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História da loucura

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As manifestações patológicas consideradas anormais, obedecem a 
uma espécie de medida sócio histórica que define, conceitua e 
determina até que ponto essas manifestações apresentam 
normalidade (FIGUEIREDO; TAKEI, 2018). Diversos conceitos podem 
ser relacionados a visão histórica das psicopatologias, como: 
Norma, anormal, normalização, poder, controle, vigilância, 
isolamento... Vamos conhecer alguns dos principais períodos. 
 
A compreensão da loucura estava associada a um estado 
melancólico e também a um estado de reflexividade da vida 
humana, inclusive, era considerada por muitos um "privilégio" em 
que era possível alcançar a comunicação com o "divino" 
(FIGUEIREDO; TAKEI, 2018). 
 
Nesse pensamento, a concepção de 
loucura girava em torno da ideia de que o homem não era 
responsável por sua loucura; assim, quando "passava da medida" ou 
apresentava um "descomedimento" (hybris), não havia estigma 
sobre sua conduta (FIGUEIREDO; TAKEI, 2018). 
 
 o “louco” era uma espécie de ponte com o oculto. 
De sua boca, vinham informações do divino e apenas Zeus poderia 
“atestar” e determinar se uma conduta era ou não anormal e 
determinar castigos divinos para esta (FIGUEIREDO; TAKEI, 2018). 
 
 Sua teoria das 3 mentes (a racional, a emotiva e a 
instintiva) pregava, que se uma delas se desequilibrasse, surgia a 
desordem mental, ou seja, a loucura. 
 
Nesse período, a loucura estava associada às forças místicas e 
sobrenaturais onde os loucos que apresentavam alucinações (sem 
explicação) e outros sintomas, eram associados facilmente a 
manifestações corpóreas do demônio, bruxarias e feitiçarias à 
medida que a hegemonia do cristianismo se impõe (FIGUEIREDO; 
TAKEI, 2018). 
 
 Nesse período, com a chegada do Iluminismo, a loucura sai 
do mundo das forças divinas e se torna a falta da razão. 
Assim, os loucos permanecem a margem da sociedade, 
 Foucault (2008, p.9 apud FIGUEIREDO; TAKEI, 2018), 
 enunciou algumas coisas a respeito: “esses barcos que 
 levavam sua carga insana de uma cidade para outra". 
 
 Durante toda a história da humanidade, o homem vem tentado explicar e controlar o comportamento considerado problemático ou anormal, 
sendo as explicações de tais fenômenos baseadas em teorias ou modelos de comportamento populares de cada época. 
 
O tratamento social pela exclusão despeja os errantes "louco às 
margens das cidades. "É para o outro mundo que parte o louco 
na sua barca louca; é do outro mundo que ele chega quando 
desembarca" dentre outras questões em sua obra “História da 
loucura na idade clássica”. 
 
A loucura é sinônima de desrazão reforçando a ideia de que o 
sujeito louco é desagregador da tradição familiar burguesa e, 
sendo um imoral social e alienado, resta-lhe o internamento para 
a sua “recuperação” (FIGUEIREDO; TAKEI, 2018, p.20). 
 
 Nesse período, os 
quesitos psicológicos são “analisados” pelo viés cientificista, 
tomando-o como objeto médico; e assim, o corpo-louco deveria 
ser disciplinado as regras da sociedade pela sua boa conduta de 
moralida (GOFFMAN, 1961 apud FIGUEIREDO; TAKEI, 2018). 
 
Temos a insurgência da figura do médico, à medida em que decai 
a crença e o extermínio das bruxas e das possessões 
demoníacas, o inquisidor que sentenciava à fogueira agora pode 
ser comparado à figura do médico na identificação da loucura, e 
o tratamento da mesma a partir da prática de internação asilar, 
base da psiquiatria (FOUCAULT, 2008 apud FIGUEIREDO; TAKEI, 
2018). 
 
Com o capitalismo mais forte do que nunca, a psiquiatria constrói 
um olhar estigmatizante e passa a considerar desviantes sociais 
todos os sujeitos incapazes de atividades laborais, que fariam a 
sociedade “crescer” como: mendigos, pobres, desempregados, 
as prostitutas, as mulheres nervosas, as histéricas, os 
prisioneiros, os epiléticos, os alquimistas, as crianças órfãs, as 
viúvas, os ateus, os profetas, as moças não virgens, as estéreis 
e até mesmo as mulheres que não se casavam (PESSOTTI, 1995 
apud FIGUEIREDO; TAKEI, 2018, p.20). 
 
O século XIX começa com a nova concepção sobre a 
natureza e a causa da loucura, com a “inauguração” da 
 especialidade médica psiquiatria (FIGUEIREDO; TAKEI, 
 2018). Esse início, é marcado pela identificação dos 
 comportamentos, alienações e gestos dos insanos, 
 estruturando sintomas e as alterações morais da 
loucura, visando o controle e a correção destes 
(FIGUEIREDO; TAKEI, 2018). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No século XX, por influência da propagação da fenomenologia de 
Husserl e da teoria psicanalítica, a experiência pessoal passa a ser 
revalorizada pela filosofia e pela psicopatologia, ou seja, ocorre um 
retorno à subjetividade anteriormente desprezada em razão da 
valorização positivista, principalmente a partir do surgimento da 
psicopatologia (FIGUEIREDO; TAKEI, 2018). 
 
 As contribuições de 
Kraepelin, Freud, Bleuler, Minkowski e Binswanger afastam a ideia 
da doença mental como apenas uma deterioração de funções 
mentais e elucidam a ideia de um conjunto de experiências únicas e 
ricas de significados do transtorno mental (FIGUEIREDO; TAKEI, 
2018). 
 
Na segunda metade do século XX, ocorre uma psiquiatrização e 
farmacologização da sociedade (CASTEL, 1980 apud FIGUEIREDO; 
 
 
TAKEI, 2018), enaltecendo a medicalização da vida pela difusão 
da chamada terapêutica farmacológica, "tratando e curando" os 
sintomas, visando pacificar os doentes que eram considerados 
agressivos (FIGUEIREDO; TAKEI, 2018). A Psiquiatria 
farmacológica, sustentada pela valorização da neurofisiologia e 
neuroanatomia (cura), faz um retorno ao organicismo biológico, 
situado no período da primeira publicação do Manual de 
Diagnóstico e Estatística da Associação Psiquiátrica Americana 
(DSM) em 1952, que se torna o referencial para propedêutica 
da doença mental ainda muito estigmatizado nesse começo. 
 
No Brasil do século XX, Juliano Moreira foi de certa forma o 
fundador da disciplina psiquiátrica no Brasil; estudou as histórias 
da medicina e da assistência psiquiátrica em nosso país e negou 
a teoria eugenista assim como negou os argumentos existentes 
na época que valorizavam que existiam doenças mentais próprias 
dos climas tropicais (FIGUEIREDO; TAKEI, 2018). Porém, concebia 
a ideia da profilaxia e da promoção da higiene mental 
(DALGALARRONDO, 1996 apud FIGUEIREDO; TAKEI, 2018). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Diante de todas essas perspectivas históricas, Barlow, e Durand (2008) descrevem em seu livro “Psicopatologia: uma abordagem 
integrada” três modelos que permearam as explicações sobre loucura na história. São eles: o sobrenatural, o biológico e o psicológico. 
 
Em grande parte da história, quando confrontados com o inexplicável, como o comportamento “desviante”, o ser humano buscou 
diversas explicações para esse comportamento,uma delas são as explicações sobrenaturais, onde o transtorno mental é entendido como 
um reflexo da batalha entre o bem e o mal (BARLOW; DURAND,2008). Dessa forma, eram compreendidos como: 
 
 Pessoas com transtornos psicológicos eram vistas como endemoniadas ou bruxas. Assim, 
acreditava-se que os indivíduos dominados por maus espíritos eram responsáveis por qualquer infortúnio experimentado 
 pelos moradores das cidades (BARLOW; DURAND,2008). Os tratamentos incluíam exorcismo, dentre outras práticas, em que 
rituais religiosos eram desenvolvidos para livrar o indivíduo dos maus espíritos. 
 
Buscam-se as causas físicas dos transtornos mentais desde os primórdios da história, dentre os principais estudiosos podemos citar: 
 O médico grego Hipócrates, é considerado o pai da medicina moderna ocidental, seus estudos 
sugeriam, que os transtornos psicológicos poderiam ser tratados como qualquer outra doença; considerava o cérebro 
a sede da sabedoria, da consciência, da inteligência e da emoção; assim, os transtornos envolvendo essas funções 
estariam claramente localizados no cérebro (BARLOW;DURAND,2008). 
 
 Hipócrates afirmava que o funcionamento normal do cérebro estava 
relacionado aos quatro fluidos corporais, ou humores: o sangue, a bílis negra, a bílis amarela e a linfa (ou fleuma) (BARLOW; 
DURAND,2008). Ainda de acordo com Barlow, e Durand (2008), acreditavam que a doença resultava de um dos humores em excesso 
ou em escassez; por exemplo, pensava-se que muita bílis negra causava a melancolia (depressão). 
 
Posteriormente podemos observar um crescimento da tradição psicológica acerca do adoecimento mental. É a partir dessa 
tradição, que surgem diversas teorias precursoras da psicologia como a psicanálise. 
 
 
 
 
BARLOW, David H.; DURAND, V. Mark. Psicopatologia: uma abordagem integrada. Cengage Learning, 2008. 
 
FIGUEIREDO, Luciene Santos; TAKEI, Roberta Ferreira. Psicopatologia: coleção manuais da psicologia. Brasil: 
Editora Sanar, 2018. 443 p.

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