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A AUTOAVALIAÇÃO COMO FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO 
FORMATIVA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM 
 
FRANCISCO, Julaine Guimarães Gonçalves1 - UEL 
 
MORAES, Dirce Aparecida Foletto de2 - UEL 
 
Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas 
Agência Financiadora: não contou com financiamento 
 
Resumo 
 
Esta pesquisa apresenta a utilização da autoavaliação como ferramenta de avaliação formativa 
em turmas com altos índices de reprovação de uma escola pública. Para tanto, tem por 
finalidade compreender as contribuições da ferramenta no processo de aprendizagem dos 
alunos, identificar se o seu uso possibilita mudanças capazes de contribuir para consecução de 
uma aprendizagem mais sólida e ainda entender como a autoavaliação deve ser utilizada para 
que possa colaborar com a autorregulação. A pesquisa foi realizada com três turmas de 6º ano 
de uma escola pública durante um ano letivo. A pesquisa trouxe como base o referencial 
teórico relativo à perspectiva de uma avaliação formativa e para consolidação da pesquisa 
utilizou-se pressupostos da abordagem qualitativa na modalidade de estudo de caso como 
metodologia de pesquisa e, como procedimentos de coleta de dados, o desenho do 
autorretrato, a aplicação de questionários que se constituíram como fichas de autoavaliação e 
ainda a entrevista com os alunos. Os dados foram coletados, analisados e interpretados com 
profundidade com o propósito de garantir a sua cientificidade à luz da teoria que fundamenta 
o significado da autoavaliação em uma perspectiva formativa. Os resultados apontam que a 
autoavaliação propicia aos discentes momentos de reflexão sobre a própria aprendizagem, 
tornando-a mais significativa, pois, ao ser utilizada para repensar ações e não para simples 
atribuição de nota, torna-se parte integrante do processo de aprendizagem. Já para os docentes 
torna-se orientadora das ações em busca do aperfeiçoamento e ajustes no processo. Assim, 
torna-se uma ferramenta de avaliação formativa útil para o professor repensar sua prática e 
para o aluno entender os caminhos que deve perseguir para superar as dificuldades e avançar 
na aprendizagem. 
 
Palavras-chave: Autoavaliação. Avaliação formativa. Aprendizagem. 
 
1Bióloga. Discente do PARFOR Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina – PR. Professora da Educação 
Básica. E-mail: julainegui@yahoo.com.br 
2 Mestre em Educação. Docente da Universidade Estadual de Londrina – PR. E-mail: 
dircemoraes@sercomtel.com.br 
14969 
 
Introdução 
O objeto desta investigação surgiu de um questionamento sobre a avaliação, 
especificamente sobre o uso dos instrumentos e sua validade na prática docente das turmas do 
6º ano do Ensino Fundamental – anos finais –, de uma escola pública que tem como realidade 
muitos alunos repetentes e, como consequência, alunos e professores desmotivados. 
A partir de um levantamento realizado no início de 2012, percebeu-se que, do total de 
noventa e nove alunos matriculados em três turmas de 6º ano, 36 tinham reprovado uma ou 
mais vezes. Estes estavam distribuídos em três turmas 6º A, 6º B e 6º C. Constatou-se, 
também, que a maioria desses educandos tinha como característica a desmotivação e tornava-
se foco de queixa dos professores, devido à “indisciplina” gerada em sala. 
Diante dos diferentes instrumentos utilizados que se prestam a mapear a realidade do 
aluno, neste estudo a autoavaliação foi eleita como objeto de pesquisa por ser um instrumento 
pouco discutido, entretanto muito importante, por fazer o educando perceber-se como parte 
integrante e sujeito do processo e não apenas um executor de tarefas. No entanto, é preciso 
considerar que nenhum instrumento sozinho é capaz de contemplar todos os objetivos, mas, 
quando é associado a outros, o resultado se concretiza em melhorias no ensino e na 
aprendizagem. 
Assim, cabe questionar: a autoavaliação pode ser um instrumento favorável para 
auxiliar o processo de avaliação formativa, levando os alunos a reconhecerem-se como parte 
importante do processo e aprender a autorregular sua aprendizagem? 
Na tentativa de encontrar respostas para o questionamento, o objetivo eleito para este 
estudo foi compreender as contribuições da autoavaliação no processo de aprendizagem dos 
alunos dos anos finais do ensino fundamental. Ainda foram estabelecidos como objetivos 
específicos: identificar se o uso da autoavaliação possibilita mudanças capazes de contribuir 
para consecução de uma aprendizagem significativa para o aluno e entender como a 
autoavaliação deve ser utilizada para que possa colaborar com a autorregulação da 
aprendizagem. 
Desta maneira, o trabalho trouxe como base o referencial teórico relativo à perspectiva 
de uma avaliação formativa, constituindo-se a partir de uma pesquisa qualitativa de 
aprofundamento teórico na modalidade estudo de caso. 
14970 
 
A pesquisa qualitativa é de grande importância, pois estuda o objeto como um todo e 
“[...] parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, 
uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo 
objetivo e a subjetividade do sujeito” (CHIZZOTTI, 1998, p. 79). 
Assim, a pesquisa, tendo como foco principal a autoavaliação enquanto ferramenta 
capaz de ajudar o educando a entender e repensar suas ações, teve por caminho metodológico 
o estudo de caso, por ser “[...] extremamente útil para conhecer os problemas e ajudar a 
entender a dinâmica da prática educativa” (ANDRÉ, 2004, p. 50). 
A partir do estudo de caso, o trabalho se afunila, pois se aprofunda mais o 
conhecimento sobre o objeto, delimitando o grupo que vai ser estudado, “[...] a fim de 
organizar um relatório ordenado e crítico de uma experiência ou avaliá-la analiticamente, 
objetivando tomar decisões a seu respeito ou propor uma ação transformadora” (CHIZZOTTI, 
1998, p. 102). 
Assim, para a coleta de dados, foram adotados vários procedimentos, como desenho 
do autorretrato, questionários e entrevista com alunos, sendo este o instrumento final como 
forma de tornar possível o arrolamento dos dados indispensáveis para verificar os 
componentes que possivelmente pudessem interferir no processo de aprendizagem e 
aprofundamento teórico. 
Os dados foram coletados, analisados e interpretados com profundidade com o 
propósito de garantir a sua cientificidade à luz da teoria que fundamenta o significado da 
autoavaliação em uma perspectiva formativa, sendo estes organizados de forma sistematizada 
para compreensão do estudo sobre o significado desta ferramenta, dando importância devida 
no sentido de refletir sobre as contribuições da autoavaliação na aprendizagem do discente 
dos anos finais do ensino fundamental. 
Avaliação formativa e autoavaliação 
A avaliação ainda não se consolidou como ferramenta formativa em muitos dos 
espaços escolares e, em vários contextos, é utilizada como disciplinadora, como ameaça para 
conseguir a atenção e comportamento adequado dos alunos. “O uso mais comum [...] consiste 
em ‘dar notas’, qualificar algumas tarefas ou alguns resultados, supondo-se artificialmente 
que representam graus ou níveis de rendimento diferenciado” (ÁLVAREZ MÉNDEZ, 2002, 
p. 81). 
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No entanto, quando o profissional utiliza o instrumento avaliativo para coletar dados e, 
a partir destas informações, busca entender como está o andamento do trabalho pedagógico 
para fazer os ajustes, consegue também entender as dificuldades dos alunos e ajudá-los a rever 
o percurso. Isso porque “[...] quem ensina precisa continuar aprendendo com e sobre sua 
prática de ensino. Quem aprende precisa continuar aprendendo constantemente para assegurar 
um nível de capacitação que o estimule e ao mesmo tempo consolide o seu progresso 
contínuo”. (ÁLVAREZ MÉNDEZ, 2002, p. 87-88). 
Isso significa que a autoavaliação, que a princípio está mais direcionada ao aluno, 
também possibilitaao educador dados relevantes sobre o processo de aprendizagem do 
discente, na individualidade e também do grupo como um todo. 
Desta forma, ao pautar-se em uma concepção pedagógica mais construtiva, em que o 
aluno vai construir o seu próprio saber e o professor vai mediando esse processo, a avaliação 
assume um papel mais abrangente, pois passa a proporcionar reflexões a quem está sendo 
avaliado sobre os avanços e as dificuldades de cada um. Assim, será possível progredir na 
construção do conhecimento e possibilitar ao professor refletir sobre seu próprio trabalho, 
bem como fornecer dados sobre as dificuldades de cada aluno, cumprindo “a principal função 
da avaliação formativa que é de regulação da aprendizagem” (DEPRESBITERIS; 
TAVARES, 2009, p. 51). 
Isso porque a “[...] avaliação mais importante para os resultados da aprendizagem é 
realizada ao longo do processo de aprendizagem” (SANMARTÍ, 2009, p. 33), pois um 
processo de ensino com qualidade depende do acompanhamento das etapas de aprendizagem 
do aluno e das condições oferecidas para ajudá-los a superar as dificuldades e avançar, pois o 
mais importante é “[...] avaliar o processo e não apenas o produto, ou melhor, avaliar o 
produto no processo [...]” (VASCONCELLOS, 2006, p. 71). 
Nesta perspectiva, entende-se que a autoavaliação é um componente importante ao ser 
utilizada como um instrumento da avaliação formativa, pois auxilia os alunos a adquirir uma 
capacidade cada vez maior de analisar suas próprias responsabilidades, atitudes, 
comportamento, pontos fortes e fracos, suas condições de aprendizagens e suas necessidades 
para atingir os objetivos. “A auto-avaliação é o processo por excelência da regulação, dado ser 
um processo interno ao próprio sujeito” (SANTOS, 2002, p. 02). 
Com o exercício constante da autoavaliação, os alunos são capazes de desenvolver 
sentimentos de responsabilidade pessoal e de apreciação da força dos empenhos individuais e 
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de grupo. Aprendem a encarar prontamente as capacidades em várias empreitadas e a afinar 
suas oportunas potencialidades e contribuições e ainda desenvolvem a capacidade de análise 
contínua a qual leva em conta “[...] o que já aprendeu, o que ainda não aprendeu, os aspectos 
facilitadores e os dificultadores do seu trabalho, tomando como referências os objetivos de 
aprendizagem e os critérios de avaliação [...]” (VILLAS BOAS, 2008, p. 51); desta forma, 
consegue planejar suas ações. 
Isso é possível a partir do entendimento de que a autoavaliação não é autonotação. Ela 
não pode ter como objetivo maior a atribuição de uma nota, mas a reflexão e o entendimento 
de um processo percorrido e seus significados. Só que, para isso ser concretizado, o aluno não 
pode ter uma única oportunidade no final de um bimestre, como ocorre em muitas situações 
em que ele preenche uma ficha, dizendo em que foi bem e em que precisa melhorar e, a partir 
disso, atribui a si mesmo um valor quantitativo, responsabilizando-se unicamente pelo seu 
sucesso ou fracasso. 
De acordo com Hadji (2001) e Villas Boas (2008), a autonotação – ato de atribuir-se 
uma nota para si mesmo – pode ajudar o aluno a fazer uma análise do seu percurso; no 
entanto, isso não é suficiente, pois ele precisa aprender a fazer um “autocontrole”, e isso só é 
possível se a prática da autoavaliação for realizada continuamente com ou sem a presença de 
um questionário autoavaliativo. O autocontrole é entendido por Hadji (2001, p. 102) como um 
“[...] elemento constitutivo da ação [...] que corresponde a uma avaliação contínua”, portanto 
a prática isolada em um único momento do processo não traz contribuições e não possibilita 
reflexões dos sujeitos participantes, fator que não favorece a autorregulação. 
A autoavaliação, neste sentido, tem a intenção de possibilitar melhorias e incentivar os 
alunos a construir e analisar as suas aprendizagens, suas formas de pensar, suas 
responsabilidades, atitudes e comportamentos em prol de uma aprendizagem qualitativa e de 
uma construção e reconstrução de conceitos sobre si mesmos e seu processo. 
A “autoavaliação é capaz de conduzir o aluno a uma modalidade de apreciação que se 
põe em prática durante a vida inteira” (SANT’ANNA, 1995, p. 94) e ajuda o sujeito cada vez 
mais a avançar na autonomia, isso porque o propósito da autoavaliação, diferentemente da 
autonotação, “[...] não visa à atribuição de notas ou menção do aluno; tem o sentido 
emancipatório de possibilitar-lhe refletir continuamente sobre o processo da sua 
aprendizagem e desenvolver a capacidade de registrar suas percepções” (VILLAS BOAS, 
2001, p. 86). 
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Esse instrumento avaliativo favorece a autorregulação de seus próprios processos de 
aprender, pois, com sua prática, “atinge-se o desenvolvimento das atividades cognitivas como 
forma de melhoria da regulação das aprendizagens, pelo aumento do autocontrole e a 
diminuição da regulação externa do professor” (VILLAS BOAS, 2008, p. 54). 
O exercício da autoavaliação é um dos momentos que favorece a construção da 
autonomia, pois leva o educando a questionar e gestar suas ações, bem como controlar seus 
processos de aprendizagem (PERRENOUD, 1999); tudo isso leva à construção da autonomia. 
Sendo um dos objetivos da educação dar condições para que o sujeito seja autônomo, esta 
construção deve ocorrer ao longo dos anos escolares e a prática da autoavaliação pode ser um 
agente colaborador neste processo quando entendida como “[...] um processo mental interno 
através do qual o próprio aluno toma consciência dos diferentes momentos e aspectos da sua 
actividade cognitiva” (SANTOS, 2002, p. 02). 
A autoavaliação vivenciada pelos discentes 
A coleta de dados iniciou-se em março e estendeu-se até o mês de setembro de 2012. 
No início do trabalho, foi explicado aos alunos que realizariam aquela tarefa para que eles 
próprios pudessem se observar e propor metas necessárias para atingirem os objetivos 
propostos, entendendo que, ao se tratar da autoavaliação, “seu grande mérito é ajudar o aluno 
a perceber o próximo passo do seu processo de aprendizagem” (VILLAS BOAS, 2008, p. 52). 
Considerando as características do grupo em questão, já mencionados no início deste 
artigo, foram selecionados e utilizados instrumentos avaliativos sobre aspectos mais globais 
que envolvessem a necessidade de reflexão sobre suas atitudes e comportamentos, 
relacionamentos interpessoais, autocontrole de estudo, conforme sugestão apresentada por 
Arredondo e Diago (2009, p. 221), entendendo que “[...] sem a autoavaliação não haverá 
progresso significativo de aprendizagem”. 
Desta forma, foi aplicado como primeiro procedimento de coleta de dados o 
autorretrato, com o objetivo de levar o aluno a refletir sobre si mesmo e pensar como se via e 
como os outros o viam no contexto escolar e também com o propósito de possibilitar ao 
professor perceber o que pensavam e diziam sobre si mesmo e assim poder conhecê-los 
melhor, isso porque, como eram turmas com elevando número de alunos repetentes e com 
idades diversas; além disso, por outros fatores, as turmas eram consideradas indisciplinas, e as 
queixas expressas pelos professores acabavam por generalizar e não individualizar. 
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A pergunta proposta para a atividade do autorretrato foi: Como você se vê enquanto 
aluno nesta escola? Os dados coletados por meio do autorretrato apresentam sete categorias: 
feliz, legal, estudioso, bagunceiro, feio, bonito e quieto, que não foram propostas no 
instrumento do desenho, mas surgiram aleatoriamente, e só depois o pesquisador as agregou 
em categorias. 
Gráfico 1 – Autorretrato 1 
 
Fonte: Autoras. 
Dentre os sessenta e sete alunos pesquisados, 53,73% consideram-se aceitos pelo 
grupo ao qual fazem parte, quando dizem ser felizes e legais, enquanto que 14,92% se 
enxergam estudiosos, 13,43% se consideram bagunceiros e 8,95% se notam quietos, 
demonstrando a heterogeneidade do grupo.Nas categorias em que o percentual é relativamente menor em relação aos outros 
relatados estão os quesitos: feio com 2,99% e 5,98% bonito. Tais apontamentos auxiliaram no 
entendimento do perfil da turma, pois, diante dos resultados, entende-se que a diversidade de 
categorias condiz com a variedade em que o ensino e a aprendizagem acontecem. A partir 
deste primeiro resultado, os professores e a equipe pedagógica fizeram algumas intervenções 
para o melhor andamento do trabalho escolar, pois, ao terem acesso à autoavaliação realizada 
pelas turmas, puderam conhecer mais os alunos e identificar algumas necessidades em cada 
grupo, como não discriminar a sala toda como “indisciplinada” ou “bagunceira”, por 
14975 
 
exemplo, pois não era uma característica de todas as turmas, mas de alguns alunos, e, com 
essa constatação, percebeu-se que era necessário propor atividades diversificadas que 
atendessem as diferenças. Outra proposta que surgiu da reflexão dos docentes foi a realização 
de assembleias para discutir junto com os alunos encaminhamentos dos trabalhos e dos 
problemas. 
Aqui se percebe que a avaliação formativa cumpre seu papel, pois um dos seus 
principais objetivos “é o de obter informações acerca de como os alunos aprendem, ajudando-
os deliberada e sistematicamente a compreender o que fazem e a melhorar suas 
aprendizagens” (FERNANDES, 2006, p. 32). 
Na primeira semana do mês de julho, os desenhos foram devolvidos aos alunos junto 
com o questionário que foi utilizado como segundo procedimento no mês de abril. Neste foi 
solicitado que observassem o que haviam desenhado para posteriormente pensarem e 
registrarem se suas concepções sobre si permaneciam ou não. 
O gráfico dois apresenta as mudanças em relação às categorias após um tempo de 
trabalho. Os alunos foram incentivados a se autoavaliarem em relação ao próprio autorretrato 
que haviam feito anteriormente, fazendo uma análise sobre o processo percorrido e em 
relação à forma como se viam e como se veem neste momento. O instrumento atingiu seu 
objetivo, pois possibilitou aos alunos perceberem-se e observar as mudanças à sua volta. 
Gráfico 2 – Autorretrato 2 
 
Fonte: Autoras. 
Ao fazer uma relação entre os dois gráficos (gráfico 1 e 2), percebe-se que, dos 
13,43% que apontaram ser bagunceiros no gráfico 1, agora só 2,98% se consideram assim. O 
14976 
 
item estudioso subiu de 14,92% para 19,4%. Assim, podemos inferir que a autoavaliação 
proporcionou um momento de análise, de construção e reconstrução de sua conduta e mostra 
ainda que estes alunos conseguiram se observar e olhar o entorno. Várias mudanças 
ocorreram também na parte pedagógica e física da escola, como a diversificação das 
atividades, a organização de projetos para aqueles alunos e ainda a reorganização das turmas. 
Para a confirmação do que foi dito, temos Regnier (2002, p. 05) expressando que a 
autoavaliação é 
[...] um processo pelo qual o indivíduo avalia por si mesmo, e geralmente para si 
mesmo, uma produção, uma ação, uma conduta da qual ele é o autor ou ainda suas 
capacidades, seus gostos, suas performances e suas competências ou a si mesmo 
enquanto totalidade. 
O segundo procedimento foi um questionário autoavaliativo aplicado no início do mês 
de abril, organizado com grupos de perguntas que tinham como propósito observar como o 
aluno vê suas atitudes, comportamento e responsabilidades em relação ao processo de ensino. 
Neste, os alunos destacaram alguns compromissos que consideravam necessários assumir 
para uma melhor aprendizagem.Assim, o gráfico aponta os resultados quanto à pergunta: O 
que você acha que atrapalha a sua aprendizagem? 
Gráfico 3 – Fatores que interferem na aprendizagem 
 
Fonte: Autoras. 
14977 
 
Podemos concluir, após a leitura do gráfico 3, que a maioria dos alunos tem noção de 
que para aprender é preciso considerar as condições e a realidade do ambiente e que estes têm 
a capacidade de detectar questões que interferem no processo de aprendizagem e, ao terem a 
chance de pensar e manifestar seus pensamentos, saem da passividade e passam a agir com 
maturidade, não no sentido de obediência extrema, mas de entendimento do que cada 
momento escolar representa e requer como tarefa de cada personagem que dele faz parte. 
O terceiro procedimento também foi um questionário autoavaliativo aplicado na 
primeira semana de julho, por meio do qual os discentes puderam fazer uma análise do 
autorretrato e do questionário aplicado no mês de abril, verificando, assim, as permanências e 
mudanças em relação aos compromissos assumidos. Neste momento, também tiveram a 
oportunidade de perceber quais compromissos estavam sendo cumpridos, bem como avaliar o 
seu próprio trabalho como aluno. Neste momento, os alunos tiveram a possibilidade revê-los e 
reavaliá-los. Esta atividade autoavaliativa teve também o propósito de possibilitar um 
“autocontrole dos estudos”, como sugerem de Arredondo e Diago (2009). A pergunta eleita 
para a análise foi: como avalia seu trabalho como aluno, após um trimestre, o qual também 
tem uma parcela de responsabilidade para a sistematização e construção dos conhecimentos? 
( ) igual ao início do ano ( ) melhor ( ) Pior 
 
Gráfico 4 - Autoavaliação do seu trabalho como aluno 
 
Fonte: Autoras. 
14978 
 
O gráfico mostra que 68,29% dos 82 alunos julgam ter melhorado em seu trabalho 
como aluno, enquanto 23,18% dizem estar como no início do ano. É importante considerar 
que alguns destes alunos em sua justificativa afirmaram estar bem, pois entregam os 
trabalhos, respeitam os colegas e professores e participam das aulas, e isso os ajuda a 
aprender, por isso não precisam melhorar; sendo assim, estar igual ao início do ano não 
significa algo negativo para muitos dos 23,18%. Poucos alunos disseram ter piorado: apenas 
4,88%. Abaixo algumas justificativas expressas pelos educandos: 
Aluno A: Eu melhorei, eu participo mais das atividades. 
Aluno B: Melhorei porque estudo mais para as provas e porque mudei de sala. 
Aluno C: Por que eu parei de conversar e estou estudando. 
Aluno D: Por que estou prestando mais atenção nas aulas. 
Em relação à constatação desses resultados pode-se inferir que a avaliação “[...] não se 
tornará mais formativa só pela operacionalização de instrumentos ditos de autoavaliação. 
Tudo depende do uso que o aluno poderá fazer desse instrumento, do sentido que lhe dará e 
de sua participação [...]” (HADJI, 2001, p. 105). 
O gráfico cinco faz parte da análise realizada no início do mês de julho, e os dados 
foram obtidos em resposta à pergunta: “A autoavaliação realizada anteriormente ajudou a 
pensar sobre a sua vida escolar? Por quê?” 
Gráfico 5 – Ficha de Autoavaliação sobre a vida escolar 
 
Fonte: Autoras. 
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O gráfico mostra que 80,49% dos entrevistados apontaram que a autoavaliação 
possibilitou pensar na vida escolar, e esta reflexão fez com que melhorassem no desempenho 
e na aprendizagem. Apenas 7,32% disseram não ter sentido mudança, e 12,19% não 
responderam à pergunta. 
As respostas foram muito satisfatórias, pois, nos registros destes alunos, foi possível 
observar que a maioria consegue ver o instrumento da autoavaliação como um momento de 
reflexão e mudanças. Isso fica evidente porque, da forma como foi realizada, 
[…] a autoavaliação é um componente da avaliação formativa. Refere-se ao 
processo pelo qual o próprio aluno analisa continuamente as atividades 
desenvolvidas em desenvolvimento, registra suas próprias percepções e identifica 
futuras ações, para que haja um avanço na aprendizagem (VILLAS BOAS, 2008, p. 
51). 
O instrumento de autoavaliação é muito flexível e pode ser construído sempre com as 
adaptações necessárias para ser subsídio competente para uma avaliação formativa. 
A entrevista semiestruturada finalizou o trabalho de campo e foi uma das formas de 
perceber como a autoavaliação contribuiupara regular o processo educativo como um todo. A 
escolha dos entrevistados teve como critérios a participação em todas as etapas da pesquisa. 
Como a coleta foi com um número menor de alunos considerou-se positivo construir os dois 
quadros que se apresentam abaixo para uma melhor análise, pois nesta podemos ler as 
respostas dadas em cada pergunta. 
Quadro 2 – Coleta de dados do instrumento entrevista questões 1 e 2. 
1 - Avaliação dos 
momentos em que 
teve a possibilidade 
de refletir sobre a 
vida escolar. 
Entrevista A Sim. Porque eu melhorei na escola. 
Entrevista B Sim. Porque é muito bom para nosso rendimento escolar. 
Entrevista C Eu considero importante porque a gente mesmo se avalia. 
Entrevista D Sim eu acho importante porque melhorei mais. 
Entrevista E Foram importantes porque comecei a estudar mais e obedecer às 
professoras. 
Entrevista F Sim porque a gente às vezes pode falar o que a gente pensa. 
Entrevista G Porque a gente aprende muito mais. 
Entrevista H Sim porque a gente queria mudar. 
2 – Momentos de 
reflexão realizados a 
partir da proposta da 
autoavaliação 
contribuíram para 
melhorar sua vida 
escolar em qual 
aspecto. 
Entrevista A Comportamento; aprendizagem; participação nas aulas. 
Entrevista B Aprendizagem; participação nas aulas; compromisso com os estudos. 
Entrevista C Aprendizagem; compromisso com os estudos. Eu fui muito melhor no 
segundo trimestre. 
Entrevista D Comportamento; aprendizagem; participação nas aulas; compromisso 
com os estudos. Porque eu melhorei em tudo. 
Entrevista E Comportamento; aprendizagem; participação nas aulas; compromisso 
com os estudos. Foram em bastante coisa eu parei de jogar bolinha eu 
presto atenção nas aulas e participo. 
Entrevista F Participação nas aulas; compromisso com os estudos. Porque na outra 
sala que eu estudava eu estava pior. 
14980 
 
Entrevista G Comportamento; aprendizagem; participação nas aulas; compromisso 
com os estudos. Para aprender mais. 
Entrevista H Comportamento; aprendizagem; participação nas aulas; compromisso 
com os estudos. Porque eu queria poder melhorar mais e mais. 
Fonte: Autoras. 
Em relação à primeira pergunta sobre como o aluno avalia os momentos em que teve 
possibilidade de refletir sobre a vida escolar, se foram importantes e o por quê, as respostas 
foram satisfatórias, pois todos afirmam que sim e justificam que este momento de reflexão 
proporcionou mudanças positivas em todos os aspectos considerados como prejudiciais para 
que a aprendizagem ocorresse. 
A segunda pergunta questionou se os momentos de reflexão realizados a partir da 
proposta da autoavaliação contribuíram para melhorar a vida acadêmica em quais dos 
aspectos. Dentre os participantes, cinco alunos disseram ter melhorado ao mesmo tempo nos 
aspectos: comportamento; aprendizagem; participação nas aulas. Sete dos oito alunos 
entrevistados consideram ter melhorado na aprendizagem, na participação das aulas e no 
compromisso com os estudos. 
Tais resultados demonstram o quanto é importante proporcionar momentos de reflexão 
e diálogo com os alunos sobre os aspectos que envolvem o processo de aprendizagem, a fim 
de discutir, entender e estabelecer metas de trabalho a partir daquilo que se constata como 
fragilidade ou que pode estar atrapalhando, podendo corrigir o que considera como negativo, 
partindo dos apontamentos e necessidades percebidas pelo grupo em questão, pois, se o aluno 
não participa das discussões, opinando, concordando ou discordando, estabelecendo metas, 
ele não se assume como corresponsável por aquilo que se estabelece. 
A autoavaliação, quando assumida e exercitada na perspectiva formativa e não 
punitiva, “[...] dá a chance aos alunos de apresentarem diferentes percepções sobre seu 
desempenho e sobre sua forma de compreender o processo de aprendizagem” (VILLAS 
BOAS, 2008, p. 66); com este movimento, o aluno tem possibilidades de construir a 
capacidade de regular as ações necessárias que vão modificar os aspectos do processo de 
aprendizagem na parte em que é responsável. 
Quadro 3 – Coleta de dados do instrumento entrevista, questão 3 
Na última 
autoavaliação você 
assumiu alguns 
compromissos que 
poderiam contribuir 
para superar as 
Entrevista A Objetivos colocados em prática: 
Participar nas aulas; prestar atenção; brincar; conversar, estudar. 
Depois da troca de sala eu criei juízo. 
Objetivos não alcançados: 
Zoar os outros; bagunça; colocar apelidos; parar de conversar; virar 
para traz. 
14981 
 
dificuldades. Em 
relação ao que 
destacou, indique 
qual ou quais foram 
os compromissos ou 
não colocados em 
prática. 
Porque eu sou criança e nós gostamos de fazer isso. 
Entrevista B Objetivos colocados em prática: 
Os estudos; aprendizagem e minhas notas estão sendo boas. 
Porque eu me esforcei mais e estudei. 
Objetivos não alcançados: 
Conversa; bagunça. 
Porque os outros não param de me chamar. 
Entrevista C Objetivos colocados em prática: 
Parar de fazer bobeira; revisar; estudar mais ainda. 
Porque minha mãe está me incentivando. 
Objetivos não alcançados: 
Parar de conversar; parar de chupar chiclete. 
Entrevista D Objetivos colocados em prática: 
Estudar mais; prestar atenção na aula; estudar para as provas; 
pensar em mim não nos outros. 
Porque eu tento fazer. 
Objetivos não alcançados: 
Ler mais; não conversar. 
Porque eu não tento, se eu tentasse eu conseguiria. 
 
Entrevista E 
Objetivos colocados em prática: 
Eu consigo estudar para a prova; eu consigo participar; eu consigo 
ler livros nas aulas; eu consigo realizar trabalhos; consigo fazer 
tarefas. 
Porque toda vez que eu estou fazendo bagunça, eu penso no meu 
futuro que eu preciso ser alguém na vida. 
Objetivos não alcançados: 
Alcançou todos. 
Entrevista F Objetivos colocados em prática: 
Ler muito; dedicação aos estudos; parando de levantar; respeitando 
as professoras; sendo pontual. 
Porque estou em uma sala melhor. 
Objetivos não alcançados: 
Fazer silêncio; estudar mais. 
Porque eu tenho amigos e gosto de conversar. 
Entrevista G Objetivos colocados em prática: 
To me esforçando; to lendo muito; to sendo muito pontual; to 
prestando muita atenção. 
Objetivos não alcançados: 
Porque eu to me esforçando em tudo que eu falei. 
Entrevista H Objetivos colocados em prática: 
Parar de prestar atenção nos outros; prestar atenção nas explicações; 
ler mais. 
Porque meus pais me ajudaram. 
Objetivos não alcançados: 
Alcançou todos os propostos. 
Fonte: Autoras. 
Cinco dos oito alunos falaram do comportamento como a dificuldade em parar de 
conversar ou de fazer bagunça. Com esta avaliação, os alunos ressaltam a importância da 
“disciplina” na aprendizagem. Quanto ao que conseguiram pôr em prática, estudar aparece 
com grande frequência; assim, nota-se que, de alguma forma, os alunos estão buscando 
estratégias para estudar. Em relação a isso, temos a contribuição de Sant’Anna (1995, p. 95), 
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que expressa: “[...] propiciar condições para ajudar o aluno a pensar sobre si mesmo [...] é 
prepará-lo para uma aprendizagem significativa na caminhada da vida”. 
O último instrumento aplicado favoreceu uma análise geral do trabalho, pois, com as 
respostas dos educandos, foi possível perceber que a autoavaliação é um momento que pode, 
sim, contribuir para uma reconstrução do processo da aprendizagem e tornar o aluno parte 
integrante dele e favorecer o desenvolvimento da sua autonomia. 
Considerações finais 
O repensar da avaliação contribui, sobretudo, para uma mudança de postura em 
relação ao processo de aprendizagem e sobre a importância de refletir constantemente as 
práticas avaliativas, com o intuito de diagnosticar possíveis dificuldades, tanto dos alunos 
como do próprio professor como mediador do conhecimento. 
Frente ao que foi exposto neste trabalho, reconhece-se a autoavaliação como parte 
integrante do processo educativo, visando qualidade do trabalho escolar dos professores e 
alunos, pois a fundamentação teóricapossibilitou perceber que vários estudiosos defendem o 
uso deste instrumento e sua utilização em uma perspectiva formativa, e a pesquisa de campo 
proporcionou momentos de análise e concretização destas teorias. 
A partir desta pesquisa, pode-se também destacar que a autoavaliação é um 
instrumento que pode e deve ser utilizado para uma melhor organização do processo 
avaliativo e educativo, pois favorece a cada momento uma nova análise capaz de contribuir 
para avanços no processo da aprendizagem e, ainda, possibilitar que o estudante se entenda 
como participante do processo, ao refletir sobre os seus passos, sobre seu processo, 
avançando, assim, na construção da autonomia. 
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