A adolescência é caracterizada por vários aspectos marcantes, tais como as modificações corporais e o aumento da liberação de hormônios sexuais. Todas essas alterações têm impacto direto no comportamento do adolescente, principalmente considerando que esta faixa etária tende a sofrer maior pressão dos seus pares quando comparados com indivíduos adultos. Durante a adolescência, a necessidade de ser aceito no ambiente escolar e familiar é enorme e o indivíduo sente-se obrigado a estar dentro do padrão de beleza imposto pela mídia e pela sociedade de que ele faz parte.
Thaís, por exemplo, quando tinha 12 anos, andava incomodada, achando que a sua gengiva superior era muito grande, ainda mais após ter sido alvo de piadas por parte de seus colegas. Por causa disso, depois de pesquisar na internet e descobrir que aplicações de toxina botulínica são utilizadas para a correção do chamado “sorriso gengival”, passou a guardar dinheiro e, agora, foi a uma clínica de estética com o intuito de realizar aplicações de toxina botulínica no lábio superior.
Você, esteticista, quando chama Thaís para o procedimento, percebe que ela é muito jovem, pergunta a sua idade, e a menina, prontamente, mostra seu RG. O documento entregue por ela comprova que ela tem 18 anos, embora ela pareça muito mais jovem e a foto no documento seja a de uma criança que não parece ter semelhanças com Thaís.
Em uma situação como essa, há dois cenários possíveis:
CENÁRIO 1: Eu explico para Thaís a minha insegurança e digo que é possível resolver o impasse com uma ligação. Consentindo isso, eu ligo para os responsáveis dela, orientando-os sobre a situação; caso eles comprovem a sua identidade e concordem com o procedimento, eu preciso solicitar uma autorização por escrito do responsável legal, por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre. Afinal, uma confirmação por telefone não basta para comprovar uma identidade.
CENÁRIO 2: Eu explico a minha insegurança para Thaís e recuso o atendimento, informando-a sobre o Termo de Consentimento Livre caso seja de seu interesse. Afinal, de acordo com o Código Civil brasileiro, todos os indivíduos são capazes de agir e tomar decisões, exceto em algumas situações específicas. Dessa forma, os artigos 114 a 116 do Código Civil estabeleceram uma diferença de classificação de idade, caracterizada por indivíduos incapazes ou relativamente incapazes. Levando essas informações em consideração, o menor incapaz não pode agir sozinho para consentir com um tratamento e estabelecer um contrato de prestação de serviços sem autorização dos responsáveis legais, independentemente do seu estado cognitivo. Dessa forma, o menor necessita sempre do consentimento dos seus representantes legais para estabelecer o contrato de prestação de serviços, sendo, portanto, garantido a eles o direito de entrar com um processo judicial contra o profissional em caso de erro ou qualquer outro fato que necessite reparação civil. A ocorrência de efeitos adversos pode ser configurada como lesão corporal e o profissional pode ser processado de acordo com as penas estipuladas no art. 129 do Código Penal. Portanto, é importante sempre saber a idade correta do meu paciente e jamais realizar qualquer tipo de intervenção sem a autorização e o consentimento dos representantes legais.
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