Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
8 Ação Popular 8.1. Cabimento A ação popular é um remédio constitucional previsto no art. 5º, LXXIII, da Constituição Federal e na Lei n. 4.717/65, sendo utilizado com a finalidade de anular os seguintes atos lesivos: • ato ou contrato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe; • ato ou contrato lesivo ao meio ambiente; • ato ou contrato lesivo à moralidade administrativa; • ato ou contrato lesivo ao patrimônio histórico e cultural. Já caiu No XXV Exame Unificado da OAB/FGV foi narrada no enunciado da peça prática uma situação em que um determinado prefeito, violando a legislação ambiental federal, instala um outdoor num dos morros da cidade para propagandear os investimentos da prefeitura na área da saúde. Veja que se trata de hipótese de propositura de ação popular para anular ato lesivo ao meio ambiente, por desvio de finalidade (art. 2º da Lei n. 4.717/65), além de ser lesivo à moralidade administrativa, por ferir os princípios da moralidade administrativa e da impessoalidade, ambos previstos no art. 37 da Constituição Federal. A lei conceitua patrimônio público como os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico (art. 1º, § 1º, da Lei n. 4.717/65). Como dispõe expressamente o art. 1º, caput, da Lei n. 4.717/65, a ação popular é instrumento adequado para anular atos lesivos ao patrimônio: da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como suas respectivas autarquias, sociedades de economia mista, sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, empresas públicas, serviços sociais autônomos, instituições ou fundações que contaram com custeio de dinheiro público em mais de 50% do patrimônio ou da receita anual, bem como empresas a elas incorporadas e quaisquer pessoas jurídicas subvencionadas pelos cofres públicos. Para melhor ilustrar, apresentamos a tabela a seguir para ajudá-lo a entender a abrangência da ação popular na defesa do patrimônio público. CABIMENTO DA AÇÃO POPULAR NA DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO (Art. 1º, caput, da Lei n. 4.717/65) 1) Patrimônio da União, Estados, DF e municípios 2) Autarquias federais, estaduais, distritais ou municipais 3) Sociedades de economia mista 4) Sociedades mútuas de seguros nas quais a União represente os segurados ausentes 5) Serviços Sociais autônomos 6) Instituições ou fundações que contaram com custeio de dinheiro público em mais de 50% do patrimônio ou da receita anual 7) Empresas incorporadas pela União, Estados, DF e Municípios 8) Quaisquer pessoas jurídicas subvencionadas pelos cofres públicos De forma bastante elucidativa, a Lei n. 4.717/65 estabelece os casos em que o ato lesivo é considerado nulo ou passível de anulação. Nesse sentido, são considerados atos nulos: ATOS LESIVOS CONSIDERADOS NULOS (Art. 2º da Lei n. 4.717/65) 1. Incompetência O ato praticado não se inclui nas atribuições legais do agente. 2. Vício de Consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular de forma formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato. 3. Ilegalidade do objeto Nesse caso, o resultado do ato importa em violação de lei, regulamento ou outro ato normativo. 4. Inexistência dos motivos Nesse caso, a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido. 5. Desvio de finalidade Verifica-se quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência. Também haverá causa de nulidade do ato nos seguintes casos: ATOS LESIVOS CONSIDERADOS NULOS (Art. 4º da Lei n. 4.717/65) 1. A admissão ao serviço público remunerado For realizada com desobediência, quanto às condições de habilitação, das normas legais, regulamentares ou constantes de instruções gerais. 2. As operações bancárias ou de crédito real a) Forem realizadas com desobediência a normas legais, regulamentares, estatutárias, regimentais ou internas; b) O valor real do bem dado em hipoteca ou penhor for inferior ao constante de escritura, contrato ou avaliação. 3. A empreitada, a tarefa e a concessão de serviço público a) O respectivo contrato houver sido celebrado sem prévia concorrência pública ou administrativa, sem que essa condição seja estabelecida em lei, regulamento ou norma geral; b) No edital de concorrência forem incluídas cláusulas ou condições que comprometam o seu caráter competitivo; c) A concorrência administrativa for processada em condições que impliquem na limitação das possibilidades normais de competição. 4. As modificações ou vantagens, inclusive prorrogações que forem admitidas em favor do adjudicatário, durante a execução dos contratos de empreitada, tarefa e concessão de serviço público Sem que estejam previstas em lei ou nos respectivos instrumentos. 5. A compra e venda de bens móveis ou imóveis, nos casos em que não cabível concorrência pública ou administrativa a) For realizada com desobediência a normas legais, regulamentares, ou constantes de instruções gerais; b) O preço de compra dos bens for superior ao corrente no mercado, na época da operação; c) O preço de venda dos bens for inferior ao corrente no mercado, na época da operação. 6. A concessão de licença de exportação ou importação, qualquer que seja a sua modalidade a) Houver sido praticada com violação das normas legais e regulamentares ou de instruções e ordens de serviço; b) Resultar em exceção ou privilégio, em favor de exportador ou importador. 7. A operação de redesconto quando sob qualquer aspecto, inclusive o limite de valor Desobedecer a normas legais, regulamentares ou constantes de instruções gerais. 8. O empréstimo concedido pelo Banco Central da República a) Concedido com desobediência de quaisquer normas legais, regulamentares, regimentais ou constantes de instruções gerais; b) O valor dos bens dados em garantia, na época da operação, for inferior ao da avaliação. 9. A emissão, quando efetuada sem observância das normas constitucionais, legais e regulamentadoras que regem a espécie. Observe que, em síntese, é cabível ação popular quando um ato (ou contrato) administrativo for ilegal, ilegítimo ou até mesmo imoral, principalmente na sua formação ou no seu objeto. Assim, é de se constatar que a ação popular não protege apenas valores materiais (patrimoniais) do Estado, mas também valores imateriais, como as violações aos princípios constitucionais da Administração Pública, que são: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (art. 37 da CF). As circunstâncias não mencionadas são consideradas anuláveis, ou seja, o rol de ilegalidades apontadas pela Lei n. 4.717/65 não é exaustivo, mas, sim, meramente exemplificativo. De qualquer forma, para a procedência da Ação Popular exige-se a verificação da lesividade ao patrimônio público, conforme a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça1, ainda que esta seja iminente, eis que admissível a Ação Popular preventiva. Desta feita, temos que não é preciso aguardar que o ato administrativo se converta em fato administrativo para que seja possível a propositura da ação popular. Ademais, temos que é cabível a ação popular, ainda, para sanar eventual omissão (ato comissivo) da Administração Pública e que possa a vir a gerar lesão ao patrimônio público. É o que acontece, a título de exemplo, quando a Administração Municipal deixa de empregar recursos na manutenção de um prédio histórico e tombado e que sofre o risco de ruir. Como já dissemos admissível a Ação Popular Preventiva, seria este um caso em que se admitiria ação popular para compelir a Administração Pública a promover a necessária manutenção no imóvel protegido. E contra a lei? É cabível a propositura de Ação Popular? Se a lei for de efeitos concretos, como o é, por exemplo, aquela que desapropria bens, é cabível a Ação Popular. Entretanto, NÃO SE ADMITE A PROPOSITURA DE AÇÃO POPULAR CONTRA LEI EM TESE. Já caiu O XVIII Exame Unificado da OAB/FGV já elaborouenunciado de peça profissional narrando irregularidades praticadas por uma Autarquia Federal. Como você já sabe, é cabível ação popular para anular tais irregularidades nos contratos administrativos. Por evidente que, nesse caso, a competência será da Justiça Federal, nos termos do art. 109, I, da Constituição Federal. 8.2. Competência A competência para julgamento das ações populares, em regra, será do Juízo de Primeiro Grau, estadual ou federal, de acordo com os interesses envolvidos, bem como a origem do ato a ser anulado (art. 5º, caput, da Lei n. 4.717/65). Geralmente não se fala em foro por prerrogativa de função para propositura das ações populares. Assim, uma eventual ação popular para anular um ato lesivo ao patrimônio público praticado pelo Presidente da República não será julgada perante o Supremo Tribunal Federal, mas sim pela Justiça Federal. Assim, como dissemos para fixação da competência, será considerado o local de origem do ato/contrato, nos termos do art. 5º da Lei n. 4.717/65. Dessa forma, o endereçamento da ação popular deverá ser feito: • para o juízo da Fazenda Pública, onde houver; • para o juiz de direito da Vara Cível; • para o juiz federal da Seção Judiciária. Já caiu Se o ato ou contrato administrativo a ser anulado referir-se a Autarquia Federal, a competência será da Justiça Federal (Seção Judiciária), nos termos do art. 109, I, da Constituição Federal. 8.3. Legitimidade A ação popular pode ser proposta por qualquer cidadão (legitimado ativo), conforme estipula o art. 1º, caput e § 3º, da Lei n. 4.717/65, exigindo-se para tanto a juntada do título de eleitor ou de documento que a ele corresponda. Não se exige que esse cidadão tenha o seu título de eleitor registrado no local onde os fatos controversos ocorreram, conforme já decidiu o Superior Tribunal de Justiça2. As pessoas jurídicas não podem propor ação popular. Já os legitimados passivos são encontrados no art. 7º da Lei n. 4.717/65, sendo eles: LEGITIMADOS PASSIVOS NA AÇÃO POPULAR (Art. 6º da Lei n. 4.717/65) 1. Pessoas jurídicas públicas ou privadas, em nome das quais foi praticado o ato ou contrato a ser anulado 2. Pessoas físicas envolvidas no ato ou contrato lesivo 3. Entidades privadas de que o Estado participe É possível, inclusive, que haja um litisconsórcio passivo entre dois ou mais responsáveis pelo ato ou contrato lesivo. Aliás, todos os beneficiários diretos do ato ou contrato devem ser citados, sob pena de nulidade da ação popular. Também deverá ser obrigatoriamente citada a entidade lesada. De se consignar que a pessoa jurídica de direito público ou privado que fora incluída no polo passivo da ação popular terá dois caminhos a adotar (irreversíveis): ou contesta a ação popular, ou encampa o pedido do autor, conforme art. 6º, § 3º, da Lei n. 4.717/65. Observe que, segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, se o ato questionado foi praticado por sociedade de economia mista com personalidade e patrimônios próprios (e não públicos), não se exige a inclusão do Estado no polo passivo. Já caiu É o que já foi cobrado pelo XVIII Exame Unificado da OAB/FGV, em que constavam como litisconsórcios passivos: uma autarquia federal, o Presidente dessa autarquia federal, um Ministro de Estado, o Presidente da comissão de licitação de uma empresa que contratou com o Poder Público e também o Diretor Executivo dessa empresa, visto que, segundo a narrativa do enunciado, todos estavam envolvidos nas fraudes. Já caiu Já no XXV Exame Unificado da OAB/FGV deveriam constar no polo passivo, em verdadeiro litisconsórcio: o prefeito municipal, que determinou a instalação de um outdoor em descompasso com a legislação ambiental, o secretário do meio ambiente, que autorizou a instalação do outdoor após processo administrativo, e o Município respectivo (pessoa jurídica de direito interno). 8.4. Prazo A ação popular pode ser proposta num prazo de cinco anos contados da data de publicidade do ato ou contrato a ser anulado, nos moldes do que define o art. 21 da Lei n. 4.717/65. Como já definiu o Superior Tribunal de Justiça, não é cabível reconvenção em sede de ação popular3. 8.5. Requisitos e processamento A ação popular é inicialmente gratuita, salvo em caso de comprovada má- fé, quando o autor poderá ser condenado ao pagamento de custas e honorários sucumbenciais. Uma característica bastante acerca desse tipo de ação: a contestação não terá prazo de 15 dias, conforme estipulação genérica do Código de Processo Civil, mas sim de 20 dias, prorrogável por igual período, nos termos do art. 8º, § 2º, IV, da Lei n. 4.717/65. Nos termos do art. 7º, § 3º, da Lei n. 4.717/65, a pessoa jurídica citada, que tem o ato ou contrato impugnado, poderá contestar, abster-se ou até mesmo passar para o polo ativo da demanda. É preciso requerer a intimação do Ministério Público, a fim de que atue como custos legis, nos termos do art. 8º, I, a, da Lei n. 4.717/65. 8.6. Principais teses e requerimentos As teses utilizáveis para fundamentar a propositura da ação popular limitam-se a demonstrar a irregularidade na prática de um ato ou contrato administrativo, conforme indicamos pormenorizadamente no item 8.1, quando tratamos do cabimento da ação popular. Nas ações populares, em regra, a natureza da tutela é principalmente desconstitutiva, ou seja, de anulação do ato lesivo, mas poderá também ser condenatória, oportunidade em que se pretende a reparação pelo dano causado. Assim, há casos em que o pedido se limitará à desconstituição do ato ou contrato administrativo lesivo, ao passo que existirão oportunidades em que se buscará também a reparação pelo dano causado (ressarcimento ao erário). É possível o requerimento de liminar para a defesa do patrimônio público, nos termos do art. 5º, § 4º, da Lei n. 4.717/65, para requerer a suspensão do ato ou contrato administrativo. Para tanto, exige-se a demonstração do fumus boni iuris (probabilidade do direito) e do periculum in mora (perigo na demora) ou risco útil ao processo, nos termos do que estabelece o art. 300 do Código de Processo Civil. Já caiu Deve-se atentar sempre para a necessidade de medida liminar. No enunciado do XXV Exame Unificado da OAB/FGV foi narrada uma situação de instalação irregular de um outdoor em um dos morros de uma cidade, cuja iluminação, segundo demonstrado por uma ONG, causaria danos irreparáveis para a biodiversidade local em algumas semanas. Deve-se pedir também a condenação em verbas de sucumbência. Por fim, não se pode esquecer de incluir o valor da causa, nos termos do art. 292 do Código de Processo Civil. Se este não for informado no enunciado, deve-se utilizar a fórmula: “Dá-se à causa o valor de ...”. Em síntese, devem ser feitos os seguintes pedidos: • produção de todos os meios de prova em direito admitidos (pedido genérico); • deferimento da medida liminar (especificar a providência); • decretação da nulidade do ato/contrato administrativo (art. 11 da Lei n. 4.717/65); • condenação ao ressarcimento ao erário (quando for o caso) (art. 11 da Lei n. 4.717/65); • condenação ao ônus da sucumbência (art. 12 da Lei n. 4.717/65 ou art. 85 do CPC). 8.7. Modelo de peça folha 1 01 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... 02 VARA CÍVEL DA COMARCA DE ... 03 04 05 06 07 08 NOME DO AUTOR, nacionalidade ..., estado civil ..., profissão ..., 09 inscrito no CPF sob o n. ..., cidadão portador do título de eleitor 10 n. ..., endereço de e-mail ..., residente e domiciliado na Rua ..., vem, 11 respeitosamente perante Vossa Excelência, com fundamento no art. 5º, 12 LXXIII, da Constituição Federal e na Lei n. 4.717/65, propor a presente 13 AÇÃO POPULAR COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA / LIMINAR 14 (se for o caso) em face de NOME DO RÉU, pessoa jurídica de direito 15 ..., com endereço na ..., endereço eletrônico ... pelas razões de fato e 16 de direito abaixo expostas: 17 18 I – DOS FATOS 19 20 Apresentar os fatos de forma resumida, segundo o que constou no enunciado, 21 sem inventar qualquerdado, nem mesmo aqueles que poderiam ser deduzidos. 22 23 II – DO DIREITO 24 25 a) Do cabimento 26 Demonstrar o cabimento segundo o art. 1º da Lei n. 4.717/65. 27 28 b) Da legitimidade ativa 29 Demonstrar que o autor é cidadão e no gozo dos seus direitos políticos, 30 conforme art. 1º, § 3º, da Lei n. 4.717/65. folha 2 31 c) Da legitimidade passiva 32 Demonstrar que os indicados no polo passivo estão entre aqueles 33 enumerados no art. 6º da Lei n. 4.717/65. 34 35 d) Da tempestividade 36 Demonstrar que o ato lesivo foi praticado há menos de cinco anos, 37 conforme estabelece o art. 21 da Lei n. 4.717/65. 38 39 e) Do mérito 40 Apresentar um a um os argumentos que dão conta do ato lesivo 41 praticado. Iniciar com os argumentos referentes a violação a princípios, 42 passando para os fundamentos constitucionais, fundamentos legais e por 43 fim fundamentos de jurisprudência e doutrina. 44 45 III – DO PEDIDO 46 47 Diante do exposto, requer: 48 a) intimação dos Réus para a audiência de conciliação e mediação 49 (quando se tratar de direito disponível) OU a dispensa da realização da 50 audiência de conciliação (quando se tratar de direito indisponível); 51 52 b) citação dos Réus, na pessoa de seus representantes legais, para, 53 querendo, apresentarem defesa; 54 55 c) intimação do Ministério Público para atuar como “custos legis”; 56 57 d) procedência do pedido para o fim de ... 58 59 e) condenação dos Réus a ressarcirem ao Erário todos os custos 60 advindos da ...; folha 3 61 f) condenação aos Réus em custas e honorários sucumbenciais. 62 63 Protesta provar o alegado por todos os meios em direito admitidos, 64 requerendo desde já a juntada do título de eleitor e da respectiva 65 certidão de quitação eleitoral emitida pelo Tribunal Superior Eleitoral. 66 67 Dá-se à causa o valor de ... 68 69 Termos em que 70 pede deferimento. 71 72 Local e data... 73 74 ADVOGADO... 75 OAB... 76 8.8. Exercício (Exame Unificado XVIII – OAB/FGV) Após receber “denúncia de irregularidades” em contratos administrativos celebrados pela Autarquia Federal A, que possui sede no Rio de Janeiro, o Ministério Público Federal determina a abertura de inquérito civil e penal para apurar os fatos. Neste âmbito, são colhidas provas robustas de superfaturamento e fraude nos quatro últimos contratos celebrados por esta Autarquia Federal, sendo certo que estes fatos e grande parte destas provas acabaram divulgados na imprensa. Assim é que o cidadão Pedro da Silva, indignado, procura se inteirar mais sobre o acontecido, e acaba ficando ciente de que estes contratos foram realizados nos últimos 2 (dois) anos com a multinacional M e ainda estão em fase de execução. Mas não só. Pedro obtém, também, documentos que comprovam, mais ainda, a fraude e a lesão, além de evidenciarem a participação do presidente da Autarquia A, de um Ministro de Estado e do presidente da comissão de licitação, bem como do diretor executivo da multinacional M. Diante deste quadro, Pedro, eleitor regular e ativo do Município do Rio de Janeiro/RJ, indignado com o descaso pela moralidade administrativa na gestão do dinheiro público, pretende mover ação judicial em face dos envolvidos nos escândalos citados, objetivando desfazer os atos ilegais, com a restituição à Administração dos gastos indevidos, bem como a sustação imediata dos atos lesivos ao patrimônio público. Na condição de advogado(a) contratado(a) por Pedro, considerando os dados acima, elabore a medida judicial cabível, utilizando-se do instrumento constitucional adequado. (Valor: 5,00). Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não será pontuada. 8.9. Elaborando a peça Após a leitura da situação-problema apresentada, é importante que você elabore um esqueleto da peça que irá desenvolver e apresentar. Dessa forma você consegue sintetizar os aspectos mais importantes e tornar a elaboração da sua peça profissional mais objetiva e correta. Assim, é preciso que você responda objetivamente aos seguintes questionamentos: Qual é a peça? Quem é o cliente? Qual é o fundamento? Quem é o sujeito passivo? Quais as teses cabíveis? Há urgência? Quem é competente para analisar? 1. Cliente: Pedro. 2. Fundamento Constitucional: Defesa dos interesses do cidadão na proteção do patrimônio público (art. 5º, LXXIII, da CF). 3. Fundamento Legal: Contratação fraudulenta de serviço, com faturamento, o que caracteriza ilegalidade e causa grande lesividade ao patrimônio público (arts. 3º e 4º, III, c, da Lei n. 4.717/65). 4. Legitimidade Passiva: Autarquia Federal A, Presidente da Autarquia Federal A, Ministro de Estado, Presidente da comissão de licitação da empresa e o Diretor Executivo da empresa (art. 6º da Lei n. 4.717/65), eis que todos, de uma forma ou de outra, praticaram ou autorizaram os atos lesivos. 5. Sujeito Ativo: Pedro, que deverá comprovar a condição de cidadão através da juntada de seu título de eleitor (art. 1º, § 3º, da Lei n. 4.717/65). 6. Peça Processual e Cabimento: Ação popular, para proteção do patrimônio público e da moralidade administrativa (art. 5º, LXXIII, da CF e art. 1º da Lei n. 4.717/65). 7. Tese: Os contratos foram superfaturados, ou seja, firmados em preço superior ao praticado pelo mercado. Houve afronta aos princípios da moralidade administrativa e da legalidade, com grande lesividade ao patrimônio público (arts. 3º e 4º, III, c, da Lei n. 4.717/65). 8. Endereçamento (competência): Juiz Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro (local de origem do ato). 9. Pedido: Concessão de medida liminar para a suspensão dos contratos administrativos superfaturados, declaração de nulidade dos contratos administrativos superfaturados, condenação de ressarcimento ao erário, condenação nas verbas de sucumbência. 10. Valor da Causa: Dá-se à causa o valor de ... 11. Encerramento: Local, data. Advogado. OAB. 8.10. Para marcar • Súmula 101 do STF: “O mandado de segurança não substitui a ação popular”. • Súmula 365 do STF: “Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular”. • Súmula 516 do STF: “O Serviço Social da Indústria (SESI) está sujeito à jurisdição da Justiça Estadual”. 9 Ação Civil Pública A ação civil pública é o instrumento para evitar, entre outros, danos ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico ou paisagístico, ao patrimônio público, ou para promover a reparação por lesão aos bens. 9.1. Previsão legal a) Art. 129, III, § 1º, da Constituição Federal Art. 129. (...) III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; § 1º A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei; b) Lei n. 7.347/85 9.2. Cabimento A ação civil pública é utilizada para proteção e reparação (art. 1º da Lei n. 7.347/85): a) do meio ambiente; b) do consumidor; c) de bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagísticos; d) de qualquer outro direito difuso ou coletivo; e) quanto à infração da ordem econômica; f) da ordem urbanística; g) do patrimônio público ou social; h) da honra e da dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos. Por exemplo, um imóvel tombado está sendo destruído e o seu cliente, uma associação, o procura para propor a medida judicial cabível para suspender as agressões e exigir a devida reparação. 9.2.1. Não cabimento A ação civil pública não é o instrumento adequado para discutir (art. 1º, parágrafo único, da Lei n. 7.347/85): a) tributos; b) contribuições previdenciárias; c) FGTS. 9.3. Legitimidade 9.3.1. Legitimidade ativa Podem propor a ação civil pública aqueles relacionados no art. 5º da Lei n. 7.347/85: a) Ministério Público; b) DefensoriaPública; c) União, Estados, Municípios e Distrito Federal; d) autarquia, fundação, empresa pública, sociedade de economia mista; e) associação – constituída há pelo menos um ano; entre as finalidades estatutárias, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Atenção: O prazo mínimo de constituição par associação pode ser dispensado pelo juiz competente (art. 5º, § 4º, da Lei n. 7.347/85). 9.3.2. Legitimidade passiva A ação civil pública pode ser proposta contra qualquer pessoa (física ou jurídica) que tenha ocasionado lesão ou ameaça de lesão aos bens tutelados (art. 1º da Lei n. 7.347/85). Atenção: Há ocorrência de litisconsórcio pasivo necessário. Todos os envolvidos com o evento danoso deverão constar no polo passivo. 9.4. Liminar A ação civil pública admite decisão liminar (art. 12 da Lei n. 7.347/85) desde que preenchidos seus requisitos. A lei não apresenta expressamente os termos dos requisitos, mas em seu art. 19 aponta que o Código de Processo Civil será utilizado de modo subsidiário. Em caso de perigo iminente, o Código de Processo Civil, em seu art. 300, prevê o uso da tutela provisória de urgência com os seguintes requisitos: a) probabilidade do direito – na petição inicial deve-se fazer uma síntese dos fundamentos jurídicos apresentados; b) perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo – como regra, o enunciado do exercício indicará o perigo; se ausente, construa como uma consequência lógica do problema, sempre tendo cuidado para não criar fato novo que poderia ensejar a identificação do candidato em prova. Atenção: Embora, tecnicamente, o mais correto seja a utilização dos fundamentos da tutela de urgência, a FGV admite o uso dos requisitos com os seguintes termos: fumus boni iuris e periculum in mora. 9.5. Competência A competência é definida pelas regras de processo civil, a observar o local em que ocorreu o dano ou que deva ocorrer (art. 2º da Lei n. 7.347/85). A ação será endereçada ao juízo de primeiro grau. 9.6. Pedidos a) Concessão da tutela de urgência (ou liminar) para ..., com amparo no art. 12 da Lei n. 7.347/85 e no art. 300 do Código de Processo Civil; b) Intimação dos Réus para audiência de conciliação ou mediação (quando se tratar de direito disponível); c) Citação do Réu (ou dos Réus), na pessoa de seu representante legal; d) Intimação do Ministério Público para acompanhar a presente ação; e) Procedência do pedido, para os fins de ...; f) Condenação do Réu (ou dos Réus) em custas e honorários advocatícios. 9.7. Compromisso de ajustamento de conduta A administração púbica e os órgãos públicos que possuem legitimidade para propor a ação civil pública podem celebrar compromisso de ajustamento de conduta com terceiros para suspensão de conduta e correção de eventual dano. O termo preverá cominações em caso de descumprimento e terá eficácia de título executivo extrajudicial (art. 5º, § 6º, da Lei n. 7.347/85). 9.8. Principais teses 9.8.1. Direito à saúde, em especial para idosos a) Indicar a proteção da dignidade humana, consagrada no art. 1º, III, da Constituição Federal; b) Indicar a efetivação do direito fundamental à saúde, prevista no art. 6º e/ou art. 196 e seguintes da Constituição Federal; c) Indicar a proteção do direito fundamental à vida, prevista no art. 5º, caput, da Constituição Federal; d) Indicar a competência do Município para a prestação do serviço público de saúde, prevista no art. 23, II, e/ou art. 30, VII, da Constituição Federal; e) Indicar a proteção constitucional e/ou legal ao idoso, prevista no art. 230 da Constituição Federal e/ou no Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741/2003). 9.8.2. Serviço público de transporte coletivo municipal a) Violação ao dever de adequação na prestação do serviço público; b) Violação à segurança na prestação do serviço; c) Violação à atualidade do serviço quanto à modernidade dos ônibus. 9.8.3. Proteção aos bens tombados
Compartilhar