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LIEBÉAULT, BERNHEIM E A ESCOLA DE NANCY Enfim, chegamos ao que poderíamos chamar de “hipnose moderna”, em que médicos e cientistas começam a encara...

LIEBÉAULT, BERNHEIM E A ESCOLA DE NANCY
Enfim, chegamos ao que poderíamos chamar de “hipnose moderna”, em que médicos e cientistas começam a encarar a hipnose não como um fenômeno místico ou causado por “energias” desconhecidas. Nesse período, podemos observar o verdadeiro poder que causa a transformação: a sugestão e receptividade da pessoa.
Braid já havia dado o pontapé inicial dessa mudança, mas foram dois franceses que fizeram com que a hipnose realmente pudesse ser percebida em seu pleno potencial. O primeiro a ser citado é Ambroise-Auguste Liébeault (1823-1904), médico que clinicava próximo à cidade de Nancy, na França. Suas opiniões foram fortemente influenciadas por Braid, como a concentração da mente em uma única ideia, o isolamento dos sentidos ao mundo externo e um estado de transe distinto, porém acabou por perceber que o verdadeiro êxito da hipnose dependia unicamente da sugestão dada pelo hipnotista. Não era necessário nenhum processo e indução como “passes magnéticos”, nem mesmo a fixação ou o cansaço ocular ensinados por Braid.
Isso chamou a atenção do então professor de medicina da Universidade de Nancy, Hippolyte Bernheim (1840-1919), que impressionado pelos resultados de Liébeault, convidou-o a trabalhar na universidade.
Esses dois homens desenvolveram aquilo que poderíamos chamar de “Abordagem de Nancy” ao hipnotismo, que é o fundamento do hipnotismo moderno. A base dessa visão é que o hipnotismo funciona por meio da sugestão, podendo influenciar até mesmo distúrbios físicos.
A técnica era uma combinação de permissividade e autoritarismo, utilizando o nosso famoso “durma!” com um tom de voz dominante, ou até mesmo segurando as pálpebras do paciente por um tempo.
Também perceberam que eram capazes de “curar” seus pacientes simplesmente focando nos olhos deles, falando com autoridade que os sintomas haviam desaparecido, defendendo igualmente a importância do transe profundo, mas, também, que o resultado da terapia dependia mais da aceitação da sugestão pelo paciente do que pela técnica empregada e que isso podia ser obtido mesmo no estado de vigília.
E como o progresso vem da existência de questionamentos e pensamentos por vezes antagônicos, que avançam ou definem de vez as descobertas, os achados não cessaram por aqui.
CHARCOT E A NEUROSE HIPNÓTICA
Poderíamos dizer que Jean Martin Charcot (1825-1893) foi o “antagonista” das ideias propostas por Liébeault e Bernheim na Escola de Nancy. Charcot era neurologista e professor de anatomia patológica no Hospital de La Salpêtrière e afirmava que a hipnose e a histeria eram aspectos da mesma condição neurológica anormal, o que ia ao encontro da visão da Escola de Nancy, que considerava a suscetibilidade hipnótica uma característica normal de qualquer humano.
Embora hoje pareça estranho associar a hipnose à neurose histérica, para Charcot essa relação era um tanto óbvia, porque os fenômenos demonstrados eram os mesmos, para ambos os casos.
Para entendermos um pouco mais sobre tal comparação, precisamos lembrar que Charcot era um dos maiores especialistas do mundo em histeria, um nome usado para rotular uma variedade de doenças, tanto orgânicas como neuróticas, que poderiam envolver alucinações, desmaios e ataques de emoção descontrolada. Para ele, a histeria era uma desordem orgânica, que afetava homens e mulheres (pois inicialmente pensava-se que apenas as mulheres eram afligidas pela histeria). Com o desenvolvimento da medicina, o que costumava ser chamado de histeria hoje tem quatro categorias de diagnóstico: transtorno de estresse pós-traumático, síndrome de Briquet, transtorno de conversão e transtorno dissociativo.
Em suas aplicações e estudo da hipnose, Charcot descobriu que seus pacientes entravam em um dos três estados de hipnose – letargia, catalepsia, sonambulismo – e percebeu que esses mesmos estados estavam presentes em um paciente histérico.
A letargia, como na fase de desmaio da histeria, caracteriza-se pela inércia total. A paralisia histérica e a catale