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Avaliação de Eleitoral- Unidade 2

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
DIREITO ELEITORAL
Discorra sobre o Financiamento Eleitoral no Brasil, suas regras e eventual necessidade de mudanças.
FINANCIAMENTO DE CAMPANHA ELEITORAL
De início, é importante ressaltar que as democracias maduras se caracterizam por um conjunto de práticas e valores aos quais se confere projeção institucional. O resultado dessa conformação se expressa num modelo de organização jurídico-política de Estado que se convencionou chamar de Estado Democrático de Direito. Por sua vez, compõe o núcleo desse modelo o princípio democrático e todos os direitos e liberdades que dele decorrem, sendo atribuído papel essencial à liberdade de voto do cidadão no processo eleitoral.
A liberdade de voto do eleitor deve se fazer presente em todo processo eleitoral, concretizando-se tanto na liberdade de convencimento e informação por parte do eleitor como na liberdade de apresentação da candidatura. (GUEDES, 2013, p. 665.) Assim, a formação da vontade política genuína exige a exclusão de todos os tipos de constrangimento e pressões que possam, de fora, impor-se ilegitimamente tanto aos eleitores quanto aos candidatos durante, e após, o período de campanha.
Nesse contexto ganha relevância o debate acerca do modelo de financiamento das campanhas que, em última instância, representa as condições materiais que proporcionam o exercício da atividade democrática pelos que almejam um cargo eletivo. O processo eleitoral é, em regra, dispendioso. Salvo raríssimas exceções em que candidatos, por motivos diversos, optam por não realizar dispêndio algum. Nesse viés, partidos políticos e candidatos arregimentam forças para conseguir a maior quantia possível de recursos para poderem divulgar suas ideias e projetos junto ao eleitorado. Não há dúvidas de que, nesse processo de captação de recursos, o aproveitamento de modo eficaz das fontes de financiamento existentes tornou-se elemento importantíssimo para obtenção de êxito no pleito. Na ânsia de obter recursos cada vez mais numerosos para financiar as campanhas eleitorais, os candidatos transformaram as eleições brasileiras nas mais dispendiosas do planeta. (MACHADO; CARVALEDO, 2018)
Nesse contexto surgiram duas imensas preocupações. De um lado, o valor excessivo das campanhas com a captura econômica dos candidatos pelo setor privado, que era à época o principal financiador do modelo. Do outro, a necessidade de dar transparência ao modelo, com vistas a evitar o uso de caixa dois, bem como subsidiar, em tempo hábil, o eleitor na escolha do candidato de sua preferência. (MACHADO; CARVALHEDO, 2018)
Desta feita, para solucionar o primeiro problema, foram tomadas, entre outras medidas, a exclusão das pessoas jurídicas como fonte de financiamento das campanhas, o encurtamento das campanhas eleitorais e a determinação de um teto de gastos. Em virtude à necessidade de transparência do modelo, foram criados procedimentos na prestação de contas como a apresentação de contas parciais e a necessidade de informar à Justiça Eleitoral, no prazo de 72 horas, qualquer doação recebida. (MACHADO; CARVALHEDO, 2018) 
MODELOS DE FINANCIAMENTO DE CAMPANHA ELEITORAL
A priori, é importante pontuar que o fundo eleitoral, cujo nome oficial é Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), é um “fundo público destinado ao financiamento das campanhas eleitorais dos candidatos”, segundo definição do TSE. Alimentado com dinheiro do Tesouro Nacional, ele é distribuído aos partidos políticos para que estes possam financiar suas campanhas nas eleições. (ANDREASSA, 2019)
O fundo eleitoral não deve ser confundido com o fundo partidário. O segundo existe desde 1965 e serve para bancar as atividades corriqueiras dos partidos. Já o FEFC foi criado em 2017 pela Lei nº 13.487.
No caso do Brasil é interessante notar que, a Constituição Federal não estipulou um modelo de financiamento específico, porém, criou, no entendimento de Daniel Sarmento, uma moldura que deve servir de orientação para essas regras. (SARMENTO, pág. 3) Esse direcionamento está exatamente no princípio democrático, republicano e no princípio da igualdade política.
Visto isso, é importante esclarecer que, muitas vezes, a credibilidade do poder político está diretamente relacionada a modalidade de financiamento adotado em um determinado país ou por um partido específico. (RODRIGUES, pág.31) Assim, existem três modalidade de financiamento de campanha eleitoral: o financiamento público, o financiamento privado e o financiamento misto. 
FINANCIAMENTO PRIVADO 
O financiamento privado pauta-se na doação de recursos privados para as campanhas eleitorais. Estes recursos poderiam ser tanto de pessoas físicas quanto pessoas jurídicas, no entanto, no Brasil, após o julgamento da ADI 4650 pelo relator Ministro Luiz Fux, a possibilidade de doações feitas pelas empresas ficou proibida a partir de 2016.
É importante destacar que o financiamento privado reforça o status de liberdade inerente a qualquer sociedade democrática, visto que possibilita a participação direta do indivíduo na subvenção pela escolha de seus representantes. Entretanto, visto que a abordagem do presente estudo propõe uma reflexão imparcial acerca do tema, é mister considerar as consequências deste modelo de financiamento, como a influência exercida pelas grandes empresas com alto poder aquisitivo, que aliada a forte dependência dos partidos a estes recursos sem que seja avaliada a fonte dos mesmos, pode ocasionar a abertura de focos de corrupção e consequentemente a esquemas especializados de criminalidade no meio político, como já vem ocorrendo no país. (MARTINS, 2020)
Atualmente a doação acontece da seguinte forma para pessoas físicas, o limite de doação pode ser até 10% do seu rendimento bruto do ano anterior ao da campanha (§ 1º do art. 23 da Lei 9.504/1997 atualizada pela Lei 13.165/2015). 
FINANCIAMENTO PÚBLICO
O financiamento público tem como característica o recebimento de recursos do Estado para o custeio das campanhas eleitorais, oriundos do Fundo Partidário disciplinado pela Lei 9.096/95 – verbas para o partido. Existem outras modos de se custear as campanhas com recursos estatais como o acesso gratuito aos serviços de comunicação para fins de divulgação das propostas do candidato, por meio de pagamento direto ou isenção fiscal a essas empresas. (MARTINS, 2020)
É cabível salientar que no financiamento público não se permite as doações de entidades ou governos estrangeiros, de modo que nem o partido se nem o candidato podem receber dinheiro ou outro meio de doação indireta que caracterize incentivo econômico dessas instituições. São também vedadas as doações de órgãos da administração pública direta ou indireta ou fundação mantida pelo governo; concessionárias ou permissionárias de serviço público; entidade de direito privado que receba beneficiária de contribuição compulsória em virtude de lei; entidade de utilidade pública; entidade de classe ou sindical; pessoa jurídica sem fins lucrativos que receba recursos do exterior; entidades beneficentes ou religiosas; entidades esportivas; ONGs que recebam recursos públicos e OSCIPS. (MARTINS, 2020)
Um dos pontos positivos apresentado pelos doutrinadores que defendem esta forma de financiamento parte da ideia de que afastaria a interferência do cidadão comum no resultado das eleições, equiparando o poder de cada um através do voto. No entanto, não se pode descartar a necessária exigência de limites e burocracias no acesso aos recursos, e que a iminente dependência pelos partidos do fundo poderia desestimular a participação de novos candidatos. (MARTINS, 2020)
FINANCIAMENTO MISTO
O financiamento misto é aquele cuja fonte provém de doações de particulares e do estado pela junção do financiamento público com o privado. Atualmente, o Brasil adota este modelo de financiamento para o custeio das campanhas eleitorais, o qual será abordado mais adiante. (MARTINS, 2020)
Muitosdoutrinadores defendem este modelo de financiamento para as campanhas por aglomerar os pontos positivos pertinentes ao financiamento privado, em que se possibilita a participação dos cidadãos; e o público, desde que se envolva em plena transparência e lisura na destinação dos recursos. (Martins, 2020)
Outro ponto a se considerar é o tempo “curto” de duração entre uma eleição e outra - no Brasil é de 2 anos, considerando as eleições municipais e 4 anos para os demais cargos eletivos. Isso gera grande onerosidade aos cofres estatais ou ao Fundo existente para o financiamento dos partidos e/ou das campanhas, inviabilizando o custeio exclusivamente público. (MARTINS, 2020)
MODELO DE FINANCIAMENTO ATUAL NO BRASIL
A forma de financiamento das campanhas eleitorais predominante no Brasil, como já foi dito em passagem anterior, é a mista. Várias características do que se encontra vigente na legislação eleitoral já foram definidas, no entanto, far-se-á um breve resumo a fim de proporcionar um melhor entendimento. (MARTINS, 2020)
O Brasil adota a divisão, em termos de legislação, em dois recursos: um destinado aos partidos e outro destinado aos gastos de campanhas. O Fundo Partidário não repassa verbas diretamente para o custeio de campanhas mas subsidia, através de dedução fiscal, os custos da publicidade partidária – como o famoso ‘Horário Eleitoral’ que representam uma parcela significativa em termos de formação da popularidade do candidato – tendo em vista o elevado valor cobrado pelas empresas de comunicação, caso as negociações fossem efetuadas diretamente entre os candidatos, o que poderia favorecer ainda mais a corrupção. (MARTINS, 2020)
Todas as fontes permitidas estão disciplinadas na Resolução 23.463/2015 do TSE, que regulamenta a Lei nº 9.504/1994 (alterada pela Lei 13.165 2015). Ademais, também foi sancionada recentemente, com aplicação já para as eleições de 2018, a Lei nº 13.488/2017, que altera algumas disposições das leis mencionadas acima, ficando estabelecido:
 - As pessoas físicas podem doar até 10% sobre os rendimentos brutos do ano anterior; 
 - A instituição do Fundo Especial de Financiamento da Campanha (FEFC);
 - 2% dos recursos dos fundos serão divididos por todos os partidos; 
 - 35% partilhados pelas legendas com deputados eleitos, proporcional aos votos recebidos para a Câmara (em 2014); 
 - 48% divididos segundo a proporção das bancadas (atuais) na Câmara; e 
- 15% divididos levando-se em conta a proporção das bancadas que atualmente compõem o Senado. 
Por derradeiro, outra saída apresentada para o caso de não haver suficiência dos recursos para a efetiva realização da campanha, é o financiamento coletivo, ou crowdfunding - pautando-se sempre pela transparência, no sentido de tornar conhecido o doador - no entanto, este método ainda necessita de regulamentação. Existem outras especificidades relativas ao financiamento de campanha praticado atualmente no Brasil, porém estes detalhes não constituem relevantes para o objetivo central da pesquisa.
REFERÊNCIAS
ANDREASSA, Luiz. O que Fundo Eleitoral? 2019. Politize! Disponível em: https://www.politize.com.br/fundo-eleitoral/ Acesso em: 05 out. 2021. 
AGRA, Walber de Moura. Financiamento eleitoral no Brasil, 2017. Enciclopédia Jurídica da PUCSP. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/150/edicao-1/financiamento-eleitoral-no-brasil. Acesso em: 05 out. 2021.
COÊLHO, Marcus Vinícius Furtado. O modelo de financiamento eleitoral e sua legitimidade constitucional. Revista Consultor Jurídico, 2018. 
DECOMAIN, Pedro Roberto. Financiamento Público de Campanhas Eleitorais: influência do Poder Econômico, o fundo especial de financiamento de campanha (FEPC), instituído pela Lei nº 13.487, de 2017, limites máximos de gastos em campanhas eleitorais e outros temas correlatos. In: FUX, Luiz; Pereira, Luiz Fernando Casagrande; AGRA, Walber de Moura. (Coord.) PECCININ, Luiz Eduardo. (Org.) Financiamento e Prestação de Contas. Belo Horizonte: Fórum, 2018.
GUEDES, Néviton. Comentário ao artigo 14, caput. In: CANOTILHO, J.J Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lênio L. (Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo:Saraiva/Almedina, 2013, p. 665.
MACHADO, Weslei; CARVALHEDO, Marco. Direito Eleitoral, Lei 9.504/1997- Financiamento de Campanha, p. 4. Disponível em: https://www.passeidireto.com/lista/95806474-direito-eleitoral/arquivo/81696442-38045745-lei-n-9-504-97-financiamento-de-campanha Acesso em: 02 out. 2021.
MARTINS, Virgílio. Financiamento eleitoral no Brasil vantagens e desvantagens, 2020. Disponível em: https://www.passeidireto.com/lista/95806474-direito-eleitoral/arquivo/85110139-vantagens-e-desvantagem-do-financiamento-eleitoral-no-brasil-trabalho-eleitoral Acesso em: 01 out. 2021. 
RODRIGUES, Ricardo José Pereira. Financiamento de partidos políticos e fundos partidários. Subvenções públicas em países selecionados, p. 31.
SARMENTO, Daniel; OSÓRIO, Aline. Uma mistura tóxica: política, dinheiro e o financiamento das eleições, p. 3.

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