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NETTO, José Paulo. “Estado e questão social no capitalismo dos monopólios”. In: ____ _____. Capitalismo monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2009. cap. 1. p. 19-34. Transição do capitalismo concorrencial para o monopolista: A partir da tradição marxista, Netto (2009, p. 19-20) inicia o texto apresentando um exame histórico do trânsito do capitalismo de concorrências ao de monopólios, em consonância aos preceitos de Mandel (1967). Segundo o autor, no último quarto do século XIX, a partir de profundas transformações e modificações visando o aumento do lucro por meio do controle de mercados, o inovador capitalismo monopolista (terceira fase), articulado com o seu estágio imperialista - no sentido de Lênin -, ocupou o espaço do capitalismo concorrencial (segunda fase e após o capitalismo mercantil, a primeira fase). Entretanto, vale destacar que, mesmo com essa transição, a essência contraditória do capitalismo, analisada por Marx, manteve-se intocável e foi até potencializada, a partir da combinação com novas contradições e antagonismos, agora peculiarizados, como é o caso do redimensionamento dos sistemas bancário e creditício. Elementos do capitalismo monopolista: Além do aumento do processo de acumulação, de investimentos externos e da inserção de trabalhadores no exército industrial de reserva, Netto (2009, p. 21-23) destaca outros dois elementos típicos da monopolização presentes no cenário social desde o período “clássico” do capitalismo monopolista: a supercapitalização e o parasitismo. O primeiro diz respeito às dificuldades progressivas que o montante de capital acumulado tem para se valorizar, presentes mesmo com tentativas de contorná-las, como é o caso das conexões entre o capitalismo monopolista e a indústria bélica. Já o segundo tem a ver com o parasitismo da burguesia instaurado na vida social e que deve ser visto a partir da própria natureza burguesa parasitária e da burocratização generalizada. “(...) internacionalizada a produção, grupos de monopólios controlam-na por cima de povos e Estados” (NETTO, 2009, p. 24). Definição de solução monopolista: “(...) a maximização dos lucros pelo controle dos mercados (...)” (NETTO, 2009, p. 24). Papel estratégico do Estado no capitalismo monopolista: Se antes do ingresso do capitalismo no estágio imperialista, o Estado, enquanto ferramenta econômica, agia esporadicamente como “cioso guardião das condições externas da produção capitalista” (NETTO, 2009, p. 24) e intervia apenas de forma emergencial para garantir a produção capitalista e a propriedade privada dos meios burgueses de produção, agora, com a reformulação monopolista e imperialista, o Estado, em sua nova modalidade de intervenção, tem suas funções políticas imbricadas indissociavelmente com funções econômicas, isto é, agora ele age sistematicamente e continuamente na organização e na dinâmica econômicas voltadas para garantir os superlucros dos grupos monopolistas. Nessa nova realidade, como poder político e econômico, o Estado, operando como instrumento de organização da economia para garantir o lucro, desempenha múltiplas funções entre: i) diretas, como, por exemplo, ser empresário em setores básicos não rentáveis (ex: energia e matérias-primas), socializar perdas a partir do controle de empresas em dificuldades (ex: reprivatização), entregar monopólios construídos com verba pública para a iniciativa privada (ex: privatização de empresas públicas), e subsidiar a produção e a circulação; e ii) indiretas, como é o caso de subsídios indiretos, investimentos em infraestrutura, preparação da mão de obra e gastos com pesquisas científicas. Assim, a partir dessas exemplificações, é possível perceber a integração orgânica entre os monopólios privados e as instituições estatais no período de monopolização capitalista (NETTO, 2009, p. 25-26). Reinterpretando e redimensionando a famosa frase de Karl Marx, “vale dizer: o Estado funcional ao capitalismo monopolista é, no nível das suas finalidades econômicas, o ‘comitê executivo’ da burguesia monopolista - opera para propiciar o conjunto de condições necessárias à acumulação e à valorização do capital monopolista” (NETTO, 2009, p. 26). Novo papel do Estado na manutenção da força de trabalho: Nesse contexto de monopolização, além do financiamento do aparelho estatal, Netto (2019), em consonância com Mandel (1976, p. 183), destaca que o Estado também atua na manutenção física da força de trabalho afetada pela superexploração. Tal intervenção é um elemento novo no cenário social, porque, se antes, no capitalismo das concorrências, a intervenção estatal era básica e coercitiva às lutas das massas exploradas e/ou à urgência de preservar a propriedade privada burguesa; no capitalismo dos monopólios, controlar e preservar a força de trabalho é função estatal de primeira ordem, isto é, ele precisa gerenciar a reprodução e a manutenção da mão de obra, além de ser responsável por garantir o consumo e a sua alocação em função das necessidades dos grupos monopolistas (NETTO, 2009, p. 26-27).