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“livro” — 2007/8/1 — 15:06 — page 29 — #39
1. ANÁLISE VETORIAL 29
Exemplo 1.6.2 FORÇA COMO GRADIENTE DE UM POTENCIAL
Como um exemplo especı́fico do precedente e como uma extensão do Exemplo 1.6.1, consideramos as superfı́cies
que consistem em cascas esféricas concêntricas, Figura 1.21. Temos
Figura 1.21: Gradiente para ϕ(x, y, z) = (x2 + y2 + z2)1/2, cascas esféricas: (x2
2 + y2
2 + z2
2)1/2 = r2 =
C2,(x2
1 + y2
1 + z2
1)1/2 = r1 = C1.
ϕ(x, y, z) =
(
x2 + y2 + z2
)1/2 = r = C,
em que r é o raio, igual a C, nossa constante. ∆C = ∆ϕ = ∆r, a distância entre duas cascas. Pelo Exemplo 1.6.1,
∇ϕ(r) = r̂
dϕ(r)
dr
= r̂.
O gradiente está na direção radial e é normal à superfı́cie esférica ϕ = C.
Exemplo 1.6.3 INTEGRAÇÃO DE GRADIENTE POR PARTES
Vamos provar a fórmula
∫
A(r) ·∇f(r) d3r = −
∫
f(r)∇ ·A(r) d3r, em que A ou f ou ambas se anulam no
infinito de modo que as partes integradas são nulas. Essa condição é satisfeita se, por exemplo, A for o potencial
vetorial eletromagnético e f for uma função de onda de estado ligado ψ(r).
Escrevendo o produto interno em coordenadas cartesianas, integrando cada integral unidimensional por partes
e desprezando os termos integrados, obtemos∫
A(r) ·∇f(r) d3r =
∫∫ [
Axf |∞x=−∞ −
∫
f
∂Ax
∂x
dx
]
dy dz + · · ·
= −
∫∫∫
f
∂Ax
∂x
dx dy dz −
∫∫∫
f
∂Ay
∂y
dy dx dz −
∫∫∫
f
∂Az
∂z
dz dx dy
= −
∫
f(r)∇ ·A(r) d3r.
Se A = eikzê descreve um fóton saindo na direção do vetor unitário de polarização constante ê e f = ψ(r) é uma
função de onda de estado ligado que decai exponencialmente, então∫
eikzê ·∇ψ(r) d3r = −ez
∫
ψ(r)
deikz
dz
d3r = −ikez
∫
ψ(r)eikz d3r,
porque somente a componente z do gradiente contribui. �
“livro” — 2007/8/1 — 15:06 — page 30 — #40
30 Fı́sica Matemática Arfken •Weber
Exercı́cios
1.6.1 Se S(x, y, z) = (x2 + y2 + z2)−3/2, ache
(a) ∇ S no ponto (1, 2, 3);
(b) o módulo do gradiente de S, |∇S| em (1, 2, 3); e
(c) os co-senos diretores de ∇S em (1, 2, 3).
1.6.2 (a) Ache um vetor unitário perpendicular à superfı́cie
x2 + y2 + z2 = 3
no ponto (1, 1, 1). Comprimentos em centı́metros.
(b) Derive a equação do plano tangente à superfı́cie em (1, 1, 1).
Resposta: (a) (x̂ + ŷ + ẑ)/
√
3, (b) x+ y + z = 3.
1.6.3 Dado um vetor r12 = x̂(x1 − x2) + ŷ(y1 − y2) + ẑ(z1 − z2), mostre que ∇1r12 (gradiente com
respeito a x1, y1 e z1 da grandeza r12) é um vetor unitário na direção de r12.
1.6.4 Se uma função vetorial F depender de coordenadas espaciais (x, y, z) e também do tempo t, mostre
que
dF = (dr ·∇)F +
∂F
∂t
dt.
1.6.5 Mostre que ∇(uv) = v∇u+ u∇v, em que u e v são funções escalares diferenciáveis de x, y e z.
(a) Mostre que a condição necessária e suficiente para que u(x, y, z) e v(x, y, z) sejam relacionadas
por alguma função f(u, v) = 0 é que (∇u)× (∇v) = 0.
(b) Se u = u(x, y) e v = v(x, y), mostre que a condição (∇u) × (∇v) = 0 resulta no jacobiano
bidimensional
J
(
u, v
x, y
)
=
∣∣∣∣ ∂u
∂x
∂u
∂y
∂v
∂x
∂v
∂y
∣∣∣∣ = 0.
Admite-se que as funções u e v são diferenciáveis.
1.7 Divergência, ∇
A diferenciação de uma função vetorial é uma simples extensão da diferenciação de quantidades escalares. Suponha
que r(t) descreva a posição de um satélite em algum tempo t. Então, para diferenciação em relação ao tempo,
dr(t)
dt
= lim
∆→t
r(t+ ∆t)− r(t)
∆t
= v, velocidade linear.
Graficamente, mais uma vez temos a inclinação de uma curva órbita, ou trajetória, como mostra a Figura 1.22.
Figura 1.22: Diferenciação de um vetor.
Se resolvermos r(t) em suas componentes cartesianas, dr/dt sempre se reduz diretamente a uma soma
vetorial de não mais do que três derivadas escalares (para o espaço tridimensional). Em outros sistemas de
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1. ANÁLISE VETORIAL 31
coordenadas (Capı́tulo 2), a situação é mais complicada, pois a direção dos vetores unitários não é mais constante.
A diferenciação em relação às coordenadas espaciais é resolvida do mesmo modo que a diferenciação em relação
ao tempo, como veremos nos parágrafos seguintes.
Na Seção 1.6, ∇ foi definido como um operador vetorial. Agora, dando atenção às suas propriedades vetoriais
e diferenciais, deixamos que ele opere sobre um vetor. Primeiro, como um vetor, fazemos seu produto escalar por
um segundo vetor para obter
∇ ·V =
∂Vx
∂x
+
∂Vy
∂y
+
∂Vz
∂z
, (1.65a)
expressão conhecida como a divergência de V, que é um escalar, como discutido na Seção 1.3.
Exemplo 1.7.1 DIVERGÊNCIA DE VETOR COORDENADO
Calcule ∇ · r:
∇ · r =
(
x̂
∂
∂x
+ ŷ
∂
∂y
+ ẑ
∂
∂z
)
· (x̂x+ ŷy + ẑz)
=
∂x
∂x
+
∂y
∂y
+
∂z
∂z
,
ou ∇ · r = 3. �
Exemplo 1.7.2 DIVERGÊNCIA DE CAMPO DE FORÇA CENTRAL
Generalizando o Exemplo 1.7.1,
∇ ·
(
rf(r)
)
=
∂
∂x
[
x f(r)
]
+
∂
∂y
[
y f(r)
]
+
∂
∂z
[
z f(r)
]
= 3f(r) +
x2
r
df
dr
+
y2
r
df
dr
+
z2
r
df
dr
= 3f(r) + r
df
dr
.
A manipulação das derivadas parciais que levam à segunda equação no Exemplo 1.7.2 é discutida no Exemplo
1.6.1. Em particular, se f(r) = rn−1,
∇ ·
(
rrn−1
)
= ∇ · r̂rn
= 3rn−1 + (n− 1)rn−1
= (n+ 2)rn−1. (1.65b)
Essa divergência desaparece para n = −2, em r = 0, um fato importante na Seção 1.14. �
Exemplo 1.7.3 INTEGRAÇÃO POR PARTES DA DIVERGÊNCIA
Vamos provar a fórmula
∫
f(r)∇ ·A(r) d3r = −
∫
A ·∇f d3r, em que A ou ou ambas se anulam no infinito.
Para mostrar isso faremos, como no Exemplo 1.6.3, a integração por partes após escrever o produto interno em
coordenadas cartesianas. Como os termos integrados são avaliados no infinito, em que são nulos, obtemos∫
f(r)∇ ·A(r) d3r =
∫
f
(
∂Ax
∂x
dx dy dz +
∂Ay
∂y
dy dx dz +
∂Az
∂z
dz dx dy
)
= −
∫ (
Ax
∂f
∂x
dx dy dz +Ay
∂f
∂y
dy dx dz +Az
∂f
∂z
dz dx dy
)
= −
∫
A ·∇f d3r.
�
“livro” — 2007/8/1 — 15:06 — page 32 — #42
32 Fı́sica Matemática Arfken •Weber
Uma Interpretação Fı́sica
Para desenvolver uma percepção da significância fı́sica da divergência, considere ∇ · (ρv) com v(x, y, z) a
velocidade de um fluido compressı́vel e ρ(x, y, z) sua densidade no ponto (x, y, z). Se considerarmos um pequeno
volume dx dy dz (Figura 1.23) em x = y = z = 0, o fluido que escoa por esse volume por unidade de tempo
(direção x positiva) pela face EFGH é (taxa de fluxo em) EFGH = ρvx|x=0 = dy dz. As componentes do fluxo
ρvy e ρvz tangenciais a essa face nada contribuem para o fluxo através dessa face. A taxa de fluxo de saı́da (ainda
na direção x positiva) pela face ABCD é ρvx|x=dx dy dz. Para comparar esses fluxos e achar o fluxo lı́quido de
saı́da, expandimos esse último resultado, como a variação total na Seção 1.6.15 Isso resulta
Figura 1.23: Paralelepı́pedo retangular diferencial (no primeiro octante).
(taxa de fluxo de saı́da)ABCD = ρvx|x=dx dy dz
=
[
ρvx +
∂
∂x
(ρvx) dx
]
x=0
dy dz.
Aqui, o termo da derivada é um primeiro termo de correção, que leva em conta a possibilidade de densidade não-
uniforme ou velocidade não-uniforme ou ambas.16 O termo de ordem zero ρvx|x=0 (correspondente a um fluxo
uniforme) é cancelado:
Velocidade lı́quida de fluxo de saı́da|x =
∂
∂x
(ρvx) dx dy dz.
De modo equivalente, podemos chegar a esse resultado por
lim
∆x→0
ρvx(∆x, 0, 0)− ρvx(0, 0, 0)
∆x
≡ ∂[ρvx(x, y, z)]
∂x
∣∣∣∣
0,0,0
.
Agora, o eixo x não está recebendo nenhum tratamento preferencial. O resultado precedente para as duas faces
perpendiculares ao eixo x deve valer para as duas faces perpendiculares ao eixo y, com x substituı́do por y e a
mudanças correspondentes para y e z: y → z, z → x. Essa é uma permutação cı́clica das coordenadas. Mais
uma outra permutação cı́clica dá o resultado para as duas faces restantes de nosso paralelepı́pedo. Adicionando a
velocidade de fluxo lı́quida para todos os três pares de superfı́cies de nosso elemento de volume, temos
Fluxo lı́quido
(por unidade de tempo) =
[
∂
∂x
(ρvx) +
∂
∂y
(ρvy) +
∂
∂z
(ρvz)
]
dx dy dz
= ∇ · (ρv) dx dy dz. (1.66)
15Aqui, temos o incremento dx e mostramos que umaderivada parcial em relação a ρvx também pode depender de y e z.
16Em termos estritos, ρvx representa sobre a face EFGH e, de modo semelhante, a expressão ρvx+(∂/∂x)(ρvx) dx representa uma média
sobre a face ABCD . Usando um volume diferencial arbitrariamente pequeno, constatamos que as médias se reduzem aos valores empregados
aqui.
“livro” — 2007/8/1 — 15:06 — page 33 — #43
1. ANÁLISE VETORIAL 33
Por conseguinte, o fluxo de nosso fluido compressı́vel que escoa do elemento de volume dx dy dz por volume
unitário por unidade de tempo é ∇ · (ρv). Daı́ o nome divergência. Uma aplicação direta é na equação de
continuidade
∂ρ
∂t
+ ∇ · (ρv) = 0, (1.67a)
que afirma que um fluxo lı́quido que escoa do volume resulta em uma diminuição densidade dentro do volume.
Note que, na Equação (1.67a), ρ é considerada uma possı́vel função de tempo, bem como do espaço. A divergência
aparece em uma grande variedade de problemas fı́sicos, abrangendo desde uma densidade de probabilidade de
corrente em mecânica quântica até vazamento de nêutrons em um reator nuclear.
A combinação ρ(x, y, z, t) na qual f é uma função escalar e V é uma função vetorial, pode ser escrita
∇ · (fV) =
∂
∂x
(fVx) +
∂
∂y
(fVy) +
∂
∂z
(fVz)
=
∂f
∂x
Vx + f
∂Vx
∂x
+
∂f
∂y
Vy + f
∂Vy
∂y
+
∂f
∂z
Vz + f
∂Vz
∂z
= (∇f) ·V + f∇ ·V, (1.67b)
que é exatamente o que esperarı́amos para a derivada de um produto. Note que ∇ como um operador diferencial
distingue ambas, f e V; como um vetor, ele é multiplicado escalarmente por V (em cada termo).
Se tivermos o caso especial da divergência que se anula de um vetor a zero,
∇ ·B = 0, (1.68)
diz-se que o vetor B é solenoidal. O termo solenoidal vem do exemplo no qual B é a indução magnética e a
Equação (1.68) parece com uma das equações de Maxwell. Quando um vetor é solenoidal, ele pode ser escrito
como o rotacional de um outro vetor conhecido como o potencial vetorial. (Na Seção 1.13 calcularemos esse
potencial vetorial.)
Exercı́cios
1.7.1 Para uma partı́cula que se movimenta em uma órbita circular, r = x̂r cosωt+ ŷrsen ωt,
(a) avalie r× ṙ, com ṙ = dr
dt = v.
(b) Mostre que r̈ + ω2r = 0 com r̈ = dv
dt .
O raio r e a velocidade angular ω são constantes.
Resposta: (a) ẑωr2.
1.7.2 O vetor A satisfaz a lei de transformação vetorial, Equação (1.15). Mostre diretamente que sua
derivada em relação ao tempo dA/dt também satisfaz a Equação (1.15) e é, portanto, um vetor.
1.7.3 Mostre, por diferenciação das componentes, que
(a) d
dt (A ·B) = dA
dt ·B + A · dBdt ,
(b) d
dt (A×B) = dA
dt × B + A × dB
dt , exatamente como a derivada do produto de duas funções
algébricas.
1.7.4 No Capı́tulo 2 veremos que os vetores unitários em sistemas de coordenadas não-cartesianos
usualmente são funções das variáveis coordenadas, ei = ei(q1, q2, q3) e |ei| = 1. Mostre que
∂ei/∂qj = 0 ou ∂ei/∂qj é ortogonal a ei.
Sugestão: ∂e2
i /∂qj = 0.
1.7.5 Prove que ∇ · (a× b) = b · (∇× a)− a · (∇× b).
Sugestão: Trate como um produto escalar triplo.
1.7.6 O campo eletrostático de uma carga pontual q é
E =
q
4πε0
· r̂
r2
.
Calcule a divergência de E. O que acontece na origem?