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Guitarra Clá
 
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Carlos A
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Madeira
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Núúmero 6 – No
	1
 
ovembro 2011
1	
1   
Guitarra Clássica  	2	
 
Editorial: 
 
 
O  novo  número  da  Revista  Guitarra  Clássica  inclui  uma  entrevista  com  Thomas Müller‐Pering, 
reconhecido  guitarrista  e  pedagogo.  Professor  na  Hochschüle  Franz  Liszt  em Weimar,  Thomas 
Müller‐Pering analisa a situação artística contemporânea, com e sem a luz das seis cordas.  
A entrevista a um guitarrista português é dedicada a um dos mais activos e destacados intérpretes 
nacionais ‐ André Madeira. 
Adicionalmente,  contamos  com  um  artigo  sobre  um  dos  principais  precursores  da  guitarra  em 
Portugal –  José Duarte Costa  (convido‐vos  já agora a  ver o  vídeo de Duarte Costa  existente no 
YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=6OmSr028j_I  [A Caixa  ‐ Classical Guitar Dialogue & 
Avé Maria Schubert] – uma bela homenagem do Mestre Manoel d’Oliveira no seu filme “A Caixa”). 
A  sempre excelente análise de Tiago Cassola Marques  foi desta vez dedicada ao novo disco de 
Ulisses Rocha – Só. Francisco Franco continua a apresentar‐nos os luthiers nacionais na sua crónica 
Luthier.pt.  
Os  nossos  agradecimentos  especiais  a  Sérgio  Azevedo  que  nos  honrou  com  uma  obra  sua 
publicada  na  Revista.  Agradecemos  igualmente  a  Aires  Pinheiro  pela  importante  colaboração 
nesta edição. 
Pedro Rodrigues / João Henriques 
 
 
Índice: 
Entrevista a Thomas Müller‐Pering                                                                                                                           3 
Entrevista a André Madeira                           12 
Novas Gravações                               17 
José Duarte Costa                             19 
Luthier.pt                               25 
Páginas com Música                              29  
 
 
 
Equipa:  Sérgio  Azevedo,  Francisco  Franco,  João  Henriques,  
Tiago Cassola Marques, Aires Pinheiro, Pedro Rodrigues, Alba López Sánchez, 
Guitarra Clássica 3 
 
Entrevista a Thomas Müller-Pering 
Por Alba López Sánchez 
 
Outubro. Cada dia anoitece mais cedo. Depois de deixar para trás o enorme edifício da Universidade de 
Música, dirijo-me às vivendas do lado. A vista desta ladeira é formosa, podendo ver todas as ruas e luzes 
da cidade de Weimar. Sem me dar de conta, perdi-me; a última vez que aqui estive era de dia e verão. 
Decido telefonar para avisar que estou atrasada pela obscuridade do outono. Prof. Müller-Pering 
orienta-me do outro lado do telefone. Perfeito! Já vejo a casa! Dentro, uma atmosfera acolhedora e 
familiar, que convida a conversar sem apreensão. Durante uma hora e meia, ele mostra o seu lado mais 
comprometido com a guitarra clássica. Preocupado com a situação da cultura, da música clássica em 
concreto, no ar solta perguntas retóricas, de complicada resposta, mas que albergam uma busca à 
solução do incipiente descenso cultural que estamos a viver. No entanto, apesar da seriedade das nossas 
críticas na conversação a sensação é positiva, sobretudo porque ainda contamos com pessoas do nível 
musical, intelectual e humano do guitarrista Thomas Müller-Pering; temos que achar o caminho de volta 
quando nos desviamos demasiado do nosso objectivo estético e sério da música. 
Aqui vai a nossa conversa, que convida à reflexão pessoal e também a aprofundar a trajectória deste 
músico alemão, professor na HFM Franz Liszt em Weimar. 
Alba López Sánchez: Acaba de chegar de um seminário no sul, perto de Munique. Antes disso foi membro 
do júri no concurso internacional Michael Pittaluga e neste momento de volta às aulas em Weimar. 
Como consegue sobreviver a uma agenda tão exigente? 
Thomas Müller-Pering: Não é todo o ano assim. No verão, 
sim, estou muito ocupado, com muitas viagens, recitais, 
música de câmara, seminários, masterclasses... O problema 
é quando há que combinar numa mesma semana aulas e 
concertos, porque no final da semana estás esgotado. 
A.L.S: Não tem nenhum segredo? O que o ajuda a se 
concentrar? 
T.M.P: A verdade é que não há segredo. Eu penso que a 
experiência e o trabalho mental ajudam um pouco. Quando 
já não tenho a possibilidade de estudar em nenhum dia, 
mantenho o trabalho mental como preparação, já que os 
dedos estudaram muito durante muitos anos e às vezes é 
preciso desenvolver ideias ou intuições. Eu creio que às vezes é muito mais simples desenvolver conceitos 
musicais sem o instrumento nas mãos, porque com o instrumento aparecem limitações técnicas, de esforço 
e energia física. Com vinte anos é possível estudar mais de cinco - seis horas por dia, mas com cinquenta 
anos já não podes; então pelo menos uma parte da preparação deve ser independente do instrumento. 
A.L.S: Aconselha aos estudantes preparar as obras sem o instrumento? 
T.M.P: Como uma parte do trabalho sim; por exemplo, memorizar uma secção, desenvolver uma digitação 
ou uma interpretação clara ou convincente sem as limitações técnicas do instrumento. 
Guitarra Clássica 4 
 
A.L.S: Como ganhador do concurso Viña del Mar (Chile) em 1983, considera-se um defensor dos 
concursos como ferramenta de descoberta de novos intérpretes? 
T.M.P: É um assunto complexo. Há duas posições. Um aspecto é que eu penso que não é possível começar 
uma carreira sem fazer concursos, já que talvez os concursos sejam o único cenário que os jovens tenham 
para se apresentar a um público internacional. É possível apresentar-se na nossa cidade de origem, mas lá 
toda a gente diz “muito bom!”, mas como chegamos a outros países e públicos sem a apresentação e 
participação num concurso? 
Ao mesmo tempo eu penso que os concursos são uma coisa horrorosa porque é muito difícil fazer uma 
comparação entre 20-25 artistas em diferentes parâmetros. Alguns parâmetros são: a técnica, a limpeza, a 
fidelidade em relação à partitura, a precisão da leitura, da interpretação, a velocidade, a qualidade de som 
ou de expressão. Também é importante o conhecimento do estilo, para que tudo não soe da mesma 
maneira; eu não entendo como um artista pode interpretar de igual modo Albéniz e Ginastera porque cada 
música tem um ambiente e uma atmosfera musical, uma tradição estética muito diferente, uma dimensão 
sem a qual não pode ser convincente. Na minha opinião o resultado final da maioria dos concursos é 
decidido pela segurança técnica. Normalmente ganhará o intérprete que se apresente com a técnica mais 
limpa e veloz, e penso que é muito mais difícil para um artista com muita personalidade vencer o concurso. 
Como se destacar para conseguir alcançar a final? Há várias opções como já disse (segurança técnica, 
limpeza...) ou também um gosto muito particular, som excelente ou precisão do tratamento de estilo, mas 
quase sempre o mais vitorioso é o virtuosismo e isso é-me difícil de aceitar; não tenho nada contra o 
virtuosismo, mas incomoda-me que às vezes a expressão se desvalorize em favor do virtuosismo. 
A.L.S: Eu, como ouvinte de vários concursos internacionais, tenho notado em alguns casos um 
afastamento dos novos intérpretes do som como parte integrante da musicalidade. Quiçá é apenas uma 
mudança estética na procura de um som mais oco, directo, mais virtuoso e explosivo, mas eu penso que 
se perde a essência do som. Você, e os seus alunos, destacam-se por ter um som cuidado, profundo, com 
corpo... O que é que você opina sobre esta mudança na qualidade de som, ou da mudança estética? 
T.M.P: Eu penso que alguns dos participantes procuram o êxito através de um impacto de volume, de 
intensidade, de velocidade... Aspectos técnicos, porque a sensação final é mais acessível, muito mais 
vantajoso apresentar-se como virtuoso porque toda a gente vai entender e pelo menos aceitá-lo como um 
virtuoso. 
 
A.L.S: O som foi sempre tido em conta dentro da técnica, mas penso que actualmente em alguns casos o 
temos esquecido.Por exemplo, num concurso de quartetos de corda, o júri valoriza o som do conjunto, 
noutros agrupamentos de música de câmara é o mesmo, em piano também... Mas, com a guitarra, agora, 
dão menos valor ao som e olhamos muito mais para a velocidade de uma escala ou quão rápido se 
interpreta o quarto andamento da Sonata de Antonio José, do que o que foi alcançado em termos de 
cores na interpretação do segundo ou terceiro andamento. 
T.M.P: Sim, certo. 
A.L.S: Não estará a acontecer uma mudança estética? 
T.M.P: Quiçá poderá ser por uma inflação de concursos. Na minha opinião há demasiados concursos. Existe 
uma geração de guitarristas jovens que quase só vive como concorrentes; vão de concurso em concurso, 
Guitarra Clássica 5 
 
ganhando prémios e desse modo ganhando mais dinheiro que um concertista em tournées normais. Mas 
ao chegarem aos 30-35 anos de idade eles poderão ter de mudar de vida de um dia para o outro. Creio que 
agora se está a procurar a funcionalidade da técnica, que por sua vez domina a estética, e não a cultura, 
que é o que deveria acontecer; Isso também me incomoda. Para mim a estética do som é a alma da 
guitarra, timbres, cores... Isso é o que me atraiu à guitarra e não a velocidade ou o virtuosismo. Não é que 
não goste de virtuosismo, gosto muito, mas a música não é só isso e às vezes é o único factor que se mostra 
ou o que se procura. Há secções na música que precisam de expressão, sensibilidade, equilíbrio e muitas 
vezes não se tem isso em conta. Isso deixa-me triste. 
Mas tenho de dizer que penso que actualmente o nível dos jovens é excelente, só me doe o coração o 
elevado preço que pagamos ao centrar a nossa atenção no virtuosismo. Considero que é mais importante o 
ambiente com virtuosismo, mas temos que oferecer a poesia da guitarra, porque sem a poesia não vejo 
nenhum futuro, nenhum porvir para o nosso instrumento. 
AL.S: Imagino que a sua ideia estética do som 
mudou com o passar do tempo… De que modo? 
T.M.P: Talvez a estética não, mas sim a técnica de 
como obtê-la. Quando estava a estudar, eu tinha 
preferência por uma pulsação em apoiando, muito 
presente na Alemanha e na Áustria, devido à 
escola de Karl Scheit em Viena e de Lagoya e Presti 
em Paris. Mais tarde na minha carreira, na etapa 
com projecção internacional, escolhi o tirando. 
A.L.S: É fiel a alguma guitarra, luthier, madeira…? 
T.M.P: Eu prefiro o som da guitarra de Mathias 
Damman, com qual toco desde há já 12 anos, mas 
é uma questão de gosto. Antes tocava com uma 
guitarra do americano Robert Ruck, e também 
durante muitos anos com uma guitarra de Yuichi 
Imai. Gosto muito das suas guitarras, mas não me 
posso permitir a ter mais de duas ou três guitarras. 
Com três crianças é o suficiente. (Risos...) 
A.L.S: Alguma delas é clássica-romântica? 
T.M.P: Não, a guitarra clássico-romântica que toco 
pertence ao arquivo da Hochschule für Musik Franz Liszt. 
A.L.S: Muitos parabéns pelo disco Tangos y Historias, gravado na HFM Weimar no ano de 2006 com o 
Prof. Eichhorn. Penso que tanto o repertorio, as transcrições escolhidas e também o som, convertem-no 
num dos discos de violino e guitarra mais elegantes, musicais e profissionais que tenho ouvido. Tem 
algum outro projecto discográfico programado com o violinista Eichhorn? 
T.M.P: Neste momento não. Gostaria muito; eu desfruto muito com a música de câmara, não só com flauta 
ou violino mas também com o repertorio a duas e quatro guitarras. A sensação de trabalho com ensemble é 
Guitarra Clássica 6 
 
muito mais divertida, há muita mais comunicação que tocando como solista, em que 99,9 % do trabalho é 
feito sozinho. 
A.L.S: Desfruta mais da música de câmara do que o repertório a solo? 
T.M.P: Não mais, mas encanta-me a variabilidade que há em tocar também música de câmara. 
A.L.S: Qual é a sua combinação preferida em termos de música de câmara, guitarra-flauta, guitarra-
violino? 
T.M.P: É uma pergunta difícil de responder. Ambos os repertórios são do meu agrado, penso que são 
incríveis. Outra combinação muito elegante e formosa é a de guitarra e violoncelo, mas não existe tanto 
repertorio. É-me difícil responder à pergunta porque não posso separá-la do aspecto pessoal de tocar com 
colegas e amigos. Foi um prazer enorme tocar com Friedemann Eichhorn. O disco foi gravado na sala 
principal da HFM Franz Liszt, no centro da sala, não no palco, onde a acústica é incrível. Além disso, 
pudemos gravar com uma equipa de som de excelente qualidade. 
 
Do mesmo ano que o disco Tangos y Historias é o disco intitulado Circulo Mágico com a flautista Wally 
Hase, que é uma colega excelente e uma grande amiga. Inclui também a História do Tango e peças de Celso 
Machado, Ernesto Cordero, Maurice Ravel e Sérgio Assad. A diferença entre as duas gravações foi a 
acústica da sala. Com a flauta gravámos num estúdio em Ludwigsburg, perto de Estugarda, com um 
ambiente artificial e muito seco para os instrumentos, mas ao incluirmos o eco electrónico a gravação ficou 
perfeita. 
A.L.S: No que diz respeito ao repertório a solo, qual é o repertório com o qual se sente mais cómodo ou 
identificado? 
T.M.P: Eu sinto-me mais cómodo com aquelas obras bem preparadas (Risos…) umas vezes é com repertório 
romântico ou transcrições, outras vezes repertorio barroco... Na passada sexta-feira toquei um repertorio 
muito novo ou que levava anos sem tocar. O Grande Solo e a Ciaconna, que não tocara há anos, uma obra 
de um guitarrista russo Konstantin Vassiliev, obra que me foi dedicada e de que gosto muito, sendo 
caracterizada pela sua scordatura. Na segunda parte interpretei varias obras de M. Llobet, algumas das 
suas canções e a Mazurca. Gosto muito de Llobet; no ano passado toquei as obras originais Mazurca, 
Romanza e a Respuesta (uma obra muito particular pela mistura de trémulo e harpejos). 
A.L.S: Llobet um compositor muito complexo. Não lhe parece? 
T.M.P: Estou certo de que Llobet tinha umas mãos incríveis, muito grandes em proporção com o seu físico 
em geral e suponho que a sua mão esquerda era uma maravilha, algo excepcional, por isso é que ele 
escreveu coisas impossíveis. Um exemplo é a Mazurca em Si bemol maior. 
Para concluir o concerto, toquei a Sonata de Antonio José, que nunca até agora tivera preparado. A obra, 
no seu conjunto, não me agravada muito; fui sempre da opinião que os três primeiros andamentos eram 
uma maravilha, mas o último sempre me pareceu uma solução rápida, tão só como recapitulação; eu 
gostaria de ideias ou temas novos nesse andamento, algo um pouco mais consequente; no entanto, agora 
ao estudar e tocá-lo, gosto, porque aparecem fragmentos amáveis que só escutando não se podem 
Guitarra Clássica 7 
 
apreciar com a mesma intensidade. Eu estudei seguindo o manuscrito da segunda edição de 
Gilardino/Iznaola. 
A.L.S: Quais são seus projectos para um futuro próximo? Alguma nova gravação? 
T.M.P: Eu gostaria de gravar muita música, mas falta-me tempo; mais, não tenho nenhuma companhia 
discográfica a quem propor um projecto. Ficaria encantado por gravar um dia toda a obra de Takemitsu, 
Henze, Piazzolla ou mesmo quem sabe todas as sonatas de Bach ou também uma apresentação da guitarra 
a princípios do século XX (Martin, Antonio José, Manuel de Falla, Ponce...) 
A.L.S: Em muitos âmbitos, não só musical, fala-se de uma mudança no interesse cultural, uma procura 
mais superficial do entretenimento, o que afecta de forma directa a música clássica, que sempre foi 
considerada música para “minorias”. Como é afectada a guitarra nessa crise cultural e económica? 
T.M.P: Esta questão leva-nos a muitos aspectos 
aos jovens artistas, os quais tem preferências 
pelos concursos, essa orientação a um repertório 
mais técnico e passível de êxito em palco. Eu 
gosto muito do repertorio de Leo Brouwer ou da 
Sonata de Ginastera, mas ouvimo-las e 
comparamos sempre em concursos. Por exemplo, 
em Alessandria houve três opções para o concertofinal. Uma delas foi o concerto de Tedesco (que 
ninguém escolheu), Mauro Giuliani (op.30) ou o 
Concerto Elegíaco de Leo Brouwer. Este último é 
muito mais impressionante, mas no entanto eu 
penso que o Giuliani é três vezes mais difícil, mais 
transparente, sensível e perigoso. É muito difícil 
comparar; a mesma situação em violino, seria 
comparar um concorrente tocando Mozart e 
outro tocando Shostakovich ou Bartók, são 
tecnicamente muito difíceis, mas apresentar 
musicalmente o concerto de Mozart é na minha 
opinião muito mais complicado. 
No que diz respeito ao aspecto económico a 
situação é difícil. Não sei realmente o que 
acontecerá com a guitarra clássica e com a música 
clássica em geral. Penso que é demasiado fácil na actualidade encontrar uma gravação: já não é preciso 
procurar em catálogos, consulta-se no YouTube. O problema é que nós vamos escutar 20 ou 30 segundos 
de uma interpretação e somos levados a pensar que já conhecemos a obra ou a qualidade do artista. No 
meu tempo não tínhamos CD; para mim o normal era escutar o meu vinil preferido do princípio ao fim, sem 
pausa. Agora é demasiado simples parar e mudar de artista, entre um artista da Argentina, um da China ou 
um italiano. Os estudantes usam essas gravações para estudar... 
Guitarra Clássica 8 
 
A.L.S: Na minha opinião isso é um reflexo do problema social que temos neste momento. Penso que a 
internet e a possibilidade de fazer uma cópia rápida de qualquer coisa (livros, CDs...) significam que o 
objecto físico perde o seu valor porque pode ser multiplicado exponencialmente. 
T.M.P: Sim, o objecto físico tem vindo a ser substituído. 
A.L.S: Isso às vezes vai unido de certa maneira as relações pessoais, há muitas mais relações superficiais. 
A minha sensação é que o excesso de informação gera um não saber seleccionar. Antes havia quatro 
grandes guitarristas que nós considerávamos uma referência pela sua carreira, mas agora são muitos os 
artistas que gravam um disco porque é barato. 
T.M.P: Sim, além disso agora o editar com um resultado quase perfeito é muito simples. No meu parecer é 
muito difícil para um jovem desenrolar um gosto intelectual e sério nestes momentos. Cada pessoa tem um 
gosto, mas esse gosto tem que poder ser justificado perante a pergunta: porque gostas ou não gostas? É 
preciso a experiência e a tradição cultural, já que o gosto não consiste só nas preferências individuais, mas 
é o resultado da conexão entre a tradição, a educação, a inteligência e a qualidade. Sem todos esses 
ingredientes não creio que exista um gosto “justificado”. 
Voltando ao aspecto do som, poderia ser que o gosto ou a preferência actual fosse um pouco diferente, 
pesando muito mais a funcionalidade e a velocidade da sensação. 
A.L.S: Comparando com a literatura, há muitos livros que demoram anos a serem conhecidos, e outros no 
entanto, convertem-se em best-sellers, em bons livros de verão, funcionais, porque conseguem que 
passemos uma boa tarde, mas no fundo não dizem nada à pessoa. 
T.M.P: Passar o tempo sem esforço… 
A.L.S: Mas realmente esse livro é funcional, cumpre a função de entreter. 
T.M.P: Sim, mas não é difícil de compreender, não é preciso cultura nem gosto para desfrutá-lo e penso 
que é o mesmo no que diz respeito à sonoridade da guitarra. Para mim, o tema do som não é central, mas, 
sim é importante. É muito mais difícil tocar uma obra com uma qualidade e consistência de valor no som, 
com equilíbrio, de acordo com o seu estilo, bom gosto, sentido melódico, afinação, entoação e expressão. 
Mas esse ideal de som pode ser um obstáculo para uma execução com êxito. 
A.L.S: A sua agenda tem sido afectada por cortes económicos nos programas culturais? Está a guitarra em 
crise? 
T.M.P: Na Alemanha também há cortes económicos, mas não tanto como em outros países. Aqui sempre 
existiu a necessidade de patrocinadores, e é com eles onde agora há mais problemas. Como disse em 
relação aos concursos, penso que há demasiados festivais de guitarra; quase cada vila tem o seu durante o 
verão e creio que é demasiado. E quase todos têm um concurso! Quase todos se sustentam com os 
concursos, já que ao oferecer essa opção resultam num projecto muito mais atractivos do que se só 
incluíssem masterclasses e concertos. Eu compreendo muito bem o motivo, mas a maioria dos concursos 
não tem um repertorio obrigatório, então podes apresentar-te em todos os concursos com o mesmo 
repertorio, pelo que o júri escuta sempre o mesmo e a guitarra entra num “círculo diabólico” porque não 
existe nenhum desenvolvimento, nenhuma exploração no que diz respeito às obras; é como um gueto, tem 
muito de endogamia, já que nunca há opções para incluir coisas novas, ou de respeitar obras complexas. O 
único interesse é oferecer obras "vencedoras". 
Guitarra Clássica 9 
 
Para o concurso de Markneukirchen, eu tive que seleccionar um repertorio muito exigente. O repertorio de 
violoncelo incluía, por exemplo, dois ou três concertos com orquestra (Haydn ou Boccherini) e na final o 
concerto de Dvorak, uma suíte de Bach, uma sonata de Beethoven, muita música... Para a guitarra clássica 
tentou-se algo comparável, mas não tanto. O repertorio era difícil, mas só catorze guitarristas se 
apresentaram sendo que na convocatória de violoncelo houve entre sessenta e setenta (houve umas 120 
inscrições). Essa situação pareceu-me algo muito típica do mundo da guitarra! Há uma nova geração de 
guitarristas que gosta muito de estudar e de se apresentar em concursos, mas não lhes apetece trabalhar 
obras novas ou menos “vencedoras” e quem sabe menos acessíveis (tanto para o artista como para o 
publico em geral). Não podemos seguir reiterando sempre no mesmo caminho, porque por esse motivo 
muitas boas obras ficam no desconhecimento. 
A.L.S: Isso está ligado à sociedade actual; se calhar passamos de um nível de intelectualismo a um de 
ignorância em muitos aspectos. 
T.M.P: É tudo a mesma sensação. 
A.L.S: Há poucas semanas li um artigo que dizia que vivemos na sociedade que mais informação, acesso 
cultural e educativo tem, mas pouco crítica e bastante manipulável. 
T.M.P: De que modo vamos 
sobreviver? Como sobrevive a 
cultura? A única coisa que domina 
todos os aspectos é o comércio e 
ao mesmo tempo é a necessidade 
de substituir pessoas e modas... Por 
exemplo, não sei em Portugal, mas 
aqui na Alemanha temos muitos 
programas de concursos de 
talentos, onde os jovens se 
apresentam com o sonho de fama e 
publicidade e às vezes funciona, de 
jeito excepcional, por casualidade, 
mas normalmente os programas 
não têm nenhum interesse em 
ajudar e no final dum programa ou 
sessão já acabou o teu momento. 
Afinal sempre há um vencedor mas 
nesse momento começou outro 
novo concurso num outro programa. Não é importante quem ganhará, mas sim a evolução da onda da 
moda. E com a música é algo parecido; já não tem importância a eterna personalidade, é só o momento 
para ser um êxito durante um curto período de tempo. Parece-me impossível manter uma autoridade 
permanente, já que tudo é um movimento de modas em contínua substituição. 
A.L.S: Pensa que o artista se deve então adaptar à procura estética? Pergunto isto por que há uma 
semana vi um disco de grandes êxitos da música clássica para piano do pianista Lang-Lang. Na frente do 
CD aparecia vestido como um condutor de motocicleta. Resulta numa acção chamativa agora que nos 
catálogos de música clássica vejamos imagens de promoção muito próximas ao mercado pop. 
Guitarra Clássica 10 
 
T.M.P: Não penso que seja o gosto ou a ideia própria dos artistas, mas eles são um produto sob influência 
dos produtores, o que é terrível. Lang-Lang é um produto da sua companhia discográfica, toca muito bem, 
mas ele é um produto, é negócio, comércio... E isso é uma parte muito dominante para fazer carreira. Essa 
é uma situação gerada pelo nosso tempo. Tomemos como exemplo a pessoa de Andrés Segovia.No seu 
tempo era muito mais importante fazer gravações e concertos em vivo, mas não vídeos, não existia o 
YouTube, nem fotografias com um estilo extravagante. Um Segovia de estética pop era algo impensável, 
mas no nosso tempo parece mais importante que os demais aspectos. 
A.L.S: Às vezes eu tenho a sensação de que se houvesse um grupo de guitarristas ocos quanto à 
personalidade… 
T.M.P: É o mesmo que falamos em relação aos 
concursos, porque talvez a única coisa que tem 
importância é o êxito rápido e para isso é preciso 
interpretar o repertório mais prometedor para 
ganhar. É muito mais prometedora a Sonata de 
Ginastera que a de Fernando Sor, mas 
musicalmente não é mais difícil, é tão só um 
objectivo técnico e físico, mas com as duas obras 
competindo num concurso, o repertório clássico 
não tem oportunidade... hum... Então, por que 
tocar música seria? Outro exemplo é a 
Homenagem a Debussy de Manuel de Falla, uma 
grande obra, mas num concurso... Dirão: “Oh! Que 
fácil! Que aborrecido!” Esse é o momento da 
morte da cultura. Talvez eu seja demasiado crítico. 
O problema é que não estamos a falar só de 
guitarristas com ou sem personalidade, estamos a 
falar sobre o futuro da guitarra, da sua aceitação 
dentro do mundo da música e da sua reputação, 
que está em decrescendo. Há 30- 40 anos atrás a guitarra estava muito mais valorizada por outros 
instrumentistas e penso que agora estamos baixando. A guitarra é de novo a guitarra popular, como 
instrumento de acompanhamento, mas e a guitarra clássica? 
 
 
Guitarra Clássica 11 
 
Thomas Müller-Pering em breve: 
Thomas Müller-Pering nasceu em Colónia (Alemanha) em 1958. Estuda entre 1975 e 1980 com o Prof. 
Tadashi Sasaki. Em 1983 ganha o primeiro prémio no Concurso Internacional de Ejecución Musical em Viña 
del Mar (Chile). É professor na HFM Franz Liszt Weimar desde o ano de 1997. Tocou recitais e deu 
masterclasses em todo o mundo, tanto como solista como em música de câmara, destacamos as suas 
gravações com Manuel Barrueco (guitarra), Friedemann Eichhorn (violino) e Willy Hase (flauta), estas 
últimas editadas no ano de 2007. 
Discografia: 
Solo: Gitarren von Richard Jacob Weißgerber. Obras de Manuel de Falla, Francis Poulenc, Joaquín Rodrigo, 
Miguel Llobet, Augustín Barrios Mangoré e Astor Piazzolla. CD Raumklang RK 2006 
Música de Câmara 
Falla/Granados. Manuel Barrueco/ Thomas Müller-Pering (2. Guitarra) EMI Classics (1993/1997) 
Romanzen. Hector Berlioz. C. Sonne-Blücklers (tiple), Wally Hase (flauta) e Thomas Müller-Pering (guitarra) 
2003 Audiomax. 
Lyric Pieces for flute and guitar. Wally Hase e Thomas Müller- Pering. 2002 Diapason. 
Anton Diabelli. Guitar Dúos. Johannes Tappert/Thomas Müller-Pering. MDG records 
Circulo Magico. Wally Hase e Thomas Müller- Pering. Flauta e guitarra. 2007 ANIMATO. 
Tangos y historias. Friedemann Eicnhhorn e Thomas Müller-Pering. Hännsler Classics 2007. 
Guitarra Clássica 12 
 
Entrevista a André Madeira 
por Pedro Rodrigues 
 
R.G.C. – Estimado André, comece por nos contar como começou a estudar música. 
André Madeira - Apesar de os meus pais não 
serem músicos de profissão sempre foram 
amantes da música cuja presença era 
constante na minha casa, na verdade o meu 
pai é intérprete de fados de Coimbra e a 
minha mãe aficionada pela música do Brasil, 
seu país de origem. Neste contexto, desde 
muito pequeno até à adolescência, cantava 
muito para a família e amigos e por volta dos 
dez anos de idade comecei o estudo de 
solfejo. A guitarra surge na minha vida 
apenas aos quinze anos de idade quando 
assisti ao primeiro recital. A paixão foi 
imediata e comecei o seu estudo com muito 
afinco e dispensando todo o meu tempo fora 
da escola para ela. Ao fim de um ano de 
estudo tinha muito esclarecido que queria 
ser guitarrista de profissão e daí a dois anos 
entrei na Licenciatura em Ensino da Música 
da Universidade de Aveiro para estudar com 
Paulo Vaz de Carvalho. Este foi um período muito intenso da minha carreira. 
R.G.C. - Estudou em diversos países com grandes músicos. Fale-nos desta experiência e do que representou 
para si a possibilidade de estudar no estrangeiro. 
A.M. - Contrariamente ao que era de esperar, sucedeu-se à entrada no ensino superior um período de 
dispersão, desmotivação e descrença na possibilidade de vir a ser um Concertista. Surgiram nessa fase 
outros interesses pessoais a que se somaram dois acidentes que me lesionaram o braço direito. Precisava 
então de um objectivo maior que me motivasse e concentrasse e tomei a decisão de estudar no 
estrangeiro. Paulo Vaz de Carvalho ajudou-me neste processo entrando em contacto com Roberto Aussel 
Guitarra Clássica 13 
 
que me ouviu e aceitou como aluno de Erasmus na Musikhochschüle Köln, seguiu-se a passagem nos pré-
requisitos e o “Diplom Künstlerich Instrumentausbildung”. mAí comecei a minha corrida contra o tempo, 
em que me mantenho e espero manter, investindo incondicionalmente todo o meu tempo na guitarra. De 
facto, estudar cinco anos na maior escola superior de música da Europa, em que se realizam pelo menos 
três concertos por dia, orientado por um dos meus maiores ídolos, com colegas de altíssimo nível e viver 
numa cidade com enorme dinâmica cultural revolucionou a minha forma de estar com a música. Depois de 
obter o Diploma em Colónia, senti necessidade de continuar os meus estudos e parti então para a Bélgica, 
realizando o meu sonho de ter Odair Assad como professor. Durante cinco anos trabalhámos intensamente 
em aulas de várias horas seguidas no Consérvatoire Royal de Mons e também na sua própria casa em 
Bruxelas. Ao Odair estou grato para sempre por tudo o que me ensinou e também pela generosidade que 
revelou no empenho pelo meu projecto pessoal, tendo sido fundamental para o desenvolvimento do meu 
estilo performativo. 
 
 
R.G.C. - Quais as suas maiores influências? 
A.M. - Considero que fui influenciado por todos os meus professores, mas quando escuto as gravações das 
minhas performances consigo encontrar a influência de Roberto Aussel e de Odair Assad. Na verdade, na 
abordagem a uma obra, pergunto-me constantemente como a interpretaria um e o outro. Aprendi também 
muitíssimo com os meus colegas 
de classe dos quais destaco Goran 
Krivokapic, Masao Tanibe, 
Vladimir Gorbach que tenho como 
referências. O pianista Paulo 
Álvares com quem trabalhei 
música contemporânea 
semanalmente em Colónia, teve 
um papel determinante já que me 
abriu a porta para novas 
possibilidades do instrumento e da 
música. 
R.G.C. - É um dos guitarristas portugueses com maior actividade concertística, quais os conselhos que daria 
aos jovens que pretendem fazer carreira como concertista? 
Guitarra Clássica 14 
 
A.M. - O Concerto é uma experiência exigente que traz consigo uma enorme intensidade de emoções 
contraditórias e que exige aprendizagem. Se por um lado, quando estamos confortáveis com o público e 
com o repertório a tocar, conseguimos elevar a música a um nível inatingível em qualquer outro contexto, 
por outro, se existe desconforto, o pior de nós aparece de forma desconcertante. O que posso aconselhar é 
que trabalhem tudo o que puderem equilibrando trabalho técnico e musical, sejam humildes para aprender 
com o máximo de pessoas possível mas que sejam também autoconfiantes para perseguir 
persistentemente o conhecimento e a qualidade musical. Parece-me importante tocar em público sempre 
que possível e aprender com cada apresentação, procurando corrigir os defeitos e não esquecendo de 
potenciar ao máximo o que já se faz bem e ir assumindo a personalidade musical. Penso que assim se 
desenvolverá a confiança e o prazer de estar em palco e, consequentemente, a chamada às salas de 
concerto. 
R.G.C. - Actualmente ensina no Instituto Piaget de Viseu, qual a sua impressão sobre o ensino superior em 
Portugal e qual a sua impressão sobre Bolonha? 
A.M. - Tendocomo referência as escolas onde estudei no estrangeiro parece-me que a carga horária 
teórica é um pouco extensa o que pode limitar o estudo do instrumento. Por outro lado parece-me que o 
Ensino Superior tem evoluído muito ao nível dos Professores e Alunos. O processo de Bolonha parece-me 
muito bom para os estudantes de música permitindo a mudança de direcção ao fim de pequenos ciclos e 
também porque facilita a mobilidade internacional. 
R.G.C. - Como escolhe o programa a interpretar num concerto? 
A.M. - Normalmente procuro escolher um programa em que me sinta confortável, que abranja vários 
estilos e épocas, que me permita rodar algumas das obras que toco há mais tempo e introduzir algo de 
novo em alguma parte do recital. Normalmente, não toco um programa completamente novo de concerto 
para concerto, vou sim fazendo modificações pois penso que as obras vão sempre amadurecendo e o 
público tem a ganhar com isso. 
R.G.C. - Quais os pontos fortes e fracos que destaca no panorama guitarrístico português? 
A.M. - Parece-me que os pontos fracos na guitarra em Portugal têm vindo a desaparecer e que estão 
reunidas todas as condições para continuar a evoluir e estou convicto de que surgirão muitos guitarristas 
de excelência no futuro próximo. De facto, existe um aumento considerável do número de estudantes de 
guitarra clássica de ano para ano e as escolas de guitarra têm cada vez mais professores competentes e 
atentos à realidade global, existindo cada vez mais comunicação entre elas. Outro factor que me parece 
fomentador de qualidade é o aparecimento de muitos concursos e festivais de guitarra com a participação 
dos melhores guitarristas da actualidade que são motivantes e dão boas referências aos jovens guitarristas. 
Guitarra Clássica 15 
 
R.G.C. - Quais os seus projectos para o futuro? 
A.M. - Neste momento estou empenhado num projecto pessoal que começará este mês com o primeiro 
número e que se prolongará no tempo em edições mensais. Cada edição consistirá na minha performance 
de obras relativas a um determinado tema ou compositor e tem como objectivo materializar e publicar as 
obras que gosto de tocar podendo assim partir para outras novas, sem o angustiante sentimento de perda. 
Esta publicação mensal estará acessível em www.madeiraguitareditions.com. Tenho também previsto a 
gravação de um CD e continuar os meus recitais a solo. De momento tenho desejo de tocar com orquestra 
e de desenvolver projectos de música de Câmara. 
R.G.C. - Fale-nos um pouco da sua guitarra e dos elementos que levaram à concepção técnica do 
instrumento. 
A.M. - Essa é uma longa história que começou em Colónia no ano de 2005 quando o meu colega Goran 
Krivokapic me emprestou por dois dias a sua guitarra do Luthier Andres Marvi. Esta tinha medidas um 
pouco maiores do que o convencional e os resultados técnicos ao fim de dois dias de estudo foram 
surpreendentes. Na altura percebi que poderia aumentar os meus recursos técnico-musicais e fiquei 
motivado para tentar perceber os desconfortos que poderiam desaparecer com uma guitarra de medidas 
diferentes. Comecei então um processo de reflexão, experiências na base da tentativa e erro, conversas 
com Odair Assad e finalmente, ao fim de três anos, apresentei o meu projecto a Andres Marvi que se 
aprontou para construir a minha actual guitarra. Esta guitarra tem uma grande diferença de espessura do 
braço da primeira até à décima segunda posição permitindo-me uma total descontracção do polegar da 
mão esquerda que em tensão é grande inibidor da precisão técnica. Tem também um maior espaço entre 
as cordas que favorece o relaxamento das duas mãos e consequentemente a melhoria da minha técnica 
instrumental e melhor resultado musical. 
R.G.C. - Estimado André, muito obrigado pela sua disponibilidade e votos de muito sucesso. 
A.M. - Muito obrigado também e muitos parabéns pela qualidade da vossa Revista que já pertence a todos 
nós. 
http://www.madeiraguitareditions.com/
Guitarra Clássica 16 
 
 
André Madeira iniciou os seus estudos musicais com Américo Fernandes e o estudo da guitarra clássica 
com Ragner Tovar. Frequentou o Conservatório Calouste Gulbenkian de Aveiro, tendo como professor, 
Miguel Lelis. Ingressou depois no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro 
obtendo a Licenciatura em Ensino da Música com Professor Paulo Vaz de Carvalho. No ano 2000 ingressou 
na Hochschule für Musik Köln na Alemanha prosseguindo estudos de guitarra e de música de câmara sob a 
orientação de Roberto Aussel obtendo o “Diplom Künstlerich Instrumentausbildung”em 2005. Estudou 
também, durante cinco anos nesta escola música contemporânea com o pianista Paulo Álvares, integrando 
o “Ensemble für Improvisation und Aleatorische Musik der Hochscshüle für Musik Köln” que se apresentou 
em cidades da Alemanha, Bélgica e Itália. Em 2005 continua estudos Pós-graduados com Odair Assad no 
Conservatoire Royal de Mons, École Supérieure dés Arts, Musique Théâtre Déclamation, e posteriormente 
realiza o “Master en Guitare” com o mesmo guitarrista que termina com Distinção no ano de 2010. Durante 
o seu percurso artístico participou em cursos de guitarra com David Russel, Costas Cotsiolis, Roberto 
Aussel, Leo Brouwer, Eduardo Issac, Robert Brightmore, Ricardo Gallen, Álvaro Pieri, Joaquin Clerche, Josef 
Zsapka, Eduardo Baranzano, Carles Trepat e Pablo Marquez. André Madeira recebeu prémios em concursos 
internacionais de guitarra em Espanha e na Roménia tendo-se apresentado a solo em várias localidades de 
Portugal, França, Itália, Alemanha e Bélgica assim como na RTP 1 e em concertos com transmissão directa 
na Rádio Antena 2. Actualmente reside em Portugal leccionando no Instituto Piaget de Viseu, Conservatório 
de Música do Porto e no Conservatório de Música de Coimbra. 
Guitarra Clássica 17 
 
Novas Gravações 
SÓ - Ulisses Rocha 
Por Tiago Cassola Marques 
 
O Brasil é sinónimo de prodigalidade, inspiração, 
uma das mais férteis terras da guitarra e da 
música escrita para este instrumento. Felizmente 
muitos dos criadores brasileiros não guardam 
para si essa fecundidade, partilhando o seu 
talento para alegria dos apreciadores. Desde Villa-
Lobos, ou João “Pernambuco” que a guitarra vem 
guardando um espaço muito próprio e destacado 
na música brasileira, seja na roda de chôro, na 
música caipira ou sertaneja, fundamental na 
bossa nova desde João Gilberto, essencial na MPB da geração dos “tropicalistas”. E sem falar 
dos virtuosos irmãos Assad, de Sérgio e Eduardo Abreu, Fábio Zanon, Raphael Rebello ou 
Yamandú Costa, e dos muitos compositores modernos que têm dedicado grande parte do seu 
talento ao nosso instrumento… 
Ulisses Rocha, concertista e professor na Faculdade de Música da Unicamp (Campinas, São 
Paulo), apresenta-se também como uma nova face desse prisma que é a riqueza do mundo do 
violão brasileiro. O novo disco, onde reúne um punhado de canções suas, é uma óptima 
surpresa. As composições são muito boas, ritmadas, melancólicas, guitarrísticas também, e 
transpiram de brasileirismo. Sem querer espartilhar a estética ou a inspiração do compositor 
paulista, julgamos tratar-se da linguagem do jazz e da bossa-nova adequada ao tipo de peça 
escrita à guitarra, com recurso à linguagem improvisada, e pequenos laivos de folclorismo nos 
ritmos sincopados em algumas das suas peças. Nota-se isto, mas nada disso constitui um 
defeito, antes pelo contrário. Ao escutarmos este seu novo cd, é inevitável também o 
paralelismo com outros guitarristas-compositores da mesma “onda”. Também Paulo Bellinati 
ou Marco Pereira usam a guitarra para exprimir as suas ideias musicais, misturando o 
vastíssimo folclore brasileiro com o jazz, e este com a linguagem idiomática do instrumento. 
Para além destas concepções ou conjecturas estéticas, a verdade é que as suas composições 
são intuitivas, tal como o próprio Ulisses afirma no seu booklet, tratando-sede um percurso de 
encontros e desencontros com o belo e com o inesperado, resultando por vezes em passagens 
surpreendentes. 
 
Guitarra Clássica 18 
 
Num disco onde todas as canções são bonitas, conseguimos ainda assim destacar “Calango”, 
“Duna”, “Habana Vieja”, “Teu sorriso”, “Rebolado”, “Fogo brando”, cheias de melodia, ritmos, 
passagens rápidas, outras vezes líricas. Cabe ainda referir a execução primorosa do próprio 
compositor, dominando com destreza as passagens difíceis da sua música, acentuando os 
ritmos sincopados, e com um “melodismo” muito expressivo, procurando a poesia. 
Fica o desafio para que Ulisses Rocha possa levar à estampa estas suas obras, com a convicção 
de que muitos serão os que se irão debruçar sobre elas. “Só” confirma ser mais um 
testemunho da elevada arte guitarrística brasileira, com música e um autor que valem a pena 
ser conhecidos. 
SÓ_Ulisses Rocha: 1. Calango; 2. Duna; 3. Lua; 4. Itaca; 5. Jabuticaba; 6. Habana Vieja; 7. Nua; 
8. Teu Sorriso; 9. Rebolado; 10. Fogo brando. Ref.: AA1000, São Paulo, 2010. 
Contactos: www.ulissesrocha.com 
 
Destacamos ainda… 
DIVERSUS GUITAR ENSEMBLE 
 O Diversus Guitar Ensemble composto por 20 
guitarristas de distintas nacionalidades acaba de 
editar o seu primeiro disco compacto. O conjunto, 
dirigido pelo guitarrista irlandés Brendan Walsh, 
gravou no passado ano 2010 em Sursee, na Suíça, 
após uma breve tournée de uma semana pela 
Alemanha, Francia e Suíça. 
O cd inclui quatro obras originais, especialmente 
escritas para a formação e dois arranjos. A primeira 
das obras originais é o Concerto for Violin and 
Guitar Orchestra, escrito no ano 2008 pelo mesmo 
director, uma obra complexa e virtuosa que destaca pelas linhas melódicas que a violinista 
Deborah Landolt tão finamente interpreta. Ayam de John Greaney e Three Movements for 
Guitar Ensemble do alemão David Stalling são outros dos trabalhos originais contidos. Abigail 
Smith dá voz às três peças cantadas: a peça original Light a match, composta pela mesma 
cantora e as versões do tema Bacherolette de Björk e de A day in the life de The Beatles . 
O trabalho discográfico pode-se adquirir no website do ensemble: 
www.diversusguitarensemble.com, onde se pode igualmente consultar a agenda e novidades 
de tão prometedor conjunto. 
RGC 
 
http://www.ulissesrocha.com/
http://www.diversusguitarensemble.com/
Guita
 
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Guitarra Clássica 20 
 
José Duarte Costa nasceu no dia 4 de Setembro de 1921 na Rua Capitão Leitão que se situa na Freguesia 
do Beato na cidade de Lisboa. 
Começou a sua actividade musical como tocador de Banjo, integrado no grupo Troupe Jazz “Os 
Luziadas”.2 
 
Começou a praticar 
guitarra por influência do 
seu tio Aníbal que também 
integrava este grupo.3 
Aos dezasseis anos 
começou a frequentar 
aulas de solfejo e a estudar 
com o Professor Martinho 
D’Assunção, vindo a 
integrar o seu grupo de 
guitarras nos anos de 1937 
e 1938, em parceria com 
Constança Maria (voz), 
Francisco Carvalhinho e 
Fernando Freitas (guitarra portuguesa). 
Um dia estava a tocar guitarra numa casa de música na zona do Beato e foi abordado por uma pessoa 
que criticou a sua forma de tocar. De educação polida, Duarte Costa retorquiu que se a sua forma de 
tocar não era a melhor, estava sempre disposto a aprender, convidando desde logo o seu crítico a 
ensiná-lo. A pessoa em causa era o Dr. José Mendonça Braga4 que influenciou decisivamente José 
Duarte Costa a dedicar-se ao reportório erudito5. 
Além da opinião que fez mudar o seu rumo artístico, para Duarte Costa este encontro significou também 
o acesso a partituras que não conhecia e que lhe proporcionaram o acesso à música erudita para 
Guitarra. 
 Com um rumo artístico definido, José Duarte Costa aprofundou o estudo da Guitarra, sob a orientação e 
patrocínio do Dr. José Mendonça Braga. 
 Deu o seu primeiro recital no ano de 1946 no Sindicato dos Músicos6. 
 
2 Morais, Manuel (2010) “José Duarte Costa” in Castelo-Branco, Salwa (ed) Enciclopédia da Música em Portugal no 
século XX. Lisboa: Temas e Debates – Circulo de Leitores. (pp. 344-345). 
3 In entrevista ao Professor Miguel Costa – Filho de Duarte Costa. 
4 Médico Alentejano entusiasta da Guitarra e possuidor de uma grande biblioteca de partituras de Guitarra. 
5 In entrevista ao Professor Miguel Costa. 
6 Morais, Manuel (2010) “José Duarte Costa” in Castelo-Branco, Salwa (ed) Enciclopédia da Música em Portugal no 
século XX. Lisboa: Temas e Debates – Circulo de Leitores. (pp. 344-345). 
Guitarra Clássica 21 
 
Em 1947, integrou no Conservatório 
Nacional de Lisboa a classe do eminente 
guitarrista e pedagogo espanhol - Emílio 
Pujol7, que o menciona como um aluno 
dotado e com um temperamento de 
verdadeiro artista8. 
No ano de 1948 obteve o 1º Prémio do 
concurso para instrumentistas 
organizado pela Emissora nacional. 
Devido ao seu sucesso como guitarrista 
é-lhe concedida, em 1949, uma bolsa de 
estudo pelo Instituto de Alta Cultura 
para estudar em Espanha, contactando 
com os Guitarristas Daniel Fortea9 e 
Narciso Yepes.1011 12 
Interessado na divulgação e no ensino 
da Guitarra em Portugal fundou em 
1953, a Escola de Guitarra Duarte Costa, no nº 13E da Avenida João XXI em Lisboa. Esta escola foi 
determinante para a divulgação e evolução da Guitarra Clássica em Portugal. 
Duarte Costa dedicou-se também à composição, produzindo obras para o seu instrumento. 
Elaborou uma obra Pedagógica constituída por cinco volumes de forma a proporcionar uma evolução 
contínua e progressiva por parte do aluno. Esta obra é prefaciada pelo guitarrista Narciso Yepes que 
tece elogios à acção pedagógica de Duarte Costa. 
Compôs obras de concerto para guitarra solo e formações de música de câmara a duo e a trio, 
destacando-se entre estas um concerto para Guitarra Clássica a que deu o nome de Concerto Ibérico. 
Compôs Música para os filmes Ladrão, Precisa-Se! (1946, Jorge Brum do Canto), Arouca (1958, Perdigão 
Queiroga), A Ilha Que Nasce do Mar (1956, Fernando Garcia), A Caçada do Malhadeiro (1969, Quirino 
Simões) e Lisboa Cultural (1983, Manuel de Oliveira)13. 
Não obstante a sua ocupada missão pedagógica e performativa, Duarte Costa fundou uma fábrica de 
guitarras na cidade de Coimbra. Procurava desta forma suprir no País a falta de instrumentos de 
qualidade em Portugal. 
Duarte Costa divulgou a guitarra Clássica por todo o território Nacional tocando na Rádio e na Televisão. 
 
7 Aluno de Francisco Tarrega. 
8 Pujol, Emilio (1948) “The guitar in Portugal” in Guitar Review. Vol.1 (nº 5) (pp.114 - 115). 
9 Aluno de Francisco Tarrega. 
10 Guitarrista Espanhol de grande fama internacional. 
11 In entrevista ao Professor Miguel Costa. 
12 Morais, Manuel (2010) “José Duarte Costa” in Castelo-Branco, Salwa (ed) Enciclopédia da Música em Portugal no 
século XX. Lisboa: Temas e Debates – Circulo de Leitores. (pp. 344-345). 
13 idem 
Guitarra Clássica 22 
 
Em 1962 sob o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian, deslocou-se ao Brasil integrado no grupo 
de poesia «FernandoPessoa»14. 
Apresentou-se na qualidade de concertista em vários países nomeadamente Espanha, Itália, Inglaterra, 
Canadá e Moçambique. 
No ano de 1967 foi convidado pelo compositor Fernando Lopes Graça e pela Pianista Maria Vitória 
Quintas a implantar e organizar o curso de guitarra na Academia de Amadores de Música de Lisboa15. 
Em 1979 Duarte Costa realizou um dos seus sonhos mais antigos – tocar o seu Concerto Ibérico 
acompanhado por uma Orquestra. Apresentou-se em público no Teatro Rivoli na cidade do Porto, 
acompanhado pela Orquestra do Porto sob a direcção do Maestro Günter Arglebe. Este concerto foi 
gravado pela Emissora Nacional16. 
Deixou também um EP como registo fonográfico, para além de registos na Rádio e na Televisão. 
O Guitarrista espanhol Miguel Rubio17 gravou a sua peça intitulada “Lenda Chinesa” e o “Alhambra Duo” 
constituído pelos guitarristas alemães Peter Brekau e Ulrich Stracke, gravou a sua obra “Concerto 
 
14 Costa, Duarte (1967) Método de Guitarra, Parte I (3ª edição). Lisboa: Escolas de Guitarra Duarte Costa. (pp. 69-
70). 
15 Morais, Manuel (2010) “José Duarte Costa” in Castelo-Branco, Salwa (ed) Enciclopédia da Música em Portugal no 
século XX. Lisboa: Temas e Debates – Circulo de Leitores. (pp. 344-345). 
16 Breve texto sobre Duarte Costa, exposto na sua Escola em Lisboa. 
17 Aluno do Guitarrista Daniel Fortea. 
Guitarra Clássica 23 
 
Ibérico” na versão de duo de guitarras18. O Guitarrista português Silvestre Fonseca19 gravou também as 
peças “Balada da Solidão”, “Fantasia Oriental”, “Valsa à Brasileira” e “Habanera”. 
Em 1994 o Mestre Duarte Costa, como era conhecido pelo seu ciclo de amigos e admiradores, participou 
no filme “A Caixa”. Esta longa-metragem foi realizada pelo reconhecido realizador Manuel de Oliveira e 
trata-se de uma adaptação da obra do escritor português Prista Monteiro. 
José Duarte Costa representou o papel de guitarrista. Com este personagem Duarte Costa aparece 
vestindo a sua própria pele como podemos notar num diálogo em que contracena com o reconhecido 
actor Rui de Carvalho – “Eu sou professor de música. De guitarra mais propriamente20”. 
Neste filme podemos ouvir a interpretação do Ave Maria de Franz Schübert, num arranjo para Guitarra 
do próprio Duarte Costa onde a melodia ganha vida através do maravilhoso tremolo que desponta das 
mãos do Mestre. Trata-se de um momento de grande beleza artística que representa uma cena pouco 
comum mas no entanto possível - o músico erudito a tocar numa taberna de Lisboa e a comover o boçal 
taberneiro com a sua arte. 
 
 
 
18 Existem para além da versão de concerto para guitarra e orquestra, uma versão para duo de guitarras e trio com 
violino e violoncelo. 
19 Concertista e Professor. Foi aluno na Escola de Guitarra Duarte Costa de Lisboa. 
20 Estas palavras são proferidas por Duarte Costa enquanto actor do filme A Caixa – de Manuel de Oliveira. 
Guitarra Clássica 24 
 
A mente criadora de José Duarte Costa levou-o a dedicar-se também à escrita. Do seu punho saiu a obra 
literária “A verdade Nua e Crua”, livro de carácter ideológico e pedagógico dirigido à juventude. 
Não obstante a sua importante acção de divulgação da Guitarra em Portugal, Duarte Costa permanece 
hoje em dia ignorado por grande parte dos guitarristas portugueses. 
Este facto poderá dever-se também ao próprio mestre, que se foi fechando cada vez mais e não tomou 
parte na revolução do ensino da guitarra que decorreu a nível institucional em Portugal. 
Enquanto a Guitarra já era leccionada nos Conservatórios e Academias de Música a nível oficial, 
existindo a possibilidade de se obter um diploma que proporcionava aos estudantes de guitarra o acesso 
ao mercado de trabalho, Duarte Costa mantinha-se exclusivamente dedicado ao seu projecto de 
décadas, com um cariz particular e não oficial. 
Desta forma, Duarte Costa passou a viver numa espécie de mundo paralelo à evolução do ensino e da 
divulgação do instrumento em Portugal o que fez com que fosse progressivamente esquecido. 
José Duarte Costa morreu no dia vinte e sete de Junho de 2004 com oitenta e dois anos, esquecido e 
desconhecido pela maior parte dos guitarristas portugueses. A sua vida foi inteiramente dedicada e 
consagrada ao estudo, divulgação e ensino da Guitarra Clássica tendo dado um grande contributo para o 
estabelecimento do instrumento no nosso País. 
 Existem, no nosso País, reflexos da sua importante acção artística e pedagógica que carecem de 
divulgação junto à maioria dos interessados pela guitarra. 
É chegado o momento de se fazer jus a uma personalidade que tanto trabalhou em favor de uma arte 
que hoje se encontra em franca expansão. 
O Mestre José Duarte 
Costa lançou-se em busca 
de um sonho, busca essa 
que só terminou quando 
foi travado pela doença de 
Alzheimer que importunou 
a recta final da sua vida. 
As suas cinzas repousam 
no cemitério de Odemira 
no jazigo da família Falcão 
da qual fazia parte por 
laços matrimoniais.21 
 
 
 
21 In entrevista ao Professor Miguel Costa. 
Guitarra Clássica 25 
 
Luthier.pt 
Retrato do luthier Carlos Abreu 
Por Francisco Morais Franco 
Natural do concelho de Seia e filho do director de uma banda, desde tenra idade tomou contacto com a 
música. Na adolescência, iniciou os estudos de guitarra clássica no Conservatório de Aveiro, sob 
orientação de Paulo Vaz de Carvalho, onde mais tarde veio a tornar-se docente do instrumento. 
Enquanto músico, frequentou vários cursos com prestigiados guitarristas como Robert Brightmore, 
Roberto Aussel, David Russell, Leo Brouwer. Chegou a participar na gravação do CD “Música Portuguesa 
do séc. XX” e apresentou-se em diversos recitais a solo e em música de câmara. 
 
O seu interesse pela construção, teve a sua mais remota influência com o seu avô materno, marceneiro 
de profissão. Com apenas 12 anos, aventurou-se no restauro de instrumentos e substituiu os trastes de 
uma guitarra e efectuou pequenas reparações. 
Mais tarde, e no seguimento do seu interesse por instrumentos de música antiga, frequentou 
conferências sobre história e interpretação de música antiga com Gerardo Arriaga, François Dry e 
Hopkinson Smith, assim como seminários sobre construção de instrumentos com José Romanillos e 
Casimiro Losano. Posteriormente frequentou um curso intensivo de construção de instrumentos 
antigos, sob orientação de José Angel Espejo. Curso este que se revelou particularmente especial, pois 
segundo Carlos Abreu “desmistificou algumas ideias sobre a construção de instrumentos”. A partir daí, e 
segundo investigações, começou a “ir atrás de um sonho, construir instrumentos da família do alaúde”. 
Guitarra Clássica 26 
 
Numa primeira fase, construiu instrumentos para si próprio, mas, pela curiosidade despertada noutros 
colegas e pela qualidade dos resultados, desde cedo surgiram as primeiras encomendas. Desde então já 
concretizou um vasto leque de instrumentos como vihuelas; guitarras renascentistas, barrocas e 
românticas; cítolas; tiorbas e alaúdes. 
A construção da sua primeira guitarra 
clássica foi por volta de 2006 pela 
curiosidade de construir uma guitarra tipo 
Torres. Carlos Abreu explica que (por 
oposição aos instrumentos antigos) o facto 
de ser uma guitarra fez com que houvesse 
mais gente a experimentar. Entre estas 
pessoas esteve o célebre guitarrista 
Roberto Aussel, que se agradou pelo 
instrumento e lhe teceu críticas favoráveis 
que motivaram Carlos Abreu a construir 
mais guitarras. “Logo na primeira tentativa 
tive a sorte de ter gente a gostar e houve 
logo procura e encomendas”. Actualmente 
tem trabalho para quase dois anos e um 
número considerável de profissionais que 
tocam regularmente com instrumentos 
seus (ex: Tiago Matias,Hugo Sanches, 
François Dry, Manuel Tavares, Tiago 
Cassola, Eduardo Baltar, Davide Amaral, 
Paulo Vaz de Carvalho). 
 
As suas guitarras 
 
O percurso que fez pelos instrumentos 
antigos influenciou-o no gosto pelo som 
mais tradicional/ natural, “o som da madeira”. E com base nisto procura desenvolvê-lo e optimiza-lo ao 
nível da gama tímbrica, da clareza harmónica e da projecção. Outras das suas preocupações estendem-
se ao conforto da escala e ao design. Procura reunir a maior quantidade de informação possível, 
os modelos que apresenta são originais desde o travejamento ao tratamento estético (inclusive as 
rosáceas são desenvolvidas com colaboração de um designer). “Vou desenvolvendo os modelos um 
pouco à minha maneira”. 
Guitarra Clássica 27 
 
Carlos Abreu não é apologista da construção em série. Acredita que “cada instrumento tem o seu 
momento de tensão na sua extensão. As madeiras não são iguais e reagem de maneira diferente entre 
partes, por isso requerem uma atenção e reflexão constante”. Compara a construção de um 
instrumento com a interpretação de uma obra musical, dentro de um mesmo estilo nunca é igual mas é 
sempre a mesma obra. 
 
Das guitarras que constrói, não estabelece modelos padrões (com materiais e procedimentos fixos), pois 
procura ir de encontro ao que cada cliente pede. No entanto, difere duas vertentes de guitarras: as “de 
base” e as “de topo”. Nas guitarras de base o rigor de construção mantêm-se, simplesmente os 
materiais usados (desde as madeiras às cravelhas) são mais em conta. Nas guitarras de topo, são usados 
os melhores materiais e é proporcionada uma personalização a outro nível. Estas guitarras são 
montadas com cravelhas Alessi ou Baljak e as madeiras são de primeira qualidade. 
Para os tampos, Carlos Abreu usa 
abeto alemão ou cedro dos EUA, 
escolhidos pessoalmente junto de 
empresas especializadas. Entre estas 
madeiras não tem preferência, “tanto 
gosto de uma como de outra mas é 
preciso ter em conta como são 
usadas. O cedro é mais imediato 
enquanto o abeto requer que o som 
seja feito pelo guitarrista”. Para as 
costas e ilhargas, Carlos Abreu tenta 
fugir um pouco ao tradicional e por 
isso já fez experiências com pau-ferro, cocobolo, pau-santo de Madagáscar, embora também construa 
com pau-santo indiano. 
Guitarra Clássica 28 
 
Panorama e perspectivas 
Segundo Carlos Abreu, Portugal ainda está 
atrasado em relação a outros países, veja-
se o exemplo da Espanha. “Isto provoca-
me alguma angústia porque no séc. XVI 
Portugal era um dos grandes centros da 
construção de instrumentos. Na Europa 
éramos grandes exportadores (veja-se o 
exemplo de Belchior Dias, célebre luthier 
da época). O meu trabalho tem sido 
também neste sentido, revitalizar este 
património perdido”. 
 “…e como guitarrista também 
sinto necessidade de fazer o meu 
contributo ao instrumento, ao nível da 
construção”. 
 
Contactos: 
Carlos Abreu 
Rua da Quinta Nova nº 89. 3830-145 Ílhavo 
Tel.: 96 4501302 
figueta@gmail.com 
Guitarra Clássica 29 
 
Páginas com Música 
 
… quase una passacaglia – Sérgio Azevedo 
(2010) 
 
Seis Peças para Guitarra 
 
I. Intrada 
II. Cantilena 
III. A Baía de Nice 
IV. Tarantela 
V. …quase una passacaglia 
VI. Finale 
Duração: 12’ 
 
Notas sobre a obra: 
 
“Escrevi as Seis Peças para Guitarra para o Júlio Guerreiro em Julho de 2010, tendo o processo 
de revisão continuado até finais desse ano. Não obstante serem peças relativamente simples 
do ponto de vista musical, são tecnicamente muito exigentes, e exigem um guitarrista 
consumado como o Júlio. Cada uma das peças exibe um carácter diferente, que no seu 
conjunto se complementam, pelo que devem ser tocadas na íntegra e pela ordem indicada na 
partitura. Procurei uma “luz” mediterrânica na música, uma ambiência sonora que espelhasse 
o meu amor pela pintura de Raoul Duffy, nomeadamente pelos vários quadros que Duffy 
pintou da janela aberta do seu atelier para a baía de Nice, panorâmicas de uma vibração azul 
extraordinariamente profunda, nas quais imagino esta música a preencher o espaço acústico.” 
(Sérgio Azevedo) 
 
Guitarra Clássica 30 
 
Sérgio Azevedo nasceu em Coimbra em 1968. 
Estudou composição na Academia de Amadores de Música com Fernando Lopes-Graça 
e concluiu os estudos superiores de composição com 20 valores na Escola Superior de 
Música de Lisboa, onde trabalhou com Constança Capdeville e Christopher Bochmann. 
Ganhou diversos prémios de composição, e as suas obras têm sido encomendadas e 
tocadas em vários países pelos mais prestigiados intérpretes, como Artur Pizarro, 
António Rosado, Luca Pffaf, Álvaro Cassuto, Lorraine Vaillancourt, Brian Schembri, 
Fabian Panisello, Aline Czerny, Marc Foster, Ronald Corp, Remix Ensemble, 
Orchestrutópica, Galliard Ensemble, Proyecto Gerhard, Le Concert Impromptu, 
Ensemble Télémaque, Plural Ensemble ou Le Nouvel Ensemble Moderne. 
Publicou em 1999 A Invenção dos Sons (Caminho), em 2007 Olga Prats - Um Piano 
Singular (Bizâncio), e colabora com The New Grove Dictionary of Music and Musicians. 
É professor na ESML e colaborador da RDP - Antena 2 desde 1993. Está actualmente 
(2011) a terminar o Doutoramento no Instituto de Estudos da Criança (IEC), da 
Universidade do Minho, sob a orientação de Elisa Lessa e Christopher Bochmann, 
sendo ainda o responsável artístico da edição das obras musicais de Fernando Lopes-
Graça, iniciativa do Museu da Música Portuguesa (Cascais). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(Foto de Carlos Mateus de Lima) 
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Seis Peças para Guitarra - Sérgio Azevedo
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Atacca nº6
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Seis Peças para Guitarra - Sérgio Azevedo
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