O trecho a seguir é uma famosa citação de Machado de Assis, retirada do capítulo VI romance Quincas Borba.
“ - (...) Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.”
ASSIS, Machado de. Quincas Borba. 18. ed. São Paulo: Ática, 2012.
Agora leia este trecho do capítulo CXCIX do mesmo romance:
“Rubião tinha febre. Comeu pouco e sem vontade. A comadre pediu-lhe contas da vida que passara na Corte, ao que ele respondeu que levaria muito tempo, e só a posteridade a acabaria. Os sobrinhos de seu sobrinho, concluiu ele magnificamente, que hão de ver-me em toda a minha glória. Começou, porém, um resumo. No fim de dez minutos, a comadre não entendia nada, tão desconcertados eram os fatos e os conceitos; mais cinco minutos, entrou a sentir medo. Quando os minutos chegaram a vinte, pediu licença e foi a uma vizinha dizer que Rubião parecia ter virado o juízo. Voltou com ela e um irmão, que se demorou pouco tempo e saiu a espalhar a nova. Vieram vindo outras pessoas, às duas e às quatro, e, antes de uma hora, muita gente espiava da rua.
-Ao vencedor, as batatas! -- bradava Rubião aos curiosos. Aqui estou imperador! Ao vencedor, as batatas!”
ASSIS, Machado de. Quincas Borba. 18. ed. São Paulo: Ática, 2012.
Na obra, acompanhamos o personagem Rubião, bem como acontecimentos que sucedem a morte de seu grande amigo Quincas Borba, que lhe deixa uma herança contanto que Rubião cuide de seu fiel companheiro, um cachorro também chamado Quincas Borba. Sob o ponto de vista das motivações para a análise formalista de uma obra literária, é correto apenas o que se afirma na alternativa:
~Resposta correta. Sabemos que o narrador onisciente neutro indica uma busca por verossimilhança, portanto, considerando a obra de Machado de Assis, é interessante observar a motivação realista que está por trás desta escolha. Esta busca por verossimilhança não aparece esvaziada de significado, uma vez que logo nos primeiros capítulos observa-se a colocação de um postulado filosófico que, no prosseguimento do enredo, se comprova na trajetória de Rubião. Portanto, é possível considerar que os
acontecimentos narrados sobre a vida de Rubião tenham uma forte motivação composicional, a fim de exemplificar e até mesmo justificar o postulado de Quincas Borba
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