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Lição 3 - Orçamento e Fluxo de Caixa
Nesta lição, serão apresentadas duas ferramentas essenciais para a gestão 
financeira das empresas: o fluxo de caixa e o orçamento de caixa. O primei-
ro é utilizado para controlar o montante disponível no caixa da empresa 
com o objetivo de garantir a disponibilidade de caixa necessária para a ope-
ração dos negócios. Já o segundo é utilizado como ferramenta para calcular 
as necessidades de caixa em um período futuro da empresa, auxiliando os 
administradores na definição de ações que garantam que essas necessida-
des serão atendidas.
Ao término dessa lição, você será capaz de:
• reconhecer demonstrações de fluxo e orçamento de caixa;
• construir demonstrações simples de fluxo e orçamento de caixa;
• aplicar o conhecimento adquirido para interpretar e auxiliar na 
elaboração de demonstrações de fluxos e orçamentos de caixa.
1. Fluxo de Caixa
O fluxo de caixa é parte fundamental da gestão empresarial e uma das princi-
pais preocupações do administrador financeiro. Ele apresenta o montante de 
caixa em um determinado período da empresa, que é aumentado por fluxos 
de entrada de caixa e reduzido por fluxos de saída de caixa.
Os fluxos de caixa podem ser divididos em:
Fluxos operacionais: diretamente relacionados à produção e venda dos pro-
dutos da empresa;
Fluxos de investimento: associados à compra e venda de ativos permanentes1 
(máquinas, galpões etc.) e participações societárias2;
Fluxos de financiamentos: resultantes de transações de financiamento de 
dívidas e capital próprio.
1. Ativos permanentes
Também chamados de ativos fixos, são o grupo de ativos que engloba os recursos aplicados 
em bens ou direitos de permanência duradoura, destinados ao funcionamento normal da 
empresa, como instalações, máquinas, equipamentos e veículos.
2. Participações societárias
Investimento permanente feito em outras sociedades
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A figura a seguir apresenta as entradas e saídas referentes a cada um dos flu-
xos de caixa de uma empresa.
Fluxos de entrada e saída de caixa
Fonte: Gitman (2000)
As entradas e saídas do fluxo de caixa também podem ser vistas como origem 
e aplicação de caixa, respectivamente. As origens referem-se a montantes 
que aumentam o valor do fluxo de caixa, enquanto as aplicações reduzem o 
valor do fluxo de caixa.
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São exemplos de origem de caixa:
• diminuição de um ativo
• aumento de um passivo
• lucro líquido após impostos
• venda de ações 
São exemplos de aplicação de caixa:
• aumento de um ativo
• diminuição de um passivo
• prejuízo líquido
• dividendos3 pagos
• recompra ou resgate de ações
Por exemplo, o aumento de estoques de uma empresa representa uma apli-
cação de caixa, uma vez que a empresa precisou desembolsar dinheiro de seu 
caixa para produzir os materiais em estoque. O mesmo acontece com as con-
tas a receber, ou seja, o aumento de seu valor representa uma aplicação de 
caixa. Já para as contas a pagar, a lógica é inversa, pois, quanto maior o prazo 
para pagamento das contas, maior é o fluxo de caixa, sendo essa uma origem 
de caixa.
Saiba Mais
A demonstração de fluxos de caixa para um dado período é elaborada tendo como base 
os relatórios de demonstração de resultado do exercício em conjunto com o balanço 
patrimonial do período avaliado. 
Abaixo está um exemplo de demonstração de fluxos de caixa da empresa XYZ. 
Pode-se perceber, no exemplo, uma forte entrada de caixa operacional devi-
do ao lucro líquido após impostos (R$ 1 milhão), à redução de estoques ocor-
rida no período (R$ 100 mil) e à depreciação dos ativos (R$ 100 mil). A soma 
dessas entradas compensa facilmente a saída de caixa trazida pelo aumento 
de contas a receber de clientes (R$ 20 mil) e pela redução de contas a pagar 
para fornecedores (R$ 30 mil). 
A empresa utilizou o fluxo de caixa operacional positivo, de R$ 1,15 milhão, 
para investir em novos ativos permanentes (ex.: instalações produtivas: R$ 
200 mil), que deixaram o fluxo de investimento negativo nesse mesmo valor. 
3. Dividendos
Parcela do lucro apurado pela empresa que é distribuída aos acionistas.
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4. Excedente operacional
Caixa positivo gerado por atividades operacionais.
5. Passivo exigível a longo prazo
Trata das obrigações com terceiros, como duplicatas a pagar, notas promissórias a pagar, 
fornecedores, impostos a recolher, contas a pagar, títulos a pagar, contribuições a recolher e 
outras, que terão seu vencimento após o encerramento do próximo exercício financeiro em 
relação ao corrente.
6. Liquidez
Refere-se à velocidade e facilidade com a qual um ativo pode ser convertido em caixa.
Além disso, utilizou o excedente operacional4 para reduzir o passivo exigível 
a longo prazo5 (R$ 100 mil), quitando dívidas, e para pagar dividendos aos 
acionistas (R$ 300 mil), deixando o fluxo financeiro também negativo. Ao 
final do período, a empresa ainda teve um aumento de liquidez6 em caixa 
de R$ 450 mil.
Demonstração de fluxos de caixa da empresa XYZ (R$ mil)
Fluxo operacional
Lucro líquido após impostos (+) 1.000
Depreciação (+) 100
Aumento de contas a receber (-) (20)
Redução dos estoques (+) 100
Redução de contas a pagar (-) (30)
Caixa gerado por atividades operacionais 1.150
Fluxo de investimento
Aumento em ativos permanentes brutos (200)
Mudanças em participações societárias 0
Caixa gerado por atividades de investimento (200)
Fluxo financeiro
Redução de títulos a pagar (100)
Redução de exigível a longo prazo (100)
Mudanças no patrimônio líquido 0
Dividendos pagos (300)
Caixa gerado por atividades financeiras (500)
Aumento de liquidez em caixa 450
Fonte: adaptado de Gitman (2000)
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Análises como esta, realizada no exemplo anterior, permitem aos admi-
nistradores entenderem melhor a situação dos fluxos de caixa da empre-
sa e identificar eventuais problemas que podem levar a empresa a alguma 
dificuldade financeira. Ao interpretar a demonstração do fluxo de caixa, o 
administrador deve atentar-se tanto para os saldos de cada um dos fluxos 
como para os itens individuais de entrada e saída de caixa, avaliando se 
houve algum movimento diferente do que foi definido pela política finan-
ceira da companhia.
Além disso, é possível elaborar a demonstração de fluxos de caixa a partir 
de cenários futuros planejados para a empresa. Por exemplo, a entrada da 
empresa em novos mercados por meio da estratégia de construção de esto-
que perto dos clientes. Com isso, os administradores podem avaliar os im-
pactos das ações planejadas nos fluxos de caixa, obtendo informações para 
responder a questões como: o fluxo de caixa gerado pelo lucro em vendas 
no novo mercado é suficiente para custear os estoques necessários? A em-
presa é capaz de gerar caixa adicional que também pode ser usado para 
pagar dívidas ou investir em novos produtos? Será necessário buscar novas 
origens de caixa, como a venda de ações, para custear as operações? Saber a 
resposta dessas respostas são fundamentais para a tomada de decisão.
2. Orçamento
O orçamento de caixa é um comparativo das entradas e saídas de caixa plane-
jadas para um determinado período e é utilizado para calcular as necessidades 
de caixa nesse período. Ele faz parte do processo de planejamento do negócio, 
em que se faz a previsão de vendas, dos requerimentos de ativos permanentes, 
também chamados de ativos fixos, e dos estoques. Para compor o orçamento, 
essas informações são combinadas com projeções de contas a receber, paga-
mentos de impostos, dividendos, juros etc.
Geralmente as empresas utilizam um orçamento de caixa mensal com hori-
zonte de um ano e um orçamento diário ou semanal para o mês corrente e/ou 
seguinte. Os orçamentos mensais são usados para o planejamento de curto e 
longo prazo, e os diários ou semanais para o controle de caixa real no curtís-
simo prazo.
A elaboração de um orçamento de caixa tem como principal entrada a pre-
visão de vendas, que é desenvolvida geralmente pela área de marketing ou de 
logística da empresa. De acordo com o volume previsto de vendas,o adminis-
trador financeiro calcula os fluxos de caixa gerados pela entrada de receita de 
vendas e desembolsos relacionados à produção, estoques e vendas. O admi-
nistrador também define quais ativos são necessários para suportar as opera-
ções e o montante de investimento que precisa ser financiado.
A qualidade da previsão de vendas é um fator-chave para a qualidade do orça-
mento de caixa elaborado. Essa previsão é desenvolvida a partir de uma com-
binação dos seguintes fatores:
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Externos: obtidos por meio da análise do relacionamento entre o volume de 
vendas da empresa e indicadores macroeconômicos, como o Produto Interno 
Bruto (PIB). Além disso, consideram as informações obtidas com os próprios 
clientes sobre projeções de consumo para os próximos meses.
Internos: consideram as informações da própria empresa para a previsão, 
como o histórico de vendas nos últimos meses, expectativas dos próprios ven-
dedores, capacidade produtiva etc.
Com base na previsão de vendas, a área de planejamento logístico desenvolve 
um plano de produção e compra de materiais capaz de atender à demanda 
identificada, tendo em conta as restrições produtivas dos ativos da empresa 
e dos fornecedores externos. Durante o processo de planejamento, os níveis 
de estoque adequados para suportar essas operações também são definidos.
Todas essas informações são utilizadas pela área financeira para elaborar o 
orçamento de caixa. A tabela apresenta um exemplo de orçamento para a em-
presa XYZ. A seguir, analisaremos os componentes do exemplo anterior em 
mais detalhes.
Exemplo de orçamento de caixa da empresa ZYZ (R$ mil)
Janeiro Fevereiro ... Novembro Dezembro
Entradas de caixa (+) 100 120 ... 130 90
Desembolsos de caixa (-) 80 90 ... 100 80
Fluxo de caixa líquido (=) 20 30 ... 30 10
Caixa inicial (+) 40 60 ... 90 120
Caixa final (=) 60 90 ... 120 130
Valor mínimo de caixa 
requerido (-)
80 80 ... 80 80
Financiamento total 
necessário (=)
20 0 ... 0 0
Saldo de caixa 
excedente (=)
0 10 ... 40 50
Fonte: adaptado de Gitman (2000)
2.1 Entradas de Caixa
As entradas de caixa incluem componentes como:
Vendas previstas: utilizadas para calcular os valores relacionados a vendas;
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Vendas efetivas: representam as vendas que serão efetivamente pagas por 
clientes e gerarão uma entrada de receita;
Pagamento de contas a receber: pagamentos de clientes referentes às ven-
das de meses anteriores;
Outras entradas de caixa: referentes às entradas de caixa provenientes de 
fontes diferentes das vendas. Podem ser relacionadas a recebimento de juros, 
dividendos e venda de ações, entre outros.
A soma de todas as entradas descritas acima forma o total de entradas de 
caixa a ser considerado no orçamento.
2.2 Desembolsos de Caixa
Os desembolsos de caixa incluem todos os desembolsos que a empresa reali-
za durante o período do orçamento de caixa, entre os quais estão:
Compras: compras de materiais necessários para a operação da empresa e 
produção dos produtos a serem vendidos, como matérias-primas, materiais 
de limpeza, ferramentas etc.
Compras efetivas: compras efetivamente pagas aos fornecedores. 
Pagamento de contas a pagar: pagamentos de compras feitas em meses an-
teriores;
Salários: referentes aos ordenados pagos para os colaboradores da empresa;
Outros desembolsos: podem incluir componentes como pagamento de im-
postos, de juros, de dividendos e investimentos em ativos permanentes, entre 
outros.
2.3 Fluxo de Caixa Líquido, Caixa Final, Financiamento e Saldo de Caixa 
 Excedente
O fluxo de caixa líquido da empresa representa o montante excedente após 
a subtração dos desembolsos sobre as entradas de caixa. Esse valor, somado 
ao caixa inicial, define o caixa final de cada período. O caixa final de cada pe-
ríodo é utilizado como valor de caixa inicial no período subsequente, como 
mostram os números destacados em vermelho na tabela com o exemplo de 
orçamento de caixa.
Por fim, subtrai-se do caixa final o valor mínimo de caixa requerido, para que 
seja definido o montante de financiamento requerido (caso o caixa final do 
período seja menor do que o valor mínimo de caixa requerido) ou então o 
saldo de caixa excedente (caso o caixa final do período seja maior do que o 
valor mínimo de caixa requerido).
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Voltando ao exemplo anterior, percebe-se que a empresa XYZ necessitará 
fazer um financiamento de R$ 20 mil para manter o valor mínimo de caixa 
requerido em janeiro. Já para os meses seguintes, a empresa terá um saldo de 
caixa excedente (janeiro, R$ 10 mil; novembro, R$ 40 mil e dezembro, R$ 50 
mil), que poderá ser utilizado, entre outros fins, para pagar o financiamento 
feito em janeiro e os juros associados.
Percebe-se, assim, que a análise do orçamento de caixa permite aos admi-
nistradores fazerem um prognóstico do caixa disponível em cada período e 
definir ações financeiras e operacionais que levarão a empresa a cumprir as 
metas planejadas. Exemplos de ações financeiras foram dadas no parágrafo 
anterior, como é o caso da tomada de financiamentos. Quanto às ações ope-
racionais, podem envolver o corte de gastos nas atividades produtivas da em-
presa, reduzindo os desembolsos de caixa previstos no orçamento.
Atenção!
As previsões feitas no orçamento de caixa podem não acontecer da maneira esperada. Por 
isso, é preciso que os administradores estejam preparados para reagir a situações adversas. 
Uma maneira de fazer isso é a simulação de diferentes cenários de orçamen-
to de caixa, que considerem mudanças como queda ou aumento nas vendas, 
variações no preço de matéria-prima e ausência de capital disponível para 
financiamentos, entre outros.
Por fim, também é necessário que seja estabelecida uma rotina de controle 
e acompanhamento das entradas e desembolsos reais, comparando-os com 
os valores previstos no orçamento e identificando os principais desvios. Com 
isso, é possível descobrir as causas dos desvios e gerar ações para corrigi-los, 
trazendo a empresa novamente ao plano inicial definido como meta.
Dica de Leitura
Aprenda mais sobre fluxos de caixa e orçamentos no livro “Orçamento Empresarial” de 
Ivan P. Calvo, José Mauro B. de Almeida, Pedro Leão Bispo, Washington Luiz Ferreira, 
Editora FGV (1ª Edição, 2012).

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