Enquanto os funcionalistas encaravam a Psicologia como a ciência da vida 
mental, que estudava os processos em que os sujeitos agem como aquilo que 
se poderia chamar de consciência, incorriam no problema fundamental de 
dedicarem-se a um processo sem uma operacionalização clara de sua visão, de 
modo que Watson também encarou esta contradição ao retirar a mente do 
campo de estudo da Psicologia. 
Era preciso, portanto, que essas ideias fossem reunidas e depuradas e foi 
exatamente este o papel de Watson, aproveitar essas influências e formar um 
 
 
12 
CBI of Miami 
corpo capaz de propor a si mesmo como uma substituição da Psicologia vigente, 
que propusesse um modelo diferente de encarar os seres humanos. 
Progressivamente, o Behaviorismo foi sendo transformado desde sua raiz, 
especialmente com a chegada de Skinner al cenário, o mecanicismo deu lugar 
ao pragmatismo funcionalista de Ernst Mach, o dualismo deu lugar ao monismo, 
a limitação à relação entre estímulo-resposta deu lugar a um sistema complexo 
fundamentado em grande medida no Comportamento Operante, entre outras 
muitas modificações, que veremos nos tópicos seguintes. 
 
Burrus Frederick Skinner 
Vamos falar brevemente aqui deste importantíssimo intelectual chamado 
Skinner. Formado primeiramente em Letras, Skinner não estava satisfeito com 
sua área e se interessou pelo que estava ocorrendo na Psicologia e decidiu 
então fazer um Doutorado em Harvard, no Departamento de Psicologia. No 
entanto, nas voltas que o mundo dá, acabou vinculado à Psicologia, que emitiu 
seu título de Doutor, mas tendo realizado toda sua pesquisa na Fisiologia, 
praticamente sem orientação. 
Em sua tese de Doutorado, Skinner fez uma apreciação do conceito de 
reflexo ou comportamento respondente, já começando a ensaiar a noção de 
comportamento operante que desenvolveu posteriormente. Um amigo deste 
período, Fred Keller, ficou especialmente impressionado com Skinner e teria, 
posteriormente, papel decisivo na formação do campo da Análise do 
Comportamento no mundo. 
Em princípio, Skinner trabalhou muito com animais, sofrendo influência de 
muitos pensadores como Thorndike, Mach e Watson, entre inúmeros outros, 
vindo a elaborar uma nova versão do Behaviorismo, ao qual se adicionou o 
adjetivo “Radical”, para sinalizar que para neste novo comportamentalismo, a 
raiz de toda a compreensão humana poderia e deveria se dar pela análise de 
seu comportamento, não por uma simples questão metodológica, como propõe 
o Behaviorismo Metodológico, mas porque todo fazer humano é comportamento. 
 
 
13 
CBI of Miami 
Skinner primeiramente enfrentou a questão do delineamento do campo do 
comportamento, estabelecendo uma distinção fundamental entre o 
comportamento respondente e um outro tipo de comportamento, o operante. Ele 
fez isso trabalhando de maneira intensa com animais como ratos e pombos, 
elaborando a teoria comportamental a partir de seus princípios básicos. 
Em 1938, Skinner publicou o livro O comportamento dos organismos, em 
que apresentou sua proposta como um sistema, que fez com que Keller 
reconhecesse que aquilo era algo a que se poderia aderir realmente e que ele 
poderia divulgar, como de fato o fez, escrevendo um influente livro de introdução 
à Psicologia em muito baseado em Skinner e levando estas ideias para os quatro 
cantos do mundo, inclusive para o Brasil, onde veio trabalhar na década de 1950, 
construindo uma base sólida de Analistas do Comportamento, como Carolina 
Bori, João Claudio Todorov, Maria Amélia Matos, Rodolpho Azzi, entre muitos 
outros. 
O autor brasileiro Kester Carrara entende que o sistema skinneriano só foi 
realmente desenvolvido em 1945, com a publicação do trabalho The operational 
analysis of psychological terms1 (CARRARA, 2005), mas o consenso é que a 
obra mais completa de Skinner sobre seu sistema foi publicada em 1953, 
chamada Ciência e Comportamento Humano, ainda hoje utilizada em cursos de 
Psicologia como base para o ensino da Análise do Comportamento. 
Quando a tarefa de construção de seu sistema estava mais avançada, 
sustentada em bases firmes e com sólidas demonstrações empíricas, Skinner 
quis mais e sua produção foi em busca do que há de mais elaborado, mais 
complexo, em termos de comportamento humano para demonstrar que o 
comportamento é, realmente, a raiz de tudo. 
O primeiro livro deste tipo, publicado no ano de 1957, super ousado para 
seu tempo foi Comportamento Verbal, em que ele argumentou que o 
 
1 Análise operacional dos termos psicológicos (em tradução livre) 
 
 
14 
CBI of Miami 
comportamento de comunicação humano é regido pelas mesmas regras dos 
demais comportamentos, classificando os diversos comportamentos verbais a 
partir dos diferentes antecedentes que que apareciam e que tipo de reforçamento 
o sustentava, era a elaboração dos Operantes Verbais. Mas Skinner lançou este 
livro, diferentemente dos anteriores, não como conclusão de pesquisa empírica, 
mas como derivação de outras pesquisas básicas e uma séria interpretação 
teórica destes dados, aplicados a um contexto diferente do que foi 
experimentado. 
Nestaobra, o autor considerou como “comportamento verbal” todo fazer 
humano cujo reforçamento não era diretamente produzido pelo comportamento, 
mas sim por meio da mediação de outra pessoa, treinada pela comunidade 
verbal para esta mediação. O comportamento verbal, portanto, poderia ocorrer 
pela fala, gestos, cartões, sinais, qualquer forma que, compreendida por uma 
outra pessoa, treinada, faria com que ela mediasse o reforçamento. Assim, se 
um consumidor pede ao garçom uma cerveja, ele se comporta e o reforçamento, 
operado pela cerveja, é mediado por este garçom. O consumidor pode ter dito 
“Chefe, vê uma cerveja pra mim, por favor?”, pode ter simplesmente feito um 
gesto apontando a garrafa vazia, pode ter tocado em um tablet com o cardápio 
e de todas as formas o reforçamento foi mediado por uma pessoa treinada para 
esta tarefa, são todos exemplos de comportamento verbal. 
O livro Comportamento Verbal foi duramente criticado dentro da 
comunidade de Analistas do Comportamento por não se basear em pesquisas 
experimentais específicas para aquelas afirmações e recebeu uma pesada 
crítica externa, vinda do linguista Noam Chomsky, advindo de outro campo de 
pesquisa, de natureza cognitivista, que teceu diversas críticas à perspectiva 
comportamental, sendo a maioria delas baseadas em equívocos sobre o tema, 
uma vez que ele não conhecia a Análise do Comportamento e, pasmem, sequer 
leu todo o livro que criticara. Ainda assim, por este conjunto de fatores, o livro de 
Skinner ficou “enterrado”, até que Murray Sidman resolveu, entre as décadas em 
1970 e 1980, o principal problema da perspectiva comportamental sobre o 
comportamento verbal, que é o surgimento de novos comportamentos não 
 
 
15 
CBI of Miami 
diretamente reforçados (isso vocês verão depois) e Jack Michael colocou o livro 
debaixo do braço e o adotou como aquilo que ele de fato era, um verdadeiro 
programa de pesquisa (ainda hoje incompleto) e surpreendentemente, a 
esmagadora maioria das afirmações feitas por Skinner naquela obra se 
demonstraram corretas por rigorosa experimentação posterior, inclusive com 
grande impacto sobre a área aplicada às intervenções com pessoas com 
desenvolvimento atípico. 
Outra obra igualmente ousada foi Tecnologias do Ensino, em que o autor 
destrinchou os equívocos e possibilidades educacionais a partir desta ciência do 
comportamento e propôs o ensino sobre novas e inovadoras bases, que foram, 
ao mesmo tempo, base para experiências educacionais fantásticas, como a 
Escola da Ponte, em Portugal ou grande parte da instrução programada por 
Ensino à Distância atual e, por outro lado, compreendido de forma equivocada 
como proponente da substituição dos professores por máquinas de aprender. 
Essas máquinas eram dispositivos que apresentavam, mecanicamente, 
atividades para os estudantes, que respondiam de maneira correta ou errada e, 
caso acertassem de modo consistente, demonstrando que atingiam os critérios 
de aprendizagem, passavam para o próximo tópico, assim como aqueles que 
não acertavam suficientemente ficavam no mesmo nível até aprenderem 
adequadamente, individualizando o processo de ensino e respeitando os ritmos 
individuais. No livro, Skinner acentuava o papel do Professor como alguém que 
apoiava os estudantes de modo a explicar, resolver problemas, ajudar a escolha 
de certos percursos, uma tarefa muito superior à de selecionar atividades em 
sala de aula (o que era feito antes, na programação das máquinas de aprender), 
mas o discurso apressado e corporativista também fez com que este livro ficasse 
por muito esquecido. 
Na visão de Skinner, a escola deveria ser um lugar maravilhoso, o lugar de 
aprender deve ser bonito, agradável, cheiroso (olha que sacada), para produzir 
um reforçamento poderoso para os vários comportamentos que a escola propõe 
produzir e, mais ainda, para o próprio comportamento de aprender, que 
 
 
16 
CBI of Miami 
possibilitaria aos indivíduos interagir com outros ambientes e ter autonomia para 
aprender muitas outras coisas não planejadas pela escola. 
Em suas últimas obras, o autor ainda analisou temas sofisticados como 
arte, poesia e as várias formas do amor, como se pode ler em Questões 
Recentes da Análise do Comportamento, demonstrando que a Análise do 
Comportamento é uma ferramenta versátil e complexa de descrição dos 
fenômenos humanos. 
Por outro lado, o autor também refletiu seriamente sobre a humanidade e 
nossas limitações e possibilidades. Em um livro chamado Walden II, Skinner 
pensou em uma sociedade perfeita, governada por um modelo a que chamou de 
personocracia, em que os conhecimentos derivados das ciências do 
comportamento seriam a base do governo. Este livro é uma grande controvérsia 
dentro de nosso campo de estudo, alguns acham que a realidade imaginada por 
Skinner é uma utopia enquanto outros a entendem como uma verdadeira 
distopia. Walden II inspirou diversas comunidades reais, a de maior sucesso 
ainda está de pé, são os Los Horcones, na qual são realizados experimentos 
científicos para tomar decisões, esses experimentos são publicados sem uma 
assinatura individual, mas como Los Horcones. Outras comunidades com a 
mesma proposta fracassaram e a proposta de Skinner é considerada por muitos 
como ingênua e que o modelo proposto facilmente degeneraria para um 
autoritarismo tecnocrata. 
Outro livro mais filosófico é Beyond Freedon na Dignity, que em tradução 
literal significa “Para além da liberdade e da dignidade” e que sofreu (a palavra 
ideal é essa, que remete a sofrimento) a infeliz tradução de “O mito da liberdade 
e da dignidade”. No qual o autor discorre longamente sobre o papel do ambiente 
em nosso comportamento, no qual ele argumenta que a liberdade não é nunca 
absoluta, que somos governados por uma interação com o contexto em que 
vivemos. Assim, à medida em que nossa realidade muda, também mudamos. 
Por um lado, pode parecer uma acepção limitadora de homem, quando, na 
verdade, é precisamente o contrário. Skinner argumenta que se quisermos 
 
 
17 
CBI of Miami 
pessoas boas, adeptas da paz, que preservem o meio ambiente... temos que 
arranjar contingências, organizar nosso ambiente, para produzir contingências 
que reforcem precisamente estes comportamentos e que impeçam o 
reforçamento dos comportamentos que lhe são opostos. Em outras palavras, 
Skinner assumiu que a responsabilidade por um mundo mais justo está em 
nossas mãos e que a Análise do Comportamento deveria se comprometer com 
esse objetivo ético. 
Nesta obra, o autor analisa longamente qual é a visão do senso comum 
sobre este tema, que tenta encontrar explicação para a maneira pela qual as 
pessoas se comportam de maneira diferente, sendo alguns bem sucedidos ou 
verdadeiros desastres em seus percursos, atribuindo a eles atributos como 
perseverança, coragem, medo, fraqueza, determinação, ousadia, entre inúmeros 
outros, que brotariam de suas mentes, inexplicavelmente diferentes. Explicações 
encampadas por parte da ciência, que aceitam a utilização de constructos 
teóricos como a mente, sem nenhuma existência física no mundo real, como um 
recurso que facilita a explicação, mas a encurrala em um esquema de explicação 
circular que não possibilita à ciência um avanço àquilo que ela se propõe, que é 
a predição e controle dos fenômenos. 
Assim, se eu tenho uma pessoa que não faz as atividades propostas na 
escola, eu posso explicar isso como fruto de um estado mental a que chamo de 
“preguiça”, no entanto, eu poderia ainda perguntar como se chegou à conclusão 
de que aquele rapaz é um preguiçoso, e a resposta seria algo como “porque ele 
nunca faz a lição”, e “porque nunca faz a lição?”, “ora, porque é um preguiçoso”, 
construindo um círculo pseudo-explicativo que nos impede de agir para que o 
comportamento se modifique, produzindo uma ciência que contribua com o 
desenvolvimento da sociedade. 
Skinner morreu em 18 de agostode 1990 pouco depois de sua última obra, 
sendo, portanto, um autor que acompanhou cerca de 60 anos deste campo de 
estudo como seu principal experimentador e formulador, desenvolvendo sempre 
obras revolucionárias e solidamente fundamentadas, sendo a construção teórica 
 
 
18 
CBI of Miami 
da contingência, base do comportamento operante, comparada, em termos de 
relevância, à formulação da Teoria da Evolução, a Genética e as teorias da 
Relatividade e da Mecânica Quântica. 
É claro que a Análise do Comportamento não é limitada a Skinner e, como 
qualquer ciência, o objetivo é que ele seja largamente superado. Mas o 
conhecimento deste autor ainda é fundamental para as bases desta ciência e 
para compreendermos os fenômenos comportamentais. Recentemente, a Teoria 
das Molduras Relacionais – RFT, apresentou-se como uma Teoria Pós-
Skinneriana, causando grande frisson dentro da comunidade de Analistas do 
Comportamento, acentuando a necessidade imperativa à qualquer ciência de 
esquivar-se de qualquer tipo de dogma e de “fidelidade” a qualquer autor, a única 
fidelidade que uma ciência pode ter é com as evidências disponíveis. 
Principais obras de Skinner: 
Skinner, B.F. The Concept of the Reflex in the Description of Behavior. 
Journal of General Psychology, 1931, 5, 427-457. 
Skinner, B.F. On the Rate of Extinction of a Conditioned Reflex.Journal of 
General Psychology, 1933, 8, 114-129. 
Skinner, B.F. A Discrimination Without Previous Conditioning. Proceedings 
of the National Academy of Science, 1934, 20, 532-536. 
Skinner, B.F. The Generic Nature of the Concepts of Stimulus and 
Response. Journal of General Psychology, 1935, 12, 40-65. 
Skinner, B.F. The Effect on the Amount of Conditioning of an Interval of 
Time Before Reinforcement. Journal of General Psychology, 1936, 14, 279-295. 
Skinner, B.F. The Behavior of Organisms: An Experimental Analysis. New 
York: Appleton-Century-Crofts, 1938. 
Skinner, B.F. The Alliteration in Shakespeare Sonets. Psychological 
Record, 1939, 3, 186-192. 
 
 
19 
CBI of Miami 
Skinner, B.F. A Quantitative Estimate of Certain Types of Soundpatterning 
in Poetry. American Journal o f Psychology, 1941, 54, 64-79. 
Skinner, B.F. The Operational Analysis of Psychological Terms. 
Psychological Review, 1945, 52, 270-277. 
Skinner, B.F. Differential Reinforcement with Respect to Time. American 
Psychologist, 1946, 1, 274-275. 
Skinner, B.F. “Superstition” in the Pigeon. Journal of Experimental 
Psychology, 1948(a), 38, 168-172. 
Skinner, B.F. Walden Two. New York: MacMillan, 1948(b). 
Skinner, B.F. Are Theories of Learning Necessary? The Psychological 
Review, 1950, 57(4), 193-216. 
Skinner, B.F. Science and Human Behavior. New York: MacMillan, 1953. 
Skinner, B.F. The Control of Human Behavior. Transactions of the New York 
Academy of Sciences, 1955, 17(7), 547-551. 
Skinner, B.F. A Case History in Scientific Method. American Psychologist, 
1956, 11, 221-233. 
Skinner, B.F. The Experimental Analysis of Behavior. American Scientist, 
1957(a), 45, 343-371. 
Skinner, B.F. Verbal Behavior. New York: Appleton-Century-Crofts, 
1957(b). 
Skinner, B.F. Teaching Machines. Science, 1958, 128, 969-977. 
Skinner, B.F. An Experimental Analysis of Certain Emotions. Journal of the 
Experimental Analysis of Behavior, 1959, 2, 264 
Skinner, B.F. Teaching Machines. Scientific American, 1960(a), 205, 90-
103. 
Skinner, B.F. Pigeons in a Pelican. American Psychologist, 1960 (b), 15, 
28-37. 
 
 
20 
CBI of Miami 
Skinner, B.F. Cultural Evolution as Viewed by Psychologists. Daedalus, 
1961, 90, 573-586. 
Skinner, B.F. Operant Behavior. American Psychologist, 1963, 18 (7), 503-
515. 
Skinner, B.F. Behaviorism at Fifty. In T.W. Wann (ed.) Behaviorism and 
Phenomenology: Contrasting Bases for Modern Psychology. Chicago: The 
University of Chicago Press, 1964 (79-108). 
Skinner, B.F. The Phylogeny and Ontogeny of Behavior. Science, 1966(a), 
153, 1205-1213. 
Skinner, B.F. Contingencies of Reinforcement in the Design of a Culture. 
Behavioral Science, 1966(b), 11, 159-166. 
Skinner, B.F. Visions of Utopia. The Listener, 1967(a), 77, 22-23. 
Skinner, B.F. & Blanshard, B. The Problem of Consciousness – a Debate. 
Philosophy and Phenomenological Research: A Quarterly Journal, 1967(b), 
27(3), 317-337. 
Skinner, B.F. The Technology of Teaching. New York: AppletonCentury-
Crofts, 1968. 
Skinner, B.F. Contingencies of Reinforcement:A Theorethical Ana lysis. 
New York: Appleton-Century-Crofts, 1969. 
Skinner, B.F. Creating the Creative Artist. In On The Future of Art. Solomon 
R. Guggenheim Museum: The Viking Press, Inc.1970. 
Skinner, B.F. Humanistic Behaviorism. The Humanist, 1971(a), 31, 35. 
Skinner, B.F. Beyond Freedom and Dignity. New York: Alfred A. Knopf, 
1971(b). 
Skinner, B.F. Humanism and Behaviorism. The Humanist, 1972, 32, 18-20. 
Skinner, B.F. About Behaviorism. New York: Alfred Knopf, 1974. 
 
 
21 
CBI of Miami 
Skinner, B.F. Registro acumulativo. Barcelona: Fontanella, 1975 (orig. de 
1959). 
Skinner, B.F. Particulars of my Life. New York: McGraw Hill, 1976. 
Skinner, B.F. Why I am not a Cognitive Psychologist. Behaviorism 1977(a), 
5, 1-10. 
Skinner, B.F. Between Freedom and Despotism. Psychology Today, 
1977(b), 11(9), 80-91. 
Skinner, B.F. Herrnstein and the Evolution of Behaviorism. American 
Psychologist, 1977(c), 32(12), 1006-1012. 
Skinner, B.F. The Shaping of a Behaviorist: Part two of an Autobiography. 
New York: Alfred A. Knopf, 1979. 
Skinner, B.F. Selection by Consequences. Science, 1981, 213, 501 
Skinner, B.F. A Matter of Consequences. New York: Alfred Knopf, 1983. 
Skinner, B.F. Cannonical Papers. The Behavioral & Brain Sciences, 1984, 
7(4), 511-724. 
Skinner, B.F. Toward the Cause of Peace: What can Psychology 
Contribute? Applied Social Psychology Annual, 1985(a), 6, 21-25. 
Skinner, B.F. Cognitive Science and Behaviorism. British Journal of 
Psychology, 1985(b), 76, 291-301. 
Skinner, B.F. Recent Issues in the Analysis of Behavior. New York: Merril 
Publishing Company, 1989(a). 
Skinner, B.F. The Origins of Cognitive Thought. American Psychologist, 
1989(b), 44(1), 13-18. 
Skinner, B.F. Can Psychology be a Science of Mind? American 
Psychologist, 1990, 45(11), 1206-1210. 
Skinner, B.F. & Vaughan, M.E. Enjoy old age: A Program of Selfmonitoring. 
New York: Alfred A. Knopf, 1983. 
 
 
22 
CBI of Miami 
 
O Behaviorismo Radical 
A ciência da Análise do Comportamento é dividida em três faces. Uma 
delas é o Behaviorismo Radical, a filosofia que a fundamenta. A outra é a Análise 
Experimental do Comportamento, na qual se formulam os conhecimentos sobre 
os processos básicos do comportamento e a terceira é a Análise do 
Comportamento Aplicada. 
O Behaviorismo Radical é uma filosofia, mas por que uma ciência necessita 
de uma filosofia? Simples, todas as ciências se fundamentam em uma filosofia 
(embora nem sempre de maneira clara) porque a epistemologia, o modo de se 
produzir conhecimento, é um ramo da filosofia. 
O Behaviorismo Radical possui uma relação intrínseca com a Análise 
Experimental do Comportamento, sendo submetido à crítica e possível 
modificação à medida em que temos novos conhecimentos sobre a realidade. 
Não se trata de uma filosofia estática, mas de uma base sobre a qual a Análise 
Experimental atua. 
Como exemplo, enuncio alguns elementos fundamentais do Behaviorismo 
Radical (e observando com atenção cada um desses pontos, você pode 
perceber que eles possuem enorme impacto sobre a prática): 
Todo o fazer humano é comportamento, não faz sentido afastar 
comportamentos que ocorrem dentro da pele, como pensar, amar, sentir dor, da 
esfera de atuação desta ciência simplesmente porque não são observáveis 
diretamente. Este é um problema metodológico resolvido com sofisticação 
metodológica à medida em que esta ciência avança. Assim, tudo o que o homem 
morto não faz é comportamento, sendomensurável, como o comportamento 
motor, e também mesmo não sendo mensurável, como o pensamento. 
Esse foi o grande diferencial do Behaviorismo Radical para as versões 
comportamentalistas que o precederam, pois eram versões reducionistas, por 
 
 
23 
CBI of Miami 
não olharem para aquilo que era absolutamente fundamental para a Psicologia 
e para o que a sociedade esperava dela. 
Um trecho do trabalho do Prof. Kester Carrara descreve bem o problema 
fundamental da perspectiva de Watson, que criou o espaço que acentua a 
importância da inovação proposta por Skinner: 
Watson foi [...] acusado de ter removido a consciência 
como objeto central do estudo científico, sem colocar no 
mesmo lugar alguma forma de análise daquelas ações 
humanas não visíveis a olho nu, mas de cuja existência e 
relevância ninguém duvida (o pensamento, sentimentos e 
algumas emoções mais sutis, por exemplo). Watson não 
tinha uma resposta clara para estas questões, embora 
especulasse sobre elas. [...] (CARRARA, 2005, p.42) 
É verdade que há importantes dificuldades metodológicas de se estudar o 
pensamento, porque ele não é visível e a única forma de acessá-lo é por meio 
do relato da única pessoa que é capaz de observá-lo, a própria pessoa que 
pensa. No entanto, esta pessoa que pensa pode fazer um relato completamente 
contrário a seu pensamento, ela pode ter uma dificuldade em se auto-observar 
para relatar com fidedignidade o que ocorre, ela pode ainda ser incapaz de 
comunicar-se como é o caso de pessoas com o Transtorno do Espectro Autista 
que não são verbais. Mas nada disso faz o pensamento ser menos 
comportamento, afinal a definição do que é ou não é comportamento não se 
baseia em critérios metodológicos e sim em critérios epistemológicos. 
O Behaviorismo Radical rompeu com o Behaviorismo Metodológico 
justamente por este motivo, o que as pessoas fazem só pode ser comportamento 
porque o ser humano é parte da natureza, na qual os eventos físicos se 
influenciam mutuamente e não são criados “do nada”, mas não produto das 
relações funcionais entre variáveis deste próprio ambiente físico. Se algo 
acontece, se algo muda, dentro ou fora de um organismo, seja um movimento 
motor, um pensamento ou um sentimento, isso só pode decorrer das relações 
 
 
24 
CBI of Miami 
físicas estabelecidas entre variáveis, isto é, isso só pode ser um comportamento, 
independentemente de que o vejamos ou não. 
O ser humano é um todo único, uno, sendo assim, o Behaviorismo Radical 
é monista e não admite a separação entre corpo e mente ou alma e corpo 
(embora isso não vede em nenhum momento uma compreensão religiosa do 
Analista do Comportamento de que exista uma alma – desde que isso não se 
misture com sua avaliação científica). Isto quer dizer, o ser humano é um ser 
orgânico, físico e todo o seu ser o é, não há uma coisa de um estofo diferente, 
de diferente natureza, a que chamam “mente”, que seja algo diferente. 
Descartes utilizou o sistema de irrigação do Palácio de Versalhes como 
modelo de compreensão dos seres humanos. Ele observou que todo o sistema 
era uma maquinaria engenhosa em que uma coisa movimentava a outra que 
movimentava a outra em uma relação mecânica complexa de causa e efeito e 
elaborou a ideia de que os seres humanos seriam tal como essa maquinaria 
dotada de relações mecânicas intrincadas de mobilização de nosso corpo (base 
do mecanicismo) e que seria habitado por um espírito, uma força vital que definia 
como esta maquinaria iria se comportar (daí o comportamento como uma esfera 
separada da “mente”, que seria esta tal força), a alegoria do “Fantasma na 
Máquina” que tanto habitou e habita o senso comum e outras correntes teóricas 
que lidam com o comportamento humano como uma expressão física de uma 
outra coisa, de outra natureza, inefável, da “mente humana”. 
O pensamento, ou mente, não são, em nenhuma hipótese, causadores do 
comportamento. É o conjunto de relações complexas entre organismo e 
ambiente que determinam o comportamento, mas isto se dá por meio de um 
processo a que chamamos de “seleção pelas consequências”, assim, um 
comportamento se torna mais provável à medida em que suas consequências 
atendem às funções necessárias ao organismo e menos prováveis se não 
alcançam as funções necessárias ao organismo, seja uma pessoa, seja qualquer 
outro organismo. 
 
 
25 
CBI of Miami 
Este papel do pensamento é um dos temas mais candentes na relação 
entre a Análise do Comportamento e outros campos de estudo do 
comportamento humano. Da forma como sentimos, nossa experiência nos indica 
que o que governa nosso comportamento são nossos pensamentos. Mas esta 
análise não é precisa e não possui evidências para suportá-la. 
Por outro lado, para a Análise do Comportamento, o pensamento existe, é 
relevante, mas não é a CAUSA do comportamento. O pensamento é, em si, 
também um comportamento. Assim, não devemos encará-lo como uma coisa “o 
pensamento”, mas como um ato, uma ação “o pensar”. E se pensar é um 
comportamento, ele pode ser descrito também como funcionando a partir das 
regras que regem o comportamento humano. 
Mas não é exatamente este ponto que pretendemos trabalhar neste texto 
e sim uma outra questão, de fundo. Quando entramos em uma lanchonete e 
pensamos “Humm, estou com fome, vou pedir uma coxinha” e então falamos 
“Boa tarde! Me vê uma coxinha, por favor!”, a pergunta é, foi o pensamento 
anterior que causou o comportamento de pedir a coxinha? E a resposta é NÃO. 
Isso não quer dizer que o comportamento de pensar não existiu, mas que ele 
apenas descreve o organismo se comportando e optando por comprar ou não, 
mas o que faz com que o indivíduo se comporte são as relações de 
reforçamento, extinção e punição que estabelecemos em nossa vida. Assim, se 
comemos em uma lanchonete que tem uma péssima coxinha, esta 
consequência pode ser punitiva e, portanto, da próxima vez nosso pensamento 
pode ser descrito como “Humm, a coxinha daqui é ruim, não vou comer) e mais 
uma vez não é este pensamento que causou o comportamento de não comer a 
coxinha, mas o pensamento foi um comportamento de auto-observação e 
descrição do organismo se comportando. 
Basta lembrarmos tantas vezes que agimos contra nosso próprio 
pensamento para realmente termos a certeza de que o pensamento não controla 
comportamento. Ele é nossa forma de sentir e descrever como nos comportamos 
e não sua causa. 
 
 
26 
CBI of Miami 
Quando uma pessoa com TEA severo se comporta de certa forma e há 
uma consequência reforçadora, ele tende a se comportar mais da mesma forma. 
Alguém poderia argumentar “Mesmo sem entender?”, sim, mesmo sem entender 
(por “entender” consideremos “ser capaz de descrever”) e o entendimento será 
ensinado aos poucos. Quando ensinamos, priorizamos o entendimento, 
queremos que a pessoa mude seu comportamento por meio de um discurso que 
fazemos que objetiva mudar seu entendimento e isso quase nunca é eficaz, 
porque esta atitude parte do pressuposto “Mudo o pensamento dele, logo, o 
comportamento mudará” e como esta afirmativa está equivocada, ele não 
funciona. Nós mudamos o comportamento mudando o ambiente em que o sujeito 
está mudando, portanto, as contingências, isto é, fazendo com que o ambiente 
não permita mais acesso a reforçadores que sejam produzidos por 
comportamentos indesejáveis e fazendo com que o ambiente libere reforçadores 
para comportamentos desejados. E quanto ao pensamento? Ele será mudado 
junto com os demais comportamentos. 
Por exemplo, quando faz uma birra para não tomar banho, a mãe de 
Joãozinho diz “Não quer tomar banho, não toma” e deixa que ele vá para o 
videogame. Mudar o ambiente pode ser, por exemplo, reter o controle do 
videogame até que Joãozinho tome seu banho. Se isso ocorrer 
consistentemente, você verá que depois de algum tempo, Joãozinho “se 
conscientizará” da importância do banho. 
Quando um comportamento é muitoreforçado, em certa circunstância, ele 
se torna muito provável, se repetindo circunstância semelhante. Mas não é 
possível garantir com 100% de chance de que ele será emitido, o que se pode 
dizer é que ele muito provavelmente será emitido, isto é, que se aquela 
circunstância se repetir uma série de vezes, na maior parte destas 
oportunidades, o comportamento será emitido. A isso chamamos de 
“Determinismo Probabilístico”, a que, talvez, a Análise do Comportamento se 
filie. Digo “talvez” porque esta foi a defesa realizada por Skinner e tantos outros 
Analistas do Comportamento relevantes, mas vem sendo questionada 
recentemente por importantes teóricos. 
 
 
27 
CBI of Miami 
Carolina Laurenti, em 2009, publicou sua tese doutoral Determinismo, 
Indeterminismo e Behaviorismo Radical, em que defendeu que a Análise do 
Comportamento é muito mais compatível com o indeterminismo do que com sua 
versão determinada. Isto é, o estudo exaustivo dos desfechos alcançados com 
as inúmeras manipulações de variáveis nos dá uma excelente segurança de que 
possamos predizer e controlar fenômenos, criando cenários em que atuamos 
efetivamente quase sempre. No entanto, também é verdade que é impossível 
asseverar que dada uma certa relação entre variáveis, SEMPRE se dará um 
certo desfecho, necessariamente aberto ao imponderável da realidade, sendo, 
portanto, indeterminista (a discussão é muito mais profunda do que este 
parágrafo, como deve imaginar, então leia a tese). 
O comportamento é sempre individual e a avaliação do comportamento, 
bem como a intervenção, deve considerar este critério de modo radical. Assim, 
sempre que se realiza uma intervenção de caráter analítico-comportamental, a 
medida de avaliação nunca é outra pessoa e sim sempre o próprio sujeito, em 
sua linha de base, isto é, em sua avaliação antes da intervenção. A isso 
chamamos de delineamento de sujeito único (este é um dos motivos pelos quais 
uma intervenção baseada em ABA para uma criança nunca será igual a de outra, 
mesmo que ambas tenham autismo e que tenham o comportamento bem 
semelhante). 
Existem 3 níveis de seleção do comportamento que são complementares e 
se integram de modo ímpar em cada ser humano existente, eles se entrelaçam 
de modo que a descrição de médias gerais do comportamento humano não 
oferece medidas de ninguém em particular, são conhecimentos que não 
descrevem o comportamento de nenhuma pessoa real, mas uma pessoa ideal, 
uma pessoa que não existe, e não é (ou não deveria ser) o caminho de uma 
ciência do comportamento. 
O primeiro desses níveis é a Filogênese, que é a base orgânica sobre a 
qual se erige todo o resto que um organismo faz no mundo. Nossa biologia foi 
selecionada também pelas consequências, mas não do decorrer de nossa vida, 
 
 
28 
CBI of Miami 
mas de nossa espécie. Bilhões de anos atrás, o surgimento da vida propiciou 
uma infinidade de variações comportamentais e estruturais que eram 
adaptativas ou não eram adaptativas ao ambiente e sobreviveram aquelas que 
eram, enquanto as demais foram eliminadas. 
Imagine em um certo momento da história de nossa espécie específica ou 
algum antepassado, a presença simultânea de seres humanos que respondiam 
dilatando a pupila no escuro e a contraindo em cenários mais claros e outros que 
não o faziam. Aqueles que apresentavam este comportamento de contração e 
dilatação poderiam engajar-se em uma luta contra outros da espécie ou 
predadores e transitar desde o interior de uma caverna, debaixo da mata densa 
ou no descampado ensolarado com o mesmo nível de visão alcançado em 
poucos segundos enquanto aqueles que não o faziam tinham dificuldades 
significativas em transições, com alta probabilidade de serem mortos, diminuindo 
a probabilidade de deixarem descendentes e, portanto, sua genética, deixando 
tomar todo o conjunto da espécie pela variação genética mais adaptativa. 
É claro que este exemplo é um arremedo de um comportamento 
biologicamente instalado, um respondente, que provavelmente foi selecionado 
por meio de aproximações sucessivas no decorrer de milhares ou milhões de 
anos, em que competiam exemplares com maior dilatação e contração da pupila 
contra outros com menos dilatação e contração da pupila, favorecendo 
progressivamente aqueles com melhor habilidade, mas é bem ilustrativo de 
como as consequências de um certo comportamento determinado por uma 
variação genética o selecionaram na história da espécie, constituindo este nível 
filogenético. 
Mas também é verdade que este nível filogenético não é somente na 
história de seleção da espécie, de modo geral, mas cada um de nós possui uma 
filogenética específica, diferente de outras pessoas, podendo ser mais ou menos 
sensível aos estímulos do ambiente e determinando toda uma alteração de meu 
percurso comportamental ainda que eu viva em um contexto muito parecido com 
outras pessoas. 
 
 
29 
CBI of Miami 
O segundo nível de seleção do comportamento é a história individual do 
sujeito, seu percurso desde a geração até a morte, em que certos 
comportamentos operam uma mudança no ambiente, que por sua vez operam 
sobre o indivíduo também uma mudança e tornam este organismo mais ou 
menos propenso a emitir este mesmo comportamento. Em minha história 
pessoal, agi no mundo e os comportamentos produziram modificações que 
constituíram uma vantagem para mim, enquanto organismo, dotado de uma 
certa sensibilidade específica ao ambiente, desta forma estes estímulos também 
me transformaram e eu me tornei alguém com mais probabilidade de repetir 
esses mesmos comportamentos em caso de o contexto em que foram emitidos 
se repetissem, trata-se da relação a que denominamos de reforçamento. 
Por outro lado, eu também fiz coisas no passado que modificaram o 
ambiente, mas não em um sentido vantajoso, mas desvantajoso para mim, 
enquanto organismo e essas consequências do ambiente também me 
modificaram no sentido de que me tornei alguém com menor probabilidade de 
fazer estas mesmas coisas, isto é, a relação estabelecida não foi de 
reforçamento, mas de punição (não se preocupem, isso será muito mais bem 
trabalhado e explicado logo à frente). 
Então, durante uma vida inteira, nós agimos no mundo e este mundo pune 
certas respostas que emitimos, fazendo com que nós não mais as emitamos ou 
o façamos com menor frequência e também reforça certas respostas, que se 
tornam muito frequentes e passam a constituir o nosso repertório, isto é, o 
conjunto de comportamento que emitimos durante nosso dia a dia, em 
circunstâncias determinadas. Este nosso repertório é composto de 
comportamentos motores, de sentimentos e também de pensamentos. Basta se 
auto-observar e comparar-se consigo mesmo quando era adolescente, não são 
somente as partes de nosso corpo que mudaram (mais moles, 
lamentavelmente), também mudaram nossos gostos, a maneira com que nos 
sentimos diante da vida, as paixões (lembra da primeira vez que se apaixonou e 
achou que o mundo iria ruir? Que não passaria nunca?), nossos pensamentos, 
enfim, somos outras pessoas, porque sobre a nossa base filogenética houve 
 
 
30 
CBI of Miami 
desde então intensa relação entre ambiente e nosso fazer, moldando nosso 
repertório atual, a que também podemos chamar de “personalidade”. 
Nesta nossa história pessoal, uma bronca pode ser um baita punidor para 
um comportamento de qualquer um de nós, principalmente se for de alguém 
muito querido ou admirado, se for em um momento em que estejamos tristes, se 
usar palavras fortes e que se relacionam com algum evento que no passado nos 
trouxe sofrimento ou, a depender de outro percurso, pode ser, pasmem, um 
poderoso reforçador, caso seja dada em uma pessoa com forte privação de 
atenção social ou que não consiga discriminar o que quem está dando a bronca 
está pensando ou sentindo, como acontece muitas vezes com pessoas com o 
Transtorno do Espectro Autista com uma alteraçãoimportante na percepção 
social. 
Ou seja, um mesmo estímulo do ambiente não opera da mesma forma 
sobre diferentes pessoas porque cada pessoa possui uma base filogenética 
específica e à medida em que se relaciona com o ambiente, passa ter uma 
história ontogenética também particular, que faz alterar também as próximas 
interações com o ambiente, tornando, portanto, o comportamento humano uma 
coisa altamente complexa e indeterminada, uma verdadeira bola de neve. 
O terceiro nível de seleção do comportamento humano é a cultura. Todos 
nós nascemos em um determinado tempo na história da humanidade e isso 
determina diferencialmente se nós vamos caçar elefantes em grandes planícies, 
se vamos protegê-los para preservação da natureza, adorá-los como divindades 
ou simplesmente comercializá-los em feiras e todos os pensamentos e 
sentimentos que acompanham estas ações descritas, ou seja, a cultura de um 
certo tempo influencia diretamente os limites e possibilidades de quem somos e 
tudo o que fazemos. 
Mas mesmo se nascermos em um mesmo tempo, digamos, em 2000 ou 
próximo disso, é possível que sejamos (nos movamos, pensemos e sintamos) 
de muitas formas diferentes, podemos nos comportar de maneiras radicalmente 
diferentes, como pela igualdade de gêneros, ou pela primazia dos homens sobre 
 
 
31 
CBI of Miami 
as mulheres ou ainda defendendo ou realizando atos abomináveis como a 
ablação, com cortes profundos, feitos com lâminas enferrujadas, da vulva das 
meninas, para que elas não sintam qualquer prazer, como se faz ainda com 
milhares de meninas no mundo, isto porque a cultura também é distinta entre os 
vários cantos do planeta, afetando diretamente na definição de quem somos nós, 
ainda que exemplares da mesma espécie. 
Essas culturas sobreviveram porque foram adaptativas, isto é, elas criaram 
contingências, contextos de comportamento de seus membros que fizeram com 
que essas sociedades continuassem existindo e conseguiram manter-se de pé 
mesmo com a eliminação progressiva da maior parte das culturas que já viveu 
neste nosso planeta e estas culturas, no entanto, continuam fazendo isso, 
criando contextos de comportamento para que nós existamos e continuam 
lutando por sua sobrevivência, seja modificando-se e se adaptando, seja sendo 
eliminadas e dando lugar a novas culturas. 
A interação entre estes três níveis de seleção do comportamento produz 
exemplares altamente idiossincráticos que só podem ser bem estudados 
idiograficamente, isto é, perseguindo suas histórias individuais, observando e 
experimentando interações específicas com o ambiente e não nomoteticamente, 
isto é, pela extração de médias de populações, em que não se conhece a relação 
específica de organismo com o ambiente e seu desfecho sempre único. 
O Behaviorismo Radical, esta filosofia que subsidia a Análise do 
Comportamento adota alguns princípios científicos fundamentais que merecem 
ser apresentados brevemente também aqui neste contexto: 
O Pragmatismo – em grande parte da ciência vigora uma corrente a que 
denominamos de Realismo, que pressupõe que a realidade existe 
independentemente de nós, que ela existe em si e que nós, por não podermos 
acessar a própria realidade como ela é, a acessamos por via dos sentidos e para 
que estejamos bem sedimentados, fazemos a aferição da realidade através do 
olhar intersubjetivo do objeto, isto é, não basta que vejamos ou sintamos de outra 
 
 
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CBI of Miami 
forma esta realidade, é preciso que outros o vejam ou sintam da mesma forma 
para que possamos confirmar sua “existência real”. 
Mas se a realidade só pode ser percebida pelos sentidos, como podemos 
afirmar, com certeza, se ela de fato existe? Esta é uma das principais premissas 
de uma outra corrente filosófica contemporânea, o Pós-Modernismo, que coloca 
em xeque a existência da realidade e defende que ela é uma construção social 
da linguagem, que ordena nossa percepção. 
Do ponto de vista dos adeptos do Behaviorismo Radical, há uma outra 
corrente filosófica que melhor representa nossa visão de mundo, a pragmatista. 
Desde este ponto de vista não interessa se a realidade existe ou se ela não 
existe, se ela é uma construção externa ou não, só o que importa é que nós 
percebemos algo como realidade, intersubjetivamente, ou seja, eu vejo uma 
criança se comportando de maneira inadequada e outra pessoa também a vê, 
eu meço seu comportamento disruptivo (digamos que ele bata a cabeça na 
parede) e outra pessoa também mede o fenômeno de modo muito próximo a 
mim (o que é verificado por um índice de concordância entre observadores), 
então nós nos abstemos de opinar sobre a existência da realidade, se o menino 
existe DE VERDADE ou não existe DE VERDADE, somos agnósticos quanto a 
isso, mas lidamos pragmaticamente com aquilo a que temos acesso. 
Não obstante que percebamos o mundo da mesma forma, propomos nesta 
realidade algum tipo de intervenção que altera esta realidade percebida, que de 
fato faz com que as coisas se transformem no mesmo sentido em que desejamos 
e previmos e esta transformação é percebida e mensurada por mim e também 
por terceiros, sem que combinemos isso, então podemos dizer que a percepção 
de algo que parece com uma realidade exterior é consistente entre as pessoas, 
isto é, quando olhamos para o mesmo lugar, percebemos as mesmas coisas, a 
mesma realidade. 
Também podemos dizer, dada essa relação, que esta realidade pode não 
existir, ela pode ser uma ilusão, talvez vivamos todos em uma Matrix, mas as 
regras naturais que conseguimos elaborar depois de inúmeros estudos 
 
 
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experimentais, nos dá segurança o suficiente para propormos tecnologias que 
conseguimos prever que serão efetivas. Assim, tanto os físicos conseguem 
elaborar conexões entre certos processos físicos que nos permitem enviar uma 
mensagem por um aparelho para o outro lado do planeta quanto os Analistas do 
Comportamento conseguem elaborar intervenções que conseguem eliminar 
comportamentos inadequados com a função de atenção (só para citar um 
exemplo). 
O Funcionalismo de Ernst Mach – a ciência possui quatro objetivos, que 
são a) descrever; b) explicar; c) predizer; e d) controlar fenômenos. Explicarei 
preliminarmente três deles, exceto o segundo, para depois me dedicar 
brevemente a ele e esclarecer esta influência central de Mach em relação a 
Skinner, que pervadiu todo o Behaviorismo Radical. 
A descrição dos fenômenos necessita da observação da realidade tal como 
ela é e também da experimentação, sempre que possível, para que a relação 
específica de cada variável do ambiente em relação às demais variáveis seja 
mensurada adequadamente e possamos estabelecer como a natureza se 
comporta dadas todas as circunstâncias em que a conhecemos. 
A predição da realidade é diretamente derivada da robustez de nossa 
descrição. Se nós descrevemos uma enorme quantidade de corpos celestes que 
fazem uma trajetória esperada, inúmeras vezes vista. Se nós descrevemos tudo 
o que circunda este corpo celeste, a existência ou não e o efeito ou não na 
trajetória de matéria escura, energia escura, atmosferas e outros corpos celestes 
próximos, então podemos dizer, com grande margem de segurança, que este 
corpo fará um determinado roteiro. Ou seja, apesar de não ter habilidades 
futurísticas e pouco conhecimento sobre leitura de mãos e de borra de café no 
fundo das canecas, os cientistas partem das descrições da realidade para fazer 
predições muito precisas sobre o futuro dos fenômenos que descreveram, tanto 
mais precisas quanto melhor descrita sua área de atuação, como a citada Física, 
a Química, entre outros. 
 
 
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E se nós sabemos que em dada certa situação, certa interação entre 
variáveis, então ocorrerá isto ou aquilo, se podemos predizer o que acontecerá 
em uma série de situações em que somos espectadores, como um magma que 
ameaça irromper em um vulcão, umfuracão que varrerá a costa de um país ou 
uma espécie que será eliminada em alguns anos, caso continuemos no mesmo 
ritmo de exploração, então também é possível que nós mesmos arranjemos o 
ambiente de modo a dispor certas variáveis para produzir o desfecho que 
pretendemos. 
Em um passado distante, as tecnologias eram produzidas pelo método da 
tentativa e erro ou por alguma intuição engenhosa de algumas pessoas, mas a 
maior parte da tecnologia contemporânea é fruto da ciência mais avançada, na 
qual nós descrevemos de maneira incrivelmente minuciosa a realidade e com 
isso somos capazes, por exemplo, de provocar fenômenos em partículas 
menores do que os átomos em computadores quânticos, conseguimos falar com 
uma pessoa, vendo seu rosto do outro lado do mundo, simultaneamente através 
dessa invenção fabulosa que é o celular, conseguimos organizar estímulos 
reforçadores para reforçar comportamentos socialmente relevantes e retê-los 
para que não reforcem comportamentos inadequados, enfim, conseguimos 
organizar parcelas do mundo para que essa organização/interação entre 
variáveis promova desfechos vantajosos para a humanidade. Este é o controle 
da realidade a que a ciência se propõe. 
Mas o que nos interessa mais especialmente aqui é o segundo objetivo, a 
EXPLICAÇÃO, de que se trata explicar a realidade após descrevê-la? 
Imaginemos que nós tenhamos a relação entre duas coisas, um corpo 
celeste com uma massa substancial, como o sol, e um outro corpo celeste com 
uma massa menor, a curta distância, como um meteoro. Então este pequeno 
corpo celeste será atraído pela força gravitacional do sol (uma maneira leiga de 
descrever a ação das ondas gravitacionais) e será tragado pela estrela maior 
deste sistema planetário. 
 
 
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Provavelmente será dito que a gravidade do sol CAUSOU a atração do 
pequenino corpo celeste, mas esta pergunta levará à necessidade de uma outra 
explicação, que é POR QUE uma coisa causou a outra e talvez explicaremos 
que isto ocorre porque corpos com massa maior atraem corpos com massa 
menor, mas poderíamos perguntar mais uma vez POR QUE isso acontece e 
qualquer outra explicação poderia receber a mesma pergunta novamente até 
finalmente chegar a um “porque sim”, que obviamente todos os que 
acompanharam o Castelo Rá-Tim-Bum sabem que não é resposta. 
É por este motivo que Mach entendeu que toda relação entre variáveis não 
pode ser apresentada como uma relação de causalidade em que A causa B, 
porque uma relação deste tipo pressupõe sempre que há uma outra explicação, 
necessariamente metafísica, para que o porquê seja adequadamente 
respondido. Assim, em sua perspectiva, depois adotada por Skinner e 
incorporada ao Behaviorismo Radical, a explicação da realidade que a ciência 
propõe a realizar, nada mais é do que uma sintetização da descrição em termos 
mais gerais, para melhor aplicação nos processos de predição e controle da 
realidade. 
Então vejamos, nós sabemos que os seres humanos se comportam e que 
ao se comportarem, modificam seu ambiente e este ambiente modificam a eles 
também, mas não podemos dizer que a apresentação de um certo estímulo após 
um comportamento CAUSA seu aumento de probabilidade (no caso de ser um 
estímulo reforçador), mas que dadas certas relações entre uma resposta e um 
estímulo, então este comportamento ocorrerá mais no futuro, trata-se de uma 
relação funcional entre variáveis em interação e não de uma relação causal entre 
eventos (ok, eu sei que é complexo, mas vá pensando sobre isso). 
E quando descrevemos esta relação entre variáveis, o behaviorista 
descreve o que ocorre, como o ambiente se modifica e afeta o organismo e como 
este organismo se comporta, como ele age no mundo, e faz a descrição de tudo 
isso, que se transforma, na pena do teórico, como Skinner e tantos outros, em 
processos gerais identificados como o Reforçamento e a Punição, a Operação 
 
 
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Motivacional, a Lei da Igualação, a Extinção, entre tantos outros conceitos, que 
não servem para EXPLICAR nada, a rigor, isto é, para dizer porque certas coisas 
ocorrem ou não ocorrem, mas para descrever certas coisas que ocorrem, de 
modo que podemos identificar estes mesmos processos em outras 
circunstâncias. 
E nesta explicação conceitual é preciso que sejamos claros e diretos, uma 
descrição não pode acrescentar conjecturas a seu escopo, ela deve ser 
transparente tanto quanto possível e a explicação deve refletir esse pé no chão, 
sem apelar a forças metafísicas ou constructos teóricos como a MENTE, dado o 
princípio da Parcimônia, que estabelece a necessidade, em ciência, de sempre 
se optar pelo caminho mais direto que dê conta da explicação dos fenômenos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Referências Bibliográficas 
 
CARRARA, Kester. Behaviorismo: crítica e metacrítica. São Paulo: Editora 
UNESP, 2005 
 
CRUZ, Robson Nascimento. B. F. Skinner: uma biografia do cotidiano 
científico. Belo Horizonte: Artesã, 2019 
 
LAURENTI, Carolina. Determinismo, Indeterminismo e Behaviorismo 
Radical. 2009. 430 f. Tese (Doutorado em Ciências Humanas) - Universidade 
Federal de São Carlos, São Carlos, 2009. 
 
RICHELLE, Marc. B. F. Skinner: uma perspectiva europeia. São Carlos: 
EDUFSCar, 2014 
 
WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2004.

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