Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 2 RADIOGRAFIA DE TÓRAX O objetivo da aula é que, ao olhar o raio X de tórax, seja possível identificar as alterações que existem e que necessitam de intervenção imediata. SISTEMATIZAÇÃO DA AVALIAÇÃO 1. Identificação do raio X: iniciais do paciente e data de realização da radiografia – canto superior esquerdo. 2. Partes moles e tecido celular subcutâneo: olhar de fora pra dentro. Pode achar enfisema subcutâneo (acontece quando o paciente tem fístula pleural, escape no dreno do tórax). No raio X, o enfisema fica como um monte de bolinha preta (ar – preto no raio X). Exemplo: paciente magro, pouco tecido celular subcutâneo, sexo feminino (mamas). 3. Arcabouço ósseo: avaliação das costelas, clavículas. Exemplo: paciente vítima de trauma, dor na respiração profunda ou em alguma parte específica do tórax → avaliar integridade das costelas. No perfil, dá pra ver o manúbrio esternal, o corpo do esterno e o apêndice xifoide, além das vértebras torácicas. No raio X em PA, as estruturas mediastinais se sobrepõem as vértebras. 4. Avaliação das costelas e vértebras: Pede pro paciente fazer uma inspiração profunda e permanecer em apneia até bater o raio X. Um raio X com a inspiração adequada é aquele em que se consegue contar de 9 a 11 costelas. No raio X em perfil, é possível visualizar a coluna vertebral (assinaladas com as setas brancas), além das alterações típicas de pacientes mais idosos (exemplo: osteoartrose, degeneração da coluna – osteófitos marcados com círculos vermelhos – alterações no corpo vetebral – bicos de papagaio). 5. Parênquima pulmonar. O parênquima pulmonar normalmente é mais aerado. É uma estrutura de coloração mais escurecida, porque os raios atravessam livremente essa região. É possível detectar também a trama vascular do pulmão, que são os vasos. O contorno dos principais brônquios também é visto no raio X de tórax normal. O seio costofrênico separa o diafragma da porção inferior do pulmão. Toda vez que tiver com o aspecto radiológico como o restante do pulmão significa que o tecido é o mesmo. Quando tem acúmulo de secreção, ela muda a densidade e adquire um aspecto denominado apagamento do seio Radiografia de tórax 2 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 2 costofrênico (aspecto de cúpula). Normalmente, de cima pra baixo, ele tem um aspecto convexo. O direito é, fisiologicamente, um pouco mais elevado que o esquerdo, por conta da impressão do fígado nessa região. Quando tem líquido (obliteração do seio costofrênico), no lugar de encontrar um contorno convexo, encontra-se um contorno côncavo. Imagem: derrame pleural RESUMO - SISTEMATIZAÇÃO 1. Partes moles: avaliação das mamas, região cervical, supraescapular, tecido subcutâneo, abdome superior. 2. Ossos: coluna, clavículas, costelas, ombro, esterno. 3. Coração: morfologia e dimensões. 4. Aorta e artérias pulmonares: verificação de anomalias congênitas e aneurismas. 5. Mediastino: alargamentos, pneumomediastino, massas. 6. Hilos: estudo comparativo da morfologia e dimensões. 7. Parênquima pulmonar: nódulos, massas, consolidações, cavidades. 8. Pleura: espessamentos, pneumotórax, derrame pleural. 9. Diafragma: altura, morfologia, estudo comparativo. 10. Seios costofrênicos: verificar se estão livres. Em casos duvidosos, realizar decúbito lateral. CASO CLÍNICO O foco do caso clínico não é o diagnóstico, e sim a discussão do raio X. Paciente MJS, 78 anos, sexo feminino, foi admitida no PA com queixa de tosse seca e dispneia há 3 dias. Acompanhante (filha), relata que a paciente também apresenta mialgia, febre (não aferida), náuseas, vômitos e diarreia e que nas últimas 24h, cursou com piora da falta de ar. Ao exame físico admissional, estava REG, confusa, com cianose periférica, anictérica e saturação O2 = 90%, em ar ambiente, realizada TC de tórax com aspecto de vidro fosco bilateral >50%. Foi internada na UTI em uso O2 sob máscara não reinalante, 10l/min, iniciado uso de ceftriaxone e azitromicina. Um dia após internamento na UTI, paciente apresentou rebaixamento do sensório, ECG = 7, sendo indicada intubação orotraqueal. Evoluiu nas horas seguintes a intubação com hipotensão severa, demandando uso de aminas vasoativas. RX de controle pós IOT. DISCUSSÃO DO CASO Se trata de uma paciente que chega no PA com sinais de descompensação respiratória. Sinais apresentados: Dispneia, cianose periférica e alteração do sensório (confusão mental) são sinais claros de hipoxemia, o que significa que o oxigênio não está sendo distribuído adequadamente. A saturação periférica foi 90%, mas se colher uma gasometria arterial, a saturação certamente vai estar bem abaixo disso, pois o paciente apresenta sinais de hipoxemia. TC de tórax com aspecto de vidro fosco bilateral >50% → aspecto sugestivo de alteração parenquimatosa inflamatória de provável etiologia viral – COVID 19. Medidas iniciais de suporte ventilatório: máscara não reinalante, 10l/min. Um dia depois, a paciente apresentou rebaixamento do sensório com escala de coma de Glasgow = 7, ou seja, o suporte ventilatório não foi suficiente para manter a saturação/oferta de oxigênio para o pulmão. Necessidade de IOT (ECG = 7). Na vida real, principalmente em casos de COVID, geralmente não espera o paciente rebaixar tanto. Primeiro, coloca-se a máscara não-reinalante e aguarda para ver se o paciente evolui ou a troca gasosa melhora. Se o paciente fizer insuficiência respiratória, seja com o uso de musculatura acessória ou desconforto, prossegue com IOT. A intubação precoce no COVID diminui a morbidade do paciente. 3 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 2 O paciente descompensou ainda mais depois que foi submetido a intubação, a ponto de necessitar drogas aminas vasoativas (noradrenalina) por conta da hipotensão. Então, precisou entrar com tais drogas para que fosse possível manter a pressão em um nível adequado para perfundir os órgãos nobres. Toda vez que um procedimento é feito no tórax do paciente (IOT, acesso central, toracocentese) é necessário fazer um raio X de controle, para busca de complicações do procedimento e identificação de procedimento correto (exemplo: análise da colocação de cateter central). A radiografia está rodada. Arcabouço ósseo: a clavícula esquerda está mais elevada que a clavícula direita, pois não está centralizado adequadamente (normalmente não consegue uma centralização perfeita em um paciente que está deitado). Presença de artefatos de monitorização (paciente de UTI, intubado). Desvio do mediastino para o lado direito. O parênquima pulmonar normal é acinzentado pra preto, sendo mais escurecido em paciente com enfisema pulmonar, cujo parênquima é destruído e acumula gases. Hemitórax direito com hipotransparência (comprometimento muito maior). Hemitórax esquerdo também não está com a transparência normal. O tubo do paciente que era pra estar centralizado, está desviado para direita, assim como a traqueia e o coração. A hipotransparência direita revela um parênquima pulmonar que está tão preenchido por líquido, pus, processo inflamatório - infiltrado, que não permite que os raios atravessem esse pulmão para atingir a placa de raio X. À esquerda, tem uma hipotransparência em uma região específica, sendo possível delimitar a região (linha tênue). Dessa linha pra dentro, são vistas manchas algodonosas, hipotransparência, trama vascular, ou seja, pulmão. Dessa linha pra fora, são vistas as costelas, ossos e gás, o que significa que esse paciente, após a intubação, sofreu pneumotórax. Dessa forma, o raio X na verdade não era nem pra existir, pois o pneumotórax (pode estar empurrando contralateral) já deveria tersido tratado na avaliação inicial durante o ABCDE. No polo superior do pulmão esquerdo o pneumotórax é visto de forma mais clara. Isso porque no polo inferior tem uma maior quantidade de tecido celular subcutâneo e pode ter mama, enquanto que na parte de cima pode ser só pele e osso, na região infraclavicular, facilitando a passagem dos raios e uma visualização clara. Esse pneumotórax deveria ter sido tratado no B do ABCDE. Vale lembrar que o paciente estava na UTI e passou por uma intubação programada, pois vinha com rebaixamento do nível de consciência. Ao ser intubado, apresentou sinais de deterioração clínica, necessitando de drogas vasoativas. Em seguida, as trocas ficaram ruins, não acoplou adequadamente a ventilação e, ao bater o raio X, percebeu-se: tubo desviado para direita, mediastino desviado para direita, pulmão esquerdo sendo empurrado para o lado contralateral, ou seja, sinais radiológicos indicativos de pneumotórax hipertensivo. O paciente já deveria está com um jelco 14 na linha hemiclavicular, 4º espaço e após, resolver na emergência com punção no espaço intercostal e tratamento definitivo. Pneumotórax por barotrauma. Tira o paciente do pneumotórax hipertensivo com descompressão de alívio na emergência, e logo após, faz a drenagem por selo d`água. A drenagem é uma urgência, mas a punção é uma emergência. Continuação da análise do raio X: sinal da silhueta. Não é possível delimitar adequadamente o coração, pois a imagem é apenas em 1 dimensão (a caixa torácica deve ser avaliada em 3 dimensões). Então, o 4 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 2 que se vê na imagem são sobreposições de imagens. Neste caso, os lobos pulmonares que estão inflamados e na frente do coração, fazem sombra e apagam a silhueta. Se fizer raio X em perfil, provavelmente, o lobo inferior vai estar infiltrado e, por conta disso, borra a silhueta cardíaca. RESUMO • Desvio do mediastino: • Pneumotórax: no processo de intubação, o paciente é submetido à uma pressão muito positiva em que a caixa torácica e a pleural podem não suportar e levar a um barotrauma. É um pneumotórax facilmente resolvido, pois o paciente já está na unidade fechada, sedado, material para drenagem de tórax de fácil preparação. Se o paciente instabilizar a apresentar sinais de pneumotórax hipertensivo, é necessário tirar ele da emergência com punção e pedir para a enfermagem preparar o material para drenagem imediatamente. Ou seja, faz a punção e já segue pra drenagem. A drenagem de tórax é o termo mais comum, mas o termo técnico é toracostomia com drenagem pleural fechada em selo d´água. A função dessa drenagem é fazer com que o fluxo de ar seja unidirecional. Então, na hora que o paciente enche o peito de ar, no caso o ventilador, ele exerce uma pressão e esse ar sai do espaço interpleural, passa pelo dreno e sai pelo selo d´água em forma de bolhas, não conseguindo voltar exatamente porque o selo d`água bloqueia essa entrada de ar. À medida em que esse ar vai saindo, o pulmão vai voltando a expandir. Então, é preciso ir fazendo radiografias seriadas, e quando o pulmão tiver totalmente expandido, a linha da pleura vai estar apagada. Quando a linha estiver apagada, ela provavelmente vai estar sobreposta a essa linha dos arcos costais. • Parênquima pulmonar direito em relação ao esquerdo: o termo ¨aspecto em vidro fosco¨ é mais adequado para a tomografia. Consolidação = diminuição da transparência mais acentuada à direita = hiper densidade, padrão algodonoso = infiltrado algodonoso. Mais consolidação nas regiões centrais (peri hilares – mais branco) do que nas periféricas. O termo ¨padrão algodonoso¨ (consolidação, hiper densidade) podem ser usados também para as áreas hipotransparentes, ou seja, áreas que tem preenchimento não somente de sangue/gás. Num raio X normal, como foi dito, pode se observar: gás (parte mais escura) e vasos (ramos que parecem galhos de árvores) que é a trama vascular. Se não é possível ver a transparência pulmonar satisfatória é porque esse parênquima está preenchido por algo. No caso da pneumonia, pode ser pus (bacteriana), infiltrado inflamatório (viral). O preenchimento de líquido no parênquima pulmonar faz com que os raios não atravessem o pulmão adequadamente para atingir a chapa, sendo refletido no raio X como um local hipotransparente. Então, basicamente, é necessário olhar o parênquima, centralização, desvio, transparência, consolidação. Caso: Paciente dá entrada na UTI em franca insuficiência respiratória, sendo necessária a intubação. Fez o raio X abaixo e observou o pneumotórax, fazendo a punção e, posteriormente, a drenagem. Qual é o próximo passo? É importante avaliar se o procedimento teve sucesso, promover uma via aérea definitiva efetiva, porque as trocas gasosas do paciente em VE estavam inadequadas. A partir de agora faz-se a prescrição do paciente. • Monitorizar os parâmetros vitais. 5 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 2 • Promover uma via aérea definitiva efetiva. • Colher gasometria. É necessário iniciar todo o processo admissional e burocrático que o médico da UTI necessita. PRESCRIÇÃO MÉDICA 1. Repouso: determina qual é a posição que se quer para o paciente. Exemplo: Paciente em UTI, intubado, sedado → repouso absoluto com tórax a 30º (não é possível prescrever repouso relativo ou deambulação precoce). Caso o paciente não esteja respondendo as medidas de ventilação e opte por pronar o paciente, usa ¨decúbito pronado – repouso em decúbito ventral¨. 2. Dieta via sonda nasoenteral: a liberação da dieta depende do estado clínico dele. Normalmente a nasogástrica é para descompressão e a nasoentérica para alimentação. Se for um paciente que logo depois de intubar, entrou-se com droga vasoativa, pode até passar a sonda para aproveitar o raio X, mas a liberação da dieta só irá ocorrer depois de ter a certeza de que o paciente não está em deterioração clínica ou choque séptico. O paciente que está em choque faz um quadro de vasoplegia intensa que precisa entrar com droga vasoativa. Quando se entra com noradrenalina, é como se fosse um recurso de guerra para salvar a vida. Ele está apresentado pressão de 60X30mmHg, entra com DVA que irá provocar uma vasoconstrição severa para levar nora para os órgãos-alvo (cérebro, pulmões e rins), e então as outras partes do corpo, inclusive a circulação esplâncnica (das vísceras) ficam com déficit circulatório, sofrem como se fosse uma paralisia. Portanto, a dieta pode ser prescrita, mas só deve ser liberada após se verificar o estado clínico dele. 3. Monitorização invasiva + VM: determinar qual o tipo de monitorização: eletrodos pra avaliar ritmo cardíaca e oxímetro para avaliar saturação e frequência respiratória. Se for um paciente mais grave, que está intubado, com DVA, PAM, PAMI → Monitorização multiparamétrica contínua invasiva ou PMNI (parâmetros básicos – eletrodos e oximetria). Itens essenciais 4. Hidratação venosa: calcular soma das perdas sensíveis (diurese, vômito, sangramento, débito de dreno) + perdas insensíveis (suor, respiração). Normalmente, a hidratação basal do paciente sem as perdas insensíveis é: 30ml para cada kg de peso. Depois soma-se esse valor as perdas insensíveis. Se o paciente tiver dieta via nasoenteral (vem numa bolsinha com vol. de 1500- 2000 ml) assim como a NPT. Assim, quando se for fazer essa hidratação já diminui do volume que o paciente já está recebendo. No paciente que está em dieta zero, normalmente se faz SG + eletrólitos. A hidratação mais eficaz que se consegue fazer é soro glicosado – através da glicose, energia COM eletrólitos, importante para controlar a pressão osmótica do paciente. Se for dado somente SG, mais de 90% vaipara o terceiro espaço, pois o SG é água destilada (AD) com glicose. Para fazer uma hidratação rigorosa é necessário calcular a quantidade de líquidos de acordo com o peso do paciente, metabolismo, FC (será melhor explicado em aula seguinte). 5. Sedação: se intubou o paciente, tem que sedar, o que varia de acordo com o tipo de patologia que está acometendo ao paciente. Exemplo: choque séptico/circulatório, paciente muito hipotenso, evita-se colocar dormonid (piora a hipotensão); paciente num pós-operatório de uma cirurgia longa, geralmente usa Ketamina (além do poder sedativo, é analgésico); se for um paciente muito agitado, uso de medicação controlada ou em abstinência de álcool ou outras drogas – pode- se associar com o precedex (sedativo e ansiolítico e interfere muito pouco na PA). 6 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 2 6. Drogas vasoativas: Prescreve: noradrenalina, solução padrão, IV, em BIC, acm (a critério médico). Para manter a perfusão do paciente, normalmente se usa noradrenalina e dobutamina. Não coloca dose na prescrição, mas sim a solução padrão, que é determinada por cada instituição (preso em alguma parede). Exemplo - Roberto Santos: noradrenalina 1 ampola para 250ml de SF; São Rafael: 4 ampolas para 250ml de SF. Então, na 2º opção consegue otimizar a pressão do paciente com menor volume de liquido. Obrigatório ser em BIC, a critério médico. É a critério médico, pois a droga vasoativa precisa ir tateando a reposta do paciente. Se o paciente tem restrição de volume, ao invés de colocar solução padrão, faz a solução concentrada (prescrição: 2x concentrada, 4x concentrada). OBS: analgesia é importante, mas em prescrição de UTI, vai-se do mais essencial para o menos essencial. OBS: fentanil seda e faz analgesia, igual a ketamina. 7. Antibiótico: a escolha depende da patologia. 8. Analgesia: dipirona 1g, IV, 6/6h. Antitérmico: pode vir a precisar. 9. Profilaxias obrigatórias: Todo paciente crítico precisa de profilaxia obrigatória para TEV (tromboembolismo venoso) e para lesão aguda de mucosa gástrica. OBS: só usa meia compressiva se o paciente tiver contraindicação para a profilaxia química ou se for paciente específico, como grande obeso após bariátrica. 10. HGT 6/6horas: Hipoglicemia: glicose a 25%, 4 ampolas, IV, se HGT <70mg/Dl. Hiperglicemia: insulina regular SC, conforme protocolo da instituição. • <200: não faz. • 201-250: 2Ul. • 251-300: 4 Ul. • 301-350: 6Ul. • 351-400: 8 Ul. • >400: 8 Ul. 11. Fisioterapia motora e respiratória. 12. Registro de dados vitais. Observação: fono não é obrigatória em extubação. É recomendado quando há sinais de disfagia.
Compartilhar