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Polícia Civil do Rio de Janeiro Conteúdo Complementar Investigador Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos pela Lei nº 9.610/1998. É proibida a reprodução parcial ou total, por qualquer meio, sem autorização prévia expressa por escrito da editora Nova Concursos. Essa obra é vendida sem a garantia de atualização futura. No caso de atualizações voluntárias e erratas, serão disponibilizadas no site www.novaconcursos.com.br. Para acessar, clique em “Erratas e Retificações”, no rodapé da página, e siga as orientações. Dúvidas www.novaconcursos.com.br/contato sac@novaconcursos.com.br Obra PC-RJ – Polícia Civil do Rio de Janeiro Investigador Autores LEIS ESPECIAIS • Ana Philippini, Antônio Pequeno, Nathan Pilonetto, Renato Philippini e Samantha Rodrigues NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL • Renato Philippini, Eduardo Gigante, Samantha Rodrigues, Nathan Pilonetto, Antônio Pequeno e Adenilton Almeida Edição: Setembro/2021 SUMÁRIO LEIS EXTRAVAGANTES ......................................................................................................4 CRIMES DE TORTURA (LEI Nº 9.455, DE 1997) ................................................................................. 4 LEI ANTIDROGAS (LEI Nº 11.343, DE 2006) ...................................................................................... 7 ABUSO DE AUTORIDADE (LEI Nº 13.689, DE 2019) ........................................................................ 22 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (LEI Nº 8.069, DE 1990) ...................................... 28 CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO (LEI Nº 9.503, DE 1997) ....................................................... 46 CRIMES DE “LAVAGEM” OU OCULTAÇÃO DE BENS, DIREITOS E VALORES (LEI Nº 9.613, DE 1998) ............................................................................................................................................134 CRIMES CONTRA O CONSUMIDOR (LEI Nº8.078, DE 1990) ........................................................137 ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI Nº 10.826, DE 2003) .......................................................141 CRIMES HEDIONDOS (LEI Nº 8.072, DE 1990) ..............................................................................152 INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA (LEI Nº 9.296, DE 1996) .............................................................154 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER (LEI MARIA DA PENHA – LEI Nº 11.340, DE 2006) .........................................................................................................................159 CRIMES RESULTANTES DE PRECONCEITOS DE RAÇA OU DE COR (LEI Nº 7.716, DE 1989) ...163 ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA (LEI Nº 12.850, DE 2013) ................................................................167 DOS CRIMES PREVISTOS NO ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA (LEI Nº13.146, DE 2015) ............................................................................................................................................175 NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL ...................................................... 189 INQUÉRITO POLICIAL ......................................................................................................................189 CONCEITO .......................................................................................................................................................189 NATUREZA JURÍDICA .....................................................................................................................................189 CARACTERÍSTICAS ........................................................................................................................................189 FINALIDADE ....................................................................................................................................................189 PRAZO .............................................................................................................................................................189 VALOR PROBATÓRIO ......................................................................................................................................190 ATRIBUIÇÃO PARA PRESIDÊNCIA ................................................................................................................190 SIGILO .............................................................................................................................................................191 AUTO DE RESISTÊNCIA E DO EMPREGO DE ALGEMAS ..............................................................................192 LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984 .........................................................................................193 RESOLUÇÃO CONJUNTA Nº 2/2015(CONSELHO SUPERIOR DE POLÍCIA) ...............................222 AÇÃO PENAL ....................................................................................................................................223 PRISÃO CAUTELAR ..........................................................................................................................226 DISPOSIÇÕES GERAIS ....................................................................................................................................226 PRISÃO EM FLAGRANTE ................................................................................................................................226 PRISÃO TEMPORÁRIA E PRISÃO PREVENTIVA ...........................................................................................227 Banco de Dados para Registro dos Mandados de Prisão - Conselho Nacional de Justiça .....................229 RESOLUÇÃO Nº 417 DE 20/09/2021 ..............................................................................................230 COMPETÊNCIA E ATRIBUIÇÃO.......................................................................................................241 DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LIBERDADE PROVISÓRIA ....................................................243 DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO ..................................................................................243 DO AFASTAMENTO DO LAR, DOMICÍLIO OU LOCAL DE CONVIVÊNCIA COM A OFENDIDA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA E MULHER ............................................................................................244 DILIGÊNCIAS DE INVESTIGAÇÃO E MEDIDAS ASSECURATÓRIAS ............................................................245 Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher .........................................................................................245 Atendimento Policial e Pericial Especializado .............................................................................................246 Informação de Direitos e Serviços Ininterruptos .........................................................................................249 Programa Sinal Vermelho Contra a Violência Doméstica ..........................................................................249 IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL E COLETA DO PERFIL GENÉTICO ...................................................249 DA PROVA .........................................................................................................................................253 DA CADEIA DE CUSTÓDIA .............................................................................................................................253 DA BUSCA E APREENSÃO ..............................................................................................................................254 DAS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO PENAL ...................................................254 COMUNICAÇÃO DA PRISÃO ..........................................................................................................................255 DIREITO AO SILÊNCIO ....................................................................................................................................256ASSISTÊNCIA DE ADVOGADO .......................................................................................................................256 IDENTIFICAÇÃO DOS RESPONSÁVEIS PELA PRISÃO .................................................................................256 LEIS DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS E TERMO CIRCUNSTANCIADO ..........................256 LEI Nº 10.259, DE 2001 ....................................................................................................................267 LE IS E X TR A VA G A N TE S 5 LEIS EXTRAVAGANTES CRIMES DE TORTURA (LEI Nº 9.455, DE 1997) Antes de adentrar ao disposto na Lei nº 9.455, de 1997, a qual define os crimes de tortura, é importante, primeiro, entender como ela surgiu. Para isso, observe o texto do seu art. 1º: Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; c) em razão de discriminação racial ou religiosa; II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Pena - reclusão, de dois a oito anos. Cabe destacar, aqui, a definição do termo “tortura” apresentada pela Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradan- tes – promulgada pelo Decreto nº 40, de 1991. Vejamos: 1. Para os fins da presente Convenção, o termo “tortura” designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infli- gidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcio- nário público ou outra pessoa no exercício de fun- ções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam con- sequência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram. É muito comum, em livros, a denominação “tortu- ra limpa” para designar os casos de torturas mentais. Isso se deve ao fato de que a prática delas não deixa vestígios materiais. A Constituição, com a finalidade de proteger os direitos fundamentais, elencou, nos incisos III e XLIII, do art. 5º, o repúdio à tortura: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei- ros e aos estrangeiros residentes no País a inviola- bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] III - ninguém será submetido a tortura nem a trata- mento desumano ou degradante; [...] XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortu- ra, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hedion- dos, por eles respondendo os mandantes, os exe- cutores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; [...] Portanto, crimes de tortura são inafiançáveis, insuscetíveis de graça e de anistia. Vejamos essas terminologias: z Inafiançáveis: não poderá ser arbitrado fiança; z Graça: Essa competência é do Presidente da Repú- blica, sendo exercida por meio de Decreto. Vale mencionar que ela pode ser delegada, ou seja, o Presidente da República pode autorizar – através de decreto – que o Procurador-Geral da República, Advogado-Geral da União ou Ministros de Estado a exerçam. Importante saber que a graça atin- ge somente os efeitos principais da condenação, subsistindo os efeitos penais secundários, assim como os de natureza civil. A doutrina sustenta que o benefício da graça somente pode ser concedido após o trânsito em julgado da sentença condena- tória. Todavia, esse embasamento vem sendo cada vez mais superado. A aplicação da graça é indivi- dual, ou seja, possui destinatário certo e determi- nado. Além disso, ela gera reincidência e depende de pedido do sentenciado. z Anistia: É um benefício de competência do Con- gresso Nacional que necessita de sanção do Presi- dente da República (inciso VIII, art. 48, da CF) e que se destina à “extinção da prática de um fato crimi- noso”. Importante frisar que, logicamente, por ser um benefício concedido pelo Poder Legislativo, tal concessão se dá através de lei ordinária federal. O seu efeito é geral e atinge apenas os agentes que praticaram o ato. Como a sua aplicação “extingue” a existência do fato, tem-se que não gera reinci- dência, bem como extingue os efeitos penais prin- cipais e secundários. Atenção! A anistia extingue os efeitos penais, subsistindo os de natureza cível. Importante! Crime de tortura não é imprescritível, poden- do ser processado e julgado a qualquer tempo, não extinguindo a punibilidade pelos efeitos da prescrição. MODALIDADES DO CRIME DE TORTURA A doutrina e os Tribunais, visando aplicar a sanção cabível, diferenciaram os crimes de tortura em moda- lidades. Temos, como exemplo, o REsp nº 1.580.470/ PA, j. 24/08/2018, em que o Superior Tribunal de Justi- ça apresentou o seguinte: Diversamente do previsto no tipo do inciso II do art. 1º da Lei 9.455/97, definido pela doutrina como tor- tura-pena ou tortura-castigo, a qual requer inten- so sofrimento físico ou mental, a tortura-prova, do inciso I, alínea ‘a’, não traz o tormento como requi- sito do sofrimento causado à vítima. Basta que a conduta haja sido praticada com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa e que haja causado sofrimento físico ou mental, independentemente de sua gravi- dade ou sua intensidade. 6 Como visto, a tortura é classificada de diversas formas. Vejamos: z Tortura-Pena ou Tortura-Castigo: Intenso sofrimento físico ou mental, no ato de submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça como forma de aplicar castigo pes- soal ou medida de caráter preventivo. Ex.: pais, curadores, tutores, professores etc.; z Tortura-Prova, Tortura Probatória ou Tortura-Persecutória: Se a conduta for praticada com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa e tenha causado sofrimento físico ou mental, independentemente de sua gravidade ou sua intensidade. Ex.: Vemos com frequência em filmes de ação, indivíduos realizando tortura, para obter uma confissão ou o paradeiro de uma determinada pessoa; z Tortura-crime: Provocar ação ou omissão de natureza criminosa. Ex.: líder de um grupo criminoso constrange um membro do grupo que tenha se recusado a praticar determi- nado crime; z Tortura-Racismo, Tortura-Discriminatória ou Tortura-Preconceituosa: Em razão de discriminação racial ou religiosa. Ex.: indivíduo que constrange alguém causando-lhe sofrimento físico, por seguir determinada religião. Na modalidade de Tortura-Pena ou Tortura-Casti go, o crime é próprio (somente será rea lizado por pessoa específica), vez que somente pode ser realizado por pessoa que tenha guarda, poder ou autoridade sobre a vítima. Já nas demais modalidades, o crime é comum e pode ser praticado por qualquer pessoa. CARACTERÍSTICAS DOS CRIMES DE TORTURA A tortura prevista no inciso I, do art. 1º, é crime formal, uma vez que, para se consumar, não requer a obtenção do resultado almejado pelo agente. Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou deterceira pessoa; b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; c) em razão de discriminação racial ou religiosa; Já a tortura castigo (inciso II, do art. 1º) é a tortura propriamente dita (§ 1º, art. 1º, da Lei 9.455, de 1997). Por sua vez, são crimes materiais quanto ao resultado. A primeira se consuma com o intenso sofrimento físico e a segunda com o sofrimento físico e mental. Art. 1º Constitui crime de tortura:[...] II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofri- mento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Pena - reclusão, de dois a oito anos § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal. [...] Não se admite arrependimento eficaz (desistir de prosseguir na execução ou impedir que o resultado se produza) e nem arrependimento posterior (reparar o dano ou restituir a coisa, por ato voluntário do agente). A ação penal é pública e incondicionada à representação, ou seja, o Ministério Público, como titular da ação, ingressará de ofício e independente de manifestação de vontade por parte da vítima, não sendo possível a ela desistir do prosseguimento da ação. PENA DO CRIME DE TORTURA Conforme art. 1º, a pena do crime de tortura é reclusão de dois a oito anos. Importa dizer ainda que com base no § 1°, do art. 1°, na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita à medida de segurança a sofri- mento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal. Ademais, aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos. Art. 1º [...] § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos. LE IS E X TR A VA G A N TE S 7 A omissão citada concorda com o disposto no § 2º, do art. 13, do Código Penal, em que elenca que a omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. Art. 13 [...] § 2º A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. Se o crime de tortura resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena será de reclusão de qua- tro a dez anos. Se do crime de tortura resultar morte, a pena será de reclusão de oito a dezesseis anos. Vale ressaltar que o crime de tortura não é realizado apenas por meio de violência física, mas também por meio de grave ameaça. Veja, na tabela, o resumo dos prazos de acordo com o tipo de tortura: CONDUTA PENA Crime de Tortura (art. 1º) 02 a 08 anos de reclusão. Quem submete pessoa presa ou sujeita à medida de segu- rança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prá- tica de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal (§ 1º, do art. 1º) 02 a 08 anos de reclusão. Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las (§ 2º, do art. 1º) 01 a 04 anos de detenção. Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima (§ 3º, do art. 1º) 04 a 10 anos de reclusão. Se resulta morte (§ 3º, do art. 1º) 08 a 16 anos de reclusão. Aumento de Pena O § 4º, do art. 1º, traz as causas de aumento de pena. Conforme esse dispositivo, a pena aumenta de um sexto até um terço: Art. 1º [...] § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: I - se o crime é cometido por agente público; II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; III - se o crime é cometido mediante seqüestro. Ademais, a Lei ainda traz um importante detalhe no que tange aos agentes públicos. Para compreender melhor, é importante que seja definido o conceito de agente público, sendo um dos mais completos e esclarecedores o que está disposto na Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429, de 1992). Vejamos: Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda que tran sitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades menciona das no art. anterior. Ainda acerca dos agentes públicos, assim dispõe o § 5º, do art. 1º, da Lei nº 9.455, de 1997: Art. 1º [...] § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. O efeito da condenação é automático, ou seja, o juiz não precisa motivar a decisão para que ocorra esse efeito. Condenado pelo Crime de Tortura O § 7º, do art. 1º, aduz que o condenado por cri me de tortura, exceto na hipótese de que o crime seja praticado na forma omissiva (§ 2º, do art. 1º), iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. Veja a literalidade do §7º, do art. 1º, desta Lei: Art. 1º [...] § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. 8 No entanto, o Supremo Tribunal Federal estipulou que não é obrigatório que o condenado por crime de tor- tura inicie o cumprimento da pena em regime fechado: DIREITO PENAL. REGIME INICIAL DE CUMPRI- MENTO DE PENA NO CRIME DE TORTURA. Não é obrigatório que o condenado por crime de tortura inicie o cumprimento da pena no regime prisional fechado. Dispõe o art. 1º, § 7º, da Lei 9.455/1997 – lei que define os crimes de tortura e dá outras providências – que “O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fecha- do”. Entretanto, cumpre ressaltar que o Plenário do STF, ao julgar o HC 111.840-ES (DJe 17.12.2013), afastou a obrigatoriedade do regime inicial fechado para os condenados por crimes hediondos e equi- parados, devendo-se observar, para a fixação do regime inicial de cumprimento de pena, o disposto no art. 33 c/c o art. 59, ambos do CP. Assim, por ser equiparado a crime hediondo, nos termos do art. 2º, caput e § 1º, da Lei 8.072/1990, é evidente que essa interpretação também deve ser aplicada ao crime de tortura, sendo o caso de se desconsiderar a regra disposta no art. 1º, § 7º, da Lei 9.455/1997, que possui a mesma disposição da norma declara- da inconstitucional. Cabe esclarecer que, ao adotar essa posição, não se está a violar a Súmula Vincu- lante n.º 10, do STF, que assim dispõe: “Viola a cláu- sula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte”. De fato, o enten- dimento adotado vai ao encontro daquele proferido pelo Plenário do STF, tornando-se desnecessário submeter tal questão ao Órgão Especial desta Cor- te, nos termos do art. 481, parágrafo único, do CPC: “Os órgãos fracionários dos tribunais não submete- rão ao plenário, ou ao órgão especial, a arguição de inconstitucionalidade, quando já houver pronun- ciamento destes ou do plenário do Supremo Tribu- nal Federal sobre a questão”. Portanto, seguindo a orientação adotada pela Suprema Corte, deve-se utilizar, para a fixação do regime inicial de cumpri- mento de pena, o disposto no art. 33 c/c o art. 59, ambos do CP e as Súmulas 440 do STJ e 719 do STF. Confiram-se, a propósito, os mencionados verbetes sumulares: “Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sançãoimposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.” (Súmula 440 do STJ) e “A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea.” (Súmu- la 719 do STF). Precedente citado: REsp 1.299.787- PR, Quinta Turma, DJe 3/2/2014. HC 286.925-RR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 13/5/2014. (STJ - HC: 286925 RR 2014/0010114-2, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 13/05/2014, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publica- ção: DJe 21/05/2014) Temos outro julgado: Decisão: Vistos. Trata-se de pedido de extensão apresentado por Ramon Roberto de Oliveira nos autos do habeas corpus impetrado pela Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo em favor de Edmar Lopes Feliciano, buscando igual fixação do regime inicial semiaberto para o cumprimento da pena imposta ao paciente. Sustenta o requerente, em síntese, haver sido pro- cessado e condenado à pena de um (1) ano e oito (8) meses de reclusão, em regime inicialmente fechado, por infração ao disposto no art. 33 da Lei nº 11.343/06, fazendo jus ao cumprimento inicial em regime semia- berto. Examinado os autos, decido. O pedido de exten- são é manifestamente incabível. Observo, de início, que não se cuida o requerente de corréu no mesmo processo a que alude o HC nº 111.840/ES, mas de pes- soa que, dizendo haver sido condenado por crime de tráfico de entorpecentes, e apenado a pena corporal inferior a quatro anos, faria jus ao cumprimento de sua pena em regime inicial aberto, razão pela qual inaplicável, à espécie, o disposto no art. 580 do CPP, ensejando a situação, quando muito, a impetração perante Tribunal competente, de habeas autônomo, para o que não se presta a excêntrica petição (ane- xo de instrução 23). Ademais, além de totalmente desprovida de elementos mínimos a demonstrar a aventada condenação por tráfico, segundo informa- ções prestadas pelo Juízo das Execuções Criminais da Comarca de Franco da Rocha/SP, o requerente encontra-se preso em razão da prática de crimes de roubo qualificado, à pena de sete (7) anos, um (1) mês e dezesseis (16) dias de reclusão, em regime inicial fechado, bem como em quinze (15) dias-multa. Ante o exposto, com fundamento no art. 21, § 1º, do RISTF, nego seguimento ao pedido, por ser flagrantemente inadmissível. Publique-se. Arquive-se. Brasília, 21 de fevereiro de 2013. Ministro Dias Toffoli Relator Docu- mento assinado digitalmente (STF - HC: 111840 ES, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 21/02/2013, Data de Publicação: DJe-037 DIVULG 25/02/2013 PUBLIC 26/02/2013) Como visto, o STF manifestou pela inconstitucionali- dade do § 7º, do art. 1º, da Lei 9.455, de 1997. Contudo, até a presente data, o dispositivo legal ainda não foi revogado. Ou seja, o STF afastou a sua aplicação no caso concreto, mas o dispositivo ainda está vigente na lei. Para a sua pro- va, atente-se ao enunciado da questão. Caso o enunciado mencione “nos termos da Lei nº 9.455, de 1997”, responda conforme a Lei. Todavia, caso leve em consideração o STF, responda conforme o entendimento dele. Territorialidade O art. 2º elenca as hipóteses em que será aplicada a lei brasileira ainda que não tenha sido cometido o crime em território nacional. Será aplicada: quando cometida em território nacional; quando não pratica- do em território nacional mas sendo a vítima brasilei- ra ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira. Vejamos a literalidade da lei: Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quan- do o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando- -se o agente em local sob jurisdição brasileira. LEI ANTIDROGAS (LEI Nº 11.343, DE 2006) A Lei nº 11.343, de 2006, apresenta como sua ver- tente de estrutura central o Sistema Nacional de Polí- ticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), prescrevendo medidas de prevenção do uso indevido dessas subs- tâncias, além de promover a atenção e a reinserção social aos usuários e dependentes e, ainda, estabele- cer normas de repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas (art. 1º). LE IS E X TR A VA G A N TE S 9 Importante! Consideram-se drogas as substâncias ou os pro- dutos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas, periodicamente, pelo Poder Executi- vo da União (Parágrafo único, art. 1º). Podemos destacar que a Lei de Drogas é uma nor- ma penal em branco, ou seja, ela necessita de um complemento que traga a definição do que são dro- gas. Essa complementação se realiza por meio da por- taria1 SVS/MS de nº 344, de 12 de maio de 1998, que traz os princípios ativos das substâncias que poderão ser enquadradas como drogas e, consequentemente, a tipificação da conduta do agente nos crimes elencados nesta Lei. A previsão legal de que a referida Lei é uma nor- ma penal em branco heterogênea provém como visto anteriormente, do parágrafo único, do art. 1º, combi- nado com o art. 66, disposto a seguir: Art. 66 Para fins do disposto no parágrafo úni- co do art. 1o desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS no 344, de 12 de maio de 1998. Consoante ao art. 2º, da Lei nº 11.343, de 2006, é permitido o uso de substâncias psicotrópicas deriva- das das plantas de uso estritamente ritualístico-reli- gioso quando for utilizada para essa finalidade. Um exemplo de planta que apresenta substâncias psico- trópicas usada para ritual religioso é a Ayahuasca (também conhecida como Santo Daime). Art. 2º Ficam proibidas, em todo o território nacio- nal, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização legal ou regu- lamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso. Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos vegetais referidos na lei, exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscali- zação, respeitadas as ressalvas supramencionadas. SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS O SISNAD é o conjunto ordenado de princípios, regras, critérios e recursos materiais e humanos que envolvem as políticas, planos, programas, ações e pro- jetos sobre drogas, incluindo-se nele, por adesão, o Sistemas de Políticas Públicas sobre Drogas dos Esta- dos, Distrito Federal e Municípios (§ 1º, do art. 3º) De acordo com o art. 3º, esse Sistema tem como finalidade articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com: 1 Você pode encontrar a lista das substâncias previstas na portaria no link a seguir: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/svs/1998/ prt0344_12_05_1998_rep.html Sisnad A prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas A repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas § 2° O Sisnad atuará em articulação com o Siste- ma Único de Saúde - SUS, e com o Sistema Único de Assistência Social - SUAS. DOS PRINCÍPIOS E DOS OBJETIVOS DO SISNAD O art. 4º estabelece os princípios do SISNAD. Vejamos: Art. 4º [...] I - o respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, especialmente quanto à sua autonomia e à sua liberdade; II - o respeito à diversidade e às especificidades populacionais existentes; III - a promoção dos valores éticos, culturais e de cidadania do povo brasileiro, reconhecendo-os como fatores de proteção para o uso indevido de drogas e outros comportamentos correlacionados; IV - a promoção de consensos nacionais, de ampla participação social, para o estabelecimento dos fundamentos e estratégias doSisnad; V - a promoção da responsabilidade compartilhada entre Estado e Sociedade, reconhecendo a importân- cia da participação social nas atividades do Sisnad; VI - o reconhecimento da intersetorialidade dos fatores correlacionados com o uso indevido de dro- gas, com a sua produção não autorizada e o seu tráfico ilícito; VII - a integração das estratégias nacionais e inter- nacionais de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de dro- gas e de repressão à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito; VIII - a articulação com os órgãos do Ministério Público e dos Poderes Legislativo e Judiciário visan- do à cooperação mútua nas atividades do Sisnad; IX - a adoção de abordagem multidisciplinar que reconheça a interdependência e a natureza com- plementar das atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas, repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas; X - a observância do equilíbrio entre as atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito, visando a garantir a estabilidade e o bem-estar social; XI - a observância às orientações e normas emana- das do Conselho Nacional Antidrogas - Conad. O art. 5º, por sua vez, estabelece os objetivos do SISNAD. 10 Vejamos: Art. 5º [...] I - contribuir para a inclusão social do cidadão, visando a torná-lo menos vulnerável a assumir comportamentos de risco para o uso indevido de drogas, seu tráfico ilícito e outros comportamentos correlacionados; II - promover a construção e a socialização do conhecimento sobre drogas no país; III - promover a integração entre as políticas de pre- venção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao tráfico ilícito e as políticas públicas setoriais dos órgãos do Poder Executivo da União, Distrito Federal, Estados e Municípios; IV - assegurar as condições para a coordenação, a integração e a articulação das atividades de que trata o art. 3º desta Lei. Possuindo os princípios e objetivos, podemos afirmar que a organização do Sisnad assegura a orientação central e a execução descentralizada das atividades realizadas em seu âmbito e nas esferas federal, distri- tal, estadual e municipal e se constitui matéria defini- da no regulamento desta Lei de Drogas (art. 7º). Dica Atente-se aos verbos que iniciam os objetivos, quais sejam: contribuir, promover e assegurar. COMPETÊNCIAS O art. 8º-A estabelece as competências da União com relação à política de combate às drogas. Para fins de prova, basta a leitura atenta dos incisos. Art. 8º-A [...] I - formular e coordenar a execução da Política Nacional sobre Drogas; II - elaborar o Plano Nacional de Políticas sobre Drogas, em parceria com Estados, Distrito Federal, Municípios e a sociedade; III - coordenar o Sisnad; IV - estabelecer diretrizes sobre a organização e fun- cionamento do Sisnad e suas normas de referência; V - elaborar objetivos, ações estratégicas, metas, prioridades, indicadores e definir formas de finan- ciamento e gestão das políticas sobre drogas; VIII - promover a integração das políticas sobre drogas com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IX - financiar, com Estados, Distrito Federal e Muni- cípios, a execução das políticas sobre drogas, obser- vadas as obrigações dos integrantes do Sisnad; X - estabelecer formas de colaboração com Estados, Distrito Federal e Municípios para a execução das políticas sobre drogas; XI - garantir publicidade de dados e informações sobre repasses de recursos para financiamento das políticas sobre drogas; XII - sistematizar e divulgar os dados estatísticos nacionais de prevenção, tratamento, acolhimento, reinserção social e econômica e repressão ao tráfi- co ilícito de drogas; XIII - adotar medidas de enfretamento aos crimes transfronteiriços; XIV - estabelecer uma política nacional de controle de fronteiras, visando a coibir o ingresso de drogas no País. Do Plano Nacional de Políticas Sobre Drogas São objetivos específicos do Plano Nacional de dro- gas, dentre outros: z Promover a interdisciplinaridade e integração dos programas, ações, atividades e projetos dos órgãos e entidades públicas e privadas nas áreas de saú- de, educação, trabalho, assistência social, previ- dência social, habitação, cultura, desporto e lazer, visando à prevenção do uso de drogas, atenção e reinserção social dos usuários ou dependentes de drogas; z Viabilizar a ampla participação social na formula- ção, implementação e avaliação das políticas sobre drogas; z Priorizar programas, ações, atividades e projetos articulados com os estabelecimentos de ensino, com a sociedade e com a família para a prevenção do uso de drogas; z Ampliar as alternativas de inserção social e econô- mica do usuário ou dependente de drogas, promo- vendo programas que priorizem a melhoria de sua escolarização e a qualificação profissional; z Promover o acesso do usuário ou dependente de drogas a todos os serviços públicos; z Estabelecer diretrizes para garantir a efetividade dos programas, ações e projetos das políticas sobre drogas; z Fomentar a criação de serviço de atendimento telefônico com orientações e informações para apoio aos usuários ou dependentes de drogas; z Articular programas, ações e projetos de incentivo ao emprego, renda e capacitação para o trabalho, com objetivo de promover a inserção profissio- nal da pessoa que haja cumprido o plano indivi- dual de atendimento nas fases de tratamento ou acolhimento; z Promover formas coletivas de organização para o trabalho, redes de economia solidária e o coopera- tivismo, como forma de promover autonomia ao usuário ou dependente de drogas egresso de trata- mento ou acolhimento, observando-se as especifi- cidades regionais; z Propor a formulação de políticas públicas que con- duzam à efetivação das diretrizes e princípios pre- vistos no art. 22; z Articular as instâncias de saúde, assistência social e de justiça no enfrentamento ao abuso de drogas; z Promover estudos e avaliação dos resultados das políticas sobre drogas. Salienta-se que o referido plano terá duração de 5 (cinco) anos contados da sua aprovação. ATIVIDADES DE PREVENÇÃO DO USO INDEVIDO, ATENÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL DE USUÁRIOS E DEPENDENTES DE DROGAS Da Prevenção Art. 18 Constituem atividades de prevenção do uso indevido de drogas, para efeito desta Lei, aquelas direcionadas para a redução dos fatores de vulne- rabilidade e risco e para a promoção e o fortaleci- mento dos fatores de proteção. Art. 19 As atividades de prevenção do uso indevido de drogas devem observar os seguintes princípios e diretrizes: LE IS E X TR A VA G A N TE S 11 I - o reconhecimento do uso indevido de drogas como fator de interferência na qualidade de vida do indivíduo e na sua relação com a comunidade à qual pertence; II - a adoção de conceitos objetivos e de fundamen- tação científica como forma de orientar as ações dos serviços públicos comunitários e privados e de evitar preconceitos e estigmatização das pessoas e dos serviços que as atendam; III - o fortalecimento da autonomia e da responsa- bilidade individual em relação ao uso indevido de drogas; IV - o compartilhamento de responsabilidades e a colaboração mútua com as instituições do setor pri- vado e com os diversos segmentos sociais, incluindo usuários e dependentes de drogas e respectivos fami- liares, por meio do estabelecimento de parcerias; V - a adoção de estratégias preventivas diferencia- das e adequadas às especificidades socioculturais das diversas populações, bem como das diferentes drogas utilizadas; VI - o reconhecimento do “não-uso”, do “retardamento do uso” e da redução de riscos como resultados dese- jáveis das atividadesde natureza preventiva, quando da definição dos objetivos a serem alcançados; VII - o tratamento especial dirigido às parcelas mais vulneráveis da população, levando em consi- deração as suas necessidades específicas; VIII - a articulação entre os serviços e organiza- ções que atuam em atividades de prevenção do uso indevido de drogas e a rede de atenção a usuários e dependentes de drogas e respectivos familiares; IX - o investimento em alternativas esportivas, cul- turais, artísticas, profissionais, entre outras, como forma de inclusão social e de melhoria da qualida- de de vida; X - o estabelecimento de políticas de formação con- tinuada na área da prevenção do uso indevido de drogas para profissionais de educação nos 3 (três) níveis de ensino; XI - a implantação de projetos pedagógicos de pre- venção do uso indevido de drogas, nas instituições de ensino público e privado, alinhados às Diretrizes Curriculares Nacionais e aos conhecimentos rela- cionados a drogas; XII - a observância das orientações e normas ema- nadas do Conad; XIII - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle social de políticas setoriais específicas. Importante! As atividades de prevenção do uso indevido de drogas dirigidas à criança e ao adolescente deverão estar em consonância com as diretrizes emanadas pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – Conanda (Pará- grafo único, do art. 19). Da Semana Nacional de Políticas sobre Drogas Criou-se a Semana Nacional de Políticas sobre Dro- gas, a qual comemorada anualmente na quarta sema- na de junho, visando à intensificação de ações de: Art. 19-A [...] I - difusão de informações sobre os problemas decorrentes do uso de drogas; II - promoção de eventos para o debate público sobre as políticas sobre drogas; III - difusão de boas práticas de prevenção, trata- mento, acolhimento e reinserção social e econômi- ca de usuários de drogas; IV - divulgação de iniciativas, ações e campanhas de prevenção do uso indevido de drogas; V - mobilização da comunidade para a participação nas ações de prevenção e enfrentamento às drogas; VI - mobilização dos sistemas de ensino previstos na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, na reali- zação de atividades de prevenção ao uso de drogas. DAS ATIVIDADES DE PREVENÇÃO, TRATAMENTO, ACOLHIMENTO E DE REINSERÇÃO SOCIAL E ECONÔMICA DE USUÁRIOS OU DEPENDENTES DE DROGAS É essencial destacar que as atividades de atenção ao usuário, ao dependente de drogas e respectivos familiares são aquelas que visam à melhoria da qua- lidade de vida e à redução dos riscos e dos danos associados ao uso de drogas. Art. 20 Constituem atividades de atenção ao usuá- rio e dependente de drogas e respectivos familiares, para efeito desta Lei, aquelas que visem à melhoria da qualidade de vida e à redução dos riscos e dos danos associados ao uso de drogas. Ademais, as atividades de reinserção social do usuário ou do dependente de drogas e respectivos familiares, para efeito desta Lei, são aquelas direcio- nadas para a sua integração ou reintegração em redes sociais. Ou seja, um dos maiores objetivos da Política Nacional de Drogas é a reinserção do usuário ao convívio social e familiar. Art. 21 Constituem atividades de reinserção social do usuário ou do dependente de drogas e respecti- vos familiares, para efeito desta Lei, aquelas dire- cionadas para sua integração ou reintegração em redes sociais. Vale dizer que, de acordo com o art. 22, as ativida- des descritas no art. anterior deverão respeitar princí- pios e diretrizes previamente fixados. São eles: Art. 22 [...] I - respeito ao usuário e ao dependente de drogas, independentemente de quaisquer condições, obser- vados os direitos fundamentais da pessoa humana, os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde e da Política Nacional de Assistência Social; II - a adoção de estratégias diferenciadas de aten- ção e reinserção social do usuário e do dependente de drogas e respectivos familiares que considerem as suas peculiaridades socioculturais; III - definição de projeto terapêutico individualiza- do, orientado para a inclusão social e para a redu- ção de riscos e de danos sociais e à saúde; IV - atenção ao usuário ou dependente de dro- gas e aos respectivos familiares, sempre que pos- sível, de forma multidisciplinar e por equipes multiprofissionais; V - observância das orientações e normas emana- das do Conad; VI - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de con- trole social de políticas setoriais específicas. VII - estímulo à capacitação técnica e profissional; (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) 12 VIII - efetivação de políticas de reinserção social voltadas à educação continuada e ao trabalho; (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) IX - observância do plano individual de atendimen- to na forma do art. 23-B desta Lei; (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) X - orientação adequada ao usuário ou dependente de drogas quanto às consequências lesivas do uso de drogas, ainda que ocasional. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) Art. 23 As redes dos serviços de saúde da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios desenvolverão programas de atenção ao usuário e ao dependente de drogas, respeitadas as diretrizes do Ministério da Saúde e os princípios explicitados no art. 22 desta Lei, obrigatória a previsão orça- mentária adequada. Art. 23-A O tratamento do usuário ou dependen- te de drogas deverá ser ordenado em uma rede de atenção à saúde, com prioridade para as modalida- des de tratamento ambulatorial, incluindo excep- cionalmente formas de internação em unidades de saúde e hospitais gerais nos termos de normas dis- postas pela União e articuladas com os serviços de assistência social e em etapas que permitam: I - articular a atenção com ações preventivas que atinjam toda a população; II - orientar-se por protocolos técnicos predefini- dos, baseados em evidências científicas, oferecendo atendimento individualizado ao usuário ou depen- dente de drogas com abordagem preventiva e, sem- pre que indicado, ambulatorial; III - preparar para a reinserção social e econômica, respeitando as habilidades e projetos individuais por meio de programas que articulem educação, capacitação para o trabalho, esporte, cultura e acompanhamento individualizado; IV - acompanhar os resultados pelo SUS, Suas e Sis- nad, de forma articulada. Portanto, caberá à União dispor sobre os protoco- los técnicos de tratamento, em âmbito nacional. Já a internação de dependentes de drogas somen- te será realizada em unidades de saúde ou hospi- tais gerais, dotados de equipes multidisciplinares e deverá ser obrigatoriamente autorizada por médi- co devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se localize o esta- belecimento no qual se dará a internação, vide art. 23-A, § 2º. As medidas de internação só serão realizadas quando os recursos extra-hospitalares demonstrarem insuficiência na solução do problema. Sendo assim, estas devem ser comunicadas (tanto as internações quanto as altas) ao Ministério Público, à Defensoria Pública e aos demais órgãos de fiscalização no prazo máximo de 72 horas. É importante destacar que há dois tipos de inter- nação, vide § 3º, do art. 23-A. Vejamos: z Internação voluntária – aquela que se dá com o consentimento do dependente de drogas. O usuá- rio, por livre manifestação de vontade, consen- te com a internação. A manifestação de vontade deverá ser realizada por declaração escrita. O tér- mino da internação poderá ser dado: � Por determinação médica; � Por solicitação escrita daquele que estiver em tratamento. z Internação involuntária – aquela que se dá sem o consentimento do dependente. Trata-se de um caso mais extremo, no qual a internação é rea- lizada a pedido (devidamente fundamentado e demonstrados os motivos que justificam a medida de internação) de familiar ou do responsável legalou, na falta destes, de servidor público da área de saúde, da assistência social ou dos órgãos públicos integrantes do Sisnad. Consoante, dispõem os §§ 4º e 5°, do art. 23-A. Outros detalhes da internação involuntária merecem destaque: � A internação involuntária só será realizada após formalização de decisão médica, que deverá indicar o tipo de droga, o padrão de uso, bem como justificar, devidamente, a impossibi- lidade de se utilizar meios alternativos que não sejam a internação; � A internação terá prazo máximo de 90 dias, porém só deverá ser realizada pelo tempo necessário à desintoxicação do internado e terá seu término definido por determinação médica; � A família ou o representante legal poderá reque- rer a interrupção da internação/tratamento. Todas as internações e altas deverão ser informa- das, em, no máximo, 72 (setenta e duas) horas, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e a outros órgãos de fiscalização por meio de sistema informa- tizado único, sendo garantido o sigilo das informa- ções disponíveis no sistema e o acesso será permitido apenas às pessoas autorizadas a conhecê-las, sob pena de responsabilidade, de acordo com o § 7º. Art. 23-A [...] § 9º É vedada a realização de qualquer modalida- de de internação nas comunidades terapêuticas acolhedoras. DO PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO O plano individual de atendimento visa o atendi- mento ao usuário ou dependente de drogas na rede de atenção à saúde e dependerá de avaliação prévia por equipe multidisciplinar e multissetorial e Elabora- ção de um Plano Individual de Atendimento – PIA (Art. 23-B). A avaliação prévia, que consta no art. 23-B, será utilizada como base para elaborar um plano terapêu- tico de cada indivíduo e deverá levantar, no mínimo, o tipo de droga e padrão de uso, bem como o risco à saúde física e mental do usuário. Já o PIA deverá contemplar a participação dos fami- liares ou responsáveis, os quais têm o dever de contri- buir com o processo, sendo esses, no caso de crianças e adolescentes, passíveis de responsabilização civil, administrativa e criminal, além de ser, inicialmente, elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do primeiro projeto terapêutico que atender o usuário ou dependente de drogas e será atualizado ao longo das diversas fases do atendimento (§§ 3º e 4º, do art. 23-B). Preenchidos os requisitos, deverão constar, no plano individual, no mínimo, os elementos listados a seguir: LE IS E X TR A VA G A N TE S 13 Art. 23-B [...] § 5º [...] I - os resultados da avaliação multidisciplinar; (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) II - os objetivos declarados pelo atendido; (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) III - a previsão de suas atividades de integração social ou capacitação profissional; (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) IV - atividades de integração e apoio à família; (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) V - formas de participação da família para efetivo cumprimento do plano individual; (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) VI - designação do projeto terapêutico mais ade- quado para o cumprimento do previsto no plano; e (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) VII - as medidas específicas de atenção à saúde do atendido. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) O PIA será elaborado no prazo de até 30 (trinta) dias da data do ingresso no atendimento (§ 6º, do art. 23-B). As informações colhidas na avaliação serão consideradas sigilosas. Com o fim de incentivar a reinserção do usuário e dependente de drogas no mercado de trabalho, a União, os Estados, o DF e os Municípios poderão con- ceder benefícios às instituições privadas, vide art. 24. Vale destacar que, segundo o art. 25, as instituições da sociedade civil sem fins lucrativos com atuação nas áreas de atenção à saúde e de assistência social que atendam usuários ou dependentes de drogas pode- rão receber recursos do Fundo Nacional Antidrogas (FUNAD) condicionados à sua disponibilidade orça- mentária e financeira. DOS CRIMES E DAS PENAS Este tópico é o mais importante para fins de pro- va. Portanto, preste, sempre, muita atenção a todos os aspectos da Lei de Drogas, principalmente aos polê- micos, a fim de que você tenha sucesso na resolução de questões. Art. 27 As penas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo, ouvidos o Ministério Público e o defensor. O art. 27 é autoexplicativo. As penas poderão ser aplicadas de forma isolada ou cumulativamente, cabendo a sua substituição. O art. 28 traz-nos um importante dispositivo da Lei de Drogas, pois criminaliza a conduta de posse de dro- gas para consumo pessoal. Veja: Art. 28 Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pes- soal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submeti- do às seguintes penas I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a pro- grama ou curso educativo. O § 1º equipara, ainda, a conduta de quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plan- tas destinadas à preparação de pequena quan- tidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. A título de exemplo, podemos citar o agente que cultiva pequena quantidade para consumo pessoal no quintal de sua casa. Importante! O STF decidiu (RE 430.105-9-RJ) que houve a despenalização da conduta do art. 28, da Lei de Drogas, uma vez que a conduta é criminosa, mas não se admite a submissão à pena privativa de liberdade para os referidos tipos. Quanto a este entendimento, há posições doutriná- rias divergentes. Para a sua prova, o que importa é o posicionamento do STF. z Bem jurídico tutelado ou objetividade jurídica — a Saúde Pública colocada em risco pelo compor- tamento do usuário: Não se pune o porte da droga para o uso próprio em função da proteção à saú- de do agente, mas em razão do mal potencial que pode gerar à coletividade; z Sujeito ativo — aquele que pratica a conduta pre- vista como crime: Pode ser qualquer pessoa, ou seja, crime comum; z Sujeito passivo — aquele que sofre a conduta pre- vista como crime: É a coletividade, ou seja, crime vago; z Conceito de crime vago — é aquele que tem, por sujeito passivo, uma entidade destituída de perso- nalidade jurídica, como a sociedade, o público, a família etc.; z Uso pretérito — não se pune o agente se for sur- preendido usando ou logo depois de usar a droga, sem possibilidade de se usar a droga em seu poder. z Elemento subjetivo — o crime é punido a título de dolo mais fim especial (consumo próprio); z Consumação — consuma-se com prática de qual- quer um dos núcleos: quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo; z Crime de Perigo Abstrato — para a maioria, o crime é de perigo abstrato (crime absolutamente previsto em lei). O eminente jurista Guilherme de Souza Nucci rotu- la o art. 28, da Lei nº 11.343, de 2006, como de “ínfimo potencial ofensivo”, tendo em vista que, mesmo sendo inviável, no caso concreto, a transação penal, ainda que reincidente o agente e com maus antecedentes ou péssima conduta social, jamais será aplicada a pena privativa liberdade, mas penas alternativas, com medidas assecuratórias de cumprimento. Com relação às penas, vejamos o texto constante do referido dispositivo: Art. 28 [...] I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento à pro- grama ou curso educativo. [...] § 2º Para determinar se a droga se destinava a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente. 14 § 3º As penas previstas nos incisos II e III do caput deste art.serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses. § 4º Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste art. serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses. No que tange às penas de prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento à programa ou curso educativo, serão aplicadas pelo pra- zo máximo de 5 (cinco) meses e, em caso de reinci- dência, pelo prazo máximo de 10 (dez) meses (§§ 2º e 3º, do art. 28). Ademais, a imposição e a execução das penas prescrevem em 2 (dois) anos (Art. 30). Art. 28 [...] § 5º A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabeleci- mentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuá- rios e dependentes de drogas. O § 6º, do art. 28, dita que para garantia do cum- primento das medidas educativas, a que injustificada- mente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a admoestação verbal e/ou multa. De acordo com o art. 29, correspondente à imposi- ção da medida educativa de multa, o juiz, atendendo à reprovabilidade da conduta, fixará o número de dias- -multa em quantidade nunca inferior a 40 (quaren- ta) nem superior a 100 (cem), atribuindo depois a cada um, segundo a capacidade econômica do agen- te, o valor de 1/30 até 3 (três) vezes o valor do maior salário mínimo, sendo creditados à conta do Fundo Nacional Antidrogas. Importante! Em 2014, o STF decidiu acerca da impossibili- dade de imposição de medida de internação a adolescente que cometa ato infracional análogo ao crime do art. 28. DA REPRESSÃO À PRODUÇÃO NÃO AUTORIZADA E AO TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS Em alguns casos excepcionais, a Lei permite utili- zação de drogas ou matérias-primas destinadas à sua preparação. Tais casos, obviamente, necessitarão de autorização prévia do Poder Público, mediante licen- ça, na forma da Lei. Neste sentido, prevê o art. 31: Art. 31 É indispensável a licença prévia da auto- ridade competente para produzir, extrair, fabricar, transformar, preparar, possuir, manter em depósi- to, importar, exportar, reexportar, remeter, trans- portar, expor, oferecer, vender, comprar, trocar, ceder ou adquirir, para qualquer fim, drogas ou matéria-prima destinada à sua preparação, obser- vadas as demais exigências legais A previsão legal da destruição das plantações ilíci- tas está no art. 32 e, da destruição das drogas ilícitas, no art. 50, da lei em estudo. A destruição das drogas apreendidas sem a ocor- rência de prisão em flagrante será feita por incinera- ção no prazo máximo de 30 (trinta) dias contados da data da apreensão, guardando-se amostra neces- sária à realização do laudo definitivo. Art. 32 As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelo delegado de polícia, que recolhe- rá quantidade suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto de levantamento das condições encontradas, com a delimitação do local, assegura- das as medidas necessárias para a preservação da prova. A seguir, montamos uma tabela trazendo as dife- renças e a literalidade dos arts. mencionados: PLANTAÇÕES ILÍCITAS DROGAS ILÍCITAS Quem pode destruir? R.: Delegado de Polícia. Quem pode destruir? R.: Delegado de Polícia. Precisa de Autorização Judicial? R.: Não. Precisa de Autorização Judicial? R.: Sim. Quando ocorrerá a destruição? R.: Imediatamente. Quando ocorre a destruição? R.: Depois da Determina- ção Judicial, a Autoridade Policial tem o prazo de 15 dias para destruir a droga na presença do ministério Público e da Autoridade sanitária. Se a destruição for realizada mediante queimada, não é necessária a autorização do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). As glebas cultivadas com plantação ilícitas serão expropriadas. DOS CRIMES Um dos arts. mais importantes a ser estudado na análise da Lei de Drogas é o art. 33, o qual trata cri- me de Tráfico de Drogas. Esse é um crime que pre- vê diversas condutas, sendo: importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer dro- gas. Trata-se, pois, de um tipo misto alternativo: se o agente incorrer em mais de uma conduta, não respon- de por concurso de crimes. Art. 33 Importar, exportar, remeter, preparar, pro- duzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, ofe- recer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e qui- nhentos) dias-multa. LE IS E X TR A VA G A N TE S 15 O delito do art. 33 possui as seguintes características: z Bem jurídico tutelado ou objetividade jurídica: saúde pública (tutela imediata) e saúde individual das pessoas que integram a sociedade (tutela imediata); z Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum); z Sujeito passivo: a coletividade (crime vago); z Conduta: o art. 33 possui 18 (dezoito) condutas, sendo considerado, pela doutrina, como crime de ação múltipla ou conteúdo variado e, também, cri- me plurinuclear; Atenção! Mesmo que o agente pratique, no mesmo contexto fático e, sucessivamente, mais de uma ação típica (ex.: importa, guarda e vende), por força do prin- cípio da alternatividade, responderá por crime único. O juiz deve considerar a pluralidade de núcleos na fixa- ção da pena. Faltando proximidade comportamental entre as várias condutas, haverá concurso de crimes. Equivale à ausência de autorização o desvio de autorização, ainda que regularmente concedida. Para a Jurisprudência, a dificuldade de subsistên- cia por meios lícitos decorrentes de doença, embora grave, não justifica apelo ao recurso ilícito, moral- mente reprovável e socialmente perigoso, de se entre- gar o agente ao comércio de drogas. Outra decisão importante do STF relaciona-se ao fato de configurar crime, previsto no art. 33, em sua forma consumada, a simples negociação da entrega das drogas por meio de telefone (HC 212.528-SC, Rel. Min. Nefi Cor- deiro, julgado em 1/9/2015, DJe 23/9/2015). O § 1º, do art. 33, estabelece as condutas equipa- radas ao tráfico de drogas, incorrendo nas mesmas penas do caput aquele que praticá-las. Art. 33 [...] § 1º [...] I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adqui- re, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desa- cordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico desti- nado à preparação de drogas; II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autori- zação ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guar- da ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regu- lamentar, para o tráfico ilícito de drogas. IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente poli- cial disfarçado, quando presentes elementos proba- tórios razoáveis de conduta criminal preexistente. Para o enquadramento nos crimes equiparados, não é necessário que a substância já contenha o efeito da droga. Para isso, basta que a autoridade e o Minis- tério Público concluam que a substância se destina ao preparo da droga. Em contrapartida a este entendimento, há decisão do STF acerca do não enquadramento em condutaequiparada no caso de posse de sementes da planta cannabis sativa (maconha): A Turma entendeu que a matéria-prima ou insu- mo deve ter condições e qualidades químicas que permitam, mediante transformação ou adição, por exemplo, a produção da droga ilícita. Não é esse o caso das sementes da planta cannabis sativa, as quais não possuem a substância psicoativa THC. (HC – 144161). (Informativo 915, Segunda Turma) De acordo com o entendimento do STJ, não é pos- sível a aplicação do princípio da insignificância nos delitos de tráfico de drogas e porte de substâncias entorpecentes para consumo, pois se tratam de crimes de perigo abstrato. Apologia ao Uso de Drogas A conduta prevista no § 2º do art. 33 foi descrimi- nalizada por incompatibilidade de manifestação do pensamento assegurada pela Constituição. Art. 33 [...] § 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: (Vide ADI nº 4.274) Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa. Cessão Gratuita de Droga para Consumo Conjunto A disposição acerca da cessão gratuita de dro- ga para consumo conjunto é um crime de uso com- partilhado, previsto no art. 33, parágrafo 3º da Lei 11.343/2006, dispondo que oferecer droga, eventual- mente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu rela- cionamento, para juntos a consumirem, terá uma pena de detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhen- tos) dias-multa. Perceba os requisitos para que se concretize a con- duta do oferecimento a título gratuito: z Oferecimento de forma eventual de droga para pessoa íntima; z Ausência de lucro (deve ser oferecimento a título gratuito); z Para consumo conjunto (a famosa “rodinha” para uso de drogas) � Exemplo: um amigo que oferece droga ao outro, gratuitamente, para juntos consumirem em uma “festinha”. TRÁFICO PRIVILEGIADO O tráfico privilegiado, causa especial de diminui- ção de pena, está disposto no § 4º, do art. 33, prevendo que, nos delitos definidos no caput e no § 1º deste art. 33, as penas poderão ser reduzidas de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços), desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. Art. 33 [...] § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste art. 33, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos , desde que o agente seja primá- rio, de bons antecedentes, não se dedique às ativida- des criminosas nem integre organização criminosa 16 Tráfico privilegiado (§ 4º, do art.33) Redução de 1/6 (um sexto) a (2/3 dois terços) Agente primário Bons antecedentes Não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa As atividades criminosas mencionadas não precisam, necessariamente, ter relação com o tráfico de drogas. Os requisitos descritos devem estar presentes cumulativamente, para que seja concedida a redução da pena. Ao contrário do que defende o STJ, o STF possui o entendimento de que a quantidade de drogas, por si só, não é motivo para afastamento da minorante prevista para o tráfico privilegiado. Outro importante entendimento jurisprudencial a ser considerado é a da possibilidade de serem considerados inquéritos policiais ou investigações criminais em andamento, a fim de afastar a aplicação do § 4º ao agente. Tal entendimento colide com o previsto na Súmula nº 444 do STJ, que veda a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena base. Portanto, a regra geral é que não se pode utilizar inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena base. Contudo, quanto ao crime de tráfico de drogas, isto é possível, a fim de afastar a aplicação do privilégio no tráfico de drogas, conforme posicionamento do STJ. A vedação da substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos for declarada incons- titucional pelo STF. A parte do art. que estabelece a vedação teve sua eficácia suspensa pela Resolução nº 5, de 2012, do Senado Federal. Vale notar também que o STF não reconhece a natureza hedionda do tráfico de drogas privilegiado. INSTRUMENTOS DO TRÁFICO DE DROGAS O crime do art. 34 aplica-se às hipóteses de manutenção de instrumentos para preparação da droga (maqui- nários, aparelhos, instrumentos ou qualquer objeto para preparo de drogas). Art. 34 Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guar- dar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabri- cação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar terá uma pena de reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa. Em regra geral, o crime do art. 33 absorve o do art. 34, mas há entendimentos divergentes do STJ neste sentido, considerando a quantidade e situações de maquinários e drogas sob a custódia do agente. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO O crime de Associação para o Tráfico está previsto no art. 35 e consiste na conduta de associarem-se 2 (duas) ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, quaisquer dos crimes previstos no caput e § 1º, do art. 33, e no art. 34. Art. 35 Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa. O art. 288, do Código Penal, prevê o crime de Associação Criminosa. Então, a seguir, disponibilizamos um qua- dro comparativo, a fim de que você não confunda esses institutos: ART. 288 (ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA) DO CÓDIGO PENAL ART. 35 (ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO) DA LEI 11.343/2006 Requisitos: z Pluralidade de agentes (mínimo de 3) z Reunião estável e permanente z Visando à prática de crimes Requisitos: z Pluralidade de agentes (mínimo de 2 agentes) z Reunião estável e permanente z Visando à prática de qualquer dos crimes pre- vistos no caput, § 1º, do art. 33, e no art. 34, ambos da Lei nº 11.343/06 LE IS E X TR A VA G A N TE S 17 Caso os agentes pratiquem o crime de Associação para o Tráfico, responderão, também, pelo crime de Tráfico de Drogas em concurso material. Ressalte-se que não é necessária a consumação do crime de Tráfico de Drogas para que os agentes respondam pela associação. Nas mesmas penas, incorre quem se associa para a prática reiterada do crime de financiamento ou cus- teio das práticas dos crimes previstos no caput e § 1º, do art. 33, e no art. 34, desta Lei (previsto no art. 36). Art. 36 Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1°, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e paga- mento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa. O STF posiciona-se no sentido de que a Associa- ção para o Tráfico não apresenta natureza de crime hediondo. COLABORAÇÃO COMO INFORMANTE O art. 37 criminaliza a conduta de colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados para com a prática de qualquer dos crimes previstos no caput e § 1º, do art. 33, e no art. 34. Aqui, criminaliza-se a conduta da famigerada “mula”. Art. 37 Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa. Este delito comporta um caráter subsidiário, uma vez que se refere aquele agente que praticou uma conduta eventual de auxílio a uma conduta de tráfico de droga. z Exemplo: João está desempregado e seu primo lhe oferece uma quantia paraque ele informe sobre a movimentação quanto ao tráfico de drogas local durante um dia inteiro. João, nesse contexto, pode ser considerado como “mula”, “olheiro”, “infor- mante” etc. Nesta pena incorre, ainda, o policial que sabe de ações de repressões contra o tráfico de drogas e infor- ma aos criminosos. Importante! O STJ posiciona-se no sentido de que o crime do art. 37 absorve o previsto no art. 35. PRESCRIÇÃO OU MINISTRAÇÃO CULPOSA DE DROGAS O art. 38 criminaliza a conduta de prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regu- lamentar, tendo, como pena, a detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e pagamento de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) dias-multa. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Fede- ral da categoria profissional a que pertença o agente. Art. 38 Prescrever ou ministrar, culposamente, dro- gas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determi- nação legal ou regulamentar: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) dias-multa. Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria profissional a que pertença o agente. Trata-se da única modalidade culposa prevista na Lei de Drogas. Caso a conduta seja praticada na modalidade dolosa, o agente incorrerá no crime de Tráfico ilícito de Drogas. O art. 38 consiste em crime próprio, uma vez que só poderá ser cometido por agentes credenciados em determinadas profissões (ex.: médico). CONDUÇÃO DE EMBARCAÇÃO OU AERONAVE SOB O EFEITO DE DROGAS O art. 39 estabelece como crime o ato de condu- zir embarcação ou aeronave após o consumo de dro- gas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem. Art. 39 Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do veículo, cassação da habilita- ção respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa. Parágrafo único. As penas de prisão e multa, apli- cadas cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-multa, se o veículo referido no caput deste art. for de transporte coletivo de passageiros. Este tipo penal não engloba a condução de veículos automotores. Esta conduta possui previsão própria no art. 306, do Código de Trânsito Brasileiro. Se o agente estiver sob efeito de álcool, não há enquadramento no tipo previsto no art. 39. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA O art. 40 estabelece, para os casos elencados, aumento de pena de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois ter- ços). Veja a seguir: Art. 40 [...] I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evi- denciarem a transnacionalidade do delito; II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância; III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensi- no ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou benefi- centes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades milita- res ou policiais ou em transportes públicos; 18 IV - o crime tiver sido praticado com violência, gra- ve ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva; V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federa- ção ou entre estes e o Distrito Federal; VI - sua prática envolver ou visar a atingir crian- ça ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação; VII - o agente financiar ou custear a prática do crime. Para ocorrer a incidência da causa de aumento de pena no que diz respeito aos transportes públi- cos (III), o sujeito ativo deverá comercializar a droga ilícita dentro do transporte; caso ele utilize o meio de deslocamento apenas para ir ao local de destino da comercialização, não é aplicada a causa de aumento de pena, conforme o entendimento pacífico do STF (Supremo Tribunal Federal) e STJ (Superior Tribunal de Justiça). Em contrapartida, em relação aos estabelecimen- tos prisionais, o STJ já decidiu que basta o delito ser realizado nas imediações, não sendo necessário o envolvimento de detento ou de pessoas que se dirigis- sem ao estabelecimento prisional. Caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal, para que ocorra a aplicação dessa causa de aumento de pena, não pre- cisa ocorrer a efetiva transposição da fronteira, de acordo com o HC 122791/MS, REL.MIN DIAS TOFFOLI, 17/11/2015. STF, transcrito a seguir: A incidência da causa de aumento de pena prevista na Lei 11.343/2006 [“Art. 40 As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: (...) V - caracterizado o tráfico entre Esta- dos da Federação ou entre estes e o Distrito Federal”] não demanda a efetiva transposição da fronteira da unidade da Federação. Seria suficiente a reunião dos elementos que identificassem o tráfico interestadual, que se consumaria instantaneamente, sem depender de um resultado externo naturalístico. Veja, ainda, a Súmula 587 do STJ: Súmula 587: Para a incidência ad majorante pre- vista no art. 40, V, da Lei 11.343/06, é desnecessária a efetiva transposição de fronteiras entre estados da federação, sendo suficiente a demonstração inequí- voca da intenção de realizar o tráfico interestadual. A respeito do tráfico internacional de drogas, importa conhecer o conteúdo da Súmula 528 do STJ, o qual estabelece que, nos casos de apreensão de dro- ga a ser remetida ao exterior, a competência para o julgamento do réu será do juiz federal do local da apreensão. Súmula 528: Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do exterior pela via postal processar e julgar o crime de tráfico internacional. No mesmo sentido do tráfico interestadual, no trá- fico transnacional dispensa-se a efetiva transposição de fronteiras para a consumação do delito. Súmula 607: A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei 11.343/06) se configura com a prova da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a transposição de fronteiras. Quanto à causa de aumento de pena em virtude de envolvimento de criança ou adolescente, o STJ posiciona-se no sentido de que, praticada a conduta, a aplicação da causa de aumento prevalece sobre a aplicação da pena prevista no art. 244- B do Estatuto da Criança e do Adolescente que prevê da corrupção de menores. OUTRAS INFORMAÇÕES Delação Premiada O art. 41 prevê a delação premiada, a fim de esti- mular o acusado a fornecer informações aptas a auxi- liarem nas investigações realizadas. Art. 41 O indiciado ou acusado que colaborar volun- tariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do crime e na recuperação total ou par- cial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços. Portanto, caso as informações do acusado sejam realizadas de forma voluntária, ajudem na identifi- cação dos demais autores e haja recuperação total ou parcial do produto do crime, o delator poderá beneficiar-se com a redução da pena de 1/3 (um ter- ço) a 2/3 (dois terços). DELAÇÃO PREMIADA Redução da pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) Voluntária Recuperação total ou parcial do produto do crimeIdentificação dos demais autores da infração
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